Nos tempos em que a televisão parava o país e só havia dois canais, tudo o que passava na caixinha mágica deixava a sua marca: não só os programas, mas também os separadores, os momentos de continuidade e claro, os anúncios publicitários aos mais diversos tipos de serviços e produtos. E para quem foi criança nos anos 80 como eu, foi provavelmente através da televisão que soube da existência de certos produtos, como os preservativos. Mesmo que ainda faltasse muito tempo para ver um preservativo ao vivo, quanto mais dar-lhe qualquer tipo de uso.
Consta que os primeiros preservativos a serem comercializados remontam ao século XVII, quando eram feitos a partir de tripa animal, para evitar gravidezes indesejadas e a doença venérea mais temida da altura, a sífilis. Com o tempo, passaram a ser feitos de outros materiais (em especial o látex) e a serem mais fáceis de usar e de aceder e na segunda metade do século XX, a comercialização de preservativos foi gradualmente aumentando a sua importância junto do mercado de saúde e higiene. O principal ponto de viragem foi anos 80, onde além da prevenção contraceptiva, os preservativos revelaram-se essenciais para a prevenção de uma nova doença que se propagava de forma alarmante no mundo inteiro: a SIDA. E com tudo isso em jogo, a necessidade de prevenção foi-se sobrepondo paulatinamente à vergonha de ter de comprar preservativos nas farmácias diante de estranhos (e sobretudo diante de conhecidos).
Entre as principais marcas de preservativos, uma destacou-se desde logo em Portugal através das suas campanhas publicitárias: a Control, criada em 1946 em Itália pelo grupo Artsana. E nos anos 80, uma campanha vencedora marcaria a publicidade televisiva sem sequer mostrar os ditos cujos preservativos. Bastava uma beldade que aparentava não trazer roupa vestida a olhar sorridente para a câmara e dizer em italiano a célebre frase: "Ho fatto l'amore con control." Depois vinha uma voz em português: "Preservativos Control. Porque amar é natural." Chegou a haver algumas versões em que a beldade italiana era dobrada em português com a frase a transitar do pretérito perfeito para o presente do indicativo ("Eu faço amor com Control!")
E se bem se lembram, em alguns deles tocava uma musiquinha romântica de guitarra. Como é o caso deste na versão original com narração em italiano.
E porque já então haveria alguma preocupação com a equidade entre os géneros, chegou a haver um anúncio em que quem olhava para a câmara e dizia a célebre frase era um senhor que ostentava um magnífico bigode.
Para muitos de nós, "Ho fatto l'amore con Control" foi provavelmente a primeira frase em italiano que ouvimos na vida e claro que teve todo o tipo de paródias, quer nas galhofas entre colegas de escola quer em programas de comédia na televisão. Por exemplo, no episódio do "Euronico" dedicado à Itália, havia um sketch em que um Luís Aleluia todo ferido e enfaixado dizia para a câmara: "Ho fatto l'amore senza Control".
Claro que esta não foi a única campanha marcante da Control. Sempre na vanguarda do mercado, nos anos 90, lançaria um daqueles anúncios que marca uma geração. O anúncio "De quem é isto?" em que um professor com um ar mega-austero acha um preservativo na sala de aula e profere a dita pergunta com uma severidade algo desmedida. Um aluno de óculos, meio envergonhado e já antecipando uma descompostura, levanta-se e diz "É meu." mas pouco depois, os outros colegas vão se levantando e reclamando a propriedade do preservativo num misto de solidariedade e rebeldia.
Depois de quase 3 minutos de cães a tentar apanhar frisbees, e de letras dos créditos que ninguém lê, começa o filme propriamente dito. É o dia 4 Julho de 1978 e o jovem David (Joey Cramer) entra na mata ao anoitecer para ir buscar Jeff (Albie Whitaker), o irmão que já estava atrasado para a família poder ir lançar fogos de artificio. Portanto, no tempo que os putos podiam ir para casa sozinhos e manusear vários quilos de explosivos (cá em Portugal contentávamo-nos com algumas bombinhas no Carnaval). Mas David perde-se entre as árvores, e cai num buraco. Quando recupera os sentidos e regressa a casa, tudo começa a correr mal, na casa de família vive agora um casal de idosos que não conhece. A polícia consegue reuni-lo com a família mas o choque é enorme quando descobre que esteve desaparecido durante oito anos e foi dado como morto. Ele continua a ter 12 anos mas a mãe, o pai e o irmão mais pequeno (agora o actor Matt Adler) estão quase uma década mais velhos. David está não em 1978, mas em 1986, o presidente americano já não era Jimmy Carter e ainda a Sarah Jessica Parker não tinha cara de cavalo. Entretanto, um OVNI é capturado depois de colidir com cabos de alta tensão. Os cientistas não conseguem penetrar no casco da nave, mas quando os médicos que estão a acompanhar David lhe fazem testes, torna-se óbvia a ligação deste a uma entidade exterior. David é levado para as instalações da NASA com a desculpa de ser testado mas com o propósito de conseguirem informações sobre a relação que este tem com o veículo alienígena.
David tenta fugir com a ajuda de Carolyn (Sarah Jessica Parker) mas é a própria nave que lhe proporciona os meios de fuga, ou melhor dizendo, a Inteligência Artificial que conduz a nave, Trimaxion Drone Ship abreviado para Max (voz de Paul Reubens). Entretanto já tinha sido esclarecido o pormenor intrigante da diferença temporal: David foi levado por Max na nave até outro planeta, e devido à velocidade da viagem mais rápida que a luz, para David passaram apenas cerca de 4 horas mas no planeta Terra já se tinham passado oito anos. Max precisa da informação armazenada no cérebro de David para recuperar as cartas de navegação e poder regressar ao planeta de origem.
