sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Publionário (1992-93)

No Outono Quente de 1992 da televisão portuguesa, a RTP, após 35 anos de monopólio, passava a ter a concorrência da SIC (e meses mais tarde da TVI). Como tal, a RTP quis reforçar a rentrée desse ano estreando alguns programas icónicos (como "Isto Só Vídeo", "Apanhados", "Marina, Marina" e a telenovela "Pedra Sobre Pedra") mas também tentando fidelizar o público de outras formas. 



Uma delas foi com o concurso "Publionário", estreado a 3 de Outubro de 1992 e que durou até 24 de Abril de 1993. A premissa era bem simples: todos os dias de segunda a sexta-feira, ao longo da programação, era exibido um pequeno excerto de um anúncio publicitário. Os telespectadores teriam de adivinhar o nome do produto, marca ou evento cultural correspondente a esse anúncio. 




Para tal, teriam de preencher os cupões publicados na revista Tele Guia, que fora lançada na mesma altura, para o programa com a resposta certa. Havia também um cupão semanal que tinha de ser preenchido com as respostas aos cinco anúncios da semana. Aos sábados, era exibido um sorteio onde eram sorteados os vencedores da semana anterior: o prémio era de 200 contos (cerca de 1000 euros) para os cupões diários e de 1000 contos (cerca de 5000 euros) para os semanais. Eram válidos os cupões recebidos até à quinta-feira de semana seguinte. 

Margarida Reis


Susana Santos


A conduzir tanto as vinhetas diárias como os sorteios de sábado estava uma misteriosa apresentadora de mascarilha. Ao todo, três apresentadoras mascaradas exerceram essa função: a primeira e a mais reconhecível era Margarida Reis (que curiosamente não tardaria a saltar para as estações privadas, primeiro na TVI e depois na SIC) a segunda foi Susana Santos (uma das últimas locutoras de continuidade da RTP) mas a terceira continua por ser identificada. Nem sequer os nossos amigos do "Brinca Brincando" (e a eles pela enésima vez o agradecimento por estas imagens, disponibilizadas no seu site!) conseguiram descobrir! É essa apresentadora incógnita que surge neste vídeo da Enciclopédia TV.



Alguns dos anúncios eram bastante conhecidos da altura, como por exemplo à lixívia Neoblanc, ao champô Vidal Sassoon e o chocolate Inca. Mas também havia alguns de publicidade institucional (como aquele que surge no vídeo, de uma campanha para promover hábitos de leitura na população, ou sobre a acção de legalização de cidadãos estrangeiros residentes em Portugal que o Governo levou a cabo na altura. Houve ainda excertos a anúncios a eventos culturais, como exposições de pintura, peças de teatro, espectáculos de ópera e até trailers de filmes portugueses, como por exemplo a produção luso-guineense "Os Olhos Azuis De Yonta".


Então nos meus 12 anos, eu cheguei a participar no "Publionário" durante alguns meses (não havia limite de idade para participar), comprando a revista Tele Guia e enviando os cupões num envelope a cada semana, mas nunca ganhei nada e acabei por desistir a certa altura. Editada pela TV Guia Editora, a Tele Guia era uma revista de formato de bolso e por aquilo que me lembro, estou em crer que, dentro do possível é claro, procurava ter a sua identidade própria e distanciar-se ao máximo da sua irmã mais velha TV Guia. Aliás, a revista acabaria por durar bem mais do que o "Publionário" mantendo-se nas bancas até 2001.  

Como se sabe, apesar de uma ou outra irreverência da SIC, nos primeiros meses de televisão privada portuguesa, o domínio das audiências da RTP não foi beliscado por aí além. Mas não tardaria muito até o caso mudar de figura.   

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Festival da Eurovisão 1977

Tempo para recordar mais uma edição do Festival da Eurovisão, e desta vez recuamos 45 anos até ao 22.º Festival da Eurovisão que teve lugar a 7 de Maio de 1977 no Centro de Conferências de Wembley em Londres. 



Com a vitória do Reino Unido no ano transacto, graças ao clássico "Save All Your Kisses From Me" dos Brotherhood Of Man, o Festival realizava-se pela sexta vez em terra britânicas e a quarta em Londres. Inicialmente o certame estava marcado para o dia 2 de Abril, mas devido a uma greve de técnicos e operadores de câmara da BBC, foi adiado para mais de um mês depois, sendo a primeira vez que o Festival realizou-se no mês de Maio desde a edição inaugural em 1956, sendo que hoje em dia o Festival realiza-se tradicionalmente nesse mês. A apresentadora foi Angela Rippon.
A greve e o adiamento fez com que a transmissão fosse afectada por vários problemas técnicos como legendas dos países e dos títulos das canções enviesados, planos de câmara mal enjorcados e a não exibição dos créditos finais. (Existem gravações áudio nesses momentos com o produtor Stewart Morris a gritar impropérios que fariam corar um Gordon Ramsey!) Além disso, a parte das votações foi repleta de erros, quer da apresentadora Angela Rippon, quer dos operadores do quadro de pontuação, quer ainda de alguns porta-vozes (como o francês que pontuou doze países em vez dos dez estipulados). 
E segundo o livro "Portugal 12 pts" de João Carlos Calixto e Jorge Mongorrinha, as delegações portuguesa e austríaca ficaram instaladas num hotel perto do aeroporto de Heathrow enquanto as dos restantes países ficaram no centro da cidade. Isto porque as canções dos dois países foram consideradas como tendo "influências socialistas". 
Por outro lado, foi uma edição com um belíssimo palco e um elevado nível de qualidade nas canções e com muitos artistas que já tinham participado ou voltariam a participar no Festival da Eurovisão. Pela primeira vez, o quadro das pontuações tinha as bandeiras dos países concorrentes, algo que é hoje habitual. 



Participaram dezoito países, os mesmos do ano anterior, com a saída da Jugoslávia e o regresso da Suécia. A Tunísia esteve quase para participar e chegou a ser sorteada para actuar em quarto lugar mas acabaria por desistir. A partir deste ano, voltou a ser obrigatório os países cantarem na sua língua nacional (ou uma das) mas a Alemanha e a Bélgica foram autorizadas a participar com canções em inglês, porque já tinham sido escolhidas antes da reintrodução da regra. 

Como é habitual, analisaremos cada canção por ordem inversa de classificação. (Os nomes dos países em negrito têm links com o vídeo da respectiva canção.)

Forbes (Suécia)


Após ausência no ano anterior (em parte devido aos encargos de ter organizado o certame de 1975), a Suécia regressou ao Festival mas não foi um retorno feliz pois ficou no último lugar com apenas 2 pontos, até ao momento a única vez que o país ficou isolado na cauda da tabela. A canção "Beatles" era obviamente homenagem da banda Forbes ao lendário quarteto de Liverpool, mencionando as canções "Yesterday" e "Hard Day's Night" e os nomes dos quatro membros da banda, mas não convenceu ninguém a não ser o juri alemão que deu à Suécia os seus dois únicos pontos.

