sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Nem O Pai Morre...(1990)

por Paulo Neto

Quando uma situação teima em não se resolver, lá diz o povo: "Nem o pai morre, nem a gente almoça." Foi a partir desta conhecida expressão popular que no Verão de 1990, estreou na RTP uma sitcom, sob uma ideia de Nicolau Breyner e desenvolvida por Rosa Lobato Faria. A série chamava-se apenas "Nem O Pai Morre...", embora muita da imprensa se referisse a ela nas suas páginas de programação televisiva pela expressão completa (como é o caso dos das duas imagens extraídas do "Diário de Lisboa" incluídas neste artigo).



A série de 13 episódios, estreada em Julho de 1990 aos sábados à tarde sendo posteriormente, segundo o site "Brinca Brincando", transferida para os domingos, centrava-se na história de um rico centenário, que apesar dos seus 103 anos, mantém tem uma lucidez e uma saúde de ferro, para desespero dos seus herdeiros que mal podem esperar pela morte do ancião para deitarem a mão à sua grande fortuna. Júlio César era o protagonista, desdobrando-se em dois papéis, o do dito centenário e o do seu secretário pessoal.
Júlio César como Nózinhos e Tio Antão
O trio de abutres: Carolina (Rosa Lobato Faria),
Albano (Armando Cortez) e Adelaide (Manuela Maria)


Aos 103 anos, Dom Antão Torrado (Júlio César) goza de uma vitalidade fora de comum, o que vai adiando as perspectivas dos seus parentes mais próximos de beneficiarem da sua fortuna. Entre os principais interessados que o idoso bata as botas estão o seu sobrinho Albano (Armando Cortez) que apesar de ter 5% das empresas da família e ser o vice-presidente das ditas, não tem poder de decisão e nem dinheiro para deixar de viver à custa do tio; a mulher deste, Carolina (Rosa Lobato Faria); e a sua irmã solteirona Adelaide (Manuela Maria) que atribui ao tio a culpa de nunca ter casado, por este nunca ter permitido o seu casamento com um amor de juventude, um sapateiro. Ao longo da série, estes três vão congeminando planos para acelerar o falecimento do tio Antão, mas o ancião consegue sempre furar habilmente as conspirações contra eles, não só as dos sobrinhos como de outros pretensos herdeiros que vão surgindo e outros vigaristas que pretendem também deitar mão à sua fortuna.

Mafalda (Isabel Gaivão)
Chica (Natalina José)


Os principais aliados de Antão são Mafalda (Isabel Galvão), neta de Albano e Carolina mas que não herdou o oportunismo dos seus avós e, pouco dada a convenções, namora um carpinteiro chamado José; Chica (Natalina José), a fiel empregada da casa; e Francisco Xavier (Júlio César), também conhecido como o Nózinhos, o secretário particular e homem de confiança do magnata, que este trata quase como o filho que nunca teve e que nutre um fraco por Mafalda. É a estes três que Antão recorre para pregar partidas àqueles que conspiram contra ele. 

No último episódio, Antão está gravemente doente e parece que a sua longa vida está à beira do fim. Para acelerarem mais o processo, os sobrinhos contratam Maria Eugénia (Cláudia Cadima), uma simpática jovem, para cuidar do tio. A jovem carrega consigo uma estranha malapata: sempre que ela é contratada para cuidar de algum idoso, o dito cujo falece poucos dias depois. Mas no final, para espanto de todos, Antão deixa uma carta onde é revelado que não só ficou rapidamente restabelecido sob os cuidados de Maria Eugénia como fugiu com ela!

O "Diário de Lisboa" assinala a estreia da série




Alguns dos actores que tiveram participações especiais na série


Ao longo dos 13 episódios, a série contou com as participações especiais de nomes como Nicolau Breyner, Lídia Franco, Fernando Mendes, Adelaide João, Vera Mónica e Herman José, no papel de Gauguinat, um marchand de arte a quem Adelaide e Carolina tentam vender um quadro do tio, mas que acaba por vigarizá-las. 

Não me lembro de ver a série quando estreou na altura, mas vendo alguns episódios na RTP Memória, constatei que era de facto uma série bastante interessante e com boas interpretações de todo o elenco. Será porventura o grande desempenho da carreira de Júlio César, pelo menos em televisão.


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

MacGyver (1985-92)


Durante boa parte dos anos 80 e 90 havia um momento sagrado do fim de semana dos portugueses: a hora de programação antes do Jornal de Domingo. Nessa faixa de horário passaram séries míticas e obrigatórias como "O Justiceiro", "Um Anjo Na Terra", ou a que hoje cromamos: "MacGyver".

