sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Totoro (1988)

 por Paulo Neto

Recentemente, tive a oportunidade de ver este filme quando foi exibido na RTP2, e pude por fim deleitar-me com a beleza desta obra da autoria do mestre Hayao Miyazaki, que tem sido aclamada como uma das suas maiores obras-primas.



"O Meu Vizinho Totoro", também conhecido como apenas "Totoro", foi a segunda longa-metragem de Miyazaki e a terceira dos estúdios Ghibli, originalmente estreada em 1988, a par com outro filme dos estúdios, "O Túmulo Dos Pirilampos" de Isao Takahata.


No Japão dos anos 50, as irmãs Satsuki (10 anos) e Mei Kusakabe (4 anos) mudam-se com o seu pai Tatsuo, um professor universitário, de Tóquio para uma aldeia bucólica perto do hospital onde a mãe delas está internada com uma doença prolongada (nunca é referida que doença é, mas presume-se que seja tuberculose). As duas irmãs deixam-se fascinar pelas paisagens campestres e pela imensidão das árvores, bem como pequenas criaturas que espalham a fuligem na velha casa para onde se mudam. Segundo a Nanny, uma senhora idosa que mora perto, essas pequenas criaturas só podem ser vistas pelas crianças. 
O tempo vai passando e elas vão descobrindo mais algumas criaturas mágicas na floresta. Um dia ao perseguir uma criatura semelhante a um coelho, Mei encontra uma personagem gigante, misto de gato com coelho, a quem ela dá o nome de Totoro. Quando ela indica ao pai e à irmã o caminho por onde ela o encontrou, Totoro já não está lá, mas eles dizem-lhe que na altura certaquando ele aparecerá para eles também.
Satsuki acaba por encontrar Totoro numa noite de chuva, quando ela e Mei esperam pela chegada do pai, que agora tem de fazer uma longa comuta para o trabalho. O autocarro onde ele costuma chegar atrasou-se e Mei adormece às suas cavalitas e é então que ela vê Totoro a embarcar num enorme gato em forma de autocarro - o Autogato. Certa noite mais tarde, as meninas vêem Totoro e outros espíritos a dançar à volta do canteiro onde elas plantaram sementes e juntam-se à cerimónia. 




Dias mais tarde, Kanta, um rapaz das redondezas, entrega a Satsuki a uma carta a informar que a mãe dela teve um problema que adiou a sua alta do hospital. Mei reage mal à notícia e após uma discussão com a irmã, resolve ir até ao hospital sozinha entregar uma espiga de milho à mãe mas não tarda a perder-se. Satsuki e os aldeões procuram Mei por todo o lado mas em vão. Desesperada, Satsuki vai até à árvore onde vive Totoro pedir-lhe ajuda e este invoca o Autogato, que a transporta até onde está Mei e depois até ao hospital. Pela janela, Satsuki e Mei ouvem os pais a conversar e ficam a saber que afinal a mãe só teve uma constipação e que não tardará a vir para casa. O filme termina com as irmãs a brincar com as outras crianças da aldeia, com Totoro e as outras criaturas a observarem de longe.

A trama de "Totoro" é portanto bastante simples, mas o que parecia ser um ponto fraco do filme acabou por ser uma força. Para o espectador, o que o filme oferece sobretudo é um delicioso equilíbrio sobre a alegria de ser criança, descobrir o mundo em redor e voar nas asas da imaginação e os primeiros lampejos da perda da inocência e de reconhecimento das dificuldades de viver e crescer. Todos nós já fomos aquelas duas meninas para quem basta uma brincadeira na floresta para um momento de extrema alegria e esperamos ser adultos como Tatsuo e a Nanny, que em vez de encarar  com cinismo as histórias do Totoro e dos espalha-fuligem, encorajam-nas a não perder essa capacidade de imaginação. 

E depois a arte dos desenhos é fabulosa, desde a relva por onde as manas correm até ao design do Totoro, que apesar da sua bocarra e garras, parece a coisa mais amigável e fofucha que há. Além disso, apesar de já ter mais de trinta anos, o filme não parece nada datado. E quem não gostaria de dar uma voltinha no Autogato? 

Desde então "Totoro" tem sido elevado a um estatuto de culto e ganhou lugar cativo em listas dos melhores filmes de animação. Hayao Miyazaki continuaria a criar grandes obras nos anos seguintes como "A Princesa Mononoke", o oscarizado "A Viagem De Chihiro" e "Ponyo À Beira-Mar". A personagem titular tornou-se a mascote dos Ghibli Studios, teve um variado merchandising e foi aparecendo fugazmente noutros filmes Ghibli. 

Em 2002, saiu uma mini-sequela, "Mei And The Kittenbus", uma curta-metragem de treze minutos com Mei e uma versão miniatura do Autogato. 
Em 2005, o filme teve uma reedição nos Estados Unidos com uma nova dobragem com umas bem jovens Dakota e Elle Fanning a serem as vozes de Satsuki e Mei. No mesmo ano, na Expo que teve lugar na cidade japonesa de Aichi, foi erigida uma réplica da casa dos Kusakabe. 

 


   Trailer:



 

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Supergrilo (1976)

 


Pertencente ao tal lote de revistas nacionais de banda desenhada que desconhecia até tropeçar nelas nalgum site de vendas online. O mesmo site tem a indicação de a publicação ser em preto e branco, com 50 páginas, com dimensões 26,5x18,5cm, da Portugal Press e distribuído pela Agência Portuguesa de Revista.

O preço de capa era 20 escudos, como podem ver nas capas abaixo, ilustradas pelo grande Carlos Alberto Santos:



A mascote da revista Supergrilo era um...grilo vestido de super-homem genérico com o chapéu com pena.

Mas não era um grilo qualquer, era o grilo do jornal juvenil "O Grilo":


Aliás, este Supergrilo estava indicado nos créditos como "suplemento do Jornal O Grilo", mas dos 10 números prometidos só consegui encontrar informação de dois, os primeiros. Mais detalhes no excelente "BD Portugal Info":"Supergrilo".




sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Abismo Negro (1979)



"The Black Hole" ("Abismo Negro") chegou aos cinemas no mesmo ano que eu cheguei ao Mundo, mas já tinha consciência da existência dele há umas boas décadas, graças ás publicidades ao filme e alguns produtos derivados [a obrigatória caderneta de cromos (Agência Portuguesa de Revistas), o jogo de tabuleiro, livro para colorir, etc] em revistas de banda desenhada da época que encontrava no alfarrabista local ou feiras de velharias. Também vi várias vezes as figuras de PVC Maia e Borges dos robots à venda na Internet. Mas finalmente, no inicio de 2018 lá me decidi a ver a fita, a esperar uma seca descomunal.
 
Merchandise do filme.

Se "The Black Hole" tinha a pretensão (como qualquer filme sci-fi pós-1977) de competir com o sucesso espacial de "Star Wars" a corrida já estava perdida antes do tiro de partida: um elenco maioritariamente de meia idade, edição pouco dinâmica, efeitos especiais e designs "antiquados" pelos novos padrões. Uma das novidades de "Star Wars" foi trazer de volta a aventura de Buck Rogers mas integrando os heróis num universo fantástico no espaço, mas visualmente credível, com um look "usado" que influenciou toda a posterior sci-fi. Em "The Black Hole", apesar de uns cenários apreciáveis, parecem um cruzamento dos antigos filmes do tempo dos serials de Flash Gordon com a estética mais Alien do que "2001" ou "Star Wars", mas iluminada e filmada de modo pouco polido, e no geral falha em impressionar. Excluindo os robots, os personagens não têm interesse ou carisma.
Gostaria de dizer que a sequência final da viagem pelo "The Black Hole" era  versão Disney da trip alucinogénica de "2001: Odisseia no Espaço", mas seria mais a versão Evangélica, com visões infernais e celestiais ao longo do corredor. Vale como curiosidade, mas beneficiaria de alguns cortes para reduzir a metragem.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

"Adeus À Vida" (1978) e "Pondera" (198?) Fátima Ferreira

 por Paulo Neto


Não encontrei muita informação na internet sobre Fátima Ferreira, a cantora portuguesa radicada no Canadá que algures na cúspide entre os anos 70 e 80, teve um hit no seu país de origem com "Adeus À Vida". Pelo que pude deduzir, Fátima Ferreira terá começado o seu percurso musical no fado ainda em Portugal e após emigrar para Toronto, tornou-se um nome importante no círculo musical da comunidade portuguesa, secundada pela banda The Brothers, e cuja carreira dura até hoje. Carreira essa que começou no fado mas que se estendeu a outros estilos.

Segundo o Discogs, uma primeira edição de "Adeus À Vida" surgiu em 1978 com "Cesto De Rosas" no lado B, mas terá sido uma edição posterior com aquela capa em cima cujo lado B é "Maio Em Toronto" que terá chegado às rádios portuguesas e que foi galardoada com disco de ouro.
O tema que alguns conhecem como "Adeus Mãezinha Vou Partir" (embora o primeiro verso seja na verdade "Adeus mãezinha vou deixar") tinha letra e música de Jaime Aparício e era o triste relato do último sopro de vida de uma jovem moribunda prestes a perecer de uma doença incurável que se despede da mãe, do pai, do irmão mais novo chamado Miguel e de tudo o mais que deixava deste mundo (os brinquedos, o altar, as flores…), tocando os corações de muitos portugueses e sendo recorrente nos programas de discos pedidos por nas rádios de todo o país. No YouTube, existe uma actuação de Fátima Ferreira num estúdio em Toronto. 


