sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

NOW 99 (1999)

por Paulo Neto

Depois dos Jackpots e dos Polystars dos anos 80 e das colectâneas N.º 1 (com e sem Fido Dido), editadas entre 1991 e 1996, uma nova série de compilações de êxitos surgiu em 1999 e tem continuado até hoje. A série britânica de colectâneas "Now That's What I Call Music!" começou em 1983 e desde então três volumes da série são editados a cada ano (vai actualmente no volume 95, fora as edições especiais). Outros países acabaram por criar a sua versão nacional da série, começando com a África do Sul em 1984, e Portugal iniciou a sua em 1999, com o simples título "NOW", numa colaborações entre as editoras EMI, Universal e Sony Music, com os responsáveis certamente cientes de que os volumes importados da série britânica estavam a vender-se bem no nosso país.



O primeiro volume da série portuguesa NOW foi editado em Dezembro de 1999, com a denominação de "NOW 99", reunindo vários sucessos do ano de 1999 (e alguns ainda de 1998), e rapidamente tornou-se um sucesso de vendas, até porque havia uma lacuna neste tipo de compilações desde a descontinuação da série "N.º 1". Desde então, fora as edições especiais como a comemorativa dos 10 anos em 2009, têm sido editado 31 volumes da série portuguesa. Inicialmente eram editados dois volumes por ano, um por altura do Verão, outra pelo Natal, mas desde 2011 que só é editado um volume anualmente, regra geral entre Novembro e Dezembro.


Eu não comprei este primeiro volume da série pois na altura eu preferia adquirir os volumes importados da série britânica, que até ficavam mais ou menos pelo mesmo preço. No entanto, uma cópia de "NOW 99" foi uma peça importante para mim na noite da passagem de ano de 1999 para 2000, que a minha família passou numa quinta de um amigo do meu pai e onde acabei por ser o DJ da festa, já que pus a tocar várias das 37 músicas aqui incluídas.
Assim sendo, vamos analisar cada uma das canções:


CD1

1. "...Baby One More Time" Britney Spears: E começamos logo com aquele que foi sem dúvida o grande hit do ano de 1999. Pois foi neste ano que Britney Spears afirmou-se como a grande popstar dos primórdios do século XXI. Na altura com apenas 17 anos, Spears fez sucesso com este clássico pop que ficou para sempre gravado na jukebox mental de toda a gente e o single vendeu dez milhões de cópias em todo o mundo. O respectivo álbum com o mesmo nome vendeu também aos milhões e single seguintes "Sometimes" e "(You Drive Me) Crazy" cimentaram a ascensão fulgurante de Britney Spears. E isto era só o começo de um percurso cheio de altos e baixos mas sempre cheio de notoriedade para Spears. Igualmente lendário era o videoclip, onde Britney Spears aparecia vestida de colegial, dando azo a várias fantasias libidionas na mente de muitos jovens (e até menos jovens).
"...Baby One More Time" marcou também a ascensão do sueco Martin Sandberg, mais conhecido como Max Martin, como o grande guru da produção e composição de música pop que é hoje. Martin tinha composto o tema para as TLC que o rejeitaram, acabando por ser Britney a gravar a versão definitiva. E o resto foi história.
2. "Livin' La Vida Loca" Ricky Martin: A cena musical de 1999 foi também marcada pela revolução latina, onde a música pop latino-americana acabou por fazer sucesso em mercados onde ainda não tinha chegado. Os dois cantores tidos como os líderes da revolução eram dois nomes já conhecidos de Portugal há algum tempo mas até então relativamente desconhecidos fora dos países latinos. Um deles era o porto-riquenho Ricky Martin que já tinha tido sucessos internacionais como "1, 2, 3, Maria" e "La Copa De La Vida". Mas foi com o seu primeiro álbum a solo em inglês (que continha um dueto com Madonna) que Ricky Martin conquistou o mundo, sobretudo com um single tão irresistível como "Livin' La Vida Loca", que chegou ao 1.º lugar de tudo o que era top. Agora até dá para rir por razões óbvias, mas na altura um Ricky Martin em frenéticos movimentos de ancas estava para as fantasias femininas como uma Britney Spears colegial estava para as masculinas.
3. "Boom, Boom, Boom, Boom!" Vengaboys: Os Vengaboys eram daquelas ideias tão pirosas e kitsch que só podiam mesmo dar certo. Na sua essência tratava-se basicamente de um projecto eurodance criados por dois produtores holandeses, mas quem dava a cara pelo grupo eram quatro vocalistas que formavam uma espécie de Village People mistos, cada um assumindo uma personagem com roupa a condizer: a tropa (Kim Sasabone, de origem brasileira), o cowboy (Roy den Burger), a disco-girl (Denise Post-van Rijswijk) e o marinheiro (Robin Pors). Com esta formação, o grupo obteve vários hits internacionais entre 1998 e 2000, como "Up & Down" ou "We Like To Party", mas este "Boom, Boom, Boom, Boom!" foi o maior deles, uma super-básica mas apelativa malha eurodance perfeita para animar tudo o que era festa de verão nos idos de 1999. Recordo-me que o meu irmão contou-me que cantava-se então na escola dele uma versão alternativa e gastronómica que era assim: "Boom, boom, boom, boom,/ Batatas com atum/ Ketchup e maionese/ É o que me apetece." Embora sem o sucesso de outrora e com alguns hiatos e mudanças na formação, os Vengaboys continuam no activo editando novo material e actuando ao vivo um pouco por todo o mundo.   
4. "That Don't Impress Me Much" Shania Twain: Era uma vez uma cantora country, com dois álbuns bem recebidos por público e crítica do género, casada com um famoso produtor de bandas rock, quer alcançar o sucesso noutros mercados, mas sem alienar os fãs de country. Seria possível agradar a gregos e troianos? Sim, porque a cantora chamava-se Shania Twain e o marido Robert "Mutt" Lange. Para o seu terceiro álbum, "Come On Over" Twain e Lange pretendiam quebrar as barreiras do country convencional. Mas após a edição original de 1997, em 1998 foi editada a versão internacional do álbum onde a maioria das canções foram re-gravadas numa sonoridade mais pop, o que permitiu a Shania Twain entrar noutros mercados, nomeadamente na Europa. A canadiana já tinha tido alguns sucessos internacionais com as baladas "You're Still The One" e "From This Moment One", mas foi com a nova versão de "That Don't Impress Me Much" em 1999 que Shania Twain afirmou-se como uma estrela global. O tema era um perfeito exemplo da aposta de Twain em dar uma na cravo e outra na ferradura, havendo uma versão country e uma versão dançável que foi a que fez sucesso na Europa e é a que foi incluída neste CD. Ficou para a história da letra em que Shania Twain recusa pretendentes sabichões, vaidosos ("OK, so you're Brad Pitt!") ou obcecados pelo seu carro e ainda mais inesquecível foi o vídeo com Twain no deserto num sensual fato com estampado de leopardo a rejeitar a boleia dos garbosos viajantes que ela encontra pelo caminho. O sucesso foi tal que o álbum vendeu 40 milhões de cópias em todo o mundo e é o sexto álbum mais vendido de sempre nos Estados Unidos. Shania Twain e Robert Lange pareciam então ser a parceria perfeita quer a nível matrimonial, quer profissional até que o casamento de ambos acabou em cenas dignas de telenovela em 2008.
5. "I Want It That Way" Backstreet Boys: Os Backstreet Boys já faziam sucesso há algum tempo e eram então indiscutivelmente a maior boy band do mundo (os NSync só vieram fazer-lhes sombra no ano seguinte) mas em 1999 atingiram outro patamar com o terceiro álbum "Millenium", cujo primeiro single "I Want It That Way" a escalar ao topo de tudo o que era top de vendas (é o único single a ser n.º 1 no Reino Unido) e tornando-se rapidamente o seu maior sucesso comercial. Mais uma daquelas canções do ano de 1999 que ficaram gravadas na mente de todos, mesmo se a letra não fazia muito sentido, nomeadamente no que respeito ao título. Kevin Richardson, um dos membros da banda, justificou-se com o facto do inglês não ser a língua materna do autor da canção, o já referido sueco Max Martin.
