terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Natal dos Hospitais (Partes 2, 4 e 6 redux)

por Paulo Neto

Devido às vicissitudes do Youtube, alguns dos vídeos de três artigos dedicados ao "Natal Dos Hopsitais" não se encontram mais disponíveis e por isso decidi condensar esses três artigos (referentes às partes 2, 4 e 6) aqui. 


Pela sua longevidade e tradição, ainda que se diga que já não é o que era nem coisa que se pareça, a verdade é que tem o seu quê de reconfortante saber que em breve a RTP levará a cabo mais uma edição do "Natal dos Hospitais". Todos nós temos memórias das edições dessa lendária emissão natalícia nos anos 80 e 90, que nos mantinha presos à televisão a assistir ao interminável desfile de artistas. Não sei se é pelo o açúcar que o tempo adiciona às nossas memórias, mas dava a ideia que mesmo os cantores mais pimba avant-la-lettre eram mais dignos que os cantores pimba actuais, que havia mais artistas e grupos prestigiados outrora e que as horas da maratona televisiva custavam menos a passar. Também tenho pena que desde há mais de dez anos que o programa seja emitido ainda em período escolar, pois recordo ver o "Natal dos Hospitais" em tempo das sempre deliciosamente ansiadas Férias de Natal, onde era um dos vários pontos altos desse sublime período.

A primeira edição do "Natal dos Hospitais", iniciativa do "Diário de Notícias" e da RDP, teve lugar em 1944. Entre os artistas presentes estiveram, como se vê na foto em baixo, Vasco Santana e Mirita Casimiro (a eterna Maria Papoila), então casados.



Recordemos agora algumas actuações nos Natais dos Hospitais dos anos 80 e 90:


Em 1989, Catarina Furtado era uma jovem de 17 anos, finalista da Escola de Dança do Conservatório Nacional. No Natal dos Hospitais desse ano, longe de se imaginar que iria apresentar futuras edições do programa na RTP, marcou presença num número de dança coreografado por Jorge Trincheiras, ao som de "Adestes Fidelis" na voz de Luciano Pavarotti. Catarina é a segunda a entrar em palco, dançando com outros colegas do seu curso: Alexandra Pinto, Carla Pereira, Liliana Mendonça, Jorge Mira e Sandra Rosado. Reconheci esta última, a ruiva, do filme "Rasganço".


De 1989, o futuro presidente do Boavista, João Loureiro com a sua banda, os Ban, num dos seus mais famosos hits "Dias Atlânticos".

Ainda em 1989 com a actuação dos GNR, todos eles vestidos de forma bem formal, sobretudo Rui Reininho de papillon e camisa de folhos. Nesse ano, o Grupo Novo Rock (que é o que quer dizer a sigla do grupo) lançara o álbum "A Valsa dos Detectives" que continha duas das minhas canções preferidas da banda: "Morte Ao Sol" e este "Impressão Digital".



Continuando em 1989, José Cid canta um medley dos seus hits, incluindo "Um Grande Grande Amor", "Na Cabana Junto À Praia", "Os 20 Anos" e "A Minha Música".


Na batalha Onda Choc vs. Ministars, eu pendia para o lado destes. Tive os três primeiros álbuns deles (contra apenas uma cassete dos Onda Choc) e quando nunca surgiam na televisão com menos de três rapazes (o que significava que era mais d'homem gostar dos Ministars que dos Onda Choc). Muitos de vós reconhecerão esta versão de "I Wanna Dance With Somebody". E serei o único a lembrar-me desta árvore de Natal giratória do cenário do "Natal dos Hospitais" de 1987?


Seguindo para 1997, ainda no campo dos grupos infanto-juvenis que versionavam temas estrangeiros, quem não se lembra da Malta Pop (com uma aceitável quota de dois rapazes) que nos anos 90 ousaram desafiar o domínio dos Onda Choc (por esta altura, os Ministars já tinham ido à vida). 

