Recordamos hoje mais um daqueles filmes que só podiam ter existido nos anos 80. "Manequim" é uma comédia romântica de 1987 realizada por Michael Gottlieb e protagonizado por Andrew McCarthy e Kim Cattrall, sobre um jovem que se apaixona por um manequim, ou melhor, pelo espírito da jovem mulher aprisionada nesse manequim. (Dito assim, até parece que é um filme sobre essa vertente da objectofilia mais fielmente abordada no filme "Lars e o Verdadeiro Amor".)
Jonathan Switcher (McCarthy) é um jovem escultor de Filadélfia cuja sensibilidade artística leva-o a ser constantemente despedido dos seus empregos, já que isso o torna demasiado lento para o trabalho, e é deixado pela sua namorada Roxie (Carole Davis), que não compreende a sua veia artística.
Numa noite chuvosa, Jonathan para diante da montra dos armazéns Prince & Company e repara que está lá um dos manequins que ele criou. No dia seguinte, Jonathan salva Claire Timkin (Estelle Getty), a dona da Prince & Company, de ser atingida pela queda do letreiro da loja e como agradecimento, ordena ao seu gestor Daryl Richards (James Spader) que lhe dê emprego. É então que Jonathan passa a colaborar com Hollywood Montrose (Meshach Taylor), o exuberante e divertido vitrinista dos armazéns.
Certa noite, enquanto Jonathan vai compondo uma montra, fica estupefacto ao ver o manequim que admirara na noite chuvosa ganhar vida, falando e andando como uma mulher a sério (Cattrall). Ela explica que se chama Ema Hesire, ou Emmy, e nasceu no Antigo Egipto, onde um dia, na iminência de ser forçada a um casamento arranjado, refugiou-se numa pirâmide e rogou aos deuses que lhe ajudassem a encontrar o verdadeiro amor. Desde então o seu espírito tem contactado com vários artistas a quem serviu de musa, mas embora tenha conhecido grandes artistas e feito bons amigos, ainda não encontrou o verdadeiro amor que lhe fará novamente ser uma mulher de carne e osso. Emmy previne também que os deuses só a permitem estar na forma humana enquanto ela e Jonathan estiverem sozinhos.
Com a ajuda de Emmy, as montras criadas por Jonathan dão um renovado sucesso à Prince & Company, para mal de Richards (que na verdade é pago pelos armazéns rivais Illustra para arruinar e depois comprar a Prince & Company) e do Capitão Felix Maxwell (G.W. Bailey, num decalque do Tenente Harris de "Academia De Polícia), que sempre antipatizou com Jonathan. Já Hollywood por vezes apanha Jonathan com Emmy (em manequim) e conclui que o amigo tem um relação especial com o manequim, mas não o julga.
BJ Wert (Steve Vinovich), o dono da Illustra, pede a Roxie que convença o ex-namorado a vir trabalhar para eles, mas Jonathan, cada vez mais apaixonado por Emmy e feliz por trabalhar num local onde é valorizado, recusa. Enquanto isso, descontente com as suas atitudes, Claire despede Richards e Maxwell e promove Jonathan a vice-presidente da loja. Certa noite, Jonathan leva Emmy a passear pela cidade na sua mota, indiferente ao facto de ela se transformar em manequim assim que alguém os vir. Só que sucede que Richards e Maxwell os observam e descobrem a fixação de Jonathan pelo manequim. Como tal decidem roubar todos os manequins da Prince & Company.
Ao saber do roubo, Jonathan dirige-se à Illustra com a ajuda de Hollywood para salvar Emmy. Esta está prestes a cair dentro de uma máquina trituradora quando no instante final, Jonathan salva-a e ela torna-se definitivamente humana, sinal de que ele é o seu verdadeiro amor. Wert e Richards ordenam à polícia que prendam Jonathan mas Claire intervém com provas de filmagens de videovigilância do roubo dos manequins. (Quando Jonathan lhe pergunta sobre se ela viu imagens dele com Emmy, Claire diz-lhe para não se preocupar com isso.) No final, Jonathan e Emmy casam-se na montra da Prince & Company, com Hollywood e Claire como padrinhos.
