A série original do "O Justiceiro" (Knight Rider) [1982-86] foi um sucesso internacional, e claro que entre as toneladas de produtos de merchandising tinha que constar videojogos! No artigoque escrevi há uns anos para a Enciclopédia coloquei uma foto da adaptação das aventuras de KITT e Michel Knight para o NES. Hoje troco os cartuchos pelas cassetes e vou recordar o jogo para ZX Spectrum. Tenho um exemplar na minha magra colecção de videojogos, mas como infelizmente não tenho uma máquina para o experimentar socorri-me de vídeos do Youtube. Produzido pela "Ocean Software", "Knight Rider" para ZX Spectrum foi lançado no mercado em 1986.
Comecemos por apreciar a ilustração do loading screen e o famoso tema de abertura, adaptado ás capacidades musicais de um ZX Spectrum:
A cassete da minha colecção, creio que não é original, mas tem capinha a cores e tudo, 'adaptado' da caixa que podem ver aqui.
O pormenor da cassete ser em preto, é bonito. Com a fita vermelha faz mesmo (quase) lembrar o KITT.
Neste vídeo podem ver o percurso das quatro missões do jogo, onde a bordo do K.I.T.T. podemos aniquilar helícópteros inimigos, enquanto conduzimos o carro em vista de primeira pessoa; o com a perspectiva estilo Bomberman percorrer a base terrorista sem ser capturado pelos bandidos, e... basicamente é isto, atravessar mapas de casas e explodir helicópteros, com o objectivo de impedir que terroristas instiguem a Terceira Guerra Mundial.
Tem jeito de ser monótono, mas decerto eu na altura teria delirado com a possibilidade de conduzir o carro mais fantástico da TV!
Está giro o pormenor de trocarem o nome de Devon por Deven!
Nesta publicidade da época também podemos ver indicação de versões para Commodore 64 e Amstrad CPC:
É bom saber que existem vários cantores que fizeram sucesso nos anos 80 não foram tragados pelo vortex da obscuridade e que, mesmo longe do auge do sua fama, continuam a ter uma carreira bem activa na música, editando discos e dando concertos um pouco por todo o mundo, para gáudio nostálgico dos mais velhos e para a descoberta dos mais novos.
Um desses casos é o de Kim Wilde, que aliás acaba de editar um novo álbum "Here Come The Aliens", o seu primeiro em cinco anos. Nascida Kim Smith a 18 de Novembro de 1960, adoptou o apelido artístico do seu pai, o cantor Marty Wilde quando iniciou a carreira em 1980, tornando-se a artista feminina britânica que mais discos vendeu nessa década. Ao longo de quase quatro décadas de carreira, Wilde vendeu mais de 10 milhões de álbuns e 20 milhões de singles em todo o mundo. Desde 1998, em simultâneo com a música, Kim Wilde tem tido uma carreira paralela na jardinagem, tendo editado alguns livros sobre jardinagem e arquitectura paisagística.
Apesar de não fazer parte da santíssima trindade das minhas cantoras preferidas durante os "meus" anos 80 (Madonna, Tina Turner e Belinda Carlisle), era uma das cantoras que mais eu gostava de ouvir nessa altura, sobretudo por causa das canções que figuram no 1.º e 2.º lugar desta lista. E sem dúvida que Kim Wilde era uma das cantoras mais atraentes dos anos 80, não recusando umas esporádicas mostras de sensualidade sem porém cair na agressividade de Madonna ou na pespinice de Samantha Fox.
Escrita pelo seu pai Marty Wilde e o seu irmão Ricky, "Cambodia" foi o primeiro single de Kim extraído do seu segundo álbum "Select", marcando uma mudança de sonoridade face aos sons "new wave" do seu álbum de estreia.
Aludindo à Operação Menu, onde o Cambodja foi bombardeado pelas forças norte-americanas durante a Guerra do Vietname, através do ponto de vista da esposa de um soldado da força aérea, "Cambodia" conjuga um instrumental synth-pop com alguma percussão oriental. A parte mais famosa é sem dúvida o solo de sintetitzador que parece emitir um cântico asiático.
Apesar de se ter ficado pelo n.º 12 do top britânico "Cambodia" teve particular sucesso na Europa Continental, tendo mesmo chegado ao n.º1 na Suécia e na Suíça.
Consta que em 2009, quando Kim Wilde actuou no Pavilhão Atlântico num festival de antigas estrelas dos anos 80 (onde também estiveram nomes como Belinda Carlisle, Rick Astley e Nik Kershaw), ela comoveu-se quando a assistência entoou em uníssono os "oooh" do coro.
#4 If I Can't Have You (1993)
Esta é a única canção do meu top 5 de Kim Wilde que foi lançada na década de 90 e um das duas na lista que são covers. No entanto, em ambos os casos, eu na altura não conhecia as versões originais pelo que foram estas covers de Kim Wilde o meu primeiro contacto com essas canções.
"If I Can't Have You" foi uma das canções compostas pelos Bee Gees para o filme "Febre de Sábado À Noite" e embora estes tenham gravado uma versão própria para o lado B de "Stayin' Alive", a versão que foi incluída no filme foi aquela interpretada por Yvonne Elliman (famosamente a Maria Madalena do filme "Jesus Cristo Superstar") que foi n.º 1 nos Estados Unidos.
A versão de Kim Wilde, condimentada com uma batida house, foi um dos dois temas inéditos do seu álbum best of, "The Singles Collection 1981-1993", e foi o seu último single a chegar ao top 20 britânico. Destaque para o videoclip que segue a arreigada storyline "mulher sozinha num apartamento dá em maluca com tanta solidão e desata a partir tudo".
#3 Kids In America (1981)
Impressionado pela voz de Kim numa demo do seu irmão Ricky (e pela sua beleza), o produtor e dono da editora RAK Records Mickie Most, revelou interesse em trabalhar com ela. O clã Wilde agarrou a oportunidade, deitou mãos à obra e nesse mesmo dia, compuseram "Kids In America" na sala de estar da casa da família com um sintetizador WASP. Most gostou da canção e deu os retoques finais na mistura e em Janeiro de 1981, a canção foi o primeiro single de Kim Wilde, então com 20 anos, e o sucesso não se fez esperar, chegando ao n.º2 do top britânico e n.º1 na Finlândia e na África do Sul e até ao top 30 nos Estados Unidos, numa altura onde ainda era relativamente raro cantores britânicos terem sucesso imediato. O tema foi incluído no filme "Reckless - Jovens Sem Rumo" com Aidan Quinn e Daryl Hannah e no jogo "Grand Theft Auto: Vice City".