A inspiração por detrás de "Adeus À Vida" era sem dúvida o tema "Seasons In The Sun" de Terry Jacks, que em 1974 foi um sucesso internacional, tendo sido n.º 1 em vários países e foi na altura o single mais vendido de sempre de um artista canadiano. "Seasons In The Sun" era uma versão em inglês de "Le Moribund" de Jacques Brel (1961). Jacks readaptou a letra da versão inglesa originalmente escrita por Rod McKuen (e segundo consta tentou convencer os Beach Boys a gravarem a essa versão, antes de ele próprio decidir gravá-la). A letra também fala de alguém às portas da morte despedindo-se dos seus ente queridos, incluindo uma "Michelle, my little one" do qual "Adeus À Vida" ecoou no verso "Adeus, Miguel, meu pequenino". Em 1999, a versão dos irlandeses Westlife chegou ao n.º 1 do top britânico. E para sempre "Adeus À Vida" ficaria o "Seasons In The Sun" português.

Fátima Ferreira na capa
da revista "Crónica Feminina" (27 Outubro 1983)

Entretanto "Adeus À Vida" foi gravada por outros cantores como Roberto Leal, Ágata, Fátima Caldeira e Linda Mónica. Existe até uma versão em brasileiro interpretada por Dilene.

No episódio da Caderneta De Cromos dedicado a "Adeus À Vida", Nuno Markl recordou ainda que o tema teve uma alusão num episódio de "O Tal Canal" em que no gag recorrente da ficha técnica de "Informação 3", apareceu assim no ecrã:

Edição: Adeus Mãezinha
Coordenação: Vou Partir
Realização: Adeus Miguel Meu Pequenino

Mas que não se pense que o repertório de Fátima Ferreira era apenas fado e pesaroso nacional-cançonetismo. Há uns anos, ouvindo o podcast Brandos Costumes, qual não foi o meu espanto quando descobri que Fátima Ferreira tinha cedido a sua voz a um tema synth-pop bem anos 80, "Pondera", que recentemente descobri por fim no YouTube.


Mas apesar do ritmo dançável, "Pondera" abordava outro tema sério, o alcoolismo, com Fátima Ferreira a lamentar como a sua cara-metade foi apanhada "pelo vício da boémia requintada", guardando porém a esperança que ele "encontre uma saída da sua encruzilhada" pois "não há desgraça sem cura". 

Quem souber mais informação sobre a biografia e a carreira de Fátima Ferreira, por favor indique nos comentários ou na página do Facebook. No Discogs, o único LP de Fátima Ferreira que consta é "Vai Viendo A Vida" de 1984.


Outras canções de Fátima Ferreira:

"Vindima"



 "Brinda A Vida"


"Maio Em Toronto"



 "Peixe Fresco"


"Andorinha Mensageira"



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

1996 foi há 25 anos


por Paulo Neto



Este é o único ano entre 1993 e 2001 que ainda não teve um texto desta rubrica, pelo que se impõe recordar aqui o ano de 1996. E uma vez mais não há como não me sentir um jurássico ao perceber que já se passou um quarto de século desde então. Foi em 1996 que cheguei aos sweet sixteen (mas ao contrário das pitas mimadas do programa da MTV, não comemorei essa data de forma especial). Embora não recorde um momento particularmente especial, as memórias que tenho de 1996 são boas. Foi o ano em que finalmente o bullying na escola foi página virada e fiz amizades marcantes, que me fizeram perceber que ser como sou é suficiente para ser digno de amizade e respeito. Também guardo boas recordações da música, dos filmes e dos programas de televisão desse ano. Mas o que é que 1996 trouxe ao mundo, de bom e de não tão bom como isso?

 


Jorge Sampaio foi eleito Presidente da República


A 14 de Janeiro, tiveram lugar as quintas eleições presidenciais após o 25 de Abril para determinar o sucessor de Mário Soares como o novo Chefe do Estado português, após o final do seu segundo mandato. Por 53,6% dos votos Jorge Sampaio, Presidente da Câmara de Lisboa desde 1989, venceu Aníbal Cavaco Silva, Primeiro-Ministro de Portugal entre 1985 e 1995. Os outros dois candidatos, Jerónimo De Sousa (PCP) e Alberto Matos (UDP) tinham entretanto desistido para apoiar Sampaio. A 9 de Março, Jorge Sampaio tomava posse como Presidente da República, cargo que ocuparia ao longo dos dez anos dos seus dois mandatos. Em 2006, Cavaco Silva tornar-se-ia o seu sucessor. 

Foi fundada a CPLP


A 17 de Julho, foi oficialmente criada em Lisboa a Comunidade De Países Língua Portuguesa, uma organização internacional de cooperação entre os países lusófonos (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé & Príncipe). O evento contou com a presença dos Chefes de Estados dos sete países. Desde então, a CPLP admitiu mais dois países, Timor-Leste em 2002 e Guiné Equatorial em 2014. Outros dezoito países de quatro continentes têm estatuto de observadores associados.  

Nascimentos de grandes estrelas

1996 foi ao ano em que vieram ao mundo as actrizes Florence Pugh, Abigail Breslin, Hailee Steinfeld, Sophie Turner e Zendaya, as cantoras Lorde, Mabel, Birdy, Alessia Cara e Lauren Jaureguí e a modelo Bella Hadid. Nos homens, temos o cantor Lewis Capaldi, o futebolista Gonçalo Guedes e o novo às da natação Caeleb Dressel. Mas o nascimento mais mediático foi o de Lourdes Maria Ciccone León, filha primogénita de Madonna. 