Segundo consta, foi o próprio realizador Michael Gottlieb que teve a ideia para o filme quando um dia viu na montra um manequim, que devido a uma ilusão com luzes, parecia que se mexia. Foram utilizados no filme seis manequins com diferentes expressões, criados por um escultor para o qual Kim Cattrall pousou durante seis semanas. O papel de Jonathan foi inicialmente pensado como sendo o de um homem mais velho, para tentativamente ser interpretado por Dudley Moore, até que se optou por ser reescrita como uma personagem mais jovem. (Aliás na altura Andrew McCarthy tinha 24 anos e Kim Cattrall tinha 30.)
Apesar de ter sido arrasado pela crítica, "Manequim" foi um sucesso de bilheteira, e mais tarde, de aluguer de vídeo. Outro factor importante para o sucesso foi o tema principal, "Nothing's Gonna Stop Us Now" da banda rock Starship, que se tornou um hit global e foi nomeado para o Óscar de Melhor Canção Original. Kim Cattrall teve aqui o seu primeiro grande papel de protagonista (e ainda estávamos a onze anos daquele que seria o seu papel mais célebre em "O Sexo e A Cidade").
Mas o grande destaque é Meshach Taylor, um scene stealer no papel de Hollywood Montrose, que à primeira vista parece ser todo um estereótipo do gay extravagante e colorido (até a cobertura do seu carro é azul com bolinhas vermelhas!) mas numa altura em que a homossexualidade era mostrada em Hollywood ora em meias-tintas ora de forma trágica, um filme onde uma personagem gay confortável na sua pele, que não é julgada (excepto pelos vilões), que tem vida amorosa (ele refere várias vezes o seu namorado Albert) e amigos que o defendem, e que não vira a cara à luta ("As duas coisas que eu mais gosto de fazer é lutar e beijar rapazes!") era algo inovador.
Em 1991, surgiu a sequela, "Manequim de Carne e Osso", que apesar da trama se passar na mesma loja em Filadélfia, entraram apenas dois actores do primeiro filme: Meshach Taylor de novo como Hollywood Montrose e Andrew Hill Newman, que no primeiro filme era o empregado de limpeza que, ao ver Emmy ganhar vida quando Jonathan a salva da máquina trituradora, começa a beijar os outros manequins para ver se alguma deles também se transforma em mulher, e que no segundo é um segurança da loja.
Aproxima-se mais uma edição do Festival da Eurovisão e como é de tradição, recordamos mais uma edição antiga. Desta feita, recuamos 25 anos até ao dia 3 de Maio de 1997 e até Dublin, capital da Irlanda.
O 42.º Festival da Eurovisão teve lugar no Point Theatre de Dublin, tal como em 1994 e 1995. Devido a quatro vitórias da Irlanda nos últimos cinco anos, a televisão irlandesa RTÉ já estava um bocado estafada demais por ter de organizar tantos certames (para não falar dos custos dos ditos). A princípio até foi equacionada uma organização conjunta com a BBC da Irlanda do Norte. A apresentação esteva a cargo de Carrie Crawley e Ronan Keating, da célebre boyband irlandesa Boyzone que fazia muito sucesso na altura. Aliás foram os Boyzone que estiveram na actuação de intervalo entre o desfile das canções e as votações, com um tema inédito "Let The Message Run Free". Carlos Ribeiro fez os comentários para a RTP e Cristina Rocha foi a porta-voz dos votos de Portugal.
Uma das razões pelas quais eu ainda não tinha feito um artigo sobre esta edição foi porque eu tinha guardado más memórias dela, devido ao aziago resultado de Portugal. Mas durante o confinamento, eu revi esta edição e, ultrapassando esse espinho, tive de concordar que foi uma edição muito bem conseguida a vários níveis. Na altura, a Irlanda vivia um tempo de prosperidade e queria ser vista como um país moderno, já para além dos tradicionais clichés culturais. Além disso na altura, a tecnologia dava importantes avanços, pelo que foi interessante e premonitório ver ecrãs a dominarem esta edição, do palco ao genérico inicial, passando pelos postcards. E se no início da década, parecia haver um certo desfasamento entre as canções do Festival e os sons que dominavam na altura, aqui as canções concorrentes reflectiam bem vários tipos de sonoridades dos anos 90.