"Kids In America" já foi versionado imensas vezes por nomes como The Muffs (cuja versão foi incluída no filme "Clueless"), Bloodhound Gang, Dave Grohl, Jonas Brothers e Electric Six, além de que a própria Kim Wilde regravou o tema em 1994 para um álbum de remisturas e em 2006.
#2 You Keep Me Hangin' On (1986)
"Kids In America" pode ser a canção mais emblemática de Kim Wilde, mas a sua versão de "You Keep Me Hangin' On" é capaz de ser o seu maior sucesso comercial, tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos e na Austrália, n.º 2 no Reino Unido, Suíça e Irlanda.
Originalmente gravado pelas Supremes em 1966, a versão de Wilde de "You Keep Me Hangin' On" foi a primeira amostra do seu quinto álbum "Another Step". Kim e o seu irmão Ricky Wilde não estavam muito familiarizados com o original, pelo que decidiram tratar esta cover como se fosse uma música nova.
E de facto, ao converter o clássico da Motown num poderoso tema Hi-NRG quase parece uma canção diferente, mas sem contudo perder a força, até porque a interpretação de Kim Wilde reflecte bem o espírito da letra que fala sobre uma paixão que não há meio de atar ou desatar. O respectivo videoclip que mostra Kim num cenário escuro no meio de um vendaval com uma silhueta masculina ao fundo reforça ainda mais essa atmosfera instável.
#1 You Came (1988)
Depois de "Kids In America" e "You Keep Me Hangin' On", poucos discordarão que a terceira canção mais famosa de Kim Wilde é "You Came" do seu sexto álbum "Close", editado enquanto abria a parte europeia da digressão "Bad" de Michael Jackson no Verão de 1988 (o videoclip mostra aliás imagens dos bastidores digressão). No entanto para mim, é indubitavelmente a minha canção n.º1 de Kim Wilde.
"You Came" (não, nada de fazer trocadilhos sexuais com o título!) é para mim daquelas canções que me trazem um sorriso logo às primeiras notas, daquelas canções que fazem o sol brilhar mais e o céu ficar mais azul e trinta anos mais tarde, ainda adoro ouvir tanto como na altura.
Aliás lembro-me que comprei uma colectânea de músicas dos anos 80 só por ter esta canção incluída bem como meia-dúzia de outras que eu queria ter no leitor de mp3 como por exemplo "Together In Electric Dreams".
"You Came" foi mais outro grande hit internacional para Kim Wilde, nomeadamente chegando ao n.º 1 na Dinamarca. Em 2006, Kim Wilde gravou uma nova versão com uns arranjos mais rock para o álbum "Never Say Never" que continha várias regravações dos seus êxitos e essa nova versão teve algum sucesso em países como a Alemanha.
Eu estive quase, quase, quase a incluir também esta canção na minha lista, mas achei que não era elegível não só porque Kim Wilde é a artista convidada como também porque basicamente esta é sobretudo uma canção de Nena. A colaboração entre estes dois ícones dos eighties, "Any Place, Anywhere, Anytime", editada em 2003, é uma regravação de "Irgendwie, Irgendwo, Irgendwann", a canção mais famosa de Nena, à parte aquela dos balões vermelhos. Mas fica a menção e o vídeo:
À primeira vista pode parecer estranho eu estar a falar aqui sobre uma série actualmente em exibição, mas sendo a série que é, faz bastante sentido falar dela aqui na "Enciclopédia de Cromos".
Não é segredo para ninguém que este blogue foi inspirado pelo valiosíssimo trabalho de arqueologia cultural levado a cabo por Nuno Markl entre 2009 e 2012 na "Caderneta de Cromos" da Rádio Comercial relembrando tantas memórias dos anos 70, 80 e 90. Além disso, eu e o David Martins somos grandes admiradores do trabalho de Markl pré e pós-"Caderneta", por isso quando ele anunciou nas redes sociais que um dos seus próximos projectos era uma série da RTP de título "1986" que pretendia capturar o Portugal desse referido ano, ficámos bastante entusiasmados e sabíamos que iria ser algo grandioso. Foi também com grande entusiasmo que fomos recebendo cada informação disponibilizada sobre a série através das redes sociais, desde excertos do guião a imagens de bastidores das filmagens, passando por reflexões de Markl sobre o andamento do projecto. A cada novo detalhe divulgado, eu só pensava "Tenho de ver isto. TENHO. DE. VER. ISTO! JÁ!". A expectativa chegava a ser dolorosa, ainda por cima com os sucessivos adiamentos da estreia.
Mas por fim no passado dia 13 de Março de 2018, o primeiro episódio de "1986" foi para o ar na RTP1 e logo a seguir, os 13 episódios que compõem a série ficaram disponíveis na RTP Play. Não, não vi todos os episódios de enfiada, mas foi a minha primeira experiência de poder aceder a uma série inteira e vê-la na íntegra em poucos dias. E as minhas expectativas quanto à série, embora altas, foram largamente superadas.
Sim, "1986" é uma cápsula do tempo a transbordar de referências e reminiscências dos anos 80. Sim, é a recordação de um Portugal que ainda lambia as profundas feridas do passado mas que olhava para o futuro com um optimismo nunca antes visto. Sim, é um tributo de Nuno Markl às suas paixões cinematográficas, musicais e literárias da sua adolescência que o moldaram enquanto autor. Mas "1986" ainda é mais do que tudo isso.
