Segundo reza a lenda, foi João Allain, o guitarrista da Go Graal Blues Band, que teve a ideia para o célebre stagename do cantor nascido em Lisboa a 1 de Novembro de 1956 sob o nome de Alberto Ferreira Paulo. Como o seu colega vocalista da banda adorava o Gonzo dos "Marretas" (e porventura pressentindo que o apelido Paulo seria mais musical que o primeiro nome Alberto), inscreveu-o para o primeiro concerto do Coliseu sob o nome de Paulo Gonzo. Consta que o dito a princípio não gostou muito da brincadeira mas cedo mudou de ideias e é por esse nome que todos conhecem o nosso maior crooner nacional.
Após mais de dez anos de actividade, a Go Graal Blues Band queimava os últimos cartuchos quando Paulo Gonzo decidiu aventurar-se a solo em 1986 com o álbum "My Desire", totalmente em inglês numa era em que tal era raro. Além dele, apenas Teresa Maiuko alcançou notoriedade nos anos 80 cantando na língua de Shakespeare. O disco de estreia foi marcado pelo hit "So Do I", mostrando que a voz de Paulo Gonzo era feita à medida para interpretar baladas. Em 1987, editou uma versão de "Stay", o tema principal da série "Cinderela 80".
Em 1992 fez a transição de cantar em português com o álbum "Pedras Da Calçada". Inicialmente a faixa-título e o single "Caprichos Da Lua" tiveram maior destaque mas nos anos seguintes, seria outro tema desse álbum que lentamente tornar-se-ia a canção-assinatura de Paulo Gonzo e que o catapultaria para um sucesso estrato-esférico. Uma certa canção onde ele cantava o seu desejo de fazer parte da intimidade física e espiritual da mulher amada. O seu título, "Jardins Proibidos".
A primeira vez que ouvi "Jardins Proibidos" foi em 1994 no concurso "Com A Verdade M'Enganas" de Herman José, que sucedeu à "Roda Da Sorte". A minha prova preferida do concurso era aquela onde um convidado musical cantava uma das suas canções com alterações à letra feitas pelo próprio Herman, tendo os concorrentes de descobrir qual a palavra errada e corrigir esse erro. Como essas letras alternativas feitas pelo Herman eram (obviamente) bastante cómicas, era frequente os cantores convidados desmancharem-se a rir quando tinham de cantá-las. Paulo Gonzo não foi excepção, pois recordo-me que ele largou uma risada ao cantar "rasga-se o Abreu e lá vou eu p'ra me perder". Também me recordo que um dos concorrentes acertou em todos os erros da canção, afirmando que aquela era a sua canção preferida.
A partir dessa altura, comecei a ouvir mais vezes "Jardins Proibidos" na rádio, e nem mesmo com o lançamento de um novo álbum de Paulo Gonzo em 1995, "Fora d'Horas" (que incluía temas como "Acordar", escrito por Pedro Abrunhosa e ainda hoje a única canção a mencionar Guronsan na letra, e "Leve Beijo Triste"), perdeu força.
E o tema continuou a ser uma escolha para vários programas de cantigas. Por exemplo, era uma das canções obrigatórias em quase todos os programas do "Cantigas Da Rua", e no programa da RTP "Selecção Nacional", através do qual foram seleccionados os cantores para o Festival da Canção de 1995, "Jardins Proibidos" foi a escolha do concorrente Ed Sant'Ana.
E como é óbvio, "Jardins Proibidos" tornou-se também daquelas canções inevitáveis nas várias noites de karaoke por esse país fora, havendo sempre quem quisesse perder a sua voz nesses recantos.
Por fim em 1997, chegou a consagração definitiva de Paulo Gonzo com o álbum "Quase Tudo", uma espécie de best of, contendo temas dos álbuns "Pedras Da Calçada" e "Fora d'Horas" mais dois temas inéditos e uma regravação de "Jardins Proibidos" em dueto com Olavo Bilac.
Desde então, a versão de 1997 tornou-se a versão definitiva de "Jardins Proibidos" e a de 1992 tem sido como que varrida debaixo do tapete. Basta dizer que demorei imenso tempo a encontrar a versão de 1992 no YouTube. (Eu tive-a numa cassete da colectânea "Romantic Rock"). O que é pena pois é esta versão que eu prefiro. A versão de 1997 pode ser mais tecnicamente mais bem produzida e vocalmente melhor executada mas acho que perdeu a da intensidade da versão original, onde Paulo Gonzo canta o refrão quase em falsete mas com mais emoção. E embora as vozes de Gonzo e Bilac conjuguem muito bem, acho que um dueto desta canção é um pouco estranho, como se os dois quisessem a mesma mulher e não se importassem de a partilhar. Até gosto mais do solo de saxofone da versão original.