Outra particularidade desta edição foram as mensagens de vários antigos participantes do Festival da Eurovisão a recordarem a sua passagem pelo certame e a desejar boa sorte aos intérpretes: Benny Andersson e Bjorn Ulaveus dos ABBA (Suécia 1974), Céline Dion (Suíça 1988), Julio Iglesias (Espanha 1970), Cliff Richard (Reino Unido 1968 e 1973), Bucks Fizz (Reino Unido 1981), Sandra Kim (Bélgica 1986), Bobbysocks (Noruega 1985), Johnny Logan (Irlanda 1980 e 1987), Secret Garden (Noruega 1995) e os responsáveis pelas quatro últimas vitórias da Irlanda, Linda Martin (1992), Niamh Kavanagh (1993), Charlie McGettigan & Paul Harrington (1994) e Eimear Quinn (1996).
25 países participaram neste ano: ausentes no ano anterior, Alemanha, Dinamarca, Hungria e Rússia regressaram neste ano bem como a Itália, que não participava desde 1993. Já Bélgica, Finlândia e Eslováquia, participantes em 1996, ficaram de fora este ano. Era também suposto Israel regressar em 1997, mas como a data do Festival coincidia com a de uma data religiosa dedicada às vítimas do Holocausto, declinou a participação pelo que Bósnia & Herzegovina ocupou a vaga. Importa ainda referir que pela primeira vez foi introduzido o televoto popular no Festival da Eurovisão, mas em apenas cinco países (Áustria, Alemanha, Reino Unido, Suécia e Suíça) e por causa disso, pela primeira vez foi exibido um resumo das actuações de todos os países onde seriam indicados nos países com voto telefónico os números correspondentes a cada canção, algo que rapidamente viria a tornar-se comum no Festival da Eurovisão.
Como habitualmente, vamos rever as canções por ordem inversa da classificação.
Célia Lawson (Portugal)
E o melhor é arrancar logo o penso: nesse ano, pela primeira vez desde a sua participação inaugural em 1964, Portugal não recebeu qualquer ponto. Sem dúvida um resultado deveras injusto para a nossa canção "Antes Do Adeus" na voz de Célia Lawson, que estava a longe de ser a pior canção das que desfilaram nesse ano. Contudo, também não era das mais memoráveis e como tal acabou por passar despercebida aos júris e televotos europeus. Célia Lawson ficou conhecida pela sua participação na terceira edição do "Chuva De Estrelas" onde chegou à grande final com uma imitação de Oleta Adams, (tal como o seu irmão Paulo imitando Jim Kerr dos Simple Minds) e tinha acabado de lançar o seu primeiro álbum "First". A acompanhá-la em palco estava um coro de quatro vozes, a fazer lembrar os agentes do Matrix (um deles, o mais alto, era nada menos que Mico da Câmara Pereira). A música e a orquestração estiveram a cargo de Thilo Krassmann e a letra (que mencionava Pedro Abrunhosa e José Saramago) era de Rosa Lobato Faria, na quarta e última vez que assinara uma letra para uma canção eurovisiva. Célia Lawson também escreveu a letra de "Eu Sou Aquele" dos Excesso. Em 2017, participou no "The Voice".
Tor Endersen (Noruega)
Mas pelo menos, Portugal não provou sozinho a amargura dos nul points, já que a Noruega foi também corrida a zeros. O que também foi um choque para este país que vinha de uma vitória em 1995 e de um segundo lugar em 1996. Ainda por cima, Tor Endersen finalmente conseguira ir à Eurovisão depois de ter tentado sete vezes antes (fez parte do coro da canção norueguesa de 1988). Contudo, apesar dos zeros e devido a um novo sistema de relegação que apurava a média de pontos de cada país no últimos cinco anos, Portugal e Noruega puderam participar em 1998.
Barbara Berta (Suíça)
Mrs. Einstein (Países Baixos)
Mais acima, Suíça e Países Baixos repartiram o 22.º lugar com 5 pontos. Barbara Berta representou as cores helvéticas com uma canção em italiano da sua autoria, "Dentro Di Me". Já os Países Baixos levaram o quinteto feminino Mrs. Einstein com a canção "Niemand Heeft Nog Tijd" ("já ninguém tem tempo"). O grupo que na altura era formado por Linda Snoeij, Suzanne Venneker, Marjolein Spijkers, Saskia van Zutphen e Paulette Willemse estava no activo desde 1990, e embora só tenham editado um disco por ocasião da participação na Eurovisão, as Mrs. Einstein continuam a actuar por terras holandesas, com Spijkers, van Zutphen e Willemse ainda na formação actual.