Geração 1996: Hailee Steinfeld, Lorde, Lewis Capaldi e Gonçalo Guedes

A tragédia aérea dos Mamonas Assassinas foi chorada nos dois lados do Atlântico. 




A 2 de Março, um fatal acidente de avião ceifou a vida aos cinco membros da banda brasileira Mamonas Assassinas, que na altura viviam um sucesso meteórico com a sua mistura de punk rock com sonoridades típicas brasileiras. O sucesso do seu único álbum, de título epónimo, começava a estender-se a Portugal, estando marcada uma viagem da banda ao nosso país para o dia seguinte.
O avião privado em que seguiam os cinco membros da banda (Alecsander "Dinho" Alves, Júlio "Resac" César, Alberto "Bento" Hinoto e os irmãos Samuel e Sérgio Oliveira), um roadie e um guarda-costas da banda e os dois tripulantes, partira de Brasília para Guarulhos (São Paulo) tendo-se despenhado ao colidir na Serra da Cantareira. A tragédia chocou um Brasil ainda mal refeito da morte de Ayrton Senna dois anos antes. 
Mas para sempre ficaram temas como "Vira Vira", "Pelados Em Santos" e "Mundo Animal" e a marca que deixaram na música brasileira.  
 

Outras mortes a lamentar

Foi ainda em 1996 que o mundo da música chorou outra trágica perda quando o rapper Tupac "2Pac" Shakur foi assassinado aos 25 anos a 13 de Setembro em Las Vegas, após ter sido baleado seis dias antes. Na altura, 2Pac vivia o auge da sua carreira com o sucesso do seu quarto álbum "All Eyez On Me", que incluía o hit "California Love".
Em 1996 que despedimo-nos igualmente de grandes actores portugueses como Beatriz Costa, Mário Viegas, Varela Silva e Carlos Daniel, dos escritores Vergílio Ferreira e Marguerite Duras, de estrelas de cinema como Gene Kelly, Marcello Mastroiani e Greer Garson, do ex-presidente francês François Miterrand, da criadora de "Mary Poppins" P.L. Travers, do grande astrónomo e comunicador Carl Sagan e da primeira dama do jazz Ella Fitzgerald


Faleceram em 1996: 2Pac, Beatriz Costa, Gene Kelly e Carl Sagan


O Massacre de Dunblane chocou o Reino Unido e mudou a legislação de posses de armas no país.

A 13 de Março, na cidade escocesa de Dunblane, Thomas Hamilton entrou na escola primária local na posse de quatro armas e abriu fogo no ginásio matando dezasseis crianças entre os cinco e seis anos e uma professora e ferindo quinze pessoas para depois se suicidar. Envolvido em várias organizações que lidavam com crianças, Hamilton era suspeito de condutas impróprias com menores e terá escrito a várias entidades, incluindo à Rainha Isabel II, sobre a perseguição de que estava a ser alvo devido às acusações.   


A tragédia chocou o mundo e levou a que o governo britânico a impor leis que impunham um controlo mais forte à aquisição de armas no país.

Um escândalo de pedofilia na Bélgica chocou a Europa.

A 13 de Agosto, Sabine Dardenne (12 anos) e Laetitia Delhez (14 anos) foram descobertas na cave de uma casa na localidade belga de Sars-La-Boussière, onde estavam acorrentadas e apresentavam sinais de violência física e de violação. O dono da casa era Marc Dutroux, um electricista que nos anos 80 já tinha sido condenado pelo rapto e violação de cinco jovens. A polícia viria nos dias seguintes a descobrir os cadáveres de Julie Lejeune e Mélissa Russo (ambas de 8 anos) na casa onde Dutroux residia e os de An Marchal (17) e Eefje Lambrecks (19) na de um cúmplice seu que ele teria assassinado. As quatro também apresentavam sinais de abuso sexual e de brutalidade. 

Cerca de 300 mil pessoas marcharam em Bruxelas
pedindo justiça pela morte de Julie e Mélissa


Devido a natureza hedionda dos crimes e pela alegada ligação de Marc Dutroux a uma rede de pedofilia, a Bélgica ficou em estado de choque, ainda para mais quando se descobriram várias falhas, morosidades e omissões nas investigações (incluindo uma busca polícia na casa de Dutroux que poderia ter salvo Julie e Mélissa meses antes) o que levou 300 mil pessoas a marcharem em protesto em Bruxelas, vestidas de branco. Dutroux e os seus cúmplices (entre os quais a sua mulher Michelle Martin) só começariam a ser julgados em 2004, tendo sido condenado a prisão perpétua.
Ainda hoje, muitos belgas acreditam que muitos pormenores do caso foram encobertos por implicarem altas instâncias da sociedade belga, até porque muitas testemunhas e pessoas relacionadas com o caso têm desde então morrido em estranhas circunstâncias.