 

Recuando até 1991, is Fernando Mendes (quando ainda só vestia no máximo o tamanho L), numa rábula da recista "Vamos A Votos" com Rosa Villa ou o encontro entre uma mulher "discreta" e um homem que tem sempre as (duas) palavras certas para dizer! 


Afinal eu não estava equivocado quando eu tinha memórias que uma das edições do "Natal dos Hospitais" não teve o habitual palco de auditório mas sim numa escadaria do hospital. Foi em 1992, creio que no Santa Maria, em que os cantores iam descendo um lance de escadas até ao palco improvisado. Foi o caso da malograda Cândida Branca-Flor que cantou "Ei Rosinha", uma adaptação de um tema tradicional de Cabo Verde.


No Natal de 1992, Anabela ainda estava a alguns meses de vencer o Festival da Canção com o incontronável "A Cidade (Até Ser Dia)". Mas desde tenra idade que a cantora natural da Cova da Piedade já tinha dado provas do seu talento. Nesse de ano 1992, não só Anabela tinha editado um novo álbum "Encanto" do qual se incluía este "Histórias de Encantar" como fazia parte do elenco da telenovela "Cinzas" como uma jovem aspirante a fadista.


Lena D'Água editou nesse ano de 1992 um álbum de temática infantil "Ou Isto Ou Aquilo" em que musicou poemas da poetisa brasileira Cecília Meirelles. É o caso deste "Todos Querem Ser Pastores" onde Lena surgiu acompanhada por um grupo de crianças.



Em 1997, Fernando Monteiro (quem?) num comovente tributo à população idosa, tão negligenciada pela nossa sociedade, no tema "A Velhinha No Passeio".



 A quadra natalícia também propiciava que vários artistas se reunissem numa cantiguinha de Natal, como se sucede neste caso que junta nomes como Marante, Maria Lisboa, José Alberto Reis e Filipa Lemos numa fase pré-Santamaria.


Ou ainda em 1997, esta canção onde andaram de mãos dadas vários cantores como Mónica Sintra, Claudisabel e Chiquita.


Foi em finais de 1997 que os Excesso irromperam para preencher a lacuna de boybands nacionais e também não podia deixar de marcar presença no Natal Dos Hospitais com o seu grande hit "Eu Sou Aquele". Ao que parece, os cinco rapazes andavam tão atarefados de um lado para o outro que alguns até se esqueceram de vestir camisas! 

De regresso aos anos 80, duas figuras imortais: Fernando Pessa e Amália Rodrigues. (E um cameo da "Senhora De Cavaco Silva")



E para terminar, como não podia deixar de ser, Herman José no seu avatar José Estebes, em 1990 acompanhado por Ana Bola e Vítor de Sousa, a cantar o imortal "Vamos Lá Cambada". A certa altura, outros artistas também surgem no palco e Herman aproveita para cantar excertos de outras canções deles como "O Anel de Noivado" dos Trio Odemira e "Trocas Baldrocas" de Cândida Branca-Flor. 


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Um Conto de Natal do Mickey (1983)

 por Paulo Neto

O conto "A Christmas Carol", ou "O Cântico De Natal", de Charles Dickens, originalmente publicado em 1843, é por demais conhecido de tantas vezes que já foi adaptado em teatro, televisão e cinema (quer em live action, quer em animação). O meu primeiro contacto com a história do avarento Ebenezer Scrooge foi num telefilme de 1984 com George C. Scott (o actor que famosamente rejeitou o Óscar que ganhou por "Patton") no principal papel, que a RTP1 exibiu no dia 22 de Dezembro de 1988, um dia antes da estreia em Portugal do filme "Scrooged" (com o infeliz título tuga de "SOS Fantasmas") uma adaptação modernizada de "O Cântico De Natal" protagonizado por Bill Murray.




No entanto, foi no Natal de 1991 que eu descobri aquela que seria de longe a minha adaptação preferida de "O Cântico de Natal", quando eu e o meu irmão recebemos de presente a cassete VHS "O Natal de Mickey Mouse" que continha "Um Conto de Natal do Mickey" ("Mickey's Christmas Carol"). Tratava-se de uma featurette (termo que designa um filme maior que curta-metragem mas menor que uma longa metragem) de 1983 de cerca de 26 minutos, com produção e realização de Burny Mattinson onde as várias personagens de Disney desempenhavam as personagens do conto de Dickens, cujos momentos mais dramáticos da história eram atenuados com o típico humor Disney. Este era o primeiro lançamento cinematográfico da Disney com o Rato Mickey desde 1953. 




A nossa VHS continha verdade quatro curtas-metragens Disney de temática natalícia, sendo que "Um Conto de Natal do Mickey" era a terceira e a mais longa. As duas primeiras faziam parte da série "Silly Symphonies" e não tinham diálogo, apenas música e sons: "The Night Before Christmas" (1933) e "Winken, Blinken & Nod" (1938) e a quarta era "Pluto's Christmas Tree" (1952) em que o Mickey leva para casa uma árvore de Natal que vem-se se a saber ser aquela onde vivem o Tico e o Teco que fazer das suas para irritação do Pluto. Tal como "Um Conto de Natal do Mickey", esta curta-metragem era dobrada em português do Brasil. O meu irmão gostava tanto destas quatro histórias que viu a nossa cassete incontáveis vezes (muitas delas comigo) ao longo do ano inteiro, incluindo no pico do Verão. 



Mas de volta a "Um Conto de Natal do Mickey", impunha-se que fosse Tio Patinhas a fazer de Ebenezer Scrooge, pois o seu nome original é Scrooge McDuck. Na Londres Vitoriana, reina a alegria da quadra natalícia, excepto para o ganancioso e avarento Scrooge, dono de uma firma de contabilidade e agiotagem, que só a muito custo permite que o seu mal-pago mas leal empregado Bob Cratchit (Rato Mickey) tire meio dia de folga no Natal, rejeita o convite do seu sobrinho de Fred (Pato Donald) para a Ceia de Natal e recusa o apelo de dois colectores de peditórios para os pobres. 



Nessa noite, ao regressar a casa, Scrooge recebe a visita do fantasma de Jacob Marley (Pateta), o seu antigo sócio que morrera sete anos antes, que revela que devido à sua ganância foi condenado no Além a vaguear com um monte de correntes e que o avisa que caso não mudar, Scrooge sofrerá semelhante destino. Marley avisa ainda que nessa noite três espíritos o irão visitar.
O Fantasma do Natal Passado (o Grilo Falante) recorda-lhe os tempos em que Scrooge era jovem e mais generoso que numa festa de Natal conheceu Isabel (Margarida), o amor da sua vida. Porém o namoro acabou quando ele se tornou mais ganancioso e escolheu o dinheiro em vez do amor dela, perdendo Isabel para sempre. 



O Fantasma do Natal Presente (o Gigante de "Mickey e o Pé de Feijão") leva-o a visitar a Consoada da família de Bob Cratchit, onde apesar da pobreza em que vivem e da pouca comida na mesa, todos estão felizes por estarem juntos. Scrooge fica sensibilizado com Tiny Tim, o filho debilitado de Bob, a quem o Fantasma prevê que ele não viva muito mais tempo caso a situação da família não mude.
O Fantasma do Natal Futuro (Bafo De Onça) transporta-o para o cemitério onde revela a Scrooge que Tim morreu com a sua família chorosa diante da sua campa. Depois, a conversa de dois coveiros que comentam que ninguém apareceu no funeral do defunto cuja sepultura estão a cavar chama a atenção de Scrooge, que verifica com horror que se trata da sua própria sepultura, para onde o Fantasma o atira.



