Como se não bastasse os Marretas e a Rua Sésamo, Jim Henson criou mais um universo extraordinário de bonecada que alegrou miúdos e graúdos. Falo é claro de Fraggle Rock, que em Portugal passou na RTP com o título "O Mundo Dos Fraggles".
A série teve 97 episódios distribuídos por cinco temporadas exibidas nos Estados Unidos entre 1983 e 1987. Não sei exactamente quando a primeira temporada estreou em Portugal, (presumo que em 1984) mas sei que era exibida nas tardes do fim de semana. Porém, consegui descobrir através do arquivo do Diário de Lisboa que a segunda temporada estreou a 13 de Abril de 1985 e os quatro primeiros episódio passaram ao sábado mas após um interregno de duas semanas, os restantes episódios passaram aos domingos. (Este vídeo de locução de continuidade de 14 de Julho de 1985 indica a exibição da série para essa tarde.) Calculo que as restantes temporadas foram posteriormente exibidas nos espaços infanto-juvenis da RTP.
A série narrava as aventuras de um mundo onde coabitam três diferentes espécies de criaturas: os Fraggles, os Doozers e os Gorgs.
Red, Wembley, Mokey, Gobo, Boober e um Doozer
Os Fraggles são criaturas coloridas e divertidas que habitam numa comunidade a que chamam Fraggle Rock e que privilegiam a diversão e a boa-disposição ao trabalho e à seriedade. No entanto, embora por vezes as coisas fiquem algo caóticas, existe um mínimo de ordem social entre os Fraggles que os impede de viver de forma totalmente irresponsável. A série segue sobretudo um grupo de cinco amigos Fraggles: Gobo, o líder não-oficial, é aventureiro, corajoso e sensato (tanto quanto um Fraggle pode ser) e admira o seu tio Travelling Matt que se aventurou para o mundo exterior ao rochedo e adora receber os postais dele; Mokey tem um certo espírito hippie, é artística e sensível embora por vezes seja alvo de troça por causa disso; Wembley é o mais jovem e o mais amável do grupo, mas também é super indeciso e nervoso; Boober é o mais melancólico e ao contrário dos outros Fraggles, prefere dedicar-se ao seu trabalho de lavar as roupas dos Fraggles, sobretudo meias (embora eles nunca as usem) do que alinhar em aventuras, mas também é bastante inteligente e é aquele a quem os outros recorrem quando precisam de algum tipo de curativo; e Red, energética, aventureira e muito amiga dos seus amigos, embora também goste por vezes de fazer troça deles. (A minha mãe dizia sempre que os totós da Red pareciam duas esfregonas.)
Os Doozers
Os Gorgs
Ao contrários do Fraggles, os Doozers dedicam-se quase inteiramente aos seus trabalhos, sobretudo construções um pouco por todo o Fraggle Rock. Os Doozers são criaturas pequeninas e usam todos um capacete de construção. O material com que os Doozers constroem os andaimes é uma das principais fontes de alimento dos Fraggles, o que forçosamente leva-os a constantes reconstruções.
Marjory
Uma das saídas de Fraggle Rock é o jardim dos Gorgs, uma família de três seres gigantescos: o Pa Gorg, a Ma Gorg e o filho de ambos Junior Gorg. Pa e Ma autointitulam-se os !Reis do Universo", mas este título certamente deve-se sobretudo ao facto dos três não conhecerem praticamente mais ninguém além dos Fraggles. É no jardim dos Gorgs que os Fraggles vão buscar o seu outro alimento preferido, rabanetes, e onde se aconselham Marjory, uma espécie de lixeira falante que é como um oráculo para os Fraggles. Enquanto o Pa e a Ma Gorg veem os Fraggles como uma praga (ela até costuma gritar assim que vê um), o Junior Gorg gosta de os tentar caçar (palavra-chave "tentar").
