terça-feira, 30 de abril de 2019

Festival da Eurovisão 1994

por Paulo Neto



Aproxima-se mais uma edição do Festival da Eurovisão e temos mais uma edição para recordar. Desta vez recuamos até 1994, para o 39.º Festival da Eurovisão que teve lugar no Point Theatre em Dublin a 30 de Abril do dito ano, sendo a última vez até agora que o evento se realizou no mês de Abril. Na virtude da vitória em casa no ano anterior, a Irlanda organizava o evento pelo segundo ano consecutivo (quinta vez até então) e desta vez o certame voltava à capital. A apresentação ficou a cargo de Cynthia Ni Mhurchu e Gerry Ryan.



Este foi o ano em que a Eurovisão acolheu a Europa de Leste, com sete países a estrearem-se no Festival: Eslováquia, Estónia, Hungria, Lituânia, Polónia, Roménia e Rússia. No entanto a participação destes países fez com que os países que tinham ficado pior classificados no ano anterior (Bélgica, Dinamarca, Eslovénia, Israel, Luxemburgo e Turquia) não pudessem competir neste ano e Chipre só participou devido à desistência da Itália.




Mas o principal legado desta edição do Festival da Eurovisão foi o número que foi apresentado no intervalo, o do espectáculo "Riverdance" que pouco depois se tornaria um fenómeno internacional. O impressionante número coreográfico, liderado pelos bailarinos Michael Flately e Jean Butler, galvanizou o público, mas infelizmente a RTP não o transmitiu. 
Este foi também o primeiro ano em que os porta-vozes deram os seus votos via satélite, sendo a primeira vez que os telespectadores podiam vê-los. No caso de Portugal, foi Isabel Bahia quem a Europa viu a dar os nossos pontos, com Eládio Clímaco a fazer os comentários para a RTP. Uma outra particularidade é que os telespectadores da RTP podiam escolher através de chamada telefónica qual a sua canção preferida (incluindo a portuguesa que obviamente venceu por larga margem essa sondagem, seguida de Alemanha, Irlanda, Reino Unido e Áustria), num prenúncio do televoto que seria utilizado na Eurovisão uns anos mais tarde. 

Como sempre, iremos analisar as canções por ordem inversa à classificação.

Ovidjus Vysniauskas (Lituânia)

Tal como Portugal trinta anos antes, a Lituânia teve uma estreia amarga na televisão, não conseguindo qualquer ponto. Ovidijus Vysniauskas tinha sem dúvida uma voz marcante mas a sua "Lopsine mylimaj" ("canção de embalar para a minha amada") não convenceu a Europa. Talvez por isso, a Lituânia só voltaria ao Festival cinco anos mais tarde.

Silvi Vrait (Estónia)

A outra nação báltica presente em Dublin, a Estónia, não teve muito mais sorte, quedando-se pelo penúltimo lugar com somente dois pontos dados pela Grécia. Mas para a sua estreia, fez-se representar por uma das suas cantoras mais lendárias, Silvi Vrait, que tinha sido uma importante figura durante a Revolução Cantada do final dos anos 80, quando o país procurava a independência da União Soviética. Pessoalmente creio que a canção "Nagu merelaine" ("como uma onda do mar") merecia melhor resultado, mas nos anos vindouros a Estónia viria a conseguir melhores resultados e em 2001 tornou-se o primeiro dos sete países estreantes deste ano a vencer. Infelizmente Silvi Vrait faleceu em 2013.

Willeke Alberti (Holanda)

Outra canção que creio foi injustiçada foi a da Holanda, que ficou em 23.º lugar com apenas 4 pontos (vindos da Áustria). A representante dos Países Baixos era uma velha glória nacional, Willeke Alberti, que fizera sucesso como cantora e actriz nos anos 60 e 70, cantando a balada "War is de zon?" ("onde está o sol?"). Entre os três ex-maridos de Alberti contam-se o futebolista dinamarquês Soren Lerby, que fez parte da equipa do PSV Eindhoven que derrotou o Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus em 1988 e John De Mol, o dono e fundador do império audiovisual da Endemol.   

CatCat (Finlândia)

A Finlândia apostou num dance-pop com o tema "Bye Bye Baby" interpretado pelo duo CatCat, formado pelas irmãs Katja (a morena) e Virpi (a loura) Kätka que surgiram em palco envergando coloridos corpetes e acompanhadas por dois enérgicos bailarinos. Ainda assim, ficaram-se pelo 22.º lugar com 11 pontos.

Dan Bittman (Roménia)

Um lugar acima com 14 pontos ficou a Roménia, mais um dos países estreantes deste ano. Dan Bittman era um ícone do rock romeno dos anos 80, vocalista de várias bandas até se fixar nos Holograf com os quais continua até hoje. Esta participação na Eurovisão foi uma das suas raras incursões a solo, interpretando o tema "Dincolo de nori" ("para além das nuvens").


Duilio (Suíça)

Tublatanka (Eslováquia)

A Eslováquia e a Suíça partilharam o 19.º lugar com 15 pontos. Pelas cores helvéticas estava o cantor Duilio Di Cicco que cantou em italiano a balada "Sto pregando" ("estou rezando") naquele que foi o seu único momento de fama, dentro e fora da Suíça.
Já a Eslováquia, que era mais um dos países estreantes deste ano, levava uma das suas mais famosas bandas rock, os Tublatanka com o tema "Nekonecna piesen" ("canção interminável") que pelo menos agradou bastante ao júri de Malta, que lhes atribuiu 12 pontos. Formados em 1982 em Bratislava, a banda continua ainda hoje no activo com o vocalista Martin Durinda ainda a liderar.

