sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Steven Bradbury, o campeão olímpico mais sortudo (2002)

por Paulo Neto



Salt Lake City, capital do estado americano do Utah, acolheu os 19.ºs Jogos Olímpicos de Inverno entre 8 e 24 de Fevereiro de 2002. Apesar do escândalo do processo da candidatura da cidade, quando em 1998 veio a público que alguns membros do Comité Olímpico Internacional receberam subornos por parte de pessoas pertencentes à comissão de candidatura de Salt Lake City, e dos ataques de 11 de Setembro de 2001 apenas uns meses antes, os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 acabaram mesmo por acontecer. Durante a cerimónia de abertura, foi erguida uma bandeira dos Estados Unidos encontrada nos destroços Ground Zero no 11 de Setembro. No entanto, os Jogos de Salt Lake City decorreram sem problemas de organização e o destaque foi todo para os brilhantes feitos dos atletas. 
Uma ideia que se estreou nestes Jogos que continuou nas outras edições subsequentes foi a introdução de uma praça onde se realizaria as cerimónias de entregas de medalhas diante dos fãs, servindo também para concertos e outras actividades culturais.

Atletas americanos transportam uma bandeira americana do Ground Zero
na cerimónia de abertura

2399 atletas de 78 países (Portugal não participou) competiram em quinze modalidades. O skeleton regressou ao programa olímpico após 54 anos. O norueguês Ole Einar Bjorndalen e a croata Janica Kostelic foram as principais estrelas dos jogos: Bjorndalen ganhou todas as quatro provas da competição masculina de biatlo, afirmando-se como o maior atleta de sempre deste desporto; Kostelic, acabada de completar 20 anos, ganhou três medalhas de ouro e uma de prata no esqui alpino. A americana Vonetta Flowers tornou-se a primeira atleta negra a ganhar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos de Inverno, em parceria com Jill Bakken no boblsed feminino. Ao fim de 50 anos, o Canadá alcançou novamente o ouro no hóquei no gelo, por excelência o desporto nacional canadiano, tanto em masculinos como em femininos. A maior controvérsia surgiu na patinagem artística, sobre alegadas pressões e subornos a alguns juízes, que resultou no afastamento de uma juíza francesa e com a medalha de ouro a ser atribuída na prova de pares em ex-aqueo a um par russo e ao par canadiano que originalmente terminara em segundo e que alegadamente teria sido prejudicado pelos juízes.

Apollo Anton Ohno (EUA)


Um dos desportos mais emocionantes nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 foi a patinagem de velocidade em pista curta, também conhecida como short track. Ao contrário da patinagem velocidade em pista longa em que só competem dois atletas de cada vez e contra o relógio em vez de um contra o outro, em short track um número de quatro a seis atletas dão voltas a uma pista com pouco mais de cem metros de perímetro ao longo de distância que vão dos 500 aos 1500 metros e é tudo ao molho e fé em Deus. Quedas e despistes são bastante frequentes e qualquer obstrução, empurrão ou colisão resulta na desclassificação dos atletas. Coreia do Sul, China, Canadá e Estados Unidos são as principais potências deste desporto e confirmaram o seu domínio em Salt Lake City.

O pódio dos 1000m femininos:
a muito jovem Ko Gi-Hyun e as duas Yang Yang

O pódio dos 1000m femininos teve a particularidade duas chinesas chamadas Yang Yang: a mais velha, designada por Yang Yang (A) ganhou o ouro e a mais nova, referida como Yang Yang (S), ganhou o bronze. Os media vieram a descobrir que os nomes delas eram iguais em letras romanas mas diferentes em caracteres chineses, embora se pronunciassem exactamente da mesma maneira. A (A) chamava-se "bandeira esvoaçante" e a (S) "sol nascente". Yang Yang (A) também venceu os 500m e foi a primeira atleta da China a ganhar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos de Inverno.
A sul-coreana Ko Gi-Hyun tornou-se aos 15 anos uma das mais jovens campeãs olímpicas de sempre ao vencer os 1500m femininos. Foi Ko quem esteve no pódio das duas Yang Yang nos 1000m.