 A capa da edição britânica do livro 
em que Sabine Dardenne relatou o seu cativeiro


Sabine Dardenne, uma das sobreviventes, publicou em 2005 um livro relatando o seu cativeiro, chamado "Tinha 12 Anos, Peguei Na Bicicleta E Fui Para A Escola" que foi publicado em Portugal. 
O caso Dutroux levou a que vários países europeus intensificassem as investigações a redes de tráfico e abuso de menores e o combate às mesmas. Lembro-me que antes deste caso, eu raramente tinha ouvido a palavra pedofilia.   


A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero clonado

Dolly (1996-2003): o primeiro mamífero clonado


A 5 de Julho, nasceu na Escócia uma ovelha clonada a partir de uma glândula mamária de outra ovelha, tornando-se como o primeiro animal mamífero a ser concebido através da clonagem clínica. A ovelha, a quem foi dado o nome de Dolly, teve três ovelhas como suas mães: uma doou o óvulo, outra o ADN e uma terceira carregou-a e deu-lhe à luz. A notícia do seu nascimento levantou discussões por todo o mundo, havendo quem questionasse a ética da sua conceção e indagasse se este seria o primeiro passo para que a clonagem de seres humanos fosse uma realidade num futuro a médio-prazo.
Dolly faleceu em 2003 de doença pulmonar (não relacionada com o facto de ter sido clonada), tendo gerado seis cordeiros saudáveis. Entretanto outros mamíferos como porcos, veados e cavalos já foram clonados e em 2016, foi anunciado que quatro ovelhas clones idênticos de Dolly estavam vivas e bem de saúde.    

O cinema português reconciliou-se com o público



Após vários anos de afastamento entre o cinema português e o grande público, que amiúde acusava a produção cinematográfica nacional de ser demasiado elitista e pouco apelativa, 1996 viu vários filmes portugueses a terem sucessos assinaláveis de bilheteira, um pouco na onda iniciada com "Adão E Eva" no ano anterior. Títulos como "Adeus, Pai" de Luís Filipe Rocha, "Cinco Dias, Cinco Noites" de José Fonseca E Costa, "Mortinho Por Chegar A Casa" de Carlos Da Silva, "Corte De Cabelo" de Joaquim Sapinho e  a produção luso-italiana "Afirma Pereira" suscitaram interesse nos espectadores e até o mestre Manoel De Oliveira teve em "Party" uma das suas obras mais populares. 

Foi mais um ano de grande cinema

"O Dia De Independência" foi o filme mais rentável de 1996 mas foi também este ano que surgiram blockbusters como "Twister - Tornado", "O Rochedo", "Ransom - Resgate", "Coração De Dragão", "Eraser" e "Missão: Impossível" onde Tom Cruise vestiu pela primeira vez a pele do agente Ethan Hunt.

Houve também grandes dramas como "Jerry Maguire" ("Show me the money!"), "A Raiz Do Medo" (com "A Canção Do Mar" de Dulce Pontes na banda sonora), "O Paciente Inglês",  "A Última Caminhada" e "Shine - Simplesmente Genial" e "Ondas de Paixão". Madonna foi "Evita" e Pamela Anderson foi "Barb Wire - Bela E Perigosa". Bruce Willis foi "O Último A Cair" e Brad Pitt foi um de quatro jovens com "Sentimento De Revolta". 


Em 1996 rimo-nos com Eddie Murphy sendo "O Professor Chanfrado" e Jim Carrey "O Melga", com Bette Midler, Goldie Hawn e Diane Keaton fundando "O Clube Das Divorciadas" e com comédias românticas como "Aquela Que Eu Quero"e "A Verdade Sobre Cães E Gatos". Demi Moore fez um "Striptease", Leonardo Di Caprio e Claire Daines foram "Romeu + Julieta" e Arnold Schwarzenegger andou atrás do "Tesouro De Natal".




O cinema de autor esteve em alta com "Fargo" dos irmãos Coen, "Marte Ataca!" de Tim Burton, "Trainspotting" de Danny Boyle, "Ondas De Paixão" de Lars Von Trier, "O Livro De Cabeceira" de Peter Greenaway e "O Conto De Verão" de Eric Rohmer.     



E miúdos e graúdos deleitaram-se com filmes como "O Corcunda De Notre-Dame", "Flipper",  "Matilda, A Espalha Brasas", "Space Jam" e "Os 101 Dálmatas". 

Música para todos os gostos





De entre os discos editados em 1996, destaques para os novos álbuns de R.E.M. ("New Adevntures In Hi-Fi"), George Michael ("Older"), Prince ("Emancipation"), Metallica ("Load"), Sting ("Mercury Falling"), Def Leppard ("Slang"), Scorpions ("Pure Instinct"), Bryan Adams ("18 Till I Die"), Beck ("Odelay"), Fugees ("The Score"), Bush ("Razorblade Suitcase"), Manic Street Preachers ("Everything Must Go"), The Cure ("Wild Mood Swings"), Rage Against The Machine ("Evil Empire"), Pearl Jam ("No Code"), Nick Cave ("Murder Ballads") The Cranberries ("To The Faithful Departed"), Céline Dion ("Falling Into You"), Tina Turner ("Wildest Dreams"), Toni Braxton ("Secrets"), Gloria Estefan ("Destiny"), Pet Shop Boys ("Bilingual") e Enigma ("Le Roi Est Mort, Vive Le Roi"), bem como os álbuns de estreias dos Backstreet Boys, Ash ("1977"), Fun Lovin' Criminals ("Come Find Yourself") e Eminem ("Infinite"). 
Em Portugal, o disco nacional do ano é "Tempo", o segundo álbum de Pedro Abrunhosa & Os Bandemónio, e  "Nocturnos Chopin" de Maria João Pires é um inesperado n.º 1 do top nacional. Enquanto isso o álbum best of "O Caminho Da Felicidade" dos Delfins, editado no ano anterior, continuou a vender que nem pãezinhos quentes e no final do ano, surge o novo álbum "Saber A~Mar". (Sim, com um til no meio da palavra.)