Existem umas quantas cenas manipuladoras, em parece que vamos ver um OVNI, mas era só um frisbee, um zeppelin ou um depósito de água (verdade seja dita, na minha zona há um velho depósito de água que parece um OVNI). Um pouco como os filmes de terror em que parece que o monstro vai atacar mas era só um gato a saltar do armário. Mas a primeira metade consegue manter uma boa tensão, algum mistério sobre o que aconteceu durante o desaparecimento, e o está a acontecer no laboratório, quais as intenções dos cientistas - liderados pelo Dr. Farady - que estudam a nave e David e até onde são capazes de ir. E até a inteligência artificial - que raptou David e o levou ao planeta Phaelon para ser analizado - apesar dos comentários divertidos, é por vezes ambígua... Das inevitáveis referências a outros filmes de ficção-cientifica, como "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" ou "E.T. O Extraterrestre", a que achei mais divertida foi a do "He just said that wanted to phone home", quando David faz uma pausa na fuga para telefonar aos pais e conseguir orientações.
O trailer:
Imagino que a nave cromada - criada em computador - também deve ter servido de inspiração para as naves da rainha de Naboo nas prequelas de a Guerra das Estrelas. O puto não tem tanto carisma como outros em filmes da década - ou pelo menos não tem uma personalidade tão excêntrica - mas desenrasca-se muito bem nas cenas mais emocionais, apesar de noutras parecer estar a fazer um grande frete. Fica a sensação que o filme podia ter ido um pouco mais longe, mas apesar do elemento sci-fi tentou manter dentro do possível os personagens com os pés assentes no chão - apesar dos longos voos - e sem nunca deixar esquecer a família, mas sem ser muito lamechas. Aliás, a família de David deve ser das menos disfuncionais do cinema juvenil dos 80s, mas pronto, é um filme com a chancela Disney (apesar de basicamente a Disney só ter aceite distribuir a co-produção de Producers Sales Organization e a empresa norueguesa Viking Films).
No IMDB não consegui encontrar informação de estreia em Portugal de "Flight Of The Navigator". A Wikipedia indica o título "O Voo do Navegante" e suspeito que tal como no Brasil (O Voo do Navegador) tenha ido directamente para vídeo, depois do fracasso nos EUA. Passei revista ás estreias entre 1986 e 1988 em Portugal e não encontrei vestígios dela nas páginas de cinema do "Diário de Lisboa". Se algum leitor possuir mais informação, faça favor de partilhar nos comentários!
Resumindo, um simpático e perfeito filme para toda a família. Quando o escolhi da lista de "filmes-dos-anos-80-para-ver" tinha receio que fosse semelhante demais ao "Os Exploradores" (1985), devido á temática similar de adolescentes a bordo de naves espaciais. Envelheceu bem, tem um pouco de aventura, mistério e aquele sentimento de excitação e deslumbramento que aparentemente só os filmes juvenis dos anos 80 podiam proporcionar.
Depois do êxito colossal do "Star Wars" de 1977 ("A Guerra das Estrelas") havia a vontade geral de produzir um êxito espacial que aproveitasse essa tendência. Muitos tentaram e quase tantos fracassaram. Tive conhecimento deste exemplar em 2015, e na época descrevi-o assim:
"Provavelmente encontrei por acaso o novo Rei da Chungaria. Se há coisa que adoro mais de cópias, são cópias descaradas.
Estava a navegar por albuns do Pinterest, quando num grupo de capas de revista sci-fi dos anos 70, saltou à minha face, uma versão que faz lembrar "levemente" o vilão Darth Vader. A legenda da foto não engana: "Darth Who"?"
"Julguei ser algum vilão da série clássica do "Doctor Who", mas com uma pesquisa rápida percebi que é o malvado "Graal"; do filme italiano "The Humanoid" ("L'umanoide"), que vi descrito como um bizarro clone de "Star Wars". E sim senhor, parece-me uma boa descrição."
"A cena inicial do trailer, que duplica a melhor abertura do cinema de sempre, já me deixou a salivar para ver o filme. Mas fiz pause para vir aqui começar a escrever.
Vou agora voltar ao vídeo. Espero que não desiluda."
Trailer:
Um clipe do filme:
Podem ver o filme completo no Youtube:
"Depois de visto o trailer e o clipe, nota-se as "influências" de "A Guerra das Estrelas", mas têm um arco bem diferente, em redor da criação forçada do humanóide que dá titulo ao livro.
Provavelmente reconhecerão a bond girlBarbara Bach - Lady Agatha, e o seu generoso decote - e o bond villainRichard "Jaws" Kiel e a sua "beleza" peculiar, transformado no humanóide. Aposto que a Evil-Lyn dos Mestres do Universo tirou umas dicas das vestimentas desta Lady Agatha.
A banda sonora esteve a cargo do mestre Ennio Morricone, e temos ainda direito a um droid canino, talvez inspirado pelo Muffit II da Galactica e pelo K-9 do Doctor Who. Fiquei mesmo interessado em ver, vai para a watchlist."
Nota: Passados quase 4 anos, ainda não o vi por completo.
A fita estreou em Portugal a 28 Fevereiro de 1980. O realizador foi George B. Lewis, o nome americanizado do italiano Aldo Lado, a tentar emular o êxito de George Lucas, o criador do universo da Guerra das Estrelas.
"Diário de Lisboa [28-02-1980]"
No Diário de Lisboa a reacção da critica foi a esperada:
"Abrindo a via para a ficção-spaghetti, este filme é uma das coisas mais débeis que me foi dado a ver nos últimos meses. A ficção cientifica prostituída pelas hienas seguidoras do leão americano."
"Diário de Lisboa [08-03-1980]"
E ainda foi brindado não com apenas uma estrela, mas com um bolinha preta, "A evitar".
Quando se fazem listas de injustiças nos Óscares, volta e meia é discutido o merecimento de "A Paixão de Shakespeare" da estatueta de Melhor Filme de 1998, sobretudo quando concorria contra títulos como "Elizabeth", "A Vida É Bela", "A Barreira Invisível" e sobretudo, "O Resgate do Soldado Ryan" (e ainda para mais sabendo que por detrás de tudo isso houve uma campanha cerrada movida por um tal de Harvey Weinstein). Seja como for, "A Paixão de Shakespeare" é um dos meus filmes preferidos de sempre. Foi o primeiro filme que decidi rever no cinema por exclusiva vontade própria, se bem que em salas de cinema (e cidades) diferentes. E também me fez comprar um exemplar de "Romeu e Julieta", mais concretamente uma edição de bolso que continha o original em inglês e a tradução em português.