6. "When You Say Nothing At All" Ronan Keating: Originalmente gravada pelo cantor country Keith Whitley em 1988, depois versionada por Allison Krauss em 1995, a versão mais popular de "When You Say Nothing At All" surgiu em 1999 na voz do irlandês Ronan Keating, naquele que foi o seu primeiro single a solo. O tema fez parte da banda sonora de um dos maiores filmes do ano "Notting Hill" e ajudou a lançar a carreira a solo de Keating após o fim dos Boyzone. Gosto sobretudo do solo com instrumentos irlandeses (não sei dizer quais) a meio da canção. Agora uma confidência: foi esta música que eu cantei em 2009 no casting para o concurso "Atreve-te A Cantar", apresentado por Bábara Guimarães. (Não, não fui seleccionado.)
7. "How Will I Know (Who You Are)" Jessica: Depois de fazer coros para os Ace Of Base e Dr. Alban, a sueca Jessica Folcker iniciou em 1998 uma carreira em nome próprio que mantém até hoje, do qual a balada "How Will I Know (Who You Are)" continua a ser o seu tema mais conhecido fora da Suécia. Jessica foi mais uma artista que na altura estava sob a alçada das criações do já referido Max Martin. Aliás, o seu primeiro single "Tell Me What You Like" soa como um rascunho de "...Baby One More Time". (Pesquisem para confirmar.)
8. "Lullaby" Shawn Mullins: Embora esta compilação pretendesse reunir os hits do ano de 1999, algumas canções do ano anterior também acabaram por ir cá parar. Em 1998, o cantor e compositor de folk-rock Shawn Mullins teve o seu hit mainstream com "Lullaby" do seu álbum "Soul's Core", cujo vídeo tinha a participação da actriz Dominique Swain que protagonizou a remake de 1997 de "Lolita". Mais preocupado em fazer a música que quer do que em perseguir o sucesso de "Lullaby", Shawn Mullins continua na sua discreta mas bem activa carreira musical.
9. "Sing It Back (Boris Dlugosch remix)" Moloko: Há canções que ganham toda uma nova vida graças a uma remistura de dança, e as três canções seguintes são o exemplo disso. Reza a lenda que durante uma festa em Sheffield, a irlandesa Roisin (pronuncia-se "rosheen") Murphy chegou ao pé de Mark Brydon e perguntou-lhe se ele gostava da camisola justa que ela trazia vestida. Foi o início de uma relação amorosa e musical em que os dois formaram o duo de pop alternativo Moloko (o nome da bebida alucinogénea referida no livro "A Laranja Mecânica"). Originalmente, "Sing It Back" era uma faixa drum & bass perdida por entre o segundo álbum da dupla até que o DJ alemão Boris Dlugosch pegou nela e transformou-a num sucesso que arrasou nas pistas de dança e projectou os Moloko para notoriedade. A dupla continuou até 2003, quando Brydon e Murphy terminaram a relação. Roisin Murphy prosseguiu depois numa bem-recebida carreira a solo.
10. "Sun Is Shining" Bob Marley vs. Funkstar Deluxe: De vez em quando, há quem pegue no repertório de uma defunta glória musical para um remix para girar nas discotecas (enquanto a dita glória provavelmente também gira no túmulo). Em 1999, o DJ dinamarquês Martin Ottesen aka Funkstar Deluxe pegou em "Sun Is Shining", originalmente gravado por Bob Marley & The Wailers em 1971, tema relativamente desconhecido enquanto Marley era vivo, para um remistura de dança que não tardou a arrasar nas pistas de dança. Foi a primeira vez que os herdeiros de Marley autorizaram um remix de uma das suas músicas. Em 2000, Funkstar Deluxe fez outro remix de outro tema de Bob Marley, "Rainbow Country", bem como de outros artistas como Barry White e Grace Jones.  
11. "September 99 (Phats & Small remix)" Earth, Wind & Fire: Continuamos com remisturas e outra vez de uma música dos anos 70. "September" foi originalmente gravada em 1978 pelo lendário e numeroso agrupamento Earth, Wind & Fire. Em 1999, para promover uma colectânea de êxitos para o mercado europeu, "Ultimate Collection", além de reunir no disco os grandos sucessos da banda, foi lançada uma versão de "September" remisturada pela dupla britânica Phats & Small, que nessa altura fazia sucesso nas pistas de dança com temas como "Turn Around" e "Feel Good", apresentando o tema a uma nova geração. Aliás eu não conhecia na altura o original e do repertório dos EW&F só conhecia o incontornável "Boogie Wonderland" e pouco mais. Por incrível que pareça, os Earth Wind & Fire ainda estão no activo ao fim de quase cinco décadas, gravando discos e actuando ao vivo. O último disco de originais data de 2014.  