Seja como for, graças ao sucesso de "Jardins Proibidos 97" e o inédito "Dei-Te Quase Tudo", o álbum "Quase Tudo" foi um arrasador campeão de vendas, chegando aos seis discos de platina (quando cada um equivalia ao dobro das vendas de um disco platinado actual), algo impressionante mesmo durante aquele que foi o período mais áureo das vendas discográficas em Portugal, e cimentando o estatuto de super-estrela nacional de Paulo Gonzo. "Jardins Proibidos 97" foi também escolhida para representar Portugal numa colectânea da Sony Music lançada em 1999 com música de artistas de todo o mundo associados a essa editora.
Em 2000, a telenovela da TVI "Jardins Proibidos" cimentou de vez a canção no seu lugar de honra na baladaria nacional. Desde então e após os irrepetíveis píncaros de 1997, a carreira de Paulo Gonzo continua bastante bem-sucedida. Actualmente ele pode ser ouvido a cantar com Raquel Tavares o tema de abertura da telenovela "Amor Maior" e tem novo álbum, "Diz-Me".
Filmes que eu vi na "Sessão da Noite", o espaço de cinema da RTP1 das noites de sexta-feira do início dos anos 90 - capítulo 283. "Splash - A Sereia" teve a particularidade de ser o primeiro filme produzido pela Touchstone, a chancela da Walt Disney para filmes de conteúdo mais adulto ou pelo menos não tão infantil quanto isso. O filme de 1984 foi realizado por Ron Howard e protagonizado por Tom Hanks e Daryl Hannah. Este era apenas o segundo filme de Hanks, que até então tinha trabalhado sobretudo em teatro e televisão, ao passo que Hannah já tinha sido notada em filmes como "Blade Runner" e "Amantes de Verão" e nesse mesmo ano, fora vista em "Reckless - Jovens Sem Rumo" e "Iniciação Ao Crime". Trata-se de uma comédia romântico-fantástica, livremente inspirada pelo famoso conto de "A Pequena Sereia".
Em 1964, ao viajar num barco em Cape Cod com a família, o pequeno Allen Bauer fica fascinado por algo que vê na água, acabando por cair ao mar. Sem saber nadar, ele é salvo por uma misteriosa menina que respira debaixo de água (que na verdade é uma sereia) e uma ligação imediata é estabelecida entre os dois até que Allen é recolhido por um dos marinheiros do barco.
Anos mais tarde, Allen (Hanks) gere um negócio de comércio grossista de frutas e legumes com o seu irmão Freddie (John Candy). Apesar de dizer que o seu encontro de infância como uma sereia foi uma alucinação de quase morte, nunca esqueceu a ligação que teve com ela, o que tem prejudicado a sua vida amorosa. Para combater um período depressivo, Allen regressa a Cape Cod onde conhece o excêntrico cientista Walter Kornbluth (Eugene Levy) que procura estranhas criaturas marítimas. Após um acidente de barco, ele encontra na praia onde naufragou uma bela mulher completamente nua (Hannah) que lhe beija antes de entrar no mar. Essa mulher é a sereia que ele conheceu na infância.
Ao achar a carteira de Allen, a sereia decide procurá-lo em Nova Iorque, acabando por ser presa quando aparece toda nua junto à Estátua da Liberdade. Allen é contactado pela polícia e acaba por ficar a cargo da sereia. Esta acaba por aprender a falar inglês através da televisão e revela que pode ficar em Nova Iorque seis dias. Ao ver um letreiro da Avenida Madison, decide adoptar Madison como seu nome. (Uma das minhas cenas preferidas é quando ela tenta dizer o seu nome de sereia e emite uns ruídos tão agudos que partem tudo o que é televisão em volta.) Apesar de alguns comportamentos bizarros dela, os dois apaixonam-se.
Entretanto, o Dr. Kornbluth, que vira Madison na sua forma de sereia e percebeu que ela era a mulher que surgiu nua junto à Estátua da Liberdade, persegue o casal, tentando encharcá-la com água para provar a existência de sereias. Após várias e hilariantes tentativas falhadas, finalmente consegue-o durante um jantar de cerimónia em que Allen e Madison estão presentes. Ela é capturada por agentes federais, liderados pelo Dr. Ross (Richard B. Shull), o rival de Kornbluth.
Apesar de chocado com o segredo de Madison, Allen percebe que ainda a ama e decide salvá-la de ser dissecada, com a ajuda de Freddie e de um arrependido Kornbluth, que só queria provar que não estava louco. Allen e Madison são perseguidos pelo exército americano até que ele decide deixar a terra e viver para sempre junto da sua amada sereia no mar.
