domingo, 1 de janeiro de 2023

20 coisas que aconteceram há 20 anos (2003)



E cá vamos nós uma vez mais pelo século XXI a dentro e eis-nos acabados de entrar em 2023. Um ano que ainda não há muito tempo parecia estar a séculos de distância e que agora é o nosso presente. E é novamente com espanto que uma pessoa olha para trás e descobre que foi já há vinte anos que entrámos em 2003! Por essa altura, as memórias da viragem do século/milénio já eram algo distantes e o mundo já estava declaradamente noutra era. Embora tenha iniciado nesse ano a minha pós-graduação, 2003 foi para mim como que o meu primeiro ano verdadeiramente como adulto pós-estudante (e um vislumbre de quão atribulada iria ser a minha vida adulta).
Em Portugal, tal como 1997, 2003 foi como que um ano de contagem decrescente para o ano seguinte onde haveria um acontecimento que inevitavelmente iria marcar o país, no entanto foi sem dúvida um ano com muita identidade própria e com muita coisa para recordar.  


1. O regresso de conflitos no Iraque



Em Março de 2003, uma coligação liderada pelos Estados Unidos invadiu o Iraque sob a alegação de que o país possuía armas químicas de destruição massiva e para a libertação do povo iraquiano do regime totalitarista de Saddam Hussein. A invasão foi desde logo criticada dentro e fora dos Estados Unidos pelas suas infundadas justificações (uma investigação da ONU não revelou provas de posse de armas químicas no Iraque), a ausência de um mandato da ONU (ao contrário do que sucedeu na Guerra do Golfo de 1991), o custo humano e material da intervenção militar, a falta de planeamento pós-conflito, o potencial para desestabilização na região e porque a alegada preocupação pelos direitos humanos não passaria de uma fachada para os interesses nos recursos petrolíferos. Até mesmo alguns países aliados dos Estados Unidos como Alemanha, França, Canadá e Nova Zelândia declararam-se contra a invasão.
Durão, Blair, Bush e Aznar reunidos nos Açores

Portugal deixou uma marca no acender do rastilho devido à reunião do primeiro-ministro Durão Barroso na base das Lajes nos Açores com o presidente americano George W. Bush e os primeiros-ministros britânico e espanhol, Tony Blair e José Maria Aznar a 16 de Março. Portugal enviou alguns membros da GNR em missão ao Iraque, onde a jornalista da SIC Maria João Ruela foi baleada numa perna quando fazia a cobertura de uma das missões. 
A fase da invasão durou cerca de um mês terminando com a tomada de Bagdade pela coligação, mas a guerra arrastar-se-ia até 2011. E afinal, para quê?
     

2. Nasceram em 2003 mas já fazem sensação 
É só em 2023 que estes nomes completarão duas décadas de vida mas já são muitos os nascidos em 2003 que se têm distinguido em várias áreas: a activista ambiental Greta Thunberg, a cantora e actriz Olivia Rodrigo, o rapper australiano The Kid LAROI, a ginasta campeã olímpica Sunisa Lee, o ás do ténis espanhol Carlos Alcaraz, a YouTuber/influencer JoJo Siwa, Quvenzhané Wallis que em 2012 se tornou a primeira actriz nascida no século XXI a ser nomeada para um Óscar e claro, o novo craque do futebol português António Silva.

Geração 2003: Greta Thunberg, Olivia Rodrigo e António Silva

3. Muitas mortes marcantes
Por outro lado foi em 2003 que nos despedimos da lenda da música country Johnny Cash e da sua esposa June Carter Cash; da grande diva do jazz Nina Simone; das lendas da música cubana Compay Segundo e Celia Cruz; da voz inconfundível de Barry White; de Maurice Gibb dos Bee Gees; da actriz quatro vezes oscarizada Katharine Hepburn; do actor bosquímano N!Xau Toma, estrela dos filmes "Os Deuses Devem Estar Loucos"; dos actores Gregory Peck, Bob Hope e Charles Bronson; de Gene Anthony Ray, o eterno Leroy de "Fama"; do realizador Elia Kazan; e do advogado Robert Kardashian, patriarca da mais famosa família dos reality shows. Em Portugal, destaque para os falecimentos do realizador João César Monteiro e da actriz Luísa Barbosa.

RIP 2003: Johnny Cash, Nina Simone, Katharine Hepburn, Charles Bronson

4. Ano de muitas sequelas cinematográficas
2003 viu a conclusão das trilogias de "O Senhor Dos Anéis" com o tomo final "O Regresso De Rei" e "Matrix" com "Matrix Revolutions" e "Matrix Reloaded". Se no caso do primeiro, foi uma apoteose bem recebida que seria coroada com onze Óscares, no caso das segundas, a opinião foi de que ficaram aquém das expectativas geradas pelo primeiro filme em 1999. 

Também houve segundos filmes de "X-Men", "Fast & Furious", "Os Anjos De Charlie", "Legalmente Loura" e "Os Bad Boys" e terceiros filmes de "American Pie", "Scary Movie" e "O Exterminador Implacável".

5. Filmes marcantes para todos os gostos


Mas nem só de sequelas se fez o cinema em 2003. Foi neste ano que Johnny Depp encarnou pela primeira vez o Capitão Jack Sparrow em "Os Piratas da Caraíbas", Ben Affleck foi o "Daredevil", Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan trocaram de corpos em "Freaky Friday - Um Dia De Loucos", Tom Cruise foi "O Último Samurai", Eric Bana foi o "Hulk", Scarlett Johansson foi "A Rapariga de Brinco de Pérola", Queen Latifah foi "A Mulher Lá De Casa", Charlize Theron foi um "Monstro" e Jim Carrey "Bruce, O Todo-Poderoso". Andámos "À Procura Do Nemo", Kate Hudson e Matthew McCounaughey ensinaram-nos "Como Perder Um Homem Em 10 Dias", Bill Murray e Scarlett Johansson ficaram "Lost In Translation - O Amor É Um Lugar Estranho" e Uma Thurman iniciou a jornada como A Noiva em "Kill Bill". E porque "O Amor Acontece", uma chuva de estrelas (incluindo Lúcia Moniz) reuniu-se numa épica comédia natalícia. 
O cinema de terror foi servido por títulos como "28 Dias Depois", "Cabin Fever", "The Eye", "Jeepers Creepers 2", "Freddy vs. Jason", "Underworld", "Gothika" e a remake de "O Massacre No Texas". Houve comédia para vários gostos como "Crueldade Intolerável", "Johnny English", "Alguém Tem De Ceder", "Duplex" e "School Of Rock". No cinema de autor houve "Mystic River" de Clint Eastwood, "Big Fish" de Tim Burton e "21 Gramas" de Alejandro Gonzalez Iñarritú. Estrearam ainda títulos como "A Domadora de Baleias", "Liga de Cavalheiros Extraordinários", "Elf", "À Dúzia É Mais Barato", "O Sorriso Da Mona Lisa", "Cold Mountain", "Pago Para Esquecer" e um filme tão mau, tão mau, que deu à volta e se tornou de culto, "The Room".
No cinema português, houve o filme final de João César Monteiro "Vai E Vem", o "Filme Falado" de Manoel de Oliveira, "Os Imortais", "A Passagem da Noite", "O Fascínio" e Alexandra Lencastre foi "A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América".

6. Muitos discos para recordar



2003 viu a edição de novos álbuns de Linkin Park ("Meteora"), Madonna ("American Life"), Metallica ("St. Anger"), OutKast ("Speakerboxxx/The Love Below"), Kylie Minogue ("Body Language"), Black Eyed Peas ("Elephunk"), Dido ("Life For Rent"), White Stripes ("Elephant"), Massive Attack (100th Window), Moloko ("Statues"), Melanie C. ("Reason"), Céline Dion ("One Heart"), Placebo ("Sleeping With Ghosts"), HIM ("Love Metal"), Fleetwood Mac ("Say You Will"), Pink ("Try This"), Radiohead ("Hail To The Thief"), Stereophonics ("You Gotta Go There To Come Back"), Simply Red ("Home"), Nelly Furtado ("Folklore"), Seal ("Seal IV"), The Bangles ("Doll Revolution"), Muse ("Absolution"), Limp Bizkit ("Results May Vary"), Sugababes ("Three"), Blink 182 ("Blink 182"), Hoobastank ("The Reason"), Britney Spears ("In The Zone"), Blur ("Think Tank") e Alicia Keys ("The Diary Of Alicia Keys").
Assim como os álbuns de estreia de Beyoncé ("Dangerously In Love"), 50 Cent ("Get Rich Or Die Tryin' "), Amy Winehouse ("Frank"), Evanescence ("Fallen"), Delta Goodrem ("Innocent Eyes"), Kelly Clarkson ("Thankful"), Kings Of Leon ("Youth & Young Manhood") e Joss Stone ("The Soul Sessions"). Realce ainda para o álbum homónimo de estreia de Maria Rita, filha de Elis Regina. 
E muito que se dançou em 2003 ao som de "Make Luv" de Room 5 e Oliver Cheatham, "Satisfaction" de Benny Benassi, "Mundian To Back Ke" de Panjabi MC, "Gia" da grega Despina Vandi, "Tô Nem Aí" da brasileira Luka, "Summer Jam 2003 (Fiesta)" de Underdog Project & Sunclub 

7. David Fonseca estreou-a solo



Por cá, após o estrondoso sucesso dos Silence 4, David Fonseca iniciava uma também muito bem sucedida carreira a solo com o álbum "Sing Me Something New", que continha os hits "Someone Who Cannot Love" e "The 80's".


 
2003 também viu a edição dos álbuns de estreia dos EZ Special e dos Toranja, de "Irmão Do Meio", disco de duetos de Sérgio Godinho com vários cantores, do segundo álbum de Mariza "Fado Curvo" e de "Focus" a colaboração entre Dulce Pontes e o grande maestro Ennio Morricone que incluía o esmagador "O Amor A Portugal". E o hit novelty do ano foi "As Meninas Da Ribeira Do Sado" dos Adiafa. 

8. O aparecimento da SIC Mulher e da MTV Portugal



A 8 de Março, por sinal o Dia Internacional da Mulher, estreava um novo canal SIC, a SIC Mulher. Como o nome indicava era um canal mais virado ao público feminino, focando-se sobretudo em séries e talk-shows. (De certa maneira era um pouco o contraponto à testosterona da SIC Radical.) Apesar de não fazer parte do público-alvo, era um canal que eu costumava ver com alguma regularidade. Destaco sobretudo o programa de Oprah Winfrey, The Biggest Loser USA, Masterchef Austrália e a encarnação original do "Querido, Mudei A Casa".

Por esta altura e com vários países a terem a sua própria MTV de formato nacional, a MTV Europe praticamente cobria agora Portugal, Grécia, uns quantos países de Leste e Israel (com os anúncios a  virem quase todos daí). Como tal foi a 1 de Julho que Portugal finalmente teve uma MTV formatada à sua dimensão, iniciando as emissões com um concerto dos Blind Zero. Felizmente ainda apanhámos uns bons anos de MTV Portugal em que passava várias horas de música por dia, em vez de eventualmente a música ter sido relegada para segundo plano em prol dos Ridiculouness, 16 And Pregnants, Catfishes e Geordie Shores desta vida. Diogo Dias foi desde muito cedo o rosto principal do canal mas por lá passaram também Filomena Cautela, Ana Luísa Barbosa e Ana Sofia Martins.       