Realizado por John Madden, "A Paixão de Shakespeare" tinha um elenco luxuosíssimo com Gwyneth Paltrow, Joseph Fiennes, Geoffrey Rush, Ben Affleck, Judi Dench, Colin Firth, Imelda Stauton e Rupert Everett. Como o próprio nome indica, o filme prestava homenagem a William Shakespeare, não tanto através de factos históricos, mas tornando-o personagem de uma história que mesclava várias das suas peças.
Em 1593, William Shakespeare (Fiennes) é actor no Rose Theatre, propriedade de Philip Henslowe (Rush) e um dramaturgo em crise de inspiração, que há demasiado tempo que não consegue progredir na escrita de sua nova peça, "Romeu e Ethel, a Filha do Pirata". O facto de não conseguir vender a sua peça ao teatro rival Curtain Theatre e de descobrir que Rosaline (Sandra Leinton), a mulher que ele anda a catraspiscar, é amante de Edmund Tilney (Simon Callow), o Master Of Revels (um cargo que é uma espécie de mistura de Ministro da Cultura com chefe da Censura) só complica mais as coisas, acrescendo ainda o facto de Henslowe estar a ser brutalmente pressionado pelo seu credor Frennyman (Tom Wilkinson) para saldar as dívidas. E depois há ainda o autor rival Christopher Marlowe (Everett) que vive o sucesso com a suas obras, para inveja de Shakespeare.
Entretanto, Lady Viola de Lessops (Paltrow) é uma bela dama, filha de um mercador rico, que adora assistir a peças de teatro. Viola sonha em ser actriz e ter uma vida bem diferente daquela que lhe está traçada, mas não só as mulheres estavam proibidas de actuar em teatros como está prometida em casamento a Lord Wessex (Firth), um pérfido aristocrata. Mesmo assim, Viola decide prestar audições para a nova peça de Shakespeare disfarçada de um rapaz chamado Thomas Kent e impressiona o dramaturgo com o seu talento.
Eventualmente William descobre a identidade dela e os dois iniciam um apaixonado romance secreto, com a cumplicidade da ama de Viola (Stauton) e os acontecimentos desencadeados inspiram o dramaturgo a escrever "Romeu e Julieta", onde entrarão o famoso actor Ned Alleyn (Affleck) e o próprio Fennyman que entretanto se deixou fascinar pelo mundo do teatro dos seus devedores.
Por entre várias peripécias, algumas divertidas, outras dramáticas, tudo culminará na representação da peça onde Will e Viola a desempenhar o par protagonista e uma intervenção inesperada da Rainha Isabel I (Dench) a seu favor. Mesmo com o amor de ambos condenado pela força do destino, Shakespeare imortalizará a sua amada, dando o seu nome à protagonista da sua peça seguinte, "Noite de Reis".
Pode nunca livrar-se do carimbo de sobrevalorizado, mas para mim, "Shakespeare In Love" é um filme bem conseguido em toda a linha, alcançando um equilíbrio perfeito entre comédia e tragédia, e até deitando uns pozinhos de erotismo (a imagem de Viola a ser desenrolada das suas faixas é icónica!). Todo o elenco dá uma boa prestação e se tal como o Óscar de Melhor Filme, existe margem para se discutir se Gwyneth Paltrow merecia a estatueta de Melhor Actriz (quando uma das outras nomeadas foi a brasileira Fernanda Montenegro), não há dúvida que raramente a vimos com tanto carisma e luminosidade. Com este papel e o de "Elizabeth", estreado no mesmo ano e outro rival dos Óscares, foi o único período em que Joseph Fiennes conseguiu ofuscar a notoriedade do seu irmão Ralph (e acho que também merecia ter sido nomeado para Melhor Actor).
Além de Paltrow, Judi Dench ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária, embora só apareça em três cenas e o filme foi ainda distinguido com as estatuetas de Melhor Argumento Original, Melhor Direcção Artística, Melhor Banda Sonora Comédia ou Musical e Melhor Guarda-Roupa.
Em 2014, o filme foi adaptado para uma peça de teatro.
O ano de 1999 foi um bom ano para o cinema, e na TV a maioria das listas recordam a série de mafiosos "Sopranos" que foi exibida pela primeira vez a 10 de Janeiro. Mas no mesmo dia, noutro género, outra série deixou a sua marca na cultura pop, a animação "Batman Beyond" ou "Batman do Futuro" em Portugal e no Brasil.
Quando comecei a acompanhar na RTP-2 as aventuras deste "Batman do Futuro" várias vezes fui recordado da banda desenhada que saiu uns anos antes na concorrente Marvel, "Homem-Aranha 2099". E esse Homem-Aranha do futuro tinha um uniforme, personalidade, poderes e um tom muito diferente do "original" mas também combatia versões futuristas dos vilões tradicionais. Mas é basicamente por ai que terminam as comparações entre o Homem-Aranha e o Homem-Morcego do futuro. O "Batman" de Batman Beyond é um herói que segue a legacia e o seu mentor é o Batman "original", o idoso e reclusivo Bruce Wayne (por Kevin Conroy, que dá voz ao Cavaleiro das Trevas de 1992 até à actualidade), numa continuação directa das séries "Batman The Animated Series (1992-95)" e "The New Batman Adventures" (1997-99). O primeiro e terceiro Robin, a Batgirl e a Catwoman ainda são vivos mas também penduraram a capa. O Batman reformou-se e só décadas mais tarde encontra substituto no adolescente que assume o manto (metafórico, visto que o uniforme de alta tecnologia não tem capa). Terry McGinnis (Will Friedle) descobre a identidade secreta de Bruce Wayne e depois do velho vigilante negar ajudar a vingar a morte do pai, Terry rouba o uniforme do Batman para tentar levar o vilão Powers à justiça. A contragosto Bruce aceita treinar Terry para combater o crime que devasta Neo-Gotham. O novo Batman, além de vários vilões, novos e outros recauchutados, tem também uma galeria de aliados, como Maxine Gibson (Cree Summer), uma hacker extraordinária, ou a Comissária da Polícia, Barbara Gordon (Stockard Channing, Angie Harmon e Tara Strong) a antiga Batgirl; e o cão de guarda de Bruce, o fiel Ace (Frank Welker, o eterno Megatron). A relação de Terry com Bruce não começa bem, mas com o tempo o rabugento velho herói e o impulsivo jovem (que serve como seu aprendiz, mordomo e ainda tem que lidar com a sua vida familiar, social e escolar) desenvolvem um respeito mútuo e uma ligação quase paterna.