Após esta experiência, Ebenezer Scrooge acorda na Manhã de Natal como um homem completamente mudado. Como tal, dirige-se a casa dos Cratchit com um saco cheio de comida e brinquedos, não sem antes fazer um generoso donativo aos colectores que rejeitara no dia anterior e aceitar o convite de Fred para o jantar de Natal. Em casa dos Cractchit, Scrooge finge que continua o mesmo e que só trouxe mais roupa para lavar mas quando os filhos descobrem os brinquedos no saco, Scrooge revela que não só vai aumentar o seu salário como fazer dele o seu sócio. O filme acaba com Scrooge sentado numa cadeira e pegando Tiny Tim no colo que diz a famosa última frase do conto: "E que Deus abençoe a todos nós!".    

Também presentes na featurette aparece a Minnie como a mulher de Bob Cratchit e versões jovens do Mickey e da Minnie como os seus filhos, enquanto a Vovó Donalda, o Huguinho, o Zezinho, o Luisinho, o Gansolino, a Clarabela, o Tico e o Teco podem ser vistos na cena da festa de Natal em que Scrooge e Isabel se apaixonam bem como os Três Porquinhos a cantarem na cena inicial. Também foram incluídas várias personagens do filme "As Aventuras de Ichabod e do Sr. Sapo", nomeadamente o Sr. Sapo como Fezziwig, o antigo patrão e mentor de Scrooge, o Rato e a Toupeira como os colectores de peditórios para os pobres e as Doninhas como os coveiros do cemitério. 

"Um Conto de Natal do Mickey" foi exibido nos cinemas em 1983 em conjunto com uma reexibição de "O Livro Da Selva" no Reino Unido e de "Bernardo E Bianca" nos Estados Unidos, tendo depois sido incluída em várias antologias para televisão e vídeo. Foi também nomeada para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. Na versão original, este foi o filme em que Alan Young se estreou como a voz oficial do Tio Patinhas (Bill Thompson, a voz inicial, falecera em 1971), que continuaria a sobrar até ao fim da sua vida em 2016, nomeadamente na série "Duck Tales". 


Trailer:



Making of:






quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Festival da Eurovisão 2001

 


O 46.º Festival da Eurovisão da Canção teve lugar a 12 de Maio de 2001 no Estádio Parken em Copenhaga na Dinamarca, após a vitória desse país no ano transacto. O estádio, considerado como uma das catedrais do futebol dinamarquês (tendo por exemplo acolhido alguns jogos do Euro 2020), tinha uma cobertura retráctil e as suas dimensões proporcionaram que este fosse a edição do Festival da Eurovisão com a maior audiência de sempre com 38 mil espectadores. 

Porém, devido aos custos de organizar o espectáculo num recinto daquelas dimensões, certamente não terá havido orçamento suficiente para a iluminação, por que a sensação que dava é que estava muito escuro no estádio e alguns do espectadores nem conseguiam ver bem o palco, que por sua vez notava-se não ter iluminação suficiente e ser grande demais para algumas das actuações. Os apresentadores foram Soren Pilmark e Natasja Crone-Back que tiveram a particularidade de falarem quase sempre em rima. Um dos momentos mais caricatos foi quando os apresentadores mostraram o troféu a ser entregue ao vencedor, gerando-se um burburinho quando Pilmark pegou desajeitadamente no troféu e deixou-o cair no chão, estilhaçando-se todo. Mas tudo não passou de uma brincadeira e o verdadeiro troféu foi parar intacto às mãos do vencedor. 
A actuação de intervalo esteve a cargo dos Aqua, que cantaram uma medley dos seus hits (com uma Lene Nystrom inesperadamente asneirenta na parte de "Barbie Girl"), acompanhados pelo Safri Duo, a dupla percussionista cujo tema "Played-A-Live" fazia furor nas pistas de dança da altura.  

Após a ausência no ano anterior devido às regras de relegação, Portugal voltava a participar bem como Bósnia-Herzegovina, Eslovénia, Grécia, Lituânia e Polónia, ao passo que Áustria, Bélgica, Chipre, Finlândia, Macedónia, Roménia e Suécia ficaram de fora devido aos baixos resultados do ano anterior. 
Os votos de dezassete dos 23 países participantes vieram do televoto, enquanto Bósnia-Herzegovina, Rússia e Turquia optaram por um júri e Croácia, Grécia e Malta um método 50% de cada. Eládio Clímaco assegurou os comentários para a RTP e Margarida Mercês de Melo foi a porta-voz dos votos de Portugal. 

Como é hábito analisaremos as canções concorrentes por ordem inversa da classificação.

Haldor Lagreid (Noruega)


Two Tricky (Islândia)


O último lugar foi repartido pela Noruega e a Islândia com três pontos. Um nome consagrado no teatro musical norueguês, Haldor Lagreid cantou deu interpretação dramática de "All By Myself" "On My Own" e os telespectadores cá do burgo devem ter gostado, pois os três pontos da Noruega vieram de Portugal. Já a Islândia recebeu 1 ponto da Noruega e 2 da Dinamarca, representada pelo duo Two Tricky com "Angel", um tema pop bastante simpático mas não muito memorável. Ao que parece, uma polémica na final nacional islandesa devido ao regulamento imposto pela TV local que obrigava que todas as canções fossem cantadas em islandês e a contestação de vários artistas de poderem escolher o idioma que queriam chegou até a ser debatido no Parlamento. Por fim, o duo composto pro Kristjan Gislasson e Gunnar Olsson cantou em inglês (a versão islandesa tinha como título o nome feminino "Birta") mas de pouco lhes serviu.

Gary O'Shaughnessy (Irlanda)

Piasek (Polónia)


Com cinco pontos do Reino Unido e um de Portugal, a Irlanda ficou-se pelo 21.º lugar, naquele que era na altura o pior resultado de sempre do país com mais vitórias na Eurovisão. Gary O'Shaugnessy cantou a balada "Without Your Love" mas este registo que valera tantas vitórias à Irlanda no passado já estava datado. Curiosamente o seu sobrinho Ryan foi o representante irlandês na edição de 2018 em Lisboa.
A Polónia apostou num dos seus cantores mais populares, Andrzej Piaseczny ou simplesmente Piasek, com o tema "2 Long", mas ficou-se pelo 20.º lugar com onze pontos. O look não ajudou já que ele surgiu em palco envergando um casaco de pele cuja tecelagem parecia abruptamente interrompida (valendo-lhe o prémio de Barbara Dex) e que a meio da actuação jogou para o chão. Além disso, as cantoras de coro vestidas como odaliscas também não encaixavam no estilo da canção. A par da sua carreira na música, Piasek entrou de 1997 a 2010 numa série de televisão, onde fazia de… cantor.

Michelle (Países Baixos)

 
Arnis Mednis (Letónia)

Os Países Baixos e a Letónia ficaram ambos em 18.º lugar com 16 pontos. Coube à representante holandesa Michelle ser a primeira a actuar com a balada new age "Out On My Own" e parecia que ela vinha de dar uma aula de ioga. Porém, Portugal aprovou e foi o país que deu mais pontos aos Países Baixos, seis. Actualmente Michelle Courtens é professora de canto.
Depois de uma auspiciosa estreia no ano anterior, em que conseguiu o terceiro lugar, desta vez a Letónia teve uma prestação mais modesta. Arnis Mednis cantou "Too Much", um tema que bem podia ter pertencido aos Rednex. Porém, no ano seguinte, as coisas correriam pelo melhor à Letónia.  