Doc e Sprocket
A outra saída de Fraggle Rock é um túnel que dá para a casa de um ser humano, o inventor Doc (interpretado pelo actor Gerry Parkes) que vive com o seu cão (muppet) Sprocket. É nesta casa que Gobo se aventura para recolher os postais enviados pelo seu tio Travelling Matt. O Sprocket tenta em vão avisar o dono da existência dos Fraggles chegando mesmo até ir parar algumas vezes ao rochedo dos Fraggles e a aprender a dizer Gobo. Só nos últimos episódios é que o Doc descobre que os Fraggles são reais e fica amigo deles. Em Portugal, a série foi exibida com o núcleo original do Doc e Sprocket, mas em países como Reino Unido, França e Alemanha, esse núcleo foi adaptado com um actor local a fazer de Doc (em alguns casos com outras profissões como faroleiro ou padeiro) e o seu próprio Sprocket (que na versão francesa chamava-se Croquette).
Eu costumava ver a série e achava os bonecos divertidíssimos mas eu era demasiado novo para entender algumas das mensagens da série. Por exemplo, o facto de Fraggles, Doozers e Gorgs precisarem uns dos outros para sobreviver mas devido a falta de comunicação e diferenças de costumes, os desentendimentos entre as três espécies são frequentes - uma metáfora à coabitação dos diferentes povos humanos e espécies animais neste nosso planeta. Num dos episódios, Mokey convence os outros Fraggles a não comerem as construções dos Doozers por achar que se trata de um enorme transtorno para estes, mas o resultado é que os Doozers acabam por ficar sem espaço para construir mais nada e todos chegam à conclusão que é precisamente pelos Fraggles comerem as suas construções e as consequentes reconstruções é que os Doozers têm um sentido à sua vida. Recordo-me também de um episódio em que Boober, farto das inquietudes dos outros Fraggles, sonha em viver sozinho no Fraggle Rock a lavar meias pacificamente mas rapidamente fica entediado e com saudades dos seus amigos
Outros temas tratados na série são a busca de autoconhecimento (os Fraggles têm supostamente a mentalidade de jovens adolescentes) e a protecção do meio ambiente.
Além da série com fantoches, em 1987 houve uma série animada de uma temporada (que foi exibida na RTP2 nos anos 90 sob o títulos "Os Fraggles"). Em 2007, a série original foi editada em DVD com dobragem em português. Existe também uma série spin-off com os Doozers e no início deste ano, foi lançada na Apple TV um reboot chamado "Fraggle Rock: Back To The Rock", em que desta vez existe uma mulher Doc, interpretada por Lilli Cooper e com muitas das vozes da série original.
Posto isto, vamos lá cantar: "Dance your cares away, worry is for another day, let the music play, down in Fraggle Rock!"
Recordando mais uma telenovela brasileira dos anos 80, desta vez "Vereda Tropical", a primeira com autoria de Carlos Lombardi ("Quatro Por Quatro", "Bebé A Bordo", "Uga Uga"), originalmente exibida na Rede Globo entre 1984 e 1985. Por cá, estreou na RTP1 a 7 de Abril de 1986 para a faixa da hora do almoço e o seu sucesso justificou que também passasse à noite na RTP2 a partir de 2 de Junho desse ano. Eis aqui a promoção à estreia na RTP, com a referência de que era "da mesma equipa de A Guerra Dos Sexos", devido ao facto de vários actores dessa telenovela também entrarem em "Vereda Tropical" e que o respectivo autor Sílvio de Abreu tivesse exercido aqui as funções de supervisão de texto. (A RTP também utilizaria essa referência para promover telenovelas como "Sassaricando" e "A Rainha Da Sucata")
A trama da telenovela explorava a complexidade das relações familiares e amorosas, abordando também o mundo do futebol.
Silvana Rocha (Lucélia Santos) é uma jovem humilde, que tendo perdido os pais muito nova, foi criada pela sua avó Maria Da Paz (Norma Geraldy). Silvana apaixona-se por Vítor (Lauro Corona), o herdeiro da CPP, uma conceituada fábrica de cosméticos, que tinha renegado ao futuro que lhe era destinado de comandar a empresa. Mas quando Silvana engravida, Vítor abandona-a e acaba por morrer num acidente de automóvel. Meses depois, a jovem dá a luz um menino, Zeca (Jonas Torres).
