Por esta altura, gostamos de analisar os alinhamentos colectâneas de êxitos e esta é sem dúvida que merece uma análise. Após o lançamento do primeiro volume em finais do ano anterior, em 1992 a série de colectâneas "Número Um" teve mais dois volumes, um CD/LP editado no Verão e um duplo volume pensado para o mercado natalício. Eu na altura ainda não tinha aparelhagem, nem sequer um rádio com cassetes, senão provavelmente queria ter este volume da série, já que está recheado dos maiores sucessos do ano de 1992.
O terceiro volume da série "Número 1" foi editado pela EMI - Valentim de Carvalho e na versão CD continha trinta e uma faixas. E o anúncio televisivo já aguçava o apetite:
CD1
1. Too Much Love Will Kill You - Brian May: Sabiam que além de guitarrista dos Queen, Brian May é um cientista especializado na astrofísica? Em 1992, May tinha editado o álbum a solo "Back To The Light", que incluía esta balada na qual ele reflectia sobre o fim do seu primeiro casamento. A canção foi inicialmente gravada para o álbum "The Miracle" dos Queen (1989), mas foi posta de lado porque foi dada preferência aos temas compostos em conjunto pela banda. A versão dos Queen interpretada por Freddie Mercury acabou por ser incluída no álbum póstumo "Made In Heaven" (1995) e lançada como o quarto single.
2. How Do You Do! - Roxette: Por esta altura, os Roxette eram incontestavelmente a banda sueca de maior sucesso mundial pós-ABBA. Nesse ano de 1992, o duo editou o álbum "Tourism" que reunia temas gravados ao vivo e outros temas inéditos gravados durante a digressão do álbum "Joyride". Por exemplo, incluía duas canções gravadas num quarto de hotel em Buenos Aires. O single de apresentação foi "How Do You Do!", gravado em Estocolmo, e que rapidamente se tornou mais um dos hits incontornáveis dos Roxette, chegando ao n.º 1 dos tops na Noruega e na Espanha. Lembro-me que na altura, era uma das canções mais utilizadas nos concursos de dança na minha escola do 2.º ciclo.
3. Good Stuff - The B'52s: Gozando um renovado sucesso graças aos hits "Love Shack" e "Roam" e à participação da vocalista Kate Pierson em "Shiny Happy People" dos R.E.M. (que vinham da mesma cidade: Athens, no estado americano da Geórgia), os The B-52's lançaram o álbum "Good Stuff", o único em que não participou a outra vocalista Cindy Wilson, que fez uma pausa para se dedicar à família. A faixa-título foi o single de lançamento e é uma das minhas preferidas da banda. Recordo-me do videoclip psicadélico, que foi um dos últimos utilizados pela RTP como tapa-buracos na programação.
4. It's My Life - Dr. Alban: Quando o nigeriano Alban Nwapa foi estudar medicina dentária para a Suécia e começou a fazer alguns biscates como DJ e rapper para pagar os estudos e mais tarde a sua clínica, estava longe de imaginar que se tornaria toda uma estrela internacional graças a hits como "Hello Afrika", "Sing Hallelujah" e sobretudo "It's My Life", com o seu triunfante refrão sing-along. Na produção estava Denniz Pop, que depois também produziria sucessos para nomes como Ace Of Base e Backstreet Boys.
5. One - U2: Assim reza a lenda:esgotados por todo o sucesso e promoção dos álbuns "The Joshua Tree" e "Rattle And Hum", os U2 chegaram a Berlim em 1990 na vésperas da reunificação da Alemanha em busca de inspiração para o álbum seguinte, mas em vez disso as tensões e as divergências criativas entre a banda só se exacerbaram ainda mais, ao ponto de uma ruptura estar iminente. Até que uma progressão de acordes de The Edge em guitarra acústica captou a atenção de todos e o produtor Daniel Lanois sugeriu tentarem trabalhar uma canção à volta disso. Como que intervenção divina, Bono Vox tem logo uma ideia para a letra e a melodia e com todos em sintonia, surge uma canção que lhe deu um alento e uma nova direção para aquele que seria o álbum "Achtung Baby" de 1991. Essa canção era "One" que foi o terceiro single e rapidamente se tornou uma das canções mais emblemáticas da banda. "One" teve três videoclips: o mais conhecido é o de Bono Vox a fazer lispync sentado numa mesa de restaurante; há ainda outro filmado em Berlim com alguns planos dos membros da banda vestidos em drag e do pai de Bono e um com imagens de búfalos a corrererem em câmara lenta, a partir da fotografia da capa do single (o autor da fotografia, David Wojnarowicz, morreu de SIDA meses depois da edição do single, sendo essa uma das razões pelas quais todas as vendas de "One" reverteram na luta contra a doença). "One" é também uma das canções mais versionadas do U2, tendo sido gravada por nomes tão díspares como Mica Paris, Johnny Cash, Pearl Jam, Vanessa Paradis e Joe Cocker. Em 2006, os U2 regravaram uma versão em dueto com Mary J. Blige. Recordo ainda a versão em fusão com "(I Wish I Knew How It Would Feel To Be) Free" de Nina Simone que os Lighthouse Family lançaram em 2001.
6. Não Sou O Único - Resistência: Originalmente uma faixa do mítico álbum "Circo De Feras" dos Xutos & Pontapés, "Não Sou O Único" foi o primeiro single do álbum "Palavras Ao Vento" do supergrupo Resistência, que reunia nomes como Tim, Miguel Ângelo, Pedro Ayres Magalhães e Olavo Bilac e desde então que rivaliza com o original como a versão mais popular, assim como o outro hit do disco, a versão de "Nasce Selvagem". Ainda em 1992, os Resistência lançaram um segundo álbum "Mano A Mano".
7. Walking On Broken Glass - Annie Lennox: Com as tensões entre ela e Dave Stewart a chegarem ao ponto de rutura dos Eurythmics em 1990, a escocesa Annie Lennox estreava-se a solo em 1992 com álbum "Diva". Este "Walking On Broken Glass" foi o segundo single e teve um marcante videoclip com a estética do século XVIII e a participação de John Malkovich e Hugh Laurie.
8. Sleeping Satellite - Tasmin Archer: Segundo a própria Tasmin Archer, "Sleeping Satellite" foi escrita em 1989 por alturas do 20.º aniversário da aterragem na Lua por Armstrong, Aldrin e Collins, com a letra a reflectir sobre os avanços da Humanidade e da tecnologia e se algo importante se perdeu no processo. Após Archer assinar contrato com a EMI em 1990, a canção foi lançada como single de apresentação do álbum "Great Expectations" e rapidamente chegou ao n.º1 do top britânico. Tasmin Archer editou desde então mais três álbuns (o mais recente "On" em 2006) mas nunca mais se aproximou do sucesso de "Sleeping Satellite" que no entanto permanece como um intemporal clássico dos anos 90.
9. Rhythm Is A Dancer - Snap!: Poder-se-ia pensar que o colectivo alemão Snap! nunca superaria o estrondoso sucesso do hit de 1990 "The Power", foi o que alcançaram em 1992 quando "Rhythm Is A Dancer" dominou as pistas de dança e as ondas de rádio em todo ao mundo, atingindo o n.º 1 dos tops do Reino Unido (onde esteve no topo durante seis semanas), Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Irlanda, Israel, Países Baixos, Suíça e Zimbabwe e chegando ao top 5 nos Estados Unidos. Se o refrão cantado por Thea Austin é absolutamente estrelar, já a parte rap interpretada por Turbo B tem sido muito criticada pelo verso "I'm serious as cancer when I say rhythm is a dancer". No Brasil, o tema ficaria associada ao strip-tease masculino porque era muito utilizado nas cenas da telenovela "De Corpo E Alma" que se passavam num clube de strip masculino. Novas versões de "Rhythm Is A Dancer" foram editadas em 1996, 2003 e 2008.
10. Humpin' Around - Bobby Brown:Desde menino e moço que Robert Barisford Brown está na ribalta, primeiro como parte do grupo New Edition e depois numa carreira a solo iniciada em 1988. Em 1992, Brown lançou o seu terceiro álbum a solo "Bobby", do qual "Humpin' Around" foi o single de apresentação. Mas mais do que a sua música, foi o seu casamento com Whitney Houston que fez Bobby Brown ser notícia nesse ano.
11. Vida De Marinheiro - Sitiados: Foi uma canção dos Mão Morta, que a banda ainda sem nome viu o título escrito numa maquete, que denominou a banda nacional com o mais triunfante hit de estreia de 1992. Com uma poderosa fusão de rock e sonoridades folclóricas (a fazer lembrar uns Pogues à portuguesa) e as figuras carismáticas do líder João Aguardela e da acordeonista Sandra Baptista, o álbum homónimo dos Sitiados fez grande sucesso, muito por culpa do hit "Vida De Marinheiro" que em 1992 andou na boca de toda a gente. Os Sitiados editariam mais quatro álbuns ao longo dos anos 90, até se separarem no ano 2000. João Aguardela dedicou-se então a outros projectos como Megafone, A Naifa e Linha Da Frente até infelizmente falecer de cancro em 2009 com somente 39 anos.
12. Ain't No Doubt - Jimmy Nail: O actor e cantor Jimmy Nail teve em 1992 um pico na sua carreira quando este "Ain't No Doubt", influenciado pelo New Jack Swing americano, chegou ao n.º 1 do top britânico. Em Portugal, o papel de mais conhecido de Jimmy Nail como actor será provavelmente o de Agustín Magaldi em "Evita" (1996) ao lado de Madonna.
13. Feels Like Forever - Joe Cocker: O primeiro volume do Número Um em 1991 incluía a faixa-título do álbum "Night Calls" de Joe Cocker. No ano seguinte, o álbum foi reeditado com alguns temas inéditos incluindo este "Feels Like Forever", escrito por Bryan Adams e Diane Warren.
14. Disappointed - Electronic: Os Electronic era um super-projecto composto por Bernard Sumner dos New Order e Joy Division, Johnny Marr dos The Smiths e Neil Tennant e Chris Lowe dos Pet Shop Boys. O primeiro single deste colectivo foi "Getting Away With It" em 1989 mas só em 1991 surgiu o álbum homónimo. Tennant e Lowe abandonaram o projecto em 1994, mas os Electronic continuaram até 1999, com mais dois álbuns, onde colaboraram nomes como Karl Bartos dos Kraftwerk. Este "Disappointed" foi um single à parte, que viria a ser incluído na banda sonora do filme "Cool World" e acabou por ser o mais bem-sucedido dos Electronic em termos de tabelas de vendas chegando ao n.º 6 do top britânico e, segundo diz a Wikipedia, ao n.º 8 em Portugal.
15. Take A Chance On Me - Erasure: Em 1992, fazia dez anos que os ABBA tinham iniciado um longo interregno (apenas quebrado em 2021). Porém esse ano é considerado o ano da redescoberta do quarteto sueco, com o lançamento da colectânea campeã de vendas "ABBA Gold" mas, antes disso, com o EP "Abba-Esque" dos Erasure, onde o duo britânico versionou quatro canções dos ABBA: "S.O.S.", "Voulez-Vous", "Lay All Your Love On Me" e "Take A Chance On Me". A promoção incidiu mais sobre esta última, com um inesquecível videoclip com Andy Bell e Vince Clarke transvestidos de Frida Lynstaad e Agnetha Faltskog e um rap de MC Kinky. O EP foi n.º 1 em vários países europeus, incluindo no Reino Unido. Mais tarde, os Bjorn Again, a mais famosa banda de tributo aos ABBA, lançaram um single intitulado "Erasure-ish" com duas versões de canções dos Erasure.