Alejandro Abad (Espanha)

A participação da vizinha Espanha teve uma participação algo discreta nesse ano, obtendo o 18.º lugar com 17 pontos. Nascido no Chile, Alejandro Abad interpretou "Ella no es ella". Abad viria mais tarde a ter mais fama como compositor, tendo sido o autor da canção espanhola de 2001.

Petra Frey (Áustria)

Com apenas 15 anos, Petra Frey, a representante da Áustria, foi a mais jovem intérprete desse ano. A Dublin, ela cantou a balada "Fur den Frieden der Welt" ("pela paz no mundo"), com a qual obteve 19 pontos e o 17.º lugar. Petra Frey continua com carreira activa no seu país.

Toni Cetinski (Croácia)

Depois da estreia no ano anterior, a segunda participação da Croácia esteve na voz de Tony Cetinski que cantou a balada "Nek ti bude ljubav sva" ("podes ter todo o amor"), ficando em 16.º lugar com 27 pontos. Ainda hoje Cetinski é um dos cantores mais populares do seu país.

Alma & Dejan (Bósnia Herzegovina)

Quem também participava pela segunda vez era a Bósnia-Herzegovina, ainda afectada pela sua guerra civil. Mas ao contrário das atribulações do ano anterior, onde a comitiva voou debaixo de balas, desta vez as coisas correram mais serenamente. O duo composto por Alma Cardzic e Dejan Lazarevic cantou mais uma balada, "Ostani kraj mene" ("fica comigo"). Tais foram os aplausos quando entraram em palco que Dejan atrapalhou-se a cantar os primeiros versos por não ouvir bem a música. Ainda assim, obtiveram 39 pontos e o 15.º lugar. Alma Cardzic regressaria ao Festival em 1997.

Kostas Bigalis & The Sea Lovers (Grécia)

Acompanhado pelo grupo The Sea Lovers, Kostas Bigalis foi o representante da Grécia. O tema "To Trehandiri" (nomes de uns barcos tipicamente gregos) tinha as sonoridades tipicamente gregas e ficou em 14.º lugar com 44 pontos.

Marie Bergman & Roger Pontare (Suécia)

A Suécia foi o primeiro país a actuar nesse ano, com mais uma balada (pessoalmente uma das minhas preferidas). Marie Bergman de chapéu (que fez parte do grupo Family Four que representou o país em 1971 e 1972) e Roger Pontare de vestes índias e mohawk na careca faziam um par insólito mas as vozes poderosas de ambos conjugaram-se bem para cantar "Stjärnona" ("as estrelas") e a canção merecia mais do que o 13.º lugar com 48 pontos. Roger Pontare voltaria a representar a Suécia em 2000.

Sigga (Islândia)

Sigridur Beinteinsdottir, ou simplesmente Sigga, representava a Islândia pela terceira vez. Primeiro em 1990 como metade do duo Stjórnin, depois em 1992 como parte do grupo Heart 2 Heart e desta vez a solo para cantar "Naetur" ("noites"). Ao contrário das outras participações onde ficou no top 10, desta vez ficou-se pelo 12.º lugar com 49 pontos.


Evridki (Chipre)


Também o Chipre se fazia representar por uma veterana destas andanças. Evridiki Theokleous fez coro nas canções cipriotas de 1983, 1986 e 1987 e pudera finalmente participar como vocalista principal em 1992. Mas se dois anos antes, a sua actuação primou pela sensualidade, desta vez a sua interpretação puxou mais ao dramatismo, com Evridiki dando tudo para cantar "Ime anthropos ki ego" ("também sou humana"). No coro esteve acompanhado por Demos Van Beke e Kyriakos Zymboulakis, os representantes cipriotas do ano anterior. Curiosamente, tal como em 1992, ficou em 11.º lugar ainda que com menos seis pontos (51) do que dois anos antes. Evridki regressou uma terceira vez ao Festival da Eurovisão por Chipre em 2007.   

Frances Ruffelle (Reino Unido)

Se houve vezes em que o Reino Unido tinham resultados melhores que a qualidade das suas canções, neste ano o 10.º lugar (63 pontos) soube algo a pouco, tal a qualidade do tema defendido por Frances Ruffelle, "We will be free (Lonely symphony)". A canção era uma fusão interessante de r&b com música new age. Este foi o momento mais célebre de Frances Ruffelle enquanto cantora pois tem feito sobretudo carreira como actriz, sobretudo no teatro musical, mas também em cinema e televisão. Já a sua filha, Eliza Doolittle, teve algum sucesso como cantora pop no início desta década com hits como "Skinny Genes" e "Pack Up".

Youddiph (Rússia)

A Rússia foi mais um país que se estreou neste ano, ficando em nono lugar com 70 pontos. Maria Katz participou sob o nome de Youddiph para cantar "Vechny strannik" ("eterno errante"). Além da sua sentida interpretação vocal, a sua actuação foi marcada pela forma como pegava no seu vestido cor-de-tijolo, transformando-o por exemplo num capote improvisado. Entre os vários trabalhos musicais que Maria Katz fez posteriormente, há que destacar ter sido a voz russa do filme animado "Anastasia".

