O terceiro filme do australiano Baz Luhrmann concluía uma trilogia dedicada ao mundo do espectáculo, designada como a "Red Curtain Trilogy": depois da dança em "Strictly Ballroom" (1992) e o teatro em "Romeu + Julieta" (1996), "Moulin Rouge!" de 2001 abordava a música através de um grande número de canções bem conhecidas a serem utilizadas para contar uma história passada em finais do século XIX, protagonizada por Ewan McGregor e Nicole Kidman, com alguma inspiração na ópera "La Traviatta" e na peça "A Dama das Camélias".
Christian (McGregor) é um jovem escritor que se muda para o boémio bairro de Montmartre em Paris e rapidamente torna-se amigo dos membros da comunidade artística local, liderada por Henri Toulouse-Lautrec (John Leguizamo). Impressionado com Christian, Toulouse-Lautrec pede-lhe para convencer Harold Zindler (Jim Broadbent), o dono do cabaré Moulin Rouge, a levar a cena uma peça musical que eles têm estado a preparar. É lá que Christian conhece Satine (Kidman), a maior estrela do Moulin Rouge.
Satine sonha deixar a vida de cabaré e tornar-se uma actriz a sério e para tal, aceita a sugestão de Zindler de seduzir o Duque de Monroth (Richard Roxburgh) para que este invista no Moulin Rouge, aproveitando o interesse que o vil aristocrata tem por ela. Satine acaba por confundir Christian com o Duque e após uma sucessão de equívocos, o Duque é persuadido a investir na peça de Christian e Toulouse.
Com o avançar dos ensaios, Christian e Satine apaixonam-se e a peça sobre uma cortesã indiana apaixonada por um tocador de cítara porém cativa de um terrível marajá acaba por se tornar uma metáfora de Satine, Christian e do Duque. Quando este percebe isso, não olha a meios para separar os dois amantes.
Mas quando parece que, apesar de tudo, tanto a peça como o casal terá um final feliz, Satine que escondia de Christian que sofria de tuberculose, é vencida pela doença ao cair do pano.
Se a adaptação moderna de "Romeu + Julieta" já parecia ser uma autêntica trip on acid, "Moulin Rouge!" levava essa exuberância um nível acima, numa autêntica explosão de cultura pop, mas Ewan McGregor e Nicole Kidman formaram um óptimo par romântico, impedindo que a história de amor ficasse perdida no meio de tanto excesso, e no processo, revelaram os seus dotes vocais, até então pouco conhecidos, sobretudo durante uma medley de conhecidas canções de amor, que é uma das minhas cenas favoritas do filme.
Entre as diversas canções versionadas ao longo do filme, podemos ouvir "Your Song" (Elton John), "Like A Virgin" (Madonna), "Diamonds Are A Girl's Best Friends" (Marilyn Monroe), Roxanne (The Police), "The Show Must Go On" (Queen), "One Day I'll Fly Away" (Randy Crawford) e até "Smells Like Teen Spirit" (Nirvana). Mas claro está, a versão mais famosa extraída do filme foi "Lady Marmalade", o clássico disco-soul de 1975 das Labelle, interpretada por Christina Aguilera, Lil'Kim, Mya e Pink que apresentou o tema a uma nova geração. A banda sonora contém ainda a participação de nomes como David Bowie, Beck, Bono, Fatboy Slim, Rufus Wainwright e Massive Attack e como se não bastasse, o filme continha ainda um cameo de Kylie Minogue, na altura gozando de um espectacular renascimento da sua carreira, como a Fada Verde.
O único tema original é "Come What May" interpretado por Ewan McGregor e Nicole Kidman.
Curiosamente, o CD da banda sonora de "Moulin Rouge!" foi a primeira coisa que eu comprei em euros, no início de 2002. Um segundo disco com mais canções do filmes e novas versões foi editado posteriormente.
"Moulin Rouge!" foi nomeado para oito Óscares, tendo vencido os de Melhor Guarda Roupa e Melhor Direcção Artística, bem como Globos de Ouro para Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Actriz em Filme de Comédia ou Musical para Nicole Kidman.
Eu recordo-me de ter adorado o filme quando o vi no cinema mas, tal como Titanic, é daqueles que filmes que tenho receio de ver de novo e ficar decepcionado.
Trailer:
Ewan McGregor e Nicole Kidman "Come What May" (Josh Abrahams remix)
Ewan McGregor e Nicole Kidman "Elephant Love Medley"
Christina Aguilera, Lil' Kim, Mya & Pink "Lady Marmalade"
Em 2001, estava Portugal recém-recuperado da perfect storm da música pimba dos anos anteriores, que passava por uma fase de acalmia, quando surgiu alguém que transpôs limites na música nacional como ninguém ainda o tinha feito.
A história de Casimiro António Serra Afonso, nascido a 25 de Junho de 1965 em Gralhós, concelho de Macedo de Cavaleiros, podia a de ser de mais um português que emigrou para França em busca de melhores condições de vida e, tal como por exemplo Linda de Suza ou Tony Carreira, num desses acasos da vida descobriu o sucesso nas cantorias. Só que a sua história teve uma particularidade inédita: o seu sucesso não se deveu ao seu talento para cantar, mas sim à falta dele.