16. Hazard - Richard Marx: Conhecido pelas suas baladas e temas soft-rock, terá sido surpreendente para os fãs de Richard Marx saber do tema mais tétrico do segundo single do álbum "Rush Street", contando a história de um homem ostracizado na cidade titular do Nebraska que é acusado da morte de Mary, a jovem com quem tinha uma relação de amizade (ou algo mais). O narrador declara a sua inocência ao longo da canção, mas foca-se sobretudo no facto de desde criança as gentes da cidade lhe tratarem como um pária, deixando o mistério da morte em aberto. O mistério e negrume da canção estão presentes no famoso videoclip a preto e branco.
CD2
1. Sangue Oculto - GNR: Trinta anos antes de dar título a uma telenovela da SIC com Sara Matos a fazer de não sei quantas gémeas, "Sangue Oculto" foi um dos maiores hits nacionais de 1992. Se o Grupo Novo Rock já contava então com mais de uma década de sucesso no activo, o álbum "Rock In Rio Douro" catapultou Rui Reininho e companhia para um pico de popularidade quase inaudito, multiplicando discos de platina e culminando num concerto no Estádio de Alvalade para 40 mil pessoas, na altura a maior audiência de sempre de um concerto de uma banda portuguesa. "Sangue Oculto" contava com a participação de Javier Andreu, vocalista da banda espanhola La Frontera, sendo pois cantada em português e castelhano, e tenho de admitir que gostava mais do refrão cantado por Andreu ("al huir de una investida/ es como saltar una hoguera/ la barrera de fuego una frontera").
2. Lobo-Hombre En Paris - La Unión:E continuando na língua de Cervantes, os La Unión foram uma das bandas mais importantes do rock espanhol dos anos 80. Porém cá deste lado da Península o seu momento mais notório foi precisamente em 1992 com o álbum ao vivo "Tren De Largo Recorrido", gravado num concerto em La Coruña, que finalmente deu a conhecer ao público português o tema mais embelmático da banda, "Lobo-Hombre En Paris", originalmente editado em 1984. (Desconheço se a versão incluída nesta compilação é a original ou a gravada ao vivo.) Os La Unión continuaram activos por mais anos, mas em 2020 o vocalista Rafael Sanchez anunciou o fim da banda e o início de uma carreira a solo, mas o baixista Luis Bolín ainda actua sob o nome de La Unión. Em Abril deste ano, o guitarrista Mario Martinez faleceu de cancro da laringe.
3. Jesus He Knows Me - Genesis:O álbum "We Can't Dance" dos Genesis (que ainda hoje é o penúltimo da banda e o último com Phil Collins) continuava em alta e o quarto single era uma paródia aos tele-evangelistas, precisamente numa altura em que vários deles estavam a ser investigados por todo o tipo de falcatruas devido à vida de luxo obtida à custa das doações dos fiéis.
4. Damn I Wish I Was Your Lover - Sophie B. Hawkins: Provavelmente um dos primeiros hits globais explicitamente sobre o amor e desejo sexual de uma mulher por outra (sendo que esta está numa relação abusiva com outrem) foi o tema que lançou a carreira da cantora e compositora americana Sophie B. Hawkins (o B é de Ballantine), que se define a si própria como omnisexual. Hawkins teve mais alguns temas de sucesso nos anos seguintes como "Right Beside You" e "As I Lay Me Down To Sleep".
5. Tão Só - Sétima Legião:A banda de "Sete Mares" e "Por Quem Não Esqueci" lançou em 1992 o álbum "O Fogo", de onde foi extraído este "Tão Só". Os Sétima Legião regressariam para mais um álbum ao vivo, "Auto da Fé" (1994) e outro de estúdio, "Sexto Sentido" (1999), antes de terminarem em 2000 com um disco best-of.
6. Baker Street - Undercover:Depois de ter ficado famosa por ser a rua da residência de Sherlock Holmes, Baker Street em Londres deu título a um tema do escocês Gerry Rafferty de 1978. O tema contém um dos mais lendários solos de saxofone da história da música pop, tocado por Raphael Ravenscroft e foi um hit em todo ao mundo, chegando ao n.º dos tops da África do Sul, Austrália e Canadá. Em 1992, o trio britânico Undercover lançou uma cover eurodance de "Baker Street" que chegou ao n.º 2 do top britânico (o original foi até ao n.º 3). Um dos membros dos Undercover é Steve McCutcheon, ou Steve Mac, que mais tarde viria a tornar-se um importante compositor e produtor.
7. Too Funky - George Michael: "Too Funky" foi uma das faixas destinadas ao segundo volume do álbum "Listen Without Prejudice" de George Michael, mas com o cantor embrenhado numa disputa legal com a Sony Music, esse disco nunca se materializou. Em vez disso, foi um dos três temas que George Michael entregou para a colectânea "Red Hot + Dance", cujas vendas revertiam a favor da pesquisa e da luta contra a SIDA, e que também incluiu temas de artistas como Madonna, Lisa Stansfield e Seal. "Too Funky" é célebre pelo seu videoclip passado num exubertante desfile de moda do criador Thierry Mugler e que tinha a participação de top models famosíssimas como Linda Evangelista, Tyra Banks, Estelle Hallyday, Eva Herzigova e Nadja Aumermann. (Menos famosa mas para mim a mais impactante no vídeo era Emma Sjöberg com o seu corpete com manípulos e espelhos de mota!) Existe também um videoclip alternativo, realizado pelo próprio Mugler, em que aparecem os futuros actores Justin "Alex Karev" Chambers e Djimon Honsou.
8. Jump - Kris Kross:Chris Kelly e Chris Smith, que é como quem diz Mac Daddy e Daddy Mac, que é como quem diz, Kris Kross, tinham somente treze anos quando em 1992 alcançaram um hit global e um clássico do hip hop com "Jump", que entre outros momentos de ribalta, os levou a actuarem na digressão Dangerous de Michael Jackson. Os Kris Kross editariam mais dois álbuns. Chris Kelly faleceu em 2013 com apenas 34 anos.
9. Ellegibo (Una História de Ifa - Ejigbo) - Ellegibo:Originalmente gravado pela cantora brasileira Margareth Menezes, "Elegibô (Uma História de Ifa - Ejigbo)" ficou conhecido pela sua inclusão na banda sonora do filme "Orquídea Selvagem". Eu recordo-me depois que em 1992, foi utilizado no anúncio a uma bebida (não me recordo qual), o que levou a uma versão eurodance de produção espanhola sob o nome Ellegibo, que foi n.º 1 do top espanhol durante seis semanas e cujo sucesso se estendeu à pistas de dança deste lado da fronteira.
10. Tudo Ou Nada - Zero:João Loureiro ainda estava a cinco anos de assumir pela primeira vez a presidência do Boavista, pelo que na altura ainda era mais conhecido por ser o vocalista dos Ban. Após o álbum "Mundo de Aventuras", três elementos da banda viraram as agulhas para outro projecto, os Zero com ex-GNR Alexandre Soares, do qual resultou um álbum homónimo e o hit "Tudo Ou Nada".
11. Heading For A Call - Vaya Con Dios:Após o sucesso do álbum "Night Owls" de 1990 que continha dois do maiores hits dos Vaya Con Dios, "What's A Woman" e "Nah Neh Nah", a banda belga passou por um período crítico em 1991 quando o membro fundador Dirk Schoofs deixou a banda em diferendo com a vocalista Dani Klein, acabando por morrer pouco tempo depois. Com os Vaya Con Dios a se tornarem basicamente um projecto de Klein acompanhada por vários músicos, 1992 viu a edição do álbum "Time Flies" do qual este "Heading For A Fall" foi o single de apresentação. Os Vaya Con Dios continuariam até 2014 mas regressaram para mais um disco em 2022.
12. Sympathy - Marillion: Para comemorar dez anos de existência, os Marillion lançaram o seu álbum best of "A Singles Collection", que continha doze dos singles da banda britânica e mais dois temas inéditos. Nos Estados Unidos, o disco teve o título "Six Of One, Half-Dozen Of The Other", indicando que seis singles eram da era liderada por Derek "Fish" Dick que deixou o grupo em 1988 (que conteve os hits "Kayleigh" e "Lavender" e a outra meia dúzia eram da era com Steven Hogarth como vocalista (função que mantém até hoje). Um dos temas inéditos era este "Sympathy", originalmente gravado pelos Rare Bird in 1970.
13. What God Wants Part 1 - Roger Waters:Sobretudo conhecido como baixista e principal letrista dos Pink Floyd, sendo portanto preponderante na criação de álbuns tão lendários como "The Dark Side Of The Moon", "Wish You Were Here" e "The Wall", em 1983 Roger Waters deixou a banda para uma carreira a solo, cujo maior sucesso comercial foi com o terceiro álbum "Amused To Death", que contou com colaborações de nomes como Jeff Beck, Patrick Leonard, Randy Jackson e Rita Coolidge do qual este "What God Wants - Part 1" (existem mais duas partes) foi o single de apresentação e o único tema a solo de Waters a chegar ao top 40 britânico.
14. America: What Time Is Love - KLF:Depois de terem sido o mais bem-sucedido colectivo electro-dance britânica do início dos anos 90, os KLF terminaram em 1992 literalmente um estrondo, com uma actuação nos Brit Awards onde foi disparada pólvora seca de uma metralhadora. "What Time Is Love?" teve três versões diferentes, sendo a mais conhecida aquela intitulada como "America: What Time Is Love" que contou com a voz de Glenn Hughes, que integrou bandas como Deep Purple e Black Sabbath.
15. O Hábito Faz O Monstro - Rádio Macau:O álbum "A Marca Amarela", do qual este "O Hábito Faz O Monstro" foi a faixa de maior destaque, encerrou o primeiro capítulo da vida dos Rádio Macau, com Xana e Flak a seguirem projectos a solo antes de regressarem com novo disco em 2000 e uma nova sonoridade.
Há dias eu apercebi-me que a última vez que joguei ao Stop foi em 2011: foi durante uma escapadinha de fim-de-semana prolongado entre amigos no Algarve. Não sei bem como é que nunca mais joguei este jogo nos últimos onze anos, basicamente nunca mais se proporcionou a ocasião por entre as vicissitudes da vida adulta e quando eu tinha vontade, não tinha com quem jogar. O que me entristeceu um pouco pois foi sempre um dos meus jogos preferidos da infância e adolescência, e que me lembro de jogar praticamente desde que aprendi a escrever.
Certamente que todos os que estão a ler este texto conhecerão o Jogo do Stop pelo que não me vou demorar a explicar as regras básicas, ainda que muitas regras variassem consoante os grupos. Com a minha família e amigos, convencionou-se que a pontuação seria de 5 pontos para quem desse a mesma resposta válida numa das categorias, 10 pontos para respostas válidas diferentes e 20 pontos para quem tinha uma resposta numa categoria mas o(s) adversário(s) não tinha(m) qualquer resposta válida. Eu tinha o especial cuidado de clarificar o que era válido em cada categoria, perguntando por exemplo ao(s) meu(s) parceiro(s) de jogo se em "Cidades" só valiam cidades portuguesas ou se podiam ser incluídas cidades estrangeiras, ou até mesmo se tinham de ser mesmo cidades ou se podiam ser vilas ou aldeias. Também ocasionalmente eu tentava que o K, o W e o Y fossem incluídos no jogo, pelo menos no momento em que um dos jogadores recitava mentalmente o abecedário, mas por razões óbvias, era raro alguém aceitar essa sugestão.
