Passaram pela televisão portuguesa dois anúncios a café épicos e que perduram na memória passadas décadas: "Bom dia com Mokambo" e o "I can see clearly now" da campanha "Nescafé. Um Amanhecer Diferente". (Nota: "Brasa é a bebida que aquece o coração" e do Café Nicola com o Bocage também são inesquecíveis)
Naturalmente, a Nescafé lançou em 1991 uma promoção para tentar capitalizar o êxito do anúncio: "Promoção O Sucesso Nescafé".
"Peça já o Sucesso Nescafé! O sensacional disco de Johnny Nash "I can see clearly now" um tema original da banda sonora do filme Nescafé. Uma oferta Nescafé, completamente grátis. Basta enviar num envelope, com o seu nome e morada completos, 1 rótulo de 100 g ou de 2 de 50 g de qualquer embalagem Nescafé, para: "Promoção O Sucesso Nescafé" Apartado 5071, 1702 LISBOA CODEX. E receberá em sua casa, sem mais despesas, este sucesso Nescafé."
O mítico anúncio "Nescafé, um amanhecer diferente" (1991):
Uma jovem chega no seu clássico Carocha da Volkswagen junto ao mar, triste (um desgosto amoroso, um exame em que chumbou? Nunca saberemos.), mas nada que um chávena quentinha de Nescafé e o bonito por do sol não resolvam. Desde essa época fiquei intrigado com a resistência com que ela aquece o café, nunca tinha visto nada do género nos carros de família. E uma tia tinha um carocha! Tenho saudades dessa viatura que parecia pequena mas levava uma enorme quantidade de tios e sobrinhos todos ao molho lá para dentro, quase como no Mini do Júlio Isidro no "Passeio dos Alegres".
Tenho impressão de há uns anos ter lido alguém dizer que no anúncio a música que se ouvia era o cover de Jimmy Cliff, mas como essa só foi gravado mais tarde em 1993 (da banda sonora de "Jamaica Abaixo de Zero")... E a capa do disco no anúncio da revista diz claramente "Johnny Nash - I Can See Clearly Now" mas com o subtítulo remix. Tentei ouvir vários reclames mas a má qualidade do som não me deu a certeza de ter sido usada a mesma versão em todos os países...
Eu nem gosto de café, mas este anúncio foi uma tentação para me iniciar no mundo da cafeína. Iniciações essas sempre falhadas...
Imagem digitalizada e editada por Enciclopédia de Cromos. Retirada da revista "SETE" Nº 666, com data de 14 de Março de 1991.
O breve mas fulguroso movimento cultural que foi o rock português no inicio dos anos 80 fez com que várias bandas deixassem a sua marca na música nacional, mesmo que a sua chama se apagasse tão depressa como brilhou. E entre elas, a mais lendária foi sem dúvida o legado deixado pelo Grupo De Baile com apenas um célebre single editado em 1981.
Como o nome indica, o Grupo De Baile começou por ser apenas um grupo de amigos no Seixal, membros da filarmónica local, que formou uma banda para actuar em festas e bailes nas redondezas (começando aliás com o nome de SUS Music). Eram eles Carlos Tavares (voz), Vicente Andrade (guitarra), Luís Rosado (bateria), António Manuel (baixo), Luís Landeiroto (órgão), Marcelino Guerreiro (saxofone alto), João Mário (saxofone tenor) e José Manuel Raminhos (trompete). A popularidade da banda foi crescendo até que em 1981, tiveram a oportunidade de gravar um single editado pela Valentim De Carvalho: esse single tinha como lado A "Patchouly" e lado B "Já Rockas À Toa".
Não sei se a letra de "Patchouly" tem algum significado mais transcendente do que parece, ou é só mesmo sobre um semi-indigente que tenta engatar "as miúdas das escolas secundárias", com o seu odor corporal a funcionar estranhamente como uma eficaz feromona. Mas o que é certo, é que não tardou que o povo tuga trauteasse "Patchouly" nem que fosse só os "uóuóuó". Para ainda acentuar o frisson, o disco foi editado em duas versões: uma com a canção completa, e outra que colocava um piiiiiii em vez da palavra pintelho, que surgia no terceiro verso. (Já tinham passado sete anos do 25 de Abril, mas aparentemente as mentalidade ainda não tinham mudado assim tanto.)