Falando n'"O Justiceiro", tal como Michael Knight, MacGyver era um cruzado solitário na luta pelas causas dos inocentes; e se ao contrário do primeiro, não tinha um carro falante de alta tecnologia, as maiores armas do seu arsenal eram a sua inteligência e o canivete-suíço. Falando nisso, imagino que nos anos 80 a série tenha causado um boom na procura desses pequenos canivetes equipados com ferramentas ideais para as aventuras quotidianas dos telespectadores. Nos EUA este em exibição entre 29 de Setembro de 1985 e 21 de Maio de 1992. Atravessando o Atlântico num bote improvisado, MacGyver apenas chegou à costa portuguesa no dia 24 de Setembro de 1989.


Antes de continuar quero dedicar este cromo ao meu amigo Leonel Pereira. O motivo? Como comemoração do Like nº 500 na página do Facebook da Enciclopédia, pedi ao nº 500, o meu amigo Leonel, para escolher um tema a abordar. Entre as sugestões do MacGyver ou os Soldados da Fortuna, escolhi o: MacGyver! Porquê? Simples, é um clássico e lá em casa (tal como boa parte do pais) não perdíamos um episódio. Mas a minha memória ficou manchada pelos atentados perpetrados pela TVI ao exibir (se não me engano) uma versão dobrada em português do Brasil, a exemplo do Knight Rider (O Justiceiro: "Kittchi vem me buscar!"). E mais recentemente assisti a um par de episódios na SIC Radical e ...boring! Quase que me deixo dormir! Mas espero um dia (antes da reforma) voltar a rever... Mas voltando atrás, quero pedir desculpa ao Leonel e aos leitores por ter deixado este texto tanto tempo nos Rascunhos, MacGyver é - como diriam na Caderneta de Cromos - um "Cromo Dourado". E falando nisso, ouçam o programa deles sobre a série: Caderneta de Cromos 199 "MacGyver" [Ouvir/Download].


O genérico inicial e o tema contagiante e inesquecível:



Fiquei chocado quando há uns anos encontrei na Internet a versão brasileira de MacGyver: "Profissão Perigo", com um tema musical de estilo muito diferente, mas que não consigo encontrar online...


Há algum tempo, ao ler uma banda desenhada que modernizou o nosso herói, num texto do seu criador que a génese da série está no conceito de "Hourglass" (ampulheta), uma proposta para uma série de aventura e acção e episódios de 1 hora passada em tempo real - antecipando a ideia de "24" em mais de duas décadas, mas com a história do episódio a começar e terminar em apenas uma hora. O escritor Lee David Zlotoff quando confrontado com a ideia, achou que o conceito de "tempo real" iria colocar uma série de obstáculos à narrativa e rapidamente percebeu que seria insustentável manter o interesse numa série em tempo real durante muitos episódios.

Encarregue de desenvolver uma alternativa, Zlotoff para ultrapassar uma crise de inspiração e projectos que falharam em criar interesse nos estúdios, juntou alguns amigos para uma sessão de brainstorming, e nasceu o conceito do herói "com nada" que criava as soluções para os problemas com o que tinha à mão. Isso significava nada de gadgets, tecnologia avançada ou carros vistosos à la James Bond.
Indo com a ideia de quanto mais simples melhor, o protagonista começou por se chamar ironicamente "Guy" (além de nome, também significa "tipo" ou "gajo" ). Como os produtos MacDonalds tomavam de assalto a sociedade e a cultura, surgiu a ideia de "MacGuy", que rapidamente passou a "MacGyver", matando dois coelhos de uma cajadada só: um nome invulgar e apelativo e estabelecendo a ascendência escocesa do protagonista. Consta que os escoceses têm fama de desenrascados.

Podem ler o resto da história aqui: "Origin of MacGyver" (em inglês).


Angus MacGyver (Richard Dean Anderson)é um agente secreto que graças aos seus conhecimentos científicos resolve problemas para a Fundação Phoenix e o Departamento de Serviços Externos.  Nas suas aventuras os personagens mais recorrentes são o chefe e melhor amigo, Peter Thornton (Dana Elcar) e mais esporadicamente o  divertido piloto mercenário mulherengo Jack Dalton (Bruce McGill), sempre envolvido em esquemas duvidosos. A outra grande peça do elenco era o assassino Murdoc (Michael Des Barres), que ao longo de apenas 9 episódios criou a sensação de ser impossível de matar de vez, voltando sempre para infernizar MacGyver. Vale também a pena ver a lista de outros actores e convidados especiais [clique aqui] onde encontramos nomes como Teri Hatcher ("Lois & Clark: As Novas Aventuras do Super-Homem"), Tia Carrere ou Cuba Gooding Jr. 

