quinta-feira, 17 de março de 2022

Homens Da Segurança (1988)

 

Depois da telenovela "Palavras Cruzadas", a produtora Atlântida decidiu que estava na altura de dar um passo em frente na ficção nacional e criar uma série de acção, inspirada por sucessos como "Miami Vice"; pelo menos dentro dos meios possíveis no Portugal dos anos 80, onde ainda tudo andava a uma velocidade bem menos vertiginosa. Felizmente, existia em Portugal um lugar que emanava um forte misticismo veraneante: Troia, com os seus aldeamentos turísticos, como os já extintos complexos da Torralta e do J. Pimenta, e o seu ponto de encontro entre o rio Sado e o Oceano Atlântico, era local de romaria de férias para muita gente vinda de todo país e até alguns estrangeiros, e parecia o sítio ideal para aí se inventar uma Miami portuguesa. 



E foi assim que surgiu a série "Homens Da Segurança", cujos 13 episódios foram exibidos na RTP1 entre Julho e Outubro de 1988 nas noites de sábado. Além de recuperarem os cargos de respectivamente produtor e realizador, tal como em "Palavras Cruzadas", Tozé Martinho e Nicolau Breyner protagonizavam a série no papel de dois agentes de uma empresa se segurança que formam uma dupla intrépida no combate ao crime em Troia e arredores. Foi também a estreia do autor Manuel Arouca em escrita para televisão.    


Carlos Jorge ou "Cajó" (Breyner) é um ex-agente da Polícia Judiciária, sem papas na língua e com pelo na venta. Filipe Sarmento (Martinho) é mais sofisticado e os seus jeitos de sedutor não são indiferentes ao sexo feminino. Os dois trabalham na mesma empresa mas não se conheciam e, claro está, a primeira impressão é uma antipatia mútua com os diferentes feitios, mas rapidamente descobrem que se complementam como dupla e acabam por ficar amigos. Os dois são contratados por Tomás Mendonça (Baptista Fernandes), dono de um hotel e ex-sogro de Filipe, para proteger os clientes de uma crescente onda de criminalidade, uma decisão que não agrada muito a Vítor Mesquita (Henrique Santana), o empertigado sub-director e relações públicas do hotel, que acha a ideia uma "americanice". Entre um e outro affair, Filipe vai-se encantando com Luísa (Manuela Marle), a funcionária do rent-a-car do hotel. 
Outros empregados do hotel são Catarina (Cristina Homem De Melo), a recepcionista; Irene (Noémia Costa), telefonista; Quim (Carlos Areia), barman; Cecília (Filipa Cabaço), empregada de quarto; e Toni (Ivan) um rapaz órfão que faz uns trabalhos de paquete no hotel. Geralmente no seu trabalho, Cajó e Filipe cruzam-se com o do inspector da PJ Humberto Fernandes (Morais e Castro) e do seu assistente Pais (Licínio França), com quem costumam ter vários desentendimentos.
De referir ainda que Mafalda Bessa, que em 2006 viria a casar-se com Nicolau Breyner, teve um pequeno papel na série como Paula, a outra funcionária do rent-a-car, creditada como Mafalda Amorim. Este foi também o último trabalho em televisão da actriz Filipa Cabaço, célebre pelo seu papel de Ana do Mar em "Chuva Na Areia", que viria depois a deixar a representação. 


A série teve algumas particularidades então ainda pouco vistas na ficção nacional como a participação de vários actores estrangeiros e de haver bastante diálogos da série em inglês. A série também teve participações especiais de nomes como o treinador de futebol Luís Norton de Matos e da sua então esposa Xana, que eram um casal socialite da altura, Luís Esparteiro, Cila do Carmo, António Feio, Carlos Quintas, Felipa Garnel, Tareka, Linda Silva, Rogério Paulo, Filomena Gonçalves, Rui Luís, Luís Aleluia, Rita Ribeiro e Ruy de Carvalho. Os filhos de Tozé Martinho, António e Rita Martinho, também entraram na série, inclusivamente com Rita no papel de Marta, filha de Filipe.