Schmetterlinge (Áustria)


A Áustria ficou no penúltimo lugar com aquela que era sem dúvida a proposta mais ousada. Sob o véu de um ritmo alegre e de um refrão pegadiço, o tema "Boom Boom Boomerang" escondia uma letra que criticava a indústria musical, mais interessada em fazer dinheiro do que em promover música de qualidade, um argumento que pelos vistos nunca deixou de ser relevante. A canção foi defendida pelo grupo Schmetterlinge que incluía dois membros do grupo The Milestones, Beatrix Neudlinger e Günter Grosslercher, que tinha representado o país em 1972. Os membros masculinos do grupo tinham na parte de trás das cabeças umas máscaras que, aliadas à parte de trás dos seus fatos, se convertiam em bonecos que se mexiam com a coreografia. Mas esta ousadia não foi muito do agrado dos júris europeus que atribuíram à Áustria apenas onze pontos. (Também me pergunto se esta canção também não era uma crítica aos ABBA que tinham uma canção com um título parecido e que nunca se livraram das críticas de serem demasiado comerciais.)

Anne-Marie B. (Luxemburgo)

Igualmente ousada, mas por outros motivos, foi a canção do Luxemburgo. Como se pode calcular, "Frère Jacques" era inspirada na famosa cantilena infantil "Frére Jacques, Frére Jacques/ Dormez-vous? Dormez-vous?" mas que na intensa batida disco e na interpretação sensual de Anne-Marie B. ganhava contornos bem mais adultos. O Luxemburgo quedar-se-ia pelo 16.º lugar com 17 pontos. Anne-Marie Besse obteve alguma notoriedade como actriz, e o seu currículo inclui o filme "Max, Meu Amor" de Nagisa Oshima. 

Anita Skorgan (Noruega)

Portugal e Noruega empataram no 14.º lugar com 18 pontos. 
A Noruega apostou na jovem Anita Skorgan, que com apenas 18 anos, já somava grande sucesso no seu país. Em Londres, Skorgan cantou "Casanova" onde lamentava o desaparecimento do seu amado, cuja reputação de conquistador igualava àquela do célebre aventureiro veneziano do título. Nesta edição do Festival não houve postcards entre as actuações dos países, com a realização a focar em vez disso a filmar a assistência presente em Wembley. Segundo consta, a BBC planeou usar imagens dos diferentes representantes durante a festa de recepção às delegações participantes num famoso clube noturno londrino como postcards mas tal não aconteceu: a justificação oficial foi a de que muito do material filmado ficou inutilizável parte das imagens que foram exibidas durante o intervalo, mas também se disse que foi devido a um protesto da televisão norueguesa por conter imagens de Anita Skorgan a consumir álcool, quando ainda não estava na idade legal para tal na Noruega. Seja como for, esta foi apenas a primeira de várias vezes que Anita Skorgan participou na Eurovisão pelas cores norueguesas tendo regressado em 1979 e 1982, fazendo parte do coro em 1981 e 1983 e como letrista da canção de 1988. Nos anos 90, Skorgan foi a voz norueguesa das protagonistas dos filmes "Pocahontas" e "Anastasia". 

Os Amigos (Portugal)
     

O Festival RTP da Canção de 1977 foi uma edição bastante singular, pois pela única vez, cada canção tinha duas versões diferentes em competição e o vencedor foi escolhido através de votos por via postal, mediante cupões fornecidos pela imprensa da altura. As sete canções foram "Canção Sem Grades", interpretada por Teresa Silva Carvalho e por José Freire; "O Que Custar", interpretada pelos Green Windows e pelo Quarteto 1111; "Férias", interpretada pelo Grupo Férias e por Paco Bandeira; "A Flor E O Fruto", interpretada pelo grupo Fantástica Aventura e pelo Conjunto Maria Albertina; "Fim De Estação", interpretada pelos Bric-À-Brac e por Vera Mónica e Carlos Queiróz (não o treinador, mas sim o irmão de Florbela); "Rita Rita Limão", interpretada pelos Green Windows e pelo duo Cara Ou Coroa (Joel Branco e Mafalda Drummond); e "Portugal No Coração" interpretado pelos Gemini e pelo grupo Os Amigos, composto por Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Edmundo Silva, Ana Bola, Luísa Basto e Fernanda Piçarra. E com mais de 60 mil votos, a vitória foi para Os Amigos que assim representariam Portugal em Londres, dando-se assim o regresso de Fernando Tordo e Paulo de Carvalho à Eurovisão após terem participado respectivamente em 1973 e 1974. "Portugal No Coração" é uma canção muito filha do seu tempo, com a letra reflectindo sobre a situação do nosso país na altura, ainda a digerir a ressaca da revolução de 1974 e o que fazer com a recém-adquirida liberdade, e incerto sobre qual o caminho a seguir no futuro. 
Agora tenho de ser sincero: este é a única edição do Festival da Eurovisão em que a canção portuguesa é aquela que eu gosto menos. Não que ache que a canção nesta versão seja má, simplesmente acho que neste ano todos os outros países tinham canções melhores. Além disso, prefiro a versão dos Gemini de "Portugal No Coração", acho que a melhor opção teria sido a versão dos Green Windows de "Rita Rita Limão" e pergunto-me que a escolha do público por Os Amigos teve sobretudo a ver com o star power dos nomes envolvidos (aos quais se juntava Ary dos Santos como autor da letra). Também não gosto dos arranjos da orquestra com ritmos disco na versão interpretada ao vivo. No Festival da Eurovisão, Portugal (No Coração) obteve 6 pontos da França, 4 da Suíça, 3 da Itália, 2 do Mónaco e dos Países Baixos e 1 da Alemanha. 

Mia Martini (Itália)

Mia Martini, nome artístico de Domenica Berté, foi a representante de Itália com "Libera", um tema disco que falava sobre a liberdade no feminino, liberdades que ainda hoje são negadas a algumas mulheres. Neste ano, a Itália ficou em 13.º lugar com 33 pontos. Mia Martini regressaria à Eurovisão em 1992 com um ainda melhor resultado mas infelizmente faleceu a 13 de Maio de 1995 (curiosamente o dia do Festival da Eurovisão desse ano) com apenas 47 anos. 


Heddy Lester (Países Baixos)

Os Países Baixos ficaram em 12.º lugar com 35 pontos, mas apesar do resultado mediano, já vi muitos fãs eurovisivos holandeses afirmarem que esta é uma das canções eurovisivas do país mais amadas de sempre, que miúdos e graúdos sabem cantar de cor. "De Mallemolen" ("o carrossel") foi interpretado por Heddy Lester, cujo vestido estava estruturado como uma túlipa. Embora tenha começado como cantora nos anos 70, nos anos seguintes Heddy Lester fez carreira sobretudo como actriz de teatro. 