O Grupo De Baile editou em 1982 mais dois singles, "Vocalista Rock" e "Estória Linda", e podiam ter sido os Madness portugueses mas não só o sucesso se repetiu como, igual a tantas outras bandas da altura, a vida meteu-se no caminho, a banda desfez-se e os membros regressaram aos seus empregos principais. Por exemplo, Carlos Tavares é ainda hoje funcionário da Câmara Municipal do Seixal.
Contudo o Grupo De Baile ainda se reuniu algumas vezes esporadicamente, como por exemplo em 1988 para esta actuação no programa "A Quinta Do Dois", onde fica claro que Carlos Tavares tinha tudo para ser um rockstar de arrastar multidões.
Entre outras ocasiões em que a banda se reuniu contam-se em 1999 para o Festival Seixal Rock desse ano e em 2006 para o programa Febre De Sábado De Manhã, onde se homenageou esse mítico programa de rádio de Júlio Isidro. Carlos Tavares colaborou em discos dos Corvos e dos Alcoolémia.
"Patchouly" também já teve várias versões e paródias. Recordo-me sobretudo de "Chulézi", do programa "Ora Bolas, Marina" da SIC, onde Marina Mota, na pela da desinibida vocalista da banda rock Us-Batná-Vó, cantava:
Lava bem esses presuntos com sabonete E as peúgas não as deixes por aí Porque senão ainda alguém morre com o pivete Pois tresandam ao teu perfume chulézi Uó uó, uó uó, uó uó, uó uó, uó uó, uó uó
Filho do incomparável Vasco Santana, Henrique Santana (1924-1995) seguiu as pisadas do pai no mundo do espectáculo. A sua estreia no cinema foi em "Fado, A História De Uma Cantadeira", ao lado do pai e de Amália Rodrigues. Porém foi nos anos 80, através da televisão, que Henrique Santana teve os seus desempenho mais marcantes. Primeiro na adaptação para TV da divertida peça "Aqui Há Fantasmas", depois na série "Os Homens Da Segurança" no papel de Vítor Mesquita e como protagonista da sitcom "Sétimo Direito" (também denominada como "7.º Direito").
Exibida na RTP 2 em 18 episódios entre Outubro de 1988 e Fevereiro de 1989, "Sétimo Direito" mostrava as desventuras dos moradores de um prédio na Avenida de Roma em Lisboa, nomeadamente o da família Pimentel que mora no andar do título. Alberto Pimentel (Henrique Santana), que amigos e familiares tratam por Beto, é o patriarca, dono de uma fábrica de concentrados e que tem o seu escritório no 1.º Direito. Com ele vivem a sua esposa Esmeralda (Lia Gama), a sua filha Isabel (Cláudia Cadima) e o genro Fernando (Luís Aleluia) e há também a espevitada empregada Celeste (Noémia Costa).
Entre os outros moradores do prédio está o casal do 2.º Direito, Luís (Carlos Quintas) e Laura Tavares (Rita Ribeiro), um casal moderno e bem-sucedido mas cujo ciúme de ambos os cônjuges faz amiúde estalar o verniz, bem como a D. Eulália (Alda Pinto), a cartomante do 5.º esquerdo, e o Sr. Sequeira (Henrique Santos), o administrador de condomínio que mora no 3.º esquerdo. E sempre atenta a tudo está Rufina (Maria Helena Matos, na vida real casada com Henrique Santana e filha da lendária Maria Matos), a porteira do prédio.