MTM (Portugal)

Portugal foi representado pelo duo MTM (Marco, Tony e Música), composto por Marco Quelhas e Tony Jackson. Este era natural de Angola, tendo vindo para Portugal para estudar medicina. Já Marco Quelhas tinha tido algum êxito como vocalista da banda Karamuru e durante a década de 90, tentou a sua sorte várias vezes no Festival Da Canção, mas até então só vencera como co-autor da canção vencedora de 1993, "A Cidade (Até Ser Dia)" de Anabela. 
O Festival da Canção de 2001 foi o mais extenso até então, com cinco semifinais (a primeira delas ainda em Outubro de 2000) de dez canções cada em cinco cidades diferentes (Setúbal, Leiria, Faro, Funchal e Ponta Delgada). As duas primeiras canções de cada semifinal apuraram-se para a grande final que decorreu no Europarque de Santa Maria da Feira a 7 de Março de 2001. No entanto, devido à tragédia da queda da Ponte de Entre-Os-Rios três dias antes, a final não foi transmitida em directo, sendo exibida uns dias mais tarde. Entre os nomes mais sonantes que participaram, destaco Lura, Mónica Ferraz e Ana Laíns, assim como Mané Crestejo e Rosete Caixinha que nos próximos anos ficariam conhecidos por participações em programas de talentos. 
Contudo a meu ver, quantidade não significou qualidade, e o nível geral das canções foi pouco elevado. A canção vencedora "Só Sei Ser Feliz Assim" não era excepção, sendo um tema simpático mas já datado e será porventura a menos lembrada de todas as nossas canções eurovisivas. Portugal foi o último país a receber pontos mas com a diáspora portuguesa a mobilizar-se, Portugal recebeu 12 pontos da França e mais seis da vizinha Espanha e ficou-se pelo 17.º lugar.
Este resultado significou uma nova relegação e Portugal não participaria no Festival de 2002. No entanto, a história poderia ter sido diferente. Isto porque para a edição de 2002, a EBU decidiu alargar o número de países participantes para 24 e sobrando duas vagas, convidou os primeiros dois países de entre os relegados, Israel e Portugal. A televisão israelita aceitou mas a RTP, a braços com problemas  administrativos e financeiros, declinou e a vaga passou para a Letónia que aceitou… e não é que ganhou nesse ano?´

Tal Sondak (Israel)


Lindsay Dracass (Reino Unido)


Nesta edição, apenas três países não recorreram, inteira ou parcialmente, ao inglês para as suas canções: Portugal, Espanha e Israel, que ficou em 16.º lugar com 25 pontos (incluindo um 10 da França). Tal Sondak cantou "En Davar" ("não importa") um tema com alguns toques latinos, mas foi um pouco prejudicado pelos cantores de coro que não estiveram muito bem afinados.
O Reino Unido foi representado pela jovem Lindsay Dracass, de 16 anos com o tema dance-pop "No Dream Impossible" que ficou em 15.º lugar com 28 pontos. Apesar deste ser o seu único momento de notoriedade, Lindsay continuou ligada à música e mais recentemente foi um dos cem jurados do "All Together Now" britânico. 

Nino (Bósnia-Herzegovina)

SKAMP (Lituânia)


Será que Nino Prses pediu emprestadas algumas roupas ao Pedro Abrunhosa, incluindo um dos seus pares de óculos? Depois de ter integrado várias bandas, Nino dava os seus passos como artista a solo e representou a Bósnia Herzegovina com o tema "Hano" onde cantava o seu amor a uma Hana. Ficou em 14.º lugar com 29 pontos. 
Depois de 1994 e 1999, a Lituânia participou pela terceira vez, com o grupo Skamp e o tema funk-disco "You Got Style", ficando em 13.º lugar com 35 pontos. O trio tinha-se formado em 1998 e era composto por Vilius Alesius, Erica Jennings, natural da Irlanda, e Victor Diawara, de ascendência malinesa. Em 2006, Diawara integrou o grupo LT United que obteve o melhor resultado da Lituânia até ao momento, um sexto lugar, com o rotundo "We Are The Winners".