Ilanit (Israel)

Depois de em 1973 ter sido a intérprete da primeira canção de Israel no Festival da Eurovisão, Ilanit Tzakh regressou ao certame para defender o tema "Ahava Hi Shir Lishnayim" ("o amor é uma canção para dois") ficando em 11.º lugar com 49 pontos. Nascida em Telavive no ano anterior à fundação do Estado de Israel, Ilanit passou a infância no Brasil antes de regressar ao seu país natal em 1960. Durante anos, circulou o mito de que Ilanit estaria usar um colete anti-balas debaixo do vestido durante a sua actuação numa ou em ambas das suas participações eurovisivas, mas a cantora sempre negou. 

Monica Aspelund (Finlândia)

Na posição acima com mais um ponto ficou a Finlândia com a canção "Lapponia" na voz de Monica Aspelund. Como é evidente, a canção era sobre a célebre região finlandesa da Lapónia, a maior e mais setentrional do país, promovida desde os anos 40 como sendo a terra do Pai Natal. A canção agradou particularmente ao júri irlandês que lhe deu os 12 pontos, e sendo a Irlanda o primeiro país a votar, foi a única vez que Finlândia esteve em qualquer dado momento em primeiro lugar na classificação até à sua vitória retumbante em 2006. Em 1983, Ami Aspelund, irmã de Monica, foi a representante finlandesa na Eurovisão. 

Micky (Espanha)

A Espanha ficou em nono lugar com 52 pontos, sendo representada por Miguel Carreño a.k.a, Micky e o tema "Enseñame A Cantar". Tratava-se de um canção bem-disposto que bem podia ser da banda sonora de um western-spaghetti, onde as três cantoras de coro em coreografia sincronizada, uma simpática tocadora de banjo e um senhor que soprava numa espécie de bilha não deixaram Micky brilhar sozinho.   

Silver Convention (Alemanha)

A Alemanha fez-se representar pelo trio germano-americano Silver Convention, na altura formado Ramona Wulf, Rhonda Heath e Penny McLean. O grupo tinha tido bastante sucesso internacional nos anos anteriores, nomeadamente com o tema de 1975 "Fly Robin Fly", que chegou ao n.º1 do top americano e canadiano e ganhou um Grammy. Em Londres, interpretaram o tema "Telegram" que ficou em oitavo lugar com 55 pontos. Posteriormente, Rhonda Heath também esteve presente na Eurovisão tocando nas teclas nas actuações da Áustria em 1985 e da Alemanha em 1994. 

Dream Express (Bélgica)


As irmãs Bianca, Patricia e Stella Maessen tinham representado os Países Baixos em 1970 sob o nome de The Hearts Of Soul, e agora regressavam pela Bélgica, onde residiam desde 1973, em conjunto com o compositor Luc Smets como o grupo Dream Express com "A Million In One, Two, Three" que ficou em sétimo lugar com 69 pontos. O tema tinha sido escrito por Smets que viria mais tarde a casar com Bianca. Stella voltou a representar a Bélgica na Eurovisão em 1982. Infelizmente, Patricia Maessen faleceu em 1996, com somente 44 anos, na consequência de um ataque cardíaco. Em 2010, Bianca, Stella e uma quarta irmã, Doreen, lançaram um novo single como The Hearts Of Soul.  

Pepe Lienhard Band (Suíça)


A Suíça foi representada pela canção "Swiss Lady" pela Pepe Lienhard Band, ficando em sexto lugar com 71 pontos. Este é capaz de ser o tema mais suíço de sempre na Eurovisão, não só pelo título, mas pela sonoridade que bem que podia fazer parte da série da "Heidi", não faltando sequer uma das famosas trompas alpinas. O vocalista principal, Pino Gasparini, voltaria a representar a Suíça em 1985, em dueto com Mariela Ferré. 

Pascalis, Marianna, Robert & Bessy (Grécia)


Na sua terceira participação, a Grécia alcançou o quinto lugar com 92 pontos, um dos melhores resultados de sempre do país, igualado em 1992 e apenas superado pela vitória em 2005 e os terceiros lugares de 2001 e 2008. O quarteto composto por Pascalis Arbanitidis, Marianna Tolli, Robert Williams e Bessy Argiraki interpretou "Mathema Solfege" ("lição de solfejo"), onde aliás o refrão era apenas composto por notas musicais. Por curiosidade, o single seguinte do grupo foi "I Love, I Love, I Love You", que é nada menos que a versão original de "Eu Tenho Dois Amores". 

Michèle Torr (Mónaco)
  

A cantora francesa Michèle Torr tinha representado o Luxemburgo em 1966 e agora voltava onze anos mais tarde, desta vez pelas cores do Mónaco. "Une Petite Française" era uma canção semiautobiográfica, onde Torr recordava as suas origens da Provença e a sua ida para Paris ainda adolescente para seguir uma carreira musical, mas também reafirmava a sua convicção de que não era uma vedeta de capa de revista. A canção monegasca ficou em quarto lugar com 96 pontos, incluindo 12 pontos da Itália e da Grécia.

The Swarbriggs Plus Two (Irlanda)

Dois anos depois, os irmãos Tommy e Jimmy Swarbrigg voltavam a representar a Irlanda, desta vez acompanhados por Nicola Kerr e Alma Carroll. Sob o nome de The Swarbriggs Plus Two, os quatro cantaram "It's Nice To Be In Love Again" e ficaram em terceiro lugar com 119 pontos, com quatro países a atribuirem a pontuação máxima. 

Mike Moran e Lynsey De Paul (Reino Unido)

Durante a primeira metade da votação parecia que o Reino Unido estava encaminhado para uma nova vitória, mas apesar de ser o país que recebeu 12 pontos de mais países (seis, incluindo Portugal) ficou pela décima vez em segundo lugar com 121 pontos, com "Rock Bottom" interpretado em dueto por Lynsey De Paul e Mike Moran. A loiríssima Lynsey De Paul tinha tido vários sucessos desde que iniciou a sua carreira como intérprete em 1972 como o hit "Sugar Me". Moran e De Paul escreveram a canção juntos e interpretaram tocando de costas um para o outro. Já o orquestrador Ronnie Hazelhurst surgiu com um chapéu de côco e uma batuta em forma de guarda-chuva. Lynsey De Paul, cuja lista de namoros incluiu nomes como Ringo Starr, Dudley Moore, Sean Connery e George Best, faleceu em 2014 aos 66 anos. Mike Moran tem composto música para filmes, televisão, teatro e até jogos de vídeo.  