O público americano teve o seu herói local num atleta que tinha o espectacular nome de Apollo Anton Ohno que venceu os 1500m masculinos, num triunfo controverso. O coreano Kim Dong-Sung tinha sido o primeiro a cortar a meta mas quando ele ia a dar a volta de honra com uma bandeira na mão, descobriu que tinha sido desclassificado pelos juízes por ter obstruído uma passagem de Ohno, a quem foi atribuída a vitória. Furiosos, os adeptos coreanos entupiram as caixas de correio de e-mail do COI e do Comité Olímpicos dos Estados Unidos (mais de 16 mil e-mails!) e angariaram dinheiro para criar um réplica de uma medalha de ouro que foi entregue a Kim quando regressou ao seu país.

Mas a mais extraordinária história da patinagem de short track, senão mesmo de todos os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 foi a dos 1000 metros masculinos, uma história semelhante à da lebre e da tartaruga, que recordou mais uma vez que em solo olímpico como em tudo na vida, não há vencedores antecipados. Aos 28 anos, o australiano Steven Bradbury estava nos seus quartos Jogos Olímpicos, ou seja desde que o short track tinha sido introduzido no programa olímpico em 1992, e em 1994 fizera parte da equipa australiana que ganhou a medalha de bronze na prova de estafeta masculina, a primeira medalha da Austrália em Jogos Olímpicos de Inverno. Como atleta individual porém nunca ganhara uma medalha em Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo. Além disso desde 1994 que a sua carreira tinha sido minada por lesões. Numa prova em Montreal em 1995, durante uma queda, a lâmina do patim de outro atleta fez-lhe um corte na coxa que foi suturada com 111 pontos. Em 2000, durante uma corrida de treino, Bradbury partiu duas vértebras do pescoço durante uma queda e não só ficou fora de toda a época de 2000-01 como teve de usar uma pescoceira aparafusada ao crânio durante seis semanas.



Steven Bradbury encarava os Jogos de Salt Lake City como o ocaso da sua carreira, longe da velocidade de outros tempos. Tinha financiado a sua preparação a vender patins que ele próprio fabricava na garagem dos seus pais. Mas quando se apresentou para a sua prova de 1000m, uma série de acontecimentos desenrolou-se a seu favor. Nos quartos de final, foi terceiro na sua corrida mas seguiu em frente devido à desclassificação do primeiro classificado por obstrução. Nas semifinais, na esperança que os seus adversários mais credenciados sofressem uma queda ou uma desclassificação, manteve-se na retaguarda da corrida, apurando-se para a final quando dois atletas caíram. Na final, competindo contra Apollo Anton Ohno, o canadiano Mathieu Turcotte, o coreano Ahn Hyun-Soo e o chinês Jiajun Li, Bradbury manteve a mesma estratégia seguindo na cauda da corrida e esperando de novo que o infortúnio dos seus adversários mais rápidos fosse a sua sorte.




E assim aconteceu: na entrada para a última volta, Ohno seguia na frente quando Li tentou ultrapassar-lhe por fora, tocando-lhe no braço. Esse gesto fez Ohno desequilibrar-se, arrastando Li (que seria desclassificado), Ahn e Turcotte na queda. Com todos os outros no chão, um incrédulo Steven Bradbury cruzou a meta em primeiro lugar. Ohno e Turcotte só tiveram tempo de se levantar e conseguir a prata e o bronze. Era a primeira medalha de ouro em Jogos Olímpicos de Inverno para um atleta do Hemisfério Sul. Curiosamente na noite anterior à final, Bradbury tinha oferecido um par de patins feitos por ele a Ohno e pedido para que ele mencionasse a sua marca caso ganhasse o ouro.




Após o seu inesperado triunfo olímpico e subsequente fim de carreira desportiva. Steven Bradbury trabalhou como comentador desportivo para a televisão australiana e orador motivacional, envolveu-se no desporto motorizado e em 2005 publicou a sua autobiografia apropriadamente intitulada "Last Man Standing". A designação de uma vitória inesperada e improvável como "fazer um Bradbury" entrou na gíria australiana.



 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Império Contra-Ataca - Edição Especial (1997)



Há muito tempo, numa galáxia muito muito distante... Quer dizer, em 21 Fevereiro de 1997 o segundo (ou quinto) capítulo da saga Star Wars ("A Guerra das Estrelas") - "O Império Contra-Ataca" ("The Empire Strikes Back") de 1980 renascia para as novas gerações e horror dos fanboys hardcore que tremeram com cada pequena alteração que George Lucas infligiu na Sagrada Trindade. A ocasião para esta Edição Especial era comemorar o 20º aniversário do lançamento do primeiro "A Guerra das Estrelas" (1977) e alegadamente conseguir uma versão mais fiel à imaginada pelo criador George Lucas e que a tecnologia dos anos 70 ainda não permitia.