12. "Miami" Will Smith: Na altura Will Smith estava no pico da sua carreira tanto como artista musical como actor de cinema. O seu primeiro álbum a solo "Big Willie Style" foi um enorme sucesso com hits como "Gettin' Jiggy Wit It", "Just The Two Of Us" e este "Miami", enquanto no grande ecrã estrelava em blockbusters como "O Dia da Independência", "Men In Black" e "Inimigo do Estado". Mas nesse ano de 1999, Smith protagonizou um dos maiores flops do ano "Wild Wild West" e se calhar é por isso que o tema desse filme, que foi mais um hit internacional apesar do fracasso do filme, não está incluído neste disco, tendo-se optado por "Miami", um single de 1998, onde Smith presta homenagem à famosérrima cidade do estado da Flórida. "Miami" continha um sample do tema de 1980 "The Beat Goes On" dos The Whispers, e o vídeo tinha a participação da actriz Eva Mendes, que viria a contracenar com Will Smith em "Hitch - A Cura Para O Homem Comum".
13. "Outside" George Michael: Em Abril de 1998, George Michael foi preso em Beverly Hills por ter-se insinuado a um polícia à paisana numa casa de banho pública, tendo sido condenado a uma multa e 80 horas de serviço comunitário e levado o cantor a confirmar a sua homossexualidade. O escândalo podia significar o fim da carreira do ex-Wham mas George Michael deu a volta por cima. Meses mais tarde para promover o álbum de best of da sua carreira a solo, decidiu usar o vídeo de "Outside", um dos temas inéditos do disco, para parodiar o incidente, criando uma Los Angeles distópica em que pessoas apanhadas em vários actos afectivos e/ou sexuais em público são detectadas por helicópteros e videovigilância e detidas por polícias.
14. "Bailamos" Enrique Iglesias: O terceiro filho de Julio Iglesias já era um ídolo desde 1995 em Espanha, Portugal, Itália e América Latina, quando iniciou a sua carreira, mas tal como Ricky Martin, foi promovido a estrela global em 1999 graças à vaga de artistas latinos que conquistaram novos públicos a cantar em inglês. Outro tema da banda sonora de "Wild Wild West", "Bailamos", escrito e produzido pela mesma equipa que criou o megahit "Believe" para Cher, foi n.º 1 nos Estados Unidos e Espanha.
15. "Mi Chico Latino" Geri Halliwell: A ex Ginger Spice Geri Halliwell lançou em 1999 o seu primeiro álbum a solo, do qual o segundo single foi "Mi Chico Latino" que incluía algumas passagens em castelhano, em homenagem à sua mãe que era de origem espanhola. O tema bem solarengo e alegre encaixou perfeitamente na vaga latina do verão de 1999 e deu a Halliwell o seu primeiro n.º 1 a solo no top britânico. Embora aparecesse bastante sensual no videoclip com um biquini preto, Geri Halliwell revelou mais tarde que na altura lutava contra episódios de bulimia.
16. "Doo Dah" Cartoons: Se os Vengaboys já eram uma ideia bem kitsch, os Cartoons era uma ideia super louca: era um colectivo dinamarquês que fazia versões euro-dance de antigos êxitos de rockabilly, em que os seis membros da banda actuavam como se fossem desenhos animados de carne e osso, com roupas e cabeleiras extravagantes. Os Cartoons tiveram dois hits internacionais em 1999: "Witchdoctor" um original de 1958 de Ross Bagdasarian e este "Doo Dah", uma adaptação de uma cantilena do cancioneiro americano do século XIX "Camptown Races", que foi usada numa campanha da McDonald's. O projecto Cartoons durou até 2001, com um breve ressurgimento em 2005, tendo vendido dois milhões de discos em todo o mundo. Segundo a Wikipedia, um dos elemento femininos do grupo, Karina "Boop" Jensen, faleceu a 16 de Julho deste ano, vítima de cancro da mama.