"Splash - A Sereia" foi um dos sucessos cinematográficos de 1984. Recebeu ainda nomeações para o Óscar de Melhor Argumento e para o Globo de Ouro para Melhor Filme de Comédia/Musical, com Daryl Hannah a ganhar o prémio Saturn para Melhor Actriz. Ajudou também a estabelecer o potencial de Tom Hanks como estrela de cinema e de Ron Howard como realizador de primeira linha. E claro, será difícil imaginar uma sereia cinematográfica mais bela do que uma Daryl Hannah no auge da sua beleza (que aos 56 anos, ainda está bem preservada), isto apesar do papel ter sido recusado por nomes como Sharon Stone, Kathleen Turner, Michelle Pfeiffer ou Diane Lane. Ao que parece, a cauda de sereia que Hannah usou no filme era totalmente funcional e a actriz conseguia nadar perfeitamente com ela.
O filme deixou ainda um legado inesperado, ao popularizar Madison como nome feminino nos Estados Unidos. Embora no filme a personagem de Tom Hanks diga à de Daryl Hannah que Madison não é um nome a sério, o certo é que nos anos após a estreia do filme nos cinemas e mais tarde na edição em vídeo, a popularidade do nome Madison subiu em flecha até ser o segundo nome mais popular para raparigas nascidas nos Estados Unidos em 2001 e 2002. Em 2015, ainda era o 11.º nome mais popular nos Estados Unidos, com 10038 recém-nascidas a receber esse nome.
Em 2016, o produtor Brian Grazer revelou que está a trabalhar num remake do filme, mas desta vez o par romântico será uma mulher humana e um homem sereia. Channing Tatum terá sido apontado para o protagonista masculino.
Anúncio ao "Magnífico Concurso Gresso Flintstones" Leite com Chocolate (1991).
"Os Flintstones" personagens cujo êxito atravessam décadas são os protagonistas deste concurso Gresso. O grande apelo era o prémio principal: uma viagem à Disneyworld, em Orlando, visto que ainda não tinha sido aberta a Disneyland Paris, bem mais perto de nós.
A lista dos outros prémios incluíam produtos bem "apetitosos": aparelhagem Hifi Pioneer S555, computador Commodore Amiga 500(um computador pessoal "barato" que em 1991 já tinha 4 anos desde o lançamento e sucedido pelo modelo Amiga 500+), leitor de Compact Disc Philips-CD-380, bicicletas BMX 20, malas escolares Gresso e bonecos Flintstones. Nota: visto que o leitor de CDs da Philips surge repetido na lista de prémios, imagino que o 5º prémio fosse na realidade um Walkman Philips, referido nos outros 3 sorteios. Recordo-me de ver as embalagens de leite com chocolate Gresso com os Flintstones mas não sei se concorri ou não...
Imagem Digitalizada da revista "Detective Mickey" Nº 23 (24/09/1991) e Editada por Enciclopédia de Cromos.
Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".
O slogan "O que é Nacional, é bom!" está marcado no cérebro dos portugueses, mas está ausente deste reclame a um grupo de vários clássicos produtos alimentares da marca Nacional: Cream Crackers, bolacha Aveia e bolachas Wafers. O slogan é: "é delas que eu gosto mais".
A estrela do anúncio em estilo banda desenhada é uma formiga - ou um formigo - que em vez de carregar migalhas para o formigueiro carrega logo as embalagens completas para junto de uma formiga que parece confusa.
Em detalhe as embalagens da época das Cream Crackers, Aveia e Wafers:
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No início deste ano, algures no meu feed do Facebook, deparei-me com um vídeo que compilava várias canções do ano de 1997. Foi com nostalgia e espanto que recordei esse desfile de canções, nostalgia porque eram canções que me traziam memórias bem presentes da altura e de espanto ao perceber-me que canções como "Barbie Girl", "Tubthumping" ou "Hmm Bop" já tinham vinte anos! E mais ainda, já passaram mais anos desde então do que aqueles que eu tinha na altura!
No mês passado, tive a oportunidade de visitar de novo a cidade do Porto a onde eu já não ia precisamente desde o ano de 1997, durante uma excursão de quatro dias ao Norte do país em que participaram algumas turmas do 11.º ano da minha escola, nomeadamente a minha. E esse regresso à Cidade Invicta fez-me uma vez mais reflectir sobre outras memórias do ano de 1997, e fui desenterrando várias memórias, algumas pessoais, outras colectivas e muitas vezes dei por mim estarrecido ao perceber que algumas dessas memórias que eu tinha como relativamente recentes já são longínquas. Graças a esse exercício de arqueologia mental que decidi escrever um texto reunindo vinte coisas de há vinte anos, numa viagem ao antepenúltimo ano da última década do século XX.
1. 1997 foi o 2016 dos anos 90, em termos de mortes de celebridades.