O trailer d'"O Império Contra-Ataca Edição Especial":



Da trilogia original este foi o filme que menos alterações sofreu. Na época que consegui a cassete (comprada na FNAC, numa excursão ao Colombo em 1998, se não me engano) - porque infelizmente não revi nenhum deles no cinema - fiquei contente principalmente por terem corrigido os efeitos especiais na Batalha de Hoth, quando os snowspeeders das forças rebeldes surgiam transparentes, por problemas relacionados com o green-screen utilizado nas filmagens das miniaturas. Para saber mais detalhes das mudanças das Edição especial do "Império Contra-Ataca" consultem esta lista da Wikipédia: ""List of changes in Star Wars re-releases"".

O seguinte vídeo faz uma listagem exaustiva dessas mesmas mudanças, apesar de recorrer na maioria a imagens de outros relançamentos posteriores e com efeitos melhorados:




Depois da destruição da Estrela da Morte, o Império dobra esforços para erradicar os Rebeldes. Luke Skywalker continua o treino para se tornar um Jedi, e perto do final do filme um dos grandes plot twist de sempre: SPOILERS (!) o maléfico Darth Vader é o pai de Luke!











Este recorte da época alude ás modificações da Edição Especial, no entanto as fotos pertencem ao filme anterior, "Uma Nova Esperança", que continua a ser o meu preferido da saga.

Wizard Nº 9 - Abril 1997.
A capa da edição nacional em VHS:


Recorde algumas fotos destes tesourinhos da minha colecção pessoal:  "StarWars" em VHS. Aliás, todas as fotos deste artigo foram digitalizadas por mim, tanto a capa da cassete VHS como os screenshots do filme.


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Festival RTP da Canção de 1982

por Paulo Neto

Numa altura em que decorre o Festival da Canção deste ano, tempo para recuar 35 anos atrás e recordar o 19.º Festival RTP da Canção que teve lugar a 6 de Março de 1982 no Teatro Maria Matos, precisamente na véspera do dia em que a RTP completava 25 anos de emissões.
Eu não me recordo deste Festival na altura em que foi exibido, até porque na altura eu nem sequer tinha ainda completado dois anos de vida, mas vi há uns anos atrás quando foi transmitido da RTP Memória e achei uma edição bastante interessante pois teve a sua boa dose de cromice típica dos anos 80 e por onde passaram vários nomes ainda hoje conhecidos.


Alice Cruz e Fialho Gouveia


Foram doze as canções que foram apresentadas no Maria Matos para a selecção de qual seria aquela que iria representar Portugal no Festival da Eurovisão de 1982, que nesse teria lugar na pequena cidade inglesa de Harrogate  e talvez por isso, houve a actuação especial de um grupo britânico de bailado moderno de nome Wall Street Crash. A condução do momento das votações esteve a cargo de Alice Cruz e Fialho Gouveia, mas como já falei aqui antes, a apresentação das canções esteve a cargo de uma dupla absolutamente mítica: o Agostinho e a Agostinha, os companheiros da pinga lendariamente interpretados por Camilo de Oliveira e Ivone Silva no "Sabadabadu".

Ivone Silva e Camilo de Oliveira...
ou melhor Agostinha e Agostinho

Antes de cada canção, a parelha ébria cantava uma versão do seu famoso tema onde conseguiam encaixar o título da canção, o intérprete, o autor e o compositor, para além do refrão do tema ter sido adaptado para o evento que agora ficava assim:

Ai Agostinho, ai minha amiga
Ai o gostinho de uma cantiga
Olha a audiência do Festival
Uns dizem bem, outros mal
Olha a audiência que a gente tem
Uns dizem mal e outros bem
Isto é que vai uma festa
Isto é que vai uma festa

Dada a histórica popularidade da canção vencedora, eu estava convencido que tinha sido uma vitória incontestada, mas na verdade foi um dos Festivais mais disputados de sempre com a liderança a mudar algumas vezes de mãos e destacando-se três canções nessa disputa. Mas primeiro vamos falar das outras nove.