Mumiy Troll (Rússia)

Sedat Yuçe (Turquia)

Vanna (Croácia)


A Rússia foi representada pela banda rock Mumiy Troll, activa desde 1983 e liderada desde sempre pelo vocalista Ilya Lagutenko. Com "Lady Alpine Blue" obtiveram o 12.º lugar com 37 pontos
Sedat Yuçe foi o representante da Turquia com a balada "Sevgiliye Son" ("o fim do amor"), que lhe valeu 41 pontos e o 11.º lugar.
Ivana Ranilovic-Vrdoljak, ou simplesmente Vanna, foi a representante da Croácia com "Strings Of My Heart", um tema que fazia lembrar um pouco a música de "O Barco Do Amor", alcançado o décimo lugar com 42 pontos. Entre a vitória na pré-selecção croata e a participação eurovisiva em Copenhaga, Vanna deu à luz uma filha!  

Fabrizio Faniello (Malta)

Michelle (Alemanha)


Graças aos 12 pontos da Dinamarca, o último país a votar, Malta saltou do 13.º para o nono lugar. Fabrizio Faniello cantou "Another Summer Night", um tema de latin-pop. Graças a esta participação, Faniello conseguiu obter alguma notoriedade fora do seu país, sobretudo com o seu single de 2004, "The Whistle Song (I'm In Love)". Em 2006, voltou a representar Malta no Festival da Eurovisão com "I Do" mas desta vez ficou no último lugar da final. A sua irmã Claudia também representaria o país em 2017.
Tal como os Países Baixos, a Alemanha fez-se representar por uma Michelle. Mas se a Michelle holandesa era mesmo Michelle, no caso da Michelle alemã, era o stagename de Tanja Hewer que cantou a balada "Wer Liebe lebt" ("quem vive o amor") na versão bilingue em alemão e inglês. A canção alemã ficou em oitavo lugar com 66 pontos (com Espanha e Portugal a darem 10 pontos cada). Michelle continua activa na sua carreira na Alemanha. Segundo a Wikipedia, em 2009 terá anunciado o fim da carreira, pelo menos com o nome Michelle, com álbum precisamente chamado "Goodbye Michelle", mas regressaria no ano seguinte.

Nusa Derenda (Eslovénia)

David Civera (Espanha)


Com 70 pontos, a Eslovénia repetiu o sétimo lugar de 1995 que, até 2021, permanece como o melhor resultado deste país. Nusa Derenda cantou o tema eurodance "Energy".
A vizinha Espanha foi representada por David Civera, natural de Teruel, província de Aragón. Civera participara em vários programas de televisão, como a versão espanhola do "Chuva De Estrelas" onde imitou Enrique Iglesias, mas foi com a sua participação na Eurovisão que a sua carreira arrancou. Em Copenhaga, cantou "Dile Que La Quiero" acompanhado por duas bailarinas ucranianas, obtendo um sexto lugar com 76, incluindo 12 de Israel. Uma das canções da pré-selecção espanhola de 2001 também fez algum sucesso por cá nesse ano, "Yo Quiero Bailar" de Sonia & Selena. Quanto a David Civera, obteve mais alguns hits nos anos seguintes (quando eu fui de férias a Espanha em 2002, tocava muito uma música dele que era "Que la detengan, que es una mentirosa...") e o seu último álbum, de 2016, assinalava quinze anos de carreira. 

Friends (Suécia)

Com uns rendondinhos cem pontos, a Suécia ficou em quinto lugar. O grupo Friends cantaram "Listen To Your Heartbeat" com nítida influências dos ABBA e até também tinham uma vocalista loura (Nina Inhammar) e outra morena (Kim Kärnfalk). Mas aparentemente ABBA não era a única influência, pois alguns notaram algumas semelhanças com "Liefde Ist Een Kaartspeel", a canção que tinha representado a Bélgica em 1996. A princípio os autores da canção sueca negaram, mas os autores da canção belga interpuseram uma acção legal através da SABAM (a Sociedade Belga de Autores) e o processo acabou com um acordo monetário entre ambas as partes. Em 2004, Nina Inhammar e Kim Kärnfalk lançaram um álbum como duo.  