No dia 10 de Janeiro de 1999 foi emitido o primeiro de 52 episódios, cujas três temporadas se estenderam até 18 de Dezembro de 2001. Houve ainda um filme, "Batman Beyond: Return Of The Joker" em 2000. Apesar de existirem planos para uma quarta temporada, foi dada prioridade à animação da "Justice League", e posteriormente "Justice League Unlimited" onde o Batman do Futuro participou de alguns episódios, onde foi revelada uma ligação mais directa a Bruce Wayne... De resto, esta versão do Batman continua a surgir nas páginas da banda desenhada.
Tal como a Enciclopédia de Cromos, o Diogo Batáguas também uma tradição de recordar coisas que aconteceram há 20 anos e no seu mais recente vídeo sobre o ano de 1999, um dos acontecimentos que ele refere é o fim das Antilook, uma girlband composta por cinco conhecidas modelos nacionais. Batáguas salienta que alguém criou em 2013 uma página no Facebook dedicada ao grupo e que o último post era de 2016 em que perguntavam como descobriram a música das Antilook e na altura do vídeo não havia nenhuma reposta nem nenhum like. Mas depois do vídeo, na altura em que escrevo isto, esse post conta com mais de 2000 likes, 613 comentários (quase todos sarcásticos) e 14 partilhas. E como tal, porque não recordar a fugaz ascensão e queda das Antilook?
Em 1998, Portugal estava rendido à moda das boybands e girlbands nacionais e por entre Excessos, Milénios, Tentações, D'Arrasares e afins, surgiu a notícia de que cinco das nossas mais bonitas e famosas manequins tinham decidido formar uma girlband e gravar um disco. Essas cinco manequins eram Rute Marques, Luísa Beirão, Evelina Pereira, Raquel Loureiro e Vera Deus. Rute Marques era na altura conhecida por condução de alguns programas da RTP como "Despedida de Solteiro" com José Jorge Duarte e a temporada final de "Isto Só Vídeo", Luísa Beirão era uma das modelos mais requisitadas pelos estilistas nacionais tendo sido eleita para uma campanha portuguesa da Tommy Hilfiger, Evelina Pereira dera na vistas na final nacional de 1996 de "Supermodel Of The World" (apesar de não ter ganho a dita) e Vera Deus e Raquel Loureiro eram conhecidas dos portugueses como duas das míticas assistentes do "Ai Os Homens".
Dado o gabarito destes cinco nomes, gerou-se alguma expectativa: será que estas cinco beldades além de brilharem nas passerelles e nas sessões fotográficas nacionais, também tinham queda para a música? E a resposta foi: Nem por isso.
Antes do álbum homónimo editado no princípio de 1999, surgiu ainda em 1998 o primeiro single "Refúgio". E o resultado está à vista (e ao ouvido).
Pois é, nem mesmo com autotune isto ia lá. A minha parte preferida é o solo de Vera Deus em vocoder nasalado: "Vais-te dar, vais-te dar, vais fazer-me arrepiar...". Não foi possível encontrar na internet o videoclip, mas lembro-me que era todo a preto e branco com as cinco todas com um ar glamouroso num ambiente semelhante a uma sessão fotográfica.
Apesar de todos os esforços da editora para promover o projecto como algo sério, com presenças na televisão e algumas actuações ao vivo, não tardou a que as Antilook fossem alvo de piadas e que fossem apontadas como um exemplo do velho cliché das modelos burras. Assim, o projecto acabou por ser concluído ao fim de cerca de um ano.
Desde então:
- Rute Marques apresentou o programa "Reis da Música Nacional" com Pedro Miguel Ramos entre 1999 e 2000. Venceu a segunda edição de "A Quinta das Celebridades" em 2005 e teve alguns pequenos papéis nas telenovelas "Fala-me de Amor" e "Morangos Com Açúcar" e em "Maré Alta", mas desde 2006 que se tem afastado da vida pública. O seu momento de maior visibilidade desde então foi uma entrevista de 2014 no programa das manhãs da CMTV que a fez literalmente cair da cadeira.
Evelina Pereira com Justin Timberlake em "Amigos Coloridos"
- Evelina Pereira continuou a sua carreira como modelo em Portugal e no estrangeiro. Chegou a namorar com Luís de Matos, num paralelo tuga à famosa relação entre David Copperfield e Claudia Schiffer. Actualmente vive em Los Angeles, onde tem feito trabalhos como actriz, o mais famoso como protagonista na produção luso-americana "Contraluz" de 2010. Entrou também no filme "Amigos Coloridos" com Justin Timberlake (era a rapariga belga que lê Nicholas Sparks) e teve pequenos papéis na série "Nip/Tuck" e nos filmes "Ocean's Thirteen" e "Hora de Ponta 3". Em Portugal, entrou no filme "O Fascínio" de José Fonseca e Costa.
- Vera Deus não apareceu mais na televisão depois do fim do "Ai, Os Homens". Segundo as redes sociais, trabalha na Escola de Moda do Porto. Quando fiz o texto sobre o "Ai, Os Homens", enviei-lhe um link via mensagem privada do Facebook, ao que ela respondeu:
Se a Vera estiver a ler isto, o meu convite para ela partilhar com a Enciclopédia algumas das suas memórias sobre o "Ai, Os Homens" e/ou as Antilook, mantém-se.