Mas seguindo a máxima de António Gedeão, o sonho de glória musical comandou a vida de Casimiro Afonso, a que nem o facto assumido de não saber cantar lhe apagou o sonho de um dia gravar um disco e de ganhar a vida como cantor. Por isso, enquanto trabalhava em França como pintor de casas e empregado de limpeza, foi juntando dinheiro para poder gravar um disco. Reza a lenda que assim que juntou a quantia necessária para tal, contactou o cantor Luís Filipe Reis que lhe arranjou condições para gravar, tendo gravado dez temas em apenas quatro horas. E que quatro anos após a dita gravação, um grupo de amigos que viajava por Itália descobriu o disco e colocou as músicas na internet, que assim foram descobertas pela equipa do programa da manhã da Rádio Comercial.
Daí até Casimiro vir-se a actuar, sob o stagename de Zé Cabra, na televisão em programas como o Herman SIC e em concertos onde desafiava a sensibilidade dos tímpanos de quem o ouvia foi um instante. Apoiado pela editora Espacial, regravou alguns dos seus temas antigos e mais alguns inéditos para o seu álbum de estreia "Deixei Tudo Por Ela". E chegados à Páscoa de 2001, já não havia ninguém neste país que não tivesse ouvido a faixa-título nem que a trauteasse, de preferência com tanto desafinanço quanto o original: "Deixei tudo por ela, deixei, deixei./ Deixei tudo por ela, eu sei, eu sei./Deixei a minha vida tão bonita e singela./Deixei tudo o que tinha, deixei tudo por ela."
O sucesso musical de Zé Cabra coincidiu com um período de felicidade pessoal, pois poucos anos antes tinha-se casado com Alcina e sido pai de uma menina de nome Jéssica. Coincidiu também com a época das Queimas da Fitas e das Semanas Académicas por todo o país, com alguns "sortudos" a ter a chance de ver Zé Cabra a actuar ao vivo na sua Semana Académica local e com "Deixei Tudo Por Ela" a ser amplamente tocado nesses eventos. Eu na altura ainda estava a estudar em Coimbra, no meu 3.º ano da licenciatura, e era impossível escapar ao tema durante a Queimas das Fitas de 2001. Até Pedro Miguel Ramos himself, que estava na altura em alta devido ao Big Brother e que foi DJ numa das noites do Queimódromo, incluiu "Deixei Tudo Por Ela" no seu set.
O álbum acabou por vender 40 mil cópias, o que equivaleu a um galardão de disco de platina, e gerou mais um hit-single, "São Lágrimas". E mais uma vez, o povo tuga chilreou: "São láaaaaagrimas! São lágrimas caindo do meu rosto!"
Como não podia deixar de ser, o sucesso de Zé Cabra dividiu opiniões. Uns indignaram-se por se estar a dar tanta atenção e mediatismo a alguém que não tinha jeito nenhum para cantar, tendo o país tanta gente a cantar bem que passava despercebida, considerando o fenómeno como um deplorável número de circo. Outros levaram a situação pelo lado divertido da coisa e solidarizaram-se com o artista e a sua história de underdog, em muitos capítulos semelhante a de tantos outros por esse Portugal fora, para quem a vida não fora branda na sua dureza, que emigrou em busca de uma vida melhor e que agora, contra todas as probabilidades, realizava um sonho e vivia o seu momento de glória. Por entre essas discussões, Casimiro Afonso fez por aproveitar ao máximo esse momento de glória enquanto Zé Cabra, sabendo que para pessoas como ele, um momento assim, por muito fugaz e bizarro que fosse, seria algo raro de acontecer e de valor incalculável.
Zé Cabra editou mais dois discos, "Malas À Porta" em 2002 e "Vou Saltar-te Em Cima" em 2008, para além de um DVD do seu concerto de 2006 no Maxime e participou na curta-metragem "Um Homem" de Laurent Simões. Mesmo sem nunca ter-se aproximado do êxito de "Deixei Tudo Por Ela", Zé Cabra continua a actuar ocasionalmente num desses recantos mais ou menos profundos de Portugal e a ser reconhecido na rua.
Publicidade aos produtos de cuidado da pele das mãos, creme e loção da marca Atrix, já no mercado desde os anos 50.
Pensamento do dia: "As tuas mãos sentem, falam, vivem e fazem-te viver. Viver com os outros".
Aliás, o texto volta ao ataque com "...para que te sintas mais perto dos outros", enquanto uma mão feminina - certamente bezuntada em Atrix - afaga a mão máscula, mas cuidada de um senhor.
E deixo aqui a versão para televisão, via o canal 1980s90stv :
Publicidade retirada da revista Maria, dos anos 80.
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Esta semana, contam-se 24 anos que a Sociedade Independente de Comunicação S.A., vulgo SIC, iniciou as suas emissões, marcando assim o princípio da televisão privada em Portugal e de uma revolução no panorama televisivo nacional. Para aqueles que se recordam vividamente de como era ter somente dois canais de televisão (ou no meu caso, apenas um), parecerá espantoso como já foi há quase um quarto de século que isso aconteceu, aos 6 dias do mês de Outubro de 1992, com um bloco informativo conduzido por Alberta Marques Fernandes. Ou que já existam em Portugal milhares de pessoas com essa idade (algumas delas já com filhos!) que não sabem o que era televisão no monopólio da RTP e que algo assim deve lhes pareceres irreal.