Como eu já referi aqui algumas vezes, eu vivi os meus primeiros doze anos de vida sem a RTP2 sintonizada na minha casa, por isso eu não vi esta série na altura, nem me recordo de a ver reposição na RTP1 em 1994, pelo que o meu contacto com "Sétimo Direito" foi evidentemente na RTP Memória. Um dos episódios que eu gostei mais foi o da "Noite De Natal" em que Esmeralda, supersticiosa com o facto de haver treze pessoas à mesa para a Consoada na casa dos Pimentel, obriga Beto a convidar mais uma pessoa. E essa pessoa acaba por ser Maria Do Céu (Linda Silva) a.k.a. "A Licas dos Anjos", uma prostituta. Após as inevitáveis confusões que isso gera, todos acabam por simpatizar com ela e Maria Do Céu vive um Natal inesquecível. Outro episódio divertido foi o intitulado "Está Um Homem A Dormir Cá Em Casa" com a participação de Carlos Miguel no papel de Ernesto Talião, um homem que chega a casa dos Pimentel para falar com Fernando, só que este, a mulher e os sogros chegam tarde a casa e Talião acaba por adormecer enquanto esperava no escritório. Até que Isabel, sem conseguir dormir, dá com ele e a confusão instala-se. A série contou ainda com participações especiais de nomes como Nicolau Breyner, Cristina Homem de Melo, Cristina Oliveira, Lena Coelho, Luís Esparteiro, Nuno Melo e Carlos Areia.
Como já foi referido, além da sua exibição original na RTP2, "Sétimo Direito" foi reexibido em Setembro de 1994 na RTP1 à tarde, mas segundo o site "Brinca Brincando", essa reposição foi incompleta porque a meio do mês entrou em vigor a nova grelha do canal. O "Brinca Brincando" também revela que não era por acaso que a acção da série se passava no andar 7.º Direito do n.º 43 da Avenida de Roma. Na realidade, essa morada correspondia a um apartamento propriedade da família de Henrique Santana. Actualmente, a série está disponível no site de arquivos da RTP.
Tempo para recordar mais uma edição do Festival da Canção, desta vez recuando trinta anos até à edição de 1991, que se realizou nas antigas instalações da FIL. Como era habitual, o Festival teve lugar a 7 de Março, o dia de aniversário da RTP.
A apresentação esteve a cargo de Júlio Isidro e Ana Paula Reis e o tema da edição foi o cinema português. Antes da apresentação de cada canção foi apresentado um excerto de um filme português dos anos 30/40 e entre o desfile das canções e as votações, houve uma medley de canções do cinema português onde participaram António Pinto Basto (cantando "O Fado Do Estudante" de "A Canção De Lisboa"), Marina Mota (cantando "Cantiga Da Rua" de "O Costa Do Castelo), Lena D'Água (com "Sonhos De Amor" de "A Menina da Rádio), Luís Filipe, Nucha, Olívia e Paulo de Carvalho.
Nesse ano as oito canções foram selecionadas pelo convite da RTP a quatro editoras (Discossete, EMI, Namouche e Ovação), cada qual submetendo duas canções ao concurso. Vamos recordá-las pela ordem inversa à classificação.
Em último lugar, ficou precisamente a última canção a actuar, "Com Muito Amor" interpretada por Emanuel. Sim, esse Emanuel. De seu verdadeiro nome Américo Monteiro, já levava uma década no mundo da música, como produtor e compositor, atravessando diversos géneros (como por exemplo o synth-pop, no projecto Flash que em 1982 editou o single "Música Electrónica") e em 1991 dava os seus primeiros passos como cançonetista, usando o célebre stagename. Escusado será dizer que anos mais tarde, a carreira de Emanuel explodiu, sobretudo em 1995 quando lançou a canção que daria o termo utilizado para explicar o estilo de música sob o qual se albergaram sonoridades da música popular portuguesa, da música brejeira e do antigo nacional cançonetismo: a música pimba, que foi toda uma perfect storm no panorama musical português. Porém na altura Emanuel ainda estava a alguns anos da sua consagração e a canção que cantou ficou na cauda da tabela com 38 pontos. A actuação teve ainda a particularidade de ter em palco dois bailarinos de danças de salão dos Alunos de Apolo.