As Spice Girls iniciaram a sua dominação mundial


Em 1996, as boybands multiplicavam-se mas os grupos pop femininos ainda eram poucos e desde as Bananarama que nenhuma girlband alcançava os mais altos graus de sucesso e mediatismo. Reza a lenda que em Fevereiro de 1994, cerca de quatrocentas mulheres fizeram as audições para um grupo feminino promovidas por uma dupla de produtores/managers. Cinco delas foram escolhidas para o projecto com o nome provisório de Touch: Melanie Brown, Melanie Chisholm, Victoria Adams, Geri Halliwell e Michelle Stephenson. Mas um ano mais tarde, já com Emma Bunton substituindo Michelle Stephenson, e descontentes com o material gravado e com o seu agenciamento, o quinteto tomou as rédeas e foi em busca de novos mentores. Consta que foi Geri Halliwell quem teve a ideia do nome Spice, mas como já havia um rapper com esse nome, o nome da banda ficou Spice Girls
Agora agenciadas por Simon Fuller e compondo com a equipa de produção Absolute, estas raparigas foram condimentando o projecto e no Verão de 1996, o primeiro single "Wannabe" foi um sucesso estrondoso. Seguiu-se o álbum "Spice" e mais dois grandes hits, "Say You'll Be There" e "2 Become 1" e no final do ano, as Spice Girls eram as cinco mulheres mais famosas do planeta. Pelo meio, até passaram por Portugal para a inauguração da Virgin Megastore em Lisboa.   

Muita músicas para dançar

"Eeeeei, Macarena!"

1996 foi ainda um ano áureo para a música de dança: "Children" de Robert Miles, "Insomnia" dos Faithless, "Freed From Desire" de Gala, o tema homónimo de Captain Jack, "Born Slippy" dos Underworld, "Firestarter" dos Prodigy e "Coco Jamboo" dos Mr. President tornaram-se clássicos instantâneos. E claro nesse ano, não houve quem soubesse ou tentasse aprender a coreografia da "Macarena". 

Lúcia Moniz conseguiu o melhor resultado no Festival da Eurovisão pré-Salvador Sobral



O 41.º Festival da Eurovisão teve lugar a 18 de Maio de 1996 em Oslo. Trinta países concorreram mas só 23 (entre os quais Portugal) marcaram presença na capital norueguesa, tendo sete deles sido eliminados numa pré-eliminatória. A Irlanda venceu pela quarta vez em cinco anos com "The Voice" interpretado por Eimear Quinn. Em segundo lugar ficou a canção do país da casa, com Elisabeth Andreassen a representar a Noruega pela terceira vez e em terceiro, ficou a Suécia com o grupo One More Time, que incluía Peter Gronvall, filho de Benny Andersson dos ABBA. Apesar de ter-se ficado pelo oitavo lugar, o tema euro-dance "Ooh Ah Just A Little Bit" que representou o Reino Unido na voz da australiana Gina G. tornou-se um hit internacional e chegou a ser nomeado para um Grammy.



E Portugal superou os sétimos lugares de 1972 e 1980 para conseguir um honroso sexto lugar graças a uma brilhante interpretação de Lúcia Moniz com "O Meu Coração Não Tem Cor". O sexto lugar até acabou por saber a pouco, já que Portugal chegou a estar em segundo lugar e só na última votação é que se viu arredado do top 5. Passariam vinte e um anos até por fim Portugal melhorar este resultado e conseguir por fim vencer a Eurovisão. (Salvador Sobral tinha então seis anos.)

Os canais da RTP mudaram de look


A 29 de Abril de 1996, os canais da RTP levaram um operação cosmética e surgiram com novos logótipos e voltando às designações de RTP1 e RTP2, em vez de Canal 1 e TV2. A RTP Internacional, a RTP Açores, RTP Madeira e até própria RTP em si também ganharam novos logótipos, o mais diferenciado até então. A TVI também estreou em Setembro um novo logótipo (já o quarto em três anos de emissões) que duraria até 2000. 

Estreias em televisão



Foi em 1996 que a RTP estreou as séries "Nós, Os Ricos" e "Polícias" e as telenovelas "Roseira Brava", "Primeiro Amor" e "Vidas De Sal" e na RTP2, recordo a rubrica "5 Noites, 5 Filmes" onde de segunda a sexta-feira se exibia um filme, geralmente com algum traço em comum (o mesmo tema, o mesmo realizador). 