Com o tempo, fui aprendendo a utilizar algumas rewpostas fora do mais óbvio: por exemplo, Bolívia nos países com B quando os outros escreviam Brasil ou Bélgica, Covilhã nas cidades com C quando Coimbra era a reposta mais frequente ou Turquesa quando os outros se debatiam para achar cores com T. As minhas categorias preferidas eram os Países e os Nomes e as que gostava menos era as de Cores e de Frutos por não haver grande variedade de resposta. Por vezes, tentava convencer a mudar o nome de categoria para Comida, só para alargar as repostas para além da frutaria (mas não-raro, insistiam de que só podia ser frutos).
Claro que os momentos mais caricatos do jogo era quando alguém se afoitava a dar uma resposta fora de mão, na esperança que fosse validada. Isso era sobretudo frequente nas Cores, onde não faltava quem tentasse considerar Ferrugem, Ouro, Tabaco ou Malhado como cores, ou até inventassem nomes como Fumé (um primo meu alegava que viu essa "cor" numa embalagem de collants). Recordo ainda que certa vez outro primo meu insistiu que Palhavã deveria ser considerada como cidade! Eu próprio por vezes não conseguia convencer a aceitarem Cru como cor, embora eu visse esse tom de branco amiúde nos catálogos da La Redoute, ou que mesmo antes do colapso da União Soviética, havia outro país europeu começado por L que não Luxemburgo, embora na altura eu não soubesse pronunciar ou escrever correctamente Liechtenstein (dizia "Lichisten" ou algo que valha).
Em 1988, o Jogo do Stop foi elevado a outro nível quando foi convertido num jogo de tabuleiro sob o nome Scattergories, comercializado pela MB (actual Hasbro). O jogo incluía folhas com as diferentes categorias que geralmente eram mais específicas que as do Jogo do Stop convencional (por exemplo, "raças de cães", "objetos metálicos") e espaços para escrever as respostas, pastas para esconder as folhas, um cronómetro e um dado com 20 das 26 letras do alfabeto. (Se não estou em erro, na versão portuguesa o dado não incluía as letras K, Q, W, X, Y e Z.)
Em Portugal, o Scattergories foi lançado no mercado em 1992 e o anúncio depressa se tornou mítico. Nele o dono do jogo submete os seus amigos aos seus caprichos, como ameaçar ir-se embora com o jogo quando não leva a sua avante ou de obrigá-los a aceitar respostas mirabolantes. ("Sim, aceitamos barco." "Como animal aquático?"/"Um animal de companhia a começar por P? "Uma pulga!")
O diálogo da versão portuguesa era praticamente decalcada da versão espanhola com a diferença que o animal de companhia começado por P era um "pulpo" (polvo) e não uma pulga.
E já agora eis o anúncio original americano.
(Cá para mim, que ninguém nos ouve, mais valia aquelas pessoas fazerem uma vaquinha para comprarem um jogo só para elas, em vez de ficarem refém dos caprichos do caixa-de-óculos.)
Eu tive uma versão abreviada do Scattergories quando eu fiz uma coleção do Planeta Agostini com jogos de tabuleiro. Entretanto surgiram novas variantes, como uma versão em jogo de cartas ou em jogo de computador e online, bem como uma versão do Stop concebida e distribuída pela portuguesíssima Majora. No entanto, pelo menos em Portugal, creio que o bom velho Stop a papel e caneta continua a ser mais popular.
E vocês? Que memórias têm dos vossos jogos do Stop e/ou do Scattergories? Contem tudo nos comentários.
Como se não bastasse os Marretas e a Rua Sésamo, Jim Henson criou mais um universo extraordinário de bonecada que alegrou miúdos e graúdos. Falo é claro de Fraggle Rock, que em Portugal passou na RTP com o título "O Mundo Dos Fraggles".
A série teve 97 episódios distribuídos por cinco temporadas exibidas nos Estados Unidos entre 1983 e 1987. Não sei exactamente quando a primeira temporada estreou em Portugal, (presumo que em 1984) mas sei que era exibida nas tardes do fim de semana. Porém, consegui descobrir através do arquivo do Diário de Lisboa que a segunda temporada estreou a 13 de Abril de 1985 e os quatro primeiros episódio passaram ao sábado mas após um interregno de duas semanas, os restantes episódios passaram aos domingos. (Este vídeo de locução de continuidade de 14 de Julho de 1985 indica a exibição da série para essa tarde.) Calculo que as restantes temporadas foram posteriormente exibidas nos espaços infanto-juvenis da RTP.
A série narrava as aventuras de um mundo onde coabitam três diferentes espécies de criaturas: os Fraggles, os Doozers e os Gorgs.
Red, Wembley, Mokey, Gobo, Boober e um Doozer
Os Fraggles são criaturas coloridas e divertidas que habitam numa comunidade a que chamam Fraggle Rock e que privilegiam a diversão e a boa-disposição ao trabalho e à seriedade. No entanto, embora por vezes as coisas fiquem algo caóticas, existe um mínimo de ordem social entre os Fraggles que os impede de viver de forma totalmente irresponsável. A série segue sobretudo um grupo de cinco amigos Fraggles: Gobo, o líder não-oficial, é aventureiro, corajoso e sensato (tanto quanto um Fraggle pode ser) e admira o seu tio Travelling Matt que se aventurou para o mundo exterior ao rochedo e adora receber os postais dele; Mokey tem um certo espírito hippie, é artística e sensível embora por vezes seja alvo de troça por causa disso; Wembley é o mais jovem e o mais amável do grupo, mas também é super indeciso e nervoso; Boober é o mais melancólico e ao contrário dos outros Fraggles, prefere dedicar-se ao seu trabalho de lavar as roupas dos Fraggles, sobretudo meias (embora eles nunca as usem) do que alinhar em aventuras, mas também é bastante inteligente e é aquele a quem os outros recorrem quando precisam de algum tipo de curativo; e Red, energética, aventureira e muito amiga dos seus amigos, embora também goste por vezes de fazer troça deles. (A minha mãe dizia sempre que os totós da Red pareciam duas esfregonas.)
Os Doozers
Os Gorgs
Ao contrários do Fraggles, os Doozers dedicam-se quase inteiramente aos seus trabalhos, sobretudo construções um pouco por todo o Fraggle Rock. Os Doozers são criaturas pequeninas e usam todos um capacete de construção. O material com que os Doozers constroem os andaimes é uma das principais fontes de alimento dos Fraggles, o que forçosamente leva-os a constantes reconstruções.
Marjory
Uma das saídas de Fraggle Rock é o jardim dos Gorgs, uma família de três seres gigantescos: o Pa Gorg, a Ma Gorg e o filho de ambos Junior Gorg. Pa e Ma autointitulam-se os !Reis do Universo", mas este título certamente deve-se sobretudo ao facto dos três não conhecerem praticamente mais ninguém além dos Fraggles. É no jardim dos Gorgs que os Fraggles vão buscar o seu outro alimento preferido, rabanetes, e onde se aconselham Marjory, uma espécie de lixeira falante que é como um oráculo para os Fraggles. Enquanto o Pa e a Ma Gorg veem os Fraggles como uma praga (ela até costuma gritar assim que vê um), o Junior Gorg gosta de os tentar caçar (palavra-chave "tentar").
Doc e Sprocket
A outra saída de Fraggle Rock é um túnel que dá para a casa de um ser humano, o inventor Doc (interpretado pelo actor Gerry Parkes) que vive com o seu cão (muppet) Sprocket. É nesta casa que Gobo se aventura para recolher os postais enviados pelo seu tio Travelling Matt. O Sprocket tenta em vão avisar o dono da existência dos Fraggles chegando mesmo até ir parar algumas vezes ao rochedo dos Fraggles e a aprender a dizer Gobo. Só nos últimos episódios é que o Doc descobre que os Fraggles são reais e fica amigo deles. Em Portugal, a série foi exibida com o núcleo original do Doc e Sprocket, mas em países como Reino Unido, França e Alemanha, esse núcleo foi adaptado com um actor local a fazer de Doc (em alguns casos com outras profissões como faroleiro ou padeiro) e o seu próprio Sprocket (que na versão francesa chamava-se Croquette).
Eu costumava ver a série e achava os bonecos divertidíssimos mas eu era demasiado novo para entender algumas das mensagens da série. Por exemplo, o facto de Fraggles, Doozers e Gorgs precisarem uns dos outros para sobreviver mas devido a falta de comunicação e diferenças de costumes, os desentendimentos entre as três espécies são frequentes - uma metáfora à coabitação dos diferentes povos humanos e espécies animais neste nosso planeta. Num dos episódios, Mokey convence os outros Fraggles a não comerem as construções dos Doozers por achar que se trata de um enorme transtorno para estes, mas o resultado é que os Doozers acabam por ficar sem espaço para construir mais nada e todos chegam à conclusão que é precisamente pelos Fraggles comerem as suas construções e as consequentes reconstruções é que os Doozers têm um sentido à sua vida. Recordo-me também de um episódio em que Boober, farto das inquietudes dos outros Fraggles, sonha em viver sozinho no Fraggle Rock a lavar meias pacificamente mas rapidamente fica entediado e com saudades dos seus amigos
Outros temas tratados na série são a busca de autoconhecimento (os Fraggles têm supostamente a mentalidade de jovens adolescentes) e a protecção do meio ambiente.
Além da série com fantoches, em 1987 houve uma série animada de uma temporada (que foi exibida na RTP2 nos anos 90 sob o títulos "Os Fraggles"). Em 2007, a série original foi editada em DVD com dobragem em português. Existe também uma série spin-off com os Doozers e no início deste ano, foi lançada na Apple TV um reboot chamado "Fraggle Rock: Back To The Rock", em que desta vez existe uma mulher Doc, interpretada por Lilli Cooper e com muitas das vozes da série original.
Posto isto, vamos lá cantar: "Dance your cares away, worry is for another day, let the music play, down in Fraggle Rock!"
Recordando mais uma telenovela brasileira dos anos 80, desta vez "Vereda Tropical", a primeira com autoria de Carlos Lombardi ("Quatro Por Quatro", "Bebé A Bordo", "Uga Uga"), originalmente exibida na Rede Globo entre 1984 e 1985. Por cá, estreou na RTP1 a 7 de Abril de 1986 para a faixa da hora do almoço e o seu sucesso justificou que também passasse à noite na RTP2 a partir de 2 de Junho desse ano. Eis aqui a promoção à estreia na RTP, com a referência de que era "da mesma equipa de A Guerra Dos Sexos", devido ao facto de vários actores dessa telenovela também entrarem em "Vereda Tropical" e que o respectivo autor Sílvio de Abreu tivesse exercido aqui as funções de supervisão de texto. (A RTP também utilizaria essa referência para promover telenovelas como "Sassaricando" e "A Rainha Da Sucata")
A trama da telenovela explorava a complexidade das relações familiares e amorosas, abordando também o mundo do futebol.
Silvana Rocha (Lucélia Santos) é uma jovem humilde, que tendo perdido os pais muito nova, foi criada pela sua avó Maria Da Paz (Norma Geraldy). Silvana apaixona-se por Vítor (Lauro Corona), o herdeiro da CPP, uma conceituada fábrica de cosméticos, que tinha renegado ao futuro que lhe era destinado de comandar a empresa. Mas quando Silvana engravida, Vítor abandona-a e acaba por morrer num acidente de automóvel. Meses depois, a jovem dá a luz um menino, Zeca (Jonas Torres).
Vicente Oliva (Walmor Chagas), pai de Vítor, destroçado com a perda do filho, tenta por todos os meios conseguir a custódia do neto para que ele lhe suceda nos negócios. Por causa disso, Silvana e o filho têm andado foragidos durante oito anos para que Oliva não lhes siga o encalço. Porém Oliva consegue por subterfúgio que Silvana e Zeca se instalem em São Paulo, onde a jovem passará a trabalhar na CPP.
