terça-feira, 26 de outubro de 2021

Anúncio OMO "Rosalina, A Roupa Está Boa!" (1991)

 por Paulo Neto

Já há anos a fio que o OMO é uma das marcas de eleição em Portugal em detergentes em pó para a roupa. Produzido pela multinacional Unilever, a marca é na verdade um acrónimo de Old Mother Owl ("velha mãe coruja") inicialmente produzida em Inglaterra em 1908. Foram muitos os anúncios do OMO que passaram pela televisão nacional, geralmente sob o slogan "OMO lava mais branco!", mas para mim, o anúncio mais marcante, foi este de 1991 (embora este vídeo que serve de exemplo, cortesia do LusitaniaTV disponibilizado no Archive, seja do dia 3 de Janeiro de 1992). 


A narrativa do anúncio é bem simples: a dona de um restaurante algures no Portugal rural (eu arriscaria que no Alentejo) recebe um casal de clientes, fazendo as honras da casa e convidando-os a almoçar no exterior. Igualmente presentes estão o marido e a mãe da patroa e uma jovem empregada, de seu nome Rosalina, que é a heroína secreta do anúncio. E claro, a certa altura a conversa da patroa vai dar à brancura das toalhas, impecavelmente lavadas com OMO. 

Eis o discurso completo da patroa:
(para Rosalina): Acaba isto que acabam de chegar clientes. Traz toalhas de mesa!
(para os clientes): Bom dia, podem ficar cá para fora, está um dia lindo. As favas hoje estão uma maravilha. Estão branquinhas, não estão? Sou eu que as tiro e ponho no OMO. Ó Mãe, veja aí.
(para Rosalina): Depois estendes a outra roupa que lavei. 
(para os clientes): O Sol está para a roupa branca, fica mesmo como eu gosto. Bom proveito!
E no fim, não se a patroa ou a mãe dela exclamam: "Rosalina, a roupa está boa!"

Um anúncio solarengo e linear mas com vários momentos marcantes: o ladrar de um cão que se ouve ao início mas que nunca aparece na imagem, o marido da patroa (que é quem terá cozinhado as favas servidas aos clientes) a esfregar um facão no outro, a mãe da patroa encostada à ombreira da porta a verificar pelo olfacto se a roupa está bem lavada, a cliente sentada à mesa que acaricia a cara com um guardanapo, um momento de ternura entre a patroa e o marido, abraçando-o e compondo a gola da camisa branca dele (seguramente lavada com OMO). E sobretudo a jovem Rosalina que é presença constante ao longo do anúncio, primeiro a amassar um pão, depois a seguir as várias ordens da patroa às quais ela anui sem parecer muito incomodada com tanta ordem em tão pouco tempo e por fim, a sorrir por entre a brancura das roupas estendidas.

Já na altura, sempre que este anúncio passava na televisão, a minha atenção acabava sempre por ir para à Rosalina. E ainda hoje tenho a teoria que, apesar das hospitalidades da patroa e dos cozinhados do patrão, era Rosalina, executando diligente e silenciosamente as várias tarefas, a verdadeira razão da prosperidade daquele restaurante, percursor da chiqueza que o conceito de turismo rural viria a ter anos mais tarde. 

E escusado será dizer que enquanto este anúncio do OMO esteve no ar, as Rosalinas deste país tiveram que ouvir dezenas de vezes por dia o bordão: "Rosalina, a roupa está boa!". Como por exemplo, uma rapariga que andava na minha escola (na altura ela estava do 5.º ano e eu no 6.º), a qual eu me lembro que sempre que um engraçadinho lhe dizia "Rosalina, a roupa está boa!", ela respondia invariavelmente "Então vai apanhá-la!"

Bónus: um anúncio do OMO dos anos 60



quarta-feira, 6 de outubro de 2021

2.º Aniversário SIC (1994)

por Paulo Neto

Em dia de mais um aniversário da SIC, proponho recuar até a 6 de Outubro de 1994 para recordar um programa especial do segundo aniversário da SIC disponibilizado no YouTube pelo canal TV Antiga.