Já falei aqui sobre o blogue Citizen Grave, de Francisco Grave, alguém que esteve por dentro dos primórdios da SIC, na função de director de programas estrangeiros. Francisco Grave faleceu em 2013, mas o blogue continua online e recomendo uma visita, nomeadamente aos textos em que fala precisamente sobre o seu trabalho na SIC, e onde se encontram também vários recortes de artigo da imprensa nacional sobre o início das emissões da SIC. Um desses artigos, extraído de "O Jornal" de 18 de Setembro de 1992, continha um croquis com a grelha da programação inicial prevista para a primeira semana da SIC e a descrição dos seus programas. (Segundo a publicação, "uma grelha de combate total à RTP.") Por tudo isto será interessante saber quais eram os programas que faziam parte da SIC durante as suas primeiras emissões.
Ver o texto do blogue Citizen Grave onde se encontra este recorte AQUI.
Segunda a sexta-feira
No seu primeiro ano de emissões, a SIC não tinha programação de manhã nos dias de semana. Por exemplo recordo-me de ver, no Verão de 1993, programas de televendas (onde um dos produtos anunciados era o mítico elixir anti-calvície GLH) ao princípio da tarde antes do início da emissão às quatro horas com os "Gladiadores Americanos".
16:30: "Boa tarde. Estudantes de luto contra as propinas." Foi com estas palavras que Alberta Marques Fernandes começou o bloco informativo com que arrancou a emissão da SIC a 6 de Outubro de 1992. Foi também noticiado o polémico gesto de Sinead O'Connor que rasgou uma foto do Papa João Paulo II durante a emissão em directo do "Saturday Night Live". A SIC sempre deixou claro que a sua principal aposta seria a informação por isso fez todo o sentido que as suas emissões se iniciassem com um bloco de notícias.
17:00: Sob condução de Catarina Furtado, havia um bloco dedicado a alguns dos programas da MTV Europa como MTV Dance, 3 From 1 (com três videoclips do mesmo artista) ou MTV At The Movies. No entanto, acho que este espaço não durou muito neste horário pois quando finalmente tive a SIC sintonizada em casa dois meses depois, os blocos da MTV tinham sido relegados para as altas horas da noite.
17:30 Um espaço dedicado a séries de ficção e documentais, destinadas ao público jovem:
- "As Mais Belas Máquinas" (segunda-feira) : programa sobre desportos motorizados, carros de luxo e os automóveis do futuro.
- "O Quinteto do Lado"("Guys Next Door, 1990-91") (terça-feira): um programa de variedades com sketches cómicos e números musicais protagonizado pela boyband que dava nome ao título original, formada por Patrick J. Dancy, Eddie Garcia, Bobby Lesie, Christopher Wolf e Damon Sharpe, este último actualmente um conceituado produtor musical. Era digamos, um Saturday Night Live para adolescentes, ou não fosse também um programa da NBC.
A boyband protagonista de "O Quineto do Lado"
- "Aventura" (quarta-feira): magazine sobre desportos radicais apresentado pelo Super Homem himself, Christopher Reeve.
- "Batman" (1966-1968) (quinta-feira): Qual Michael Keaton, o Batman original é Adam West, o mayor da cidade de Quahog no estado de Rhode Island! Agora a sério, com o homem-morcego em alta no início dos anos 90 devido aos dois primeiros filmes da saga realizados por Tim Burton, impunha-se a transmissão da série original dos anos 60 (que não sei se a RTP chegou alguma vez a transmitir), com Adam West no papel principal e Burt Ward como Robin.
Adam West e Burt Ward, os Batman e Robin originais
- "Elvis" (sexta-feira): série biográfica de 1990 sobre a vida do rei do rock & roll, com Michael St. Gerard no principal papel.
18:00 "Responder À Letra": Este foi o primeiro programa da SIC que eu vi, em casa da minha avó. Neste concurso apresentado por José Jorge Duarte, os concorrentes tinham que responder a perguntas cuja resposta começava por uma determinada letra, daí o título. O concurso tinha a particularidade curiosa de ser disputado entre um concorrente individual e uma dupla de dois concorrentes. Como em praticamente tudo o que era concurso na altura na RTP, era também patrocinado pelas Lojas Singer.
18:30 Seguia-se outro bloco informativo de quinze minutos, de segunda a sábado.
18:45"Praça Pública" foi um dos grandes marcos da programação dos primórdios da SIC, dando voz e espaço a problemas e situações por esse Portugal fora, que nunca o tinham tido na RTP. Consta que o programa ajudou a resolver algumas das situações aflitivas de várias comunidades do país e foi aí que o povo começou a perceber o poder da televisão para resolução dos seus casos, começando aí a famosa crença de que as pessoas mais depressa chamam a televisão do que a polícia. A apresentação era dividida por Nuno Santos e Júlia Pinheiro. A seguir ao programa seguia-se o primeiro espaço de meteorologia (que nos princípios era apresentado por duas caras eternas da estação, José Figueiras e Ana Marques) e havia espaço para o "Jornalouco", um esboço daquilo haveria de ser o "Contra-Informação".