Marie-Myriam (França)


Com 136 pontos, a França alcançou a sua quinta vitória, alcançando então o recorde do país com mais triunfos. (No entanto, em 2022, esta continua a ser a sua última vitória.) Marie-Myriam, que completava 20 anos no dia seguinte, interpretou "L'oiseau Et L'enfant" que rapidamente se tornou mais um grande clássico da Eurovisão. Mas esta vitória gaulesa foi também um pouco portuguesa já que Marie-Myriam, que nasceu em Kananga na actual República Democrática do Congo, tinha o apelido Lopes, os seus pais eram naturais de Braga e o português era a sua língua materna. Aliás, o português foi uma das cinco línguas em que gravou "L'oiseau Et L'enfant" (sob o título "A Ave E A Infância"). Marie-Myriam tem continuado ligada à Eurovisão tendo sido várias vezes a porta-voz dos votos da França e aparecendo na gala dos 50 anos da Eurovisão em 2005. Eu já a vi actuar  em Setúbal no Eurovision Live Concert.
Durante muitos anos, o triunfo de Marie-Myriam foi o mais parecido que tivémos com uma vitória portuguesa na Eurovisão até que quarenta anos mais tarde, veio a confirmação de que uma vitória simbólica não se compara a uma vitória real…    


Festival da Eurovisão 1977 (comentários em inglês):




sexta-feira, 14 de outubro de 2022

30 Programas da SIC

 



Parece incrível mas a SIC já faz 30 anos, mas nas armadilhas nostálgicas da minha mente, eu ainda sou levado a pensar que não foi assim há tanto tempo que Portugal passou do binómio da RTP para o tetraedro audiovisual com a SIC e depois a TVI. Mas sim, já se passaram trinta anos desde o dia 6 de Outubro de 1992 em que a emissora então sediada em Carnaxide (onde ficaria até 2019) abriu as suas emissões com um boletim de informação com Alberta Marques Fernandes - mais do que aqueles que a RTP tinha quando eu nasci!



Eu tinha doze anos quando a SIC começou, pelo que foi um marco na minha vida e à medida que avançava na adolescência, a programação da SIC estava de certo modo associada à minha visão do mundo. Tenho muita pena que aqueles que não eram nascidos ou eram muito novos na altura não tenham vivenciado a grande era dourada da SIC que, surfando na inaudita onda de prosperidade do Portugal dos anos 90, trouxe toda uma revolução à forma de fazer e se ver televisão em Portugal, uma mudança que o país sem saber desejava. Infelizmente desde o início deste século que a SIC entrou em declínio e, salvo uma ou outra boa ideia, já me custa ver a SIC que tanto me marcou na SIC actual, memórias que só não parecem distantes mas quase irreais. 

Mas para celebrar esta data querida, resolvi fazer um apanhado de trinta programas da SIC que mais me marcaram, se bem que nem sempre pelos melhores motivos. Tentei ser o mais diversificado no tempo, mas obviamente que a maioria dos programas desta lista será dos anos 90, e embora tenha optado por dar primazia à produção nacional, não pude deixar de incluir algumas excepções de além fronteiras. A lista é por ordem alfabética e caso tenham um artigo aqui no blogue eu deixarei o link no título:        




Claro que a imagem que vem logo à cabeça do povo quando se fala neste programa é a imagem do concorrente João Muge em completa aflição ao ser-lhe posta uma iguana em cima da sua careca enquanto gritava a Jorge Gabriel: "Ponha, ponha, ponha!"
Mas o "Agora Ou Nunca" teve mais do que isso. Este programa em que os portugueses eram desafiados a enfrentar os seus medos em troco de uma quantia de dinheiro, vimos todo o tipo de fobias, das mais comuns (como medo de cobras ou de aranhas) a outros mais raros (como o de uma mulher com medo de cortar esferovite), alguns desafios como o recorrente alguém passar a duração do programa a andar numa passadeira rolante de uma forma específica (de triciclo, de andas, de saltos altos…) ou alguns no exterior como empurrar carrinhos de supermercados por cem quilómetros. E como era o tempo em que havia pilim a rodos, houve mesmo alguns segmentos filmados no estrangeiro como levarem uma concorrente com medo de montanhas-russas à maior montanha-russa do mundo em Inglaterra. Recordo também o Ferrari amarelo que Jorge Gabriel conduzia no segmentos filmados no exterior e que a música do genérico era o hit eurodance "Move On Baby" dos Cappella.  




Para mim (e creio estar longe de ser o único), o surgimento de um canal de televisão apresentava-se como um admirável mundo novo audiovisual a descobrir e logo nas primeiras emissões momentos houve que eu, qual Dorothy recém-aterrada em Oz, ao ver a SIC sentia-me com vontade de dizer: "Toto, I've a feeling we're not in RTP anymore." Sobretudo com este programa italiano que abrilhantava as noites de sábado de título original "Il Colpo Grosso". Seios desnudados não eram exactamente algo inédito na televisão nacional, mas nunca os houvera naquela dose, onde a cada momento parecia que havia uma mulher disposta a mostrar tudo o que lhe ia no peito. Havia também o apresentador Umberto Smaila, que parecia um sucedâneo italiano de Benny Hill, a coapresentadora Amy envergando as suas copas DDDD, alguns jogos de casino e as raparigas Cin Cin, cada qual com a sua fruta qual deliciosa macedónia humana. 

 


Adaptado de um original australiano, o "Ai, Os Homens" testavam as habilidades dos machos tugas para impressionar o sexo feminino. Aqueles que não tinham mais que garganta sofriam a sentença ditada pelas 150 mulheres presentes em estúdio que era um banho forçado na piscina. Alguns concorrentes viriam a ter notoriedade posterior como Jorge Kapinha (o vencedor da finalíssima da primeira temporada), Fernando Melão e Sérgio Vicente (Big Brother 2). Os telespectadores masculinos também podiam regalar as vistas nas assistentes do programa que iam da loiríssima britânica Joanne Iverson à portuguesíssima morena Raquel Loureiro. Mas claro, as três estrelas de cada episódio eram o trio-maravilha composto pelo José Figueiras como apresentador, Joaquim Guerreiro como o temível boydbuilder Ulisses e o saudoso António Feio como o hilariante Johnny Bigode. 




Escreveu Camões que o amor é fogo que arde sem se ver, mas a SIC fez tudo para que esse fogo fosse visto em "All You Need Is Love". Lídia Franco conduziu a primeira temporada mas seria Fátima Lopes a cara mais associada a este programa, onde em nome do amor houve declarações de amor, speed dating, reconciliações amorosas e reencontros de amantes separados pela distância. Até havia momentos musicais que convidavam ao slow dancing, onde chilrearam nomes como Laura Pausini. 




João Baião a elevar o termo hiperactividade a níveis estratosféricos, o macaco Haddriano (sim, com H e dois D), o escultural e multirracial corpo de baile, actuações de não apenas de todos os artistas revelados durante a perfect storm do fenómeno pimba mas de outros com mais gabarito, a "Escolinha de Professor Baião" (com o Mário Jorrrrrrrge!)… Todo um fever dream televisivo!  