Ao longo do primeiro ano a SIC voou baixinho deixando que Portugal estranhasse e depois entranhasse novas formas de se fazer televisão, diferentes daquelas que o país conheceu ao longo de mais de trinta anos de monopólio da RTP. E como se tivesse captado nos portugueses esse desejo de mudança e novidade, o segundo ano de exibições foi de confronto directo com a RTP, estreando um conjunto de programas que viriam a tornar-se icónicos na história da televisão portuguesa. Embora a RTP ainda fosse a líder no geral, a SIC já dominava no horário nobre e seria uma questão de tempo até alcançar a liderança total.

Era portanto em clima de autocelebração que a SIC completava o seu segundo aniversário, com uma emissão que se estenderia pela noite fora e ao longo desse dia. Foi logo à meia-noite que os festejos iniciaram-se com o programa especial "Aniversário SIC" conduzido por Rodrigo Guedes de Carvalho, então ainda com apenas 30 anos.

Este programa era uma espécie de balanço do segundo ano da SIC com os momentos e as conquistas que marcaram o canal nos últimos doze meses. Rodrigo Guedes de Carvalho conduzia este programa caminhando pelos míticos estúdios de Carnaxide (que cheguei a visitar uma vez em 2004). 

Para começar, a cobertura das Eleições Autárquicas, o primeiro acto eleitoral nacional da existência da SIC, que tiveram lugar a 12 de Dezembro de 1993: vemos Júlia Pinheiro a perguntar Edite Estrela, que viria ser eleita para a Câmara de Sintra, se estava nervosa e Ricardo Costa a José Luís Judas, idem para Cascais, se o sindicalismo era mais fácil que estas eleições. Macário Correia, que concorria para a Câmara de Lisboa, garantia que tinha o melhor programa eleitoral; o Major Valentim Loureiro, eleito para Gondomar, afirmava que tinha ganho a muita gente, apesar do seu adversário dizer que o major iria perder fora de casa; Jorge Sampaio, reeleito para Lisboa, saudava a SIC enquanto um repórter enfrentava um banho de multidão para as declarações de Fernando Gomes, reeleito como edil do Porto.


 

Doze dias depois, na véspera de Natal desse ano, a transmissão na SIC do filme "Sozinho Em Casa" (ainda antes de se tornar algo recorrente na televisão nacional durante a quadra natalícia) teve uns impressionantes 67.1% de share. 

A 12 de Junho de 1994, novas eleições, desta vez para o Parlamento Europeu. Uma jornalista importunava o lendário Álvaro Cunhal, que estava descansado num café a comer uma tarte, para uma reacção deste às sondagens da SIC. Anabela Neves e Ricardo Costa inquiriam Jorge Coelho e outros jornalistas marcavam cerradamente Cavaco Silva e Eurico de Melo. Já António Guterres aproveitava o dia para anunciar a slogan do PS para as legislativas do ano seguinte, "A Nova Maioria" e quando Ricardo Costa questionou se devido à pequena margem de vitória nas Europeias se tinha sido o dia correcto para tal, Guterres replicava que tal como no futebol, no fim o que as pessoas se lembram é que foi o vencedor e não tanto do resultado ou se foi a penáltis. 


Por ocasião dos 20 anos do 25 de Abril, a SIC promoveu alguns debates onde se discutiram os efeitos a longo prazo da Guerra Colonial cujos demónios ainda pairavam sobre muitos portugueses e foi revelado que Marcelo Caetano preparava uma retirada das colónias antes da Revolução. Foi também exibido o programa "20 anos, 20 nomes" onde Miguel Sousa Tavares entrevistou vinte figuras que tinham marcado o país nos últimos vinte anos, como "o exilado que chegou a Presidente" (Mário Soares), "o economista que chegou a Primeiro-Ministro" (Cavaco Silva) e "o humorista que diz ter olho em terra de cegos" (Herman José). Também foi neste ano que estreou com grandes taxas de audiência o controverso "Casos De Polícia".