17. "You Needed Me" Boyzone: Já falamos dele a solo, agora temos de novo Ronan Keating com os Boyzone. Um dos temas inéditos do álbum best of "By Request" do quinteto irlandês, "You Needed Me" foi originalmente gravado pela cantora canadiana Anne Murray em 1978 tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos. A versão dos Boyzone foi por sua vez n.º 1 no Reino Unido e Irlanda. Os Boyzone terminariam no ano 2000, para os membros se dedicarem aos respectivos projectos a solo, tendo-se reunido em 2008 para uma digressão e gravação de novos temas, até que a morte de Stephen Gately em 2009 interrompeu os planos de uma segunda vida do grupo.
18. "The Ex Factor" Lauryn Hill: Em 1998, a parcela feminina dos Fugees não podia estar mais em alta. O seu primeiro álbum a solo "The Miseducation of Lauryn Hill" foi um sucesso de vendas, granjeou os maiores elogios da crítica e recebeu uma saraivada de prémios. Parecia o início de uma carreira a solo que elevaria Hill como uma das grandes cantoras e compositoras da sua geração. Porém pouco tempo depois, Lauryn Hill decidiu retirar-se da vida pública, desiludida com a fama e a indústria musical, e desde então só editou um álbum MTV Unplugged. Ela ainda hoje vai actuando e compondo (e tendo filhos, num total de seis) mas nunca mais quis regressar aos discos e à ribalta. Inclusivamente em 2013 cumpriu três meses de prisão por evasão fiscal.
Este "Ex-Factor" foi o segundo single do seu único álbum a solo e diz-se que é sobre a sua relação com Wyclef Jean dos Fugees, com quem teve um caso secreto.
19. "Strange Foreign Beauty" Michael Learns To Rock: A banda dinamarquesa Michael Learns To Rock foi formada em 1988 e desde então vendeu mais de 11 milhões de discos, a maioria deles na Ásia. Em 1995, uma das suas canções "That's Why You Go Away" obteve alguma rotação nas rádios portuguesas. Talvez por causa disso, em 1999 vieram cá a Portugal promover extensivamente o seu álbum best of "MLTR", dando alguns concertos e aparecido em vários programas como "A Roda dos Milhões", "Big Show SIC" e "Top+". Como tal, este "Strange Foreign Beauty" passou bastante nas rádios nacionais e chegou até esta colectânea. Mesmo reduzidos de quarteto para trio desde 2000, os Michael Learns To Rock continuam no activo e são ainda muito populares no seu país e na Ásia. Por exemplo, foram a primeira banda estrangeira a tocar no Cambodja em 2005.

CD2
1. "If You Had My Love" Jennifer Lopez: Hoje por hoje ela é mais uma cantora que vai fazendo alguns filmes mas em 1999, Jennifer Lopez era "outra actriz que queria ser cantora". Convém não esquecer que Lopez na altura até tinha uma respeitável carreira na representação, tendo sido nomeada para um Globo de Ouro pelo seu papel em "Selena", tinha filmado com Oliver Stone ("U-Turn") e Francis Ford Coppola ("Jack") e foi muito elogiada no seu desempenho em "Romance Perigoso" ao lado de George Clooney. Mas tendo começado no teatro musical, Lopez também sempre aspirou a uma carreira musical e nesse ano, editou o seu primeiro álbum "On The 6", e o primeiro single "If You Had My Love" foi um sucesso imediato. O respectivo videoclip continua a ser um dos mais recordados, num mundo onde era possível vigiar J.Lo em sua casa através da internet.
2. "Summer Son" Texas: A banda escocesa Texas (que retirou o seu nome do filme "Paris, Texas") teve o seu auge em 1997 com a edição do seu quarto álbum "White On Blonde" que foi campeão de vendas e produziu hits como "Say What You Want" e "Black Eyed Boy". Em 1999, a banda liderada por Sharleen Spiteri cumpria a ingrata tarefa de continuar o êxito com o álbum "The Hush". "In Our Lifetime" foi o primeiro single e fez parte da banda sonora de "Notting Hill", mas o grande sucesso desse álbum foi "Summer Son", que com a sua batida frenética e atmosfera solarenga, foi perfeita para o verão quente de 1999. O respectivo e bizarro videoclip, com Sharleen a rebolar na cama com um homem que esporadicamente se transforma num sol é um dos mais famosos do grupo. Os Texas continuaram no activo em 2008. Desde esse hiato, Sharleen Spitteri tem enveredado por uma carreira a solo.