Na SIC, Baptista-Bastos conduzia "Conversas Secretas" (que Herman José celebremente parodiou), Daniel Sampaio e Laurinda Alves discutiam temáticas relacionadas com a adolescência em "Verdes Anos", muitas mulheres exclamaram "Ai, Os Homens!" devido ao programa do mesmo nome, Teresa Guilherme promoveu "Ousadias" como as entrevistas falsas de Miguel Vital e estreou "Agora Ou Nunca" de Jorge Gabriel (embora só no ano seguinte é que foi transmitido o lendário episódio do "Ponha, ponha, ponha!").


 Na TVI, o destaque foi o programa "Docas", um programa decalcado do "Saturday Night Live", com um convidado especial a cada semana que se juntava ao elenco fixo nos mais variados sketches. Dulce Pontes e Joaquim De Almeida foram os convidados das primeiras semanas e os actores fixos eram Júlio César, Margarida Martinho, Manuel Lourenço e Maria Henrique. Em 1998, o programa foi recuperado na RTP com Fernando Mendes substituindo Júlio César no elenco fixo (mas este último foi um dos convidados num dos programas).   

Estreias televisivas internacionais


Lá fora, 1996 foi o ano das estreias de séries como "Sétimo Céu", "Spin City - Cidade Louca" com Michael J. Fox, "Testemunha Silenciosa", "Edição Especial" e "Sabrinha, A Bruxinha Adolescente", bem como as séries animadas "Dexter's Laboratory", "Hey Arnold!" e "Where On Earth Is Carmen Sandiego?", sem esquecer "Big Bad Beetleborgs" e a adaptação televisiva de "Clueless".

Poborsky deu chapéu a Portugal no Euro 96



Inglaterra recebeu o Euro 1996, que foi alargado de oito a dezasseis equipas. Doze anos depois, Portugal qualificou-se para um Europeu de Futebol e as expectativas estavam altas porque a selecção tinha-se apurado de forma categórica e o plantel contava com vários jogadores que tinham estado nas vitórias do Mundiais de juniores de 1989 e 1991. Portugal ficou colocado no grupo D com a Dinamarca, a detentora do título, uma recém-independente mas já bem competitiva Croácia e a estreante Turquia. No primeiro jogo em Sheffield, a Dinamarca marcou primeiro mas Sá Pinto assegurou o empate. Em Nottingham, vitórias de 1-0 contra a Turquia (golo de Fernando Couto na sequência de um canto) e por 3-0 frente à Croácia (golos de Figo, João Vieira Pinto e Domingos Paciência). 

Um golo de Poborsky eliminou Portugal 


As perspectivas eram boas para o jogo dos quartos-de-final contra a República Checa em Birmingham, mas foi então que aos 53 minutos Karel Poborsky marca um golo de chapéu a Vítor Baía e Portugal não consegue recuperar. Era o "The End para" o sonho português em Inglaterra, trinta anos depois do Mundial de boa memória em terras britânicas. A República Checa chegaria mesmo à final contra a Alemanha, onde um golo de ouro de Oliver Bierhoff no prolongamento deu o triunfo aos alemães. 

Um very-light manchou a festa da Taça de Portugal

No futebol interno, o FC Porto conquistou o campeonato. Já a final da Taça de Portugal entre o Sporting e o Benfica a 18 de Maio foi marcada por um dos episódios mais trágicos e vergonhosos da história do futebol português


Rui Mendes, um adepto sportinguista de 36 anos, foi atingido mortalmente por um very-light disparado da zona da claque benfiquista. O autor do disparo foi Hugo Inácio que viria a ser condenado a quatro anos de prisão por homicídio por negligência grosseira. Mas pelos vistos a pena de pouco ou nada lhe serviu, já que Hugo Inácio andou a monte após não regressar de uma saída precária em 2000 e tem desde então acumulado outras condenações por violência em ambiente futebolístico. Em 2004, a FPF foi condenada a pagar 235 mil euros à família da vítima.
Perante um momento tão lamentável, o jogo acabou por perder toda a importância mas o Benfica venceu por 3-1. Por respeito à vítima, a entrega do troféu por parte de Jorge Sampaio foi feita posteriormente. 

Outros marcos desportivos

Jacques Villeneuve venceu o último Grande Prémio
de Fórmula 1 no autódromo do Estoril


A África do Sul venceu a CAN disputada em casa, batendo a Tunísia na final por 2-0, a Juventus venceu a Champions League, o Paris Saint-Germain a Taça das Taças e o Bayern de Munique a Taça UEFA. Portugal foi campeão europeu de sub-16 na Áustria (numa equipa com um bem jovem Simão Sabrosa). Foi ainda em 1996 que Portugal recebeu pela última vez até 2020 o Grande Prémio de Fórmula 1 com o canadiano Jacques Villeneuve a vencer no autódromo do Estoril. 