A informação da SIC também esteve atenta a vários acontecimentos internacionais como as tensões na África do Sul, antes e depois das primeiras eleições universais que elegeram Nelson Mandela, com Paulo Camacho a testemunhar um desses tumultos em Tokosa; quando a 1 de Maio Ayrton Senna perdeu a vida no Grande Prémio de São Marino, a SIC e a Globo fizeram um simultâneo de três horas na despedida ao às brasileiro do Fórmula 1; uma equipa liderada por Cândida Pinto fez da SIC a primeira televisão portuguesa no Polo Norte; a Irlanda continuava a braços com o conflito do IRA e uma esperança de paz nesse ano foi logo abalada; e mostraram-se as duas faces de Cuba, por um lado uma multidão dançando alegremente ao ritmos da salsa num concerto onde nem a chuva estraga a festa e por outro, o drama daqueles que se lançam em frágeis balsas e jangadas mar adentro em busca da ilusão de uma vida melhor.

O Verão quente de 1994 foi também o do Buzinão da Ponte, onde um protesto pelo aumento das portagens na Ponte 25 de Abril tomaram proporções violentas, tornando-se um dos maiores casos de desobediência civil em Portugal. 

Foi também nesse ano que a SIC obteve os direitos da cobertura da Volta A Portugal em Bicicleta (que transmitiria até 1997), que nesse ano seria vencida por Orlando Rodrigues. Claro que o velhinho tema da RTP da Volta À Portugal é mítico, mas o tema da SIC também ficou na memória: "Pedalar para vencer/ Para ganhar, outras vezes perder/ Percorrer este chão/ P'ra chegar a Saturno, Plutão!


E agora perdoem-me, mas vou ter de falar do "Perdoa-me", que tanta celeuma causou ao tentar reconciliar pessoas desavindas nos ecrãs da televisão mas que vingou nas audiências, chegando aos 56,8% de share. Tal foi o sucesso que até inspirou uma série da RTP que parodiava o programa, "Desculpem Qualquer Coisinha" (como diz o RGdC cheirando uma flores!).

Na frieza dos números, contra factos não há argumentos. E ao fim de dois anos, a SIC estreitava cada vez mais o fosso para a RTP em termos de share nacional (32,8% vs. 44,9%) e no chamado primetime, entre as 20 e as 23 horas a SIC já liderava (42,1% vs. 41.6% da RTP1 - com a TVI, ainda a uns bons anos da sua ascensão com 10,8%).

E sem dúvida que um dos maiores trunfos da SIC foram se dúvidas as telenovelas da Rede Globo (que detinha 15% do capital inicial da SIC) que transitaram da RTP para a SIC. Ainda em finais de 1993, exibiu "Renascer", mas foi com "Mulheres De Areia" que agarrou o público noveleiro. A telenovela em que Glória Pires celebremente desempenhou as gémeas Ruth e Raquel estreou em Portugal no dia 31 de Janeiro de 1994, o mesmo dia em que a SIC passou a abrir a emissão às 12 horas durante a semana e passou a exibir os noticiários no mesmo horário que a concorrência (até então por exemplo o "Jornal Da Noite" dava às 20:45). E o sonho seu de conquistar o horário do final da tarde concretizou-se com a telenovela "Sonho Meu", onde a história da pequena Maria Carolina comoveu os portugueses. 

Mas nem só do Brasil choviam estrelas na SIC. O "Chuva De Estrelas" rapidamente tornou-se uma das joias da coroa da estação e não poderia ter havido maior estrela para vencer a primeira edição do que Sara Tavares, que quando deu por si estava a chamar a música em Dublin na Eurovisão. E claro está, a maior estrela a chover na galáxia SIC foi Catarina Furtado, que não cantava mas encantava Portugal. Um autêntico dilúvio nas audiências que chegaram aos 60,8% de share.
A chuva continuou mais miudinha mas igualmente bem-sucedida com o "Mini Chuva De Estrelas", onde "todos juntos, todos juntos" os petizes portugueses imitavam em playback as estrelas maiores sob apresentação de Margarida Reis. 