A trama já é sobejamente conhecida: no início de 1986, quando Mário Soares e Freitas do Amaral avançam para a segunda volta das eleições presidenciais, o país está dividido entre os dois candidatos e o bairro lisboeta de Benfica não é excepção. É aí que vive Tiago (Miguel Moura e Silva), um jovem de 17 anos, apaixonado pelos jogos do Spectrum e fã dos Smiths, filho de Eduardo (Adriano Carvalho), um fervoroso militante comunista que vai ter de engolir o sapo de votar Soares. Como se ser um adolescente órfão de mãe, ouvir os constantes sermões ideológicos do pai, levar caldunços do presunçoso Gonçalo (Henrique Gil) na escola e aturar a obsessão do amigo metaleiro Sérgio (Miguel Partidário) em perder a virgindade bem como o negrume da amiga gótica Patrícia (Eva Fisahn) já não fossem complicações suficientes, Tiago está apaixonado por Marta (Laura Dutra), uma miúda gira e popular que é muito mais do que a betinha que aparenta ser. Tal como ele, Marta carrega sonhos para lá das estrelas. O problema é que este princípio de uma bela amizade (e quiçá algo mais) parece condenado à partida porque o pai de Marta, Fernando (Gustavo Vargas), é acérrimo apoiante de Freitas do Amaral e abomina Mário Soares e o comunismo, entrando em rota de colisão com Eduardo.
Pelo meio, há Alice (Teresa Tavares), a professora de Português da turma de Tiago, que se envolve com Eduardo apesar de ainda estar a ressacar de uma paixão mal resolvida, Maria de Lurdes (Mafalda Santos), a extremosa esposa de Fernando e mãe de Marta prestes a soltar um grito de Ipiranga contra a condição de submissa dona de casa para a qual sente que foi remetida à força, a Dona Conceição (Ana Bola), a sogra de Fernando que adora provocar o genro, a mãe hippie de Patrícia (Anabela Teixeira) que nem sonha que a filha se veste de preto da cabeça aos pés, Zé (Simon Frankel) um professor homossexual que se torna uma espécie de guia espiritual para Marta e Tó (Tiago Garrinhas), o estouvado funcionário do clube de vídeo de Fernando e dono da rádio pirata Boa Onda, que é como que a principal ligação entre o mundo dos adultos e o dos adolescentes.
Por entre turbulências familiares, conflitos políticos, explosões de aeronaves, falsos atentados bombistas, disfarces do Naranjito, discos do "Tarzan Boy", revistas "Gina" e pastilhas Super Gorila, poderão alguma vez Tiago e Marta ficar juntos?
Claro que a série terá as suas falhas e inconseguimentos. Vários espectadores já indicaram certos anacronismos (o mais famoso, o do Sérgio ter uma t-shirt com a capa de álbum dos Iron Maiden de 1993), glitches e inverosimilhanças. Pessoalmente eu achei que o motor da história só arrancou devidamente a partir do quarto episódio e que faltou profundidade a personagens como Fernando e Tó, que quase não saíam da caricatura. Mas nada que ensombre a saborosa experiência que é assistir à série, quase idêntica à de devorar um pacote de "Joaninhas". E para mim, existem quatro ingredientes que tornam "1986" tão delicioso.
Primeiro, a escrita de Nuno Markl, em parceria com a sua irmã Ana Markl e Filipe Homem Fonseca. Os diálogos são deliciosos e altamente "quotable", existe um bom equilíbrio entre as vertentes cómica e trágica da história e mesmo noutro espaço temporal, os apontamentos de humor surreal estão bem inseridos e aborda com franqueza temas intemporais como o fosso entre gerações e os dramas da adolescência. Quem é fã de Nuno Markl, reconhecerá o seu cunho pessoal e até mesmo situações semelhantes àquelas que o próprio já relatou na "Caderneta de Cromos" e em outras ocasiões. Mas também existe aqui um lado da sua escrita com que muitos não estarão familiarizados.
De referir ainda o apoio de consultoria histórica por parte de Joana Stichini Vilela, autora da excelente trilogia olissipográfica "LX-60", "LX-70" e "LX-80"* e a realização de Henrique Oliveira, ele próprio um ícone dos anos 80 como guitarrista dos Táxi .
* Este volume cita o meu artigo sobre as canções das Eleições Presidenciais de 1986 como uma das suas fontes, o que muito me honra.
Segundo, o desempenho do elenco é muito bem conseguido. Os cinco jovens protagonistas foram bem-sucedidos em revelar todas as nuances das suas personagens e em fazer os espectadores identificarem-se com elas. A principal revelação será Eva Fisahn, como a icónica Patrícia: todos os seus timings e expressões são absolutamente certeiros. Não admira que a sua personagem já seja uma "fan favourite".
Do elenco mais adulto, destaco Adriano Carvalho, Teresa Tavares (que estranho vê-la a fazer de professora quando me lembro tão bem dos seus papéis de aluna), Mafalda Santos (adorei a evolução da sua personagem) e Ana Bola (dando o seu twist inconfundível à personagem).
Terceiro, a banda sonora original, concebida por João Só, Nuno Rafael e Hélder Godinho. Os oito temas originais convivem muito bem por entre os vários sucessos eighties (e alguns de outras décadas) que se ouvem na série, sem deixarem de soar também a 2018. Do refrão eufórico de "Electrificados", o tema do genérico interpretado por João Só, Catarina Salinas e Lena D'Água, à invocação Cyndi Lauper-iana de Ana Bacalhau, passando por Samuel Úria a dar uma no cravo dos Supertramp e outra na ferradura dos Iron Maiden. Isto para além de David Fonseca, Miguel Araújo, Márcia, Tatanka e Rita Redshoes.
Quarto, a razão mais pessoal. Durante as filmagens da série, Nuno Markl pediu através das redes sociais que os seus seguidores enviassem fotos suas de circa 1986 para o genérico da série a ser criado por João Pombeiro. Eu enviei uma das minhas fotos de infância de preferidas, datada de 1985 em que o meu eu de 5 anos estava a fazer broas de Todos-Os-Santos com a minha Avó Ana, enquanto por detrás de nós vê-se o quadro com a cabeça do Rato Mickey onde aprendi as escrever as letras.
Claro que tinha esperança que esta fotografia fosse incluída para o genérico, mas com tantos cibernautas a enviar fotografias, estava ciente de que a minha podia não ser uma das eleitas. Por isso, foi com imensa alegria que vi a foto da Avó Ana e o Paulo de 1985 no genérico inicial do primeiro episódio. Fiz logo printscreen e avisei os meus familiares no Facebook, que ficaram comovidos.