9. A primeira temporada dos "Morangos Com Açúcar"





Mas a grande estreia televisiva de 2003 foi a temporada "Morangos Com Açúcar", a série teen da TVI exibida ao fim da tarde e que rapidamente conquistou o público jovem, tornando-se uma instituição que durou nove temporadas (subdivididas entre a época lectiva e as férias de Verão) sempre com renovações de elenco (e não só) a cada temporada.

Nesta primeira temporada, a história principal era a do triângulo amoroso entre Pipo (João Catarré), Joana (Benedita Pereira) e Ricardo (Diogo Amaral), e o elenco infanto-juvenil tinha nomes como Joana Solnado, Teresa Tavares, Filomena Cautela, Rodrigo Saraiva, Tiago Aldeia, Sofia Arruda, Patrícia Candoso, Manuel Moreira, João Baptista e Daniel Martins, secundados na vertente adulta com nomes estabelecidos como Luís Esparteiro, Helena Isabel, Rita Salema, Guilherme Filipe, Almeno Gonçalves, Dalila Carmo, Carlos Vieira, Rodrigo Menezes e Sofia de Portugal. 

10. O ressurgimento dos programas de cantorias

Os 16 finalistas da primeira Operação Triunfo


Se os reality shows tiveram um certo apagar na televisão portuguesa, nomeadamente com um Big Brother 4 bem aquém das edições anteriores, os talent shows mereceram mais atenção. Na RTP, o ano viu estrear duas edições da "Operação Triunfo", adaptadas do bem-sucedido formato espanhol, apresentadas por Catarina Furtado (com o bordão "P'ró palco!") e que foi um dos primeiros trabalhos em televisão de Daniel Oliveira e Tânia Ribas de Oliveira. A primeira edição foi ganha por Sofia Barbosa e teve entre os concorrentes, Filipe Gonçalves, Edmundo Vieira (futuro D'ZRT), Flora Miranda (a Pipa dos Caricas), Rita Viegas (que entrou na segunda temporada de Morangos Com Açúcar e na telenovela "Jura") e Filipe Santos, que era do Entroncamento, logo quase meu conterrâneo e cheguei a ver na minha cidade panfletos a apelarem no seu voto. A segunda edição, que se estenderia até Janeiro de 2004, não teve um vencedor definido (Sofia Vitória pode ser considerada a vencedora de facto por ter sido a canção dela a escolhida para o Festival da Eurovisão) e nela participaram Francisco Rebelo de Andrade (irmão da fadista Carminho), Fábia Rebordão, Dino D'Santiago (então Dino Pereira) e Paulo Vintém (outro futuro D'ZRT). Tal como na versão espanhola, as canções que os concorrentes cantavam nas galas em cada semana eram depois comercializadas em CD.

Nuno Norte foi o vencedor da primeira edição do "Ídolos"


A alegria de uma muito jovem Luísa Sobral


Por outro lado, após o sucesso de "Pop Idol" no Reino Unido e de "American Idol" nos Estados Unidos, não tardou a que vários países tivessem a sua própria versão da franquia e Portugal não foi excepção, com a SIC a estrear a 5 de Setembro a primeira edição do "Ídolos", que foi ganha por Nuno Norte, com outro entroncamentense, Ricardo Oliveira, em segundo lugar e uma muito jovem Luísa Sobral em terceiro. Nessa edição os apresentadores foram Sílvia Alberto e Pedro Granger e o painel de jurados era composto por Luís Jardim, Manuel Moura dos Santos, Ramón Galarza e Sofia Morais. Logo nessa primeira edição surgiram cromos como Rui Pedro ("Está muito forte, não está?") e Pedro Miranda ("Tomem lá morangos!", que curiosamente chegaria até quase à última fase de audições na segunda edição e mais tarde seria apresentador do "Curto Circuito".) Houve também alguma polémica pelo facto dos primeiros cinco dos dez finalistas que foram eliminados serem todos de raça negra, com os cinco finalistas caucasianos a chegarem ao top 5.      

Também estrearam na televisão portuguesa em 2003: as telenovelas "Saber Amar", "O Teu Olhar" e "Queridas Feras", as séries "Ana E Os Sete" e "Olá Pai!", "Levanta-te E Ri", "O Perfeito Anormal" e "Portugal No Coração", inicialmente conduzido por José Carlos Malato, Maria João Silveira e Merché Romero.  

11. A televisão na terra dos apanhados ricos



Lá fora estrearam séries como "The OC - Na Terra Dos Ricos", "Nip/Tuck", "That's So Raven!", "Dois Homens E Meio", "One Tree Hill", "Arrested Development", "NCIS", "Little Britain", "Mythbusters", e "Cold Case", reality shows como "Newlyweds" e "America's Next Top Model" e Ashton Kutcher começou a apanhar famosos em "Punk'd". 

12. A (não muito) simples ascensão de Paris Hilton
Bisneta do fundador da cadeia de hotéis Hilton, Paris Hilton era uma jovem socialite com algum currículo como manequim. Foi em 2003 Hilton atingiu a fama mundial que, para o melhor e para o pior, a tornaria num dos ícones dos anos 2000, inspirando muitas modas e manifestações de arte e dos media, quer de forma elogiosa, quer em tom pejorativo e de paródia. 

Paris Hilton e a sua chihuahua Tinkerbell

A 2 de Dezembro, estreou nos Estados Unidos "The Simple Life", o reality show em que Hilton e a sua amiga Nicole Ritchie (filha do cantor Lionel Ritchie) viajavam pela América fazendo todo o tipo de trabalhos comuns. Embora as suas personas no programa de duas raparigas ricas e mimadas fora da realidade das gentes comuns e em palpos de aranha para executar as tarefas domésticas e laborais mais simples fossem praticamente ficcionadas, Hilton cultivaria essa imagem em vários aspectos da sua vida pública, alcançando grande notoriedade e fortuna, mas também muito escrutínio derrogatório.  Porém, antes da estreia do programa, surgiu um outro factor que alavancaria a fama de Paris Hilton: uma gravação de 2001 das suas actividades sexuais com o então namorado Rick Solomon que começou a circular pela internet. Essa gravação acabaria por ser comercializada por Solomon em 2004 sob o título "1 Night In Paris".    

13. O último Festival da Eurovisão sem semifinais (e a primeira Eurovisão dos pequenitos)

Sertab Erener trouxe a primeira vitória na Eurovisão
para a Turquia.


O 48.ª Festival da Eurovisão realizou-se a 24 de Maio em Riga, na Letónia, com a participação de 26 países, nomeadamente de Portugal, ausente no ano anterior, e da Ucrânia que se estreava no certame. Foi a última edição antes da introdução das semifinais e a primeira em que o quadro de pontuação actualizava a classificação à medida que os pontos iam sendo anunciados. A Turquia venceu com o tema "Every Way That I Can" interpretado por Sertab Erener, batendo apenas por dois pontos a Bélgica, cuja canção "Sanomi" era cantada numa língua imaginária. A Rússia apostava forte com as tATu, o famigerado duo pseudo-lésbico que na altura estava no auge do seu sucesso internacional, mas ficou-se pelo terceiro lugar. Portugal foi representado por Rita Guerra e a canção "Deixa-me Sonhar (Só Mais Uma Vez)" e ficou em 22.º lugar. O grande desastre foi a prestação do Reino Unido, cuja paupérrima canção "Cry Baby" do duo Jemini (não confundir com os nossos Gemini de "Dai-Li-Dou", claro!) ficou a zeros.  






Foi também em 2003 que teve lugar a primeira edição do Festival da Eurovisão Júnior a 15 de Novembro em Copenhaga. Participaram jovens cantores de dezasseis países, incluindo a Bielorrússia que então ainda não tinha competido na Eurovisão adulta (Portugal só participaria pela primeira vez em 2006), e a vitória foi para a Croácia na voz do jovem Dino Jelusic de 11 anos

14. Portugal organizou eventos desportivos à escala mundial
Um ano antes do Euro 2004, em 2003 Portugal testou a sua habilidade de receber eventos desportivos à escala global. 

A Croácia sagrou-se campeã mundial de andebol em Portugal

De 20 de Janeiro a 2 de Fevereiro, 24 países disputaram o Campeonato Mundial de Andebol com nove cidades portuguesas a receberem jogos: Caminha, Espinho, Funchal, Guimarães, Póvoa do Varzim, Rio Maior São João da Madeira, Viseu e, nos jogos finais, Lisboa. Na final, a Croácia bateu a Alemanha por 34-31 e a França derrotou a Espanha por 27-22 para o terceiro lugar. Portugal ficou em 12.º lugar. Os outros países participantes foram Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Austrália, Brasil, Dinamarca, Egipto, Eslovénia, Groenlândia, Hungria, Islândia, Jugoslávia, Kuwait, Marrocos, Polónia, Qatar, Rússia, Suécia e Tunísia.   



Uma exibição portuguesa na Gymnaestrada 2003


De 20 a 26 de Julho, Lisboa recebeu a 12.ª Gymnaestrada Mundial. Este evento não competitivo reuniu mais de 25 mil participantes de todas as idades, vindos de 47 países, e que realizaram mais de mil exibições dos diversos tipos de ginástica em vários pontos da capital e dos concelhos limítrofes. A edição de este ano realizar-se-á em Amesterdão e em 2027, Lisboa voltará a receber o evento.

Em termos desportivos, Portugal conquistou mais um título mundial em hóquei em patins no campeonato disputado em Oliveira de Azeméis e subiu sete vezes ao pódio no Festival Olímpico da Juventude Europeia em Paris, com destaque para os futuros atletas olímpicos Tiago Venâncio (ouro nos 50 e 100m livres), Liliana Cá (ouro no lançamento do disco), Arnaldo Abrantes (prata nos 110m barreiras) e Diana Gomes (bronze nos 200m bruços). 

15. O princípio das redes sociais e das lojas de música online 



Na altura ainda reinava a terra de ninguém em termos de obter música online, mas foi em 2003 que foi aberta a iTunes Store e o Napster tornou-se um site legal de música.
Foi em Agosto de 2003 que foi lançado o MySpace, que se tornaria a primeira rede social a ter uma audiência global, chegando a ser a maior delas entre 2005 e 2008, até que foi ultrapassada pelo Facebook. (Em 2019, o site registou apenas sete milhões de visitas.) 

16. Um prenúncio da COVID-19



Em Março de 2003 foi lançado um alerta global devido à epidemia de síndrome respiratória aguda grave (SARS), causada pelo coronavírus SARS-CoV. A doença tinha sido identificada pela primeira vez em Novembro de 2002 na cidade chinesa de Foshan. Foram detectados mais de 8000 casos e 774 mortes em 29 países devido à doença. Em Julho, a Organização Mundial de Saúde declarou que a epidemia estava contida, mas mais casos foram detectados até Maio de 2004.