Sara Tavares (Portugal)

Este foi o ano em Portugal obteve um dos seus melhores resultados de sempre, o 8.º lugar com 73 pontos (incluindo 12 de Espanha), graças àquela que é pessoalmente a minha preferida das nossas canções eurovisivas. E creio que não estou sozinho em afirmar que "Chamar A Música" na voz de Sara Tavares é uma das melhores e mais amadas canções que Portugal levou ao evento. Sara era na altura uma estrela em gloriosa ascensão, tendo ganho a primeira edição do "Chuva de Estrelas" imitando Whitney Houston e a sua canção, com letra de Rosa Lobato de Faria e música de João Carlos de Oliveira, tinha vencido de forma esmagadora o Festival da Canção, com a pontuação máxima de todos os distritos. E apesar dos seus 16 anos, voltou a brilhar em Dublin, evidenciado todo o seu talento. Desde então, e embora o seu percurso tenha seguido por caminhos diferentes daqueles que "Chamar A Música" antevia, Sara Tavares tem tido uma carreira de enorme sucesso. No ano passado, com o Festival da Eurovisão em Lisboa, participou na actuação de intervalo da grande final, juntamente com Branko, Dino D'Santiago, Plutónio e Maira Andrade. 

Nina Morato (França)

Um lugar acima com mais um ponto, ficou a França com aquela que era de longe a mais alternativa das canções a concurso. Nina Morato foi precisamente a última a actuar e sem dúvida que fechou com arromba, interpretando "Je suis un vrai garçon" ("sou mesmo um rapaz") com uma (para a altura) bem ousada indumentária e uma postura em palco bem irreverente. Mas ainda assim, era uma proposta bastante interessante. A canção também se destacou por ser uma das poucas canções da história do Festival da Eurovisão a incluir um palavrão não-censurado (o equivalente francês do nosso "f...-se!"). Nesse ano, Nina Morato também entrou no filme "Uma Separação" com Isabelle Hupert e Daniel Auteuil. Embora não lance nenhum álbum desde 1999 (que foi influenciado pela trágica morte da sua filha), ela continua activa na música e no teatro.

Jan Werner Danielsen & Elisabeth Andreasson (Noruega)

A canção da Noruega não podia ser mais meta, pois chamava-se "Duett" e era cantada em dueto. E a parte feminina do dueto, Elisabeth Andreasson, estava habituada a duetos pois foi assim que tinha participado antes na Eurovisão, em 1982 pela Suécia integrando o duo Chips com Kiki Danielsson e sobretudo, vencendo em 1985 pela Noruega com Hanne Krough sob o nome de Bobbysocks. Já o seu parceiro, Jan Werner Danielsen, com 18 anos recém-completados dava os seus primeiros passos na música. Apesar da diferença de idades, a conjugação das vozes de Andreasson e Danielsen resultou muito bem e valeu-lhes o sexto lugar com 76 pontos. Elisabeth Andreasson voltaria a representar a Noruega, finalmente a solo, em 1996 e continua com uma carreira muito activa, e ainda não desistiu de regressar à Eurovisão tendo voltado a competir várias vezes nas finais suecas e norueguesas. Já Jan Werner Danielsen faleceu tragicamente em 2006 aos trinta anos, vítima de ataque cardíaco.  

Chris & Moira (Malta)

Malta também se fez representar por um dueto, que neste caso era também um casal na vida real. E a história de amor entre Christopher Scicluna e Moira Straface começou precisamente no Festival do ano anterior em Millstreet, quando ambos participaram na canção maltesa, ele a tocar guitarra e ela no coro. Um ano depois, os dois cantaram "More Than Love" que obteve um quinto lugar com 97 pontos, que permanece como um dos melhores resultados do país (embora eu pessoalmente ache que talvez não merecesse tanto como outros países). Chris e Moira regressariam à Eurovisão em 1999 como autores e fazendo coro da canção maltesa desse ano. 

Frederika Bayer (Hungria)

No ano da sua estreia, a Hungria ia fazendo furor pois os três primeiros países a votar (Suécia, Finlândia e Irlanda) deram-lhe os 12 pontos e liderou até à sexta votação, altura em que o país vencedor tomou a liderança para nunca mais a largar. Ainda assim, ficou num excelente quarto lugar com 122 pontos, ainda hoje o melhor o resultado da nação magiar no certame. Frederika Bayer cantou "Kinek mondjam el vetkeimet?" ("A quem posso contar o meus pecados?"), uma balada melancólica onde a voz de Frederika soava angelical e etérea, isto apesar da letra falar de alguém que terá sido abandonada pelo amante (e abortado o filho que esperava dele). Frederika foi uma das mais populares cantoras do seu país nos anos 90 mas agora dedica-se sobretudo a música gospel e religiosa.  

MeKaDo (Alemanha)

A Alemanha obteve o terceiro lugar com 128 pontos com um dos temas mais animados da noite. Numa das raras vezes em que o país não organizou uma final nacional, tendo antes confiado no compositor Ralph Siegel para fazer uma canção para competir expressamente na Eurovisão, o tema apresentado foi "Wir geben 'ne Party" ("vamos dar uma festa"), interpretado pelo trio feminino MeKaDo. O nome vinha da primeira sílaba dos nomes de cada um dos membros: Melanie Bender (filha de Steve Bender, um dos membros dos Dschinghis Khan que representaram a Alemanha em 1979), Kati Karney e Dorcas Kiefer. Segundo consta, nos ensaios as três tiveram algumas dificuldade em coordenar os movimentos mas na noite da actuação, tudo correu pelo melhor.

Edyta Gorniak (Polónia)

Dos sete países estreantes deste ano, o mais bem-sucedido foi a Polónia obtendo o segundo lugar com 166 pontos, ainda hoje de longe o melhor resultado deste país. Com um talento vocal ao estilo de Céline Dion, Edyta Gorniak interpretou a balada "To nie ja" ("Não fui eu") impressionando a Europa, nomeadamente os júris de Áustria, Estónia, França, Lituânia e Reino Unido. No entanto, as coisas estiveram mal paradas para as cores polacas, pois no ensaio geral, Edyta decidiu cantar metade da canção em inglês quando as regras ainda obrigavam os países a cantar nas suas línguas oficiais. Seis países assinaram uma petição a pedir a desqualificação da Polónia por este motivo, mas como eram precisos pelo menos treze, a petição não surtiu efeito e a Polónia foi autorizada em competir. Edyta Gorniak conseguiu anos mais tarde algum sucesso internacional, inclusivamente em Portugal. 