Em sétimo lugar ficou a canção n.º 6 "Sem Adeus", cantada por Paula Monteiro e Pedro Chaves. Paula Monteiro tinha tido alguma notoriedade em 1986 ao ser a voz e a cara do projecto Spunky que editou o single "Latino Americano", com o qual actuou em alguns programas de televisão como por exemplo o "Clube Amigos Disney", onde a certa altura apareceu o Zé Carioca para dançar com ela. "Sem Adeus" era uma balada romântica mas as vozes de Pedro Chaves e Paula Monteiro não conjugavam muito bem, daí o penúltimo lugar com 67 pontos.
Tal como Emanuel, Toy é hoje um household name. Mas na altura, o artista nascido com o nome de António Ferrão ainda estava no início da sua ascensão. Toy tinha-se iniciado na música quando esteve emigrado na Alemanha integrando vários grupos, regressando a Portugal em meados dos anos 80 dividindo-se entre compor para outros intérpretes e gravar as primeiras canções como solista. Toy era o único repetente desta edição no Festival da Canção, tendo participado no ano anterior com "Mais E Mais", tendo ficado em terceiro lugar e recebido o prémio de interpretação. Já com esta canção, n.º 2, "E Até Quando?", falando de temas mais sérios, não foi além do sexto lugar com 75 pontos (com a pontuação máxima do júri de Évora). Mas este seria apenas um mero fait divers na carreira de Toy que não tardaria a acumular sucessos.
Além da canção que o próprio interpretou, Emanuel também escreveu a canção n.º1, "No Teu Sorriso" para a voz de Mariel. Pouco ou nada mais se sabe sobre Mariel, que acusou o nervosismo na sua actuação, mas ainda assim a sua canção superaria a do seu mentor, ficando em 5.º lugar com 85 pontos.
A canção n.º 3, "Bye, Lili, Bye" foi interpretada por T&Gus, que é como quem diz, Tó Leal e Gustavo Sequeira. No início dos anos 90, estes dois cantores eram requisitadíssimos para vários trabalhos, desde espectáculos musicais a genéricos de programas e jingles publicitários e já tinham participado anteriormente no Festival, Sequeira em 1985 e Leal em 1988. Não esquecer que Gustavo Sequeira é voz que nos cantou "Selvagem, uma dentada em Lion" e "Gilette, o melhor para o Homem" e que eles os dois, juntamente com Nucha e uma senhora da qual se falará mais adiante, cantariam o hino da SIC no ano seguinte. E tal como essa mesma senhora da qual se falará mais adiante, Tó Leal era um dos cantores residentes do programa "Regresso Ao Passado" conduzido por Júlio Isidro e que na altura ia para o ar na RTP1 nas tardes de Domingo. A canção que os dois defenderam foi sem dúvida a mais bem-disposta e descontraída das oito a concurso e continha uma ilustre surpresa em palco: entre aqueles que acompanhavam Tó e Gustavo, estava nada menos que a lendária Ruth Rita de "A Roda Da Sorte" atrás de um teclado! A certa altura, Tó Leal aproximou-se dela e Ruth deu-lhe um beijo marcando a face dele com batom. No final, "Bye, Lili, Bye" ficou em quarto lugar com 126 pontos.
E chegamos ao pódio, e em terceiro lugar ficou a canção n.º 7 "Te Amo E Não Pensei", na voz de Carla Sofia. Segundo o livro "Portugal, 12 Pts. - Festival da Canção", Carla Sofia tinha-se participado em 1990 na revista "A Grande Festa" que marcou a reabertura do Teatro Variedades no Parque Mayer. A sua canção, uma das mais mexidas a concurso, obteve 146 pontos (incluindo a pontuação máxima do meu distrito, Santarém), vindo a ser incluída no seu álbum "Amor Exagerado" editado pela Discossete (sendo esta uma das duas canções submetidas por essa editora no certame) no ano seguinte.