Isa
Joana

Nos anos 80, pelos palcos do Festival da Canção passaram diversas cantoras de apenas um nome das quais pouco ou nada se soube desde então. (Por exemplo, Sofia e Tessa em 1983, Marisa em 1984, Eduarda em 1985, Glória e Nené em 1987.) Em 1982, duas dessas cantoras de um nome só foram Isa e Joana. A primeira cantou um "Sonho A Dois" mas ficou em último lugar, a segunda deu voz a um "Amor Português" que ficou em sétimo lugar. (Actualização: Joana participou também no Festival do ano anterior como parte do duo Joana e Pedro interpretando "Amor Em Agosto")




Houve uma terceira jovem cantora de um nome só, mas essa viria a ser bem mais conhecida por outro nome. Pois a Fernanda que interpretou o tema "Vai Mas Vem" é aquela que agora conhecemos como Ágata. Na altura, ela já não era uma desconhecida uma vez que tinha integrado as Cocktail no fim da década de 70. Mais tarde, substituiu Lena Coelho nas Doce durante a gravidez desta antes de, ainda nos anos 80, dar os primeiros passos na carreira sob o nome de Ágata, alcançando o sucesso que se conhece na década seguinte. A audição da canção que cantou no Festival de 1982, que ficou em 10.º lugar, poderá surpreender aqueles que só conhecem o repertório de Ágata pós-"Perfume de Mulher".




Marco Paulo regressou ao Festival nesse ano, quinze anos após a sua primeira participação, com o tema "É O Fim Do Mundo". Infelizmente não foi dos melhores momentos do consagrado repertório de Marco Paulo e foi para o fim da tabela, para o 11.º e penúltimo lugar.

Bric A Brac

Os Bric A Brac eram presença regular no Festival da Canção desde 1977. 1982 foi o ano da quarta e derradeira participação do grupo formado então por Manuel José Soares, Isabel Soares, Cristina Águas e Jorge Barroso com o tema "Tudo Tim Tim Por Tim Tim", com uma animada sonoridade disco-sound que ganhou o prémio de melhor orquestração, que esteve a cargo de Armindo Neves. E destaque, embora não pelos melhores motivos, estiveram as vestimentas dos membros femininos do quarteto, que pareciam estar vestidas com papel de embrulho em cima e em papel de alumínio em baixo.

SARL

Os SARL, grupo formado por Carlos Aberto Moniz, Samuel e Pedro Osório, tinha trazido um toque de irreverência ao Festival da Canção em 1979 e 1980 com os temas "Uma Canção Comercial" e "Self Made Man", mas a última participação do grupo foi com uma canção mais convencional "Quero Ser Feliz Agora", que ainda assim obteve um honroso quarto lugar.

Dina

Depois de ter sido uma das revelações do Festival de 1980, Dina estava de volta ao certame e desta vez em dose dupla pois interpretou duas canções: a balada "Em Segredo", escrita por Tozé Brito, que ficou em oitavo lugar e o mais animado "Gosto Do Teu Gosto", letra de António Pinho e música da própria Dina, que chegou a liderar no início das votações mas que acabaria por cair para o sexto lugar. Ambas as canções foram incluídas no seu álbum de estreia "Dinamite". Claro que dez anos mais tarde, Dina regressaria ao Festival de forma triunfante.

Broa De Mel

Um tom mais divertido marcou a participação dos Broa De Mel com o tema "Banha De Cobra (Estica E Não Dobra)". Também com um título destes, só podia. A canção interpretada pelo casal José Carlos e Maria José Gorgal, que ainda hoje continua junto na música e no amor, obedecia à estrutura de canções como "Sobe Sobe Balão Sobe", onde quando se chega ao refrão já não mais se sai dele até ao fim. O resultado acabou por não ser tão banha de cobra quanto isso, com um respeitável quinto lugar. Os Broa De Mel participariam novamente no Festival do ano seguinte com uma canção bastante diferente.

Alexandra

Quanto às três canções que disputaram a liderança e que terminaram no pódio. O terceiro lugar foi para "Até Amanhecer" interpretado por Alexandra. A cantora de "Zé Brasileiro Português De Braga" defendeu magistralmente a balada com o talento que lhe é reconhecido, mas infelizmente o look com que ela se apresentou em palco era tipicamente anos 80 no seu pior: do penteado juba de leão ao vestido de boneca espanhola passando pela maquilhagem carregada.