Houve dois episódios que quando eu vi na altura se destacaram para mim: um em que Filipe e Cajó acabam a proteger uma inglesa que fugiu com a filha do marido que as maltratava (sobretudo a cena em que ela mostra as costas da miúda cheias de nódoas negras) e outro em que Felipa Garnel é uma bandida portuguesa que se faz passar por americana para seduzir um empresário árabe, interpretado por Carlos Quintas. A página do Facebook do Brinca Brincando (a quem vai um enésimo agradecimento pelas imagens aqui utilizadas) tem um vídeo da cena em que a loura Cristina/Kim tenta matar o árabe após uns momentos de paixão, sendo detida com uma bala certeira de Filipe numa lancha!  



Apesar de acusar os sinais que é de um tempo em que os meios eram menos e tudo andava a uma velocidade bem menor, como o genérico de um minuto e meio e vários planos meio supérfluos de personagens a andarem por corredores e algo assim, a verdade é que "Homens De Segurança" ainda vê bem. Nicolau Breyner e Tozé Martinho tinham boa química como o Crockett e o Tubbs portugueses e era divertido vê-los a combater o crime por essa Troia fora, de corrida, de lancha ou conduzindo um bem português jipe UMM! 

A série está disponível para visualização na RTP Arquivos e alguns episódios estão no YouTube. 


terça-feira, 8 de março de 2022

Guerra Dos Sexos (1983-84)

Por entre as telenovelas brasileiras exibidas em Portugal que ainda não tinham entrada na Enciclopédia de Cromos, esta é sem dúvida daquelas que há mais tempo merecia um artigo. "Guerra Dos Sexos" era uma telenovela de autoria de Sílvio de Abreu exibida originalmente no Brasil entre Junho de 1983 e Janeiro de 1984. 


Em Portugal, foi a primeira telenovela a ser exibida na RTP 2 a partir de 23 de Abril de 1984 (embora o primeiro capítulo tenha sido exibido em antestreia a 9 de Março na RTP1), numa altura em que a telenovela "O Bem Amado" que, anunciada desde os tempos de "Gabriela", era finalmente exibida no horário nobre da RTP1. Não faltaram protestos do público por causa dessa decisão e a RTP até equacionou abrir as emissões da RTP1 mais cedo (que na altura abria apenas às 17 horas nos dias de semana) para exibir o capítulo do dia anterior, mas devido à crise financeira que o país atravessava na altura que levou, entre outros cortes na despesa pública, a encurtar as emissões da RTP, o governo negou essa hipótese. Em 1996, foi reposta na SIC à hora de almoço.



Tanto no Brasil como em Portugal, "Guerra Dos Sexos" fez grande sucesso ao utilizar elementos inovadores, como um humor bastante mais burlesco e quase nonsense e várias referências cinematográficas, por vezes até utilizando músicas de filmes conhecidos. 

Mas vamos à trama: na juventude, os primos Alcântara, Otávio (Paulo Autran) e Charlô (Fernanda Montenegro) foram apaixonados e, mal ou bem, essa paixão permaneceu ao ponto de ambos nunca terem casado, porém anos de discórdias e ressentimentos levaram a que se tornassem inimigos e nas suas picarias, tratam-se pelas alcunhas de Bimbo e Cumbuca. Após a morte do tio Enrico, os dois primos descobrem que são os herdeiros da sua fortuna, que inclui uma faustosa mansão em São Paulo e sobretudo, a cadeia de loja de roupas Charlô's, com sucursais em todas as grandes cidades brasileiras. No entanto o testamento refere que essa herança não deve ser negociada fora da família. Sem dinheiro para comprarem a parte do outro, Otávio e Charlô não têm outro remédio senão serem sócios e viverem juntos na mansão, e as brigas são ordem do dia, para desespero da empregada Olívia (Marilu Bueno). 

Analu, Felipe, Juliana, Charlô e Otávio

Além deles, na mansão também moram Felipe (Tarcísio Meira), o filho adoptivo de Charlô, e as suas duas filhas, Juliana (Maitê Proença) e Analu (Ângela Figueiredo). Machista inveterado e mulherengo incorrigível, Felipe toma partido de Otávio enquanto que Juliana se identifica com as ideias progressivas e feministas da avó. Outra aliada de Charlô é Vânia (Maria Zilda Bethlem), uma mulher independente e sensual a quem vários homens elogiam as suas belas pernas, que é o seu braço direito na gestão da Charlô's. O problema é que Vânia tem um caso secreto com Filipe. Também Juliana vive um romance proibido com o fotógrafo Fábio (Herson Capri), que é casado. 