- Luísa Beirão ainda faz alguns trabalhos como modelo e aos 41 anos, tem uma figura de fazer inveja a muita moçoila. Mas nos últimos anos também sido notícia por motivos mais tristes, alegando ter sido vítima de violência doméstica por parte de dois dos seus relacionamentos, um deles com o seu ex-marido, o antigo futebolista Miguel Pedrosa, de quem teve dois filhos.
- Além de ocasionais biscates como modelo e actriz, Raquel Loureiro tem-se dedicado sobretudo aos seus trabalhos como empresária na área da moda e restauração. Em 2003, foi eleita a Rainha Internacional do Café, um dos eventos do maior certame anual de comércio e exportação do café na Colômbia. Como actriz, o seu papel mais conhecido é o de Maria da Graça nos sketches das "Três Marias" ao lado de Fátima Preto e Marta Pereira em "Maré Alta" ("Eeeeeeeh!"), tendo também entrado nos "Malucos Do Riso" e nas telenovelas "Floribella" e "Louco Amor" e participado também em "Biggest Deal".
É bom saber que as cinco continuam sendo belas mulheres e que o projecto das Antilook não passou de um pequeno percalço nas suas prosperidades.
E não é que já estamos em 2019? Dois. Mil. E. Dezanove. Sim, estamos no final da segunda década do século XXI. E apesar da tecnologia ter mais do que nunca um papel preponderante nas nossas vidas, ainda não andamos todos de nave espacial ou afins, e muitos dos cenários futuristas com que mentes do século XX imaginavam 2019 (como por exemplo no filme "Blade Runner") ainda não se confirmaram.
Por outro lado, julgo estar longe de ser o único a sentir que, apesar de já lá irem vinte anos, as memórias do ano 1999 ainda estão relativamente fortes na memória colectiva. 1999 foi o último ano da década de 90 e apesar de ser bastante discutível afirmar que foi também o último ano do século XX e do segundo milénio depois de Cristo (matematicamente será mais correcto dizer que o dito século/milénio só terminou de facto em 2000), foi sem dúvida um ano de retrospectivas e balanços um pouco por todo o mundo, onde se reflectiu em todos os avanços e passos em falso da Humanidade até então e fizeram-se todo o tipo de listas de melhores do século ou do milénio.
Por tudo isso e muito mais, impões que pelo terceiro ano consecutivo eu elabore mais um texto "20 coisas que aconteceram há 20 anos". Sem dúvida que 1999 foi um ano que esteve à altura do misticismo atribuído (talvez mais até que o ano 2000) e por isso vale a pena revisitar.
1. Calou-se a voz de Portugal
Amália Rodrigues (1920-1999)
A 6 de Outubro, o país acordou com a notícia da morte de Amália Rodrigues, um dos nossos maiores ícones portugueses do século XX (quiçá de sempre), encontrada já sem vida em sua casa. Despedia-se assim deste mundo aos 79 anos a grande voz do fado que cantou como ninguém a alma portuguesa em todos os seus matizes. (Ser português é de facto uma estranha forma de vida!) Como se seria de esperar, a morte de Amália causou grande pesar junto da população e os seus ritos funerários foram feitos com as maiores honras. O Governo decretou três dias de luto nacional.
Também foi em 1999 que o mundo se despediu da cantora britânica Dusty Springfield, do cineasta Stanley Kubrick, da estrela de basebol - e um dos três homens a quem Marilyn Monroe chamou de marido - Joe DiMaggio, de John F. Kennedy jr., filho do presidente americano do mesmo nome, do Rei Hussein da Jordânia e de Scatman John, poucos anos depois de ter feito sucesso com hits como "I'm A Scatman" e "Scatman's World".
2. A organização do Euro 2004 foi atribuída a Portugal.
O peso de dois dos nossos três Fs - fado e futebol - fizeram-se sentir em força em Outubro de 1999 pois quatro dias após a morte de Amália, Portugal qualificava-se para o Euro 2000 e apenas dois dias depois, a UEFA atribuía a Portugal a organização do Euro 2004.
Competindo com as candidaturas de Espanha e da conjunta Áustria/Hungria, a candidatura portuguesa foi anunciada pela UEFA como vencedora a 12 de Outubro na cidade alemã de Aachen.
Os cinco principais rostos da candidatura portuguesa foram Gilberto Madaíl, Eusébio, Miranda Calha, José Sócrates (então Ministro Adjunto) e Carlos Cruz. (Sim, aos olhos de 2019, isso é cá um cringe!) e um dos pontos altos da campanha foi a formação a 24 de Julho de um logótipo humano da nossa candidatura, formado no Estádio Nacional por mais de 30 mil pessoas (e como já falei aqui, eu fui uma delas!).
Em 1999, Portugal demonstrou a sua capacidade de organizar competições desportivas com o campeonato mundial júnior de basquetebol no então Pavilhão Atlântico e os campeonato europeu de natação em piscina curta no complexo aquático do Jamor.
3. Mobilização por Timor
Mas não foi só o fado e futebol que galvanizaram a nossa nação em 1999.
Após a resignação do presidente da Indonésia Suharto, um referendo para a independência de Timor Leste foi marcado para 30 de Agosto de 1999 sob supervisão da ONU. 78,5% dos timorenses votaram a favor da independência mas pouco depois, milícias pró-integração protegidas pelo exército indonésio levaram a cabo uma onda de extrema violência e de devastação em Dili que se alastrou por outras partes do país, destruindo grande parte das suas infra-estruturas.
Manifestação em Lisboa (Avenida Fontes Pereira de Melo)
Essa brutal repressão e a resposta tardia da comunidade internacional gerou uma onda de contestação e solidariedade em Portugal com um grau de mobilização raramente visto desde o 25 de Abril. Primeiro com manifestações espontâneas, depois com iniciativas mais elaboradas como cordões humanos, minutos de silêncio, campanhas de donativos e concentrações com todos os presentes vestidos de branco, essas iniciativas aconteceram um pouco por todo o país ao longo do mês de Setembro desse ano. O governo de Portugal também agiu, pressionando as Nações Unidos para a criação de uma força internacional para restabelecer a ordem, o que veio acontecer quando uma força multinacional liderada pela Austrália, a UNAMET, neutralizou os conflitos. Timor Leste passou a ser administrado por uma unidade da ONU até ao seu estabelecimento definitivo como estado independente em 2002.