Cândida Branca-Flor

Cândida Branca Flor falhou a vitória por muito pouco, somente seis pontos, mas deixou uma canção que ficou para a história. Mais um exemplo do génio criativo de Carlos Paião, as "Trocas E Baldrocas" permanecem ainda na boca de muita gente e um marco na carreira da artista, infelizmente falecida em 2001. "São trocas e baldrocas, altas engenhocas, que eles sabem inventar. São palavras loucas, faz orelhas moucas, não de te deixes enganar". Os elementos masculinos do coro estiveram em destaque, quer na parte quase em rap que eles rosnavam "são só trocas e baldrocas que sabemos inventar, são só trocas e baldrocas, não te deixes enganar" quer quando levavam estaladas dos elementos femininos.

Doce

Mas a vitória acabou por sorrir às Doce, com outra canção que ficou prontamente gravado no disco rígido de todos aqueles deste rectângulo à beira-mar plantado. A nossa mítica girlband dos anos 80 concorria pelo terceiro ano consecutivo e depois dos fatos de super-heroínas em 1980 com que interpretaram o tema homónimo e os de odaliscas em 1981 para o igualmente clássico "Ali Babá", foram vestidas de mosqueteiras que Fá, Laura, Lena e Teresa ganharam o Festival cantando o "Bem Bom" que era um amor que dura pela uma da manhã, duas da manhã e por toda a madrugada fora.


Carlos Paião, que vencera no ano anterior com o não menos mítico "Playback", entregou às Doce o troféu da vitória. Semanas mais tarde, seriam elas a abrir o desfile de canções no Festival da Eurovisão em Harrogate.




Por fim, queria agradecer ao site Festivais da Canção por toda a informação e algumas das imagens aqui utilizadas. Para quem se interessa pela história do Festival da Canção, é um site absolutamente imperdível. 

Actuação "Bem Bom" Doce:




Actuação no Festival da Eurovisão 1982:



Videoclip:





quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Guerra dos Mundos (1988-90)



Uma sequela do filme “War Of The Worlds” ("A Guerra dos Mundos") de 1953 - adaptação da famosa história de ficção cientifica publicada no final no Séc. XIX por H.G. Wells - esta série (co-produção canadiana e norte-americana) revelava que os extraterrestres derrotados no final da invasão do filme não foram mortos pelos germes terrestres, mas apenas entraram em animação suspensa. São libertados desse torpor no final dos anos 80 e controlando corpos humanos vão tentar conquistar o planeta, preparando-o para a chegada de milhões de invasores do planeta Mor-Tax. 
Da esquerda para a direita:
Fila de cima: Tenente-Coronel Paul Ironhorse (Richard Chaves) e Norton Drake (Philip Akin).
Fila de baixo: Dr. Harrison Blackwood (Jared Martin) e Dr. Suzanne McCullough (Lynda Mason Green).

O foco dos 43 episódios (em 2 temporadas bem regadas de cenas de violência gráfica) eram as missões de combate aos alienígenas efectuadas pela equipa do Projecto Blackwood, liderado pelo astrofísico Dr. Harrison Blackwood (órfão de vitimas do ataque nos anos 50), a microbiologista Suzanne McCullough, o especialista em informática Norton Drake e o Tenente-Coronel Paul Ironhorse.

O genérico inicial, que utiliza cenas do filme de 1953 (viva a reciclagem!):

O leitor José Guilherme adianta a data de exibição em Portugal como sendo 1990, mas ainda não consegui confirmar.





Num assunto relacionado recomendo o artigo sobre a adaptação portuguesa (para rádio):  "A Guerra dos Mundos em Portugal (1958)".

Artigo original no Tumblr da Enciclopédia, no Mini-Cromo "War Of The Worlds" (1988-90).

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sábado, 11 de fevereiro de 2017

"Especially For You" Jason Donovan & Kylie Minogue (1988)

por Paulo Neto

Quis o destino que, fazendo jus ao velho ditado, eu fosse bafejado com (esporádica) sorte ao jogo e (constante) azar ao amor. Como tal existem algumas coisas que, pelo menos até agora, nunca tive oportunidade de fazer com uma pessoa amada, como por exemplo cantar em dueto com a minha eventual cara-metade. Com muita ou pouca afinação, num karaoke ou noutro sítio, de forma planeada ou num momento espontâneo, já imaginei muitas vezes em criar harmonia vocal com a pessoa amada, fosse lá ela quem fosse. E como concordo com os Da Weasel quando diziam que um amor de verdade deve ter o seu quê de piroso e lamechas, uma das canções que eu gostava de executar nesses hipotéticos duetos românticos é "Especially For You", tema editado no final do de 1988 epicamente chilreado por aqueles que era então os namoradinhos da Austrália e popstars em fase ascendente, Jason Donovan e Kylie Minogue. É uma balada que não se aguenta de tão doce e fofa. Se "Especially For You" fosse comestível, seria uma molotofe profusamente banhada em caramelo líquido.



Mas vamos por partes. Como a maioria dos países anglo-saxónicos, a Austrália segue o conceito de soap-opera, inicialmente desenvolvido pelas rádios americanas e assim chamado porque esses espaços eram tipicamente patrocinados por marcas de sabões e detergentes, (ao contrário do conceito de telenovela como foi desenvolvido sobretudo na América Latina e como conhecemos cá em Portugal), com a acção a passar-se quase sempre na mesma zona e com uma duração indeterminada. Se nós por cá achámos que telenovelas portuguesas como "Anjo Selvagem" ou "A Única Mulher" duraram imenso tempo, as soap-operas em países como os Estados Unidos, o Reino Unido ou a Austrália atravessam décadas. Por exemplo, a britânica "Coronation Street" está no ar no canal ITV desde 1960!
Na Austrália, uma das soap-operas mais duradouras é "Neighbours", que estreou em 1985 (embora só em 1986, quando o projecto foi reciclado por outro canal, é que começou a ter sucesso) e desde então que as intrigas entre famílias vizinhas num aprazível subúrbio de Melbourne faz as delícias de vários telespectadores nos Antípodas e não só. (Em Portugal, a RTP chegou a exibir "Neighbours", com o óbvio título "Vizinhos", nos anos 90 a seguir ao Jornal da Tarde.) Um dos atractivos da fase inicial dessa soap-opera foi o par romântico Scott Robinson e Charlene Mitchell, interpretados por Donovan e Minogue, ele um rapaz certinho, ela uma desembaraçada mecânica, que se apaixonam apesar de pertencerem a famílias rivais. O episódio onde os dois se casaram foi um dos programas mais vistos de sempre na Austrália.



Entretanto, uma actuação do elenco de "Neighbours" para um evento de caridade onde Kylie Minogue cantou uma versão de "Locomotion" em 1987 foi o primeiro passo para ela deixasse a telenovela e rumasse a Londres para iniciar um carreira musical. Pela mão do célebre trio de produtores Stock, Aitken & Waterman, Minogue não tardou a alcançar sucesso internacional em 1988 com hits como "I Should Be So Lucky", "Got To Be Certain" e "Je Ne Sais Pas Pourquoi". Quando souberam que Jason Donovan também pretendia deixar "Neighbours" e enveredar pelas cantigas, a troika de produtores sabia que não podiam desperdiçar a oportunidade de ter os dois namoradinhos da Austrália a dar voz às suas composições. E que melhor ideia para um do que ter Jason Donovan a cantar uma balada em dueto com aquela com quem ele teve um romance dentro e também (não muito) secretamente fora do ecrã? E se bem o pensaram, melhor o fizeram.



Particularmente mítica foi a actuação de ambos no programa "Top Of The Pops", ele de blusão de cabedal, ela com uns brincos com cachos de uva, numa coreografia sincronizada que culminava na parte instrumental, com Jason a pegar Kylie ao colo num rodopio.



Claro que o sucesso estava garantido, e o dueto foi n.º 1 no Reino Unido (onde vendeu um milhão de cópias), Irlanda, Bélgica e Grécia no início de 1989. Kylie Minogue, que entretanto trocara Jason por Michael Hutchence dos INXS, continuou a somar sucessos até tornar-se o ícone pop que é hoje, sobretudo depois do ressurgimento da carreira no início deste século graças a hits como "Can't Get You Out Of My Head". Jason Donovan somou alguns sucessos no início da sua carreira como "Too Many Broken Hearts", "Sealed With A Kiss" e "Any Dream Will Do". Mas à medida que o sucesso foi diminuindo, envolveu-se em algumas batalhas pessoais e problemas com drogas. Felizmente a partir de 2000, graças ao apoio da sua companheira Angela Malloch de quem tem três filhos e com quem casou em 2008, Donovan deixou a dependência e mesmo sem o êxito dos outros tempos, continua bastante activo, quer na música, quer na representação e algumas incursões em reality shows, quer na Austrália, quer no Reino Unido onde reside há vários anos.



Quer Jason quer Kylie já cantaram "Especially For You" com outros parceiros (e até voltaram a cantá-lo juntos num concerto em 2012), e dentro dessas novas parcerias, há que destacar o momento em 2001 quando Kylie cantou o tema com...o sapo Cocas!



Enquanto isso "Neighbours" continua em exibição em vários países e ao longo dos anos, outros actores do elenco tiveram também mais tarde carreiras musicais de grande sucesso, nomeadamente Natalie Imbruglia e Delta Goodrem. 


Extras:

"Got To Be Certain" Kylie Minogue


"Too Many Broken Hearts" Jason Donovan







terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Roswell (1999-2002)

por Paulo Neto

Nas voltas da vida, eu sou por vezes algo contra-corrente. Agora que está na moda acompanhar séries de televisão, eu não sigo nenhuma em particular, vejo um ou outro episódio desta ou daquela série quando calha. Não tenho Netflix nem quejandos nem nunca fiz binge-watching de séries (a não ser que conte para tal ficar a ver quando no AXN, MOV ou Fox Life passam uns três ou quatro episódios antigos de enfiada). Aliás, eu seguia mais séries nos anos 90 e na década passada que agora, e mesmo aí, era habitual que começasse a vê-las já num ponto adiantado. Foi o caso da série da qual vou falar hoje.



"Roswell" (também conhecida como "Roswell High") foi uma série juvenil de ficção científica exibida nos Estados Unidos entre 1999 e 2002 em três temporadas e que passou na RTP 2 entre 2001 e 2004. Da autoria de Jason Katims e inspirada na série de livros de Melinda Metz, a série passava-se na cidade americana de Roswell, no estado do Novo México, onde em 1947 um balão de vigilância da força aérea americana se despenhou, provocando especulações sobre se teria sido uma nave extraterrestre.


Liz Parker (Shiri Appleby) é uma adolescente que trabalha no café dos seus pais de temática extraterrestre que um dia é atingida por uma bala perdida durante uma discussão entre dois clientes. No entanto é salva miraculosamente da morte certa por Max Evans (Jason Behr), um rapaz da sua escola. Intrigada pelo que aconteceu, Liz vai descobrindo juntamente com os seus amigos Alex Whitman (Colin Hanks) e Maria De Luca (Majandra Delfino) que Max, assim como a sua irmã Isabel (Katherine Heigl) e o rebelde Michael Guerin (Brendan Fehr) não têm DNA normal e que poderão ser alienígenas. Os seis acabam por formar um grupo de amigos bastante unido, tentando ao máximo manter-se fora da atenção das forças da autoridade e o romance desperta entre eles: entre Liz e Max, entre Maria e Michael e Alex também se apaixona por Isabel, que hesita em lhe corresponder.
Entretanto surgem mais dois alienígenas: Nasedo (Jim Ortlieb), um perigoso shapeshifter e Tess Harding (Emilie de Ravin), uma adolescente criada por Nasedo que possui estranhos em efeitos em Max. Após a morte de Nasedo, Tess é acolhida pelo xerife Jim Valenti (William Sadler) e pelo seu filho Kyle (Nick Wechsler), o ex-namorado de Liz, que entretanto também já sabem da natureza dos quatro extraterrestres.



Afinal vem-se a saber que Max, Tess, Isabel e Michael são os clones de quatro extraterrestres do planeta Antar, respectivamente Zan, o rei do planeta, Ava, a sua esposa, Vilandra, a irmã do rei e Rath, o líder do exército. Os quatro fugiram de Antar para escapar aos ataques de Kivar, o inimigo do rei. A nave onde seguiam despenhou-se na Terra em Roswell em 1947 e viveram incubados até despertarem na forma de clones híbridos de humanos e alienígenas, surgindo em Roswell na forma de crianças de seis anos. Max e Isabel foram adoptados pelo casal Evans (Garrett Brown e Mary Ellen Trainor) e Michael por um homem violento, entretanto falecido, enquanto Tess foi levada por Nasedo. Isabel também descobre que a sua versão extraterrestre Vilandra tinha sido seduzida por Kivar e traído o irmão. Os quatro possuem poderes especiais como telequinesia, controlo da mente, criação de combustão e de campos de forças ou, no caso de Max, reanimação de mortos.