Entre as várias tribulações do ano passado, uma das mais célebres foi a invulgar quantidade de óbitos de várias celebridades e personalidades notáveis, quer a nível mundial, quer nacional. E se houve ano durante a década de 90 que se pode comparar a 2016 nesse termos, foi sem dúvida 1997 onde várias celebridades deixaram este mundo, algumas de forma trágica.
Basta pensar que o acontecimento desse ano que mais abalou o mundo foi a morte da Princesa Dianade Gales, na madrugada de 31 de Agosto num acidente de automóvel que vitimou o seu então namorado Dodi Fayed. Falecia assim aos 36 anos (já vivi mais tempo que ela!) aquela que foi denominada a Princesa do Povo. Uma multidão como se raramente tinha visto até em Londres acorreu para se despedir de Diana, o mundo inteiro parou para assistir ao seu funeral na televisão e a nova versão de "Candle In The Wind" que Elton John interpretou durante a cerimónia tornou-se o single mais vendido de sempre.
Mas outras celebridades deixaram-nos em 1997: a Madre Teresa de Calcutá, Prémio Nobel da Paz em 1979, faleceu poucos dias depois da Princesa Diana; o estilista Gianni Versace foi assassinado à porta da sua casa em Miami; o rapper Notorious B.I.G. também foi assassinado a tiro; Michael Hutchence, o líder dos INXS, suicidou-se num hotel em Sydney e o cantor John Denver perdeu a vida num acidente de avião.
Também falecidos em 1997: as estrelas de Hollywood Robert Mitchum e James Stewart; o extravagante presidente do Zaire (actual República Democrática do Congo) Mobutu Sese Seko e o antigo líder da República Popular da China Deng Xiaoping; o poeta beatnikAllen Ginsberg, o músico Jeff Buckley, o explorador Jacques Cousteau e a francesa Jeanne Calment que aos 122 anos era o ser humano que se sabia ter comprovodamente vivido mais tempo. Em Portugal, destaque para o falecimento do poeta Al Berto.
R.I.P 1997: Madre Teresa de Calcutá, Gianni Versace, Notorious BIG, Michael Hutchence
2. Foi o ano em que nasceram várias celebridades actuais.
Em contrapartida, 1997 foi o ano em que nasceram algumas das mais jovens celebridades actuais que completaram ou completarão duas décadas de vida ao longo deste ano. Da actual diva da ginástica Simone Biles ao novo talento do futebol português Renato Sanches, da cantora sueca Zara Larsson à argentina Martina Stoessel (a eterna Violetta), da jovem estrela de Hollywood Chloe Grace Moretz ao ídolo teenager australiano Cody Simpson, da Infanta Maria Francisca, filha dos Duques de Bragança, à multi-campeã olímpica da natação Katie Ledecky, de Maisie Williams, a Arya de "Game Of Thrones", ao DJ e produtor anglo-norueguês Alan Walker, autor dos hits "Faded" e "Sing Me To Sleep", da estrela de reality showsKylie Jenner ao rapper Desiigner. Uff...Para terminar em beleza, também nascida em 1997 é a activista paquistanesa Malala Yousafzai, a mais jovem galardoada de sempre com o Prémio Nobel da Paz.
Geração de 1997: Simone Biles, Renato Sanches, Martina Stoessel, Malala Yosufzai
3. Pedro Santana Lopes foi eleito presidente da Câmara da Figueira da Foz
A política nacional foi marcada em 1997 pelas eleições autárquicas, que se realizaram a 14 de Dezembro. O resultado mais mediático foi sem dúvida a vitória de Pedro Santana Lopes à Câmara da Figueira da Foz pelo PSD, terminando assim vários anos de vigência socialista nessa autarquia. Foi a única grande mudança de poder nestas eleições, que primaram pela continuação de vários autarcas na liderança dos respectivos concelhos, incluindo quatro autarcas que ver-se-iam mediatizados por problemas com a lei em anos vindouros: Valentim Loureiro (Gondomar), Fátima Felgueiras (Felgueiras), Isaltino Morais (Oeiras) e Avelino Ferreira Torres (Marco de Canaveses). João Soares que assumiu a presidência da Câmara de Lisboa após a eleição de Jorge Sampaio como Presidente da República em 1996 foi eleito para um novo mandato, tendo perdido a eleição para um terceiro mandato em 2001 para...Pedro Santana Lopes.
4. O Massacre do Meia Culpa em Amarante
Foi a 16 de Abril de 1997 que ocorreu um dos crimes mais violentos no nosso país. Três homens armados e encapuzados invadiram a boîte Meia Culpa em Amarante, regando o local com gasolina e abrindo fogo no estabelecimento, mantendo clientes e funcionários encostados à parede sob a ameaça de armas. Treze pessoas morreram no meio do pânico causado pelo incêndio.