4. Nasceu o Euro
No início de 1999, uma moeda única europeia tornou-se uma realidade. É certo que ainda faltavam mais três anos até os europeus poderem ter moedas e notas dessa unidade monetária, o Euro, no bolso mas a 1 de Janeiro foi dado o primeiro passo, com Portugal e mais dez países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália e Luxemburgo) a poderem fazer transferências bancárias e pagamentos em cheque em Euros. Para Portugal, foi definido que um euro equivaleria a 200 escudos e 48,2 centavos, um valor quase redondo que sem dúvida facilitou as nossas contas de cabeça. (Nuestros hermanos tiveram que puxar mais pela cabeça com um euro convertido em cerca de 166 pesetas).
5. Houve um empate absoluto na Assembleia e nasceu o Bloco de Esquerda
No plano político nacional, 1999 foi marcado pelas eleições legislativas, realizadas a 10 de Outubro. O PS de António Guterres pretendia alcançar uma segunda legislatura, desta vez com maioria absoluta, mas acabou por ter um empate absoluto, pois os socialistas elegeram 115 deputados, precisamente tantos quantos o das outras forças políticas juntas, incluindo dois deputados do recém-criado Bloco de Esquerda.
Formado em Março de 1999 como resultado da fusão de três partidos, o PSR, a UDP e a Política XXI, o Bloco de Esquerda teve uma rápida ascensão na cena política, afirmando-se como uma nova força que conglomerava vários quadrantes políticos afectos aos ideais esquerdistas e da sociedade civil (como movimentos feministas e pró-LGBT). Liderados pelo ex-líder do PSR Francisco Louçã, o Bloco de Esquerda elegeria dois deputados pelo círculo de Lisboa nas legislativas de 1999, pouco mais de seis meses após a sua fundação e desde então tem feito parte da Assembleia.
6. Macau deixou de ser território nacional
A 20 de Dezembro, após mais de quatrocentos anos de administração portuguesa, a soberania de Macau transitou para a República Popular da China, onde adquiriu o estatuto de "Região Administrativa Especial", com a sua autonomia assegurada pelo menos até 2049, conforme estabelecido nas negociações levadas a cabo entre Portugal e China entre 1986 e 1987.
Portugal ficava assim sem o último resquício do seu antigo império colonial e com o seu território restrito ao Continente, Açores e Madeira.
7. O Beira-Mar ganhou a Taça de Portugal (e os três grandes nem sequer chegaram aos oitavos de final)
Além do apuramento para o Euro 2000 e a atribuição do Euro 2004, o futebol nacional ficou marcado pelo quinto título consecutivo do FC Porto, o "penta", uma sequência que permanece irrepetível.
Mais surpreendente foi o resultado da Taça de Portugal que ficou marcada pela eliminação prematura dos três grandes, com nenhum deles a chegar aos oitavos de final. O Sporting perdeu logo no seu primeiro jogo com o Gil Vicente (3-2) e o Benfica e o FC Porto cairiam na ronda seguinte respectivamente contra o Vitória de Setúbal (2-0) e o Torreense (1-0).
Como tal, a final da Taça foi totalmente inédita opondo o Beira Mar e o Campomaiorense. No jogo decisivo no Jamor, os aveirenses, mesmo só com nove em campo venceriam os alentejanos por 1-0.
8. João Garcia subiu ao Evereste
A 18 de Maio, João Garcia tornava-se o primeiro português a chegar ao topo do Monte Evereste, fazendo-o sem recorrer a oxigénio suplementar nem ao apoio de sherpas. A façanha deixou-lhe forte marcas de úlceras de frio na cara e nos dedos (alguns deles tiveram de ser parcialmente amputados) e o seu parceiro de expedição, o belga Pascal Debrouwer faleceu de uma queda na descida.
Todos estes tormentos não desencorajaram Garcia que nos anos seguintes viria a subir a outras grandes montanhas por esse mundo fora até em 2010, com a subida ao Annapurna, se tornar a décima pessoa no mundo a subir aos catorze picos com mais de oito mil metros que existem no mundo.
9. O pai de Bárbara Bandeira venceu o Festival da Canção
O 36.º Festival da Canção realizou-se a 8 de Março de 1999 na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico (actual Altice Arena) com apresentação de Alexandra Lencastre e Manuel Luís Goucha onde além da apresentação das dez canções concorrentes, houve um tributo musical a Zeca Afonso.
No fim das votações, a vitória foi para o tema "Como Tudo Começou" interpretado por Rui Bandeira, que assim seria a canção a representar Portugal no Festival da Eurovisão desse ano.
O 44.º Festival da Eurovisão teve lugar a 29 de Maio de 1999 em Jerusalém, Israel, numa edição que ditou o fim de uma orquestra em palco (com todas as canções a recorrerem a música pré-gravada) e da obrigatoriedade de cada país ter de cantar numa das suas línguas nacionais, o que levou a que vários países optassem por cantar em inglês. No final, a Suécia venceu pela quarta vez com "Take Me To Your Heaven" interpretado por Charlotte Nilsson, ao passo que Portugal ficou em 21.º lugar com 12 pontos, todos eles vindos da França. Os momentos finais do certame ficaram marcados pela queda em palco de Dana International, a célebre vencedora do ano anterior, quando estava para entregar o troféu a Charlotte Nilsson e pela reunião de apresentadores, bailarinos e de todos os cantores concorrentes para cantar "Hallelujah", a canção vencedora de 1979, num apelo à paz, já que na altura decorria a guerra no Kosovo.
Rui Bandeira continua até hoje com a sua carreira musical mas actualmente é mais conhecido por ser pai da cantora e ídolo adolescente Bárbara Bandeira que viria a nascer dois anos após a sua participação no Festival.
10. Os Blondie e os Eurythmics reuniram-se.
Blur ("13"), Eminem ("Slim Shady LP"), Macy Gray ("On How Life Is"), Stereophonics ("Performances & Cocktails"), Muse ("Showbiz"), Chemical Brothers ("Surrender"), Limp Bizkit ("Significant Other"), Santana ("Supernatural), Skunk Anansie ("Post Orgasmic Chill), Red Hot Chilli Peppers ("Californication") e Moby ("Play") editaram álbuns marcantes este ano.