Paul Harrington e Charlie McGettigan (Irlanda)

No entanto, a Irlanda acabou por vencer em casa de forma destacada com 226 pontos. Era a primeira vez (e até agora única) que um país venceu três anos consecutivos e com esta sexta vitória, a Irlanda tornava-se o país com mais vitórias no Festival da Eurovisão (estatuto que consolidou com uma sétima vitória em 1996 e que se mantém até hoje). Desta vez, o triunfo foi conquistado por Paul Harrington e Charlie McGettigan, com este à guitarra e aquele ao piano a cantarem "Rock 'n' roll kids", uma balada sobre um amor que nasceu ao som do rock 'n' roll mas que com o passar dos anos parece ter perdido o fulgor. Embora a qualidade do tema seja indiscutível, não sei se se justificava mais uma vitória irlandesa.  

Actuação "Riverdance":


Festival da Eurovisão 1994 (transmissão da RTP):





sexta-feira, 19 de abril de 2019

Miss Universo 1989

por Paulo Neto

Quando a televisão parava o país, qualquer transmissão fora da programação habitual era algo aguardado com grande expectativa. Muitas dessas transmissões continuam até hoje, algumas ainda com alguma notoriedade como o Festival da Canção e o Festival da Eurovisão, outras já sem captar tanta atenção como outrora, como os concursos de beleza, em especial a eleição da Miss Universo.
Em alguns países, sobretudo na Ásia e na América Latina, ainda é um acontecimento (por exemplo, nas Filipinas, uma compatriota ganhar a Miss Universo está ao nível de Portugal ganhar uma grande competição de futebol), mas na Europa e até mesmo nos Estados Unidos, os concursos de beleza em geral são cada vez mais vistos como uma instituição decadente e que não se coaduna com aquilo que deve ser valorizado nas mulheres. Pessoalmente, embora ache extremamente injusto valorizar as pessoas, sobretudo mulheres, pelo seu aspecto físico, não creio que aquelas que participam em concursos de Misses sejam pessoas de pouca inteligência e substância e que estejam a ir contra os avanços das mulheres nas sociedade - até porque muito que a beleza ajude, só dá para ir a um certo ponto se não se tiver algo mais na cabeça do que um belo penteado. 

Seja como for, nos meus tempos de petiz devorador de televisão, lembro-me de aguardar com expectativa as transmissões da RTP primeiro da Miss Portugal e depois da Miss Universo, onde a nossa candidata iria participar. Já falei aqui sobre as vencedoras do título da mais bela do Universo nos anos 80, 90 e entre 2000 e 2004, mas agora decidi analisar uma dessas edições, que recordo-me de ter visto na altura na televisão e que teve bastantes momentos cromos.



A eleição da 38.ª Miss Universo, correspondente ao ano de 1989, teve lugar a 23 de Maio desse ano em Cancún no México. Os apresentadores foram dois actores da série "Dinastia", John Forsythe (também conhecido como a voz do famoso Charlie dos Anjos) e Emma Samms, e a Miss Universo 1982 Karen Baldwin a fazer o comentário dos bastidores.

John Forsythe

Portugal foi representado por Ana Francisca Sobrinho, que competiu com candidatas de outros 75 países: Alemanha, Argentina, Aruba, Austrália, Áustria, Bahamas, Bélgica, Belize, Bermudas, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia (do Sul), Costa Rica, Curaçao, Dinamarca, Equador, Egipto, El Salvador, Escócia, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia, França, Gibraltar, Grécia, Gronelândia, Guatemala, Guam, Haiti, Holanda, Honduras, Hong Kong, Ilhas Caimão, Ilhas Marianas do Norte, Ilhas Turks & Caicos, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Inglaterra, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Jamaica, Luxemburgo, Malásia, Malta, Maurícias, México, Nigéria, Nova Zelândia, Noruega, País de Gales, Paraguai, Peru, Polónia, Porto Rico, Portugal, República da China (Taiwan), República Dominicana, São Vicente & Grenadinas, Singapura, Sri Lanka, Suriname, Suécia, Suíça, Tailândia, Trinidad & Tobago, Turquia, Uruguai e Venezuela.



Nesse ano também as próprias candidatas também tiveram a oportunidade de fazer uns biscates como apresentadoras. Aliás, as primeiras imagens da transmissão foram as de três candidatas: a do país anfitrião, Adriana Abascal do México, com um sombrero na cabeça, Camille Samuel expressando o seu orgulho em ser a primeira participante da nação caribenha de São Vicente e Grenadinas, e Joanna Gapinska da Polónia, o único país da Europa de Leste presente no certame. Seguiu-se depois aquela que terminaria o seu reinado nessa noite, a Miss Universo 1988, Porntip Nakhirunkanok da Tailândia. 



Como é habitual, o espectáculo arrancou com a famosa parada de nações com as 76 candidatas a dançar ao som de "Hot Hot Hot" envergando trajes típicos dos seus países. No entanto, ao contrário de anos anteriores, em que as concorrentes se apresentavam por ordem alfabética dos seus países, nesse ano, elas foram anunciadas por zonas continentais, começando pela América Norte e Central (onde curiosamente foi incluída a Miss Islândia), Ásia e Oceânia, Europa e Ilhas Britânicas (com a Miss Portugal trajada de noiva minhota), América do Sul, uma zona designada como As Ilhas que incluía nações insulares da Caraíbas, do Pacífico e do Índico e Mediterrâneo, África e Médio Oriente. Por fim foi anunciado que a Miss Brasil, Flávia Cavalcanti, venceu o prémio de melhor traje nacional. 