Bravo, Bravíssimo (1994-2001)



Num majestoso palco em Cremona, Itália, vários pequenos de todo o mundo mostravam os seus grandes talentos, do canto à dança, da música às artes circenses. Portugal também enviava o seu representante e organizava as suas finais nacionais, onde por exemplo passaram uns muitíssimo jovens Marisa Liz, FF e Salvador Sobral. Aquele que será o nosso Bravo, Bravíssimo mais recordado é João Pedro, o fadista que cantava "A Lenda Da Fonte", mas foi Ângelo Freire quem deu a Portugal a sua única vitória no Bravo, Bravíssimo internacional em 2000, com a sua interpretação de "Minha Guitarra Toca Baixinho".  



Duas Anas conduziram este inesquecível espaço infanto-juvenil da SIC: primeiro Ana Marques e depois e mais famosamente Ana Malhoa que foi o mais próximo que tivemos de uma Xuxa portuguesa. E claro, havia também o Boi Ré-Ré, a Vaca Ré-Ré e muitas canções que a petizada da altura trauteava, se bem que o "Começar No A" foi de longe a mais mítica. 
E depois havia o sem-fim de lendárias séries que passavam neste espaço, quer aos fins-de-semana quer nos espaços diários à tarde, mas há que destacar cinco: os "Power Rangers" nas diferentes encarnações, "Os Moto-Ratos de Marte", "A Navegante da Lua" e claro, "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z". 



Ele há programas que são tão marcantes que até custa a crer que só tiveram uma temporada. No tempo dos meus pais houve "A Visita da Cornélia" que apesar da sua única temporada de Junho a Novembro de 1977 (ignorando a revamp dos anos 90), ainda hoje muitos recordam. E eu dou por mim a pensar que a "Caça Ao Tesouro" teve pelo menos duas temporadas, mas só teve uma durante o Verão de 1994. Na altura, Catarina Furtado era a incontestável namoradinha de Portugal e este programa levou-a literalmente às alturas, percorrendo Portugal de lés a lés em busca das moedas e do tesouro conforme indicações dos concorrentes presentes num estúdio com Henrique Mendes e Rita Blanco.  



Portugal demorou um bocado a entrar na febre do karaoke (ou não fosse por excelência o país do tarda-mas-não-falta) mas assim que se massificou por cá, a tuga aderiu em força. E no Verão de 1996, o "Cantigas Da Rua" percorreu várias praças por esse país fora onde vários portugueses deram largas aos seus dotes vocais aos sons dos hits nacionais e internacionais do momento, com Miguel Ângelo na zénite dos Delfins na apresentação. Tal foi o sucesso que a SIC não quis deixar para o próximo Verão aquilo que podia fazer no Outono e prolongou a primeira temporada até uma finalíssima à chuva em Dezembro, para não falar em mais quatro temporadas, a última das quais conduzida por José Figueiras. Por lá passaram alguns ex-concorrentes do Chuva de Estrelas e nomes como Miguel "Duck dos Excesso" Moredo, Luciana Abreu e... Fernando Rocha?  




Mas falar de programas de cantorias é falar de "Chuva de Estrelas", programa onde aspirantes a cantores vestiam as peles de grandes estrelas da música, esperando eles próprios alcançar o estrelato e foi o que aconteceu com vários concorrentes como Sara Tavares, João Pedro Pais, Jacinta Matos, Pedro Miguéis, Marta Plantier, João Portugal e Vanessa Silva. Há ainda que referir vencedores icónicos como Inês Santos como Sinead O'Connor e Carlos Bruno que imitando Michael Stipe dos R.E.M. venceria a final europeia de 1998. Foi também aqui que, malgrado o seu currículo anterior em televisão, Catarina Furtado e Bárbara Guimarães se tornaram namoradinhas de Portugal. 

Dragon Ball Z (1997-98)



Já mencionei no Buéréré mas sem dúvida que esta mítica série japonesa merece o seu aparte. Sucedendo à serie "Dragon Ball", também exibida no Buéréré, "Dragon Ball Z" trazia de novo as aventuras de Songoku e seus amigos enfrentando novos e perigosíssimos inimigos que pretendem destruir a Terra e não só. A febre "Dragon Ball Z" foi tal em Portugal que há relatos do país parar para ver cada novo episódio, sobretudo durante o verão de 1997. Nomes de personagens como Songohan, Trunks, Cell, Frisa, Videl, Hércules, C18 e Vegeta andavam na ponta da língua da miudagem (e não só), o merchandising vendeu-se que nem pãezinhos quentes (roupa, material escolar, cassetes de vídeo com filmes spin-off inéditos, e por aí fora) e a dobragem nacional, repleta de referências à cultura pop tuga do momento e de várias idiossincrasias dos actores, tornou-se lendária. 
O que tornou ainda mais dolorosa a trollagem que a SIC fez quando, a poucos episódios do fim, num momento importante e sem praticamente nenhum aviso prévio, voltou a transmitir a série a partir do primeiro episódio.       

Globos de Ouro (1996-actualmente)



Sim, já havia anteriormente galas anteriores como os Sete de Ouro e os Prémios Nova Gente, mas foi com os Globos de Ouro, criados pela SIC e pela revista Caras, que rapidamente se tornaram "A" grande gala anual de atribuição de prémios, onde as celebridades tugas mais faziam questão de exibir os seus trapinhos mais glamourosos. A primeira cerimónia aconteceu em Abril de 1996 no Coliseu dos Recreios celebrando nomes que se destacaram em cinema, televisão, música, teatro e desporto no ano anterior e apesar de alguns percalços (como uma falha técnica que levou a SIC a interromper a emissão e a tapar o buraco com os "Malucos do Riso") ditou o molde para as galas futuras e rapidamente os "Globos de Ouro" se tornaram um dos pontos altos de cada saison da SIC, algo que se mantém até hoje apesar de várias mudanças aos longos tempos. 

Herman SIC (2000-2007)


O desejo da SIC de contratar Herman José era antigo, destacando-se até mesmo um momento em que Francisco Pinto Balsemão, enquanto convidado do programa "Parabéns", sacou de um contrato e de uma caneta e entregou-os a Herman. Este apareceria em breves momentos na SIC como numa emissão de "A Noite Da Má Língua" mas a transferência só se materializaria em 2000, com "Herman SIC", um talk show semelhante ao que conduziu nos seus dois últimos anos da RTP mas ampliado à escala SIC da altura. O programa deixou rábulas marcantes como "Nelo & Idália" e o "C.R.E.D.O" mas também alguns fails épicos como o do mago Alexandrino tentando em vão hipnotizar uma concorrente do Big Brother enquanto repetia "firme e hirta como uma barra de ferro" ou a falsa indignação de Lili Caneças a uma piada.    