17. Outros acontecimentos



- Na sequência do caso Casa Pia, Carlos Cruz é detido pela polícia quando se deslocava para o Algarve com a sua esposa Raquel Rocheta e a filha de ambos. Numa daquelas ironias da vida, a detenção ocorreu a 1 de Fevereiro, ou seja a 1/2/03.  
- A dominicana Amelia Vega e a irlandesa Rosanna Davidson são coroadas respectivamente Miss Universo e Miss Mundo. Curiosamente, ambas tinham ligações familiares à música pois Vega é sobrinha de Juan Luis Guerra, o cantor de "Borbujas De Amor", e Davidson filha do cantor Chris DeBurgh e da sua esposa Diane, a "Lady In Red".
- Luís Inácio "Lula" da Silva assume o seu primeiro mandato na Presidência do Brasil, cargo que ocupará até 2010 e ao qual regressa em 2023.
- Arnold Schwarzenegger foi eleito Governador do estado da Califórnia, cargo que ocupou até 2011. 
- A República Federal da Jugoslávia passou a ser denominada oficialmente como Sérvia & Montenegro, designação que manteve até 2006, quando o Montenegro declarou independência.
- A surfista americana Bethany Hamilton, de 13 anos, sofreu um ataque de um tubarão que lhe arrancou o braço esquerdo. Mas um mês depois, Hamilton voltou a surfar e  no ano seguinte publicou um livro contando a história do ataque e da sua luta pela sobrevivência que foi adaptado a um filme em 2011. Bethany Hamilton ainda hoje é surfista profissional e tem três filhos.  


18. O FCP de Mourinho reinou supremo






No futebol, o Futebol Clube do Porto comandado por José Mourinho estava em fase imperial, vencendo o campeonato, a Taça de Portugal (derrota ao União de Leiria) e sobretudo conquistando a Taça UEFA em Sevilha frente ao Celtic de Glasgow (3-2), tornando-se assim a primeira equipa portuguesa a conquistar o troféu. Já a final nacional da Liga dos Campeões em Manchester foi um despique 100% italiano com o AC Milan a bater a Juventus nas grandes penalidades. 

A festa dos sub-17 campeões europeus
(com uns muito jovens Miguel Veloso e João Moutinho)

Portugal acolheu o Europeu de Sub-17 nos distritos de Vila Real e Viseu, vencendo na final a Espanha por 3-2 numa equipa que tinha nomes como João Moutinho, Miguel Veloso, Carlos Saleiro e Vieirinha. Mais problemática foi a participação de Portugal no Mundial da mesma categoria etária na Finlândia meses mais tarde, com praticamente a mesma equipa: contra o Iémen vitória suada (4-3), contra o Brasil derrota por chapa cinco, contra os Camarões um chocante empate (5-5, quando Portugal chegou a estar a ganhar por 5-0!) e eliminação clara nos quartos-de-final pela Espanha (2-5)!  

19. A contagem decrescente para o Euro 2004



A caminho do Euro 2004, os novos estádios foram sendo inaugurados e a Selecção Nacional foi fazendo vários jogos particulares. Destaque para quatro jogos: a vitória ao Brasil por 2-1 ainda no antigo estádio das Antas que marca a estreia de Deco (que marcou um dos golos contra o seu país de nascença) e onde a mascote Kinas foi apresentada; o difícil empate com a Grécia (1-1) na inauguração do Estádio de Aveiro, um sério aviso do que viria aí (mas que, claro, ninguém ouviu); a goleada 8-0 contra o Kuwait na inauguração do Estádio Magalhães Pessoa em Leiria; e uma soporífera vitória por 1-0 contra o Cazaquistão em Chaves, que ficaria na história por marcar a estreia na Selecção A de um certo Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro.

Os grupos do Euro 2004


Entretanto ficaram-se a conhecer as outras quinze seleções que viriam disputar cá o título europeu: Alemanha, Bulgária, Dinamarca, França, Grécia, Inglaterra, Itália, República Checa, Suíça e Suécia venceram os respectivos grupos de qualificação enquanto Espanha, Croácia, Letónia, Países Baixos e Rússia apuraram-se nos play-offs. Destaque para os afastamentos da Turquia, terceira classificada do Mundial de 2002, no que devia ser um play-off fácil contra a Letónia, e do País de Gales de Ryan Giggs que deu dificuldades à Itália no seu grupo (e creio que não minto ao afirmar que a maioria dos portugueses preferia ver cá a jogar em vez da Rússia que bateu os galeses no play-off). A 30 de Novembro realizou-se o sorteio dos quatro grupos que ditou que Grécia, Espanha e Rússia estariam no grupo de Portugal. 

20. O início da lenda de CR7 na inauguração do novo Alvalade






Desde menino e moço que Cristiano Ronaldo fazia abrir bocas de espanto com o seu talento com uma bola nos pés e com apenas 18 anos, já se fizera notar na equipa principal do Sporting e nas selecções das camadas jovens (esteve na equipa que venceu a edição de 2003 do prestigiado torneio de Toulon). Em 2003, vários grandes clubes europeus já o tinham debaixo de olho, nomeadamente o Manchester United, mas o plano era o jovem madeirense jogar pelo menos mais uma época no Sporting antes de dar o salto internacional. Mas o jogo de inauguração do novo Estádio de Alvalade a 6 de Agosto (onde Dulce Pontes cantou pela primeira vez "O Amor A Portugal") mudou esse plano. 

Sir Alex Ferguson com o jovem Ronaldo


O Sporting bateu o Manchester United por 3-1, com um golo de Luís Filipe e dois de João Vieira Pinto, mas foi Cristiano Ronaldo quem mais brilhou, com John O'Shea incapaz de lhe marcar e os jogadores do Manchester de queixo caído diante do repertório de dribles daquele rapaz. Segundo a biografia de Sir Alex Ferguson, ao intervalo este já pedia a Peter Kenyon (então director desportivo dos Red Devils) para não se irem embora sem contratar aquele rapaz. Dias depois, após uma venda de 17,35 milhões de euros, Ronaldo rumava a Old Trafford e o resto é história…   

E vós, caros leitores e amigos da Enciclopédia de Cromos, que memórias guardam do ano de 2003? Que acontecimentos e factos se lembram e que não foi mencionado neste artigo? Para todos vós, um feliz ano novo!


Remember 2003:

domingo, 18 de dezembro de 2022

Compilação Número Um (1992)

Por esta altura, gostamos de analisar os alinhamentos colectâneas de êxitos e esta é sem dúvida que merece uma análise. Após o lançamento do primeiro volume em finais do ano anterior, em 1992 a série de colectâneas "Número Um" teve mais dois volumes, um CD/LP editado no Verão e um duplo volume pensado para o mercado natalício. Eu na altura ainda não tinha aparelhagem, nem sequer um rádio com cassetes, senão provavelmente queria ter este volume da série, já que está recheado dos maiores sucessos do ano de 1992. 


O terceiro volume da série "Número 1" foi editado pela EMI - Valentim de Carvalho e na versão CD continha trinta e uma faixas.  E o anúncio televisivo já aguçava o apetite:




CD1
1. Too Much Love Will Kill You - Brian May: Sabiam que além de guitarrista dos Queen, Brian May é um cientista especializado na astrofísica? Em 1992, May tinha editado o álbum a solo "Back To The Light", que incluía esta balada na qual ele reflectia sobre o fim do seu primeiro casamento. A canção foi inicialmente gravada para o álbum "The Miracle" dos Queen (1989), mas foi posta de lado porque foi dada preferência aos temas compostos em conjunto pela banda. A versão dos Queen interpretada por Freddie Mercury acabou por ser incluída no álbum póstumo "Made In Heaven" (1995) e lançada como o quarto single. 
2. How Do You Do! - Roxette: Por esta altura, os Roxette eram incontestavelmente a banda sueca de maior sucesso mundial pós-ABBA. Nesse ano de 1992, o duo editou o álbum "Tourism" que reunia temas gravados ao vivo e outros temas inéditos gravados durante a digressão do álbum "Joyride". Por exemplo, incluía duas canções gravadas num quarto de hotel em Buenos Aires. O single de apresentação foi "How Do You Do!", gravado em Estocolmo, e que rapidamente se tornou mais um dos hits incontornáveis dos Roxette, chegando ao n.º 1 dos tops na Noruega e na Espanha. Lembro-me que na altura, era uma das canções mais utilizadas nos concursos de dança na minha escola do 2.º ciclo. 
3. Good Stuff - The B'52s: Gozando um renovado sucesso graças aos hits "Love Shack" e "Roam" e à participação da vocalista Kate Pierson em "Shiny Happy People" dos R.E.M. (que vinham da mesma cidade: Athens, no estado americano da Geórgia), os The B-52's lançaram o álbum "Good Stuff", o único em que não participou a outra vocalista Cindy Wilson, que fez uma pausa para se dedicar à família. A faixa-título foi o single de lançamento e é uma das minhas preferidas da banda. Recordo-me do videoclip psicadélico, que foi um dos últimos utilizados pela RTP como tapa-buracos na programação. 
4. It's My Life - Dr. Alban: Quando o nigeriano Alban Nwapa foi estudar medicina dentária para a Suécia e começou a fazer alguns biscates como DJ e rapper para pagar os estudos e mais tarde a sua clínica, estava longe de imaginar que se tornaria toda uma estrela internacional graças a hits como "Hello Afrika", "Sing Hallelujah" e sobretudo "It's My Life", com o seu triunfante refrão sing-along. Na produção estava Denniz Pop, que depois também produziria sucessos para nomes como Ace Of Base e Backstreet Boys.  
5. One - U2: Assim reza a lenda: esgotados por todo o sucesso e promoção dos álbuns "The Joshua Tree" e "Rattle And Hum", os U2 chegaram a Berlim em 1990 na vésperas da reunificação da Alemanha em busca de inspiração para o álbum seguinte, mas em vez disso as tensões e as divergências criativas entre a banda só se exacerbaram ainda mais, ao ponto de uma ruptura estar iminente. Até que uma progressão de acordes de The Edge em guitarra acústica captou a atenção de todos e o produtor Daniel Lanois sugeriu tentarem trabalhar uma canção à volta disso. Como que intervenção divina, Bono Vox tem logo uma ideia para a letra e a melodia e com todos em sintonia, surge uma canção que lhe deu um alento e uma nova direção para aquele que seria o álbum "Achtung Baby" de 1991. Essa canção era "One" que foi o terceiro single e rapidamente se tornou uma das canções mais emblemáticas da banda. "One" teve três videoclips: o mais conhecido é o de Bono Vox a fazer lispync sentado numa mesa de restaurante; há ainda outro filmado em Berlim com alguns planos dos membros da banda vestidos em drag e do pai de Bono e um com imagens de búfalos a corrererem em câmara lenta, a partir da fotografia da capa do single (o autor da fotografia, David Wojnarowicz, morreu de SIDA meses depois da edição do single, sendo essa uma das razões pelas quais todas as vendas de "One" reverteram na luta contra a doença). "One" é também uma das canções mais versionadas do U2, tendo sido gravada por nomes tão díspares como Mica Paris, Johnny Cash, Pearl Jam, Vanessa Paradis e Joe Cocker. Em 2006, os U2 regravaram uma versão em dueto com Mary J. Blige. Recordo ainda a versão em fusão com "(I Wish I Knew How It Would Feel To Be) Free" de Nina Simone que os Lighthouse Family lançaram em 2001.     
6. Não Sou O Único - Resistência: Originalmente uma faixa do mítico álbum "Circo De Feras" dos Xutos & Pontapés, "Não Sou O Único" foi o primeiro single do álbum "Palavras Ao Vento" do supergrupo Resistência, que reunia nomes como Tim, Miguel Ângelo, Pedro Ayres Magalhães e Olavo Bilac e desde então que rivaliza com o original como a versão mais popular, assim como o outro hit do disco, a versão de "Nasce Selvagem". Ainda em 1992, os Resistência lançaram um segundo álbum "Mano A Mano". 
7. Walking On Broken Glass - Annie Lennox: Com as tensões entre ela e Dave Stewart a chegarem ao ponto de rutura dos Eurythmics em 1990, a escocesa Annie Lennox estreava-se a solo em 1992 com álbum "Diva". Este "Walking On Broken Glass" foi o segundo single e teve um marcante videoclip com a estética do século XVIII e a participação de John Malkovich e Hugh Laurie. 
8. Sleeping Satellite - Tasmin Archer: Segundo a própria Tasmin Archer, "Sleeping Satellite" foi escrita em 1989 por alturas do 20.º aniversário da aterragem na Lua por Armstrong, Aldrin e Collins, com a letra a reflectir sobre os avanços da Humanidade e da tecnologia e se algo importante se perdeu no processo. Após Archer assinar contrato com a EMI em 1990, a canção foi lançada como single de apresentação do álbum "Great Expectations" e rapidamente chegou ao n.º1 do top britânico. Tasmin Archer editou desde então mais três álbuns (o mais recente "On" em 2006) mas nunca mais se aproximou do sucesso de "Sleeping Satellite" que no entanto permanece como um intemporal clássico dos anos 90. 
9. Rhythm Is A Dancer - Snap!: Poder-se-ia pensar que o colectivo alemão Snap! nunca superaria o estrondoso sucesso do hit de 1990 "The Power", foi o que alcançaram em 1992 quando "Rhythm Is A Dancer" dominou as pistas de dança e as ondas de rádio em todo ao mundo, atingindo o n.º 1 dos tops do Reino Unido (onde esteve no topo durante seis semanas), Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Irlanda, Israel, Países Baixos, Suíça e Zimbabwe e chegando ao top 5 nos Estados Unidos. Se o refrão cantado por Thea Austin é absolutamente estrelar, já a parte rap interpretada por Turbo B tem sido muito criticada pelo verso "I'm serious as cancer when I say rhythm is a dancer". No Brasil, o tema ficaria associada ao strip-tease masculino porque era muito utilizado nas cenas da telenovela "De Corpo E Alma" que se passavam num clube de strip masculino. Novas versões de "Rhythm Is A Dancer" foram editadas em 1996, 2003 e 2008.       
10. Humpin' Around - Bobby Brown: Desde menino e moço que Robert Barisford Brown está na ribalta, primeiro como parte do grupo New Edition e depois numa carreira a solo iniciada em 1988. Em 1992, Brown lançou o seu terceiro álbum a solo "Bobby", do qual "Humpin' Around" foi o single de apresentação. Mas mais do que a sua música, foi o seu casamento com Whitney Houston que fez Bobby Brown ser notícia nesse ano. 
11. Vida De Marinheiro - Sitiados: Foi uma canção dos Mão Morta, que a banda ainda sem nome viu o título escrito numa maquete, que denominou a banda nacional com o mais triunfante hit de estreia de 1992. Com uma poderosa fusão de rock e sonoridades folclóricas (a fazer lembrar uns Pogues à portuguesa) e as figuras carismáticas do líder João Aguardela e da acordeonista Sandra Baptista, o álbum homónimo dos Sitiados fez grande sucesso, muito por culpa do hit "Vida De Marinheiro" que em 1992 andou na boca de toda a gente. Os Sitiados editariam mais quatro álbuns ao longo dos anos 90, até se separarem no ano 2000. João Aguardela dedicou-se então a outros projectos como Megafone, A Naifa e Linha Da Frente até infelizmente falecer de cancro em 2009 com somente 39 anos.           
12. Ain't No Doubt - Jimmy Nail: O actor e cantor Jimmy Nail teve em 1992 um pico na sua carreira quando este "Ain't No Doubt", influenciado pelo New Jack Swing americano, chegou ao n.º 1 do top britânico. Em Portugal, o papel de mais conhecido de Jimmy Nail como actor será provavelmente o de Agustín Magaldi em "Evita" (1996) ao lado de Madonna.  
13. Feels Like Forever - Joe Cocker: O primeiro volume do Número Um em 1991 incluía a faixa-título do álbum "Night Calls" de Joe Cocker. No ano seguinte, o álbum foi reeditado com alguns temas inéditos incluindo este "Feels Like Forever", escrito por Bryan Adams e Diane Warren. 
14. Disappointed - Electronic: Os Electronic era um super-projecto composto por Bernard Sumner dos New Order e Joy Division, Johnny Marr dos The Smiths e Neil Tennant e Chris Lowe dos Pet Shop Boys. O primeiro single deste colectivo foi "Getting Away With It" em 1989 mas só em 1991 surgiu o álbum homónimo. Tennant e Lowe abandonaram o projecto em 1994, mas os Electronic continuaram até 1999, com mais dois álbuns, onde colaboraram nomes como Karl Bartos dos Kraftwerk. Este "Disappointed" foi um single à parte, que viria a ser incluído na banda sonora do filme "Cool World" e acabou por ser o mais bem-sucedido dos Electronic em termos de tabelas de vendas chegando ao n.º 6 do top britânico e, segundo diz a Wikipedia, ao n.º 8 em Portugal.   
15. Take A Chance On Me - Erasure: Em 1992, fazia dez anos que os ABBA tinham iniciado um longo interregno (apenas quebrado em 2021). Porém esse ano é considerado o ano da redescoberta do quarteto sueco, com o lançamento da colectânea campeã de vendas "ABBA Gold" mas, antes disso, com o EP "Abba-Esque" dos Erasure, onde o duo britânico versionou quatro canções dos ABBA: "S.O.S.", "Voulez-Vous", "Lay All Your Love On Me" e "Take A Chance On Me". A promoção incidiu mais sobre esta última, com um inesquecível videoclip com Andy Bell e Vince Clarke transvestidos de Frida Lynstaad e Agnetha Faltskog e um rap de MC Kinky. O EP foi n.º 1 em vários países europeus, incluindo no Reino Unido. Mais tarde, os Bjorn Again, a mais famosa banda de tributo aos ABBA, lançaram um single intitulado "Erasure-ish" com duas versões de canções dos Erasure.   
16. Hazard - Richard Marx: Conhecido pelas suas baladas e temas soft-rock, terá sido surpreendente para os fãs de Richard Marx saber do tema mais tétrico do segundo single do álbum "Rush Street", contando a história de um homem ostracizado na cidade titular do Nebraska que é acusado da morte de Mary, a jovem com quem tinha uma relação de amizade (ou algo mais). O narrador declara a sua inocência ao longo da canção, mas foca-se sobretudo no facto de desde criança as gentes da cidade lhe tratarem como um pária, deixando o mistério da morte em aberto. O mistério e negrume da canção estão presentes no famoso videoclip a preto e branco. 