A investigação da Polícia Judiciária apuraria que o mandante do crime foi José Queirós, proprietário de um estabelecimento rival, o Diamante Negro. José Queirós e os três autores materiais do crime foram condenados à pena máxima da lei portuguesa de 25 anos.
5. A agressão de Sá Pinto a Artur Jorge
Na manhã de 26 de Março de 1997, a selecção nacional reuniu-se no Jamor para preparar o jogo de qualificação para o Mundial de 1998 contra a Irlanda do Norte, que se realizaria três dias depois em Belfast. Quando se dirigia para o centro de estágio, o seleccionador Artur Jorge foi surpreendido com a chegada de Ricardo Sá Pinto que se dirigiu a ele para lhe agredir com murros, bem como aos que o acompanhavam, alegadamente por não ter sido convocado para esse jogo. Sá Pinto seria punido com uma suspensão de um ano sem jogar, sendo transferido nesse ano do Sporting para a Real Sociedad.
O jogo contra a Irlanda do Norte terminaria empatado a zero.
6. A culpa foi do Batta
Porém o momento mais trágico para Portugal na fase de qualificação para o Mundial de 1998 aconteceu no dia 6 de Setembro de 1997 durante o jogo com a Alemanha no Estádio Olímpico de Berlim. A selecção nacional teve um mau início de campanha, com um embaraçoso empate a zero com a modesta Arménia e um derrota contra a Ucrânia em Kiev, pelo que cedo Portugal teve de correr atrás do prejuízo. As coisas até corriam bem e o apuramento, pelo menos para os play-offs, era bem possível quando a Selecção se apresentou em Berlim para o penúltimo jogo. E em terras alemãs, a Selecção teve uma muito boa exibição que culminou com um golo de Pedro Barbosa ao 70 minutos, levando a acreditar que estaríamos perante um reedição do jogo de 1985 onde Portugal bateu a Alemanha em Munique, garantindo um apuramento para o Mundial de 1986.
Só que ao minuto 74, o incrível aconteceu: o árbitro francês Marc Batta mostrou um segundo cartão amarelo (e consequente cartão vermelho) a Rui Costa, por alegadamente este demorar demasiado tempo a sair do terreno de jogo para ser substituído. O incidente desestabilizou a selecção nacional e a Alemanha aproveitou para empatar. Como tal, Portugal ficou virtualmente afastado do Mundial (não só era preciso ganhar no último jogo frente à Irlanda do Norte - que aconteceu- como haver uma vitória da Arménia sobre a Ucrânia que não se realizou). A Alemanha passou directamente e a Ucrânia apurou-se para os play-offs onde foi derrotada pela Croácia.
Ainda hoje são muitos que acreditam que não se justificava de todo tal punição a Rui Costa, como quem especule mesmo que Batta agiu deliberadamente para prejudicar Portugal e/ou favorecer a Alemanha. E para sempre ficou a imagem de Rui Costa em lágrimas.
7. Mário Jardel foi pela primeira vez melhor marcador nacional
Foi na época 1996/97 que Mário Jardel Almeida Ribeiro chegou ao futebol português, saído do Grémio de Porto Alegre para o FC Porto onde cedo deu largas ao seu talento como ponta de lança. A veia goleadora do brasileiro contribuiu amplamente para um terceiro título consecutivo do FC Porto nesse ano, o primeiro tri dos dragões que nos anos seguintes transformar-se-ia em penta.
Foi a primeira de quatro vezes consecutivas que Jardel foi o melhor marcador do campeonato nacional ao serviço do FC Porto, tendo conseguido uma quinta pelo Sporting, até a sua carreira ir pelo cano abaixo e desde então ter sido notícia por motivos fora do futebol.
8. Uma atleta fez topless involuntário nos Mundiais de Atletismo
Os Campeonatos Mundiais de Atletismo de 1997 disputaram-se em Atenas, de onde Portugal saiu com quatro medalhas: ouro para Carla Sacramento nos 1500m, prata para Manuela Machado na maratona enquanto a campeã olímpica Fernanda Ribeiro arrecadou a prata nos 10000m e o bronze nos 5000m.
Foi precisamente numa das corridas das eliminatórias dos 5000m femininos que um curioso incidente ocorreu: a atleta da Eritreia Nebiat Habtemariam, que terminou essa corrida no antepenúltimo lugar, correu toda a prova com uma T-shirt demasiado larga, emprestada de um colega de equipa, e...sem soutien, o que resultou que um dos seus seios ficasse perfeitamente exposto enquanto ela corria.