A minha Avó Ana faleceu em 2002 e estou profundamente agradecido por ver este nosso momento imortalizado no genérico de "1986".
Para quem já andava por este pequeno rectângulo à beira do Atlântico no dito ano, "1986" será um belo exercício de viagem no tempo e de regresso uma época onde se vivia a outra velocidade e com outra intensidade. Para aqueles que nasceram depois, será uma divertida descoberta de um período tão diferente daqueles que conheceram mas que afinal também é bastante semelhante.
A primeira temporada estreou em Portugal a 20 de Outubro de 1987 e continuou a animar as noites das terças-feiras até a 29 de Março de 1988.
"Diário de Lisboa" [1987-10-20]
Regressou ao convívio dos espectadores portugueses semanalmente ás quartas-feiras à tarde, entre 4 de Julho de 1990 e 12 de Setembro de 1990. Em finais de 1992 andou diariamente pelo ecrã da RTP2 ao final da tarde. Em 1994 regressa à RTP-1 antes do "Caderno Diário" e "Ana Raio e Zé Trovão".
No entanto, pouco mais me recordo da série do que o genérico e os seus protagonistas Crockett (Don Johnson) e Tubbs (Phillipe Michael Thomas), os polícias (em disfarce, supostamente) mais estilosos da TV, com belas fatiotas e a conduzirem grandes bombas sobre rodas, apreendidas a traficantes de droga, claro que o salário de polícia não daria para andar a espatifar tanto carro em dispendiosos tiroteios. Apesar de os plots dos episódios parecerem tirados das manchetes dos crimes do dia, consta que os agentes que perseguem traficantes não têm um dia a dia tão glamoroso como Crocket e Tubbs. E recordo pouco dos seus 122 episódios (em 5 temporadas, exibidas entre Setembro de 1984 e Janeiro de 1990, na sua tournée inicial no canal NBC) porque cá por casa creio que se mudava para a RTP2 para ver alguma outra coisa (ainda tenho que descobrir). Talvez também por isso sempre tenha tido algum desinteresse e aversão a filmes e séries que lidam com máfia e tráfico de droga (estou olhando para ti, "O Polvo"...). Mas isso não impede que actualmente esteja a tentar completar a colecção de calendários de bolso. A série foi concebida por Anthony Yerkovich, mas o produtor executivo Michael Mann (realizador e argumentista de séries de TV e cinema) foi essencial para estabelecer a direcção que a série tomaria.
Outro elemento importante para o sucesso de Acção em Miami foi a banda sonora, recheada de canções de êxito, e claro, de temas instrumentais originais, criados em sintetizador, como por exemplo, o do genérico, a mais famosa música do compositor checo Jan Hammer:
Além de transformar Don Johnson num sex symbol, toda a estética (e moda) da série marcou a década de 80. Foi decidido por exemplo, que para manter todo o tom de cores pastel não seriam filmadas as cores vermelhas e castanhas, "mandamento sagrado" que foi respeitado nas primeiras temporadas.
Voltando ao departamento musical, além do recurso a muita música contemporânea para ilustrar as sequências quase videoclip dos episódios outro tema incidental de Jan Hammer se destacou, o “Crockett’s Theme”:
Recordo este tema numa daquelas compilações de covers manhosas de bandas sonoras que saíram em CD nos anos 90. Existe uma enciclopédia online, mantida por fãs, que lista as dezenas de canções por temporada: "Miami Vice - Season 1 Music".
"Sonny" Crocket é o polícia durão, mas de bom coração, que depois de uma lesão arruinar a sua carreira no futebol americano, e servir no Vietname, entra para a polícia e mais tarde para o departamento de agentes infiltrados. E foi durante uma missão para capturar um perigoso senhor da droga que se encontrou com o seu futuro parceiro, Ricardo Tubbs, um agente à paisana de Nova Iorque, em busca de vingança pelo assassinato do irmão. O aprumo de Tubbs contrasta com a personalidade e estilo mais informal de Crocket.
Além da dupla protagonista, Edward James Olmos ("Blade Runner") desempenhou o papel do Tenente Castillo, o austero chefe do departamento; e Saundra Santiago foi a destemida detective Gina Calabrese. A minha teoria que ela inspirou a revista para adultos mais famosa de Portugal caiu por terra porque a revista "Gina - Histórias Sexy Internacionais" precedeu a série em uma década... Mas Crocket partilhou com Gina algumas "Histórias Sexy Internacionais", depois do mesmo se divorciar, claro. Também foram presença frequente ao longo da série a colega da detective Gina, Trudy Joplin (Olivia Brown), e dois detectives: Stan Switek (Michael Talbott), Larry Zito (John Diehl). A Wikipedia tem uma extensa lista de todos os artistas convidados que se passearam pelo ecrã: "Guest appearances".
Gradualmente as regras de cores da primeira temporada foi sendo ocasionalmente mandada às urtigas, e as temporadas finais, com audiências a descer - incapazes de competir num novo horário com o mega-êxito Dallas - viram aumentar "a escuridão" das cores, mas principalmente dos temas e das cenas, mais violentas, que não caíram bem com os fãs. Depois de um retrocesso a meio do caminho na temporada 4, a temporada final ainda ficou mais violenta e com menor humor.
Em 2006 “Miami Vice” virou filme (realizado por Michael Mann), completando o círculo, visto que “Acção em Miami” primeiro foi concebido como um filme e depois convertido para um episódio piloto chamado “Gold Coast”. Planeio aproveitar as repetições na RTP Memória para actualizar o meu conhecimento de “Acção em Miami”.
Gosto muito quando existe uma grande história por detrás de um grande hit, e é o caso de "Torn", o single que revelou a australiana Natalie Imbruglia em 1997, um sólido clássico "nineties" que ainda se hoje se ouve nas rádios. Mas vamos então por partes:
Parte 1: "Torn" foi composto em 1993 por Scott Cutler e Anne Preven da banda americana Ednaswap em parceria com o produtor inglês Phil Thornalley, anteriormente conhecido pela sua colaboração com os The Cure, produzindo o álbum de 1982 "Pornography" e chegando a integrar brevemente a formação da banda como baixista. A canção foi tentativamente pensada para um álbum a solo de Preven.