CD2
1. Sangue Oculto - GNR: Trinta anos antes de dar título a uma telenovela da SIC com Sara Matos a fazer de não sei quantas gémeas, "Sangue Oculto" foi um dos maiores hits nacionais de 1992. Se o Grupo Novo Rock já contava então com mais de uma década de sucesso no activo, o álbum "Rock In Rio Douro" catapultou Rui Reininho e companhia para um pico de popularidade quase inaudito, multiplicando discos de platina e culminando num concerto no Estádio de Alvalade para 40 mil pessoas, na altura a maior audiência de sempre de um concerto de uma banda portuguesa. "Sangue Oculto" contava com a participação de Javier Andreu, vocalista da banda espanhola La Frontera, sendo pois cantada em português e castelhano, e tenho de admitir que gostava mais do refrão cantado por Andreu ("al huir de una investida/ es como saltar una hoguera/ la barrera de fuego una frontera").     
2. Lobo-Hombre En Paris - La Unión: E continuando na língua de Cervantes, os La Unión foram uma das bandas mais importantes do rock espanhol dos anos 80. Porém cá deste lado da Península o seu momento mais notório foi precisamente em 1992 com o álbum ao vivo "Tren De Largo Recorrido", gravado num concerto em La Coruña, que finalmente deu a conhecer ao público português o tema mais embelmático da banda, "Lobo-Hombre En Paris", originalmente editado em 1984. (Desconheço se a versão incluída nesta compilação é a original ou a gravada ao vivo.) Os La Unión continuaram activos por mais anos, mas em 2020 o vocalista Rafael Sanchez anunciou o fim da banda e o início de uma carreira a solo, mas o baixista Luis Bolín ainda actua sob o nome de La Unión. Em Abril deste ano, o guitarrista Mario Martinez faleceu de cancro da laringe. 
3. Jesus He Knows Me - Genesis: O álbum "We Can't Dance" dos Genesis (que ainda hoje é o penúltimo da banda e o último com Phil Collins) continuava em alta e o quarto single era uma paródia aos tele-evangelistas, precisamente numa altura em que vários deles estavam a ser investigados por todo o tipo de falcatruas devido à vida de luxo obtida à custa das doações dos fiéis. 
4. Damn I Wish I Was Your Lover - Sophie B. Hawkins: Provavelmente um dos primeiros hits globais explicitamente sobre o amor e desejo sexual de uma mulher por outra (sendo que esta está numa relação abusiva com outrem) foi o tema que lançou a carreira da cantora e compositora americana Sophie B. Hawkins (o B é de Ballantine), que se define a si própria como omnisexual. Hawkins teve mais alguns temas de sucesso nos anos seguintes como "Right Beside You" e "As I Lay Me Down To Sleep".     
5. Tão Só - Sétima Legião: A banda de "Sete Mares" e "Por Quem Não Esqueci" lançou em 1992 o álbum "O Fogo", de onde foi extraído este "Tão Só". Os Sétima Legião regressariam para mais um álbum ao vivo, "Auto da Fé" (1994) e outro de estúdio, "Sexto Sentido" (1999), antes de terminarem em 2000 com um disco best-of. 
6. Baker Street - Undercover: Depois de ter ficado famosa por ser a rua da residência de Sherlock Holmes, Baker Street em Londres deu título a um tema do escocês Gerry Rafferty de 1978. O tema contém um dos mais lendários solos de saxofone da história da música pop, tocado por Raphael Ravenscroft e foi um hit em todo ao mundo, chegando ao n.º dos tops da África do Sul, Austrália e Canadá. Em 1992, o trio britânico Undercover lançou uma cover eurodance de "Baker Street" que chegou ao n.º 2 do top britânico (o original foi até ao n.º 3). Um dos membros dos Undercover é Steve McCutcheon, ou Steve Mac, que mais tarde viria a tornar-se um importante compositor e produtor.     
7. Too Funky - George Michael: "Too Funky" foi uma das faixas destinadas ao segundo volume do álbum "Listen Without Prejudice" de George Michael, mas com o cantor embrenhado numa disputa legal com a Sony Music, esse disco nunca se materializou. Em vez disso, foi um dos três temas que George Michael entregou para a colectânea "Red Hot + Dance", cujas vendas revertiam a favor da pesquisa e da luta contra a SIDA, e que também incluiu temas de artistas como Madonna, Lisa Stansfield e Seal. "Too Funky" é célebre pelo seu videoclip passado num exubertante desfile de moda do criador Thierry Mugler e que tinha a participação de top models famosíssimas como Linda Evangelista, Tyra Banks, Estelle Hallyday, Eva Herzigova e Nadja Aumermann. (Menos famosa mas para mim a mais impactante no vídeo era Emma Sjöberg com o seu corpete com manípulos e espelhos de mota!) Existe também um videoclip alternativo, realizado pelo próprio Mugler, em que aparecem os futuros actores Justin "Alex Karev" Chambers e Djimon Honsou.  
8. Jump - Kris Kross: Chris Kelly e Chris Smith, que é como quem diz Mac Daddy e Daddy Mac, que é como quem diz, Kris Kross, tinham somente treze anos quando em 1992 alcançaram um hit global e um clássico do hip hop com "Jump", que entre outros momentos de ribalta, os levou a actuarem na digressão Dangerous de Michael Jackson. Os Kris Kross editariam mais dois álbuns. Chris Kelly faleceu em 2013 com apenas 34 anos.  
9. Ellegibo (Una História de Ifa - Ejigbo) - Ellegibo: Originalmente gravado pela cantora brasileira Margareth Menezes, "Elegibô (Uma História de Ifa - Ejigbo)" ficou conhecido pela sua inclusão na banda sonora do filme "Orquídea Selvagem". Eu recordo-me depois que em 1992, foi utilizado no anúncio a uma bebida (não me recordo qual), o que levou a uma versão eurodance de produção espanhola sob o nome Ellegibo, que foi n.º 1 do top espanhol durante seis semanas e cujo sucesso se estendeu à pistas de dança deste lado da fronteira. 
10. Tudo Ou Nada - Zero: João Loureiro ainda estava a cinco anos de assumir pela primeira vez a presidência do Boavista, pelo que na altura ainda era mais conhecido por ser o vocalista dos Ban. Após o álbum "Mundo de Aventuras", três elementos da banda viraram as agulhas para outro projecto, os Zero com ex-GNR Alexandre Soares, do qual resultou um álbum homónimo e o hit "Tudo Ou Nada".  
11. Heading For A Call - Vaya Con Dios: Após o sucesso do álbum "Night Owls" de 1990 que continha dois do maiores hits dos Vaya Con Dios, "What's A Woman" e "Nah Neh Nah", a banda belga passou por um período crítico em 1991 quando o membro fundador Dirk Schoofs deixou a banda em diferendo com a vocalista Dani Klein, acabando por morrer pouco tempo depois. Com os Vaya Con Dios a se tornarem basicamente um projecto de Klein acompanhada por vários músicos, 1992 viu a edição do álbum "Time Flies" do qual este "Heading For A Fall" foi o single de apresentação. Os Vaya Con Dios continuariam até 2014 mas regressaram para mais um disco em 2022.  
12. Sympathy - Marillion: Para comemorar dez anos de existência, os Marillion lançaram o seu álbum best of "A Singles Collection", que continha doze dos singles da banda britânica e mais dois temas inéditos. Nos Estados Unidos, o disco teve o título "Six Of One, Half-Dozen Of The Other", indicando que seis singles eram da era liderada por Derek "Fish" Dick que deixou o grupo em 1988 (que conteve os hits "Kayleigh" e "Lavender" e a outra meia dúzia eram da era com Steven Hogarth como vocalista (função que mantém até hoje). Um dos temas inéditos era este "Sympathy", originalmente gravado pelos Rare Bird in 1970
13. What God Wants Part 1 - Roger Waters: Sobretudo conhecido como baixista e principal letrista dos Pink Floyd, sendo portanto preponderante na criação de álbuns tão lendários como "The Dark Side Of The Moon", "Wish You Were Here" e "The Wall", em 1983 Roger Waters deixou a banda para uma carreira a solo, cujo maior sucesso comercial foi com o terceiro álbum "Amused To Death", que contou com colaborações de nomes como Jeff Beck, Patrick Leonard, Randy Jackson e Rita Coolidge do qual este "What God Wants - Part 1" (existem mais duas partes) foi o single de apresentação e o único tema  a solo de Waters a chegar ao top 40 britânico. 
14. America: What Time Is Love - KLF: Depois de terem sido o mais bem-sucedido colectivo electro-dance britânica do início dos anos 90, os KLF terminaram em 1992 literalmente um estrondo, com uma actuação nos Brit Awards onde foi disparada pólvora seca de uma metralhadora. "What Time Is Love?" teve três versões diferentes, sendo a mais conhecida aquela intitulada como "America: What Time Is Love" que contou com a voz de Glenn Hughes, que integrou bandas como Deep Purple e Black Sabbath. 
15. O Hábito Faz O Monstro - Rádio Macau: O álbum "A Marca Amarela", do qual este "O Hábito Faz O Monstro" foi a faixa de maior destaque, encerrou o primeiro capítulo da vida dos Rádio Macau, com Xana e Flak a seguirem projectos a solo antes de regressarem com novo disco em 2000 e uma nova sonoridade.   

Playlist com as 31 canções:

sábado, 3 de dezembro de 2022

O Jogo do Stop e o Scattergories

Há dias eu apercebi-me que a última vez que joguei ao Stop foi em 2011: foi durante uma escapadinha de fim-de-semana prolongado entre amigos no Algarve. Não sei bem como é que nunca mais joguei este jogo nos últimos onze anos, basicamente nunca mais se proporcionou a ocasião por entre as vicissitudes da vida adulta e quando eu tinha vontade, não tinha com quem jogar. O que me entristeceu um pouco pois foi sempre um dos meus jogos preferidos da infância e adolescência, e que me lembro de jogar praticamente desde que aprendi a escrever. 



Certamente que todos os que estão a ler este texto conhecerão o Jogo do Stop pelo que não me vou demorar a explicar as regras básicas, ainda que muitas regras variassem consoante os grupos. Com a minha família e amigos, convencionou-se que a pontuação seria de 5 pontos para quem desse a mesma resposta válida numa das categorias, 10 pontos para respostas válidas diferentes e 20 pontos para quem tinha uma resposta numa categoria mas o(s) adversário(s) não tinha(m) qualquer resposta válida. Eu tinha o especial cuidado de clarificar o que era válido em cada categoria, perguntando por exemplo ao(s) meu(s) parceiro(s) de jogo se em "Cidades" só valiam cidades portuguesas ou se podiam ser incluídas cidades estrangeiras, ou até mesmo se tinham de ser mesmo cidades ou se podiam ser vilas ou aldeias. Também ocasionalmente eu tentava que o K, o W e o Y fossem incluídos no jogo, pelo menos no momento em que um dos jogadores recitava mentalmente o abecedário, mas por razões óbvias, era raro alguém aceitar essa sugestão. 

Com o tempo, fui aprendendo a utilizar algumas respostas fora do mais óbvio: por exemplo, Bolívia nos países com B quando os outros escreviam Brasil ou Bélgica, Covilhã nas cidades com C quando Coimbra era a reposta mais frequente ou Turquesa quando os outros se debatiam para achar cores com T. As minhas categorias preferidas eram os Países e os Nomes e as que gostava menos era as de Cores e de Frutos por não haver grande variedade de resposta. Por vezes, tentava convencer a mudar o nome de categoria para Comida, só para alargar as repostas para além da frutaria (mas não-raro, insistiam de que só podia ser frutos).

Claro que os momentos mais caricatos do jogo era quando alguém se afoitava a dar uma resposta fora de mão, na esperança que fosse validada. Isso era sobretudo frequente nas Cores, onde não faltava quem tentasse considerar Ferrugem, Ouro, Tabaco ou Malhado como cores, ou até inventassem nomes como Fumé (um primo meu alegava que viu essa "cor" numa embalagem de collants). Recordo ainda que certa vez outro primo meu insistiu que Palhavã deveria ser considerada como cidade! Eu próprio por vezes não conseguia convencer a aceitarem Cru como cor, embora eu visse esse tom de branco amiúde nos catálogos da La Redoute, ou que mesmo antes do colapso da União Soviética, havia outro país europeu começado por L que não Luxemburgo, embora na altura eu não soubesse pronunciar ou escrever correctamente Liechtenstein (dizia "Lichisten" ou algo que valha).  


Em 1988, o Jogo do Stop foi elevado a outro nível quando foi convertido num jogo de tabuleiro sob o nome Scattergories, comercializado pela MB (actual Hasbro). O jogo incluía folhas com as diferentes categorias que geralmente eram mais específicas que as do Jogo do Stop convencional (por exemplo, "raças de cães", "objetos metálicos") e espaços para escrever as respostas, pastas para esconder as folhas, um cronómetro e um dado com 20 das 26 letras do alfabeto. (Se não estou em erro, na versão portuguesa o dado não incluía as letras K, Q, W, X, Y e Z.)  



Em Portugal, o Scattergories foi lançado no mercado em 1992 e o anúncio depressa se tornou mítico. Nele o dono do jogo submete os seus amigos aos seus caprichos, como ameaçar ir-se embora com o jogo quando não leva a sua avante ou de obrigá-los a aceitar respostas mirabolantes. ("Sim, aceitamos barco." "Como animal aquático?"/"Um animal de companhia a começar por P? "Uma pulga!") 


Posteriormente, houve uma nova dobragem do anúncio com algumas alterações; por exemplo a voz feminina que dizia "É giro, giro, giro, giro!", diz agora "É tão divertido!"

O diálogo da versão portuguesa era praticamente decalcado da versão espanhola com a diferença que o animal de companhia começado por P era um "pulpo" (polvo) e não uma pulga.


 E já agora eis o anúncio original americano. 


(Cá para mim, que ninguém nos ouve, mais valia aquelas pessoas fazerem uma vaquinha para comprarem um jogo só para elas, em vez de ficarem refém dos caprichos do caixa-de-óculos.) 

Eu tive uma versão abreviada do Scattergories quando eu fiz uma coleção do Planeta Agostini com jogos de tabuleiro. Entretanto surgiram novas variantes, como uma versão em jogo de cartas ou em jogo de computador e online, bem como uma versão do Stop concebida e distribuída pela portuguesíssima Majora.
No entanto, pelo menos em Portugal, creio que o bom velho Stop a papel e caneta continua a ser mais popular. 