Natasha St. Pier (França)

Não deixou de ser surpreendente o facto da canção da França ter sido cantada em francês e inglês, mas no fundo até fazia algum sentido pois a sua representante Natasha St. Pier era natural de New Brunswick, a única província do Canadá que tem as duas línguas como idiomas oficiais. Natasha cantou a balada "Je N'Ai Que Mon Âme" ("só tenho a minha alma") alcançando o quarto lugar com 142 pontos (incluindo 12 pontos de Bósnia-Herzegovina, Rússia e Portugal). Natasha St. Pier tem tido desde então uma carreira de grande sucesso nos países francófonos e foi mentora na versão belga do "The Voice".  

Antique (Grécia)

A Grécia obteve o seu melhor resultado de sempre até então, ao alcançar o terceiro lugar com 147 pontos, incluindo 12 pontos da Suécia e da Espanha. Os representantes era o duo Antique composto por Helena Paparizou e Nikos Panagiotidis, ambos nascidos na Suécia no seio de famílias imigrantes gregas com "I Would (Die For You)", um solarengo tema bilingue que eu facilmente imaginaria facilmente a ser tocada numa praia da ilha de Mykonos. Na minha opinião, a vitória deveria ter sido discutida entre Grécia e França. No entanto, aqueles que previam nos Antique aqueles que trariam a primeira vitória da Grécia na Eurovisão não estavam enganados de todo, pois o triunfo grego chegaria quatro anos depois com Helena Paparizou a solo.  

Rollo & King (Dinamarca)

Depois da vitória no ano anterior, a Dinamarca obteve mais um excelente resultado, ficando em segundo lugar. O duo Rollo & King defenderam o tema com sonoridades country "Never Ever Let You Go". Soren Poppe e Stefan Nielsen usaram os nomes dos seus cães para nomear o grupo, cujo álbum de 2000 tinha tido grande sucesso no seu país. No entanto quem acabou por dominar as atenções foi Signe Svendsen, a cantora recrutada que cantou ao lado de Poppe. A canção dinamarquesa obteve 177 pontos, com seis países.

Dave Benton & Tanel Padar (Estónia)

Contudo desde o início da votação que a Estónia tomou a liderança e apesar de a Dinamarca ter chegado a ameaçar, este país báltico ganharia com uma confortável margem. A Estónia arrecadou 198 pontos, com pontuações máximas de nove países e o único país que não deu quaisquer pontos foi Portugal. Tanel Padar (que tinha feito coro na canção da Estónia de 2000) e Dave Benton (natural da ilha caribenha de Aruba, pertencente ao Reino dos Países Baixos) defenderam o tema disco-pop "Everybody" acompanhados nos coros pela dance crew 2XL e o seu triunfo foi uma surpresa pois a canção não figurava entre as favoritas. E ainda hoje, não falta quem considere uma das vitórias menos meritórias da história do Festival da Eurovisão, até porque tanto antes como depois, a Estónia levou canções amplamente consideradas como sendo melhores. 



No entanto, este triunfo estoniano não deixa de ser um marco histórico pois tratava-se da primeira vitória no certame de um país da antiga União Soviética e, à parte a vitória da Jugoslávia de 1989, de um país leste-europeu. Além disso, Dave Benton tornou-se o primeiro cantor negro a vencer o Festival da Eurovisão e, com 50 anos à altura do certame, o cantor mais velho a conseguir tal proeza. Por amor a uma estoniana que conheceu num navio de cruzeiro, Benton mudou-se para aquele país. (Curiosamente, em 1981, competiu no Festival da OTI sob o seu verdadeiro nome Efrén Benita, representando as Antilhas Holandesas.)  

Festival da Eurovisão 2001 (comentários em polaco)








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