Depois vamos poder conhecer as 76 candidatas mais em pormenor num segmento filmado nas belíssimas paisagens de Cancún. Por exemplo, a Miss Hong Kong é actriz e apresentadora no seu país, a Miss Ilhas Caimão é uma mergulhadora certificada, a Miss Noruega é cinturão azul de karaté, a Miss Escócia pretendia ter a sua própria agência de publicidade, a Miss Sri Lanka adora filmes de terror, a Miss Guam é reservista no exército dos Estados Unidos e a Miss Trinidad & Tobago quer ser a primeira mulher do seu país a fazer skydiving.
Em seguida, Karen Baldwin explica como decorreram as provas preliminares para a escolha das dez semifinalistas e após uma demorada pausa, Emma Samms refere que ao longo daqueles dias, algumas das candidatas contaram as suas histórias para a produção. É o caso da Miss Porto Rico que em pequena via os seus irmãos com um livro nas mãos e ela decidiu fazer o mesmo e ainda hoje é os livros são os seus objectos preferidos.

Após o intervalo, as quatro candidatas das Ilhas Britânicas (Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) saúdam os telespectadores de volta.
Antes de anunciar as dez semifinalistas, John Forsythe anunciou que dois dias antes, aconteceu um feito histórico. Pela primeira vez, foi eleita uma Miss União Soviética, Julia Sukhanova - que vá-se lá saber porquê, Forsythe anunciou com "Forunova" - e imagens da sua coroação foram apresentadas ao som de uma estranha música que mais parecia que havia alguém literalmente a martelar na Cortina de Ferro. Devido à sua coroação tardia, Julia não esteve presente em Cancún mas deixou uma mensagem em que expressou a sua alegria de a partir do próximo ano, a Miss União Soviética poder competir na Miss Universo e o seu desejo de, no espírito de fraternidade, um dia ver uma edição da Miss Universo a ser realizada na União Soviética. (Esse dia chegaria em 2013 quando a edição da Miss Universo desse ano realizou-se em Moscovo, embora doze anos após o colapso da União Soviética).



E eis-nos chegados ao anúncio das dez semifinalistas que, como era hábito na altura, desceram pelo cenário para tomar o seu lugar no posto designado ao top 10 ao som de versões instrumentais canções populares da época.
Por ordem (aleatória) de anúncio, as dez semifinalistas foram: Miss Alemanha - Andrea Stelzer (ao som de "Together Forever" de Rick Astley), Miss Chile - Macarena Mina (ao som de "Get Out Of My Dreams, Get Out Of My Car" de Billy Ocean), Miss Jamaica - Sandra Foster, Miss Venezuela - Lisa Ljung, Miss Holanda - Angela Visser, Miss Estados Unidos - Gretchen Polhemus (ao som de "Tell It To My Heart" de Taylor Dayne), Miss Suécia - Louise Devrenstam, Miss Polónia - Joanna Gapinska (ao som de "You Came" de Kim Wilde), Miss Finlândia - Äsa Lovdahl (ao som de "I Heard A Rumour" das Bananarama) e Miss México, Adriana Abascal.

Estávamos portanto perante um confronto entre a Europa (Alemanha, Holanda, Suécia, Polónia e Finlândia) e as Américas (Chile, Jamaica, Venezuela, Estados Unidos e México). Ao contrário do ano anterior, onde foi o continente dominante, nenhuma representante da Ásia seguiu em frente e ao continente africano restou-lhe apenas o facto da Miss Alemanha ser de origem sul-africana. E podia-se dizer que a Suécia estava triplamente presente no top 10, pois além da Miss Suécia, a Miss Venezuela era de origem sueca e a Miss Finlândia pertencia à minoria sueca do seu país.  

Anunciado o top 10, Emma Samms referiu que a partir de agora a competição recomeçava do zero e revelou alguns dados históricos como o facto de nenhum país até então ter ganho dois anos consecutivos mas três das últimas das vencedoras foram da Venezuela (e este país seria de facto o primeiro país a vencer duas vezes seguidas em 2008 e 2009) e que a primeira Miss Universo, em 1952, era da Finlândia. Depois veio uma vinheta em que a Miss Holanda (que por motivos que mais adiante se saberão, teria muito destaque ao longo desta transmissão) refere que no seu país as mulheres tem um estatuto semelhante aos dos homens, em que muitas elas querem ter uma carreira embora também continuem a querer uma família como era o caso dela.