Mas voltando a Catarina Furtado, ela não só encantava o país como voava pelos céus de Portugal num "Caça Ao Tesouro", outro programa do panteão da SIC. Sem desprimor para Henrique Mendes e Rita Blanco, que a par dos concorrentes, ajudavam-na (embora Blanco por vezes desajudava) a encontrar as várias moedas e o tesouro final.  

Também marcante foi o "Ora Bolas, Marina". Ainda antes dos "Malucos do Riso", Marina Mota, Carlos Cunha e companhia recriavam várias anedotas, como esta do casal recém-casado em que o noivo exibe orgulhosamente a sua dinamite muscular mas a noiva está mais preocupada com a falta de rastilho… Mas o programa também recriou alguns quadros do teatro de revista e deixou também os sketches dos terríveis Bitucha e Cunhinha e as canções dos roqueiros Us-Batná-Vó. 


Ainda faltavam mais de vinte anos para a SIC casar pessoas à primeira vista, mas já então houve casais portugueses que, já se conhecendo há bem mais tempo, tiveram o seu casamento transmitido no pequeno ecrã. Foram "Cenas De Um Casamento" que Portugal viu (e muito que Guilherme Leite deve ter aproveitado os copos de água!). 

Semanas antes, já com a grelha da rentrée 1994/95 em curso, o "All You Need Is Love" foi uma das maiores apostas da SIC. Camões pode ter dito que o amor é fogo que arde sem se ver, mas nas quartas-feiras de então, esse amor podia ser um pouco mais visível, com Lídia Franco na condução do programa. 

Ainda no ano 2 da SIC, duas formas diferentes de entrevistar: em vez de ali ao lado, "O Pecado Mora Aqui" com Paula Moura Pinheiro (então casada com RGdC) numa conversa sobre os pecados capitais com aqueles que os cometeram; e depois houve as figuras públicas que não recusaram o convite para estar "Na Cama Com" Alexandra Lencastre e levantarem um pouco do lençol da vida privada. 

Os programas de moda também eram então um marco da SIC, como foi o caso da "Moda Roma" onde modelos internacionais (incluindo a rainha Claudia Schiffer) desciam a grande escadaria da Piazza De Spagna da capital italiana envergando as criações do grandes criadores italianos. E nem só de cores se fez o segundo ano da SIC, uma vez que promoveu um ciclo de cinema dedicado a Charlie Chaplin onde foram exibidas todas as grandes metragens que protagonizou e realizou. 

Outros filmes e séries internacionais passaram nesse ano pela SIC, com destaque para a badalada "Balada De Nova Iorque". A série policial, protagonizada por Dennis Franz e David Caruso, estreada em Setembro de 1993 nos EUA e na SIC meses depois colecionava louvores e prémios.



Para terminar, a vinheta dos 2 anos de SIC onde os nomes de vários programas desfilavam numa esfera. 

Por estes dias, a SIC também exibia o segmento "A SIC Mudou A Minha Vida" com depoimentos de alguns daqueles que passaram pelos programas da estação. Como foi o caso de Cristiana e Miguel, um dos casais de "Cenas De Um Casamento", que revelaram que a romântica cena que filmaram na praia foi feita num dia de pouco sol e que a madrinha de Cristiana que vivia em França e de quem perdera o contacto há quinze anos, viu o programa deles quando veio a Portugal e conseguiu através da SIC voltar a falar com a afilhada.

Para terminar e porque ainda estávamos a um ano e meio de se consolidarem no "Contra-Informação" da RTP, temos alguns pequenos sketches com bonecos políticos e não só, que marcaram presença nos programas "Jornalouco" e "Cara Chapada". Como se pode ver, pela madrugada dessa noite foram exibidos vários filmes (como "Let's Make Love" com Marilyn Monroe) e um concerto de Luciano Pavarotti em Modena. Para a noite, o ponto alto seria o especial "As Nossas Estrelas" com as caras da SIC também a querem cantar ou encantar no palco do "Chuva De Estrelas". 

Programação da SIC do dia 6 de Outubro de 1994
Fonte: "A Comarca De Arganil"



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...