Júlia Pinheiro apresentava "Praça Pública"
19:30 "Plumas & Lantejoulas": telenovela brasileira de 1980, de título original "Plumas & Paetês*", nunca antes exibida em Portugal, centrado na personagem de Marcela (Elizabeth Savalla), uma jovem de Minas Gerais que após um acidente de automóvel rumo a São Paulo, decide assumir uma nova identidade para ser acolhida por uma família rica. A indústria da moda era outro tema central da trama. O elenco contava com nomes conhecidos como José Wilker, Eva Wilma, Paulo Goulart, Cláudio Marzo, Eloísa Mafalda, Ary Fontoura, Elizângela e José Lewgoy.
* Um paetê é um tecido feito de lantejoulas. Só para o caso de terem pensado nisso.
20:00 "Jornal da Noite":José Alberto Carvalho conduzia o principal bloco noticiário que pretendia competir directamente com o "Telejornal" da RTP. Aos domingos, o espaço tinha o nome de "Jornal de Domingo" e era conduzido por Paulo Nogueira.
20:30 "Tereza Batista": série brasileira de 28 episódios, adaptada do romance de Jorge Amado "Tereza Batista Cansada De Guerra", protagonizada pela actriz Patrícia França.
Patrícia França, protagonista de "Tereza Batista"
Horário nobre
Segunda-feira:
21:15 "Justiça Negra" ("Dark Justice", 1991-1993): série americana sobre um juiz que farto de ver criminosos escaparem pelas teias da lei, decide fazer justiça pelas próprias mãos, formando um grupo de justiceiros civis que actuam de noite. Dois actores encarnaram o protagonista, o juiz Nicholas Marshall: Ramy Zada e Bruce Abbott. O elenco contou ainda com uma então pouco conhecida Carrie-Ann Moss. A série teve ainda a particularidade de ter toda a sua primeira temporada gravada em Barcelona.
22:30 "Fogo Cruzado": não havia informações sobre este programa. Na altura, a RTP2 também estreava um programa de debate com o mesmo nome. Suponho que o programa da SIC mencionado seria aquele que posteriormente viria a ser conhecido como "Crossfire", conduzido por Miguel Sousa Tavares e Margarida Marante.
23:20"A Família Do Senador": não consegui encontrar informações sobre esta série, que provavelmente seria sobre as ambições de um senador americano e a relação deste com a sua família.
Terça-feira:
22:00 "Noite de Estreia": um dos emblemáticos espaços de cinema da SIC dos anos 90. No seu primeiro dia de emissões, a 6 de Outubro, foi exibido o filme "A Guerra das Rosas" com Kathleen Turner e Michael Douglas. Porém, a "Noite de Estreia" não tardaria a transitar para as noites de segunda-feira, creio que ainda durante o ano de 1992.
"A Guerra das Rosas" foi o primeiro filme exibido na SIC
23:30 "Benny Hill": o mítico programa do lendário comediante britânico, que tinha falecido em Abril desse ano, famoso pelos divertidos sketches, muitos deles envolvendo moçoilas bonitas e arejadas, um velhote baixinho e careca a quem todos davam caldunços e corridas a alta velocidade.
Quarta-feira:
21:15 "Cops": um dos primeiros reality shows de sempre, com uma equipa de televisão a acompanhar ao vivo as actividade de uma brigada de polícia, registando em primeira mão todos os confrontos, por vezes extremamente violentes, entre polícias e criminosos. Estreado em 1989, o programa continua no ar nos Estados Unidos, estando a caminho da sua 28.ª(!) temporada. "Cops" popularizou o tema "Bad Boys" do Inner Circle, utilizado como tema de genérico.
22:00 "O Príncipe de Bel-Air": Já falámos há uns tempos sobre esta célebre sitcom americana protagonizada por Will Smith. Ler o texto sobre ela AQUI.
22:30 "Batalhas Conjugais" ("Civil Wars", 1991-1993): Mariel Hemingway é a protagonista desta série americana ("Civil Wars" no original) sobre um grupo de advogados especializados em processos de divórcio litigioso.
23:30 "O Passageiro Imprevisto" ("The Hitchhiker", 1983-1993): Uma série ao estilo de "A Quinta Dimensão" em que cada episódio contava uma história diferente de suspense e mistério. A série contou com participações de vários actores conhecidos como Kirstie Alley, Willem Dafoe, Helen Hunt, Lorenzo Lamas, Michael Madsen, Ornella Muti e Gene Simmons. O artigo de "O Jornal" refere ainda que alguns episódios foram realizados por cineastas famosos como Paul Verhoeven e Roger Vadim.
Quinta-feira
21:15 "Repórter da Meia-Noite" ("Midnight Caller", 1988-1991): Eis uma série que não dei por ela na altura mas que agora gostaria de rever, quando um amigo que em tempos sonhava trabalhar em rádio me falou dela há uns anos. A premissa era algo semelhante à de "Justiça Cega", mas desta vez o protagonista era Jack Killian (Gary Cole), um ex-polícia que passa a trabalhar como locutor de um programa nocturno de rádio onde atende chamadas de vários ouvintes e que de dia trabalha como detective privado para investigar alguns dos problemas revelados pelos ouvintes. Segundo a Wikipedia, um dos episódios da série foi criticado por vários grupos da comunidade LGBT por incluir uma personagem de um homem bissexual seropositivo que infectava deliberadamente mulheres e em que havia uma cena em que o seu cadáver é levado por uma equipa com fatos de protecção, alegando que a abordagem da série quanto ao problema da SIDA (sobre o qual o conhecimento público ainda era pouco) era incorrecta e homofóbica.
Os actores de "Repórter da Meia-Noite"
22:30 "Conta Corrente": o programa que marcava o regresso à televisão de Margarida Marante após o seu polémico processo de despedimento da RTP, onde ela entrevistava uma figura política a cada semana.
23:20 "Deixem Correr O Sangue" ("Let The Blood Run Free", 1990-1992): outra série que fiquei com curiosidade em ver. Uma série australiana que parodiava as séries de dramas hospitalares, que tinha começado como um espectáculo de comédia de improvisação em Melbourne. Foi uma das primeiras séries interactivas onde o público podia escolher o caminho que as histórias podiam tomar e notabilizava-se pela forma como desrespeitava várias convenções televisivas.
Sexta-feira
21:15 "Os Dias do Cinema": outro célebre espaço de cinema dos primórdios da SIC. Segundo o artigo, no início teve apresentação da actriz brasileira Christiane Torloni que na altura estava a viver cá em Portugal. Para a estreia deste espaço no dia 9 de Outubro, iria ser exibido o filme "Inquérito Escaldante" de Sidney Lumet com Nick Nolte e Timothy Hutton.
23:30 "Cuidado Com As Aparências" ("Keeping Up Appearances", 1990-1995): Uma famosa sitcom britânica com Patricia Routledge no papel de Hyacinth Bucket, uma mulher obcecada com as boas maneiras e ascensão social, para desespero dos seus familiares e vizinhos. Em Fevereiro de 2016, a série foi confirmada como a produção da BBC mais vendida em todo o mundo. Em 2000, houve uma adaptação portuguesa, também exibida na SIC, com Catarina Avelar no principal papel.
00:00 "Os Amores de Lídia" ("Love for Lydia", 1977): Série britânica de 1977 baseado no romance de H.E. Bates sobre quatro jovens apaixonados pela Lídia do título, sendo que um deles é o grande Jeremy Irons. À exibição desta série na SIC não devia ser estranho o facto de Irons ter ganho um ano antes o Óscar de Melhor Actor por "Reveses da Fortuna" (e não por "Irmãos Insperáveis", como vem no artigo).
Fins de semana
Ao fim de semana, as emissões iniciais da SIC abriam abriam às 14 horas.
14:00 Apenas duas séries de animação faziam parte das primeiras semanas de emissão. Aos sábados, "As Aventuras de T-Rex" (sobre a qual o David Martins já falou AQUI) e aos domingos, a versão anime de "O Livro da Selva"("Jungle Book Shonen Mowgli", 1989-90) -no artigo vem erradamente como "O Livro da Semana!"- que tal como o famoso filme da Disney adaptava a obra de Rudyard Kipling sobre Mowgli, um rapaz que cresceu na selva no meio de animais selvagens.
A série anime de "O Livro da Selva"
14:40 O mítico magazine dos desportos radicais "Portugal Radical" foi um dos sucesso mais imediatos da SIC. (Quem nunca sonhou ser o destinatário do beijo que Rita Seguro enviava no final de cada programa: "Até lá, mmmmmuá!"?). O "Portugal Radical" (ler texto do David Martins AQUI) via-se ao princípio aos sábados, seguido de um episódio de "Globo Ciência", que como o nome indica era uma magazine sobre ciência produzido pele Rede Globo. Aos domingos, era transmitido a série documental de cariz ecológico "Um Planeta, Uma Família".
Rita Seguro em "Portugal Radical"
15:00 Às 15 horas era espaço para mais cinema: "Sessão Aventura" aos sábados com filmes de cinema de aventura. Para o primeiro sábado de emissões na SIC, a 10 de Outubro, foi transmitido "Em Busca Da Esmeralda Perdida", mais um filme com Kathleen Turner e Michael Douglas. Aos domingos, o espaço tinha o nome de "Chiado Terrasse", onde seriam exibido alguns filmes mais antigos e no domingo dia 11 de Outubro, foi transmitido o filme "A Rapariga das Violetas", protagonizado por Sarita Montiel, uma das maiores divas do cinema espanhol.
17:30 No artigo, este espaço seria ocupado com mais conteúdos da MTV. Segundo outro recorte do blogue Citizen Grave, neste espaço aos domingos, estreou ainda em Novembro de 1992 a série anglo-americana "Terminal Max" ("Max Headroom", 1987-1988), protagonizada por um das primeiras personagens virtuais animadas em 3D, Max Headroom.
18:00 A série de acção "Comando Relâmpago" ("Lightning Force", 1991-1992), uma série de acção para ver aos sábados e ao domingo, já falámos AQUI nesta série: "Raven" com Jeremy Meek no papel principal de um mestre de artes marciais a investigar casos no Hawaii enquanto ajusta contas com o passado.
