segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Buéréré (1993-2002)

por Paulo Neto

Desde a sua génese, a SIC teve um espaço de programação infantil nas manhãs do fim-de-semana, começando no início das emissões com a exibição das séries animadas "O Livro Da Selva" (uma versão anime de coprodução italo-japonesa da obre de Rudyard Kipling, adaptada em 1968 pela Disney) e "T-Rex". Gradualmente, outras séries foram sendo exibidas, sobretudo após o estabelecimento de uma parceria com o Nickelodeon. 


Com a nova grelha para a rentrée de 1993, esse espaço infantil ganhou um nome: o do "Buéréré", alegadamente um termo comum na conversa da pequenada. (Eu nunca na minha vida tinha ouvido essa palavra antes disso, apenas bué, mas se calhar era só dita mesmo entre aqueles mais novos do que eu, que então estava no alto dos meus treze anos. Seria mesmo verdade?) E no início de 1994, o "Buéréré" da SIC tornou-se mais do que um simples espaço para exibição de séries animadas. 



E é aqui que tenho de deixar claro um facto que tem sido algo obliterado: a primeira Ana do "Buéréré" da SIC foi a Ana Marques. Tal como José Figueiras, Ana Marques tem sido a cara da SIC desde o início, começando na meteorologia e depois fazendo de tudo um pouco. E algures no primeiro trimestre de 1994, foi ela que apresentou aos domingos uma primeira encarnação do Buéréré, que por entre a exibição das demais séries animadas, havia uma espécie de concurso em que a cada semana opunha duas equipas vindas de diferentes escolas primárias, uma de vermelho e uma de amarelo, que disputavam vários jogos. Não sei bem qual era o prémio final mas suponho que deviam ser brinquedos e vales de compras já que a Toys R Us e a Lego eram alguns dos patrocinadores. E lembro-me disto: o programa também passava um videoclip escolhido pela equipa vencedora, e os videoclips dos Bon Jovi costumavam ser muito escolhidos (lembro de terem aí exibido os videoclips de "Keep The Faith" e "Always", por exemplo). 

Com o início do ano lectivo 1994/95, o "Buéréré" também passou a dar às tardes da SIC de segunda a sexta-feira e as primeiras séries nesse espaço, como se pode ver nesta promo com Ana Marques, foram "M.A.S.K." e "Hulk Hogan - Rock & Wrestling".


Foi também por essa altura que além do "Buéréré", foram também exibidos na SIC nas manhãs de fim-de-semana outros programas da parceria com o Nickelodeon, como o concurso "Tudo Ou Nada" apresentador por Humberto Bernardo (que era uma adaptação de "Double Dare") e "Global GUTS", de que já falámos aqui, uma competição internacional com participação portuguesa, com José Figueiras como o apresentador oficiosa da SIC. 




Porém a maior revolução e a fase mais icónica do "Buéréré" viria com a rentrée de 1995. E aí reinou outra Ana. Com o "Big Show SIC" em alta, o produtor brasileiro Ediberto Lima foi incumbido dessa renovação do Bueréré, inspirando-se claramente nos programas da Xuxa na televisão brasileira. E para conduzir esse novo Buéréré, com o título "Super Buéréré" (ou "Buéréré Super", whatever), a escolha recaiu sobre a artista de seu nome completo Ana Sofia Lopes Malhoa, então com 16 anos. No entanto Ana Malhoa já andava no mundo do espetáculo desde tenra idade, quer cantando com o seu pai José quer em discos a solo, e até já tinha tido uma breve incursão na televisão como coapresentadora com Badaró no programa da RTP "O Grande Pagode" (1987-88).    



O "Super Buéréré" tinha um cenário muito maior, e Ana Malhoa conduzia a emissão secundada por um vasto elenco de assistentes: quatro Anetes (uma espécie de copy paste das Paquitas da Xuxa), quatro Mini Anetes (cada uma com o seu traje: a boneca, a artista circense, a fada e a pirata), a abelha Melzinho, o crocodilo Croko, o sapo Filipe La Fera e sobretudo os míticos Boiréré (que ao que se veio a saber recentemente, chegou a ser manobrado pelo Pedro Soá do "Big Brother 2020") e Vacaréré