Bettina Soriat (Áustria)
A Áustria foi representada por Bettina Soriat, que esteve no coro da canção austríaca do ano anterior. Com uma larga experiência como cantora e bailarina, tendo participado em vários musicais do meio teatral de Viena, Soriat levou a Dublin o tema "One Step" onde evidenciava os seus dotes de dançarina, que ficou em 21.º lugar com 12 pontos.
Paul Oscar (Islândia)
A Islândia foi o último país a actuar e ficou em 20.º lugar com 18 pontos, mas a sua actuação foi uma das mais marcantes da noite e bastante ousada para a época. Paul Oscar cantou "Minn Hansti Dans" ("minha dança final") sentado num sofá branco, acompanhado por quatro bailarinas vestidas de cabedal. Com uma carreira artística desde infância e abrangendo vários estilos, Paul Oskar tinha-se também notabilizado no seu país como DJ e figura de proa da comunidade LGBT. A sua canção era um tema techno-pop que não destoaria numa Eurovisão da década seguinte. Há que notar que três dos quatro países que deram pontos à Islândia foram os que tinha televoto, pelo que fica a ideia que se a maioria dos países tivesse voto popular nesse ano, quem sabe se o resultado não teria sido melhor.
Bianca Schomburg (Alemanha)
Alma Cardzic (Bósnia & Herzegovina)
A Alemanha e a Bósnia & Herzegovina ficaram em 18.º lugar com 22 pontos. A representante alemã foi Bianca Schomburg, que no ano anterior, vencera a primeira final europeia do "Chuva de Estrelas" imitando Céline Dion (com Portugal em segundo lugar com Rui Faria como Elton John). Em Dublin, cantou "Zeit" ("tempo"). Aproveitando uma nova regra que permitia uma faixa gravada completa, a Alemanha foi um dos quatro países que não recorreram à orquestra.
Já a Bósnia & Herzegovina foi representada por Alma Cardzic, que já tinha representado o país em 1994 (também em Dublin) em dueto com Dejan Lazarevic, que agora a solo cantou "Goodbye".
ENI (Croácia)
Como se lembram, em 1997, as cinco mulheres mais famosas dos planeta eram as Spice Girls, por isso não era admirar que algum país apostasse em trazer algum do espírito das raparigas especia(r)i(a)s para a Eurovisão. E esse país foi, algo surpreendentemente, a Croácia que com o grupo ENI e a canção "Probudi Me" ("desperta-me"), era impossível não associar à estética e sonoridade das Spice Girls: Elena Tomecek evocava a sensualidade de Geri Halliwell e Ivona Maricic a inocência de Emma Bunton, enquanto Nikolina Tomljanovic surgiu desportiva como Melanie C. e Iva Mocibob representaria talvez um elo perdido entre Melanie B. e Victoria Beckham. A Croácia ficar-se-ia pelo 17.º lugar com 24 pontos. Mas ao contrário das Spice Girls, as ENI têm continuado juntas no activo no seu país desde então.
Kolig Kaj (Dinamarca)
A Dinamarca também apostou na diferença com um tema rap, "Stemmen I Mit Liv" ("a voz na minha vida") interpretado por Thomas Laegard Sorensen, aliás Kolig Kaj, sobre um homem obcecada sobre uma voz feminina que ele ouviu por acaso num chamada de sondagens, ficando em 16.º lugar com 25 pontos. A Dinamarca só voltaria a levar um tema completamente em dinamarquês à Eurovisão em 2021.
Alla Pugacheva (Rússia)
Na sua terceira participação, a Rússia foi representada por uma das maiores cantoras do país desde os tempos da União Soviética. Com uma carreira iniciada em 1965, Alla Pugacheva já vendera mais de 200 milhões de discos e gravara em várias línguas e em 1991, foi condecorada como a "Artista do Povo da URSS". Com tanta consagração, fazia sentido que Pugacheva tivesse cantado um tema intitulado "Prima Donna". Curiosamente na altura, ela era casada com Philipp Kirkorov, o representante russo em 1995. Apesar da primorosa interpretação, a Rússia ficou em 15.º lugar com 33 pontos e só voltaria a participar na Eurovisão em 2000.