A competição final arranca com a prova da entrevista em que estas dez beldades terão a oportunidade de mostrar que não apenas umas carinhas larocas. Emma Samms explica que após cada entrevista, os telespectadores poderão ver as pontuações do júri e antes de ela acabar de falar, já Karen Baldwin assume a sua função de entrevistadora e chama a Miss Alemanha. Eis o que ficamos a saber sobre cada uma das dez candidatas.
- A Miss Alemanha está de momento a escrever um livro sobre a sua carreira como modelo e nos concursos de beleza.
- A Miss Chile acha que os filhos devem viver com os pais até aos 21/22 anos e é admiradora da poetisa chilena Gabriela Mistral.
- A Miss Jamaica estuda publicidade e quando confrontada com a ética na publicidade sobre convencer pessoas a comprar coisas que não precisam, respondeu que uma das alegrias na vida é poder usufruir de um pouco de luxo.
- Com apenas 18 anos e nascida na Suécia, a Miss Venezuela media 1,88m mas nunca se sentiu incomodada por isso. A injustiça deixa-a triste e uma conversa sincera fá-la feliz.
- A Miss Holanda fala cinco línguas: neerlandês, alemão, francês, espanhol e inglês. Comparado com o mexicano, ela considera o povo holandês mais moderado e menos temperamental.
(Pelo meio, há mais um confessionário onde a Miss Ilhas Caimão se queixa da coscuvilhice no seu país, por ser uma comunidade tão pequena.)
- Graças à Miss Estados Unidos, que vinha do Texas, ficamos a saber que o comércio e venda de gado não é assim muito diferente do que as actividades da bolsa. Curiosamente esta era quinta vez consecutiva que uma texana representava os Estados Unidos na Miss Universo. 
- A Miss Suécia é companheira de quarto da Miss Finlândia como vieram juntas até ao México, e quando perderam a ligação em Nova Iorque, alguém levou-as a visitar a Big Apple (vá lá que não foram intrujadas!). Na Suécia, ela é cabeleireira de profissão e não se faz rogada quando tem de explicar às clientes quando é impossível fazer-lhes um penteado exactamente igual ao das estrelas de cinema.
- A Miss Polónia teve uma arma secreta para se preparar para esta competição: foi praticante de ginástica durante nove anos. Como não podia deixar de ser, foram-lhe feitas perguntas sobre os países do bloco comunista, à qual foi muito diplomática a responder. Apesar de ter uma intérprete para lhe traduzir as perguntas em polaco, ela respondeu em inglês e teve alguns percalços, o que não a impediu de obter uma boa pontuação.
- A Miss Finlândia estuda economia e tem aulas de inglês e alemão, pois pretende representar empresas do seu país no estrangeiro. De acordo com ela os homens finlandeses são simpáticos, de sentimentos profundos e de confiança. (E será que chegou mesmo a conhecer Barbara Bush?).
- Claro que a Miss México foi recebida com uma grande ovação. Ela sonha em ser actriz e gostaria mais de fazer de vilã do que boazinha.

Antes do intervalo, mais um confessionário com a Miss Irlanda que mostra o seu talento para o desenhando, esboçando o retrato de um operador de câmara mexicano.
E depois do intervalo, a Miss Austrália, Karen Wenden, e a Miss Ilhas Turks & Caicos, Sharon Simons, anunciam-se uma à outra como as vencedoras dos títulos de Miss Fotogenia e Miss Simpatia respectivamente.
Antes de começar a ronda do desfile em fatos de banho, John Forsythe revela quem são os membros do júri. E eis que acontece um percalço que certamente provocou palpitações na régie pois Forsythe não anunciou o segundo elemento do júri, o caracterizador Phil Richards. Mas parece que afinal que esse elemento não constava do teleponto pois viu-se uma mão a entregar-lhe um papel com o nome e a descrição desse elemento que faltava. 


Na ronda do fato de banho, as concorrentes ainda desfilavam então na passerelle com o fato de banho de uma peça, já que os biquínis só foram introduzidos na Miss Universo já bem nos anos 90. Enquanto desfilavam pelo palco, podíamos ouvir as candidatas a contaram mais coisas sobre si em voz off. Andrea (Alemanha) gostava de conhecer o Presidente do seu país. Macarena (Chile) voltou a referir a sua admiração pela poetisa Gabriela Mistral, Prémio Nobel da Literatura em 1945. Sandra (Jamaica) diz que por onde querem que andem, os jamaicanos quando se encontram é como se estivessem em casa. Lisa (Venezuela) sente-se mais próxima de cultura dos índios mexicanos desde que leu o livro "Azteca". Angela (Holanda) recomenda que se tivéssemos de conhecer apenas uma pessoa no seu país, seria a Rainha Beatriz. O objecto mais precioso de Gretchen (Estados Unidos) foi um anel que ela comprou aos onze anos com o primeiro dinheiro que ela ganhou e que ainda usa. Louise (Suécia) orgulha-se de ter conseguido o mais alto certificado como cabeleireira. Joanna (Polónia) enaltece a hospitalidade e o espírito de independência dos polacos. Äsa (Finlândia) aproveita para desmentir que os seus compatriotas sejam frios e tímidos. E Adriana (México) afirma que para os mexicanos a diversão é tão importante como comer e dormir e solta um Olé!
(Quando as dez candidatas se reúnem em palco, não há como notar que a Miss Chile parece tão baixinha diante das outras).
Pelo meio, mais um confessionário com a Miss Canadá (a primeira mulher de cor a representar este país) que discorda que os concursos de beleza sejam degradantes para as mulheres e que é um honra representar o seu país.


Mas o que será que a vencedora iria mesmo ganhar? Para além de vários prémios em dinheiro dos diversos patrocinadores, a Miss Universo do ano anterior vai apresentando toda a panóplia de prémios: duas viagens à sua escolha na companhia aérea Mexicana, óculos de sol, um ano de fornecimento em produtos capilares e pasta de dentes, muita roupa, uma máquina fotográfica Minolta, uma quantidade de produtos Vidal Sassoon, um relógio em ouro, dois casacos de peles (pois...), jóias de diamantes, um seguro de vida de 50 mil dólares e um luxuoso apartamento em Cancún! No total, o valor dos prémios estava avaliado em 250 mil dólares.


