por Paulo Neto
Já existiam antes, continuaram a existir depois, mas não há dúvida que a década de 90 foi um ponto alto do fenómeno das boybands, onde parecia que tais grupos floresciam que nem cogumelos. Além daqueles que conseguiam atingir o sucesso à escala global, praticamente cada país do mundo ocidental teve a sua própria dose de boybands para consumo nacional - e Portugal não foi excepção.
Aliás a receita era simples: pegava-se nuns quantos rapazes com um palminho de cara e de corpo (e de preferência, que não cantassem muito mal), ensinavam-lhes uma coreografias sincronizadas, faziam-se umas músicas com refrões orelhudos e uns videoclips com os seus peitorais trabalhados à mostra e voilá! - uma multidão de miúdas adolescentes aos gritos e milhares de discos (e merchadising a condizer) vendidos que nem pãezinhos quentes enquanto um diabo esfrega um olho.
Eu, tal como qualquer rapaz adolescente da época, não o admitia mas a verdade é que certas canções de boybands nos anos 90 acabavam por me alegrar os tímpanos e entrar na minha jukebox mental e há cinco delas que venho por este meio destacar. Além disso, deixo algumas menções honrosas: "Tearing up my heart" dos N'Sync (1997), "I want you for myself" dos Another Level (1999), "Love is everywhere" dos Caught In The Act (1995), "Thunder" dos East 17 (1996) e "Flying without wings" dos Westlife (1999).
#5 "No matter what" Boyzone (1998)
Os Boyzone eram cinco, mas na verdade podiam ser só dois, o louro Ronan Keating e o moreno Stephen Gately, pois eram os únicos que cantavam nas canções remetendo os outros três, Mickey Graham, Keith Duffy e Shane Lynch para o simples papel de vozes de coro (como um concorrente do Britain's Got Talent demonstrou certa vez). Porém o quinteto irlandês teve alguma longevidade entre 1994 e 2000. De entre o seu repertório, contam-se várias covers, algumas delas pouco felizes como as de "Father and son" de Cat Stevens e "Baby can I hold you tonight" de Tracy Chapman. De entre os seus temas originais, o melhor deles foi sem dúvida "No matter what" de 1998, cuja dignidade era reforçada por ser um tema de Andrew Lloyd Webber para o que era então o seu mais recente musical "Whistle down the wind".
Ronan Keating prosseguiu depois uma bem-sucedida carreira a solo. Stephen Gately, depois de assumir a homossexualidade, também teve projectos a solo cujo ponto alto foi o tema do filme "Billy Elliott". Os Boyzone reuniram-se em 2008 para uma tournée e novo álbum de best of, mas no ano seguinte, Stephen Gately faleceu, quando já trabalhavam num novo álbum de originais.
#4 "Where do you go?" No Mercy (1996)
O nome do produtor alemão Frank Farian estava semi-proscrito devido à controvérsia com o Milli Vanilli quando se descobriu que as vozes não correspondiam às caras. Mas tal não o impediu de formar outro grupo pop que conseguiu pelo menos um hit global. Os No Mercy eram três americanos de origem porto-riquenha radicados na Alemanha, o vocalista principal Marty Cintrón e os gémeos Ariel e Gabriel Hernandez. Em 1996, versionaram "Where do you go?" (originalmente gravado pelos La Bouche), com uma combinação de guitarra latina e sobretudo a batida do famosíssimo remix de "Missing" dos Everything But The Girl (do qual o trio também fez uma versão) e o êxito não se fez esperar, chegando ao top 5 um pouco por todo o mundo, inclusivamente chegando o n.º 1 na Irlanda e na Dinamarca. Os No Mercy ainda tiveram algum sucesso com singles subsequentes como a balada "When I die", mas após o segundo álbum, caíram no esquecimento embora continuem ainda no activo.