Hora Da Liberdade, A (1999)



Para assinalar os 25 anos do 25 de Abril, a SIC exibiu uma megaprodução que reconstituía passo a passo a Revolução dos Cravos, exibida em 13 blocos entre 24 e 25 de Abril de 1999 à mesma hora em que os acontecimentos se sucederam vinte e cinco anos antes. 
Um impressionante especial épico (notava-se que era do tempo em que corriam rios de dinheiro na SIC!) que contou com a colaboração das Forças Armadas que forneceu vários recursos e que teve um impressionante elenco com nomes como Almeno Gonçalves, António Cordeiro, Diogo Morgado, Gonçalo Waddington, Henrique Feist, Ivo Canelas, José Jorge Duarte, Luís Esparteiro, Marcantónio Del Carlo, Pedro Lima, Rui Mendes e Vítor Norte mas onde há que destacar os desempenhos de António Capelo como Otelo Saraiva de Carvalho, José Manuel Mendes como Marcello Caetano e sobretudo Manuel Wiborg como Salgueiro Maia. 

Ídolos (2003-2022)


Após o sucesso da edição original britânica (Pop Idol) e sobretudo a americana (American Idol), ambos em 2002, vários países não tardaram em adaptar o formato onde se pretendia encontrar o novo ídolo musical da nação, com duas partes bem distintas: a fase dos castings onde desde logo se evidenciavam os favoritos mas também revelava alguns concorrentes iludidos que não aceitavam a sua desafinação, e a das galas ao vivo onde a cada semana era eliminado um concorrente. Até ao momento, houve sete temporadas do "Ídolos" a primeira em 2003 e a mais recente já este ano, sendo que os vencedores mais conhecidos são Nuno Norte, Sérgio Lucas, Filipe Pinto e sobretudo Diogo Piçarra, mas por lá também passaram nomes como Luísa e Salvador Sobral, Luciana Abreu, Carolina Torres e Carlos Costa.

Jornal Da Noite (1992-actualmente)



Desde a sua génese que a SIC tinha numa das suas apostas mais fortes a informação e não é à toa que abriu as suas emissões com um bloco informativo conduzido por Alberta Marques Fernandes. Inicialmente o seu principal bloco noticiário, o "Jornal Da Noite", não batia de frente com o sempiterno "Telejornal" da RTP, indo para o ar após o fim deste às 20:45 mas não tardou a enfrentá-lo no horário das oito da noite. Rodrigo Guedes de Carvalho é o rosto de informação que se mantém desde o início mas também foi aqui que foram revelados pivots como a já referida Alberta Marques Fernandes, José Alberto Carvalho, Paulo Camacho, Paulo Nogueira, Maria João Ruela, Teresa Dimas, Fernanda Oliveira Ribeiro, Alexandra Abreu Loureiro e mais recentemente Clara de Sousa (após passagem pela TVI e RTP), Bento Rodrigues e João Carlos Moleira.  

Juiz Decide, O (1994-2001)~



Um bastião das tardes da SIC durante anos, neste programa eram apresentados vários litígios cíveis encenados (embora muitos deles fossem baseados em processos reais), em que dois actores representavam as duas partes do litígio, expondo cada um a sua argumentação. Depois o público presente opinava sobre o caso e votava sobre qual a decisão. A apresentadora era Eduarda Maio, apoiada por dois assistentes, um masculino cujo nome não me recordo e uma feminina que era Liliana Campos, que evoluiria para outros programas da SIC. No fim, o juiz presente, conforme o que estava estabelecido na lei, ditava a sua sentença. O juiz que ficou mais tempo no programa foi o Dr. Ricardo Velha, mas antes dele houve o Dr. José Santos Pais que tinha o bordão "Os senhores façam o favor de sentar!" e que me lembro de ser mais reactivo com o público.
Alguns casos eram litígios comuns de partilhas e disputas pecuniárias, mas alguns eram algo rocambolescos como aquele em que um Nuno deu um anel a uma Laura e depois exigiu a devolução desse anel quando descobriu que essa Laura era afinal um Ricardo, que se apresentou no programa vestido como Laura. 

Laços De Sangue (2010-11)



Com a TVI a partir de 2000 a apostar forte em telenovelas portuguesas, um filão que ainda não tinha sido amplamente desbravado, a SIC também foi apostando na teledramaturgia nacional até porque o domínio das telenovelas brasileiras da Rede Globo, até então um dos seus bastiões de audiência, foi diminuindo gradualmente. Ao passo que telenovelas de temática infanto-juvenil como "Floribella" e "Chiquititas" foram grandes sucessos, telenovelas mais adultas como "Ganância", "Fúria De Viver", "Podia Acabar O Mundo" e "Perfeito Coração" não passaram de resultados medianos quando não foram flops como "Jura", "O Olhar Da Serpente" e "O Jogo". 
A primeira telenovela não infanto-juvenil da SIC que conseguiu quebrar o domínio da TVI foi "Laços De Sangue" em parceria com a Rede Globo, com o autor Pedro Lopes a ter a supervisão do célebre teledramaturgo Aguinaldo Silva. Diana Chaves, Joana Santos e Diogo Morgado protagonizaram esta história sobre Diana (Santos), uma jovem ambiciosa e inescrupulosa que ao descobrir que é a filha desaparecida de uma família rica, elabora um plano de vingança sob a sua irmã Inês (Chaves) a quem culpa de lhe ter negado a afluente vida que poderia ter vivido em vez das condições humildes em que cresceu e que sempre desprezou, apesar do amor que os seus pais adoptivos lhe deram. E parte dessa vingança passará por conquistar João (Morgado), o noivo de Inês. No final, Diana tem um final trágico pois o seu plano de simular a sua morte fracassa e acaba por morrer enterrada. 
Mas no meio desse drama, existiam alívios cómicos como casal novo-rico Armando e Gi Coutinho (João Ricardo e Custódia Gallego) e as picardias entre Sheila (Débora Ghira) e Marisa (Dânia Neto) no Mercado da Ribeira.
"Laços De Sangue" foi também até ao momento a única telenovela da SIC que ganhou o Emmy Internacional e foi transmitida em vários países como Itália, França, Bulgária, Indonésia e Quénia.  

Levanta-te E Ri (2003-2006; 2018-2020; 2022-actualmente)



Fiel à sua máxima de ser o país do "tarda mas não falta", só nos finais dos anos 90 e princípios dos anos 2000 é que o stand-up comedy enquanto espectáculo começou a ganhar alguns alicerces em Portugal e este programa terá sido incontornável para o seu estabelecimento. Sim, já havia antes programas de contar anedotas, como "Só Riso" na RTP e "Ri-te Ri-te" na TVI, mas "Levanta-te E Ri" foi o primeiro programa basilar do stand-up, que como é sabido, é mais complexo do que simplesmente contar anedotas. O programa foi primordialmente conduzido por Marco Horácio e inicialmente era gravado ao vivo num bar, mas depois estendeu-se a várias salas de espectáculo do país. Foi aqui que se revelaram nomes como Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Bruno Nogueira, Aldo Lima, Hugo Sousa, Francisco Menezes, Nilton, Salvador Martinha e Fernando Rocha. 
Após um interregno, "Levanta-te E Ri" foi recuperado em 2018 por ocasião do 15.º aniversário da sua estreia.  