Ednaswap
Parte 2: Por entre os meandros insondáveis da circulação de demos por entre companhias discográficas, a canção acabou por chegar até à cantora dinamarquesa Lis Sorensen, que acabaria por ser a primeira a gravá-la, adaptando-a para a língua dinamarquesa com o título "Braendt" ("ardida") ainda nesse ano de 1993.
Parte 3 - Os Ednaswap acabaram mesmo por gravar "Torn" para o seu álbum homónimo de 1995 tendo sucessivamente regravado novas versões para EPs editados em 1996 e 1997 e para um lado B de um single de 1998.
Parte 4 - Em 1996, a cantora norueguesa Trine Rein regravou a canção em inglês, tendo obtido algum sucesso nos países nórdicos. Cheguei a ver o videoclip no canal Sol Música da TV Cabo.
Parte 5 - Natalie Jane Imbruglia nasceu a 4 de Fevereiro de 1975 em Sydney, filha de pai siciliano.
Tal como a sua compatriota Kylie Minogue uns anos antes, Natalie Imbruglia gozara de grande popularidade na telenovela australiana "Neighbours" (a sua personagem, Beth Brennan, era apenas para entrar em meia-dúzia de episódios mas acabou por ficar dois anos) mas sentiu que o próximo passo da sua carreira passava pelas cantigas. Em 1994, deixou a telenovela e mudou-se para Londres. Em 1996 assinou contrato com a BMG após enviar uma demo com quatro canções, incluindo uma versão de "Torn".
A versão de Imbruglia, igualmente produzida por Phil Thornalley e com Katrina Leskanich da banda Katrina & The Waves ("Walking On Sunshine") no coro, foi editada em single em Outubro de 1997 e entrou directamente para o n.º 2 do top britânico, acabando por vender mais de um milhão de cópias no Reino Unido. Entre finais de 1997 e princípios de 1998, o single atingiria o n.º1 em Bélgica-Flandres, Canadá, Dinamarca, Espanha e Suécia e foi nomeado para o Grammy de melhor interpretação pop feminina, tornando-se de longe a versão mais popular da canção. Também devo dizer que a versão de Imbruglia é também a minha preferida, graças à sua interpretação emotiva com uns laivos certeiros de sensualidade e negrume, mas sem ser tão dramática como a de Trine Rein ou tão agressiva como a dos Ednaswap.
Na altura, houve uma mini-controvérsia quando se soube que a versão de Natalie Imbruglia não era a original, chegando mesmo a falar-se em plágio (os tablóides britânicos chamaram "Torn-gate"), mas a própria não demorou a relembrar que nunca tinha escondido que se tratava de uma versão e que em momento algum dissera que a tinha escrito.
Outro dos grandes factores para o sucesso de "Torn" na versão de Natalie Imbruglia foi sem dúvida o videoclip realizado por Alison McLean, gravado a partir de apenas um ângulo. Nele, Natalie Imbruglia interage com o actor e bailarino Jeremy Sheffield (que por exemplo, foi um dos bailarinos do videoclip de "I Want To Break Free" dos Queen) naquele que parece ser a cena romântica filmada num apartamento e o vídeo vai alternando entre cenas gravadas e momentos entre filmagens. Para ajudar à espontaneidade do conceito, a realizadora nunca disse aos dois quando é que a câmara estava ligada. É notória a química entre Imbruglia e Sheffield, fazendo com que a cena do beijo entre ambos seja uma das mais belas cenas do género ne um videoclip. Por fim, ao som do lendário solo de guitarra no final da canção, existe outra icónica cena de Natalie a dançar enquanto o cenário está a ser desmontado.
Parte 6 - Desde então, "Torn" já foi versionado muitas vezes, em vários estilos e línguas. Pretendo destacar a versão em português do Brasil "Amor É Ilusão" editada em 2005 pela girlband Rouge.
Na senda de "Torn", o álbum de estreia de Natalie Imbruglia "Left Of The Middle" acabou por vender sete milhões de cópias no mundo inteiro, sendo ainda o álbum de estreia mais vendido de sempre de uma cantora australiana e produziu mais três hits "Big Mistake", "Wishing I Was There" e "Smoke". No auge da sua fama, Natalie Imbruglia chegou a namorar com Lenny Kravitz e David Schwimmer.
O seu segundo álbum "White Lillies Island" foi editado em 2001 mas em quatro anos, o hype à sua volta já se tinha esfumado e passou algo despercebido, apesar de alguns bons singles com "Wrong Impression". A minha canção preferida de Natalie Imbruglia pós-sucesso global é "Shiver" do seu terceiro álbum "Counting Down The Days" de 2005. Ainda assim, ela continua activa na sua carreira musical: o seu último álbum é "Male" (2014) e como o nome indica, é um álbum de versões de canções originalmente interpretadas por homens, incluindo temas de Daft Punk, Damien Rice, Cat Stevens, The Cure, Neil Young e Tom Petty.
Entre discos, Natalie Imbruglia continuou a ter prestações na representação, nomeadamente no filme "Johnny English" com Rowan "Mr. Bean" Atkinson. Em 2013, tornou-se oficialmente cidadã britânica.
Volto a mergulhar nas memórias desse bastião da minha cultura cinéfila que foi a "Sessão Da Noite" da RTP1 (o espaço de cinema das sextas-feiras à noite entre 1990 e 1993) para recordar aqui mais um filme que vi nesse espaço televisivo.
"Debaixo De Olho" (no original, "Stakeout") é um filme de 1987 realizado por John Badham e trata-se de um policial com recorte de comédia, protagonizado por Richard Dryefuss e Emilio Estevez.
Quando o perigoso criminoso Richard Montgomery (Aidan Quinn) escapa da prisão com a ajuda do seu primo Caylor Reese (Ian Tracey), a polícia de Seattle acredita que ele acabará por contactar a sua ex-namorada Maria McGuire (Madeleine Stowe). Como tal, montam uma missão de vigilância à casa dela a partir do prédio em frente. Os detectives Bill Reimers (Estevez) e Chris Lecce (Dreyfuss), que acaba de ser abandonado pela esposa, estão incumbidos da vigilância durante a noite.