E vocês? Que memórias têm dos vossos jogos do Stop e/ou do Scattergories? Contem tudo nos comentários.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O Mundo Dos Fraggles (1983-87)

 Como se não bastasse os Marretas e a Rua Sésamo, Jim Henson criou mais um universo extraordinário de bonecada que alegrou miúdos e graúdos. Falo é claro de Fraggle Rock, que em Portugal passou na RTP com o título "O Mundo Dos Fraggles".
A série teve 97 episódios distribuídos por cinco temporadas exibidas nos Estados Unidos entre 1983 e 1987. Não sei exactamente quando a primeira temporada estreou em Portugal, (presumo que em 1984) mas sei que era exibida nas tardes do fim de semana. Porém, consegui descobrir através do arquivo do Diário de Lisboa que a segunda temporada estreou a 13 de Abril de 1985 e os quatro primeiros episódio passaram ao sábado mas após um interregno de duas semanas, os restantes episódios passaram aos domingos. (Este vídeo de locução de continuidade de 14 de Julho de 1985 indica a exibição da série para essa tarde.) Calculo que as restantes temporadas foram posteriormente exibidas nos espaços infanto-juvenis da RTP. 

A série narrava as aventuras de um mundo onde coabitam três diferentes espécies de criaturas: os Fraggles, os Doozers e os Gorgs.

Red, Wembley, Mokey, Gobo, Boober e um Doozer


Os Fraggles são criaturas coloridas e divertidas que habitam numa comunidade a que chamam Fraggle Rock e que privilegiam a diversão e a boa-disposição ao trabalho e à seriedade. No entanto, embora por vezes as coisas fiquem algo caóticas, existe um mínimo de ordem social entre os Fraggles que os impede de viver de forma totalmente irresponsável. A série segue sobretudo um grupo de cinco amigos Fraggles: Gobo, o líder não-oficial, é aventureiro, corajoso e sensato (tanto quanto um Fraggle pode ser) e admira o seu tio Travelling Matt que se aventurou para o mundo exterior ao rochedo e adora receber os postais dele; Mokey tem um certo espírito hippie, é artística e sensível embora por vezes seja alvo de troça por causa disso; Wembley é o mais jovem e o mais amável do grupo, mas também é super indeciso e nervoso; Boober é o mais melancólico e ao contrário dos outros Fraggles, prefere dedicar-se ao seu trabalho de lavar as roupas dos Fraggles, sobretudo meias (embora eles nunca as usem) do que alinhar em aventuras, mas também é bastante inteligente e é aquele a quem os outros recorrem quando precisam de algum tipo de curativo; e Red, energética, aventureira e muito amiga dos seus amigos, embora também goste por vezes de fazer troça deles. (A minha mãe dizia sempre que os totós da Red pareciam duas esfregonas.)

Os Doozers



Os Gorgs

Ao contrários do Fraggles, os Doozers dedicam-se quase inteiramente aos seus trabalhos, sobretudo construções um pouco por todo o Fraggle Rock. Os Doozers são criaturas pequeninas e usam todos um capacete de construção. O material com que os Doozers constroem os andaimes é uma das principais fontes de alimento dos Fraggles, o que forçosamente leva-os a constantes reconstruções.

Marjory

Uma das saídas de Fraggle Rock é o jardim dos Gorgs, uma família de três seres gigantescos: o Pa Gorg, a Ma Gorg e o filho de ambos Junior Gorg. Pa e Ma autointitulam-se os "Reis do Universo", mas este título certamente deve-se sobretudo ao facto dos três não conhecerem praticamente mais ninguém além dos Fraggles. É no jardim dos Gorgs que os Fraggles vão buscar o seu outro alimento preferido, rabanetes, e onde se aconselham Marjory, uma espécie de lixeira falante que é como um oráculo para os Fraggles. Enquanto o Pa e a Ma Gorg veem os Fraggles como uma praga (ela até costuma gritar assim que vê um), o Junior Gorg gosta de os tentar caçar (palavra-chave "tentar"). 

Doc e Sprocket

A outra saída de Fraggle Rock é um túnel que dá para a casa de um ser humano, o inventor Doc (interpretado pelo actor Gerry Parkes) que vive com o seu cão (muppet) Sprocket. É nesta casa que Gobo se aventura para recolher os postais enviados pelo seu tio Travelling Matt. O Sprocket tenta em vão avisar o dono da existência dos Fraggles chegando mesmo até ir parar algumas vezes ao rochedo dos Fraggles e a aprender a dizer Gobo. Só nos últimos episódios é que o Doc descobre que os Fraggles são reais e fica amigo deles. Em Portugal, a série foi exibida com o núcleo original do Doc e Sprocket, mas em países como Reino Unido, França e Alemanha, esse núcleo foi adaptado com um actor local a fazer de Doc (em alguns casos com outras profissões como faroleiro ou padeiro) e o seu próprio Sprocket (que na versão francesa chamava-se Croquette). 

Eu costumava ver a série e achava os bonecos divertidíssimos mas eu era demasiado novo para entender algumas das mensagens da série. Por exemplo, o facto de Fraggles, Doozers e Gorgs precisarem uns dos outros para sobreviver mas, devido a falta de comunicação e diferenças de costumes, os desentendimentos entre as três espécies são frequentes - uma metáfora à coabitação dos diferentes povos humanos e espécies animais neste nosso planeta. Num dos episódios, Mokey convence os outros Fraggles a não comerem as construções dos Doozers por achar que se trata de um enorme transtorno para estes, mas o resultado é que os Doozers acabam por ficar sem espaço para construir mais nada e todos chegam à conclusão que é precisamente pelos Fraggles comerem as suas construções e as consequentes reconstruções é que os Doozers têm um sentido à sua vida. Recordo-me também de um episódio em que Boober, farto das inquietudes dos outros Fraggles, sonha em viver sozinho no Fraggle Rock a lavar meias pacificamente mas rapidamente fica entediado e com saudades dos seus amigos  
Outros temas tratados na série são a busca de autoconhecimento (os Fraggles têm supostamente a mentalidade de jovens adolescentes) e a protecção do meio ambiente.   



Além da série com fantoches, em 1987 houve uma série animada de uma temporada (que foi exibida na RTP2 nos anos 90 sob o títulos "Os Fraggles"). Em 2007, a série original foi editada em DVD com dobragem em português. Existe também uma série spin-off com os Doozers e no início deste ano, foi lançada na Apple TV um reboot chamado "Fraggle Rock: Back To The Rock", em que desta vez existe uma mulher Doc, interpretada por Lilli Cooper e com muitas das vozes da série original. 

Posto isto, vamos lá cantar: "Dance your cares away, worry is for another day, let the music play, down in Fraggle Rock!"

Genérico de abertura:


Genérico em português (edição DVD):




segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Vereda Tropical (1984-85)

 Recordando mais uma telenovela brasileira dos anos 80, desta vez "Vereda Tropical", a primeira com autoria de Carlos Lombardi ("Quatro Por Quatro", "Bebé A Bordo", "Uga Uga"), originalmente exibida na Rede Globo entre 1984 e 1985. Por cá, estreou na RTP1 a 7 de Abril de 1986 para a faixa da hora do almoço e o seu sucesso justificou que também passasse à noite na RTP2 a partir de 2 de Junho desse ano. Eis aqui a promoção à estreia na RTP, com a referência de que era "da mesma equipa de A Guerra Dos Sexos", devido ao facto de vários actores dessa telenovela também entrarem em "Vereda Tropical" e que o respectivo autor Sílvio de Abreu tivesse exercido aqui as funções de supervisão de texto. (A RTP também utilizaria essa referência para promover telenovelas como "Sassaricando" e "A Rainha Da Sucata")

A trama da telenovela explorava a complexidade das relações familiares e amorosas, abordando também o mundo do futebol. 



Silvana Rocha (Lucélia Santos) é uma jovem humilde, que tendo perdido os pais muito nova, foi criada pela sua avó Maria Da Paz (Norma Geraldy). Silvana apaixona-se por Vítor (Lauro Corona), o herdeiro da CPP, uma conceituada fábrica de cosméticos, que tinha renegado ao futuro que lhe era destinado de comandar a empresa. Mas quando Silvana engravida, Vítor abandona-a e acaba por morrer num acidente de automóvel. Meses depois, a jovem dá a luz um menino, Zeca (Jonas Torres). 

Vicente Oliva (Walmor Chagas), pai de Vítor, destroçado com a perda do filho, tenta por todos os meios conseguir a custódia do neto para que ele lhe suceda nos negócios. Por causa disso, Silvana e o filho têm andado foragidos durante oito anos para que Oliva não lhes siga o encalço. Porém Oliva consegue por subterfúgio que Silvana e Zeca se instalem em São Paulo, onde a jovem passará a trabalhar na CPP.

Além de Vítor, Oliva tem três filhas: Catarina (Marieta Severo), mulher fria e exclusivamente focada nos negócios que não se conforma com o facto de que, em vez dos produtos de luxo, o grande sucesso da CPP seja uma linha de produtos económicos, nomeadamente o perfume Vereda Tropical; Verónica (Maria Zilda), que se entretém com futilidades e jogos de sedução; e Gabi (Cristina Pereira), a filha adoptiva, irreverente e sarcástica, cuja língua afiada lhe mete por vezes em sarilhos.

Silvana vai morar para a Vila dos Prazeres, onde rapidamente trava amizade com as gentes locais, sobretudo com Bina Travatti (Geórgia Gomide), a dona da cantina La Tavola Di Michele. Bina tem quatro filhos, Marco (Paulo Betti), Luca (Mário Gomes), Angelina (Angelina Muniz) e Francesco (Paulo Guarnieri). Luca é um futebolista que apesar do seu talento, nunca progrediu na carreira por causa do seu feitio tempestuoso em campo. Apesar das relutâncias da rapariga, Luca consegue chegar ao coração de Silvana e os dois se apaixonam. Mas há outras que também disputam Luca, sobretudo Verónica que, certa de que se apaixonou pela primeira vez, fará de tudo para o ter. 

Quem também vive em Vila dos Prazeres é Jamil Beirut (Gianfrancesco Guarnieri), um perfumista que é o responsável pela receita secreta da Vereda Tropical. No passado, Jamil e Oliva foram rivais e o empresário nunca se conformou em depender do inimigo para o sucesso da fábrica. Jamil torna-se o grande aliado de Silvana e os dois chegam a casar-se quando Oliva leva a disputa da custódia de Zeca à justiça.

Há ainda Téo (Marcos Frota), o filho de Catarina, que, abandonado pelo pai e negligenciado pela mãe, vive com medo do mundo e refugia-se na sua imaginação onde cria um alter-ego heroico, o Super-Téo. A sua tia Gabi é a única que consegue se aproximar do rapaz e encorajar a sua criatividade.

Catarina revela-se a grande vilã quando, ao saber que o pai nunca lhe dará a liderança da empresa, interna-o num manicómio, tomando o seu lugar no comando da CPP e na disputa do processo por Zeca. Verónica aproveita a situação para chantagear Luca, prometendo testemunhar contra a família caso ele case com ela. Quando o tribunal decide a favor de Catarina e Luca rejeita casar com Verónica no dia do casamento, tudo parece perdido para Silvana e não lhe resta outra solução senão fugir com Zeca e Luca. Mas eis que um regenerado Oliva resolve a situação, denunciando a filha.