Vicente Oliva (Walmor Chagas), pai de Vítor, destroçado com a perda do filho, tenta por todos os meios conseguir a custódia do neto para que ele lhe suceda nos negócios. Por causa disso, Silvana e o filho têm andado foragidos durante oito anos para que Oliva não lhes siga o encalço. Porém Oliva consegue por subterfúgio que Silvana e Zeca se instalem em São Paulo, onde a jovem passará a trabalhar na CPP.
Além de Vítor, Oliva tem três filhas: Catarina (Marieta Severo), mulher fria e exclusivamente focada nos negócios que não se conforma com o facto de que, em vez dos produtos de luxo, o grande sucesso da CPP seja uma linha de produtos económicos, nomeadamente o perfume Vereda Tropical; Verónica (Maria Zilda), que se entretém com futilidades e jogos de sedução; e Gabi (Cristina Pereira), a filha adoptiva, irreverente e sarcástica, cuja língua afiada lhe mete por vezes em sarilhos.
Silvana vai morar para a Vila dos Prazeres, onde rapidamente trava amizade com as gentes locais, sobretudo com Bina Travatti (Geórgia Gomide), a dona da cantina La Tavola Di Michele. Bina tem quatro filhos, Marco (Paulo Betti), Luca (Mário Gomes), Angelina (Angelina Muniz) e Francesco (Paulo Guarnieri). Luca é um futebolista que apesar do seu talento, nunca progrediu na carreira por causa do seu feitio tempestuoso em campo. Apesar das relutâncias da rapariga, Luca consegue chegar ao coração de Silvana e os dois se apaixonam. Mas há outras que também disputam Luca, sobretudo Verónica que, certa de que se apaixonou pela primeira vez, fará de tudo para o ter.
Quem também vive em Vila dos Prazeres é Jamil Beirut (Gianfrancesco Guarnieri), um perfumista que é o responsável pela receita secreta da Vereda Tropical. No passado, Jamil e Oliva foram rivais e o empresário nunca se conformou em depender do inimigo para o sucesso da fábrica. Jamil torna-se o grande aliado de Silvana e os dois chegam a casar-se quando Oliva leva a disputa da custódia de Zeca à justiça.
Há ainda Téo (Marcos Frota), o filho de Catarina, que, abandonado pelo pai e negligenciado pela mãe, vive com medo do mundo e refugia-se na sua imaginação onde cria um alter-ego heroico, o Super-Téo. A sua tia Gabi é a única que consegue se aproximar do rapaz e encorajar a sua criatividade.
Catarina revela-se a grande vilã quando, ao saber que o pai nunca lhe dará a liderança da empresa, interna-o num manicómio, tomando o seu lugar no comando da CPP e na disputa do processo por Zeca. Verónica aproveita a situação para chantagear Luca, prometendo testemunhar contra a família caso ele case com ela. Quando o tribunal decide a favor de Catarina e Luca rejeita casar com Verónica no dia do casamento, tudo parece perdido para Silvana e não lhe resta outra solução senão fugir com Zeca e Luca. Mas eis que um regenerado Oliva resolve a situação, denunciando a filha.
Devido à decisão de Catarina de acabar com a produção da Vereda Tropical, a CPP vai à falência e no fim, os Oliva Salgado mudam radicalmente de vida: Oliva vai viver com Bina, por quem entretanto se apaixonou, Verónica decide retirar-se para um convento e Catarina acaba como prostituta. Já Silvana, Zeca e Luca ficam por fim livres para começar uma vida juntos. Além disso, Luca finalmente realiza o seu sonho de jogar no Corinthians.
Silvana, Zeca e Luca
Catarina, Verónica, Gabi e Oliva quando descobrem que estão falidos
Como já foi dito, "Vereda Tropical" teve bastante sucesso durante a sua transmissão em Portugal, não só justificando a sua exibição nos dois canais da RTP, mas gerando algum merchandising como uma coleção de calendários e até deu nome a vários estabelecimentos comerciais, em especial um restaurante em Coimbra, na Rua Alexandre Herculano.
Genérico de abertura (tema interpretado por Ney Matogrosso):
Reportagem sobre a cena final com Mário Gomes a aparecer num jogo real do Corinthians