por Paulo Neto
Quase vinte anos volvidos, o ano 2000 já parece longínquo, tantos foram os anos que já passaram e tantas as voltas que o mundo já deu desde então. Porém ainda me recordo muito bem da expectativa da chegada desse ano na segunda metade dos anos 90 que se sentia um pouco por todo o mundo. Talvez por isso, o programa especial da SIC para o réveillon 1996/97 tinha o extenso e pomposo título "Ainda Faltam Três Anos Para O Ano 2000".Na altura, a estação de Carnaxide dominava indiscutivelmente as audiências e por isso era grande a expectativa sobre qual seria a sua programação para acolher a chegada do ano 1997, já que em anos anteriores, a SIC tinha apostado em programas especiais que reuniam as estrelas da estação. Nesse ano, o réveillon da SIC esteve a cargo de Teresa Guilherme. Primeiro com uma emissão especial do "Ai Os Homens" com concorrentes famosos como João Baião, Guilherme Leite, Camacho Costa, Carlos Areia, Luís Esparteiro, Nuno Graciano (pré-calvície), Miguel Dias e os dois cromos residentes, o Ulisses e o Johnny Bigode, com Margarida Martins como presidente do júri. Depois com a própria a conduzir "Ainda Faltam Três Anos Para O Ano 2000", um programa que mais uma vez reunia as mais famosas caras da estação na assistência e que se pautou por vários momentos de música e humor.
Houve actuações musicais de Anabela, Sara Tavares e das bandas que mais sucesso faziam na altura: Delfins, Santos & Pecadores, Ritual Tejo e Pedro Abrunhosa & Os Bandemónio.
Entre os momentos de humor, constavam vários apanhados em que as vítimas eram as estrelas da estação. Conta Teresa Guilherme no livro "Isso Agora Não Interessa Nada", que reúne crónicas sobre as suas experiências televisivas, como apresentadora e/ou produtora.
"...a ilustre plateia tremeu. E continuou a tremer durante todo o espectáculo. Eu, entre uma música e outra, lá me ia aproximando das mesas, lançando as maiores barbaridades. Mostrámos tudo. Desde as entrevistas falsas, em que o Miguel Vital, por exemplo tinha dado cabo da energia do João Baião, aos enganos repetidos e cheios de gargalhadas da Alberta Marques Fernandes, a gravar os seus votos de boas-festas. Também fizemos uma colectânea de frases excepcionais, que os nossos VIP tinham dito ao longo do ano na imprensa, e a Fátima Lopes lá viu escarrapachado no ecrã a sua afirmação: «Eu sinto-me sensual com um grande decote.» Cada vez que eu me aproximava de uma mesa, os convidados deitavam as mãos à cabeça, mesmo antes de anunciar o mimo que tínhamos preparado para eles."
"...a ilustre plateia tremeu. E continuou a tremer durante todo o espectáculo. Eu, entre uma música e outra, lá me ia aproximando das mesas, lançando as maiores barbaridades. Mostrámos tudo. Desde as entrevistas falsas, em que o Miguel Vital, por exemplo tinha dado cabo da energia do João Baião, aos enganos repetidos e cheios de gargalhadas da Alberta Marques Fernandes, a gravar os seus votos de boas-festas. Também fizemos uma colectânea de frases excepcionais, que os nossos VIP tinham dito ao longo do ano na imprensa, e a Fátima Lopes lá viu escarrapachado no ecrã a sua afirmação: «Eu sinto-me sensual com um grande decote.» Cada vez que eu me aproximava de uma mesa, os convidados deitavam as mãos à cabeça, mesmo antes de anunciar o mimo que tínhamos preparado para eles."
Entretanto, o incansável canal Lusitania TV disponibilizou um excerto maior de cerca de 50 minutos no YouTube, revelando mais coisas que sucederam no programa, transmitido no auge do domínio de audiências da SIC.
- Teresa Guilherme confronta Fátima Lopes com uma declaração que esta fez a uma revista, dizendo que se sentia sexy com um grande decote. TG afirmou que por causa disso, "surgem fãs de Fátima Lopes de todos os lados" e dito isso, desce por um corda ao som do tema de "Missão:Impossível" (cujo primeiro filme da franchise com Tom Cruise tinha estreado nesse ano) um homem que se diz chamar Tó a pedir um autógrafo num soutien.
- De seguida Cristina Möhler, uma das célebres meninas da meteorologia da SIC, foi confortada com a sua declaração de que a sua passagem de ano ideal seria numa cabana e eis que desce uma mini-cabana sobre ela, ao som de "Na Cabana Junto À Praia", como não podia deixar de ser.