3. "All Star" Smash Mouth: A banda californiana Smash Mouth tinha alcançado a notoriedade em 1997 graças a hits como "Walkin' On The Sun", mas foi em 1999 que editaram aquela que se tornaria a sua canção mais famosa, "All Star". Inicialmente, o tema foi escrito para o filme "Mystery Men", uma paródia aos filmes de super-heróis com Ben Stiller, Greg Kinnear, William H. Macy e Jeaneane Garofalo, mas que foi um fracasso de bilheteira. Contudo seria a inclusão de "All Star" noutro filme que transformou o tema num clássico: o primeiro filme do "Shrek" (2001).
4. "Canned Heat" Jamiroquai: Tal como os Texas, os Jamiroquai vinham de um álbum de grande sucesso, "Travelling Without Moving" de 1996, que continha os hits "Virtual Insanity" e "Cosmic Girl" e pretendiam continuar a maré alta com álbum "Synchronized" em 1999. O primeiro single, "Canned Heat", com influências do funk e do disco, rapidamente tornou-se outro dos temas mais populares da banda.
5. "Erase/Rewind" Cardigans: Os suecos Cardigans tinham-nos habituado a canções melancólicas e fofinhas como "Carnival" e o megahit "Lovefool". Por isso foi um choque quando o álbum de 1998 "Gran Turismo" marcou uma mudança de rumo para sonoridades e temas mais obscuros e até a voz angelical de Nina Persson parecia soar mais tétrica. Daí que este "Erase / Rewind", sobre o direito de uma pessoa a mudar de opinião, fosse um dos temas menos pesados do álbum, tendo também sido incluído no filme "Nunca Fui Beijada" com Drew Barrymore.
6. "You Get What You Give" New Radicals: Depois de vários anos a tentar singrar na música, Gregg Alexander finalmente alcançou o sucesso com os New Radicals, que na verdade era mais um projecto individual com a ajuda de amigos e alguns músicos recrutados para as gravações do que uma banda, com mais uma das canções mais marcantes de 1999, "You Get What You Give". Desde Alexander a fazer tudo para soar igual a Mick Jagger (quando ouvi a canção pela primeira vez, pensava que era dos Rolling Stones), à letra onde ele ameaçava dar um chuto no rabo de gente como Beck, Courtney Love e Marilyn Manson ao videoclip onde jovens se revoltavam num centro comercial e aprisionavam adultos engravatados, tudo no tema era épico. Por cá ainda se ouviu o single seguinte "Someday We'll Know" mas quiçá satisfeito por ter conquistado o sucesso, Gregg Alexander arrumou o projecto New Radicals na gaveta e tem desde então trabalhado como compositor, tendo escrito canções para nomes como Ronan Keating, Enrique Iglesias, as Spice Girls Melanie C e Geri Halliwell, Rod Stewart e Carlos Santana. Em 2014, foi nomeado para o Óscar de Melhor Canção como autor do tema "Lost Stars" do filme "Num Outro Tom".  
7. "Thursday's Child" David Bowie: Despedimo-nos do grande David Bowie no início deste ano, mas em 1999, ele ainda era um cinquentão que estava aí para as curvas. Nesse ano, Bowie editava o álbum "The Hours", cujo primeiro single foi este "Thursday's Child", um tema bastante introspectivo e sem dúvida dos mais acessíveis de entre a fase final da sua carreira, marcada por sonoridades mais experimentalistas.
8. "Sweetest Thing" U2: Reza a história que Bono Vox escreveu "The Sweetest Thing" como pedido de desculpa à sua esposa Ali Hewson por não estar presente no aniversário dela, quando a banda estava a gravar o mítico álbum "The Joshua Tree". A canção foi gravada em 1987 e foi o lado B de "Where The Streets Have No Name". Em 1998, por ocasião do lançamento de uma compilação com os êxitos dos U2 de 1980 a 1990, o tema foi regravado para promover o disco. 