Além de Vítor, Oliva tem três filhas: Catarina (Marieta Severo), mulher fria e exclusivamente focada nos negócios que não se conforma com o facto de que, em vez dos produtos de luxo, o grande sucesso da CPP seja uma linha de produtos económicos, nomeadamente o perfume Vereda Tropical; Verónica (Maria Zilda), que se entretém com futilidades e jogos de sedução; e Gabi (Cristina Pereira), a filha adoptiva, irreverente e sarcástica, cuja língua afiada lhe mete por vezes em sarilhos.
Silvana vai morar para a Vila dos Prazeres, onde rapidamente trava amizade com as gentes locais, sobretudo com Bina Travatti (Geórgia Gomide), a dona da cantina La Tavola Di Michele. Bina tem quatro filhos, Marco (Paulo Betti), Luca (Mário Gomes), Angelina (Angelina Muniz) e Francesco (Paulo Guarnieri). Luca é um futebolista que apesar do seu talento, nunca progrediu na carreira por causa do seu feitio tempestuoso em campo. Apesar das relutâncias da rapariga, Luca consegue chegar ao coração de Silvana e os dois se apaixonam. Mas há outras que também disputam Luca, sobretudo Verónica que, certa de que se apaixonou pela primeira vez, fará de tudo para o ter.
Quem também vive em Vila dos Prazeres é Jamil Beirut (Gianfrancesco Guarnieri), um perfumista que é o responsável pela receita secreta da Vereda Tropical. No passado, Jamil e Oliva foram rivais e o empresário nunca se conformou em depender do inimigo para o sucesso da fábrica. Jamil torna-se o grande aliado de Silvana e os dois chegam a casar-se quando Oliva leva a disputa da custódia de Zeca à justiça.
Há ainda Téo (Marcos Frota), o filho de Catarina, que, abandonado pelo pai e negligenciado pela mãe, vive com medo do mundo e refugia-se na sua imaginação onde cria um alter-ego heroico, o Super-Téo. A sua tia Gabi é a única que consegue se aproximar do rapaz e encorajar a sua criatividade.
Catarina revela-se a grande vilã quando, ao saber que o pai nunca lhe dará a liderança da empresa, interna-o num manicómio, tomando o seu lugar no comando da CPP e na disputa do processo por Zeca. Verónica aproveita a situação para chantagear Luca, prometendo testemunhar contra a família caso ele case com ela. Quando o tribunal decide a favor de Catarina e Luca rejeita casar com Verónica no dia do casamento, tudo parece perdido para Silvana e não lhe resta outra solução senão fugir com Zeca e Luca. Mas eis que um regenerado Oliva resolve a situação, denunciando a filha.
Devido à decisão de Catarina de acabar com a produção da Vereda Tropical, a CPP vai à falência e no fim, os Oliva Salgado mudam radicalmente de vida: Oliva vai viver com Bina, por quem entretanto se apaixonou, Verónica decide retirar-se para um convento e Catarina acaba como prostituta. Já Silvana, Zeca e Luca ficam por fim livres para começar uma vida juntos. Além disso, Luca finalmente realiza o seu sonho de jogar no Corinthians.
Silvana, Zeca e Luca
Catarina, Verónica, Gabi e Oliva quando descobrem que estão falidos
Como já foi dito, "Vereda Tropical" teve bastante sucesso durante a sua transmissão em Portugal, não só justificando a sua exibição nos dois canais da RTP, mas gerando algum merchandising como uma coleção de calendários e até deu nome a vários estabelecimentos comerciais, em especial um restaurante em Coimbra, na Rua Alexandre Herculano.
Genérico de abertura (tema interpretado por Ney Matogrosso):
Reportagem sobre a cena final com Mário Gomes a aparecer num jogo real do Corinthians
No Outono Quente de 1992 da televisão portuguesa, a RTP, após 35 anos de monopólio, passava a ter a concorrência da SIC (e meses mais tarde da TVI). Como tal, a RTP quis reforçar a rentrée desse ano estreando alguns programas icónicos (como "Isto Só Vídeo", "Apanhados", "Marina, Marina" e a telenovela "Pedra Sobre Pedra") mas também tentando fidelizar o público de outras formas.
Uma delas foi com o concurso "Publionário", estreado a 3 de Outubro de 1992 e que durou até 24 de Abril de 1993. A premissa era bem simples: todos os dias de segunda a sexta-feira, ao longo da programação, era exibido um pequeno excerto de um anúncio publicitário. Os telespectadores teriam de adivinhar o nome do produto, marca ou evento cultural correspondente a esse anúncio.
Para tal, teriam de preencher os cupões publicados na revista Tele Guia, que fora lançada na mesma altura, para o programa com a resposta certa. Havia também um cupão semanal que tinha de ser preenchido com as respostas aos cinco anúncios da semana. Aos sábados, era exibido um sorteio onde eram sorteados os vencedores da semana anterior: o prémio era de 200 contos (cerca de 1000 euros) para os cupões diários e de 1000 contos (cerca de 5000 euros) para os semanais. Eram válidos os cupões recebidos até à quinta-feira de semana seguinte.
Margarida Reis
Susana Santos
A conduzir tanto as vinhetas diárias como os sorteios de sábado estava uma misteriosa apresentadora de mascarilha. Ao todo, três apresentadoras mascaradas exerceram essa função: a primeira e a mais reconhecível era Margarida Reis (que curiosamente não tardaria a saltar para as estações privadas, primeiro na TVI e depois na SIC) a segunda foi Susana Santos (uma das últimas locutoras de continuidade da RTP) mas a terceira continua por ser identificada. Nem sequer os nossos amigos do "Brinca Brincando" (e a eles pela enésima vez o agradecimento por estas imagens, disponibilizadas no seu site!) conseguiram descobrir! É essa apresentadora incógnita que surge neste vídeo da Enciclopédia TV.
Alguns dos anúncios eram bastante conhecidos da altura, como por exemplo à lixívia Neoblanc, ao champô Vidal Sassoon e o chocolate Inca. Mas também havia alguns de publicidade institucional (como aquele que surge no vídeo, de uma campanha para promover hábitos de leitura na população, ou sobre a acção de legalização de cidadãos estrangeiros residentes em Portugal que o Governo levou a cabo na altura. Houve ainda excertos a anúncios a eventos culturais, como exposições de pintura, peças de teatro, espectáculos de ópera e até trailers de filmes portugueses, como por exemplo a produção luso-guineense "Os Olhos Azuis De Yonta".
Então nos meus 12 anos, eu cheguei a participar no "Publionário" durante alguns meses (não havia limite de idade para participar), comprando a revista Tele Guia e enviando os cupões num envelope a cada semana, mas nunca ganhei nada e acabei por desistir a certa altura. Editada pela TV Guia Editora, a Tele Guia era uma revista de formato de bolso e por aquilo que me lembro, estou em crer que, dentro do possível é claro, procurava ter a sua identidade própria e distanciar-se ao máximo da sua irmã mais velha TV Guia. Aliás, a revista acabaria por durar bem mais do que o "Publionário" mantendo-se nas bancas até 2001.
Como se sabe, apesar de uma ou outra irreverência da SIC, nos primeiros meses de televisão privada portuguesa, o domínio das audiências da RTP não foi beliscado por aí além. Mas não tardaria muito até o caso mudar de figura.
Tempo para recordar mais uma edição do Festival da Eurovisão, e desta vez recuamos 45 anos até ao 22.º Festival da Eurovisão que teve lugar a 7 de Maio de 1977 no Centro de Conferências de Wembley em Londres.
Com a vitória do Reino Unido no ano transacto, graças ao clássico "Save All Your Kisses From Me" dos Brotherhood Of Man, o Festival realizava-se pela sexta vez em terra britânicas e a quarta em Londres. Inicialmente o certame estava marcado para o dia 2 de Abril, mas devido a uma greve de técnicos e operadores de câmara da BBC, foi adiado para mais de um mês depois, sendo a primeira vez que o Festival realizou-se no mês de Maio desde a edição inaugural em 1956, sendo que hoje em dia o Festival realiza-se tradicionalmente nesse mês. A apresentadora foi Angela Rippon.
A greve e o adiamento fez com que a transmissão fosse afectada por vários problemas técnicos como legendas dos países e dos títulos das canções enviesados, planos de câmara mal enjorcados e a não exibição dos créditos finais. (Existem gravações áudio nesses momentos com o produtor Stewart Morris a gritar impropérios que fariam corar um Gordon Ramsey!) Além disso, a parte das votações foi repleta de erros, quer da apresentadora Angela Rippon, quer dos operadores do quadro de pontuação, quer ainda de alguns porta-vozes (como o francês que pontuou doze países em vez dos dez estipulados).
E segundo o livro "Portugal 12 pts" de João Carlos Calixto e Jorge Mongorrinha, as delegações portuguesa e austríaca ficaram instaladas num hotel perto do aeroporto de Heathrow enquanto as dos restantes países ficaram no centro da cidade. Isto porque as canções dos dois países foram consideradas como tendo "influências socialistas".
Por outro lado, foi uma edição com um belíssimo palco e um elevado nível de qualidade nas canções e com muitos artistas que já tinham participado ou voltariam a participar no Festival da Eurovisão. Pela primeira vez, o quadro das pontuações tinha as bandeiras dos países concorrentes, algo que é hoje habitual.
Participaram dezoito países, os mesmos do ano anterior, com a saída da Jugoslávia e o regresso da Suécia. A Tunísia esteve quase para participar e chegou a ser sorteada para actuar em quarto lugar mas acabaria por desistir. A partir deste ano, voltou a ser obrigatório os países cantarem na sua língua nacional (ou uma das) mas a Alemanha e a Bélgica foram autorizadas a participar com canções em inglês, porque já tinham sido escolhidas antes da reintrodução da regra.
Como é habitual, analisaremos cada canção por ordem inversa de classificação. (Os nomes dos países em negrito têm links com o vídeo da respectiva canção.)
Forbes (Suécia)
Após ausência no ano anterior (em parte devido aos encargos de ter organizado o certame de 1975), a Suécia regressou ao Festival mas não foi um retorno feliz pois ficou no último lugar com apenas 2 pontos, até ao momento a única vez que o país ficou isolado na cauda da tabela. A canção "Beatles" era obviamente homenagem da banda Forbes ao lendário quarteto de Liverpool, mencionando as canções "Yesterday" e "Hard Day's Night" e os nomes dos quatro membros da banda, mas não convenceu ninguém a não ser o juri alemão que deu à Suécia os seus dois únicos pontos.
Schmetterlinge (Áustria)
A Áustria ficou no penúltimo lugar com aquela que era sem dúvida a proposta mais ousada. Sob o véu de um ritmo alegre e de um refrão pegadiço, o tema "Boom Boom Boomerang" escondia uma letra que criticava a indústria musical, mais interessada em fazer dinheiro do que em promover música de qualidade, um argumento que pelos vistos nunca deixou de ser relevante. A canção foi defendida pelo grupo Schmetterlinge que incluía dois membros do grupo The Milestones, Beatrix Neudlinger e Günter Grosslercher, que tinha representado o país em 1972. Os membros masculinos do grupo tinham na parte de trás das cabeças umas máscaras que, aliadas à parte de trás dos seus fatos, se convertiam em bonecos que se mexiam com a coreografia. Mas esta ousadia não foi muito do agrado dos júris europeus que atribuíram à Áustria apenas onze pontos. (Também me pergunto se esta canção também não era uma crítica aos ABBA que tinham uma canção com um título parecido e que nunca se livraram das críticas de serem demasiado comerciais.)