Richard Dean Anderson, ao contrário do esperado, conseguiu descolar-se -  mas não fazer esquecer - deste personagem da cultura pop, ao encarnar durante mais de uma década o Coronel Jack O'Neill na série "Stargate SG-1".

Recentemente fiz uma descoberta ocasional que achei hilariante: um brinquedo do MacGyver - fabricado na Espanha - que consistia numa...arma de fogo, algo que o nosso herói abominava! E aqui está ele no cartão, qual Rambo de arma em riste, pronto a despachar mauzões, one bullet at a time!
No site MacGyver Online podem - entre outros pormenores - ver dezenas de fotos dos bastidores das filmagens:"MacGyver Online: Behind The Scenes". E talvez o mais interessante, uma lista de todos os "macgyverismos" - as engenhocas e desenrascanços - por episódio: "MacGyverisms".



Além dos 139 episódios das 7 temporadas, os fãs ainda foram brindados com dois telefilmes - que recordo vagamente de ver na RTP: "MacGyver: Lost Treasure of Atlantis" e "MacGyver: Trail to Doomsday".

Um episódio piloto foi filmado para "Young MacGyver", como o nome indica, as aventuras do muito jovem MacGyver, interpretado pelo futuro Sam Winchester (Jared Padalecki) do êxito "Sobrenatural"; mas nunca foi exibido.


E em 2016 estreou uma nova série homónima, um reboot com um MacGyver mais novo que o "original".


E como o post já vai longo termino com a invulgar versão portuguesa do tema principal de MacGyver, cantado pelo grupo juvenil Onda Choc, "Super Mac":



O vídeo tem todo o ar de ter sido gravado num Natal dos Hospitais ou algo que valha.


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terça-feira, 27 de setembro de 2016

As Palavras Que Nunca Te Direi (1999)

por Paulo Neto

Goste-se ou não, o certo é que as adaptações cinematográficas dos romances de Nicholas Sparks são hoje em dia praticamente um subgénero. Quando o popularíssimo autor americano publica um livro é quase certo que já está na forja a adaptação em filme, se é que não saem os dois ao mesmo tempo. O simples facto de haver tantos livros de Sparks a receberem o tratamento hollywoodesco não deixa de ser surpreendente, sobretudo quando outros grandes nomes do género da literatura romântica como Danielle Steel ou Nora Roberts só tiveram direito a que as suas obras fossem adaptadas para uns quantos telefilmes algo desenxabidos.
Claro que a grande referência das adaptações cinematográficas de obras de Nicholas Sparks é "O Diário da Nossa Paixão" de 2004, que foi o terceiro filme a adaptar um livro do autor e que acabou por ser um marco do género "filme com uma história de amor para chorar baba e ranho", sendo para a primeira década deste século aquilo que "Titanic" foi nos anos 90 e "Love Story" nos anos 70. 





Porém a primeira adaptação de um livro de Nicholas Sparks aconteceu em 1999 com "As Palavras Que Nunca Te Direi" ("Message In A Bottle" no original), filme realizado por Luis Mandoki com Kevin Costner, Robin Wright (que na altura usava também o apelido de casada Penn do então marido Sean) e Paul Newman nos principais papéis. Em Portugal, a estreia do filme coincidiu com a publicação do livro, que rapidamente tornou-se campeão de vendas. Foi também o primeiro livro que li do autor e a primeira adaptação em filme que eu vi, aliás a única que vi no cinema, em Coimbra, onde estudava na altura.



Theresa Osbourne (Wright) é uma jornalista divorciada que vive em Chicago com o filho. Um dia, ao correr na praia, descobre uma garrafa na areia contendo uma carta de amor dedicada a Catherine. Fascinada pelas palavras escritas naquela carta, Theresa decide investigar sobre quem será o autor da carta e chegam-lhe às mãos mais duas cartas escritas pelo mesmo autor, encontradas também numa garrafa noutras praias. Através de várias pistas, Theresa descobre que o autor das cartas é Garrett Blake (Costner), dono de um negócio de venda de materiais de mergulho e aluguer de barcos, que vive na Carolina do Norte. 



Chegada aos Outer Banks, Theresa conhece Garrett e cria logo empatia com ele e com o pai deste, Dodge (Newman) que vive perto do filho. Ela fica também a saber que Garrett continua com bastante dificuldade para ultrapassar a morte de Catherine, a sua esposa. Mas aos poucos, Garrett e Theresa vão se aproximando e nasce uma nova paixão. 