Montgomery telefona a Maria mas a linha é cortada por Lecce que para se aproximar dela e entrar em sua casa, faz-se passar por funcionário da companhia dos telefones. Mas as coisas depressa se complicam quando Lecce e Maria acabam por se envolver. Não só a polícia passa a desconfiar que ele possa ser um aliado de Montgomery como o próprio malfeitor pretende deitar a mão a um meio milhão dólares escondidos no sofá em casa de Maria, com quem pretende fugir para o Canadá...
Com uma hábil mescla de acção e comédia, "Debaixo D'Olho" foi um dos êxitos-surpresa do ano de 1987, sendo o oitavo filme mais rentável desse ano na América. A minha cena preferida é uma na parte inicial quando a personagem de Richard Dreyfuss, ao tentar capturar um bandido, cai num corredor rolante cheio de peixe.
Do elenco, destaque ainda para Forest Whitaker no papel de um dos polícias encarregados da vigilância durante o dia. E como não podia deixar de ser, a banda sonora inclui temas de vários nomes musicais dos anos 80 como Mr. Mister, Steve Winwood, Miami Sound Machine e Pointer Sisters. Este foi o filme que revelou Madeleine Stowe, que até então tinha feito sobretudo de televisão, e que a tornou brevemente numa actriz de nomeada nos anos seguintes ("O Último dos Moicanos", "Short Cuts", "12 Macacos"). Aidan Quinn conheceu a sua futura esposa Elizabeth Bracco nas rodagens deste filme, em que Bracco teve um papel secundário como uma empregada de bar. Os dois estão casados há mais de trinta anos. A trama foi adaptada em 1989 para um filme indiano.
Em 1993, saiu a sequela "Debaixo De Olho 2" novamente realizado por John Badham, e com Estevez e Dreyfuss a recuperarem os seus papéis, desta vez acompanhados por Rosie O'Donnell. Apesar de não ser creditada, Madeleine Stowe também aparece como Maria McGuire na sequela.
Este ano pela primeira vez, o Festival da Eurovisão vai-se realizar em Portugal, e para comemorar nos próximos meses, vamos recordar nada menos que três edições passadas do certame.
Desta vez, recuamos trinta anos até 1988 para o 33.º Festival da Eurovisão que teve lugar em Dublin, em virtude da terceira vitória da Irlanda no ano transacto. No dia 30 de Abril de 1988, Pat Kenny e Michelle Rocca apresentaram o evento no RDS Simmonscout Pavillion.
Pat Kenny e Michelle Rocca
21 países competiram, sendo que Chipre não participou porque veio-se a descobrir a canção seleccionada "Thimame", interpretada por Yannis Dimitrou, já tinha participado na pré-seleccão daquele país em 1984, quebrando pois as regras da Eurovisão. A canção cipriota já estava sorteada para ser a segunda a actuar e chegou a ser incluída num disco com todas as canções concorrentes editado na Noruega.
A RTE, a televisão irlandesa, levou a cabo uma produção moderna com um grande palco e um quadro de votações computorizado exibido em dois grandes videowalls. O grupo rock irlandês Hothouse Flowers foi a actuação do intervalo. Antes de cada actuação, foram emitidas imagens dos diferentes cantores concorrentes a explorar vários sítios da Irlanda. Margarida Mercês de Melo fez os comentários para a RTP e Maria Margarida Gaspar foi a porta-voz dos votos do júri português.
Como habitualmente, iremos recordas as canções participantes em ordem inversa à classificação.
Wilfried (Áustria)
Alguém tem de sempre ficar em último lugar e nesse ano a lanterna vermelha acabou por ir à Áustriaque não recebeu qualquer ponto. Wilfried Scheutz cantou "Lisa Mona Lisa", onde comparava a sua amada à mulher do quadro mais famoso do mundo devido à sua aura de mistério. Porém não conseguiu convencer os europeus. Activo na música desde 1973, este foi o mais notório ponto da carreira de Wilfried, que faleceu de cancro em 2017.
Boulevard (Finlândia)
Três pontos de Israel salvaram a Finlândia de se juntar à Áustria na amargura do último lugar. O grupo Boulevard tinha acompanhado a cantora Vicky Rosti na participação finlandesa do ano anterior e agora queriam provar o seu próprio valor com a canção "Nauravat silmät muistetaan" ("lembrando uns olhos risonhos"). Os Boulevard terminaram em 1994.
Reynaert (Bélgica)
Portugal e Bélgica repartiram o 18.º lugar com cinco pontos. Joseph Reynaerts ou simplesmente Reynaert foi o representante belga com a canção "Laissez briller le soleil", mas o brilho só chegou até França, o único país a pontuar a Bélgica. Actualmente Reynaert é o director do Centro Cultural de Soumagne.
Dora (Portugal)
Dois anos depois, Dora voltava a representar Portugal na Eurovisão. Desta vez, em vez do lendário look arrojado com que se apresentou para cantar "Não Sejas Mau P'ra Mim", ela apresentou-se com um look mais elegante para cantar "Voltarei", canção escrita por José Niza e José Calvário, dupla autora de duas das mais míticas canções portuguesas eurovisivas: "A Festa da Vida" e "E Depois Do Adeus". Dora foi acompanhada nos coros por cinco cantores estrangeiros, ao que constava habituados a fazer coro para artistas internacionais como Sade Adu, mas a prestação ao vivo não resultou da melhor maneira. Além disso, a versão de "Voltarei" apresentada em directo era algo diferente daquela que os portugueses conheciam do videoclip de apresentação. Feitas as contas, Portugal obteve somente 4 pontos de Espanha e 1 da Grécia.
Pouco tempo depois, Dora mudou-se para o Brasil onde ficaria vários anos, tendo voltado a Portugal no início deste século. Desde então, tem continuado activa nas lides musicais, de espectáculos no Casino Estoril à participação em "Na Tua Cara Não Me É Estranha". Em 2017, integrou o júri do Festival da Canção.
Afroditi Frida (Grécia)
A Grécia ficou em 17.º lugar com 10 pontos. Interpretada por Afroditi Frida, o título da canção grega não deixava dúvidas quanto ao tema "Clown", que falava através do ponto de vista de um palhaço que tem de ser positivo mesmo quando não tem vontade de ser. Afroditi apresentou-se em palco com três cantores de coro e, claro, uma palhaça sapateadora chamada Amanda. Foi uma actuação algo bizarra e ao que parece, na final nacional grega o júri terá declarado que nenhuma das canções a concurso tinham qualidade para representar o país. Se isto foi o menos mau que havia, nem imagino o resto.