Mas em 1999 o mundo da música foi surpreendido pela reunião de duas bandas. Primeiro os Blondie que voltaram às lides dezassete anos após o último disco juntos e obtendo um grande hit mundial com o single "Maria" (n.º 1 no Reino Unido, Espanha e Grécia) do novo álbum "No Exit". E aos 54 anos, Debbie Harry ainda estava para as curvas com uma energia de fazer inveja a muita moçoila. O sucesso deste regresso solidificou a banda que desde então editou mais quatro álbuns e tem feito digressões quase todos os anos.
Mais tarde, dez anos após o seu último álbum conjunto, Annie Lennox e Dave Stewart sanaram os diferendos que tinham levado à dissolução dos Eurythmics, para um novo disco do duo, apropriadamente intitulado "Peace" do qual foram extraídos os singles "I Saved The World Today" e "17 Again" (que continha uma interpolação de um dos seus maiores hits, "Sweet Dreams (Are Made Of This)" ). Apesar de não terem desde então editado mais nenhum álbum conjunto, priorizando as respectivas carreiras a solo, Lennox e Stewart têm ocasionalmente actuado juntos a partir daí.
11. Foi um ano de ouro para a pop
Mas falar da música é falar do triunfo da música pop. Ou não fosse este o ano em que Britney Spears e Christina Aguilera foram elevadas às novas princesas da pop adolescente, os Backstreet Boys editaram um dos seus hits mais emblemáticos "I Want It That Way", as Spice Girls Geri Halliwell e Melanie C. editaram os seus primeiros álbuns a solo, os britânicos S Club 7 recuperaram a fórmula "grupo pop com série de televisão" e o compositor/produtor sueco Max Martin afirmou-se como o grande guru da composição pop.
A banda sonora do Verão de 1999 foi cheia de ritmos latinos, pois foi nesse ano que a música latino-americana transpôs o seu mercado habitual e foi à conquista do resto do mundo, com Ricky Martin e Enrique Iglesias a liderarem a onda. Em Portugal, já há vários anos que conhecíamos os dois e que por cá eles tinham o seu séquito de fãs, mas em 1999, com Martin e Iglesias passaram a cantar em inglês, e graças a hits como "Livin' La Vida Loca" e "Bailamos", também o resto do mundo se rendeu. Além disso, foi neste ano que Jennifer Lopez editou o seu álbum de estreia, provando que podia facilmente dar uma no cravo da representação e outra na ferradura das cantigas.
13. A Força voltou ao cinema
1999 foi também um ano marcante no cinema, com vários filmes para todos os gostos e géneros, dos blockbusters ao cinema de autor. Basta falar em títulos como "Matrix", "American Pie", "Notting Hill", "O Sexto Sentido", "Beleza Americana", "Tudo Sobre A Minha Mãe", "Eyes Wide Shut", "Magnolia", "Fight Club", "Tarzan", "Toy Story 2", "Queres Ser John Malkovich", "007 - O Mundo Não Chega", "Austin Powers 2 - O Espião Irresistível", "10 Coisas Que Odeio Em Ti", "As Virgens Suicidas" e "Os Rapazes Não Choram".
Mas a estreia mais aguardada do ano foi o primeiro tomo de uma nova trilogia de "A Guerra de Estrelas" que contava acontecimentos anteriores à da trilogia anterior (que passariam a ser tidos como os Episódios IV, V e VI). O Episódio I, intitulado "A Ameaça Fantasma", realizado pelo próprio George Lucas, tinha Natalie Portman como a Rainha Amidala, a futura mãe de Luke Skywalker e Leia Organa, Ewan McGregor como um jovem Obi-Wan Kenobi, Liam Neeson como o seu mestre Qui Gon Jinh e Jake Lloyd como um muito jovem Anakin "futuro Darth Vader" Skywalker. Mas apesar de ser o filme que maior êxito nas bilheteiras em 1999, "A Ameaça Fantasma" foi alvo de críticas nomeadamente quanto às fragilidades do argumento e à personagem Jar-Jar Binks que para além de ser mais irritante do que simpática, aludia a certos estereótipos raciais.
14. "O Project Blair Witch" fez milhões com tostões
Mas a grande sensação cinematográfica de 1999 terá sido "O Projecto Blair Witch". Realizado por Daniel Myrick e Eduardo Sanchez, o filme seria um aglomerado das filmagens que três estudantes de cinema captaram enquanto faziam um documentário em 1994 num bosque do estado do Maryland sobre uma lenda local de bruxaria e que nunca mais foram vistos desde então. Com o sucesso no Festival de Sundance e uma manobra de marketing que deixava na dúvida se os três actores estavam mesmo desaparecidos/mortos (na verdade, os actores Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael C. Williams desempenharam versões ficcionadas deles próprios), o público acorreu a ver e o filme feito com uns modestos 60 mil dólares acabou por render 250 milhões de dólares na bilheteira, ainda hoje o filme mais lucrativo de sempre em termos de gastos/receitas. A franchise Blair Witch continuou com mais duas sequelas, curtas-metragens, livros e banda desenhada.
15. Fernanda Montenegro foi nomeada para um Óscar
A actriz brasileira Fernanda Montenegro, que por cá conhecíamos sobretudo de telenovelas como "A Guerra dos Sexos", "Baila Comigo", "Cambalacho" e "O Dono Do Mundo", tornou-se a 27 de Fevereiro de 1999, a primeira actriz lusófona a ser nomeada para um Óscar pelo filme "Central do Brasil". Alguns filmes brasileiros já tinham sido nomeados para Melhor Filme Estrangeiro mas era a primeira vez que um actor lusófono, homem ou mulher, era nomeado para uma categoria de representação.