Entretanto a história de Theresa sobre as cartas de amor em garrafas é publicada sem mencionar nomes no jornal onde trabalha. Garrett descobre tudo durante uma visita a Theresa a Chicago quando descobre as suas três cartas em casa dela. Indignado, vai-se embora deixando Theresa inconsolável. 
E antes que os dois possam dar uma segunda oportunidade ao amor, a tragédia acontece…



Mesmo sem críticas muito favoráveis, "As Palavras Que Eu Te Direi" obteve algum sucesso junto do público e foi o primeiro êxito assinalável de Kevin Costner desde "O Guarda-Costas", depois de somar vários flops como "Wyatt Earp", "Waterworld" e "O Mensageiro". Não sendo brilhante, é um filme que cumpre bem aquilo que pretende e como seria de esperar, o grande Paul Newman rouba todas as cenas em que entra. Do elenco, fizeram ainda parte Illeana Douglas, Robbie Coltrane, Tom Aldredge e Hayden Panettiere, sendo também o último filme da actriz Bethel Leslie, no papel de sogra de Garrett, que faleceu ainda esse ano. 



E sem dúvida que o êxito de "As Palavras Que Nunca Te Direi" deu para convencer os produtores de Hollywood que as obras de Nicholas Sparks eram bem propícias para serem adaptadas ao grande ecrã. (Aliás em homenagem à produtora Denise DiNovi, que muito lutara pela adaptação de "As Palavras Que Nunca Te Direi", Sparks deu o seu nome à protagonista do livro "Corações Em Silêncio", curiosamente um dos seus poucos livros que ainda não foram adaptados para filme.) Em 2002, ainda antes do estrondoso sucesso de "O Diário da Nossa Paixão", outro livro de Sparks foi adaptado para filme, curiosamente o único caso em que o livro de Sparks ("Um Momento Inesquecível") e o respectivo filme ("Um Amor Para Recordar") tiveram títulos diferentes em Portugal.   

        

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"Burbujas De Amor" Juan Luis Guerra & 4.40 (1990)

por Paulo Neto

O povo português sempre apreciou os ritmos latinos, mas a verdade é que no início dos anos 90, ainda era pouca a música da América Latina (que não brasileira) que chegava até cá. Mas em 1991, ainda República Dominicana não era o concorrido destino de férias dos portugueses que é hoje, este país enviou-nos um hit que conquistou tudo e todos. E ainda por cima, da autoria de um membro da realeza da música latina, considerado o "rei do merengue".




Juan Luis Guerra nasceu em Santo Domingo a 7 de Junho de 1957. Começou na música ao formar a banda 4.40 com a qual lançou o primeiro álbum em 1984. O que pretendia ser um projecto mais virado para o jazz acabou por se dedicar mais ao merengue e a outros estilos de música latina. Chegados a finais do ano 1990, por altura do lançamento do quinto álbum "Bachata Rosa", Guerra e os 4.40 já tinham obtido algum reconhecimento internacional mas seria este disco que lhes daria a consagração global.

Como o próprio nome indica, o género dominante do disco é a bachata, um tipo de música que teve origem nas zonas rurais dominicanas e que durante tempo era mal visto socialmente devido à sua linguagem de classe baixa e à vulgaridade dos temas. Ao colaborar num disco da cantora Sonia Silvestre, uma das principais intérpretes do género, Guerra interessou-se pela bachata, recuperando-a para uma maior aceitação social e cultural. Aliás, o título "Bachata rosa" pressupunha uma abordagem mais "cor-de-rosa" e menos vulgar da bachata.´



"Burbujas De Amor" foi o terceiro single do álbum e a simples combinação de acordes românticos e da interpretação sentida de Juan Luis Guerra foi suficiente para se tornar o grande hit do disco e ainda hoje o maior da sua carreira, pois tinha todos os ingredientes para uma romântica dança a dois, de preferência bem agarradinhos. Ainda para mais, o tema chegou à Europa no Verão de 1991, mesmo pronto para ser a banda sonora dos romances estivais desse ano, principalmente em Espanha, Portugal e Holanda, os países europeus onde o tema e o respectivo álbum tiveram mais sucesso. E não tardou até que os tugas trauteassem a canção arranhando no seu melhor portunhol: "Tenho um corazón..." E foi com esta canção que aprendi que peixe em castelhano é "pez", como a marca dos doces que saem de doseadores com figuras de bonecos animados.
Só anos mais tarde é que percebi a conotação sexual do refrão "Quisiera ser un pez, para tocar mi nariz en tu pecera y hacer borbujas por donde quiera. Oh! Pasar la noche en vela, mojado en ti.", sobretudo quando se sabe o que se deve entender com a "pecera" (o aquário) da sua amada. Enquanto nas estrofes Juan Luis Guerra lamenta quase em choradinho o quanto o seu coração sofre de amor pela sua amada, no refrão, conclui-se que afinal esse sofrimento advém em grande parte do facto não poder praticar rebaldaria com ela (não se sabe se é por ela não por estar perto ou se por ela não lhe corresponder aos sentimentos). Além disso, a letra de "Burbujas De Amor" foi inspirada pelo poema "Livro de Perguntas" de Pablo Neruda e é sabido que o grande poeta chileno não se fazia rogado quanto a metáforas marotas.