Segue-se uma espécie de videoclip musical com todas as candidatas, que é daquelas coisas que só podiam mesmo ser feitas dos anos 80. Vemos elas em vários sítios de Cancún, ora em situações corriqueiras como divertindo-se nas piscinas e nas lojas, ora em cenas mais inusitadas como a fugir de um touro ou a lutar com um bando de crianças piratas. E claro que tudo acaba numa enorme farra na piscina!
Após a apresentação de John Forsythe a um grupo de notáveis lá do sítio (incluindo uma senhora com ar de maus fígados), tempo para mais um confessionário com a Miss Nigéria, que admite que por estar envolvida no mundo da moda e dos concursos de beleza, deixou de ter tantos pretendentes, o que na verdade é um sossego para ela.



Depois do intervalo, a Miss Áustria e a Miss Gibraltar saúda-nos de volta, uma em alemão e outra em inglês, enquanto disputam um aceso conflito sobre quem pega no microfone.
E eis-nos chegados a um dos momentos que eu mais gostava quando via a Miss Universo na televisão. Entre 1983 e 1995, a ronda do vestido de noite era feita com a colaboração das Little Sisters: um grupo de meninas da cidade onde decorria o evento, cada uma designada para ser a "irmãzinha" local de cada uma das concorrentes e usar a faixa do seu país. Chegado este momento, as Little Sisters apareciam em palco cantando uma bonita canção e assim que uma das dez semifinalistas surgia em palco no seu vestido da noite, desfilava acompanhada pela sua "irmãzinha". Era sem dúvida um momento ternurento. 
A Miss Holanda com a sua "Little Sister"

Quanto aos vestidos das concorrentes, ainda reinavam os enchumaços, os folhos e as lantejoulas. O branco foi a cor de escolha da maioria, com a Miss Chile a optar pelo preto, a Miss Polónia pelo rosa e as Misses Venezuela e Finlândia pelo vermelho, a primeira num estilo a fazer lembrar Jessica Rabbitt. 


Antes de conhecermos as cinco finalistas, a Miss Universo reinante, Porntip Nakhirunkanok, (deixem lá essas piadas sobre o primeiro nome dela!) leva-nos numa visita guiada à região do Yucatán, onde fica Cancún, e às ruínas aztecas de Chichen Itza.
Mas afinal quem seriam as cinco finalistas? John Forsythe anuncia: México, Holanda, Polónia, Estados Unidos e Suécia.
Para o confessionário final, as concorrentes dizem o que vão fazer quando voltarem a casa: a Miss Argentina vai andar sem maquilhagem, a Miss Porto Rico vai comer chocolate e a Miss Irlanda vai beber uma caneca de Guinness.




Antes da decisão final, os júris podiam apreciar as finalistas uma última vez. Quem iria ganhar? Seria Adriana, a aspirante a actriz do México a ganhar em casa? Angela, a deslumbrante holandesa vinda de Roterdão? Joanna, dona de uma beleza de fazer derreter o gelo do inverno polaco? Gretchen, a texana que pretendia dar nova vitória à América nove anos depois? Ou Louise, a cabeleireira sueca que gostaria de repetir o sucesso da sua compatriota em 1984? 

Ainda antes da revelação dos resultados, John Forsythe chama a palco Christiane Martel, a Miss Universo 1953 pela França, que entretanto casou-se com um mexicano e não só adquiriu a nacionalidade deste país como aí fez carreira como actriz. De seguida, chegou o momento de Porntip ter o seu desfile final antes de entregar a coroa à sua sucessora, no qual ela reflecte sobre o seu ano de reinado, onde por exemplo, falou nas Nações Unidas e andou de camelo no Egipto. 



Por fim o momento mais ansiado da noite: os resultados finais. A Miss México fica em 5.º lugar (4.ª Dama de Honor), a Miss Polónia fica em 4.º lugar (3.ª Dama de Honor) e a Miss Estados Unidos em 3.º lugar (2.ª Dama de Honor). E no fim só restam apenas Holanda e Suécia. E quando Forsythe anuncia a Miss Suécia como a 1.ª Dama de Honor, a câmara foca o rosto de surpresa da Miss Holanda no momento em que ela se apercebe que é a vencedora. Quando dá por si, Angela Visser já tem a coroa na cabeça, o bouquet na mão e a faixa a tiracolo e está pronta para o seu primeiro desfile como Miss Universo 1989, sob a grande ovação de todos os presentes. Ao contrário do habitual, a feliz contemplada não chorou, mas caminhou de sorriso de orelha a orelha. 



Ainda hoje, Angela Visser é lembrada como uma das mais bonitas e emblemáticas Miss Universo. Após o seu reinado foi comentadora em quatro edições da Miss Universo (1991 a 1994) e teve pequenos papéis em séries como "Marés Vivas", "Blossom" e "Beverly Hills 90210".
E eis o que descobri sobre outras das candidatas:
- A Miss Suécia, Louise Devrenstam, viria a casar-se com Vince Camuto, um famoso empresário americano do ramo têxtil.
- A Miss Jamaica, Sandra Foster, venceu o título de Miss Intercontinental em 1990.
- A filha da Miss Estados Unidos, Gretchen Polhemus, tentou seguir as pisadas da mãe e concorreu em 2017 ao concurso nacional representando o estado do Utah, mas não passou às semifinais.
- A Miss México, Adriana Abascal, sonhava em ser actriz, mas acabou por ser mais bem sucedida como modelo e apresentadora de televisão. 

sexta-feira, 5 de abril de 2019

A Lenda de Billie Jean (1985)

por Paulo Neto

Por vezes, em vez de procurar cromos para a Enciclopédia, são eles que me encontram. No outro dia estava a pesquisar pelo YouTube para ouvir uma canção de Pat Benatar quando os algorritmos me indicaram para outra canção dela que nunca tinha ouvido antes. A dita canção era "Invincible" e era o tema principal de um filme de que nunca tinha ouvido falar antes, "A Lenda de Billie Jean" de 1985.
Como eu tenho um fraco por filmes que gritam "ANOS 80!" por todos os poros, sobretudo de temática juvenil como "Reckless - Jovens Sem Rumos", "O Clube" ou "Fogo Com Fogo", quis saber mais sobre esse filme e felizmente que alguns uploads manhosos do filme estavam disponíveis do YouTube (incluindo dois dobrados em brasileiro).