As câmaras de televisão presentes no estádio aperceberam-se disso e a certa altura tanto focavam na frente da corrida como no topless involuntário de Nebiat, então com 18 anos. Ao que parece, a atleta, compreensivelmente envergonhada, não mais saiu do seu quarto de hotel em Atenas até partir de novo para o seu país.
Nos anos seguintes, Nebiat Habtemariam tornou-se uma das principais corredoras de fundo e meio-fundo do seu país, tendo competido em três Jogos Olímpicos e cinco Mundiais de Atletismo, o último dos quais em 2015, onde correu a maratona. Em 2012, foi terceira na maratona de Milão.
9. Lisboa organizou um evento olímpico
As Jornadas Olímpicas da Juventude Europeia são uma competição multi-desportiva para jovens atletas europeus entre os 13 e os 18 anos, sendo aliás a primeira competição multi-desportiva pan-europeia. Criada pelo futuro presidente do Comité Olímpico Internacional Jacques Rogge sob a égide da Associação Europeia de Comités Olímpicos, a primeira edição do evento teve lugar em 1991 em Bruxelas, que desde então passou-se a realizar de dois em dois anos (uma competição equivalente de desportos de Inverno foi também instaurada a partir de 1993).
Jornadas Olímpicas da Juventude Europeia 1997 em Lisboa (Fotos do Arquivo do Comité Olímpico de Portugal)
Lisboa recebeu a quarta edição das JOJE de Verão entre 18 e 24 de Julho de 1997. 2500 jovens atletas (muitos dos quais já marcariam presença nos próximos Jogos Olímpicos em 2000) de 47 países europeus competiram em dez modalidades: atletismo, natação, ginástica, ciclismo, judo, vela, futebol, basquetebol, andebol e voleibol. O Estádio Universitário, as piscinas do Restelo, o parque de Monsanto, a antiga FIL, o Pavilhão Desportivo da Ajuda e as docas de Belém foram os palcos das diferentes provas. Eu recordo-me de ter visto a cerimónia de abertura transmitida na RTP em directo do Estádio Universitário, onde Rosa Mota transportou uma tocha e Luís Represas foi o convidado musical. Portugal obteve três medalhas, uma de prata no atletismo (Filipe Pedro nos 3000m) e duas de bronze, no futebol e no andebol (ambos em masculinos).
Infelizmente, apesar de serem o mais parecido com que já tivemos com ter uns Jogos Olímpicos no nosso país, as JOJE 1997 passaram largamente despercebidas e eu encontrei muito pouca informação na internet sobre o evento.
A partir de 2001, o evento passou a chamar-se Festival Olímpico da Juventude Europeia. Alguns dos nossos maiores atletas como os medalhados olímpicos Nelson Évora e Fernando Pimenta e até Cristiano Ronaldo himself passaram pelo FOJE. A edição de 2017 terá lugar em Gyor, na Hungria.
10. Hillary Clinton ganhou um Grammy
Sim, a então primeira dama dos Estados Unidos e mais tarde a primeira mulher candidata à Casa Branca foi uma das vencedoras da cerimónia dos Grammys de 1997. Mas não, Hillary Clinton não se meteu em cantigas, pois ganhou o galardão para Melhor Disco Falado ou Não Musical, devido à sua narração da versão audio do seu livro "It Takes A Village: And Other Lessons That Children Teach Us".
11. A idade somada dos Hanson era de 41 anos
No início deste texto referi "Hmm Bop" como uma das músicas do ano de 1997. Quem não se lembra deste alegre e solarengo tema interpretado pelos três irmãos Hanson, todos eles de longa melena loura? Mas na altura o que mais impressionou foi que quando "Hmm Bop" ascendeu ao primeiro lugar dos tops dos Estados Unidos e do Reino Unido em Maio de 1997, a soma das idades dos três irmãos era tão somente de 41 anos: Isaac tinha 16 anos (faria 17 em Outubro), Taylor 14 anos e o pequeno às da bateria Zachary virou um ídolo pop antes de chegar ao seu 12.º aniversário. E os três eram apenas os mais velhos de uma numerosa família, com mais um irmão e três irmãs, uma delas nascida em 1997.
No seguimento do sucesso de "Hmm Bop", outros singles do álbum "Middle Of Nowhere" também tiveram algum êxito como "Where's The Love" e "I Will Come To You". Mesmo sem nunca mais repetirem o estrondoso êxito que obtiveram quando muito jovenzinhos, os três manos nunca deixaram de editar discos e dar concertos por todo o mundo, e ainda hoje o fazem, já trintões. E fazendo jus à tradição reprodutiva da família: Isaac tem três filhos, Zack quatro e Taylor cinco.