Igualmente inesquecível é o videoclip em que dois bailarinos dançam à chuva em plena rua e Guerra canta abrigado a um canto. Tanto o single como o álbum "Bachata Rosa" chegaram ao primeiro lugar do top nacional. O álbum vendeu cinco milhões de cópias e deu a Juan Luis Guerra o seu primeiro Grammy, para Melhor Álbum Tropical Latino. Além de "Borbujas De Amor", o single seguinte "A Pedir Su Mano" (que era uma versão de um tema originário da República Centro-Africana!) e a faixa que dava nome ao álbum anterior, "Ojalá Que Llueva Café" de 1989, entretanto reeditado em Portugal, também tiveram algum sucesso por cá. 

"A Pedir Su Mano"


"Ojalá Que Llueva Café"






Juan Luis Guerra também gravou uma versão em português de "Bachata Rosa", intitulado "Romance Rosa" para o mercado brasileiro. Mas para além do próprio, vários artistas também gravaram uma versão portuguesa de "Burbujas De Amor", sendo a mais conhecida a de Fagner. No entanto, há que dizer a canção não soa tão bem em português. Não é nada a mesma coisa dizer "Quem der ser um PEICHI..."






Mas aquela que é para mim versão brasileira de "Burbujas De Amor" é aquela gravada em 1992 por Jorge Luís, um brasileiro radicado no nosso país, e que nesse ano foi campeão de vendas das cassetes de feira e de estações de serviço com um álbum que reunia versões de conhecidos temas de artistas brasileiros como Leandro & Leonardo, como "Pense Em Mim" e o hino a todas as relações amor-ódio "Paz Na Cama" com o seu mítico refrão: "E se de dia a gente briga, à noite a gente se ama, é que nossas diferença se acabam no quarto em cima da cama." O meu pai tinha essa cassete do Jorge Luís no carro e fez parte da banda sonora das nossas férias em família na Quarteira no Verão de 1992. Quanto a Jorge Luís, eu nunca mais se soube dele. Será que ainda anda por cá?

Disco "Paz Na Cama" de Jorge Luís (versão de "Borbulhas de Amor aos 34:30)



"Burbujas De Amor" inspirou ainda dois momentos do humor nacional. Um deles foi uma das canções interpretadas por Herman José no "Hermanias Especial Fim De Ano 1991/92". Como um dos temas do ano de 1991 foi a extrema poluição verificada em vários rios portugueses, o Tony Silva cantava que queria ser um peixe para rebolar nas águas poluídas terminando o refrão com um rotundo "cagado em ti". Outro foi na "Gala dos Bigodes de Ouro", um especial da RTP para o Carnaval de 1992 da autoria de Fernando Pereira, onde este imitou Juan Luis Guerra num videoclip a simular que estava no fundo do mar, onde até nem faltava um bacalhau, levando-se a queixar no seu discurso que no país dele, havia excesso de produtos portugueses. (É claro que anos mais tarde, o produto português mais presente na República Dominicana eram os turistas.) 


Mesmo sem o auge de sucesso de "Bachata Rosa", Juan Luis Guerra mantém uma carreira bastante activa e próspera. Já vendeu mais de 30 milhões de discos, ganhou 18 Grammys Latinos e 2 Grammys "normais". O seu mais recente álbum "Todo Tiene De Su Hora" é de 2014.

Detergente Juá - Brindes

O motivo pelo qual o Detergente em pó "Juá" é recordado até hoje não é pelas suas capacidades de limpeza da roupa, mas sim pela enorme variedade de brindes com que durante anos brindaram - lá está - as donas de casa e também a pequenada ávida de novidades, fossem elas pequenas figuras de plástico ou réguas mágicas. Para os mais velhos os copos e chávenas também faziam muito jeito. Creio que ainda anda cá em casa, por algum armário, um daqueles velhos copos de vidro grosso castanhos. Que aliás são visíveis neste anúncio dos anos 80:

O blog Coisas da Nossa Infância tem algumas fotos dos monocromáticos Índios e cowboys que vemos retratados no topo do anúncio: "Brindes Monocromáticos Detergente Juá". Na ilustração vêem-se outros dos brindes escondidos no pó do detergente: molas da roupa, colheres para esparguete, miniaturas de sinais de trânsito, espelhos, chávenas com um suporte de encaixar, pentes, bonecos para o topo de lápis e outros objectos que não consigo identificar...