Malucos do Riso, Os (1995-2010)


O conceito era assaz simples: a encenação de vários tipos de anedotas em diversos cenários interiores e exteriores (alentejanos, manicómio, salas de aula, oficina, consultório médico, ginásio, prisão…) mas essa simplicidade acabaria por ser o trunfo do programa. A primeira encarnação começou em 1995, protagonizada por Guilherme Leite, Camacho Costa, Ildeberto Beirão e Carla Andrino e continuou por mais quinze anos, (quando estes quatro já há muito tinham saído), gerou várias spin-offs ("Os Malucos Nas Arábias", "Os Malucos Na Praia", "Mini Malucos Do Riso"...) e contando com dezenas de actores. 
E para a posterioridade ficaram bordões como "Cabecinha pensadora!", "Um produto químico, natural ou assim-assim?", "Vá lá vai! Até a barraca abana!" e  "Servir bem e bem servir, dá saúde e faz sorrir!".




O consenso é que o princípio do declínio da supremacia da SIC aconteceu quando esta recusou a sugestão da Endemol de adquirir para Portugal o "Big Brother", que estava já a ser um estrondoso sucesso em vários países, e a TVI aproveitou a oportunidade e foi o que se viu. 
A SIC não tardou a aperceber-se do erro e contra-atacou com reality shows como "Acorrentados" e "O Bar Da TV", mas sem fazer grande sombra à segunda edição do "Big Brother". 
Mas aquele que viria a ser o mais controverso reality show da SIC chegaria no ano seguinte. "Masterplan - O Grande Mestre" tinha a particularidade de ser um formato de Endemol original em que Portugal era o primeiro país a concretizá-lo. Nele as câmaras seguiam um concorrente masculino e outro feminino na sua vida em que seguiam as ordens do Masterplan através de SMS de um telemóvel e interagiam com um respectivo desafiador que tentava convencer o público a ser ele/a o/a próximo/a concorrente. O programa ficou marcado pela concorrente Gisela Serrano e os seus barracos, o seu núcleo familiar composto pelo namorado e eventual marido Luís, a mãe Dilar e o padrasto Quinquinhas e sobretudo pelas picardias com a desafiadora Sandra Leão que culminou durante uma viagem de carro em que a violência verbal entre ambas escalou para a física. Com essas memórias já se esqueceu que foi uma outra Gisela, de apelido Ildefonso, igualmente polémica foi a eventual vencedora do programa. Aliás a vertente feminina do programa deu mais entretenimento já que outras concorrentes como Vera Alves e Sandra Leonardo e várias desafiadoras também tiveram a sua dose de momentos quentes. Na vertente masculina, as coisas foram mais calmas com mais trocas de ceptro entre concorrentes e desafiantes, destacando-se apenas o concorrente inicial Nelson Rodrigues e o finalista Gabriel Gonçalves. (Recordo também Bruno Lopes, filho do ex-jogador do Sporting Virgílio Lopes.)
Herman José conduzia as galas e Marisa Cruz, então recém-revelada no anúncio da revista Maxim, apresentava os blocos diários. Recordo ainda o tema "Sigo A Viagem" cantado pelas gémeas Mónica e Tânia Rodrigues.   




Provavelmente o maior sucesso da SIC em termos ficção nacional, "Médico de Família" era uma adaptação de um seriado espanhol, que contava o dia-a-dia de Diogo Melo, interpretado por Fernando Luís, um médico viúvo que tentava equilibrar a carreira e a vida familiar, ao mesmo que dava os primeiros passos para reencontrar o amor. Havia também os filhos Mariana (Sara Norte), Pedro (Francisco Garcia) e Catarina (Karina Queiroz), o pai José (Henrique Mendes), o amigo Júlio (Ricardo Carriço), a empregada Lucinda (Maria João Abreu), o sobrinho João (Rodrigo Saraiva), os sogros (São José Lapa e Filipe Ferrer) e a cunhada Teresa (Rita Blanco). Após muitas reviravoltas, Diogo e Teresa casaram-se no final da segunda temporada e a terceira e última temporada focou-se na nova dinâmica familiar, com a chegada de mais dois elementos da família e no novo trabalho de Diogo como médico de urgências. 
Uma trama cativante, um sagaz equilíbrio entre drama e comédia e um excelente desempenho de todo o elenco tornaram este série memorável.  




Tinha muita gente jovem a assistir. Tinha o José Figueiras a conduzir emissão e a cantar o tirolês. Tinha a assistente Paulina e a banda residente. Tinha espaço de debate com famosos, especialistas e gente comum. Tinha convidados musicais das bandas rock nacionais da altura a artistas de muito… estilo como o artista anteriormente conhecido como Jorge Rocha (e actualmente por Jorge Martinez). 




Nos seus livros de crónicas, Teresa Guilherme conta que havia muitas dúvidas por parte de muita gente da SIC à sua própria equipa de régie de que este programa, importado do Reino Unido, poderia vingar em Portugal. "Os portugueses são muito envergonhados e não vão alinhar nas brincadeiras mais ousadas", "Os portugueses não sabem guardar segredos e vão se descair a contar as surpresas visadas a alguns concorrentes", "Os portugueses não têm o mesmo sentido de humor dos britânicos e não vão achar graça a algumas piadas"... Mas no fim, viu-se que essas suposições sobre os tugas eram infundadas e que em certos aspectos os portugueses até foram piores...ou melhores! (Segundo a própria TG, uma hora de bar aberto para os concorrentes antes das filmagens ajudou a espantar muita inibição tuga.) 
No "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", todos os concorrentes estavam em estúdio e com malas aviadas para poderem ganhar uma viagem a um apetecível destino turístico (ou a uma localidade tuga caso falhassem no questionário final), mas antes disso havia muitos outros jogos e surpresas, nomeadamente o jogo em que o convidado musical e um fã seu competiam para ver quem mais sabia sobre o próprio artista. E claro está, para a história ficou aquele jogo de um leilão em que os concorrentes tinham de apostar uma peça de roupa para ganhar uma mala cheia de dinheiro que acabou com dois homens completamente nus e uma mulher em topless. 

Na Casa Do Toy (2002-03)



Quando Ozzy Osbourne e a sua família abriram as portas da sua casa para deixarem as câmaras da MTV seguirem as suas vidas, criou-se um novo conceito de reality show que depressa se estendeu a várias celebridades (e afins), um pouco por todo o mundo, sendo particularmente aperfeiçoado pelas Kardashians. Portugal não foi excepção e ainda em 2002, as câmaras de SIC estiveram a postos para seguir os passos de Ágata em "O Meu Nome É Ágata" e de Toy em "Na Casa Do Toy". E se o programa de Ágata rendeu os seus momentos, foi Toy quem percebeu o objectivo e deu para história momentos icônicos como conduzir com joelho ou fazer sopas de cavalo cansado. E até o tema do genérico acabou por se tornar tão mítico quanto os seus hits!  