18:45 Enquanto aos sábados, tal como nos dias da semana, eram exibidos o noticiário das 18:30, "Praça Pública" e "Plumas e Lantejoulas", aos domingos os fins de tarde eram preenchidos com o concurso "Encontros Imediatos", ao início apresentado por Manuela Maria, do qual já falámos AQUI e que foi o programa mais visto da primeira semana da SIC e pela sitcom "Giras e Pirosas" (e não "Giras e Perigosas" como vem no artigo), uma séries sobre o dia-a-dia cheio de peripécias de patrões, empregados e clientes de um salão de cabeleireiro. O elenco contava, entre outros, com Maria Vieira, Lena Coelho, Delfina Cruz, Custódia Gallego, Margarida Reis, Carlos Areia, Octávio de Matos e Paulo Matos. Foi portanto a primeira produção SIC de ficção nacional, ainda que fosse escrita, produzida e realizada por brasileiros.
Lena Coelho e Carlos Areia em "Giras E Pirosas"
20:30 Enquanto aos sábados após o "Jornal da Noite", ia para o ar mais um capítulo de "Tereza Batista", aos domingos, a seguir ao "Jornal de Domingo", vinha para o ar o "Cosby Show", a sitcom campeã de audiência nos Estados Unidos e à qual se reconhece um significativo contributo para o reconhecimento e valorização da comunidade negra nos Estados Unidos. Infelizmente, hoje a série é um programa maldito devido às várias acusações de violação que pesam sobre Bill Cosby.
O elenco princiapl de "The Cosby Show"
21:15 As noites de sábado dos primórdios da SIC eram de levar as emoções ao rubro, primeiro com transmissões de wrestling com comentário de Jorge Perestrelo (mas de uma liga diferente daquela dos programas de wrestling que davam na RTP) e depois com o lendário "Água Na Boca", sobre o qual eu escrevi o meu primeiro texto neste blogue e que, mais do que qualquer outro programa dos primórdios da SIC, demonstrou a Portugal que isto da televisão privada era um admirável mundo novo…
Nas noites de sábado, a SIC queria deixar Portugal com "Água Na Boca".
E por fim, havia espaço para um telefilme. Para o dia 10 de Outubro, foi transmitido "Perry Mason: O Caso da Lição Mortal", um dos vários telefilmes dos anos 80 e 90 onde Raymond Burr recuperava a sua mítica personagem do advogado cujo nome dava o título à famosa série dos anos 60.
Nas noites de domingo, o espaço de cinema tinha o título de "Maiores de 17", o que pressupunha a exibição de filmes para um público mais adulto, como era o caso de "Os Amantes de Maria" com Nastassja Kinski e Robert Mitchum, exibido a 11 de Outubro. (Porém com o tempo, essa designação acabou por se tornar irrelevante, pois recordo-me que já em 1994, eram exibidos em "Maiores de 17" filmes para maiores de 6 anos, como por exemplo "O Pestinha").
Antes do Último Jornal de domingo, havia também espaço para um programa de entrevistas "Segredos", conduzido por Helena Sacadura Cabral, então colunista da revista "Máxima", que pretendia revelar facetas mais escondidas de figuras públicas.
Além dos filmes já referidos, o artigo refere outros filmes que foram exibidos pela SIC em Outubro de 1992 que incluíam títulos como "A Insustentável Leveza do Ser", a adaptação de 1976 de "Os Três Mosqueteiros", "Os Incorruptíveis Contra A Droga 1 e 2", "Sinfonia dos Trópicos" com Carmen Miranda, "Coração Selvagem", "Barreira de Fogo" de Clint Eastwood, "10 - Uma Mulher de Sonho" com Bo Derek e "Papá", telefilme com Patrick Duffy e Lynda Carter que adaptava o romance de Danielle Steel.
Os dois filmes da saga "Os Incorruptíveis Contra A Droga" foram dos primeiros filmes a serem exibidos na SIC.
À luz da actual programação da SIC e de toda a televisão generalista em Portugal, digam lá se não sabe bem recordar estes tempos? Seja como for, muitos parabéns à SIC.
Imagens da redacção da SIC no primeiro dia de emissões:
Nos anos 80 e inicio dos 90, qualquer desporto ou actividade radical estava em destaque, e a publicidade não podia perder a oportunidade. No anúncio de hoje é o skate, referido com uma ilustração de um jovem skater com o devido equipamento de protecção. Este ar moderno contrasta com a embalagem tradicional do Cola Cao.
"Cola Cao faz-se a brincar". O slogan: "Ajuda com força".
Publicidade retirada da revista Pato Donald Nº 223, de 1989.
Digitalizador original desconhecido. Imagem Editada por Enciclopédia de Cromos.
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Quando uma situação teima em não se resolver, lá diz o povo: "Nem o pai morre, nem a gente almoça." Foi a partir desta conhecida expressão popular que no Verão de 1990, estreou na RTP uma sitcom, sob uma ideia de Nicolau Breyner e desenvolvida por Rosa Lobato Faria. A série chamava-se apenas "Nem O Pai Morre...", embora muita da imprensa se referisse a ela nas suas páginas de programação televisiva pela expressão completa (como é o caso dos das duas imagens extraídas do "Diário de Lisboa" incluídas neste artigo).