Fernanda Montenegro na cerimónia dos Óscares
Porém o desempenho de Montenegro no papel de Dora, uma professora reformada que se dedica a escrever cartas para pessoas analfabetas na estação central rodoviária do Rio de Janeiro e que decide ajudar um rapazinho órfão de mãe a encontrar o seu pai no Nordeste, já vinha recebendo várias distinções em festivais de cinema como o Urso de Prata no Festival de Berlim e acabou por convencer também a Academia de Hollywood a incluí-la entre as cinco nomeadas. O Óscar acabaria por ser atribuído a Gwyneth Paltrow por "A Paixão de Shakespeare". "Central do Brasil" foi também nomeado para Melhor Filme Estrangeiro e ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA nessa categoria.
16. Foi inventada a pen drive
Foi em 1999 que a empresa israelita M-Systems patenteou a invenção da pen drive (a IBM registou também uma patente nesse ano). As primeiras pens USB seriam comercializadas em 2000 com a estonteante capacidade de 8 megabytes. Mas rapidamente estas unidades periféricas foram multiplicando a sua capacidade de armazenamento, substituindo as disquetes como meio de armazenamento de dados e agora existem em todos os tamanhos e feitios.
Foi também em 1999 que foram lançados os primeiros Bluetooth, Blackberry e iBook.
17. O Massacre de Columbine chocou a América
A 20 de Abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold, dois estudantes do liceu Columbine no estado americano do Colorado, entraram na escola e mataram 13 pessoas antes de se suicidarem. Outras 24 pessoas ficaram feridas pelos tiros e pelas explosões que os dois detonaram em vários pontos da escola. Na altura, foi o maior tiroteio numa escola americana.
Eric Harris (de branco) e Dylan Klebold (de preto)
Nas investigações policiais subsequentes, veio-se a descobrir que Harris e Klebold tinham planeado detalhadamente o massacre, documentando os seus planos através de vídeos, escritos em diários e publicações na internet. O acto teria sido ainda mais trágico se a bomba que colocaram no bar da escola tivesse sido detonada.
Muito se especulou sobre as motivações que levaram os dois adolescentes a tal violência, como o bullying de que os dois foram vítimas, os filme, músicas e jogos de vídeo que eles gostavam (os tablóides chegaram a culpar Marilyn Manson, embora mais tarde veio-se a saber que eles nem sequer eram fãs da banda) e os grupos neonazis (o massacre aconteceu no dia de aniversário de Hitler). Também foi debatida a morosidade da resposta policial ao tiroteio e claro, a eterna questão da posse de armas nos Estados Unidos e como foi fácil para dois adolescentes adquirirem armas de fogo e explosivos. Columbine ainda é hoje tido como a principal de referência para este tipo de tiroteios e Harris e Klebold têm sido citados como "inspirações" de vários autores de subsequentes tiroteios. Vinte anos depois, infelizmente, continuam a haver tragédias semelhantes na América como o de Sandy Hook em 2012 e o de Parkland em 2018 mas a discussão sobre o controlo de armas continua sem progressos efectivos.
18. Nascimentos de novas estrelas
Foi em 1999 que vieram ao mundo estrelas que este ano completam duas dois décadas de vida: a mexicana Karol Sevilla, estrela da série "Soy Luna", a nossa jovem popstar April Ivy, Kiernan Shipka, a Sally Draper de "Mad Men" e a nova bruxinha Sabrina, a patinadora russa vice-campeã olímpica Evgenya Medvedeva, a princesa Alexandra de Hannover, filha da princesa Carolina do Mónaco (e também ela com jeito para a patinagem artística) e os futebolistas Justin Kluivert, João Félix e Diogo Dalot.
Geração 1999: Karol Sevilla, Kiernan Shipka, João Félix, Diogo Dalot
19. Paco Rabanne previu uma catástrofe de um eclipse de 11 de Agosto. (Só que não.)
Confessem lá: mesmo sabendo que era uma treta sem cabimento, quem lá bem no fundo não teve na cabeça ao longo de 1999 o célebre chavão "A 1000 chegarás, de 2000 não passarás"? Pois é, em 1999 não faltou quem invocasse o Apocalipse à medida que se aproximava o ano 2000. A mais célebre profecia veio por parte do estilista Paco Rabanne que vaticinou que no dia 11 de Agosto, através de um eclipse total do Sol (o mais visível na Europa desde 1990), a Terra iria ser assolada por vários meteoros e que a estação espacial MIR iria cair na Terra e destruir Paris. Claro que isso não aconteceu e a imprensa francesa especulou que tudo não seria uma manobra de publicidade por parte do estilista que passava por alguns problemas financeiros.
A maior preocupação em Portugal e noutros países foi que o eclipse provocasse danos na visão daqueles que olhassem directamente para o eclipse sem devida protecção. Alguns óculos especiais para ver o eclipse foram vendidos nas farmácias, mas o trânsito eclipse acabou por ser pouco visível no nosso país.
20. O Y2K não parou o mundo
À medida que o mundo se redobrava em preparativos para a chegada de 2000, pairava ainda uma ameaça de caos à escala global menos esotérica. Desde meados dos anos 80 que foi descoberto que vários computadores não estavam programados para reconhecer o ano 2000, sendo que após o final de 1999, reverteriam automaticamente para o ano 1900. À medida que o ano 2000 se aproximava várias empresas privadas e do sector público lançaram medidas de reprogramação para que a transição para esse ano não afectasse as máquinas e todos os serviços dependente de computorização.
A essa falácia foi atribuída o nome Y2K (expressão atribuída ao informático David Eddy em 1995) também popularizada como "o bug do milénio". Apesar dos milhares de milhões de dólares usados para todas as manobras de reprogramação, ainda não era garantido que a transição corresse bem e a hipótese de cenários caóticos não estava totalmente refutada. E claro está, o Y2K alimentou mais a teorias apocalípticas de certas pessoas...O videoclip "Waiting For Tonight" de Jennifer Lopez até ficcionava uma breve falha de energia com a chegada do ano 2000. No entanto, a passagem de 1999 para 2000 fez-se sem grandes incidentes a nível informático.
E vocês? Que memórias têm do ano de 1999? Que acontecimentos desse ano vocês se lembram e não foram falados neste texto? Deixem os vossos comentários no blogue ou na página do Facebook.