Beat-Hoven (Islândia)
A Islândia foi o primeiro país a actuar, tendo ficado em 16.º lugar com 20 pontos. Stefan Hilmarsson e Sverrir Stormsker actuaram sob o nome de Beat-Hoven com o tema "Þú Og þeir " ("tu e eles"), alternativamente intitulado "Sokrates". Na canção, Stefan e Sverrir enumeram alguns dos seus ídolos como Debussy, Tchaikovsky, Beethoven, Sigmund Freud, John Wayne, Mark Twain, Michael Caine, sem esquecer notáveis islandeses como o poeta Einar Bendiktsson, o malogrado primeiro-ministro Gunnar Thoddsen e até o campeão de "World Strongest Man" Jon Pall Simarsson. Porém o refrão é reservado para Sócrates (o filósofo grego, claro está) a quem chamam de "o Hércules da alma". Stefan voltaria a participar na Eurovisão em 1991, desta vez formando dupla com Eyfi Kristjansson.
MFÖ (Turquia)
O trio MFÖ (simbolizando as iniciais dos nomes dos seus membros, Mazjar, Fuat e Özkan), voltavam a representar a Turquia no Festival após terem-no feito em 1985. Desta vez levaram um tema pop dançável com sonoridades bem turcas, "Sufi". Ficaram em 15.º lugar, um lugar abaixo do que tinham conseguido três anos antes, mas com mais um ponto (37) do que os obtidos em 1985. Os MFÖ continuam activos no seu país.
Maxi & Chris Garden (Alemanha)
A Alemanha foi representado pelo duo de mãe e filha, Maxi e Chris Garden, cada uma no seu piano a cantar em uníssono "Lied fur einen Freund" ("canção para um amigo"). Maxi tinha na altura apenas 13 anos, sendo uma das mais jovens participantes de sempre na Eurovisão. A canção alemã ficou em 14.º lugar com 48 pontos. Maxi Garden é actualmente actriz de musicais, actuando na Alemanha e Áustria sob o seu verdadeiro nome Meike Gärtner e também tem formação como pintora.
Luca Barbarossa (Itália)
A Itália ficou em 12.º lugar com 52 pontos. Nesse ano foi representada por Luca Barbarossa com o tema "Vivo (Ti scrivo)". Curiosamente, foi a primeira de apenas duas canções italianas eurovisivas que não receberam quaisquer pontos de Portugal até hoje. Activo desde o início dos anos 80, Barbarossa continua a ter uma carreira musical de grande sucesso em Itália. Em 1992, venceu o Festival de San Remo.
Tommy Körberg (Suécia)
Com a mesma posição e os mesmos pontos ficou a Suécia. Tommy Körberg regressava ao Festival da Eurovisão depois de já ter representado o seu país no então já distante ano de 1969. Em Dublin, cantou a balada "Stad i Ljus" ("cidade de luz", mas eu sei que apetecia que fosse um tributo sueco ao estádio do Benfica), acompanhado do trompetista Urban Agnas.
La Década Prodigiosa (Espanha)
A Espanha ficou em 11.º lugar, representada por um grupo que então fazia sucesso no país vizinho, La Década Prodigiosa. A canção chamava-se "La chica que yo quiero", acrescentando depois o subtítulo "Made in Spain" e era um tributo à mulher espanhola. O tema era orelhudo e bem eighties e conseguiu 58 pontos. Com uma formação sempre renovada, o projecto La Década Prodigiosa continua até hoje (o último disco é de 2015).
Gérard Lenorman (França)
A canção da França chamava-se "Chanteur de charme" e quem melhor para cantar que um dito cujo? Gérard Lenorman fazia carreira como cantor romântico desde 1969 e a canção era um tributo semi-subversivo aos temas que cantava, cheios de clichés e histórias inventadas, mas que no fundo de vez em quando sabem bem ouvir. Graças aos 12 pontos da Jugoslávia, o último país a votar, a França alcançou o 10.º lugar com 64 pontos.
Gerard Joling (Holanda)
Em nono lugar com 70 pontos ficou a Holanda, representada por um dos seus cantores mais populares Gerard Joling e o tema "Shangri-La". Uma das cantoras do coro, Justine Pelmelay, seria a representante holandesa no Festival do ano seguinte. Em 1989, Gerard Joling obteve um sucesso internacional com "No More Boleros" e tem sido desde então bastante activo na música e na televisão holandesa. Em 2009, esteve para regressar à Eurovisão como membro do grupo De Toppers, mas acabou por não ir ao ter partido o braço a esquiar. Joling tem uma estátua de cera no Museu Madame Tussaud's de Amesterdão, que eu já visitei.
Jump The Gun (Irlanda)
A Irlanda, o país anfitrião, fez-se representar pelo grupo Jump The Gun e o tema "Take Him Home", que apelava ao auxílio dos mais desfavorecidos. A canção irlandesa agradou especialmente ao júri de Espanha que lhe atribuiu 12 pontos, somando no total 79 pontos e o oitavo lugar.
Yardena Arazi (Israel)
Yardena Arazi, a representante de Israel, era já uma veterana destas andanças, pois não só já tinha representado o seu país em 1976 como parte do grupo ChocolateMentaMusik como foi uma das apresentadoras do Festival da Eurovisão de 1979 realizado em Jerusalém. O seu tema "Ben Adam" ("ser humano") tinha influências balcânicas, começando num ritmo lento mas terminando com o refrão acelerado. Reza a lenda que Arazi, conhecida pelas suas superstições, consultou uma astróloga antes da sua participação que lhe disse que iria a ganhar a canção que iria actuar em nono lugar. Israel era o país que tinha sido sorteado para ser o nono a actuar mas com a desistência de Chipre, acabou por ser o oitavo país a actuar, ficando no 7.º lugar com 85 pontos. Mas a astróloga estava certa: ganhou de facto o país cuja canção foi a nona a actuar.