Na segunda temporada, os amigos lutam contra várias ameaças, como os Peles, um conjunto de alienígenas com forma humana designados para os encontrar e entregar a Kivar e outros quatro clones de Max, Michael, Isabel e Tess que cresceram nos esgotos de Nova Iorque. Mas a principal ameaça acaba por estar mesmo entre eles. Avisada por um Max do futuro para as consequências fatais do relacionamento de ambos, Liz desiste de Max e incita-o a ficar com Tess. Max e Tess acabam por se envolver e Tess engravida, dando à luz apenas um mês depois o filho de ambos, Zan.


Mas a misteriosa morte de Alex, quando Isabel finalmente lhe correspondia e que nem Max consegue salvar, vai levar à conclusão de que Tess foi sempre uma inimiga. Ela tinha controlado Alex para que ele descobrisse uma maneira de levar Max, Michael e Isabel consigo de volta a Antar para os entregar a Kivar. Tess acaba por partir com Zan, que mais tarde vem-se a descobrir ser 100% humano.



Na terceira e última temporada, Isabel apaixona-se e casa-se com Jesse Ramirez (Adam Rodriguez), um jovem advogado, sem lhe revelar que é uma alienígena. Max e Liz continuam a enfrentar imensos obstáculos ao amor entre ambos, Maria e Michael continuam entre beijos e turras e Tess regressa para uma redenção. Liz descobre que por ter sido curada por Max desenvolveu um poder de premonição. Quando ela tem a premonição de que Max, Michael e Isabel vão ser mortos pelo FBI, a série termina com grupo a fugir da cerimónia da formatura do liceu onde o FBI tinha montado a emboscada.


Eu só comecei a acompanhar "Roswell" a meio da segunda temporada, precisamente quando aparece o Max do futuro e quando os episódios começavam com Maria a fazer um resumo do episódio anterior num cenário com um quadro escolar. Talvez por ter apanhado a série a partir desses episódios onde a personagem estabelecia esta ligação com o telespectador, Maria era a personagem que me chamava mais a atenção (o facto de Majandra Delfino ser bastante bonita de se ver também ajudava). Embora eu gostasse das várias tramas de temática alienígena e as batalhas que os protagonistas travavam contra os seus opositores, achava particularmente interessantes as cenas em que se exploravam as relações de amor e amizade entre os extraterrestres e os humanos do grupo. Também apreciava alguns toques de humor, como por exemplo Isabel ser tão obcecada em organizar as celebrações natalícias que era conhecida em toda a cidade como "a nazi do Natal", ou o episódio da terceira temporada com cenas que recriavam a série "Casei Com Uma Feiticeira", mas no caso de Jesse e Isabel, "casei com uma extraterrestre".

Reunião do elenco e do autor em 2014


Depois de "Roswell", Katherine Heigl obteve ainda mais sucesso ao fazer de outra Isabel, a Izzie Stevens de "Anatomia de Grey". Shiri Appleby protagonizou as séries "Life Unexpected" e "UnReal" e Emilie De Ravin esteve em destaque em "Lost" e no filme "Lembra-te De Mim" ao lado de Robert Pattison. Nick Wechsler, Adam Rodriguez e Brendan Fehr entraram em respectivamente "Revenge", "CSI Miami" e "Bones". Apenas Jason Behr e Majandra Delfino, apesar de ainda bastante activos em televisão e cinema ainda não superaram o sucesso dos seus papéis em "Roswell". E claro, foi com esta série e o filme "Orange County" que Colin Hanks começou a seguir as pisadas do seu pai Tom, tendo entrado por exemplo nos filmes "King Kong" (2005) e "W." e nas séries "Dexter" e "Fargo".      

O tema do genérico de "Roswell" era "Here With Me" de Dido, que foi editado como single em 2001, tendo sido um dos grandes hits desse ano.

Genéricos das três temporadas:


Episódio "Casei Com Uma Extraterrestre" (Temporada 3, Episódio 11)


"Here With Me" Dido




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