Em segundo lugar, temos a canção n.º 4, "Fazer Uma Canção", interpretada pelo grupo Blocco composto por Carla Burity, Fernanda Lopes, Luísa Fumaça, Octávio de Sousa, Paulo Brissos e Ricardo Carriço. Sim, esse Ricardo Carriço, que não tardaria a afirmar-se como actor. Paulo Brissos também participaria a solo no Festival de 1993 e o seu álbum de 1997 "A Criação" teve alguma notoriedade, sobretudo com o tema "Serás Tu", enquanto Fernanda Lopes, além de concorrer a solo no Festival de 1994, foi cantora de coro em sete participações de Portugal na Eurovisão e alternou com Lúcia Moniz como a voz feminina na banda residente do programa "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes". De referir ainda que esta foi a primeira participação de Rosa Lobato Faria como letrista no Festival da Canção, sendo mais tarde a autora da letra de quatro canções vencedoras nos anos seguintes. "Fazer Uma Canção" obteve 155 pontos, menos onze que a canção vencedora, que era a favorita indiscutível.
Efectivamente, seria quase impensável haver outra canção vencedora no Festival da Canção de 1991 que não a canção n.º 5 de seu título "Lusitana Paixão", na voz de Dulce Pontes, escrita por José da Ponte, Jorge Quintela e Fred Micaelo. A cantora natural do Montijo já era uma cara conhecida do público. Começou no teatro, cantou para jingles publicitários e genéricos de programas (como a versão portuguesa da série animada "A Ilha Do Tesouro") e era uma das cantoras residentes do programa "Regresso Ao Passado" de Júlio Isidro, então em exibição na RTP1. Mas sem dúvida que a vitória no Festival foi o seu primeiro grande momento áureo numa carreira que a tornaria numa das cantoras portuguesas mais reconhecidas internacionalmente. Além da vitória, Dulce Pontes venceu também o prémio de interpretação e realmente "Lusitana Paixão" foi uma canção que demonstrava perfeitamente todo o seu talento.
No igualmente mágico e caótico Festival da Eurovisão desse ano em Roma, Dulce Pontes obteria o oitavo lugar, o primeiro top 10 de Portugal desde 1980 e ainda hoje um dos nossos melhores resultados eurovisivos. Em 1994, por alturas do 30.º aniversário do Festival da Canção, a RTP promoveu uma votação pública para a melhor canção vencedora de sempre e "Lusitana Paixão" foi a vencedora destacada. Ainda em 1991, Dulce Pontes representou Portugal no Festival da OTI, com "A Sul Da América" que tal como "Lusitana Paixão" viria a ser incluída no seu primeiro álbum "Lusitana" de 1992, ano onde juntamente com Tó Leal, Gustavo Sequeira e Nucha empresta a voz ao hino da SIC. Mas seria o álbum seguinte "Lágrimas" de 1993, que conheceria um sucesso sem pretendentes aquém e além fronteiras. Seguiram-se também "A Brisa Do Coração" (1995), "Caminhos" (1997) e "O Primeiro Canto" (1999) bem como a colaboração com Ennio Morricone no disco "Focus" (2003) que incluía "O Amor A Portugal".
Versão em inglês:
Videoclip
O agradecimento ao site Festivais Da Canção e a João Carlos Calixto e Jorge Mangorrinha, autores do livro "Portugal, 12 Pts. - Festval da Canção".
Programação TV 14 a 20 Fevereiro 1981 extraída da TV Guia Nº 106, com Badaró em destaque na capa.
Mas primeiro, dois avisos à navegação.
Primeiro, uma nota sobre possíveis alteração na programação causadas pela proibição das emissões da RTP a partir das 23 horas, como parte do pacote de medidas do Governo da época para reduzir o consumo de energia eléctrica:
E a revelação dos novos símbolos da RTP, que inclui uma chamada de atenção para os verdadeiros nomes dos programas/emissões: "RTP-1 e RTP-2" e não "1º canal e 2º canal".
Como hábito, pode clicar sobre as imagens para as aumentar e facilitar a leitura.
Sábado, 14 de Fevereiro de 1981.