"Juá. A brancura que dá brindes."
"Juá é o seu amigo dos dias da roupa. 
Um amigo que a ajuda a lavar, a branquear...e que tem sempre uma surpresa para si em cada embalagem. Um brinde! Um presente útil ou decorativo. Uma forma de lhe dar, nos dias da roupa, uma pequena alegria.
Juá é um brinde à brancura.
É a brancura que dá brindes!"



Publicidade retirada da revista Maria, dos anos 80.* 
Imagem Digitalizada e Editada por Enciclopédia de Cromos.

* Nota: Segundo o leitor Francisco Almeida, estes brindes Juá serão de 1982.


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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Spiral Zone (1987)



Com uma única temporada de 65 episódios exibidos entre 21 de Setembro e 18 de Dezembro de 1987,  "Spiral Zone" foi uma série de animação do género de ficção cientifica  em que os "soldados mais poderosos da Terra", os Zone Riders, combatem contra os vilões Black Widows para salvar o planeta do domínio de Overlord. Sinceramente não recordo se assisti aos episódios, mas a música do genérico e o aspecto das pessoas vítimas da "Zona Espiral" fazem tilintar algumas memórias distantes. Até ao momento a minha pesquisa sobre a sua exibição em território nacional ainda não produziu resultados positivos, possivelmente passou na TV espanhola ou é apenas um falso dejá vú. Se algum leitor tiver informações novas, agradecemos que nos contacte. Nota: Entretanto, graças á ajuda do leitor David Lamy que me indicou lembra-se de ver "Spiral Zone" na RTP2 em Maio de 1992, consegui confirmar a estreia em 21 de Maio de 1992, na RTP2 na altura do almoço das quintas-feiras. O título português indicado no guia tv que consultei era "Zona de Perigo" e mais tarde "Zona Perigosa".


Na época da série, com a Guerra Fria ainda a esfriar, a versão animada das potências EUA e União Sovietica unem esforços para deter o vilão Overlord (foto acima)que com uma ataque biológico infectou e controlou de uma só vez boa parte do planeta Terra, transformando os afectados numa espécie de zombies obedientes, de olhos amarelos e feridas vermelhas.



Apenas um material raro pode proteger da infecção da "zona espiral" e o pouco restante é utilizado para criar fatos especiais de combate, envergados pelos nossos heróis militares, os "Zone Riders": o líder Dirk Courage (dos EUA, é claro), Tank Schmidt (Alemanha Ocidental), Hiro Taka (Japão), Max Jones (EUA) e Katerina Anastacia (União Soviética).



A este elenco "United Colors of Benetton" unir-se-iam mais tarde Ned Tucker (Austrália) e Benjamin Davis Franklin (adivinhem). É claro que Overlord não podia oprimir o Mundo sozinho e tinha às suas ordens um grupo de vilões - com a inteligência preservada - que antagonizavam os Zone Riders: os "Black Widows": Bandit, Duchess Dire, Razorback, Reaper, Crook e Raw Meat.


Boa parte do design de personagens e veículos originou de brinquedos da japonesa Bandai a que acrescentaram uma mitologia, a exemplo de  desenhos animados "Transformers" ou "He-Man e os Mestres do Universo" não teve a mesma sorte a promover as figuras de acção e a série e a linha de brinquedos foram canceladas.

As figuras de acção altamente articuladas, dos heróis Zone Riders:


E dos vilões Black Widows:





O genérico de Spiral Zone e a sua enérgica canção que contrasta um pouco com o ambiente lúgrebe das vitimas da "Zona Espiral":




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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Um Anjo na Terra (1984-89)



"Um Anjo na Terra". O título original - "Highway To Heaven" (Autoestrada para o Céu) é um mix das duas canções favoritas sobre a vida depois da morte: "Highway To Hell" e "Stairway To Heaven" dos AC/DC e Led Zeppelin, respectivamente.



Apesar de a primeira se referir às dificuldades da vida em digressão e a outra a uma mulher que consegue tudo esbanjando dinheiro, ambos os títulos são também expressões para ilustrar a facilidade com que se vai "sempre a abrir" em direcção aos fogos do Inferno ou em alternativa a escalar com paciência as escadas para o regaço do Deus judaico-cristão.
Mas deixando por agora as alegorias manhosas de parte, esta série era bastante literal na busca pelo caminho para o Céu, algo entre o "O Cão Vagabundo" e o "Incrível Hulk", com a mecânica de viajar entre cidades para ajudar aqueles em necessidade.



