terça-feira, 6 de novembro de 2012

Broas de Todos Os Santos

por Paulo Neto

dedicado a Ana José da Cunha (1920-2002)

Graças a uma das várias ideias peregrinas do actual governo, o passado dia de Todos Os Santos será o último como feriado nacional, pelo menos até 2018. Isso levou-me a uma reflexão sobre os meus anos de petiz em que o dia 1 de Novembro era um dos dias mais ansiados por mim em cada ano. O simples facto de ser feriado e não haver escola já seria motivo suficiente para júbilo, mas no meu caso, havia uma maior aliciante. Para mim, a quadra de Todos Os Santos significava encher o bandulho com deliciosas Broas de Todos Os Santos.



Este ilustre manjar da doçaria nacional fabrica-se um pouco por todo o país nas mais diversas variações. Mas na minha região, ainda que se fabriquem e se vendam em várias variedades, quando se chega as alturas dos Todos Os Santos, a preferência vai para estes broas feitas com canela, café, erva doce, miolo de noz, açúcar amarelo e tudo o mais, por vezes com uma amêndoa no topo e obscenamente polvilhadas de açúcar. (Há aqui uma receita neste site, se bem que é a diferente da que é usada na nossa família). Também há quem chame esta variedade de brindeiras. 

Ora, os meus Todos Os Santos eram particularmente afortunados pois a minha Avó Ana era o Stradivarius das broas de Todos Os Santos. Por esta altura, quando chegava a casa da minha avó, geralmente encontrava-a na cozinha de volta de um panelão cheio de massa de broas e com a mesa com várias pirâmides de broas em travessas. Claro está, era uma questão de segundos até eu começar a comer pelo menos uma. E não se pense que era só a petizada da família que se empanturrava com este manjar divino, pois os adultos da família raramente conseguiam a resistir a comer só uma.  



Como a minha avó confeccionava broas essencialmente para a nossa extensa família e só as fazia para fora em casos pontuais e restritos, não há provas certificadas que evidenciem que as broas da minha Avó Ana eram as melhores de Torres Novas, quiçá do mundo. Mas digo sem dúvidas, que tal como nunca mais ninguém conseguiu reproduzir a arte de Antonio Stradivari em fazer violinos, mais ninguém conseguiu igualar a arte da minha avó em fazer broas de Todos Os Santos. Embora haja quem se aproxime razoavelmente, como a minha mãe.



Esta fotografia é uma das minhas preferidas da minha infância, pois é da doce matéria de que são feitas as memórias de infância. Tenho aqui para aí uns cinco anos e estou a ajudar a minha avó a dar forma às broas antes de irem ao forno. E atrás de nós: um quadro preto para escrever a giz com o Rato Mickey.  Um verdadeiro tesourinho em todos os aspectos! 




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