De entre os destaques para o fim de semana, o programa de culinária "Lúculus e Bróculos" do chef Michel Costa e uma receita de Sopa de Caranguejo. Presença assídua em redor dos tachos televisivos, o primeiro a receber uma Estrela Michelin no nosso país, a entrar nos recordes do Guiness pela refeição servida na Ponte Vasco da Gama a 17 mil pessoas, o chef Michel voltou a ser noticia em 2012 quando foi preso em França " acusado de crimes fiscais e de pertencer a uma organização criminosa" (Link). Continuando com os destaques: "Tropicália" com exibição do documentário sobre tesouros, ovnis e afins: "O Mistério das Origens" com narração do "Leôncio" de "Escrava Isaura" - o actor Rubens de Falco. Mais tarde, a rubrica o "Tempo dos Mais Novos" que neste dia incluiu episódios de "Velhos Contos do Japão", "Barbapapa" e os "Novos Flintstones". E depois da bonecada, um programa de meia hora sobre selos: "Filatelia é para todos". Seguiu-se o terceiro episódio da mini-série "As Mulherzinhas" de 1978. O programa "Animação" com o desenhador José Garcês. Antes do Telejornal, um jogo de futebol em directo (Académico de Coimbra 0 - 1 Sport Clube de Varzim). E antes do "Eu Show Nico" que fechava a emissão do dia, o programa musical "Recordando Nat King Cole". No segundo canal, os destaques do dia foram para a transmissão da "7ª Sinfonia de Mahler" e o filme "O Mistério da Dama Desaparecida" (The Lady Vanishes" de 1979) remake do filme de 1938 de Alfred Hitchcock.
Domingo, 15 de Fevereiro de 1981.
Na RTP1, antes da "Eucaristia Dominical", era transmitido o momento "sagrado" da manhã: o "Tempo Dos Mais Novos", com os episódios de "Bana e Flapi", "Dr. Faísca" e "Brincadeiras" (1981). O destaque para a parte da tarde de Domingo foi para o "Passeio dos Alegres", o sucesso de Júlio Isidro, já no segundo ano de emissões. Antes do Telejornal, o segundo episódio da sitcom "Os Ropers" (1979-80), um spin-off de "Three's Company" (1976-84). Depois das noticias e do Tempo, "TV Show", um espectáculo que reuniu os interpretes do Festival RTP da Canção de 1981. Recordou-se os temas vencedores dos Festivais anteriores, e a participação de António Calvário a cantar "Oração". E a encerrar a emissão do primeiro canal, novo episódio das patifarias de J.R. em "Dallas" (1978-91).
Já no segundo canal, destaca-se a totalidade da espartana programação: "Os pilares da sabedoria", a mini-série "South Riding" (1974) e "Ao Vivo" ("programa de índole cultural produzido por Eduardo Prado Coelho. Apresentação de Fernando Assis Pacheco."
Segunda, 16 de Fevereiro de 1981.
Depois dos dois dias de descanso, os portugueses regressavam ao trabalho e à programação de segunda-feira, que arrancava com o "Ciclo Preparatório" que ocupava a tarde quase toda. Como recompensa os mais pequenos tinha direito a uma edição de meia-hora do "Tempo Dos Mais Novos". Antes do Telejornal,o programa de divulgação "Século XX-XXI" com o Professor António Baptista; e o documentário "Museu Guiado" sobre o arquitecto e escritor João Ruão. Ás 21:05 chegava o mais esperado momento televisivo do dia, a estreia da telenovela brasileira "Água Viva" (tenho a impressão que na época tive uma t-shirt alusiva, mas eu só tinha 2 anos de idade...), cuja sinopse do primeiro episódio ocupava meia página deste guia de programação. E esta estreia foi logo seguida de um debate com o título auto-explicativo de "As Telenovelas", a mais de um ano da estreia da primeira telenovela portuguesa, "Vila Faia" (1982).
A programação da RTP para esta segunda-feira incluiu o clássico "O Homem E A Terra" (de Félix Rodríguez de la Fuente) mas os destaques escolhidos pela revista foram para o cómico do cinema mudo "Harold Lloyd" e o episódio de "Malú Mulher" (1979-80).
Terça, 17 de Fevereiro de 1981.