Os Hanson em 2016
12. Portugal foi corrido a zeros no Festival da Eurovisão
Pela terceira vez em quatro anos, o Festival da Eurovisão teve lugar em Dublin, fruto de (mais) uma vitória da Irlanda no ano anterior. Portugal até vinha tendo bons resultados na década de 90, mas em 1997, obteve um do seus piores. Embora fosse opinião geral de que não se justificava tamanho descalabro, o certo é que a interpretação de "Antes Do Adeus" por parte de Célia Lawson (acompanhada no coro por quatro cantores que mais pareciam Agentes da "Matrix") não convenceu a Europa e não recebeu um pontinho para a amostra, algo que só tinha acontecido antes na nossa primeira participação em 1964. Esta foi também a última das quatro letras que Rosa Lobato Faria escreveu para participações eurovisivas de Portugal. Se em 1992, escreveu uma apetitosa salada de frutas para Dina, em "Antes Do Adeus", o destaque em "Antes Do Adeus" foram as referências a Pedro Abrunhosa e José Saramago.
Restou o consolo de que não fomos o único país com tal infortúnio já que a Noruega também ficou a zero e que, apesar disso, Portugal manteve um coeficiente suficiente para poder participar no ano seguinte. No pólo oposto ficou o Reino Unido, que obteve uma concludente vitória, a quinta (e até agora última) do país, com "Love Shine A Light" pelos Katrina & The Waves. (Sim, esses do clássico eighties "Walking On Sunshine")
13. George Clooney foi Batman
Depois de Michael Keaton nos dois fimes de Tim Burton que reavivaram o interesse nas aventuras do mítico Homem Morcego e de Val Kilmer no terceiro filme, para o quarto opus da saga de Batman, foi a vez de George Clooney, recém-chegado ao estrelato devido ao seu papel em "E.R.", quem deu corpo ao herói protector de Gotham City. "Batman & Robin" foi realizado por Joel Schumacher, que assinou o filme anterior e com Chris O'Donnell de novo no papel de Robin. Além disso, pela primeira vez surgiu a Batgirl, interpretada por Alicia Silverstone, enquanto que os papéis de vilões estiveram a cargo de Arnold Schwarzenegger como Mr. Freeze e Uma Thurman como Poison Ivy. Decerto que com tantas estrelas e tão bons antecedentes, que este quarto tomo da saga seria um sucesso garantido, certo?
Só que não. "Batman & Robin" foi arrasado pela crítica e a receita foi bem menor que a dos outros filmes da saga, ao ponto de que só em 2005 é que Hollywood voltou a abordar o universo do Homem Morcego. O único legado positivo do filme foi a sensual interpretação e o figurino de Uma Thurman como Poison Ivy, que desde então tornou-se um muito requisitado disfarce para os Halloweens e Carnavais dos anos seguintes.
14. O Martini Man e Kelly Fisher no Portugal Fashion
Nos primórdios do Portugal Fashion, cuja edição inicial foi em 1995, a principal atracção era o facto de o evento trazer a Portugal, nomeadamente ao Porto, algumas das mais famosas top models mundiais (ou não estivéssemos na era dourada das top models) para desfilarem criações dos designers nacionais. Por exemplo, só na primeira edição marcaram presença rainhas das passerelles como Claudia Schiffer, Elle McPherson e Helena Christiansen. Para a edição de 1997, os nomes internacionais foram a top model holandesa Karen Mulder, o consagrado modelo anglo-iraniano Cameron Alborzian e dois modelos americanos mais conhecidos por motivos fora das passerelles: Charles David Sahagian, um dos homens que encarnaram o Martini Man, protagonista dos célebres anúncios a preto e branco da famosa marca, e Kelly Fisher, que em Agosto desse ano, fizera notícia ao afirmar que estava noiva de Dodi Fayed quando este iniciou uma relação com a princesa Diana.
Kelly Fisher com a sua porta-voz,
usando o alegado anel de noivado de Dodi Fayed
Karen Mulder no Portugal Fashion 1997
Mas na hora da verdade, enquanto Karen Mulder e Cameron Alborzian confirmaram o seu estatuto, Sahagian e Kelly Fisher foram flops: ele, sem os óculos da sua personagem, era um rapaz absolutamente normal (mais parecia o namorado da filha da vizinha do segundo esquerdo) e ela (a quem os jornalistas foram interditos de fazer perguntas sobre os recém-falecidos Dodi e Diana) afinal não passava de uma modelo da terceira divisão distrital.
15. Diana Pereira e Soraia Chaves, campeãs nacionais da moda
Já falámos aqui do triunfo nacional e internacional de uma muito jovem Diana Pereira na edição portuguesa e mais tarde mundial do Supermodel Of The World 1997. Mas também nesse ano, uma jovem modelo ganhou outro importante concurso de manequins, dando desde logo cartas na moda nacional e mais tarde, na representação. Falo de Soraia Chaves, que com 15 anos, venceu a edição de 1997 do Elite Model Look Portugal.
Curiosamente, um dos convidados musicais desse evento foram os dinamarqueses Aqua que cantaram "Barbie Girl", que pouco tempo depois seria um dos hits mundiais do ano.
16. O "Anticristo" Marilyn Manson no primeiro Festival do Sudoeste
Foi entre 8 e 10 de Agosto de 1997 que a Zambujeira do Mar foi pela primeira vez palco daquele que rapidamente se tornou um dos mais importantes festivais de música nacionais, o Festival do Sudoeste, que na altura tinha a cerveja Sagres como patrocinador principal.
E para abrir logo em beleza, o principal nome do cartaz era Marilyn Manson, que na altura dava que falar tanto pelo álbum "Antichrist Superstar" como pelas suas declarações que chocavam os sectores mais conservadores da sociedade, considerado mesmo por alguns como o Anticristo himself.
Outros nomes sonantes que actuaram no primeiro Festival do Sudoeste foram Blur, Suede, Veruca Salt, dEus e a nível nacional, Xutos & Pontapés, Da Weasel, Entre Aspas, Cool Hipnoise e Rio Grande.
17. Os Anjos ganharam um programa da RTP
Lembram-se do programa "Casa de Artistas", apresentado por Serenella Andrade, exibido pela RTP aos domingos em 1997? Não? Tudo bem.
Mas foi neste programa onde duplas de familiares ou amigos exibiam os seus dotes vocais, que os irmãos Nelson e Sérgio Rosado se deram a conhecer. Graças à sua interpretação de temas dos anos 60 como "Stand By Me", "Here Comes The Night" e "Unchained Melody", Nelson e Sérgio, então com 17 e 21 anos, foram passando as eliminatórias e acabaram por vencer a final. Ainda em 1997, juntaram-se a Pedro Camilo e Telmo Miranda na efémera boyband Sétimo Céu e mais tarde, alcançaram ainda maior sucesso como os Anjos.
18. Bárbara Guimarães passou da TVI para a SIC (e casou-se em Punta Cana)
Foi em 1997 que Bárbara Guimarães, uma das mais notadas caras dos primeiros anos da TVI, trocou Queluz de Baixo por Carnaxide para apresentar na SIC a quarta edição do "Chuva de Estrelas", programa que conduziria por mais três temporadas, rapidamente ascendendo à primeira liga de personalidades televisivas nacionais.
Foi também neste ano que Bárbara Guimarães casou (não muito) secretamente em Punta Cana, na República Dominicana, com o então namorado Pedro Miguel Ramos. Uma cerimónia que se julgavam ter sido meramente simbólica mas afinal tinha validade legal, o que dificultou a oficialização do casamento de Bárbara Guimarães com Manuel Maria Carrilho em 2001.
19. Outras estreias
Entre várias estreias de 1997, há que destacar em televisão dois dos mais famosos produtos de ficção nacional da RTP da segunda metade dos anos 90: "Riscos", a série adolescente precursora dos "Morangos Com Açúcar" e "Herman Enciclopédia", outro inigualável programa de Herman José que nos deu os inesquecíveis Diácono Remédios, Homens Do Norte, a Supertia e a Melga Shop. (Ambos os programas já tiveram o seu cromo aqui no blogue).
A 5 de Junho de 1997, era editado o primeiro número da revista Ana, acabando assim com o monopólio da revista Maria em termos de revistas tablóides com nome feminino. (Não, não teve logo a sua versão "mais atrevida", essa só surgiu em 2002).
Foi também em 1997 que aconteceu a primeira edição do Festival de Cinema Gay & Lésbico de Lisboa (actual Queer Lisboa), um dos primeiros eventos dedicados às artes e à cultura das comunidades LGBT de todo o mundo, que rapidamente se tornou um dos mais prestigiados festivais de cinema relacionados com essa temática a nível mundial. O certame também desde então sido referido como um grande contributo para uma maior aceitação e conhecimento da comunidade LGBT em Portugal.
20. Os portugueses caem na tentação de ver "Tentação"
Já na recta final do ano, a 26 de Dezembro de 1997, estreia o filme "Tentação", realizado por Joaquim Leitão e protagonizado por Joaquim de Almeida. Tal como "Adão E Eva" dois anos antes, o filme foi amplamente divulgado pela SIC e os portugueses acorreram para ver a história de um padre que se apaixona por uma toxicodependente (Cristina Câmara), batendo os recordes de bilheteira para um filme português. (Fica a promessa para um texto sobre este filme aqui no blogue para breve).
Para terminar, fica a pergunta para os leitores. Que memórias têm vocês do ano de 1997? Que acontecimento desse ano ficou esquecido neste texto e gostariam de ver referido?