Uma pedrada no charco num Portugal que sempre se regeu pelo "respeitinho" e as elites não primam pelo sentido de humor, "A Noite Da Má Língua" era um programa de comentário à actualidade sociopolítica no país e no mundo num tom mordaz e ácido. Como seria de espera, o programa gerou algum mal-estar junto da classe política e só muito gradualmente é que foram entrando no espírito da coisa.
Após a uma atribulada primeira temporada com várias mudanças no painel de comentadores, a partir da segunda temporada encontrou-se finalmente um equilíbrio a cinco vozes com a apresentadora Júlia Pinheiro conduzindo os debates com Miguel Esteves Cardoso, Manuel Serrão, Rui Zink e Rita Blanco. Havia também a rubrica semanal "Sic Transit Mundi Gloria" de Victor Moura Pinto. 




Cantemos: "Um abraço deste Ponto de Encontro, um abraço deste Ponto de Encontro!"
Numa altura em que não havia redes sociais, era bem mais fácil perder o contacto e o paradeiros dos nossos conhecidos. Daí que "Ponto De Encontro" fosse para alguns a última oportunidade dos portugueses reencontrarem um familiar ou amigo após vários anos ou até décadas de afastamento. Geralmente, esses reencontros eram bastante emotivos e regados a lágrimas. E a conduzir o programa estava Henrique Mendes, num estilo sério e sóbrio mas cheio de empatia. 
Com sete temporadas e mais de 200 emissões, dava ideia que andava metade de Portugal à procura da outra metade. E pensar que hoje em dia muitas vezes basta uma breve pesquisa na internet...   




Tido como um meio crucial para a divulgação dos desportos radicais no nosso país (surf, skateboard, BMX entre outros), "Portugal Radical" marcou a sua época pela sua linguagem e estética apelativa ao público mais jovem. E claro, o facto de ter apresentadoras como Rita Seguro, Raquel Prates, Maria Borges e Rita Mendes, que se despediam com um "Até lá, muah!" não prejudicava nada.
"Portugal Radical" passou por vários horários e chegou a ser diário, além de gerar um merchandising que incluiu uma revista, uma caderneta de cromos e duas compilações musicais. 




Uma das jogadas da SIC rumo à ultrapassagem da RTP foi a obtenção do monopólio dos produtos de ficção da Rede Globo (um dos sócios fundadores da SIC, fornecendo 15% do capital inicial), sobretudo as suas telenovelas, que tinham sido um dos pilar do horário nobre da RTP nos anos anteriores e que passaram a sê-lo na SIC. As telenovelas da Globo ainda são transmitidas na SIC e têm o seu público, mas longe da primazia dos anos 90.
Podia ter escolhido muitas telenovelas exibidas no horário nobre da SIC que deixaram grande marca: "Mulheres De Areia", "Terra Nostra", "Irmãos Coragem", "A Indomada", "Explode Coração"...
Mas "O Rei Do Gado" é daqueles novelões épicos como já não se fazem e com um elenco luxuosíssimo encabeçado por António Fagundes, Raúl Cortez, Glória Pires e Patrícia Pillar. Na primeira fase, compreendida nos primeiros sete capítulos e que se passava nos anos 40, seguíamos as violentas disputas das famílias de imigrantes italianos no Brasil, os Berdinazzi e Mezenga e o amor proibido entre Enrico Mezenga (Leonardo Brício)  e Giovanna Berdinazzi (Letícia Spiller). A segunda passava-se na actualidade onde a contenda entre as duas famílias continua agora com Bruno Mezenga (Fagundes), filho de Enrico e Giovanna, e o seu tio Geremias Berdinazzi (Cortez). Bruno Mezenga tornou-se um abastado fazendeiro e pecuarista, a quem chamam "o Rei do Gado" mas desiludido no seu casamento com Léia (Sílvia Pfeiffer) e distante dos seus filhos Marcos (Fábio Assunção) e Lia (Lavínia Vlasak), Bruno só encontra a felicidade quando se encanta pela bela e humilde Luana (Pillar), que acaba por ser a chave para muitos dos mistérios da trama. Enquanto isso, há também Rafaela (Pires), uma vigarista que pretende se imiscuir no seio das duas famílias.    

SIC Filmes (2000-02)


A par do infame DOT, a grande novidade que a SIC trouxe no ano 2000 foi a exibição de vários telefilmes produzidos pelo canal, à razão de um por mês, abrangendo vários géneros e envolvendo vários actores conhecidos. O mais lendário foi precisamente o primeiro, "Amo-te, Teresa", a história de um amor proibido entre uma mulher de 35 anos e um rapaz de 15 anos, protagonizado por Ana Padrão e Diogo Morgado, bem como Maria João Abreu no papel da mãe do jovem que na famosa cena em que descobre a ligação, profere a famosa frase: "P**a, a desencaminhar o meu filho!".
Mas outros filmes da iniciativa SIC filmes foram "Monsanto" com Vítor Norte no papel de um homem assolado pelos traumas da guerra colonial ("Porque é que não disseram que isto ficava para sempre?"); "Facas E Anjos" sobre um jovem que foge ao autoridade despótica do pai e descobre uma nova família no circo; "O Lampião Da Estrela", uma readaptação de "O Leão Da Estrela" com Herman José; "A Noiva" protagonizado por Catarina Furtado; "Aniversário" com uma cena em que Adelaide de Sousa se extasia com a gratificação oral que recebe ou "Um Passeio No Parque" e "Alta Fidelidade", escritos respectivamente por Margarida Rebelo Pinto e Rodrigo Guedes de Carvalho. Cada telefilme era promovido com poupa e circunstância, com trailers de encher o olho e um destacável na revista TV Mais. A SIC Filmes continuou a produzir mais telefilmes em 2001 e 2002, mas com o célebre virar da página no audiovisual português em finais do ano anterior, passaram despercebidos. 




Para os fanáticos dos videojogos dos anos 90, a SIC erigiu um local de culto na sua programação para as respectivas homilias: "O Templo Dos Jogos". Com a internet ainda por massificar por cá, era neste templo que se podia estar a par das mais recentes novidades do mundo dos videojogos, desde os grandes lançamentos de jogos aos avanços da tecnologia das consolas. Sem esquecer críticas aos jogos mais populares (para a história ficou a nota de 100% do Mario 64 para a Nintendo 64) e as dicas para aldrabar nos jogos. Conduzindo cada "cerimónia" do Templo dos Jogos estava um variado grupo de jovens apresentadores que incluiu João Maia Abreu, David Bernardo, Rita Mendes e Cristina Mohler. 

E eis-nos chegados ao fim da lista. Existe algum programa que acham que devia ser mencionado? Que outros programas da SIC permanecem na vossa memória afectiva? Contem tudo nos comentários e no Facebook da "Enciclopédia de Cromos". E uma vez mais, parabéns à SIC pelos 30 anos!   




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