Anne-Marie B. (Luxemburgo)
Igualmente ousada, mas por outros motivos, foi a canção do Luxemburgo. Como se pode calcular, "Frère Jacques" era inspirada na famosa cantilena infantil "Frére Jacques, Frére Jacques/ Dormez-vous? Dormez-vous?" mas que na intensa batida disco e na interpretação sensual de Anne-Marie B. ganhava contornos bem mais adultos. O Luxemburgo quedar-se-ia pelo 16.º lugar com 17 pontos. Anne-Marie Besse obteve alguma notoriedade como actriz, e o seu currículo inclui o filme "Max, Meu Amor" de Nagisa Oshima.
A Noruega apostou na jovem Anita Skorgan, que com apenas 18 anos, já somava grande sucesso no seu país. Em Londres, Skorgan cantou "Casanova" onde lamentava o desaparecimento do seu amado, cuja reputação de conquistador igualava àquela do célebre aventureiro veneziano do título. Nesta edição do Festival não houve postcards entre as actuações dos países, com a realização a focar em vez disso a filmar a assistência presente em Wembley. Segundo consta, a BBC planeou usar imagens dos diferentes representantes durante a festa de recepção às delegações participantes num famoso clube noturno londrino como postcards mas tal não aconteceu: a justificação oficial foi a de que muito do material filmado ficou inutilizável parte das imagens que foram exibidas durante o intervalo, mas também se disse que foi devido a um protesto da televisão norueguesa por conter imagens de Anita Skorgan a consumir álcool, quando ainda não estava na idade legal para tal na Noruega. Seja como for, esta foi apenas a primeira de várias vezes que Anita Skorgan participou na Eurovisão pelas cores norueguesas tendo regressado em 1979 e 1982, fazendo parte do coro em 1981 e 1983 e como letrista da canção de 1988. Nos anos 90, Skorgan foi a voz norueguesa das protagonistas dos filmes "Pocahontas" e "Anastasia".
Os Amigos (Portugal)
O Festival RTP da Canção de 1977 foi uma edição bastante singular, pois pela única vez, cada canção tinha duas versões diferentes em competição e o vencedor foi escolhido através de votos por via postal, mediante cupões fornecidos pela imprensa da altura. As sete canções foram "Canção Sem Grades", interpretada por Teresa Silva Carvalho e por José Freire; "O Que Custar", interpretada pelos Green Windows e pelo Quarteto 1111; "Férias", interpretada pelo Grupo Férias e por Paco Bandeira; "A Flor E O Fruto", interpretada pelo grupo Fantástica Aventura e pelo Conjunto Maria Albertina; "Fim De Estação", interpretada pelos Bric-À-Brac e por Vera Mónica e Carlos Queiróz (não o treinador, mas sim o irmão de Florbela); "Rita Rita Limão", interpretada pelos Green Windows e pelo duo Cara Ou Coroa (Joel Branco e Mafalda Drummond); e "Portugal No Coração" interpretado pelos Gemini e pelo grupo Os Amigos, composto por Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Edmundo Silva, Ana Bola, Luísa Basto e Fernanda Piçarra. E com mais de 60 mil votos, a vitória foi para Os Amigos que assim representariam Portugal em Londres, dando-se assim o regresso de Fernando Tordo e Paulo de Carvalho à Eurovisão após terem participado respectivamente em 1973 e 1974. "Portugal No Coração" é uma canção muito filha do seu tempo, com a letra reflectindo sobre a situação do nosso país na altura, ainda a digerir a ressaca da revolução de 1974 e o que fazer com a recém-adquirida liberdade, e incerto sobre qual o caminho a seguir no futuro.
Agora tenho de ser sincero: este é a única edição do Festival da Eurovisão em que a canção portuguesa é aquela que eu gosto menos. Não que ache que a canção nesta versão seja má, simplesmente acho que neste ano todos os outros países tinham canções melhores. Além disso, prefiro a versão dos Gemini de "Portugal No Coração", acho que a melhor opção teria sido a versão dos Green Windows de "Rita Rita Limão" e pergunto-me que a escolha do público por Os Amigos teve sobretudo a ver com o star power dos nomes envolvidos (aos quais se juntava Ary dos Santos como autor da letra). Também não gosto dos arranjos da orquestra com ritmos disco na versão interpretada ao vivo. No Festival da Eurovisão, Portugal (No Coração) obteve 6 pontos da França, 4 da Suíça, 3 da Itália, 2 do Mónaco e dos Países Baixos e 1 da Alemanha.
Mia Martini (Itália)
Mia Martini, nome artístico de Domenica Berté, foi a representante de Itália com "Libera", um tema disco que falava sobre a liberdade no feminino, liberdades que ainda hoje são negadas a algumas mulheres. Neste ano, a Itália ficou em 13.º lugar com 33 pontos. Mia Martini regressaria à Eurovisão em 1992 com um ainda melhor resultado mas infelizmente faleceu a 13 de Maio de 1995 (curiosamente o dia do Festival da Eurovisão desse ano) com apenas 47 anos.
Heddy Lester (Países Baixos)
Os Países Baixos ficaram em 12.º lugar com 35 pontos, mas apesar do resultado mediano, já vi muitos fãs eurovisivos holandeses afirmarem que esta é uma das canções eurovisivas do país mais amadas de sempre, que miúdos e graúdos sabem cantar de cor. "De Mallemolen" ("o carrossel") foi interpretado por Heddy Lester, cujo vestido estava estruturado como uma túlipa. Embora tenha começado como cantora nos anos 70, nos anos seguintes Heddy Lester fez carreira sobretudo como actriz de teatro.
Ilanit (Israel)
Depois de em 1973 ter sido a intérprete da primeira canção de Israel no Festival da Eurovisão, Ilanit Tzakh regressou ao certame para defender o tema "Ahava Hi Shir Lishnayim" ("o amor é uma canção para dois") ficando em 11.º lugar com 49 pontos. Nascida em Telavive no ano anterior à fundação do Estado de Israel, Ilanit passou a infância no Brasil antes de regressar ao seu país natal em 1960. Durante anos, circulou o mito de que Ilanit estaria usar um colete anti-balas debaixo do vestido durante a sua actuação numa ou em ambas das suas participações eurovisivas, mas a cantora sempre negou.
Monica Aspelund (Finlândia)
Na posição acima com mais um ponto ficou a Finlândia com a canção "Lapponia" na voz de Monica Aspelund. Como é evidente, a canção era sobre a célebre região finlandesa da Lapónia, a maior e mais setentrional do país, promovida desde os anos 40 como sendo a terra do Pai Natal. A canção agradou particularmente ao júri irlandês que lhe deu os 12 pontos, e sendo a Irlanda o primeiro país a votar, foi a única vez que Finlândia esteve em qualquer dado momento em primeiro lugar na classificação até à sua vitória retumbante em 2006. Em 1983, Ami Aspelund, irmã de Monica, foi a representante finlandesa na Eurovisão.
Micky (Espanha)
A Espanha ficou em nono lugar com 52 pontos, sendo representada por Miguel Carreño a.k.a, Micky e o tema "Enseñame A Cantar". Tratava-se de um canção bem-disposto que bem podia ser da banda sonora de um western-spaghetti, onde as três cantoras de coro em coreografia sincronizada, uma simpática tocadora de banjo e um senhor que soprava numa espécie de bilha não deixaram Micky brilhar sozinho.
Silver Convention (Alemanha)
A Alemanha fez-se representar pelo trio germano-americano Silver Convention, na altura formado Ramona Wulf, Rhonda Heath e Penny McLean. O grupo tinha tido bastante sucesso internacional nos anos anteriores, nomeadamente com o tema de 1975 "Fly Robin Fly", que chegou ao n.º1 do top americano e canadiano e ganhou um Grammy. Em Londres, interpretaram o tema "Telegram" que ficou em oitavo lugar com 55 pontos. Posteriormente, Rhonda Heath também esteve presente na Eurovisão tocando nas teclas nas actuações da Áustria em 1985 e da Alemanha em 1994.
Dream Express (Bélgica)
As irmãs Bianca, Patricia e Stella Maessen tinham representado os Países Baixos em 1970 sob o nome de The Hearts Of Soul, e agora regressavam pela Bélgica, onde residiam desde 1973, em conjunto com o compositor Luc Smets como o grupo Dream Express com "A Million In One, Two, Three" que ficou em sétimo lugar com 69 pontos. O tema tinha sido escrito por Smets que viria mais tarde a casar com Bianca. Stella voltou a representar a Bélgica na Eurovisão em 1982. Infelizmente, Patricia Maessen faleceu em 1996, com somente 44 anos, na consequência de um ataque cardíaco. Em 2010, Bianca, Stella e uma quarta irmã, Doreen, lançaram um novo single como The Hearts Of Soul.
Pepe Lienhard Band (Suíça)
A Suíça foi representada pela canção "Swiss Lady" pela Pepe Lienhard Band, ficando em sexto lugar com 71 pontos. Este é capaz de ser o tema mais suíço de sempre na Eurovisão, não só pelo título, mas pela sonoridade que bem que podia fazer parte da série da "Heidi", não faltando sequer uma das famosas trompas alpinas. O vocalista principal, Pino Gasparini, voltaria a representar a Suíça em 1985, em dueto com Mariela Ferré.
Pascalis, Marianna, Robert & Bessy (Grécia)
Na sua terceira participação, a Grécia alcançou o quinto lugar com 92 pontos, um dos melhores resultados de sempre do país, igualado em 1992 e apenas superado pela vitória em 2005 e os terceiros lugares de 2001 e 2008. O quarteto composto por Pascalis Arbanitidis, Marianna Tolli, Robert Williams e Bessy Argiraki interpretou "Mathema Solfege" ("lição de solfejo"), onde aliás o refrão era apenas composto por notas musicais. Por curiosidade, o single seguinte do grupo foi "I Love, I Love, I Love You", que é nada menos que a versão original de "Eu Tenho Dois Amores".
Michèle Torr (Mónaco)
A cantora francesa Michèle Torr tinha representado o Luxemburgo em 1966 e agora voltava onze anos mais tarde, desta vez pelas cores do Mónaco. "Une Petite Française" era uma canção semiautobiográfica, onde Torr recordava as suas origens da Provença e a sua ida para Paris ainda adolescente para seguir uma carreira musical, mas também reafirmava a sua convicção de que não era uma vedeta de capa de revista. A canção monegasca ficou em quarto lugar com 96 pontos, incluindo 12 pontos da Itália e da Grécia.
The Swarbriggs Plus Two (Irlanda)
Dois anos depois, os irmãos Tommy e Jimmy Swarbrigg voltavam a representar a Irlanda, desta vez acompanhados por Nicola Kerr e Alma Carroll. Sob o nome de The Swarbriggs Plus Two, os quatro cantaram "It's Nice To Be In Love Again" e ficaram em terceiro lugar com 119 pontos, com quatro países a atribuirem a pontuação máxima.
Mike Moran e Lynsey De Paul (Reino Unido)
Durante a primeira metade da votação parecia que o Reino Unido estava encaminhado para uma nova vitória, mas apesar de ser o país que recebeu 12 pontos de mais países (seis, incluindo Portugal) ficou pela décima vez em segundo lugar com 121 pontos, com "Rock Bottom" interpretado em dueto por Lynsey De Paul e Mike Moran. A loiríssima Lynsey De Paul tinha tido vários sucessos desde que iniciou a sua carreira como intérprete em 1972 como o hit "Sugar Me". Moran e De Paul escreveram a canção juntos e interpretaram tocando de costas um para o outro. Já o orquestrador Ronnie Hazelhurst surgiu com um chapéu de côco e uma batuta em forma de guarda-chuva. Lynsey De Paul, cuja lista de namoros incluiu nomes como Ringo Starr, Dudley Moore, Sean Connery e George Best, faleceu em 2014 aos 66 anos. Mike Moran tem composto música para filmes, televisão, teatro e até jogos de vídeo.
Marie-Myriam (França)
Com 136 pontos, a França alcançou a sua quinta vitória, alcançando então o recorde do país com mais triunfos. (No entanto, em 2022, esta continua a ser a sua última vitória.) Marie-Myriam, que completava 20 anos no dia seguinte, interpretou "L'oiseau Et L'enfant" que rapidamente se tornou mais um grande clássico da Eurovisão. Mas esta vitória gaulesa foi também um pouco portuguesa já que Marie-Myriam, que nasceu em Kananga na actual República Democrática do Congo, tinha o apelido Lopes, os seus pais eram naturais de Braga e o português era a sua língua materna. Aliás, o português foi uma das cinco línguas em que gravou "L'oiseau Et L'enfant" (sob o título "A Ave E A Infância"). Marie-Myriam tem continuado ligada à Eurovisão tendo sido várias vezes a porta-voz dos votos da França e aparecendo na gala dos 50 anos da Eurovisão em 2005. Eu já a vi actuar em Setúbal no Eurovision Live Concert.
Durante muitos anos, o triunfo de Marie-Myriam foi o mais parecido que tivémos com uma vitória portuguesa na Eurovisão até que quarenta anos mais tarde, veio a confirmação de que uma vitória simbólica não se compara a uma vitória real…
Festival da Eurovisão 1977 (comentários em inglês):
Parece incrível mas a SIC já faz 30 anos, mas nas armadilhas nostálgicas da minha mente, eu ainda sou levado a pensar que não foi assim há tanto tempo que Portugal passou do binómio da RTP para o tetraedro audiovisual com a SIC e depois a TVI. Mas sim, já se passaram trinta anos desde o dia 6 de Outubro de 1992 em que a emissora então sediada em Carnaxide (onde ficaria até 2019) abriu as suas emissões com um boletim de informação com Alberta Marques Fernandes - mais do que aqueles que a RTP tinha quando eu nasci!
Eu tinha doze anos quando a SIC começou, pelo que foi um marco na minha vida e à medida que avançava na adolescência, a programação da SIC estava de certo modo associada à minha visão do mundo. Tenho muita pena que aqueles que não eram nascidos ou eram muito novos na altura não tenham vivenciado a grande era dourada da SIC que, surfando na inaudita onda de prosperidade do Portugal dos anos 90, trouxe toda uma revolução à forma de fazer e se ver televisão em Portugal, uma mudança que o país sem saber desejava. Infelizmente desde o início deste século que a SIC entrou em declínio e, salvo uma ou outra boa ideia, já me custa ver a SIC que tanto me marcou na SIC actual, memórias que só não parecem distantes mas quase irreais.
Mas para celebrar esta data querida, resolvi fazer um apanhado de trinta programas da SIC que mais me marcaram, se bem que nem sempre pelos melhores motivos. Tentei ser o mais diversificado no tempo, mas obviamente que a maioria dos programas desta lista será dos anos 90, e embora tenha optado por dar primazia à produção nacional, não pude deixar de incluir algumas excepções de além fronteiras. A lista é por ordem alfabética e caso tenham um artigo aqui no blogue eu deixarei o link no título:
Claro que a imagem que vem logo à cabeça do povo quando se fala neste programa é a imagem do concorrente João Muge em completa aflição ao ser-lhe posta uma iguana em cima da sua careca enquanto gritava a Jorge Gabriel: "Ponha, ponha, ponha!"
Mas o "Agora Ou Nunca" teve mais do que isso. Este programa em que os portugueses eram desafiados a enfrentar os seus medos em troco de uma quantia de dinheiro, vimos todo o tipo de fobias, das mais comuns (como medo de cobras ou de aranhas) a outros mais raros (como o de uma mulher com medo de cortar esferovite), alguns desafios como o recorrente alguém passar a duração do programa a andar numa passadeira rolante de uma forma específica (de triciclo, de andas, de saltos altos…) ou alguns no exterior como empurrar carrinhos de supermercados por cem quilómetros. E como era o tempo em que havia pilim a rodos, houve mesmo alguns segmentos filmados no estrangeiro como levarem uma concorrente com medo de montanhas-russas à maior montanha-russa do mundo em Inglaterra. Recordo também o Ferrari amarelo que Jorge Gabriel conduzia no segmentos filmados no exterior e que a música do genérico era o hit eurodance "Move On Baby" dos Cappella.
Para mim (e creio estar longe de ser o único), o surgimento de um canal de televisão apresentava-se como um admirável mundo novo audiovisual a descobrir e logo nas primeiras emissões momentos houve que eu, qual Dorothy recém-aterrada em Oz, ao ver a SIC sentia-me com vontade de dizer: "Toto, I've a feeling we're not in RTP anymore." Sobretudo com este programa italiano que abrilhantava as noites de sábado de título original "Il Colpo Grosso". Seios desnudados não eram exactamente algo inédito na televisão nacional, mas nunca os houvera naquela dose, onde a cada momento parecia que havia uma mulher disposta a mostrar tudo o que lhe ia no peito. Havia também o apresentador Umberto Smaila, que parecia um sucedâneo italiano de Benny Hill, a coapresentadora Amy envergando as suas copas DDDD, alguns jogos de casino e as raparigas Cin Cin, cada qual com a sua fruta qual deliciosa macedónia humana.
Adaptado de um original australiano, o "Ai, Os Homens" testavam as habilidades dos machos tugas para impressionar o sexo feminino. Aqueles que não tinham mais que garganta sofriam a sentença ditada pelas 150 mulheres presentes em estúdio que era um banho forçado na piscina. Alguns concorrentes viriam a ter notoriedade posterior como Jorge Kapinha (o vencedor da finalíssima da primeira temporada), Fernando Melão e Sérgio Vicente (Big Brother 2). Os telespectadores masculinos também podiam regalar as vistas nas assistentes do programa que iam da loiríssima britânica Joanne Iverson à portuguesíssima morena Raquel Loureiro. Mas claro, as três estrelas de cada episódio eram o trio-maravilha composto pelo José Figueiras como apresentador, Joaquim Guerreiro como o temível boydbuilder Ulisses e o saudoso António Feio como o hilariante Johnny Bigode.
Escreveu Camões que o amor é fogo que arde sem se ver, mas a SIC fez tudo para que esse fogo fosse visto em "All You Need Is Love". Lídia Franco conduziu a primeira temporada mas seria Fátima Lopes a cara mais associada a este programa, onde em nome do amor houve declarações de amor, speed dating, reconciliações amorosas e reencontros de amantes separados pela distância. Até havia momentos musicais que convidavam ao slow dancing, onde chilrearam nomes como Laura Pausini.
João Baião a elevar o termo hiperactividade a níveis estratosféricos, o macaco Haddriano (sim, com H e dois D), o escultural e multirracial corpo de baile, actuações de não apenas de todos os artistas revelados durante a perfect storm do fenómeno pimba mas de outros com mais gabarito, a "Escolinha de Professor Baião" (com o Mário Jorrrrrrrge!)… Todo um fever dream televisivo!
Bravo, Bravíssimo (1994-2001)
Num majestoso palco em Cremona, Itália, vários pequenos de todo o mundo mostravam os seus grandes talentos, do canto à dança, da música às artes circenses. Portugal também enviava o seu representante e organizava as suas finais nacionais, onde por exemplo passaram uns muitíssimo jovens Marisa Liz, FF e Salvador Sobral. Aquele que será o nosso Bravo, Bravíssimo mais recordado é João Pedro, o fadista que cantava "A Lenda Da Fonte", mas foi Ângelo Freire quem deu a Portugal a sua única vitória no Bravo, Bravíssimo internacional em 2000, com a sua interpretação de "Minha Guitarra Toca Baixinho".
Duas Anas conduziram este inesquecível espaço infanto-juvenil da SIC: primeiro Ana Marques e depois e mais famosamente Ana Malhoa que foi o mais próximo que tivemos de uma Xuxa portuguesa. E claro, havia também o Boi Ré-Ré, a Vaca Ré-Ré e muitas canções que a petizada da altura trauteava, se bem que o "Começar No A" foi de longe a mais mítica.
E depois havia o sem-fim de lendárias séries que passavam neste espaço, quer aos fins-de-semana quer nos espaços diários à tarde, mas há que destacar cinco: os "Power Rangers" nas diferentes encarnações, "Os Moto-Ratos de Marte", "A Navegante da Lua" e claro, "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z".
Ele há programas que são tão marcantes que até custa a crer que só tiveram uma temporada. No tempo dos meus pais houve "A Visita da Cornélia" que apesar da sua única temporada de Junho a Novembro de 1977 (ignorando a revamp dos anos 90), ainda hoje muitos recordam. E eu dou por mim a pensar que a "Caça Ao Tesouro" teve pelo menos duas temporadas, mas só teve uma durante o Verão de 1994. Na altura, Catarina Furtado era a incontestável namoradinha de Portugal e este programa levou-a literalmente às alturas, percorrendo Portugal de lés a lés em busca das moedas e do tesouro conforme indicações dos concorrentes presentes num estúdio com Henrique Mendes e Rita Blanco.
Portugal demorou um bocado a entrar na febre do karaoke (ou não fosse por excelência o país do tarda-mas-não-falta) mas assim que se massificou por cá, a tuga aderiu em força. E no Verão de 1996, o "Cantigas Da Rua" percorreu várias praças por esse país fora onde vários portugueses deram largas aos seus dotes vocais aos sons dos hits nacionais e internacionais do momento, com Miguel Ângelo na zénite dos Delfins na apresentação. Tal foi o sucesso que a SIC não quis deixar para o próximo Verão aquilo que podia fazer no Outono e prolongou a primeira temporada até uma finalíssima à chuva em Dezembro, para não falar em mais quatro temporadas, a última das quais conduzida por José Figueiras. Por lá passaram alguns ex-concorrentes do Chuva de Estrelas e nomes como Miguel "Duck dos Excesso" Moredo, Luciana Abreu e... Fernando Rocha?
Mas falar de programas de cantorias é falar de "Chuva de Estrelas", programa onde aspirantes a cantores vestiam as peles de grandes estrelas da música, esperando eles próprios alcançar o estrelato e foi o que aconteceu com vários concorrentes como Sara Tavares, João Pedro Pais, Jacinta Matos, Pedro Miguéis, Marta Plantier, João Portugal e Vanessa Silva. Há ainda que referir vencedores icónicos como Inês Santos como Sinead O'Connor e Carlos Bruno que imitando Michael Stipe dos R.E.M. venceria a final europeia de 1998. Foi também aqui que, malgrado o seu currículo anterior em televisão, Catarina Furtado e Bárbara Guimarães se tornaram namoradinhas de Portugal.
Dragon Ball Z (1997-98)
Já mencionei no Buéréré mas sem dúvida que esta mítica série japonesa merece o seu aparte. Sucedendo à serie "Dragon Ball", também exibida no Buéréré, "Dragon Ball Z" trazia de novo as aventuras de Songoku e seus amigos enfrentando novos e perigosíssimos inimigos que pretendem destruir a Terra e não só. A febre "Dragon Ball Z" foi tal em Portugal que há relatos do país parar para ver cada novo episódio, sobretudo durante o verão de 1997. Nomes de personagens como Songohan, Trunks, Cell, Frisa, Videl, Hércules, C18 e Vegeta andavam na ponta da língua da miudagem (e não só), o merchandising vendeu-se que nem pãezinhos quentes (roupa, material escolar, cassetes de vídeo com filmes spin-off inéditos, e por aí fora) e a dobragem nacional, repleta de referências à cultura pop tuga do momento e de várias idiossincrasias dos actores, tornou-se lendária.
O que tornou ainda mais dolorosa a trollagem que a SIC fez quando, a poucos episódios do fim, num momento importante e sem praticamente nenhum aviso prévio, voltou a transmitir a série a partir do primeiro episódio.
Globos de Ouro (1996-actualmente)
Sim, já havia anteriormente galas anteriores como os Sete de Ouro e os Prémios Nova Gente, mas foi com os Globos de Ouro, criados pela SIC e pela revista Caras, que rapidamente se tornaram "A" grande gala anual de atribuição de prémios, onde as celebridades tugas mais faziam questão de exibir os seus trapinhos mais glamourosos. A primeira cerimónia aconteceu em Abril de 1996 no Coliseu dos Recreios celebrando nomes que se destacaram em cinema, televisão, música, teatro e desporto no ano anterior e apesar de alguns percalços (como uma falha técnica que levou a SIC a interromper a emissão e a tapar o buraco com os "Malucos do Riso") ditou o molde para as galas futuras e rapidamente os "Globos de Ouro" se tornaram um dos pontos altos de cada saison da SIC, algo que se mantém até hoje apesar de várias mudanças aos longos tempos.
Herman SIC (2000-2007)
O desejo da SIC de contratar Herman José era antigo, destacando-se até mesmo um momento em que Francisco Pinto Balsemão, enquanto convidado do programa "Parabéns", sacou de um contrato e de uma caneta e entregou-os a Herman. Este apareceria em breves momentos na SIC como numa emissão de "A Noite Da Má Língua" mas a transferência só se materializaria em 2000, com "Herman SIC", um talk show semelhante ao que conduziu nos seus dois últimos anos da RTP mas ampliado à escala SIC da altura. O programa deixou rábulas marcantes como "Nelo & Idália" e o "C.R.E.D.O" mas também alguns fails épicos como o do mago Alexandrino tentando em vão hipnotizar uma concorrente do Big Brother enquanto repetia "firme e hirta como uma barra de ferro" ou a falsa indignação de Lili Caneças a uma piada.
Hora Da Liberdade, A (1999)
Para assinalar os 25 anos do 25 de Abril, a SIC exibiu uma megaprodução que reconstituía passo a passo a Revolução dos Cravos, exibida em 13 blocos entre 24 e 25 de Abril de 1999 à mesma hora em que os acontecimentos se sucederam vinte e cinco anos antes.
Um impressionante especial épico (notava-se que era do tempo em que corriam rios de dinheiro na SIC!) que contou com a colaboração das Forças Armadas que forneceu vários recursos e que teve um impressionante elenco com nomes como Almeno Gonçalves, António Cordeiro, Diogo Morgado, Gonçalo Waddington, Henrique Feist, Ivo Canelas, José Jorge Duarte, Luís Esparteiro, Marcantónio Del Carlo, Pedro Lima, Rui Mendes e Vítor Norte mas onde há que destacar os desempenhos de António Capelo como Otelo Saraiva de Carvalho, José Manuel Mendes como Marcello Caetano e sobretudo Manuel Wiborg como Salgueiro Maia.
Ídolos (2003-2022)
Após o sucesso da edição original britânica (Pop Idol) e sobretudo a americana (American Idol), ambos em 2002, vários países não tardaram em adaptar o formato onde se pretendia encontrar o novo ídolo musical da nação, com duas partes bem distintas: a fase dos castings onde desde logo se evidenciavam os favoritos mas também revelava alguns concorrentes iludidos que não aceitavam a sua desafinação, e a das galas ao vivo onde a cada semana era eliminado um concorrente. Até ao momento, houve sete temporadas do "Ídolos" a primeira em 2003 e a mais recente já este ano, sendo que os vencedores mais conhecidos são Nuno Norte, Sérgio Lucas, Filipe Pinto e sobretudo Diogo Piçarra, mas por lá também passaram nomes como Luísa e Salvador Sobral, Luciana Abreu, Carolina Torres e Carlos Costa.
Jornal Da Noite (1992-actualmente)
Desde a sua génese que a SIC tinha numa das suas apostas mais fortes a informação e não é à toa que abriu as suas emissões com um bloco informativo conduzido por Alberta Marques Fernandes. Inicialmente o seu principal bloco noticiário, o "Jornal Da Noite", não batia de frente com o sempiterno "Telejornal" da RTP, indo para o ar após o fim deste às 20:45 mas não tardou a enfrentá-lo no horário das oito da noite. Rodrigo Guedes de Carvalho é o rosto de informação que se mantém desde o início mas também foi aqui que foram revelados pivots como a já referida Alberta Marques Fernandes, José Alberto Carvalho, Paulo Camacho, Paulo Nogueira, Maria João Ruela, Teresa Dimas, Fernanda Oliveira Ribeiro, Alexandra Abreu Loureiro e mais recentemente Clara de Sousa (após passagem pela TVI e RTP), Bento Rodrigues e João Carlos Moleira.
Juiz Decide, O (1994-2001)~
Um bastião das tardes da SIC durante anos, neste programa eram apresentados vários litígios cíveis encenados (embora muitos deles fossem baseados em processos reais), em que dois actores representavam as duas partes do litígio, expondo cada um a sua argumentação. Depois o público presente opinava sobre o caso e votava sobre qual a decisão. A apresentadora era Eduarda Maio, apoiada por dois assistentes, um masculino cujo nome não me recordo e uma feminina que era Liliana Campos, que evoluiria para outros programas da SIC. No fim, o juiz presente, conforme o que estava estabelecido na lei, ditava a sua sentença. O juiz que ficou mais tempo no programa foi o Dr. Ricardo Velha, mas antes dele houve o Dr. José Santos Pais que tinha o bordão "Os senhores façam o favor de sentar!" e que me lembro de ser mais reactivo com o público.
Alguns casos eram litígios comuns de partilhas e disputas pecuniárias, mas alguns eram algo rocambolescos como aquele em que um Nuno deu um anel a uma Laura e depois exigiu a devolução desse anel quando descobriu que essa Laura era afinal um Ricardo, que se apresentou no programa vestido como Laura.
Laços De Sangue (2010-11)
Com a TVI a partir de 2000 a apostar forte em telenovelas portuguesas, um filão que ainda não tinha sido amplamente desbravado, a SIC também foi apostando na teledramaturgia nacional até porque o domínio das telenovelas brasileiras da Rede Globo, até então um dos seus bastiões de audiência, foi diminuindo gradualmente. Ao passo que telenovelas de temática infanto-juvenil como "Floribella" e "Chiquititas" foram grandes sucessos, telenovelas mais adultas como "Ganância", "Fúria De Viver", "Podia Acabar O Mundo" e "Perfeito Coração" não passaram de resultados medianos quando não foram flops como "Jura", "O Olhar Da Serpente" e "O Jogo".
A primeira telenovela não infanto-juvenil da SIC que conseguiu quebrar o domínio da TVI foi "Laços De Sangue" em parceria com a Rede Globo, com o autor Pedro Lopes a ter a supervisão do célebre teledramaturgo Aguinaldo Silva. Diana Chaves, Joana Santos e Diogo Morgado protagonizaram esta história sobre Diana (Santos), uma jovem ambiciosa e inescrupulosa que ao descobrir que é a filha desaparecida de uma família rica, elabora um plano de vingança sob a sua irmã Inês (Chaves) a quem culpa de lhe ter negado a afluente vida que poderia ter vivido em vez das condições humildes em que cresceu e que sempre desprezou, apesar do amor que os seus pais adoptivos lhe deram. E parte dessa vingança passará por conquistar João (Morgado), o noivo de Inês. No final, Diana tem um final trágico pois o seu plano de simular a sua morte fracassa e acaba por morrer enterrada.
Mas no meio desse drama, existiam alívios cómicos como casal novo-rico Armando e Gi Coutinho (João Ricardo e Custódia Gallego) e as picardias entre Sheila (Débora Ghira) e Marisa (Dânia Neto) no Mercado da Ribeira.
"Laços De Sangue" foi também até ao momento a única telenovela da SIC que ganhou o Emmy Internacional e foi transmitida em vários países como Itália, França, Bulgária, Indonésia e Quénia.
Levanta-te E Ri (2003-2006; 2018-2020; 2022-actualmente)
Fiel à sua máxima de ser o país do "tarda mas não falta", só nos finais dos anos 90 e princípios dos anos 2000 é que o stand-up comedy enquanto espectáculo começou a ganhar alguns alicerces em Portugal e este programa terá sido incontornável para o seu estabelecimento. Sim, já havia antes programas de contar anedotas, como "Só Riso" na RTP e "Ri-te Ri-te" na TVI, mas "Levanta-te E Ri" foi o primeiro programa basilar do stand-up, que como é sabido, é mais complexo do que simplesmente contar anedotas. O programa foi primordialmente conduzido por Marco Horácio e inicialmente era gravado ao vivo num bar, mas depois estendeu-se a várias salas de espectáculo do país. Foi aqui que se revelaram nomes como Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Bruno Nogueira, Aldo Lima, Hugo Sousa, Francisco Menezes, Nilton, Salvador Martinha e Fernando Rocha.
Após um interregno, "Levanta-te E Ri" foi recuperado em 2018 por ocasião do 15.º aniversário da sua estreia.
Malucos do Riso, Os (1995-2010)
O conceito era assaz simples: a encenação de vários tipos de anedotas em diversos cenários interiores e exteriores (alentejanos, manicómio, salas de aula, oficina, consultório médico, ginásio, prisão…) mas essa simplicidade acabaria por ser o trunfo do programa. A primeira encarnação começou em 1995, protagonizada por Guilherme Leite, Camacho Costa, Ildeberto Beirão e Carla Andrino e continuou por mais quinze anos, (quando estes quatro já há muito tinham saído), gerou várias spin-offs ("Os Malucos Nas Arábias", "Os Malucos Na Praia", "Mini Malucos Do Riso"...) e contando com dezenas de actores. E para a posterioridade ficaram bordões como "Cabecinha pensadora!", "Um produto químico, natural ou assim-assim?", "Vá lá vai! Até a barraca abana!" e "Servir bem e bem servir, dá saúde e faz sorrir!".
O consenso é que o princípio do declínio da supremacia da SIC aconteceu quando esta recusou a sugestão da Endemol de adquirir para Portugal o "Big Brother", que estava já a ser um estrondoso sucesso em vários países, e a TVI aproveitou a oportunidade e foi o que se viu.
A SIC não tardou a aperceber-se do erro e contra-atacou com reality shows como "Acorrentados" e "O Bar Da TV", mas sem fazer grande sombra à segunda edição do "Big Brother".
Mas aquele que viria a ser o mais controverso reality show da SIC chegaria no ano seguinte. "Masterplan - O Grande Mestre" tinha a particularidade de ser um formato de Endemol original em que Portugal era o primeiro país a concretizá-lo. Nele as câmaras seguiam um concorrente masculino e outro feminino na sua vida em que seguiam as ordens do Masterplan através de SMS de um telemóvel e interagiam com um respectivo desafiador que tentava convencer o público a ser ele/a o/a próximo/a concorrente. O programa ficou marcado pela concorrente Gisela Serrano e os seus barracos, o seu núcleo familiar composto pelo namorado e eventual marido Luís, a mãe Dilar e o padrasto Quinquinhas e sobretudo pelas picardias com a desafiadora Sandra Leão que culminou durante uma viagem de carro em que a violência verbal entre ambas escalou para a física. Com essas memórias já se esqueceu que foi uma outra Gisela, de apelido Ildefonso, igualmente polémica foi a eventual vencedora do programa. Aliás a vertente feminina do programa deu mais entretenimento já que outras concorrentes como Vera Alves e Sandra Leonardo e várias desafiadoras também tiveram a sua dose de momentos quentes. Na vertente masculina, as coisas foram mais calmas com mais trocas de ceptro entre concorrentes e desafiantes, destacando-se apenas o concorrente inicial Nelson Rodrigues e o finalista Gabriel Gonçalves. (Recordo também Bruno Lopes, filho do ex-jogador do Sporting Virgílio Lopes.)
Herman José conduzia as galas e Marisa Cruz, então recém-revelada no anúncio da revista Maxim, apresentava os blocos diários. Recordo ainda o tema "Sigo A Viagem" cantado pelas gémeas Mónica e Tânia Rodrigues.
Provavelmente o maior sucesso da SIC em termos ficção nacional, "Médico de Família" era uma adaptação de um seriado espanhol, que contava o dia-a-dia de Diogo Melo, interpretado por Fernando Luís, um médico viúvo que tentava equilibrar a carreira e a vida familiar, ao mesmo que dava os primeiros passos para reencontrar o amor. Havia também os filhos Mariana (Sara Norte), Pedro (Francisco Garcia) e Catarina (Karina Queiroz), o pai José (Henrique Mendes), o amigo Júlio (Ricardo Carriço), a empregada Lucinda (Maria João Abreu), o sobrinho João (Rodrigo Saraiva), os sogros (São José Lapa e Filipe Ferrer) e a cunhada Teresa (Rita Blanco). Após muitas reviravoltas, Diogo e Teresa casaram-se no final da segunda temporada e a terceira e última temporada focou-se na nova dinâmica familiar, com a chegada de mais dois elementos da família e no novo trabalho de Diogo como médico de urgências.
Uma trama cativante, um sagaz equilíbrio entre drama e comédia e um excelente desempenho de todo o elenco tornaram este série memorável.
Tinha muita gente jovem a assistir. Tinha o José Figueiras a conduzir emissão e a cantar o tirolês. Tinha a assistente Paulina e a banda residente. Tinha espaço de debate com famosos, especialistas e gente comum. Tinha convidados musicais das bandas rock nacionais da altura a artistas de muito… estilo como o artista anteriormente conhecido como Jorge Rocha (e actualmente por Jorge Martinez).
Nos seus livros de crónicas, Teresa Guilherme conta que havia muitas dúvidas por parte de muita gente da SIC à sua própria equipa de régie de que este programa, importado do Reino Unido, poderia vingar em Portugal. "Os portugueses são muito envergonhados e não vão alinhar nas brincadeiras mais ousadas", "Os portugueses não sabem guardar segredos e vão se descair a contar as surpresas visadas a alguns concorrentes", "Os portugueses não têm o mesmo sentido de humor dos britânicos e não vão achar graça a algumas piadas"... Mas no fim, viu-se que essas suposições sobre os tugas eram infundadas e que em certos aspectos os portugueses até foram piores...ou melhores! (Segundo a própria TG, uma hora de bar aberto para os concorrentes antes das filmagens ajudou a espantar muita inibição tuga.)
No "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", todos os concorrentes estavam em estúdio e com malas aviadas para poderem ganhar uma viagem a um apetecível destino turístico (ou a uma localidade tuga caso falhassem no questionário final), mas antes disso havia muitos outros jogos e surpresas, nomeadamente o jogo em que o convidado musical e um fã seu competiam para ver quem mais sabia sobre o próprio artista. E claro está, para a história ficou aquele jogo de um leilão em que os concorrentes tinham de apostar uma peça de roupa para ganhar uma mala cheia de dinheiro que acabou com dois homens completamente nus e uma mulher em topless.
Na Casa Do Toy (2002-03)
Quando Ozzy Osbourne e a sua família abriram as portas da sua casa para deixarem as câmaras da MTV seguirem as suas vidas, criou-se um novo conceito de reality show que depressa se estendeu a várias celebridades (e afins), um pouco por todo o mundo, sendo particularmente aperfeiçoado pelas Kardashians. Portugal não foi excepção e ainda em 2002, as câmaras de SIC estiveram a postos para seguir os passos de Ágata em "O Meu Nome É Ágata" e de Toy em "Na Casa Do Toy". E se o programa de Ágata rendeu os seus momentos, foi Toy quem percebeu o objectivo e deu para história momentos icônicos como conduzir com joelho ou fazer sopas de cavalo cansado. E até o tema do genérico acabou por se tornar tão mítico quanto os seus hits!
Uma pedrada no charco num Portugal que sempre se regeu pelo "respeitinho" e as elites não primam pelo sentido de humor, "A Noite Da Má Língua" era um programa de comentário à actualidade sociopolítica no país e no mundo num tom mordaz e ácido. Como seria de espera, o programa gerou algum mal-estar junto da classe política e só muito gradualmente é que foram entrando no espírito da coisa.
Após a uma atribulada primeira temporada com várias mudanças no painel de comentadores, a partir da segunda temporada encontrou-se finalmente um equilíbrio a cinco vozes com a apresentadora Júlia Pinheiro conduzindo os debates com Miguel Esteves Cardoso, Manuel Serrão, Rui Zink e Rita Blanco. Havia também a rubrica semanal "Sic Transit Mundi Gloria" de Victor Moura Pinto.
Cantemos: "Um abraço deste Ponto de Encontro, um abraço deste Ponto de Encontro!"
Numa altura em que não havia redes sociais, era bem mais fácil perder o contacto e o paradeiros dos nossos conhecidos. Daí que "Ponto De Encontro" fosse para alguns a última oportunidade dos portugueses reencontrarem um familiar ou amigo após vários anos ou até décadas de afastamento. Geralmente, esses reencontros eram bastante emotivos e regados a lágrimas. E a conduzir o programa estava Henrique Mendes, num estilo sério e sóbrio mas cheio de empatia.
Com sete temporadas e mais de 200 emissões, dava ideia que andava metade de Portugal à procura da outra metade. E pensar que hoje em dia muitas vezes basta uma breve pesquisa na internet...
Tido como um meio crucial para a divulgação dos desportos radicais no nosso país (surf, skateboard, BMX entre outros), "Portugal Radical" marcou a sua época pela sua linguagem e estética apelativa ao público mais jovem. E claro, o facto de ter apresentadoras como Rita Seguro, Raquel Prates, Maria Borges e Rita Mendes, que se despediam com um "Até lá, muah!" não prejudicava nada.
"Portugal Radical" passou por vários horários e chegou a ser diário, além de gerar um merchandising que incluiu uma revista, uma caderneta de cromos e duas compilações musicais.
Uma das jogadas da SIC rumo à ultrapassagem da RTP foi a obtenção do monopólio dos produtos de ficção da Rede Globo (um dos sócios fundadores da SIC, fornecendo 15% do capital inicial), sobretudo as suas telenovelas, que tinham sido um dos pilar do horário nobre da RTP nos anos anteriores e que passaram a sê-lo na SIC. As telenovelas da Globo ainda são transmitidas na SIC e têm o seu público, mas longe da primazia dos anos 90.
Podia ter escolhido muitas telenovelas exibidas no horário nobre da SIC que deixaram grande marca: "Mulheres De Areia", "Terra Nostra", "Irmãos Coragem", "A Indomada", "Explode Coração"...
Mas "O Rei Do Gado" é daqueles novelões épicos como já não se fazem e com um elenco luxuosíssimo encabeçado por António Fagundes, Raúl Cortez, Glória Pires e Patrícia Pillar. Na primeira fase, compreendida nos primeiros sete capítulos e que se passava nos anos 40, seguíamos as violentas disputas das famílias de imigrantes italianos no Brasil, os Berdinazzi e Mezenga e o amor proibido entre Enrico Mezenga (Leonardo Brício) e Giovanna Berdinazzi (Letícia Spiller). A segunda passava-se na actualidade onde a contenda entre as duas famílias continua agora com Bruno Mezenga (Fagundes), filho de Enrico e Giovanna, e o seu tio Geremias Berdinazzi (Cortez). Bruno Mezenga tornou-se um abastado fazendeiro e pecuarista, a quem chamam "o Rei do Gado" mas desiludido no seu casamento com Léia (Sílvia Pfeiffer) e distante dos seus filhos Marcos (Fábio Assunção) e Lia (Lavínia Vlasak), Bruno só encontra a felicidade quando se encanta pela bela e humilde Luana (Pillar), que acaba por ser a chave para muitos dos mistérios da trama. Enquanto isso, há também Rafaela (Pires), uma vigarista que pretende se imiscuir no seio das duas famílias.
SIC Filmes (2000-02)
A par do infame DOT, a grande novidade que a SIC trouxe no ano 2000 foi a exibição de vários telefilmes produzidos pelo canal, à razão de um por mês, abrangendo vários géneros e envolvendo vários actores conhecidos. O mais lendário foi precisamente o primeiro, "Amo-te, Teresa", a história de um amor proibido entre uma mulher de 35 anos e um rapaz de 15 anos, protagonizado por Ana Padrão e Diogo Morgado, bem como Maria João Abreu no papel da mãe do jovem que na famosa cena em que descobre a ligação, profere a famosa frase: "P**a, a desencaminhar o meu filho!".
Mas outros filmes da iniciativa SIC filmes foram "Monsanto" com Vítor Norte no papel de um homem assolado pelos traumas da guerra colonial ("Porque é que não disseram que isto ficava para sempre?"); "Facas E Anjos" sobre um jovem que foge ao autoridade despótica do pai e descobre uma nova família no circo; "O Lampião Da Estrela", uma readaptação de "O Leão Da Estrela" com Herman José; "A Noiva" protagonizado por Catarina Furtado; "Aniversário" com uma cena em que Adelaide de Sousa se extasia com a gratificação oral que recebe ou "Um Passeio No Parque" e "Alta Fidelidade", escritos respectivamente por Margarida Rebelo Pinto e Rodrigo Guedes de Carvalho. Cada telefilme era promovido com poupa e circunstância, com trailers de encher o olho e um destacável na revista TV Mais. A SIC Filmes continuou a produzir mais telefilmes em 2001 e 2002, mas com o célebre virar da página no audiovisual português em finais do ano anterior, passaram despercebidos.
Para os fanáticos dos videojogos dos anos 90, a SIC erigiu um local de culto na sua programação para as respectivas homilias: "O Templo Dos Jogos". Com a internet ainda por massificar por cá, era neste templo que se podia estar a par das mais recentes novidades do mundo dos videojogos, desde os grandes lançamentos de jogos aos avanços da tecnologia das consolas. Sem esquecer críticas aos jogos mais populares (para a história ficou a nota de 100% do Mario 64 para a Nintendo 64) e as dicas para aldrabar nos jogos. Conduzindo cada "cerimónia" do Templo dos Jogos estava um variado grupo de jovens apresentadores que incluiu João Maia Abreu, David Bernardo, Rita Mendes e Cristina Mohler.
E eis-nos chegados ao fim da lista. Existe algum programa que acham que devia ser mencionado? Que outros programas da SIC permanecem na vossa memória afectiva? Contem tudo nos comentários e no Facebook da "Enciclopédia de Cromos". E uma vez mais, parabéns à SIC pelos 30 anos!