Em 1997, o produtor Nuno Carvalho descobriu a pólvora e criou a primeira boyband made in Portugal, os Excesso formada por João Portugal, Carlos Santos, Fernando Melão, Gonçalo "Gonzo" Sousa e Miguel "Duck" Moredo. O sucesso não fez esperar e logo as pitas de então gritavam pelos Excesso como o faziam com os grupos estrangeiros. O álbum de estreia foi tripla platina e tiveram direito a um vasto merchandising incluindo um perfume e uma linha de roupa assinado por João Rolo. Além disso, novos grupos formaram-se rapidamente em Portugal aproveitando o filão descoberto como os Sétimo Céu, os Milénio e os D'Arrasar. Porém, o sucesso alcançado depressa levou a tensões dentro do grupo e quando o segundo álbum saiu em 1999, já sem Carlos na formação, começou o declínio. Todos os cinco elementos tiveram projectos a solo com mais ou menos sucesso, destacando-se João Portugal que foi autor e intérprete dos temas musicais de várias edições do Big Brother.
De entre o reportório dos Excesso, o destaque vai obviamente para a sua canção-assinatura "Eu sou aquele", que certa vez cantei com mais quatro colegas meus durante uma praxe do meu ano de caloiro na Universidade de Coimbra. Pouca gente sabe disto, mas a autora de letra era Célia Lawson que em 1997 foi a representante portuguesa no Festival da Eurovisão (onde foi corrida a zeros).
#2 "Pray" Take That (1993)
Nos anos 80, os New Kids On The Block tinham sido os primeiros a seguir a fórmula de "como fazer uma boyband", mas os britânicos Take That levaram o conceito a novas alturas. Por exemplo, o seu agente Nigel Martin-Smith foi o primeiro a apostar no apelo da comunidade gay. Ao contrário do que é habitual, o sucesso dos Take That foi-se formando gradualmente desde 1991 mas a partir de 1993, Gary Barlow, Mark Owen, Howard Donald, Robbie Williams e Jason Orange já eram rostos amplamente conhecidos. O tema mais famoso dos Take That é sem dúvida "Back for good" de 1995, o seu único hit nos Estados Unidos. Porém sempre tive uma preferência por "Pray" de 1993, um dos videoclips que marcaram a minha descoberta da MTV nesse Verão do curto período em que a minha família foi proprietária de uma antena parabólica. É uma daquelas canções que para mim têm toda a essência de uma música de Verão e ainda hoje gosto muito do videoclip, filmado no México.
Como é sabido, Robbie Williams deixou a banda em 1995 rumo a uma extremamente bem-sucedida carreira a solo. Em 2006, após um hiato de dez anos os outro quatro membros reuniram-se para uma tournée que teve tão sucesso que justificou um regresso aos discos que se vai mantendo até hoje, inclusivamente com Robbie Williams a bordo no álbum "Progress" de 2010.
#1 "Everybody (Backstreet's back)" Backstreet Boys (1997)
Pressentindo que a Europa estaria mais receptiva na altura ao género do que a América, o manager Lou Perlman pegou no projecto que tinha em mãos, os Backstreet Boys, compostos por A.J. McLean, Brian Littrell, Howie Dorough, Kevin Richardson e Nick Carter e decidiu promover o material na Alemanha. O sucesso não se fez esperar por essa Europa e em 1996 somavam hits como "We've got it goin' on", "I'll never break your heart" e "Quit playing games (with my heart)". (Perlman repetiria a mesma fórmula com outro grupo, nada menos que os NSync).
Um dos pontos altos do repertório é sem dúvida "Everybody (Backstreet's back)", um dos últimos hits resultantes da união dos dois gurus suecos da música pop, Max Martin e Denniz PoP, antes da morte deste, com um daqueles refrões que ficam logo incrustados nos ouvidos à primeira audição: "Everybody, yeah, rock your body, yeah, everybody rock your body right. Backstreet's back, alright!". Igualmente inesquecível é o videoclip onde cada um dos membros encarna uma personagem monstruosa. No ano seguinte, o sucesso chegou por fim aos Estados Unidos.
Com alguns hiatos pelo caminho, os Backstreet Boys continuam no activo e a editar álbuns. Em 2011, fizeram um álbum e uma digressão conjuntamente com os New Kids On The Block.