Blond (Suécia)
Na altura, também as boybands estavam em alta e não foi de estranhar que dois países tivessem sido representados por uma boyband. Um deles foi a Suécia com o trio Blond, que como o nome indicava, era composto por três membros bem loirinhos: Jonas Karlhager, Gabriel Forss e Patrick Lundstrom. Os três cantaram "Bara Hon Älskar Mig" ("se ao menos ela me amasse"), alcançando o 14.º lugar com 36 pontos.
VIP (Hungria)
O outro país que levou uma boyband foi a Hungria. Os VIP cantaram "Miért kell, hogy elmenj?" ("porque tiveste de partir?"), uma balada que se fosse em inglês, não destoaria no repertório dos Backstreet Boys. O grupo era composto Jozsa Alex, Imre Rakonczai, Viktor Rakonczai e Gergo Racz, com estes dois últimos a terem mais tarde sucesso a solo no seu país. No Festival, a canção húngara ficou em 12.º lugar com 39 pontos.
Marianna Zorba (Grécia)
Na mesma posição e com os mesmos pontos ficou a Grécia. Marianna Zorba cantou "Horepse" ("dança") um tema que não destoaria numa aula da dança do ventre.
Anna-Maria Jopek (Polónia)
A Polónia ficou em 11.º lugar com 54 pontos. Anna-Maria Jopek cantou "Ale Jestem" ("mas eu sou"), um tema folk. Jopek viria a ter uma bem-sucedida carreira como intérprete de jazz e world music, colaborando com nomes sonantes como Pat Metheny, com quem editou um álbum conjunto em 2002.
Tanja Ribic (Eslovénia)
Com uma canção num estilo semelhante à da polaca, a Eslovénia ficou em décimo lugar com "Zbudi Se" ("acorda"), cantada pela loiríssima Tanja Ribic. Este será porventura o momento mais notório de Tanja Ribic como cantora, já que tem trabalhado mais como actriz de teatro e cinema.
Debbie Scerri (Malta)
Debbie Scerri foi a representante de Malta, cantando "Let Me Fly", obtendo o nono lugar com 66 pontos, incluindo um doze da Turquia. Mas o que ficou sobretudo para história desta participação maltesa foi o facto de Debbie Scerri ter sido a primeira recipiente do Prémio Barbara Dex (o nome da representante belga de 1993), o prémio para o participante mais mal vestido, devido ao seu vestido largueirão roxo e azul turquesa. A partir de 2022, o prémio foi renomeado You're A Vision e agora distingue o look mais original de entre os participantes de cada edição. Debbie Scerri é hoje por hoje sobretudo conhecida no seu país como apresentadora.
Maarija (Estónia)
Duas cantoras que tinham participado em 1996, voltaram nesse ano a representar novamente o seu país. Uma delas foi Maarija-Liis Ilus que representava a Estónia pelo segundo ano consecutivo. Se em 1996 fê-lo em dueto como Ivo Linna, desta vez apresentou-se a solo (e sob o nome de Maarija, simplesmente) cantando "Keelatud Maa" ("terra proibida"). Ficou em oitavo lugar com 82 pontos um pouco aquém do quinto lugar do ano transacto, mas ainda assim, um bom resultado.
Fanny (França)
Fanny Biascamano foi a representante da França, e apesar de ter apenas 17 anos, já era uma cantora de grande sucesso desde a pré-adolescência quando em 1991 teve um hit com uma versão de "L'homme à la moto" de Edith Piaf. Em Dublin, cantou "Sentiments Songes" ("sentimentos sonhados") alcançando o sétimo lugar com 95 pontos.
Marcos Llunas (Espanha)
A vizinha Espanha obteve o sexto lugar em 1996 com a powerballad "Sin Rencor" na voz de Marcos Llunas. Filho do célebre cantor romântico Dyango, Llunas estava habituado a este tipo de competições pois ganhara o Festival da OTI de 1995 com "Eres Mi Debilidad". O seu disco mais recente data de 2012 é um tributo ao repertório do seu pai. Se virem esta actuação no YouTube, prestem atenção ao momento em que Marcos Llunas olha para a câmara com um esgar de quem apanhou um choque eléctrico.