Devido à decisão de Catarina de acabar com a produção da Vereda Tropical, a CPP vai à falência e no fim, os Oliva Salgado mudam radicalmente de vida: Oliva vai viver com Bina, por quem entretanto se apaixonou, Verónica decide retirar-se para um convento e Catarina acaba como prostituta. Já Silvana, Zeca e Luca ficam por fim livres para começar uma vida juntos. Além disso, Luca finalmente realiza o seu sonho de jogar no Corinthians. 

Silvana, Zeca e Luca


Catarina, Verónica, Gabi e Oliva
quando descobrem que estão falidos

Como já foi dito, "Vereda Tropical" teve bastante sucesso durante a sua transmissão em Portugal, não só justificando a sua exibição nos dois canais da RTP, mas gerando algum merchandising como uma coleção de calendários e até deu nome a vários estabelecimentos comerciais, em especial um restaurante em Coimbra, na Rua Alexandre Herculano. 

Genérico de abertura (tema interpretado por Ney Matogrosso):


Reportagem sobre a cena final 
com Mário Gomes a aparecer num jogo real do Corinthians




sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Publionário (1992-93)

No Outono Quente de 1992 da televisão portuguesa, a RTP, após 35 anos de monopólio, passava a ter a concorrência da SIC (e meses mais tarde da TVI). Como tal, a RTP quis reforçar a rentrée desse ano estreando alguns programas icónicos (como "Isto Só Vídeo", "Apanhados", "Marina, Marina" e a telenovela "Pedra Sobre Pedra") mas também tentando fidelizar o público de outras formas. 



Uma delas foi com o concurso "Publionário", estreado a 3 de Outubro de 1992 e que durou até 24 de Abril de 1993. A premissa era bem simples: todos os dias de segunda a sexta-feira, ao longo da programação, era exibido um pequeno excerto de um anúncio publicitário. Os telespectadores teriam de adivinhar o nome do produto, marca ou evento cultural correspondente a esse anúncio. 




Para tal, teriam de preencher os cupões publicados na revista Tele Guia, que fora lançada na mesma altura, para o programa com a resposta certa. Havia também um cupão semanal que tinha de ser preenchido com as respostas aos cinco anúncios da semana. Aos sábados, era exibido um sorteio onde eram sorteados os vencedores da semana anterior: o prémio era de 200 contos (cerca de 1000 euros) para os cupões diários e de 1000 contos (cerca de 5000 euros) para os semanais. Eram válidos os cupões recebidos até à quinta-feira de semana seguinte. 

Margarida Reis


Susana Santos


A conduzir tanto as vinhetas diárias como os sorteios de sábado estava uma misteriosa apresentadora de mascarilha. Ao todo, três apresentadoras mascaradas exerceram essa função: a primeira e a mais reconhecível era Margarida Reis (que curiosamente não tardaria a saltar para as estações privadas, primeiro na TVI e depois na SIC) a segunda foi Susana Santos (uma das últimas locutoras de continuidade da RTP) mas a terceira continua por ser identificada. Nem sequer os nossos amigos do "Brinca Brincando" (e a eles pela enésima vez o agradecimento por estas imagens, disponibilizadas no seu site!) conseguiram descobrir! É essa apresentadora incógnita que surge neste vídeo da Enciclopédia TV.



Alguns dos anúncios eram bastante conhecidos da altura, como por exemplo à lixívia Neoblanc, ao champô Vidal Sassoon e o chocolate Inca. Mas também havia alguns de publicidade institucional (como aquele que surge no vídeo, de uma campanha para promover hábitos de leitura na população, ou sobre a acção de legalização de cidadãos estrangeiros residentes em Portugal que o Governo levou a cabo na altura. Houve ainda excertos a anúncios a eventos culturais, como exposições de pintura, peças de teatro, espectáculos de ópera e até trailers de filmes portugueses, como por exemplo a produção luso-guineense "Os Olhos Azuis De Yonta".


Então nos meus 12 anos, eu cheguei a participar no "Publionário" durante alguns meses (não havia limite de idade para participar), comprando a revista Tele Guia e enviando os cupões num envelope a cada semana, mas nunca ganhei nada e acabei por desistir a certa altura. Editada pela TV Guia Editora, a Tele Guia era uma revista de formato de bolso e por aquilo que me lembro, estou em crer que, dentro do possível é claro, procurava ter a sua identidade própria e distanciar-se ao máximo da sua irmã mais velha TV Guia. Aliás, a revista acabaria por durar bem mais do que o "Publionário" mantendo-se nas bancas até 2001.  

Como se sabe, apesar de uma ou outra irreverência da SIC, nos primeiros meses de televisão privada portuguesa, o domínio das audiências da RTP não foi beliscado por aí além. Mas não tardaria muito até o caso mudar de figura.   

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Festival da Eurovisão 1977

Tempo para recordar mais uma edição do Festival da Eurovisão, e desta vez recuamos 45 anos até ao 22.º Festival da Eurovisão que teve lugar a 7 de Maio de 1977 no Centro de Conferências de Wembley em Londres. 



Com a vitória do Reino Unido no ano transacto, graças ao clássico "Save All Your Kisses From Me" dos Brotherhood Of Man, o Festival realizava-se pela sexta vez em terra britânicas e a quarta em Londres. Inicialmente o certame estava marcado para o dia 2 de Abril, mas devido a uma greve de técnicos e operadores de câmara da BBC, foi adiado para mais de um mês depois, sendo a primeira vez que o Festival realizou-se no mês de Maio desde a edição inaugural em 1956, sendo que hoje em dia o Festival realiza-se tradicionalmente nesse mês. A apresentadora foi Angela Rippon.
A greve e o adiamento fez com que a transmissão fosse afectada por vários problemas técnicos como legendas dos países e dos títulos das canções enviesados, planos de câmara mal enjorcados e a não exibição dos créditos finais. (Existem gravações áudio nesses momentos com o produtor Stewart Morris a gritar impropérios que fariam corar um Gordon Ramsey!) Além disso, a parte das votações foi repleta de erros, quer da apresentadora Angela Rippon, quer dos operadores do quadro de pontuação, quer ainda de alguns porta-vozes (como o francês que pontuou doze países em vez dos dez estipulados). 
E segundo o livro "Portugal 12 pts" de João Carlos Calixto e Jorge Mongorrinha, as delegações portuguesa e austríaca ficaram instaladas num hotel perto do aeroporto de Heathrow enquanto as dos restantes países ficaram no centro da cidade. Isto porque as canções dos dois países foram consideradas como tendo "influências socialistas". 
Por outro lado, foi uma edição com um belíssimo palco e um elevado nível de qualidade nas canções e com muitos artistas que já tinham participado ou voltariam a participar no Festival da Eurovisão. Pela primeira vez, o quadro das pontuações tinha as bandeiras dos países concorrentes, algo que é hoje habitual. 



Participaram dezoito países, os mesmos do ano anterior, com a saída da Jugoslávia e o regresso da Suécia. A Tunísia esteve quase para participar e chegou a ser sorteada para actuar em quarto lugar mas acabaria por desistir. A partir deste ano, voltou a ser obrigatório os países cantarem na sua língua nacional (ou uma das) mas a Alemanha e a Bélgica foram autorizadas a participar com canções em inglês, porque já tinham sido escolhidas antes da reintrodução da regra. 

Como é habitual, analisaremos cada canção por ordem inversa de classificação. (Os nomes dos países em negrito têm links com o vídeo da respectiva canção.)

Forbes (Suécia)


Após ausência no ano anterior (em parte devido aos encargos de ter organizado o certame de 1975), a Suécia regressou ao Festival mas não foi um retorno feliz pois ficou no último lugar com apenas 2 pontos, até ao momento a única vez que o país ficou isolado na cauda da tabela. A canção "Beatles" era obviamente homenagem da banda Forbes ao lendário quarteto de Liverpool, mencionando as canções "Yesterday" e "Hard Day's Night" e os nomes dos quatro membros da banda, mas não convenceu ninguém a não ser o juri alemão que deu à Suécia os seus dois únicos pontos.

Schmetterlinge (Áustria)


A Áustria ficou no penúltimo lugar com aquela que era sem dúvida a proposta mais ousada. Sob o véu de um ritmo alegre e de um refrão pegadiço, o tema "Boom Boom Boomerang" escondia uma letra que criticava a indústria musical, mais interessada em fazer dinheiro do que em promover música de qualidade, um argumento que pelos vistos nunca deixou de ser relevante. A canção foi defendida pelo grupo Schmetterlinge que incluía dois membros do grupo The Milestones, Beatrix Neudlinger e Günter Grosslercher, que tinha representado o país em 1972. Os membros masculinos do grupo tinham na parte de trás das cabeças umas máscaras que, aliadas à parte de trás dos seus fatos, se convertiam em bonecos que se mexiam com a coreografia. Mas esta ousadia não foi muito do agrado dos júris europeus que atribuíram à Áustria apenas onze pontos. (Também me pergunto se esta canção também não era uma crítica aos ABBA que tinham uma canção com um título parecido e que nunca se livraram das críticas de serem demasiado comerciais.)

Anne-Marie B. (Luxemburgo)

Igualmente ousada, mas por outros motivos, foi a canção do Luxemburgo. Como se pode calcular, "Frère Jacques" era inspirada na famosa cantilena infantil "Frére Jacques, Frére Jacques/ Dormez-vous? Dormez-vous?" mas que na intensa batida disco e na interpretação sensual de Anne-Marie B. ganhava contornos bem mais adultos. O Luxemburgo quedar-se-ia pelo 16.º lugar com 17 pontos. Anne-Marie Besse obteve alguma notoriedade como actriz, e o seu currículo inclui o filme "Max, Meu Amor" de Nagisa Oshima. 

Anita Skorgan (Noruega)

Portugal e Noruega empataram no 14.º lugar com 18 pontos. 
A Noruega apostou na jovem Anita Skorgan, que com apenas 18 anos, já somava grande sucesso no seu país. Em Londres, Skorgan cantou "Casanova" onde lamentava o desaparecimento do seu amado, cuja reputação de conquistador igualava àquela do célebre aventureiro veneziano do título. Nesta edição do Festival não houve postcards entre as actuações dos países, com a realização a focar em vez disso a filmar a assistência presente em Wembley. Segundo consta, a BBC planeou usar imagens dos diferentes representantes durante a festa de recepção às delegações participantes num famoso clube noturno londrino como postcards mas tal não aconteceu: a justificação oficial foi a de que muito do material filmado ficou inutilizável parte das imagens que foram exibidas durante o intervalo, mas também se disse que foi devido a um protesto da televisão norueguesa por conter imagens de Anita Skorgan a consumir álcool, quando ainda não estava na idade legal para tal na Noruega. Seja como for, esta foi apenas a primeira de várias vezes que Anita Skorgan participou na Eurovisão pelas cores norueguesas tendo regressado em 1979 e 1982, fazendo parte do coro em 1981 e 1983 e como letrista da canção de 1988. Nos anos 90, Skorgan foi a voz norueguesa das protagonistas dos filmes "Pocahontas" e "Anastasia". 

