Mesmo uma memória televisiva vasta como a minha tem os seus lapsos e por isso, é com pena que tenho de afirmar que não tenho qualquer recordação desta série quando ela foi originalmente exibida, ainda que nesse altura eu já prestasse bastante atenção a quase tudo o que passava na TV, tendo-a só acompanhado recentemente na RTP Memória. E é estranho que eu não me recorde dela pois certamente uma série com um punhado de actores conhecidos, com uma intriga de mistério e sobrenatural e que tinha como tema principal um música tão popular da altura seria algo que o Paulo de 1986 guardaria no seu disco rígido mental. Mas vá-se lá saber como, tal não aconteceu e foi pelos olhos do Paulo de 2017 que acabei por vê-la.
"O Anel Mágico" foi originalmente exibido no "Brinca Brincando" às quartas-feiras entre Outubro de 1986 e Janeiro de 1987, embora tenha sido gravada e produzida em 1985. As autora da mítica colecção de livros "Uma Aventura", Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, dividiram a autoria da série com Maria Teresa Ramalho e João Mattos e Silva, e a realização foi de Jorge Cabral.
Vasco Cunha (Tozé Martinho) é um professor de ginástica do Ginásio Clube Português que certo dia descobre no sótão do velho solar da sua família um anel, na posse da sua família há várias gerações, que quando nas mãos de um membro solteiro da família, confere poderes mágicos. Tudo isto é explicado a Vasco pelo fantasma do seu tio Afonso (Varela Silva no primeiro episódio, Luís Horta nos restantes).
Entretanto, o mafioso italiano Luigi Ferratini (Carlos Wallenstein) pretende comprar a todo o custo o solar da família Cunha, uma vez que a sua proximidade do mar é ideal para levar a cabo os seus negócios sujos, como o tráfico de obras de arte. Mas tanto Irene (Irene Isidro), a avó de Vasco, e a sua irmã Beatriz (Mariana Rey Monteiro) não cedem às pressões de Ferratini. Vasco e Emília (Luísa Barbosa), a fiel empregada da família Cunha, também se opõem.
Por isso, Ferratini e seus comparsas Marcelo Pucci (Carlos César), Romano Calentano (Jorge Nery) e Mota (Henrique Pinho) decidem descobrir outros meios de fazer a família Cunha ceder. Além de saberem dos segredos do anel mágico após roubarem o diário da família, descobrem através de Óscar (Óscar Acúrcio), um detective privado de competência algo discutível, que a casa tem um subterrâneo, ideal para as suas operações ilícitas.
Entretanto, Vasco lança-se em aventuras para impedir os planos de Ferratini. Para tal conta com a ajuda de Óscar, que passa para o seu lado e de Marta Vaz (Manuela Marle), a secretária de Ferratini, que ao conhecer Vasco, passa a fazer jogo duplo. Uma dessas jogadas passará por raptar o gato Fritz, por quem Ferratini tem uma grande devoção.
O Paulo de 2017 viu "O Anel Mágico" rindo-se dos elementos de produção, rudimentares para os dias de hoje porém competentes para o Portugal de 1986, por isso não teve dúvida que se o Paulo de 1986 tivesse visto a série (às tantas até viu e esqueceu-se por completo) teria gostado bastante. Alguns dos pormenores mais divertidos para mim foi o facto de se ouvir Luciano Pavarotti a cantar sempre que alguma personagem mafiosa, como Ferratini ou Romano, entrava em cena, às vezes até se sobrepondo aos diálogos dos actores.
Mas o principal problema de "O Anel Mágico" terá sido a sua continuidade, com várias pontas soltas na história e personagens que desapareciam para dar lugar a outras. Por exemplo, como refere o site "Brinca Brincando", Varela Silva foi o fantasma do tio Afonso no primeiro episódio mas Luís Horta desempenhou esse papel nos outros episódios; a personagem de Irene Isidro deixa de aparecer depois do terceiro episódio, sendo substituído por aquela de Mariana Rey Monteiro; Marcelo, o secretário de Ferratini, deixa de aparecer no segundo episódio, aparecendo depois Romano como o principal aliado de Ferratini. Aliás, nem sequer se fica a saber o que acontece a Ferratini, pois o último episódio consiste em Vasco a salvar Beatriz e Emília do sequestro de Romano nos subterrâneos e o plano de fuga deste até Nápoles a nado...sendo apanhado ainda em Cascais. O próprio Romano surgiu na série com vários looks diferentes.
Tudo isto indica que as gravações da série decorreram ao longo de vários meses, com alguns tempos de intervalo, o que terá levado à indisponibilidade de alguns actores iniciais e às voltas do argumento.
O "Brinca Brincando" refere ainda que a casa que foi utilizada como o solar da família Cunha, na altura em avançado estado de degradação, foi entretanto recuperada e hoje a Casa da Guia é um conhecido espaço comercial de Cascais e que uma então desconhecida Custódia Gallego foi figurante no primeiro episódio, como uma das alunas de Vasco.
O tema da série era "A Canção da Manhã" de Rão Kyao, um dos temas mais populares deste música, que fazia parte do disco "Estrada de Luz", que chegou a ser n.º 1 do top nacional. Além de Rão Kyao e das árias de Luciano Pavarotti, a série também incluiu temas de António Pinho Vargas, Heróis Do Mar, Taxi, Rita Lee e Xokmaiô.
"A Canção da Manhã" Rão Kyao
O último episódio: