por Paulo Neto
Foi no início deste século que as telenovelas nacionais, transmitidas pela TVI, terminaram com o longo domínio no primetime nacional das telenovelas brasileiras da Rede Globo, que vinha desde os anos 70 e 80 e que continuou em alta nos anos 90, em que transitaram da RTP para a SIC.
Entre os diversos factores para tal acontecimento, como a forte aposta da estação de Queluz neste produto ou o aproveitamento da conquista do
primetime pela TVI herdada do primeiro Big Brother, destaca-se sobretudo o
know how da
NBP Produções (que em 2009 entrou em fusão com a Plural, nome pela qual a produtora é hoje designada) que soube como desenvolver este produto televisivo.
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Foto promocional com os jovens actores da telenovela |
Antes de atingir esse feito na TVI, a NBP, criada em 1990 por Nicolau Breyner (daí a sigla), foi desenvolvendo esse know-how ao longo dos anos 90 na RTP, produzindo de forma sucessiva várias telenovelas portuguesas que foram exibidas pela estação pública, começando em 1992 com "Cinzas" e terminando em 2000 com "Ajuste de Contas". Entre os títulos mais conhecidos deste conjunto de telenovelas, contam-se "Desencontros", "Na Paz dos Anjos", "Roseira Brava" e "A Grande Aposta".
Mas pessoalmente, a minha telenovela nacional preferida desse período foi
"Terra Mãe" que se distinguiu das demais por três aspectos: primeiro, um elenco maioritariamente jovem e apoiado por alguns nomes consagrados; segundo, por ser a primeira telenovela da autoria de
Rui Vilhena, que consagrar-se-ia nos anos seguintes como um dos nossos maiores teledramaturgos, nomeadamente através do sucesso da telenovela "Ninguém Como Tu"; terceiro, porque soube capturar a Lisboa fulgurante, moderna e cosmopolita da altura, ou não tivesse sido gravada e exibida no ano da Expo 98. A telenovela teve 146 episódios exibidos originalmente entre Março e Setembro de 1998.
Outro tema importante da "Terra Mãe" era a lusofonia já que um dos principais núcleos da telenovela era aquele protagonizado por Milú Mendes (
Manuela Maria), uma antiga actriz de teatro que aluga quartos na sua casa a três jovens oriundos de países de língua portuguesa: Hugo (
Miguel Hurst), um jornalista moçambicano, Kim (
Sandra Cóias) uma jovem macaense que estuda estilismo e Filipe (
Cláudio Lins), um jovem brasileiro licenciado em comunicação que traz consigo um segredo.
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Hugo (Miguel Hurst), Filipe (Cláudio Lins), Milú (Manuela Maria) e Kim (Sandra Cóias) |
Milú tem uma irmã, Maria do Carmo (
Glória de Matos) com quem sempre se deu mal. Ao contrário da irmã, Maria do Carmo é uma mulher fria, autoritária e preconceituosa. Viúva de um abastado empresário, é a matriarca da família Castro composta pela sua filha Beatriz (
Maria Emília Correia), o seu genro Paulo (
Alexandre Melo) e os seus netos Diogo (
Pedro Lima), Ana (
Lúcia Moniz) e Gonçalo (
Gonçalo Waddington). Na adolescência, Diogo viveu uma paixão com Carla (
Anabela Teixeira), neta de Milú, que terminou devido à pressão da avó do rapaz, mas sem que nenhum dos dois tenha conseguido esquecer.
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Carla (Anabela Teixeira) e Diogo (Pedro Lima) |
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Maria do Carmo (Glória de Matos) |
Ana conhece Filipe no dia do funeral do seu avô, que é também o dia em que o rapaz chega a Portugal, e após algumas situações aparatosas, surge uma forte atracção entre ambos, tornando-se o principal par romântico. Mas não só Ana está prestes a ficar noiva de Henrique (
Carlos Sampaio), com quem namora há vários anos, como Fernanda (
Anna Ludmila), a ex-namorada de Filipe, também ela imigrada em Lisboa, fará de tudo para reatar o namoro ao saber que ele está em Portugal.
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Ana (Lúcia Moniz), Filipe (Cláudio Lins) e Fernanda (Anna Ludmila) |
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Henrique (Carlos Sampaio) |
Fernanda partilha um apartamento com o sedutor Luís (
Eurico Lopes) e o divertido homossexual Marcelo (
Gabriel Leite). Junto destes três amigos costuma estar Patrícia (
Vera Alves), uma jovem que planeia casar e viver às custas de um homem rico mas cujos planos saem sempre furados. Já Luís vive uma tórrida relação casual com Marina (
Sandra B.), uma mulher independente que trabalha na agência de publicidade Zenith, dirigida por Paulo e onde também trabalham Diogo e Henrique.