A série de 13 episódios, estreada em Julho de 1990 aos sábados à tarde sendo posteriormente, segundo o site "Brinca Brincando", transferida para os domingos, centrava-se na história de um rico centenário, que apesar dos seus 103 anos, mantém tem uma lucidez e uma saúde de ferro, para desespero dos seus herdeiros que mal podem esperar pela morte do ancião para deitarem a mão à sua grande fortuna. Júlio César era o protagonista, desdobrando-se em dois papéis, o do dito centenário e o do seu secretário pessoal.
Júlio César como Nózinhos e Tio Antão
O trio de abutres: Carolina (Rosa Lobato Faria), Albano (Armando Cortez) e Adelaide (Manuela Maria)
Aos 103 anos, Dom Antão Torrado (Júlio César) goza de uma vitalidade fora de comum, o que vai adiando as perspectivas dos seus parentes mais próximos de beneficiarem da sua fortuna. Entre os principais interessados que o idoso bata as botas estão o seu sobrinho Albano (Armando Cortez) que apesar de ter 5% das empresas da família e ser o vice-presidente das ditas, não tem poder de decisão e nem dinheiro para deixar de viver à custa do tio; a mulher deste, Carolina (Rosa Lobato Faria); e a sua irmã solteirona Adelaide (Manuela Maria) que atribui ao tio a culpa de nunca ter casado, por este nunca ter permitido o seu casamento com um amor de juventude, um sapateiro. Ao longo da série, estes três vão congeminando planos para acelerar o falecimento do tio Antão, mas o ancião consegue sempre furar habilmente as conspirações contra eles, não só as dos sobrinhos como de outros pretensos herdeiros que vão surgindo e outros vigaristas que pretendem também deitar mão à sua fortuna.
Mafalda (Isabel Gaivão)
Chica (Natalina José)
Os principais aliados de Antão são Mafalda (Isabel Galvão), neta de Albano e Carolina mas que não herdou o oportunismo dos seus avós e, pouco dada a convenções, namora um carpinteiro chamado José; Chica (Natalina José), a fiel empregada da casa; e Francisco Xavier (Júlio César), também conhecido como o Nózinhos, o secretário particular e homem de confiança do magnata, que este trata quase como o filho que nunca teve e que nutre um fraco por Mafalda. É a estes três que Antão recorre para pregar partidas àqueles que conspiram contra ele.
No último episódio, Antão está gravemente doente e parece que a sua longa vida está à beira do fim. Para acelerarem mais o processo, os sobrinhos contratam Maria Eugénia (Cláudia Cadima), uma simpática jovem, para cuidar do tio. A jovem carrega consigo uma estranha malapata: sempre que ela é contratada para cuidar de algum idoso, o dito cujo falece poucos dias depois. Mas no final, para espanto de todos, Antão deixa uma carta onde é revelado que não só ficou rapidamente restabelecido sob os cuidados de Maria Eugénia como fugiu com ela!
O "Diário de Lisboa" assinala a estreia da série
Alguns dos actores que tiveram participações especiais na série
Ao longo dos 13 episódios, a série contou com as participações especiais de nomes como Nicolau Breyner, Lídia Franco, Fernando Mendes, Adelaide João, Vera Mónica e Herman José, no papel de Gauguinat, um marchand de arte a quem Adelaide e Carolina tentam vender um quadro do tio, mas que acaba por vigarizá-las.
Não me lembro de ver a série quando estreou na altura, mas vendo alguns episódios na RTP Memória, constatei que era de facto uma série bastante interessante e com boas interpretações de todo o elenco. Será porventura o grande desempenho da carreira de Júlio César, pelo menos em televisão.
Durante boa parte dos anos 80 e 90 havia um momento sagrado do fim de semana dos portugueses: a hora de programação antes do Jornal de Domingo. Nessa faixa de horário passaram séries míticas e obrigatórias como "O Justiceiro", "Um Anjo Na Terra", ou a que hoje cromamos: "MacGyver".
Falando n'"O Justiceiro", tal como Michael Knight, MacGyver era um cruzado solitário na luta pelas causas dos inocentes; e se ao contrário do primeiro, não tinha um carro falante de alta tecnologia, as maiores armas do seu arsenal eram a sua inteligência e o canivete-suíço. Falando nisso, imagino que nos anos 80 a série tenha causado um boom na procura desses pequenos canivetes equipados com ferramentas ideais para as aventuras quotidianas dos telespectadores. Nos EUA este em exibição entre 29 de Setembro de 1985 e 21 de Maio de 1992. Atravessando o Atlântico num bote improvisado, MacGyver apenas chegou à costa portuguesa no dia 24 de Setembro de 1989.