O motivo dessa odisseia: o protagonista sobrenatural era um anjo que precisa de realizar boas acções para recuperar as asas, e fá-lo sob a identidade de Jonathan Smith (Michael Landon) e ajudado pelo seu companheiro de viagem Mark Gordon (Victor French), um humano mais pragmático e desenrascado que o anjo ingénuo; e parte do humor da série provinha precisamente do relacionamento entre esta estranha parelha, como contraponto à seriedade de alguns dos assuntos abordados e problemas que afligiam os personagens auxiliados por Jonathan e Mark.

"Highway to Heaven" ("Um Anjo na Terra" em Portugal e "O Homem Que Veio do Céu" no Brasil) alcançou os 111 episódios, agrupados em 5 temporadas exibidas originalmente entre 20 de Setembro de 1984 e 4 de Agosto de 1989.

As mulheres não resistem a anjos guedeludos de meia-idade com casaco de cabedal e calças jeans apertadas.
Um genérico inicial muito espartano, com D. Sebastião o anjo a surgir no nevoeiro, ao longo da estrada da vida e depois de muito caminhar recebe boleia do compincha Mark.
A dupla protagonista também trabalhou atrás das câmeras, Michael Landon como produtor executivo e Victor French como um dos realizadores. Aliás, ambos tinham actuado e realizado em "A Casa na Pradaria", e eram bons amigos desde que entraram no outro êxito "Bonanza". Ambos os actores já não se encontram entre nós, e em 1991 a morte de Michael Landon aos 54 anos foi lamentada, pelo menos entre as pessoas que conheço, como daqueles casos de "partiu cedo demais". Também Victor French faleceu aos 54 anos, dois anos antes de Landon, mas já com todos os episódios gravados e o cancelamento inevitável por culpa da progressiva baixa de audiências.

Vídeo com os enganos das gravações:




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domingo, 18 de setembro de 2016

Dinosaucers (1987)



"We used to be four ordinary teenagers, until one day we've met some new friends from out of town.
They were called Dinosaucers.
My friends and I became The Secret Scouts, allies to these Dinosaucers from outer space, and joined in their battles against Genghis Rex and the evil Tyrannos." 


"Nós costumávamos ser quatro adolescentes comuns, até que um dia encontrámos alguns novos amigos que não eram das redondezas.
Eles eram chamados Dinosaucers.
Os meus amigos e eu torná-mo-nos Secret Scouts, aliados a estes Dinosaucers do espaço exterior, e juntá-mo-nos às suas batalhas contra Genghis Rex e os malvados Tyrannos."


Era assim a introdução à frente de todos os episódios de "Dinosaucers" (1987), uma série de curta duração - co-produção entre o Canadá e os EUA - feita no mesmo molde dos "Transformers": duas facções inimigas alienígenas trazem o seu conflito bélico para o nosso planeta. Os bonzinhos chamam-se "Dinosaucers" (junção de "Dinosaur/Dinossauros" e "Saucers/Discos Voadores") e os vilões Tyrannos; e ambos vêem de um planeta desconhecido no nosso sistema solar: Reptilon. São dinossauros ( e outros répteis aparentados) evoluídos para uma forma antropomórfica, mas os Dinosaucers têm uma tecnologia cobiçada pelos Tyrannos que os permite transformar para uma forma mais primitiva e poderosa enquanto mantém a inteligência intacta, um processo chamado dinovolving.



O artista TargonRedDragon criou duas ilustrações com as fileiras dos Dinosaucers e Tyrannos:



Allo (voz de Len Carlson) é o líder dos Dinosaucers e a sua contraparte maléfica é Genghis Rex (Dan Hennessey). Os restantes dinossauros dos dois lados das trincheiras ocupam diversos arquétipos, desde os mais trapalhões e comic relief aos brutamontes, e até interesses românticos - interraciais.



O elemento humano está principalmente a cargo dos "Secret Scouts": os irmãos Ryan e Sara Spencer, os lourinhos da foto abaixo. O caixa de óculos/quota-étnica é Paul, e o quarto membro David. Não recordo grande coisa do conteúdos dos episódios, mas li algures que estes "ajudantes" realmente ajudavam, em vez de atrapalhar como a maioria dos sidekicks irritantes e elementos humanos em histórias de fantasia ou ficção científica.

Sempre achei estranhas as semelhanças entre adolescentes com anéis com poderes e alguns dos logos do "Capitão Planeta" e dos "Dinosaucers", mas esta ultima precede o herói ecológico por 3 anos. No entanto, visto serem ambas produções da DIC Entertainment, imagino que tenham partilhado membros nas equipas de produção.