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Marcelo (Gabriel Leite) |
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Luís (Eurico Lopes) |
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Marina (Sandra B.) |
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Patrícia (Vera Alves) |
Como se já não tivessem suficientes, Milú e Maria do Carmo têm ainda outro motivo de conflito: ambas interessam-se por Augusto (
Armando Cortez), um simpático viúvo, dono de uma cadeia de boutiques. Augusto é pai de Isabel (
Lídia Franco), uma mulher fútil, extravagante e cómica, casada com o ambicioso Zé Maria (
Marques D'Arede) de quem teve um filho, o endiabrado Ricardo (
Márcio Ferreira). Em casa de Isabel e Zé Maria, ainda há espaço para as desventuras de três dos seus empregados: Aparecida (
Paula Pedregal), Jorge (
Joaquim Guerreiro) e Olívia (
Margarida Cardeal).
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Zé Maria (Marques D'Arede) e Isabel (Lídia Franco) |
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Ricardo (Márcio Ferreira), Isabel (Lídia Franco) e Augusto (Armando Cortez) |
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Aparecida (Paula Pedregal) |
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Jorge (Joaquim Guerreiro) |
Isabel é bastante ciumenta quanto ao marido mas nem imagina que ele tem uma família secreta, já que teve uma filha da humilde Fátima (
Teresa Madruga), Lena (
Patrícia Tavares), que não sabe que aquele que chama de padrinho é o seu verdadeiro pai. Lena vive um terno primeiro amor com Miguel (
Diogo Morgado), o outro neto de Augusto, criado pelo avô após a morte dos seus pais.
A melhor amiga de Lena é Inês (
Patrícia Bull), filha de Joana (
Yolanda), uma antiga modelo, e Mário (
Antonino Solmer), um biólogo marinho actualmente a trabalhar no Oceanário da Expo 98. Mário suspeita que alguém planeia sabotar o projecto mas não imagina que o responsável seja o seu colega Álvaro (
Paulo Pires). Na verdade, Álvaro pertence a uma rede de crime organizado e juntamente com Tito (
João Lagarto) procuram um valioso chip informático e uma chave
Laika, que se encontra na posse de Filipe. Também metida nestas e noutras tramoia está Cristina (
Carla Lupi), a colega de apartamento de Carla.
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Mário (Antonino Solmer) e Joana (Yolanda) |
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Carla (Anabela Teixeira) e Álvaro (Paulo Pires) |
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Cristina (Carla Lupi) |
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Gonçalo (Gonçalo Waddington), Inês (Patrícia Bull), Lena (Patrícia Tavares) e Miguel (Diogo Morgado) |
Outro dos mistérios é o assassinato de Marina, que vem-se a descobrir ter sido Henrique, que a matou por esta saber dos seus negócios sujos através da agência. Curiosamente, no final Álvaro e Henrique acabam na prisão, mas cada um condenado pelo crime que o outro cometeu.
O elenco de "Terra Mãe" teve ainda participações especiais de Carlos Santos, Carmen Santos, Luís Vicente, Licínio França, Manuel Cavaco e Octávio de Matos e de aparições como eles próprios de António Pedro Cerdeira, Fernanda Serrano e dos Excesso. Aliás a imprensa nacional especulou sobre um romance de Fernanda Serrano com Cláudio Lins, durante a estadia deste em Portugal para a gravação da telenovela. "Terra Mãe" contou ainda com a participação de Nayma no genérico.
Com uma dose equilibrada de humor, drama e mistério e capturando bem a atmosfera vibrante da Lisboa de então, que conjugava a modernidade da Expo 98 e do então recém-inaugurado Centro Comercial Colombo com as suas zonas mais típicas e que se tornava um
melting pot de várias culturas, sobretudo as dos países lusófonos, e bons desempenhos de todo o elenco, "Terra Mãe" foi uma das melhores telenovelas portuguesas dos anos 90, sabendo capturar o espírito positivo de uma Lisboa e de um Portugal dos anos 90, um espírito que hoje em dia quase parece irreal.
Artigo sobre a telenovela no site "Brinca, Brincando" (de onde provieram estas imagens).
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