Antes de continuar quero dedicar este cromo ao meu amigo Leonel Pereira. O motivo? Como comemoração do Like nº 500 na página do Facebook da Enciclopédia, pedi ao nº 500, o meu amigo Leonel, para escolher um tema a abordar. Entre as sugestões do MacGyver ou os Soldados da Fortuna, escolhi o: MacGyver! Porquê? Simples, é um clássico e lá em casa (tal como boa parte do pais) não perdíamos um episódio. Mas a minha memória ficou manchada pelos atentados perpetrados pela TVI ao exibir (se não me engano) uma versão dobrada em português do Brasil, a exemplo do Knight Rider (O Justiceiro: "Kittchi vem me buscar!"). E mais recentemente assisti a um par de episódios na SIC Radical e ...boring! Quase que me deixo dormir! Mas espero um dia (antes da reforma) voltar a rever... Mas voltando atrás, quero pedir desculpa ao Leonel e aos leitores por ter deixado este texto tanto tempo nos Rascunhos, MacGyver é - como diriam na Caderneta de Cromos - um "Cromo Dourado". E falando nisso, ouçam o programa deles sobre a série: Caderneta de Cromos 199 "MacGyver" [Ouvir/Download].
O genérico inicial e o tema contagiante e inesquecível:
Fiquei chocado quando há uns anos encontrei na Internet a versão brasileira de MacGyver: "Profissão Perigo", com um tema musical de estilo muito diferente, mas que não consigo encontrar online...
Há algum tempo, ao ler uma banda desenhada que modernizou o nosso herói, num texto do seu criador que a génese da série está no conceito de "Hourglass" (ampulheta), uma proposta para uma série de aventura e acção e episódios de 1 hora passada em tempo real - antecipando a ideia de "24" em mais de duas décadas, mas com a história do episódio a começar e terminar em apenas uma hora. O escritor Lee David Zlotoff quando confrontado com a ideia, achou que o conceito de "tempo real" iria colocar uma série de obstáculos à narrativa e rapidamente percebeu que seria insustentável manter o interesse numa série em tempo real durante muitos episódios.
Encarregue de desenvolver uma alternativa, Zlotoff para ultrapassar uma crise de inspiração e projectos que falharam em criar interesse nos estúdios, juntou alguns amigos para uma sessão de brainstorming, e nasceu o conceito do herói "com nada" que criava as soluções para os problemas com o que tinha à mão. Isso significava nada de gadgets, tecnologia avançada ou carros vistosos à la James Bond.
Indo com a ideia de quanto mais simples melhor, o protagonista começou por se chamar ironicamente "Guy" (além de nome, também significa "tipo" ou "gajo" ). Como os produtos MacDonalds tomavam de assalto a sociedade e a cultura, surgiu a ideia de "MacGuy", que rapidamente passou a "MacGyver", matando dois coelhos de uma cajadada só: um nome invulgar e apelativo e estabelecendo a ascendência escocesa do protagonista. Consta que os escoceses têm fama de desenrascados.
Angus MacGyver (Richard Dean Anderson)é um agente secreto que graças aos seus conhecimentos científicos resolve problemas para a Fundação Phoenix e o Departamento de Serviços Externos. Nas suas aventuras os personagens mais recorrentes são o chefe e melhor amigo, Peter Thornton (Dana Elcar) e mais esporadicamente o divertido piloto mercenário mulherengo Jack Dalton (Bruce McGill), sempre envolvido em esquemas duvidosos. A outra grande peça do elenco era o assassino Murdoc (Michael Des Barres), que ao longo de apenas 9 episódios criou a sensação de ser impossível de matar de vez, voltando sempre para infernizar MacGyver. Vale também a pena ver a lista de outros actores e convidados especiais [clique aqui]onde encontramos nomes como Teri Hatcher ("Lois & Clark: As Novas Aventuras do Super-Homem"), Tia Carrere ou Cuba Gooding Jr.
Richard Dean Anderson, ao contrário do esperado, conseguiu descolar-se - mas não fazer esquecer - deste personagem da cultura pop, ao encarnar durante mais de uma década o Coronel Jack O'Neill na série "Stargate SG-1".
Recentemente fiz uma descoberta ocasional que achei hilariante: um brinquedo do MacGyver - fabricado na Espanha - que consistia numa...arma de fogo, algo que o nosso herói abominava! E aqui está ele no cartão, qual Rambo de arma em riste, pronto a despachar mauzões, one bullet at a time!
No site MacGyver Online podem - entre outros pormenores - ver dezenas de fotos dos bastidores das filmagens:"MacGyver Online: Behind The Scenes". E talvez o mais interessante, uma lista de todos os "macgyverismos" - as engenhocas e desenrascanços - por episódio: "MacGyverisms".
Além dos 139 episódios das 7 temporadas, os fãs ainda foram brindados com dois telefilmes - que recordo vagamente de ver na RTP: "MacGyver: Lost Treasure of Atlantis" e "MacGyver: Trail to Doomsday".
Um episódio piloto foi filmado para "Young MacGyver", como o nome indica, as aventuras do muito jovem MacGyver, interpretado pelo futuro Sam Winchester (Jared Padalecki) do êxito "Sobrenatural"; mas nunca foi exibido.
E em 2016 estreou uma nova série homónima, um reboot com um MacGyver mais novo que o "original".
E como o post já vai longo termino com a invulgar versão portuguesa do tema principal de MacGyver, cantado pelo grupo juvenil Onda Choc, "Super Mac":
O vídeo tem todo o ar de ter sido gravado num Natal dos Hospitais ou algo que valha.
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