Os Amigos (Portugal)
     

O Festival RTP da Canção de 1977 foi uma edição bastante singular, pois pela única vez, cada canção tinha duas versões diferentes em competição e o vencedor foi escolhido através de votos por via postal, mediante cupões fornecidos pela imprensa da altura. As sete canções foram "Canção Sem Grades", interpretada por Teresa Silva Carvalho e por José Freire; "O Que Custar", interpretada pelos Green Windows e pelo Quarteto 1111; "Férias", interpretada pelo Grupo Férias e por Paco Bandeira; "A Flor E O Fruto", interpretada pelo grupo Fantástica Aventura e pelo Conjunto Maria Albertina; "Fim De Estação", interpretada pelos Bric-À-Brac e por Vera Mónica e Carlos Queiróz (não o treinador, mas sim o irmão de Florbela); "Rita Rita Limão", interpretada pelos Green Windows e pelo duo Cara Ou Coroa (Joel Branco e Mafalda Drummond); e "Portugal No Coração" interpretado pelos Gemini e pelo grupo Os Amigos, composto por Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Edmundo Silva, Ana Bola, Luísa Basto e Fernanda Piçarra. E com mais de 60 mil votos, a vitória foi para Os Amigos que assim representariam Portugal em Londres, dando-se assim o regresso de Fernando Tordo e Paulo de Carvalho à Eurovisão após terem participado respectivamente em 1973 e 1974. "Portugal No Coração" é uma canção muito filha do seu tempo, com a letra reflectindo sobre a situação do nosso país na altura, ainda a digerir a ressaca da revolução de 1974 e o que fazer com a recém-adquirida liberdade, e incerto sobre qual o caminho a seguir no futuro. 
Agora tenho de ser sincero: este é a única edição do Festival da Eurovisão em que a canção portuguesa é aquela que eu gosto menos. Não que ache que a canção nesta versão seja má, simplesmente acho que neste ano todos os outros países tinham canções melhores. Além disso, prefiro a versão dos Gemini de "Portugal No Coração", acho que a melhor opção teria sido a versão dos Green Windows de "Rita Rita Limão" e pergunto-me que a escolha do público por Os Amigos teve sobretudo a ver com o star power dos nomes envolvidos (aos quais se juntava Ary dos Santos como autor da letra). Também não gosto dos arranjos da orquestra com ritmos disco na versão interpretada ao vivo. No Festival da Eurovisão, Portugal (No Coração) obteve 6 pontos da França, 4 da Suíça, 3 da Itália, 2 do Mónaco e dos Países Baixos e 1 da Alemanha. 

Mia Martini (Itália)

Mia Martini, nome artístico de Domenica Berté, foi a representante de Itália com "Libera", um tema disco que falava sobre a liberdade no feminino, liberdades que ainda hoje são negadas a algumas mulheres. Neste ano, a Itália ficou em 13.º lugar com 33 pontos. Mia Martini regressaria à Eurovisão em 1992 com um ainda melhor resultado mas infelizmente faleceu a 13 de Maio de 1995 (curiosamente o dia do Festival da Eurovisão desse ano) com apenas 47 anos. 


Heddy Lester (Países Baixos)

Os Países Baixos ficaram em 12.º lugar com 35 pontos, mas apesar do resultado mediano, já vi muitos fãs eurovisivos holandeses afirmarem que esta é uma das canções eurovisivas do país mais amadas de sempre, que miúdos e graúdos sabem cantar de cor. "De Mallemolen" ("o carrossel") foi interpretado por Heddy Lester, cujo vestido estava estruturado como uma túlipa. Embora tenha começado como cantora nos anos 70, nos anos seguintes Heddy Lester fez carreira sobretudo como actriz de teatro. 

Ilanit (Israel)

Depois de em 1973 ter sido a intérprete da primeira canção de Israel no Festival da Eurovisão, Ilanit Tzakh regressou ao certame para defender o tema "Ahava Hi Shir Lishnayim" ("o amor é uma canção para dois") ficando em 11.º lugar com 49 pontos. Nascida em Telavive no ano anterior à fundação do Estado de Israel, Ilanit passou a infância no Brasil antes de regressar ao seu país natal em 1960. Durante anos, circulou o mito de que Ilanit estaria usar um colete anti-balas debaixo do vestido durante a sua actuação numa ou em ambas das suas participações eurovisivas, mas a cantora sempre negou. 

Monica Aspelund (Finlândia)

Na posição acima com mais um ponto ficou a Finlândia com a canção "Lapponia" na voz de Monica Aspelund. Como é evidente, a canção era sobre a célebre região finlandesa da Lapónia, a maior e mais setentrional do país, promovida desde os anos 40 como sendo a terra do Pai Natal. A canção agradou particularmente ao júri irlandês que lhe deu os 12 pontos, e sendo a Irlanda o primeiro país a votar, foi a única vez que Finlândia esteve em qualquer dado momento em primeiro lugar na classificação até à sua vitória retumbante em 2006. Em 1983, Ami Aspelund, irmã de Monica, foi a representante finlandesa na Eurovisão. 

Micky (Espanha)

A Espanha ficou em nono lugar com 52 pontos, sendo representada por Miguel Carreño a.k.a, Micky e o tema "Enseñame A Cantar". Tratava-se de um canção bem-disposto que bem podia ser da banda sonora de um western-spaghetti, onde as três cantoras de coro em coreografia sincronizada, uma simpática tocadora de banjo e um senhor que soprava numa espécie de bilha não deixaram Micky brilhar sozinho.   

Silver Convention (Alemanha)

A Alemanha fez-se representar pelo trio germano-americano Silver Convention, na altura formado Ramona Wulf, Rhonda Heath e Penny McLean. O grupo tinha tido bastante sucesso internacional nos anos anteriores, nomeadamente com o tema de 1975 "Fly Robin Fly", que chegou ao n.º1 do top americano e canadiano e ganhou um Grammy. Em Londres, interpretaram o tema "Telegram" que ficou em oitavo lugar com 55 pontos. Posteriormente, Rhonda Heath também esteve presente na Eurovisão tocando nas teclas nas actuações da Áustria em 1985 e da Alemanha em 1994. 

Dream Express (Bélgica)


As irmãs Bianca, Patricia e Stella Maessen tinham representado os Países Baixos em 1970 sob o nome de The Hearts Of Soul, e agora regressavam pela Bélgica, onde residiam desde 1973, em conjunto com o compositor Luc Smets como o grupo Dream Express com "A Million In One, Two, Three" que ficou em sétimo lugar com 69 pontos. O tema tinha sido escrito por Smets que viria mais tarde a casar com Bianca. Stella voltou a representar a Bélgica na Eurovisão em 1982. Infelizmente, Patricia Maessen faleceu em 1996, com somente 44 anos, na consequência de um ataque cardíaco. Em 2010, Bianca, Stella e uma quarta irmã, Doreen, lançaram um novo single como The Hearts Of Soul.  

Pepe Lienhard Band (Suíça)


A Suíça foi representada pela canção "Swiss Lady" pela Pepe Lienhard Band, ficando em sexto lugar com 71 pontos. Este é capaz de ser o tema mais suíço de sempre na Eurovisão, não só pelo título, mas pela sonoridade que bem que podia fazer parte da série da "Heidi", não faltando sequer uma das famosas trompas alpinas. O vocalista principal, Pino Gasparini, voltaria a representar a Suíça em 1985, em dueto com Mariela Ferré. 

Pascalis, Marianna, Robert & Bessy (Grécia)


Na sua terceira participação, a Grécia alcançou o quinto lugar com 92 pontos, um dos melhores resultados de sempre do país, igualado em 1992 e apenas superado pela vitória em 2005 e os terceiros lugares de 2001 e 2008. O quarteto composto por Pascalis Arbanitidis, Marianna Tolli, Robert Williams e Bessy Argiraki interpretou "Mathema Solfege" ("lição de solfejo"), onde aliás o refrão era apenas composto por notas musicais. Por curiosidade, o single seguinte do grupo foi "I Love, I Love, I Love You", que é nada menos que a versão original de "Eu Tenho Dois Amores". 

Michèle Torr (Mónaco)
  

A cantora francesa Michèle Torr tinha representado o Luxemburgo em 1966 e agora voltava onze anos mais tarde, desta vez pelas cores do Mónaco. "Une Petite Française" era uma canção semiautobiográfica, onde Torr recordava as suas origens da Provença e a sua ida para Paris ainda adolescente para seguir uma carreira musical, mas também reafirmava a sua convicção de que não era uma vedeta de capa de revista. A canção monegasca ficou em quarto lugar com 96 pontos, incluindo 12 pontos da Itália e da Grécia.

The Swarbriggs Plus Two (Irlanda)

Dois anos depois, os irmãos Tommy e Jimmy Swarbrigg voltavam a representar a Irlanda, desta vez acompanhados por Nicola Kerr e Alma Carroll. Sob o nome de The Swarbriggs Plus Two, os quatro cantaram "It's Nice To Be In Love Again" e ficaram em terceiro lugar com 119 pontos, com quatro países a atribuirem a pontuação máxima. 

Mike Moran e Lynsey De Paul (Reino Unido)

Durante a primeira metade da votação parecia que o Reino Unido estava encaminhado para uma nova vitória, mas apesar de ser o país que recebeu 12 pontos de mais países (seis, incluindo Portugal) ficou pela décima vez em segundo lugar com 121 pontos, com "Rock Bottom" interpretado em dueto por Lynsey De Paul e Mike Moran. A loiríssima Lynsey De Paul tinha tido vários sucessos desde que iniciou a sua carreira como intérprete em 1972 como o hit "Sugar Me". Moran e De Paul escreveram a canção juntos e interpretaram tocando de costas um para o outro. Já o orquestrador Ronnie Hazelhurst surgiu com um chapéu de côco e uma batuta em forma de guarda-chuva. Lynsey De Paul, cuja lista de namoros incluiu nomes como Ringo Starr, Dudley Moore, Sean Connery e George Best, faleceu em 2014 aos 66 anos. Mike Moran tem composto música para filmes, televisão, teatro e até jogos de vídeo.  

Marie-Myriam (França)


Com 136 pontos, a França alcançou a sua quinta vitória, alcançando então o recorde do país com mais triunfos. (No entanto, em 2022, esta continua a ser a sua última vitória.) Marie-Myriam, que completava 20 anos no dia seguinte, interpretou "L'oiseau Et L'enfant" que rapidamente se tornou mais um grande clássico da Eurovisão. Mas esta vitória gaulesa foi também um pouco portuguesa já que Marie-Myriam, que nasceu em Kananga na actual República Democrática do Congo, tinha o apelido Lopes, os seus pais eram naturais de Braga e o português era a sua língua materna. Aliás, o português foi uma das cinco línguas em que gravou "L'oiseau Et L'enfant" (sob o título "A Ave E A Infância"). Marie-Myriam tem continuado ligada à Eurovisão tendo sido várias vezes a porta-voz dos votos da França e aparecendo na gala dos 50 anos da Eurovisão em 2005. Eu já a vi actuar  em Setúbal no Eurovision Live Concert.
Durante muitos anos, o triunfo de Marie-Myriam foi o mais parecido que tivémos com uma vitória portuguesa na Eurovisão até que quarenta anos mais tarde, veio a confirmação de que uma vitória simbólica não se compara a uma vitória real…    


Festival da Eurovisão 1977 (comentários em inglês):




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