Hara Konstantinou (Chipre)
Chipre foi o primeiro país a actuar, o que sem dúvida deu sorte já que repetiu o melhor resultado do país até então, ao alcançar o quinto lugar, tal como em 1982, posição que também seria repetida em 2004 e apenas ultrapassada com o segundo lugar de 2018. Os representantes cipriotas foram os irmãos Hara e Andreas Konstantinou, que cantaram "Mana Mou" ("terra mãe"), com uma participação muito activa dos quatro cantores do coro.
Jalisse (Itália)
Ausente desde 1993, a Itália regressava à Eurovisão, mas segundo consta foi um regresso meio contrariado. Isto porque na altura, caso um país não estivesse interessado em participar, era obrigatório informar disso atempadamente à EBU, mas aparentemente a RAI não o fez dentro da data prevista e para não pegar pesada multa, a Itália acabou por participar, levando a canção vencedora do Festival de San Remo desse ano: "Fiumi Di Parole" ("rios de palavras") interpretada pelo duo Jalisse. O duo era composto pelo casal Alessandra Drusian e Fabio Ricci. Tanto em San Remo como na Eurovisão, foram apontadas semelhanças da canção italiana com "Listen To Your Heart" dos Roxette. Porém, nenhuma acção foi tomada quanto a isso e a Itália alcançou o quarto lugar com 114 pontos (incluindo 12 de Portugal). Mas nem este bom resultado alentou a Itália a continuar a participar na Eurovisão, só regressando ao certame em 2011.
Sebnem Paker (Turquia)
Antes de 1997, o historial da Turquia no Festival da Eurovisão não era muito famoso, com apenas um resultado no top 10 em 1986. Mas nesse ano, a Turquia conseguiu um brilhante terceiro lugar com 121 pontos e nos anos vindouros obteria outros grandes resultados, nomeadamente a vitória em 2003. Sebnem Paker já tinha sido a representante turca em 1996, onde ficou em 12.º lugar, e regressava um ano depois com o Grup Etnik e o tema "Dinle" ("escuta"), um tema com sonoridades bem turcas a que a assistência presente respondeu batendo palmas animadamente no refrão. Sebnem Paker ainda tentou representar o país por um terceiro ano consecutivo em 1998, mas não venceu a final nacional. Actualmente é professora do ensino secundário.
Marc Roberts (Irlanda)
Com quatro vitórias nos últimos cinco anos, a Irlanda foi de longe o país dominante do Festival da Eurovisão nos anos 90. E em 1997, obteve mais um excelente resultado ao ficar em segundo lugar com 157 pontos. Marc Roberts cantou "Mysterious Woman" sobre alguém que fica fascinado após cruzar olhares com uma mulher misteriosa no aeroporto.
Os Katrina & The Waves obtiveram a quinta vitória do Reino Unido
Contudo, rapidamente ficou claro que a vitória nesse ano não escaparia ao Reino Unido, com um esmagador total de 227 pontos, mais setenta que a Irlanda. A banda rock Katrina & The Waves, composta por dois britânicos (Kimberley Crew e Alex Cooper) e dois americanos radicados na Britânia (Katrina Leskanich e Vince De La Cruz), deixara a sua marca nos anos 80 com o hit "Walking On Sunshine". Porém embora a banda tivesse continuado a dar concertos e a lançar discos desde então, nunca conseguiu repetir esse sucesso, pelo que esta vitória na Eurovisão foi o segundo pico de notoriedade para a banda. "Love Shine A Light" foi composta pelo guitarra Kimberly Rew e foi o único membro da banda que não esteve em palco, com Phil Nicol a tocar guitarra em seu lugar, sendo ainda acompanhados no coro por Miriam Stockley e Beverly Skeete. Contudo, estes novo fogacho de fama durou pouco e os Katrina & The Waves terminaram em 1999. Katrina Leskanich tem contudo continuado a actuar a solo desde então e eu vi-a ao vivo em 2012 na Eurovision Party de Setúbal. Aliás, Katrina nunca deixou de abraçar o seu legado na Eurovisão e por exemplo, apresentou a gala dos 50 anos da Eurovisão em 2005 e em 2017 foi a porta-voz dos votos do Reino Unido (que deu um dos muitos 12 a Portugal). Em 2020, quando o Festival da Eurovisão foi cancelado devido à pandemia de Covid-19, os representantes do diversos países que iriam participar nesse ano (excepto os da Bélgica) cantaram "Love Shine A Light".