Como a série não alcançou o êxito desejado no pais de origem - com uma longa temporada de 65 episódios exibidos diariamente entre 14 de Setembro e 11 de Dezembro de 1987 -  as action figures planeadas nem foram produzidas, excepto no Brasil, tornando-se assim objectos raros e desejados por coleccionadores. Eu assistia aos episódios num canal espanhol com o título "Dinoplativolos", antes de sair para a escola. Ainda tenho na minha colecção alguns autocolantes que saiam com pastilhas elásticas.
Na Espanha já andavam a ser exibidos pelo menos em 1990 nos sábados à tarde, portanto ainda um pouco antes do auge da dinomania catalizada pelo Jurassic Park. A Wikipédia em português alega que foi exibida em Portugal ( e no Brasil) em 1987 mas ainda não encontrei nenhum comprovativo, nem tenho memória de tal. O próximo desenho animado a fazer amigos entre os animais - dinossauros - e humanos foi o mais célebre "Denver, O último Dinossauro" (1988), que trocou as naves espaciais por viagens no tempo.



O genérico inicial, com a narração do personagem Ryan Spencer, o líder dos Secret Scouts (algo assim como Batedores Secretos):





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sábado, 17 de setembro de 2016

Transformers Em Acção (1984-87)



Dia 17 de Setembro de 1984, estreou nos pequenos ecrãs norte-americanos uma série animada que apesar de ser um veículo de publicidade para a linha de brinquedos homónima (montada para o mercado norte-americano e internacional a partir de várias linhas de robots japoneses aos quais foram acrescentadas toda uma mitologia que hoje abrange vários universos paralelos, mas isso é uma história para outra altura), conquistou o seu lugar nos corações de fãs pelo mundo inteiro, até aos nossos dias: "The Transformers", baptizada em Portugal de "Transformers Em Acção", tal como a posteriormente publicada banda desenhada da Meribérica-Líber [aqui], que por sua vez, nos EUA foi a origem das histórias dos brinquedos importados do Japão.

Esta primeira série, protagonizada pela versão Generation 1 dos Transformers teve um total de 98 episódios (4 temporadas) e um filme em 1986. Existem muitas mais séries baseadas nestas personagens, mas estas foram as temporadas clássicas, que espalharam a transformermania pelo mundo todo nos anos 80. O plot é simples: duas facções de uma espécie alienígena mecânica, robots gigantes nativos do planeta Cybertron, travam uma guerra hà milhões de anos.

E quando alguns se despenham no nosso planeta, os heróicos Autobots, aliados a humanos, assumem a missão de impedir que os maléficos Decepticons controlem e explorem os recursos energéticos da Terra. O que tornava o conceito da série diferente e apelativo era a capacidade de os Transformers, bem, se transformarem e assumirem as formas de variados veículos e equipamentos, uma forma de combate e camuflagem.

A maioria dos Autobots disfarçavam-se de carros,e  os Decepticons de aviões de combate, armas, etc. "More than meets the eye" ("Mais do que os olhos vêem") era o lema da série e o título da mini-série em três partes que apresentava este universo fantástico aos espectadores.

Não descobri ainda as datas exactas da estreia em Portugal em 1989 (14 de Outubro de 1989 no "Juventude e Família" apresentado pelo "Lecas" no Sábado de Manhã foi a data mais antiga), mas sei que esteve em exibição nos Sábados de manhã no "Canal Jovem" da RTP-1 nos finais de 1990, e em 2 de Novembro de 1991 terá ido ao ar a segunda temporada (provavelmente). A terceira temporada só chegou aos nossos ecrãs pelas mãos da SIC, dobrada e lembro-me que à hora do almoço.

Genérico da primeira temporada:

Genérico da segunda temporada:

Trailer do filme:

Genérico da terceira temporada:

Genérico da quarta temporada:


Video da banda sonora do filme, a canção "The Touch" por Stan Bush.








Como fã de ficção-cientifica e robots, fiquei apanhado desde os primeiros momentos, até aos dias de hoje. Ainda tenho muito que ver, principalmente os episódios japoneses, mas ainda hoje não resisto a acompanhar as aventuras destes robots sentientes, seja em banda desenhada, nas novas séries e até nos divisivos filmes em imagem real.
Desde esta época os meus Autobots favoritos são o honrado líder Optimus Prime [com voz do lendário Peter Cullen (Voltron, O Justiceiro, etc)], o sério Prowl e o divertido Jazz. Do lado dos vilões liderados por Megatron (Frank Welker), sempre me fascinou Soundwave (e os seus lacaios que se transformam em cassetes de música) e  o ciclope  impiedosamente lógico Shockwave. 

A franquia foi abordada por Nuno Markl na Caderneta de Cromos Nº 845 - "Robots para transformaaaar" ["Download/Ouvir Podcast"].

Versão original do texto publicado no Tumblr da Enciclopédia em 2014, por altura do 30º Aniversário: "Transformers Em Acção".


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