Enquanto isso, Otávio comprou a fábrica Ravello Sport para garantir fornecimento exclusivo para as lojas Charlô's, só que o proprietário Vitório Leone (Carlos Zara) morre antes de lhe entregar os recibos que comprovam a aquisição e sem provas, a viúva Roberta (Glória Menezes) assume o comando da Ravello e torna-se mais uma aliada de Charlô. 
Para resolverem o impasse, Charlô e Otávio fazem uma aposta: as mulheres tomam conta da empresa por 100 dias e terão de conseguir aumentar os lucros em 10%. Se conseguirem, Charlô ficará com a totalidade da empresa e se falharem, terá de a entregar ao primo. Charlô e suas aliadas deitam mãos à obra, atentas às tentativas de sabotagem de Otávio e Felipe. Porém a sua maior ameaça está em quem menos esperam.

Roberta e Nando

Carolina (Lucélia Santos), a sobrinha de Roberta, parece ser uma jovem doce e inocente mas é um autêntico lobo em pele de cordeiro. Desdenhando a vida modesta com que cresceu no Bairro da Mooca junto dos seus pais, Nieta (Yara Amaral) e Dino (Ary Fontoura), não olha a meio para subir na vida. Para tal pretende aproximar-se Felipe e alia-se a ele para sabotar os planos das mulheres, a começar por expor o caso de Vânia e Felipe. Entretanto, apesar de não recusar os avanços de Carolina e da animosidade por Roberta, Felipe não consegue impedir de se sentir atraído por esta.   
Já Roberta dá por si a sentir uma forte atracção pelo Nando (Mário Gomes), o motorista dos Alcântara, um jovem humilde mas com notório atributos físicos, a quem encoraja a tornar-se modelo. Mas para além do obstáculo da diferença de idades, Nando também é disputado por Juliana e Analu. 

Carolina

Nando mora no bairro da Mooca em casa de Semíramis (Leina Krespi) que criou os seus três sobrinhos como filhos: Ulisses (José Mayer), Afrodite (Cristina Pereira) e Zenon (Edson Celulari). Este último mora no Rio de Janeiro e foi em tempos a grande paixão de Carolina que, despeitada, passou a namorar com o irmão. Ulisses sonha em tornar-se pugilista e vai viver um romance tempestuoso com Vânia, pois sempre que os dois se encontram, a atracção mútua é incontrolável. Por seu turno e embora pouco deva à beleza, Afrodite, que trabalha na cafetaria da Charlô's, acredita fazer jus ao nome da deusa grega e que vários homens estão de olho nela. 

Vânia e Ulisses


Entretanto, além de Carolina, surge outra aliada para Otávio e Felipe: Veruska (Sónia Clara), ex-secretária e amante de Vitório Leone. A aposta fica comprometida para o lado das mulheres quando Felipe, com o auxílio de Carolina e Veruska, consegue sabotar um importante desfile da Ravello promovido por Charlô e Roberta. 

É então que surge Dominguinhos, um suposto primo português cara-chapada de Otávio (que entretanto desapareceu), que se declara apaixonado por Charlô. No entanto, esta não lhe dá trela, desconfiada que seja mais um plano de Otávio. 

Por fim Roberta, ao descobrir o negócio de Otávio e Vitório que foi feito sem seu conhecimento, consegue recuperar a fábrica e quando a sabotagem é provada, Charlô ganha a aposta. Roberta termina feliz ao lado de Nando, que se tinha casado com Juliana mas os dois acabaram por concluir que apesar de apaixonados não são compatíveis como casal. Carolina, desprezada por todos e remetida a vender bolinhos de coco tal como a sua mãe, é surpreendida pela declaração de Felipe. Analu entende-se com Kico (Diogo Vilela), o filho geek de Roberta, a quem abandonara no altar no início da telenovela. Por seu turno, Vânia, perante a insistência de Ulisses em se casarem, conclui que valoriza mais a sua independência e parte com Juliana num cruzeiro onde rapidamente atraem várias atenções masculinas. Dispensado por Vânia, Ulisses singra no boxe e dá uma oportunidade a Lucilene (Helena Ramos), uma eterna apaixonada sua. 
Quando, derrotado, Otávio prepara-se para deixar a mansão, Charlô pede que não vá e declara-se apaixonada por ele. Os dois casam-se e quando regressam de lua-de-mel, deparam-se com mais dois herdeiros vindo de Portugal: o já conhecido Dominguinhos e a sua prima e esposa Altamiranda, sendo esta a fotocópia de Charlô.   