Segundo dia útil da semana, novo relato do episódio da novela "Água Viva". No topo da página a listagem das disciplinas do "Ciclo Preparatório". No "Tempo dos Mais Novos" de terça à tarde,a série nacional "Espaço Arte" com o episódio (ou subtítulo?) "Missão Mag-oito" com a seguinte descrição: "O artenauto sofre um pequeno acidente, conseguindo, no entanto, entrar em comunicação com o planeta "Z". Salvo por dois jovens, continua a sua investigação. Faz um percurso através do ponto, da linha, da superfície e do volume, utilizando como veículo a pintura de Eduardo Nery. Programa da autoria de Espiga Pinto."Online encontrei referência que "Espaço Arte" terá sido transmitida entre 1975 e 1977, e no mesmo site descrevem o conceito: "Cientistas viviam no planeta Z. Decidem enviar ao planeta Terra a Missão
MagOito descobrir o que era a arte? Quais eram os sinais da sua
manifestação? O ArteNauta Amilcarins descobre, em cada um dos programas,
o fascínio da pintura, da escultura, dos papagaios de papel, dos
fantoches, numa cosmovisão mágica de beleza, mistério e infinito." E quase a fechar a emissão nocturna, "Didier Lockwood/Henry Texier" com actuações do duo de músicos no Festival de Jazz de Cascais.
No canal ao lado, além do "Informação/2" apenas um filme, na rubrica "Cineclube/2": "Agarrem Essa Loira" (Heller in Pink Tights, de 1960) de Georges Cukor, com Sophia Loren loira e Anthony Quinn.
Quarta, 18 de Fevereiro de 1981.
"No Tempo dos Mais Novos", as desventuras de "Popeye", Olivia Palito e companhia. Mais tarde, o programa de divulgação "Mulher a Mulher", sobre e com as mulheres que a sociedade ignora. E depois do "Vamos Jogar No Totobola" a fechar a noite o filme"Chamam-me Mr. Tibbs" (They Call Me Mr. Tibbs) de 1970, com Sidney Poitier.
Na RTP2, destaque para "No Grande Mundo do Desporto" (neste programa: alpinismo e corridas de barcos em Miami) e "Sammy Davis Jr: Memórias" a comemoração dos 50 anos de carreira do artista.
Quinta, 19 de Fevereiro de 1981.
Na RTP1, "Tempo Dos Mais Novos" com os desenhos animados "Sandemanchen" e "Wattoo-Wattoo" (1978). O primeiro provavelmente referia-se a "Sandmännchen" uma série alemã em animação de volumes ou stop motion, que está em produção desde 1959! Mais à frente, "O Povo e a Música" com a transmissão do 2º Festival Internacional de Folclore da Beira-Baixa. Ainda um episódio de "A Família Buddenbrook", adaptação a mini-série do livro de Thomas Mann. Já no segundo canal, música e cinema em destaque, no "Espaço Rock" com Ananga Ranga (uma banda portuguesa que pegou o nome emprestado de um manual erótico inspirado no Kama Sutra); e o filme "Festival de Cinema de Cannes" (Billy Baxter Presents Diary of the Cannes Film Festival with Rex Reed - 1980) um documentário dos bastidores do Festival de Cannes.
Sexta, 20 de Fevereiro de 1981.
E eis as lições finais do "Ciclo Preparatório". Pelo menos nesta semana... No "Tempo Dos Mais Novos" dose tripla de "As Aventuras de Popeye". Enquanto nos destaques está indicado "Programa Musical do Porto" (com o conjunto "Roxigénio" e o grupo "Los Fabulosos" ) no mesmo horário a programação indica o programa musical "Show Rakan". O jornal "Diário de Lisboa" corrobora a primeira opção. Documentário sobre o pintor "José Escada". Ainda no primeiro canal, episódio da mini-série francesa "Arséne Lupin" ("Arsène Lupin joue et perd" 1980), o ladrão cavalheiro. Na RTP2, episódio de "As Aventuras de Huck Finn" ("The New Adventures of Huckleberry Finn" ,1968-69), o espaço "Animação" em que Vasco Granja apresenta o desenho animado "A Megalomania do Lobo Mau". A encerrar a semana, a "7ª Sinfonia de Mahler", ou a "8ª Sinfonia" segundo o "Diário de Lisboa".