Ao contrário do que o título possa indicar, "A Lenda de Billie Jean" não tem nada a ver com a canção de Michael Jackson nem com a célebre tenista Billie Jean King. Realizado por Matthew Robbins (que também realizou "O Milagre da Rua 8" de que já falei aqui), o filme tinha Helen Slater como a personagem-título, Christian Slater (sem parentesco com Helen, apesar de fazerem de irmãos no filme) no seu primeiro papel no cinema e Yeardley Smith num dos seus papéis mais notados antes de se imortalizar como a voz da Lisa Simpson. Não encontrei nenhuma data de estreia do filme em Portugal, pelo que por cá deve ter ido directamente para o mercado de vídeo.



Billie Jean Davy (Helen Slater) e o seu irmão Binx (Christian Slater) vivem na cidade texana de Corpus Christi com a sua mãe viúva (Mona Fultz). Durante um passeio de scooter, os dois irmãos são atacados pelo intratável Hubie Pyatt (Barry Tubb) e os seus esbirros. Binx enfrenta Hubie quando este assedia a irmã mas mais tarde o malvado vinga-se roubando e destruindo a scooter e enchendo Binx de porrada com a ajuda dos seus gunas.

Billie Jean apresenta uma queixa na polícia mas quando o tenente Larry Ringwald (Peter Coyote) desvaloriza o incidente, ela decide ir à loja do pai de Hubie (Richard Bradford) para que ele convença o filho a pagar o arranjo da mota. Mas sucede que Hubie tem bem a quem sair pois o Pyatt sénior também é um pérfido tarado que tenta violar Billie Jean. Binx e Ophelia (Martha Gehman), uma amiga dos irmãos que tem carro, chegam a tempo de concluir o que se passou e o rapaz pega numa arma na caixa registadora, atingindo o homem no ombro. Sabendo que serão incriminados por tentativa de assalto e que ninguém acreditaria neles, os dois irmãos tornam-se fugitivos acompanhados por Ophelia e outra amiga, Putter (Smith). Quando o tenente Ringwald percebe que devia ter ouvido Billie Jean, já é tarde demais. 




À medida que a fuga dos quatro jovens é acompanhada pela comunicação social por todo o Texas, Billie Jean torna-se um ídolo da juventude local pela sua coragem em desafiar o poder dos adultos e ela e os seus amigos vão sendo ajudados por vários jovens que encontram pelo caminho. Um deles é Lloyd Muldaur (Keith Gordon) o excêntrico e negligenciado filho de um governante local (Dean Stockwell) que os acolhe em sua casa. Ao ver um filme sobre Joana D'Arc, Billie Jean fica inspirada para gravar um vídeo no qual anuncia que se irá entregar se Pyatt lhe pedir desculpas e der o dinheiro para o arranjo da mota, não sem antes cortar o cabelo tal como a lendária mártir francesa. Mas à medida que a situação fica cada vez mais incontrolável e perigosa, a jovem sabe que só lhe resta confrontar Pyatt. 


Tal como outros filmes do género dos anos 80, "A Lenda de Billie Jean" pode não ser nada que se aproxime uma obra-prima e ter várias fragilidades ao nível do argumento e realização mas cumpre plenamente a sua função de entreter e também tem o forte efeito "cápsula do tempo". Todo o elenco tem desempenhos sólidos, nomeadamente Helen Slater que consegue facilmente navegar por entre todas as facetas da sua personagem, da rapariga doce e simpática à heroína badass.
O filme já foi editado em DVD e Blue-Ray com comentários de Helen Slater e Yeardley Smith. Aí Slater refere que teve de usar uma peruca para a regravação de algumas cenas em que a personagem ainda tinha o cabelo comprido e Smith revela que por aos vinte anos estar a fazer uma personagem de catorze (que inclusivamente tem a primeira menstruação), teve de usar faixas à volta do peito, que ficou com o urso que Putter trazia sempre consigo e que a bofetada que a actriz que fazia de sua mãe lhe deu no filme foi a sério e deixou-lhe a cara dorida o resto do dia. 

No ano anterior, Helen Slater protagonizou a adaptação de "Supergirl" que foi um dos flops desse ano, pelo que "A Lenda de Billie Jean" ajudou a que sua carreira não tivesse ido logo para o esgoto, tendo depois entrado em filmes conhecidos como "Por Favor Matem A Minha Mulher", "O Segredo do Meu Sucesso" e "A Vida, O Amor e As Vacas". Anos mais tarde, regressaria ao universo da DC Comics com participações nas séries "Smallville" e "Supergirl". 

Como referi ao princípio, outro elemento marcante do filme era o tema "Invincible" de Pat Benatar, lançado antes da estreia do filme e com um videoclip que era basicamente um trailer do filme - uma técnica de marketing cinematográfico que na altura ainda era relativamente recente. A banda sonora também inclui, entre outros, temas de Billy Idol e dos The Divinyls. Curiosamente em concerto, antes de cantar "Invincible", Benatar costuma referir (crê-se que sarcasticamente) que é o tema do "pior filme de sempre". 

Trailer:


Pat Benatar "Invincible"


"Invincible" vídeo fanmade com cenas do filme


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