Esta foi a primeira telenovela que me recordo ver na televisão, e há uma cena em particular que eu me lembro bem: Roberta e Nando vão a um salão de bowling e encontram lá Felipe e Carolina. Provocação puxa provocação, os quatro acabam à pega, culminando com Nando a pegar em Carolina, que dá por si a deslizar até aos pinos. 


Tal como no Brasil, "Guerra Dos Sexos" fez grande sucesso em Portugal, e vários actores que viram a Portugal durante a exibição da RTP puderam comprovar isso, como foi o caso de Tarcísio Meira, Glória Menezes, Maitê Proença, Maria Zilda, Leina Krespi e Mário Gomes. A banda sonora da telenovela também fez sucesso, com destaque para o tema do genérico interpretado pelos Fevers e dois temas que ilustravam cenas de Juliana, "Hold Me Till The Morning Comes" de Paul Anka e Peter Cetera e "Straight From The Heart" de Bryan Adams.  

Capa do álbum da banda sonora


Quando "Sassaricando", também da autoria de Sílvio de Abreu e com vários actores das duas novelas, estreou no nosso país em 1988, a RTP promoveu a telenovela como sendo "da mesma equipa da "Guerra Dos Sexos". 



Em 2012, surgiu um remake de "Guerra Dos Sexos", com muitos nomes conhecidos e o português Paulo Rocha no papel de Fábio. Irene Ravache, a Charlô do remake, tinha tido uma participação especial na versão original como uma das cinco ex-mulheres de Felipe, Edson Celulari, o Zenon da versão original, foi Felipe e Marilu Bueno recuperou o papel de Olívia.

Genérico:



sexta-feira, 4 de março de 2022

10 Anos de Enciclopédia de Cromos

 


Parece incrível mas foi há precisamente dez anos, no dia 4 de Março de 2012, que a primeira página desta Enciclopédia de Cromos foi escrita. Inspirado pelas saborosas ondas de nostalgia que a "Caderneta de Cromos" da Rádio Comercial desencadeou no país inteiro, o David Martins iniciou este blogue que pretendia expandir essas memórias e outras memórias das três últimas décadas do século XX, que preencheram a vida daqueles que nasceram e cresceram nelas. 
Eu próprio também tive a mesma ideia e até rascunhei alguns textos, mas por um motivo ou outro, acabei por nunca criar um blogue. Porém, descobri este e decidi enviar alguns textos por e-mail ao David, que mais tarde deu-me acesso a escrever directamente no blogue. E foi o início de uma parceria e, apesar de nunca nos termos encontrado pessoalmente, de uma grande amizade. 
Mais do que um simples compêndio de informação sobre filmes, músicas e outros elementos da cultura pop dos anos 70, 80 e 90 (e depois também dos anos 2000), para nós e para todos aqueles que também colaboraram no blogue, nomeadamente o Paulo Gomes, foi uma maneira de contar as nossas memórias do que foi ter sido criança, adolescente e jovem adulto nesses tempos, ainda para mais tendo ambos crescido em meios mais pequenos, especialmente em comparação à Lisboa do cromos do Nuno Markl.

Ao longo destes dez anos, tem sido uma experiência gratificante ajudar a ampliar esta Enciclopédia e sempre que penso que gastei todos os temas a serem abordados, acaba por surgir outro que ainda não me tinha ocorrido. E ainda mais gratificante é sentir o apoio de todos aqueles que leem o blogue e que nos seguem na página do Facebook, ler os relatos daqueles que nos agradeceram por nos fazerem relembrar boas recordações dos seus tempos mais jovens e os elogios ao trabalho desenvolvido, nomeadamente por parte do Nuno Markl, que durante o breve reboot da "Caderneta de Cromos" por ocasião dos 10 anos da rubrica original, citou várias vezes a "Enciclopédia de Cromos" como uma das suas fontes. 

Esperamos poder continuar convosco, leitores e seguidores da Enciclopédia de Cromos, para os anos que se seguem. Muito obrigado por estarem desse lado!

Paulo Neto

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