Srebrna Krila (Jugoslávia)
A Jugoslávia foi o país que fechou o desfile das canções e fê-lo em alta, com o animado tema "Mangup" ("malandro") interpretado pelo grupo croata Srebrna Krila ("asas prateadas"). O grupo tinha sido formado em 1978 tendo como vocalista Vlado Kalember, o representante jugoslavo de 1984. Porém, em 1988 a vocalista era Lidija Asanovic que cantava sobre um tal "malandro" que não reparava nela...No fim das votações, a Jugoslávia foi sexta com 87 pontos. Lidija Asanovic deixou a banda no ano seguinte mas com diversos vocalistas, os Srebrna Krila continuaram até 2000 tendo regressado em 2012.
No ano seguinte, pela terceira vez consecutiva, este país levou um grupo pop-rock croata com vocalista feminina e o resultado e à terceira seria de vez...
Karolin Kruger (Noruega)
A jovem Karoline Krueger de 18 anos foi a representante da Noruega cantando "For var jord" ("pela nossa Terra") ao piano, obtendo o 5.º lugar com 88 pontos. A autora da letra era Anita Skorgan, uma das mais populares cantoras norueguesas e representante do país na Eurovisão em 1977, 1979, 1982 e 1983. Karoline Krueger continua activa na música e em 2013, obteve particular sucesso no seu país com um disco e uma série de concertos de Natal com o seu marido Sigvart Dagsland, que era um dos membros do coro nesta actuação.
Lara Fabian (Luxemburgo)
O Luxemburgo foi representado por uma cantora belga, filha de mãe italiana e que viria mais tarde a obter também nacionalidade canadiana. Essa cantora era nada menos que Lara Fabian, que obteria grande sucesso internacional a partir de finais dos anos 90, mas que na altura com 18 anos, dava os seus primeiros passos na sua carreira. Em Dublin, Lara cantou "Croire", uma sentida balada, que valeu ao grão-ducado o quarto lugar com 90 pontos (12 pontos de Finlândia, Irlanda e Suíça). Hoje em dia, Lara Fabian tem já uma longa e bem-sucedida carreira. Em Portugal, o seu primeiro álbum em inglês foi n.º 1 do top nacional em 2001, sobretudo por causa do tema "Love By Grace", incluído na telenovela brasileira "Laços de Família".
Hot Eyes (Dinamarca)
O duo Hot Eyes, formado por Kirsten Sigaard e Soren Bundgaard, representava a Dinamarca pela terceira vez, depois de 1984 e 1985. Tal como em 1984, Kirsten actuou grávida mas se quatro anos antes o seu estado de graça passou despercebido em palco, em 1988 ela actuou ostentando o seu estado avançado de gravidez, havendo até alguns receios que ela pudesse mesmo dar à luz naquele dia (viria a fazê-lo três semanas mais tarde). O tema chamava-se "Ka' du se hva' jeg sa?" ("não vês que foi o que eu te disse?") e não se pense que a gravidez de Kirsten roubou todas as atenções, pois a bailarina Cita de Friis rodopiou por todo o palco com uma falsa guitarra ao longo da canção, efectuando um gag final em que simulou atirar a guitarra para a orquestra atingindo o maestro Henrik Krogsgaard. No final, o duo obteve o seu melhor resultado da sua trilogia de participações, com o 3.º lugar e 92 pontos.
Mas a luta pela vitória fez-se desde logo entre o Reino Unido e a Suíça que disputaram taco-a-taco. A Suíça foi liderando ao princípio mas ao fim de dois terços de votações, a liderança passou para as cores britânicas e parecia que a velha Albion iria obter o seu quinto triunfo. Faltando apenas os votos jugoslavos, o Reino Unido ainda ia na frente com 136, mais cinco que a Suíça. Mas a Jugoslávia não deu quaisquer pontos à canção britânica e deu seis pontos à Suíça, que permitiu conquistar o ceptro por apenas um ponto.
Scott Fitzgerald (Reino Unido)
O escocês William McPhail, mais conhecido pelo seu stagename Scott Fitzgerald, conhecera algum sucesso nos anos 70 durante a era do glam-rock, tendo-se destacado sobretudo pelo tema de 1978 "If I Had Words" em dueto com Yvonne Keeley. A sua participação na Eurovisão em 1988 pelo Reino Unido foi um breve renascer da carreira, com o tema "Go", uma emotiva balada que aludia ao provérbio "gato escaldado de água fria tem medo", pois Fitzgerald cantava sobre o reencontro com uma paixão antiga da qual levou muito tempo a recuperar e por isso, pede que ela se vá embora antes que haja mais estragos.
Céline Dion (Suíça)
33 anos após ter ganho a edição inaugural do Festival da Eurovisão em 1956, a Suíça conseguia por fim a sua segunda vitória no certame na voz de uma jovem canadiana de vinte anos de seu nome Céline Dion. Sim, a diva baladeira que viria a fazer furor nos anos 90 com hits esmagadores como "Think Twice" e "My Heart Will Go On" representou as cores helvéticas em 1988 e é a par dos ABBA um dos nomes mais ilustres da galeria de vencedores da Eurovisão. (Durante algum tempo, eu cheguei a pensar que ela era mesmo suíça). Na altura, Céline era já bastante conhecida nos países francófonos mas este foi o seu primeiro grande triunfo à escala europeia. Em Dublin, interpretou o tema "Ne partez pas sans moi" ("não partam sem mim") e se o seu conjunto branco de saia e casaco com que se apresentou em palco foi bastante criticado, a sua voz e interpretação selaram o triunfo.
Céline Dion com os autores da sua canção:
Atila Sereftug e Nella Marinetti
(Nos comentários para a RTP, Margarida Mercês de Melo referia que Dion "apesar de não ser bonita, tem muita força interior. Tem boa voz e algo que de certa forma nos faz recordar Piaf."). No documentário "Behind The Music" que a VH1 lhe dedicou, Dion e o seu marido René Angelil confessaram que foi nessa noite em Dublin, após os festejos da vitória, que deram o seu primeiro beijo e que a relação de ambos passou a algo mais que a de agente/mentor e artista/pupila.
Mesmo longe do auge da sua carreira, Céline Dion continua a actuar e mantém uma legião de fãs por todo o mundo.