AM com o Boiréré e o Macado Hadrianno


A princípio "Super Buéréré" tinha muitos pontos em comum com o "Big Show SIC": o DJ Pantaleão também era o DJ residente e passava mesmo as músicas e a par de actuações da própria Ana Malhoa e de outros jovens artistas, também por lá passavam alguns artistas e grupos não tão infantis quanto isso. Por exemplo, existe no YouTube uma actuação da banda heavy-metal RAMP no programa! O Macaco Hadrianno também passava por lá frequentemente. Mas embora a correlação entre os dois programas nunca tenha sido cortada, com o tempo o "Super Buéréré" foi tornando-se cada vez mais age appropriate, passando só músicas infantis (até porque o reportório próprio do programa também ia crescendo) e os convidados musicais fora do público alvo infanto-juvenil foram diminuindo. O duo de prestidigitação Damião e Helena passou a ser também uma presença regular e cada programa tinha um segmento onde os dois apresentava truques de magia. Havia também um segmento onde Ana Malhoa lia cartas dos jovens telespectadores e onde mostravam desenhos e fotografias dos ditos cujos. 


AM com o duo ilusionista Damião E Helena

Ana Malhoa também marcava presença no Buéréré diário, geralmente acompanhada pelo Boiréré e a Vacaréré, em breves segmentos não só apresentar as séries animadas a ser emitidas, como também para promover passatempos de linhas de valor acrescentado do indicativo 0641 ou o merchandising do programa.   

E por falar em merchandising do programa, entre ele contava-se: os kits de magia de Damião e Helena, puzzles, material escolar, produtos têxteis e acho eu (mas não tenho muita certeza) que chegou a haver peluches do Boiréré e da Vacaréré. Porém o produto principal era sem dúvida os discos da canção do programa, que foram quatro: "Super Buéréré", "A Turma Do Big Buéréré", "Super Buéréré - O Grande Pagode" e "Buéréré Super Rock". Além das músicas cantada por Ana Malhoa no programa, também as outras personagens tinham direito à sua própria canção: a das Anetes, a das Mini Anetes, a da Melzinho, a do Boiréré ("muu, Boiréré, muu, Boiréré") e a da Vacaréré. As canções era uma mistura de originais (alguns deles escritos por Toy) e outras versões de várias cantigas infantis made in Brasil. Por exemplo, uma das minhas preferidas era "Pula, Brinca, Agita", um original do brasileiro Sérgio Malandro. 

A capa do primeiro disco do Buéréré

Mas claro que o grande hit de Ana Malhoa da sua fase Buéréré foi o "Começar No A", que ela ainda hoje de vez em quando canta nos seus concertos. 

Cheguei a casa e abri o meu livro para estudar
Para aprender é preciso saber como é bom cantar
Numa canção escolho o tema de escola p'ra começar
Repete então comigo estas letras que eu vou gritar

A! (A!) E! (E!), A, E, I, O, U
A! (A!) E! (E!), A, E, I, O, U

Sabes que começou no A (A-A-A)
E a seguir vem o E (E-E-E)
Inteligente é com o I (I-I-I)
O U depois do O faz o  A-E-I-O-U. 

O "Buéréré" da fase Ana Malhoa durou até ao final de 1998. (Segundo o que ambos revelaram no "Maluco Beleza", devido a desentendimentos entre ela e Ediberto Lima.) Em 1999, Ana Malhoa deu à luz a sua filha Índia e desde então tem-se reinventado várias vezes ao longo da sua carreira.  
A SIC continuou a denominar o seu espaço infanto-juvenil de "Buéréré" (por meio também criando outro programa de estúdio, o "Zip Zap" com o seu elenco de jovens apresentadoras cantadeiras) até 2002, quando passou a chamar-se "Iô-Iô". 

As séries exibidas na SIC durante o "Buéréré" ao longo da sua existência formam uma lista deveras extensa por isso vou só destacar algumas: "Rugrats", "Ren & Stimpy", "Power Rangers", "Aaahh!!! Real Monsters!", "Dogcat", "Rocco's Modern Life", "Hey, Arnold", "A Janela Da Allegra", "Rimba's Island", "Big Bad Beetleborgs", "VR Troopers" e é claro, os incontornáveis "Sailor Moon" e "Dragon Ball".  

Quero deixar os meus agradecimentos ao membro do fórum "A Televisão" de seu nome ATVTQsV pela crónica da sua autoria sobre o "Buéréré" que se tornou a minha principal fonte para este artigo. Na sua crónica sobre "A Arca De Noé" ele referiu o meu texto aqui no blogue sobre esse programa como uma das suas fontes, por isso fica o favor retribuído.  



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