- Margarida Pinto Correia, que na altura apresentava "Mundo VIP" na SIC, foi a próxima vítima. Disse numa revista que quando se sente sozinha dorme com o seu ursinho de 36 anos. Aparece então o célebre Ulisses do "Ai, Os Homens" em boxers com um ursinho de peluche. É claro que destes dois bonecos, Margarida ficou só com o de peluche, até pouco tempo depois assumiria a sua relação com Luís Represas.
- Mas por falar em Ulisses, houve partida pregada a Rodrigo Guedes de Carvalho e Emídio Rangel onde puseram as suas cabeças sobre os corpos musculados daqueles que participaram no casting para o Ulisses do "Ai, Os Homens". Mas não foram os únicos: Artur Albarran (que apresentava então o polémico programa "A Cadeira Do Poder") e Carlos Narciso (apresentador do "Casos de Polícia") também foram alvos desta brincadeira.
- No programa "Ousadias" apresentado por Teresa Guilherme, havia uma rubrica de apanhados em de falsas entrevistas "conduzidas" Miguel Vital. Hoje conhecido como a voz-off de "O Preço Certo" mas na altura um desconhecido, Vital assumia o papel de um entrevistador nervoso e inapto em entrevistas que testavam os limites da paciências dos famosos entrevistados, revelando que esses mesmos limites eram algo reduzidos para algumas dessas figuras públicas.
- Mas também o próprio dono da SIC, Francisco Pinto Balsemão, não escapou a este apanhado e lá teve de ouvir Vital a perguntar se ele tinha ódio à RTP, se ele era "um pouco sovina" e se ele tinha um gosto por "mulheres bonitas e mexericos".
Este programa de réveillon também mostrou algumas das falsas entrevistas que não tinham sido exibidas em "Ousadias", incluindo uma a Pedro Abrunhosa, onde este acabou por revelar algo bastante íntimo e pouco condizente com a imagem de galã que cultivava. Escreveu Teresa Guilherme no livro supra-referido:
"A determinada altura o Miguel confessou-lhe a chorar que tinha problemas com a namorada. Acrescentou em surdina que estava impotente. Estas confidências fizeram vibrar a corda solidária do macho mais velho Abrunhosa, que disparou uma rica panóplia de conselhos na tentativa de o animar. Mas o Miguel insistia. Na teoria era tudo muito bonito, mas o Pedro não devia saber o que era estar em baixo quando a namorada já andava lá por cima. E perguntava entre lágrimas: «E ao Pedro, sim a si, já alguma vez lhe aconteceu?»
E foi aí que Abrunhosa, o machão da paróquia, confessou. Sim, já tinha estado com mulheres fabulosas sem "estar". Que sim, às vezes ele queria, mas o seu amiguinho não estava pelos ajustes. E chegou mesmo a reproduzir os diálogos murchos que já tinha tido com o seu pouco colaborante parceiro de desventura: «Então pá, não te levantas?...» e ficamos por aqui.
Aliás esse "Então pá, não te levantas?" foi repetido durante os spots de promoção ao programa. Teresa Guilherme conta ainda na mesma crónica que por causa dessa partido, Pedro Abrunhosa esteve anos sem lhe falar. O que dado o teor da revelação e a forma como TG conseguiu que Abrunhosa autorizasse os direitos de imagem (não lhe disseram que iriam exibir a entrevista), é compreensível, diria eu.- Mas também o próprio dono da SIC, Francisco Pinto Balsemão, não escapou a este apanhado e lá teve de ouvir Vital a perguntar se ele tinha ódio à RTP, se ele era "um pouco sovina" e se ele tinha um gosto por "mulheres bonitas e mexericos".
- Segue-se um sketch de ano novo da sitcom "Pensão Estrela" com José Raposo, Ana Bustorff e Marco Horácio.
- Luís Represas canta "Perdidamente" durante uma homenagem a alguns grandes nomes falecidos durante o ano de 1996: Mário Viegas, David Mourão Ferreira, Varela Silva, Carlos Daniel e Vergílio Ferreira. Simone de Oliveira, presente no programa, não contém uma lágrima quando surgem imagens Varela Silva, com quem era casada.
- Depois deste momento mais pesaroso, de volta ao humor desta vez para rir com os castings de alguns dos rejeitados do programa "Cantigas da Rua". Destaco uma senhora já de idade porém toda aperaltada a cantar uma música em espanhol.
- Claro está que com Miguel Ângelo a apresentar as "Cantigas da Rua", foram muitos que tentaram a sua sorte nos castings cantando canções dos Delfins. É ver mais rejeitados a assassinarem hits como "A Nossa Vez", "Sou Como Um Rio" ou "Aquele Inverno".
- Como referido no outro texto, outros houve que tinham mais afinação e que fizeram coro enquanto Miguel Ângelo, Anabela e Sara Tavares cantavam "Sou Como Um Rio", "A Cidade (Até Ser Dia)" e "Chamar A Música".
- Quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma e o futebol português é o exemplo disso. Refere Teresa Guilherme que em 1996 "jogou-se mais futebol fora dos estádios do que dentro" e que muitos golos foram marcados "por árbitros graças às boas passagens de alguns dirigentes". Antes como agora, no nosso futebol é o baralhar e voltar a dar. Daí uma versão de "Trocas E Baldrocas" interpretada por João Baião.
- O último anúncio da 1996 foi da Opel e mostrava um "congresso extraordinário" com muitos e ternurentos bebés, num aviso ao pais para conduzirem com juizinho.
- Várias caras da SIC e dos convidados musicais surgem a caminho da contagem decrescente para 1997 Camilo de Oliveira, Liliana Campos, Manuel Serrão, Alexandra Fernandes, Paulo Costa (Ritual Tejo), José Figueiras, Rita Salema, Maria João Pinheiro, Ângelo Torres (da sitcom "Pensão Estrela"), Luís Mascarenhas, Nuno Melo, Emídio Rangel, Júlia Pinheiro, Rodrigo Guedes de Carvalho, Artur Albarran, Olavo Bilac, Margarida Pinto Correia, Miguel Vital, Carlos Narciso ("Casos de Polícia") e Conceição Lino.
- Teresa Guilherme anuncia alguns dos "programas" que deverão estrear na SIC nesse novo ano, como "Ponto de Rebuçado", espaço de culinária "apresentado" por Henrique Mendes, "A Noite do Mau Tempo" com Júlia Pinheiro entregue ao efeitos meteorológicos, "Não Há Dinheiro Para Mandar Cantar Um Cego" com António Peres Metello, "Golo de Encontro" com David Borges e "Portugal dos Pequeninos" com a "radical" Ana Malhoa.
- E foi também o anúncio da Opel do congresso de bebés o primeiro de 1997.
- O "Chuva de Estrelas" continuava a ser uma das jóias da coroa da SIC e não podiam faltar actuações de alguns dos concorrentes da então corrente terceira edição: Célia Lawson, (que no ano de 1997 representaria Portugal no Festival da Eurovisão) como Oleta Adams em "Don't Let The Sun Go Down On Me; Paulo Lawson (sim, irmão de Célia) como Jim Kerr dos Simple Minds em "Alive And Kicking"; e Rui Faria, o eventual vencedor nacional e 2.º classificado na final europeia, como Elton John em "Can You Feel The Love Tonight".
- Com o som cortado no vídeo por questões de copyright, os Ritual Tejo cantavam um dos sucessos nacionais de 1996, "Nascer Outra Vez" (Sabiam que as crianças que cantavam nessa canção eram as filhas da cantora Isabel Campelo?)
- Dos Ritual Tejo fazia parte Fernando Martins, também conhecido como o coordenador musical do "Chuva de Estrelas" e "Cantigas Da Rua", dando o mote para mais rejeitados a cantar canções de Dulce Pontes.
- Outro dos apanhados das caras da SIC para este programa foi a de um teste para um novo programa fictício para a SIC, onde as candidatas tiveram de passar pelas exigências absurdas da régie. Foi o caso de outra célebre menina da meteorologia, Maria João Pinheiro, que se viu a mover-se sensualmente em cima de uma mesa enquanto cantava "Why Don't You Do It Right". Maria João Pinheiro viria a casar com Miguel Esteves Cardoso, um dos incontornáveis da "Noite da Má Língua". Afastada há vários anos da vida pública, soube-se há alguns anos que Maria João Pinheiro sobreviveu a um cancro. Não incluídas neste excerto mas igualmente vítimas deste apanhado foram outras beldades da SIC como Liliana Campos e Alexandra Fernandes.
O sucesso do programa foi tal (segundo Teresa Guilherme teve 80% de share - outros tempos!) que na passagem de ano seguinte, de 1997 para 1998, a SIC voltou a emitir um especial semelhante, intitulado "Ainda Faltam Dois Anos Para O Ano 2000", do qual a única coisa que me lembro foi de no fim da contagem decrescente para as 12 badaladas, em vez de aparecer "Feliz 1998" no ecrã, apareceu "Feliz Expo 98" aludindo ao grande acontecimento nacional que iria ter lugar nesse ano.
O sucesso do programa foi tal (segundo Teresa Guilherme teve 80% de share - outros tempos!) que na passagem de ano seguinte, de 1997 para 1998, a SIC voltou a emitir um especial semelhante, intitulado "Ainda Faltam Dois Anos Para O Ano 2000", do qual a única coisa que me lembro foi de no fim da contagem decrescente para as 12 badaladas, em vez de aparecer "Feliz 1998" no ecrã, apareceu "Feliz Expo 98" aludindo ao grande acontecimento nacional que iria ter lugar nesse ano.
Para terminar, deixo os votos de um feliz ano de 2020
para todos os leitores e amigos da Enciclopédia de Cromos!