A Nintendo lançou a primeira consola de 64 bits



Foi em 1996 que a Nintendo 64 chegou ao mercado no Japão e na América do Norte (só chegaria à Europa em 1997), duplicando o número de bits da Playstation e da Sega Saturn. De entre os 393 jogos criados para a consola, o mais famoso é de longe o Super Mario 64, que famosamente foi o primeiro videojogo a atingir a nota máxima de 100% no "Templo Dos Jogos". 

Ramos-Horta e D. Ximenes Belo receberam o Prémio Nobel da Paz


Foi também em 1996 que o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a José Ramos-Horta e a Carlos Ximenes Belo, o bispo de Díli, premiando "o seu trabalho para uma solução justa e pacífica para o conflito de Timor-Leste". Na altura, a antiga colónia portuguesa vivia sobre ocupação da Indonésia desde 1975 e Xanana Gusmão, o líder da resistência pró-independência, estava preso desde 1993, pelo que Ramos-Horta e D. Ximenes Belo eram na altura as vozes que se faziam ouvir pelo mundo denunciando a agressão ao povo maubere. Se não se contar com Peter Medawar, Prémio Nobel da Medicina em 1960, nascido no Brasil mas de nacionalidade britânica, foi a primeira vez que cidadãos lusófonos foram galardoados com um Prémio Nobel desde Egas Moniz em 1949. 
Após um processo que começou em 1999 com um referendo para a independência, Timor Leste viria a ser reconhecido como um estado soberano em 2002. Ramos-Horta seria presidente do país entre 2007 e 2012.   

Glória, emoção e tragédia nos Jogos Olímpicos de Atlanta




Os Jogos da XXVI Olimpíada decorreram de 19 de Julho a 4 de Agosto em Atlanta, capital do estado americano da Geórgia. Mais de 10 mil atletas de um número recorde de 197 países (incluindo pela primeira vez os países lusófonos de Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé & Príncipe, bem como o Estado da Palestina) competiram em 26 desportos que incluíram pela primeira vez competições em vólei de praia, BTT, softbol e um torneio de futebol feminino. A lenda do boxe Mohamed Ali (campeão olímpico em 1960) acendeu a pira olímpica.
Entre os grandes feitos destaque para o recorde mundial dos 100m por parte do canadiano Donovan Bailey, as quatro medalhas de ouro da nadadora americana Amy Van Dyken, as vitórias de Andre Agassi e Lindsay Davenport no ténis, o quarto ouro consecutivo de Carl Lewis no salto em comprimento e os surpreendentes triunfos da Nigéria no futebol masculino e da Espanha na prova de ginástica rítmica por grupos.  

Richard Jewell em 2016

No entanto, o ambiente de festa foi manchado por um ataque bombista a 27 de Julho, quando umas bombas explodiram na praça principal do evento onde tinham lugar concertos e actuações artísticas, causando a morte de uma espectadora americana atingida por estilhaços e de um operador de câmara turco por ataque cardíaco. O segurança Richard Jewell descobriu as bombas antes de serem detonadas e conseguiu evacuar o espaço evitando mais vítimas, mas inicialmente foi tido como suspeito do atentado, sofrendo com o escrutínio dos media e da opinião pública. Em 2003, Eric Rudolph confessou ser o autor do atentado, tendo sido condenado a prisão perpétua.

Fernanda Ribeiro foi campeã olímpica

Portugal teve em Atlanta a maior sua missão olímpica de sempre com 107 atletas. (A barreirista Sandra Barreiro não chegou a competir devido a um acidente que sofreu num dos transportes entre o local de treinos e a aldeia olímpica dias antes da cerimónia de abertura.) Depois da ausência de medalhas em Barcelona 1992, a comitiva portuguesa regressou de Atlanta com duas medalhas mas estas só vieram no antepenúltimo dia. Os algarvios Hugo Rocha e Nuno Barreto conquistaram a medalha de bronze, a primeira medalha olímpica da vela portuguesa desde 1960, na classe 470. 



Duas outras medalhas estiveram muito perto de se materializar com os quartos lugares de Miguel Maia e João Brenha no vólei de praia e da selecção de futebol que contava com nomes como Nuno Gomes, Dani, Beto, Porfírio, Paulo Alves, Rui Jorge, Capucho, Calado, Emílio Peixe e Nuno Espírito Santo, perdendo o jogo de atribuição da medalha de bronze para o Brasil numa embaraçosa goleada por 0-5.


Mas o grande momento de glória de Portugal em Atlanta foi graças a Fernanda Ribeiro que se tornou a terceira campeã olímpica portuguesa ao vencer os 10000 metros numa prova alucinante. Quando parecia que a chinesa Wang Junxia tinha a vitória assegurada e Fernanda teria de se contentar com o segundo lugar, esta fez um espetacular sprint na recta final para ultrapassar a chinesa e garantir o ouro.


 

De referir ainda a boa prestação de Portugal nos Jogos Paralímpicos (16 a 25 de Agosto) com 14 medalhas, incluindo seis de ouro. 

Que outras memórias têm de 1996? Que acontecimentos esquecemo-nos de referir? Digam aqui nos comentários. 




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