9. "You'll Follow Me Down" Skunk Anansie: Portugal foi um dos países onde a banda rock britânica Skunk Anansie obteve mais sucesso e estes também há muito que retribuem a paixão pelo nosso país, e cada novo disco implica sempre uma passagem obrigatória por cá. A banda liderada pela carismática Deborah Ann Dyer, mais conhecida como Skin, teve um período particularmente áureo em 1999 com o terceiro álbum "Post Orgasmic Chill" que foi dupla platina em Portugal (até o meu pai comprou um exemplar!) que continha temas esmagadores como "Charlie Big Potato", "Secretly", "Lately" e a fechar o ciclo, a balada sing-along "You'll Follow Me Down". 
10. "Promises" Cranberries: Os Cranberries são outra banda dos anos 90 que ainda hoje é bem recebida por cá. Os tempos do megasucesso de meados da década com hits como "Linger" e "Zombie" já estava para trás, mas a banda irlandesa continuava em força em 1999 com o quarto álbum "Bury The Hatchett", do qual "Promises" foi o primeiro single.
11. "She's In Fashion" Suede: Os Suede eram outra banda que vinham de um álbum de enorme sucesso, "Coming Up" de 1996, e que agora tinham a dura tarefa de continuar na onda com o álbum seguinte. "Head Music" não teve tanto êxito como o predecessor mas tinha os seus momentos agradáveis como "She's In Fashion", o tema mais conhecido deste álbum.
12. "The Rockefeller Skank" Fatboy Slim: Depois de ter integrado os Housemartins nos anos 80, Norman Cook desdobrou-se em vários projectos e avatares na primeira metade dos anos 90 (Beats International, Freak Power, Pizzaman, Mighty Dub Catz) até se afirmar como produtor topo de música de dança sob o pseudónimo Fatboy Slim. "The Rockefeller Skank" de 1998 foi o seu primeiro single sobre este alias e cedo os versos "right about now, the funk soul brotha, check it out now, the funk soul brotha" bem como aquele acelerar a meio, quase como num arrancar de mota, tornaram-se inesquecível. No entanto, e apesar de "The Rockefeller Skank" ter sido utilizado como o tema principal do jogo FIFA 1999, creio que faria mais sentido incluir outros temas de Fatboy Slim que saíram em 1999 como "Praise You" e "Right Here Right Now". 
13. "Hey Boy, Hey Girl" Chemical Brothers: Não sendo irmãos de sangue,Tom Rowlands e Ed Simons já tinham mostrado o resultado da química da sua irmandade profissional para a música electrónica com hits como "Block Rockin' Beats". 1999 foi o ano do seu terceiro álbum "Surrender" do qual o primeiro single "Hey Boy Hey Girl" tornou-se rapidamente um dos temas mais populares da dupla.
14. "Coffee And TV" Blur: 1999 viu também um novo álbum dos Blur, simplesmente intitulado "13", o número de faixas contidas no disco. Para o segundo single "Coffee & TV", Damon Albarn cedeu o microfone ao baixista Graham Coxon, até porque a letra era bastante pessoal para este. O videoclip foi um dos mais divertidos da banda, com a história de pacote de leite animado com uma foto com uma foto de Coxon, dado como desparecido, à procura dele pelas ruas de Londres. 
15. "All About The Money" Meja: Outro tema de 1998 que veio parar ao "NOW 99". A sueca Meja Beckman começou a sua carreira no grupo The Legacy Of Sound até enveredar por uma carreira a solo em 1996. Em 1998, obteve um inesperado hit internacional com "All About The Money", uma canção sobre os efeitos nefastos do materialismo. O outro êxito internacional de Meja foi um dueto com Ricky Martin em 2000, "Private Emotion". Meja continua no activo, sendo ainda popular na Escadinávia e no Japão.  
16. "A Good Sign" Emilia: Filha de pai etíope e mãe sueca, Emilia Mitiku teve um hit mundial no início de 1999 com "Big Big World". Quem não se recorda do refrão "I'm a big, big girl,/ In a big, big world,/ It's not a big, big thing/ If you leave me"? Este "A Good Sign" foi o single seguinte. Embora nunca mais tivesse sequer aproximado do sucesso do seu single de estreia, Emilia continua sempre activa na sua carreira. Em 2009, tentou representar a Suécia no Festival da Eurovisão, ficando em nono lugar na pré-selecção nacional. 
17. "Fossanova" Belle Chase Hotel: E chegámos às duas faixas nacionais do disco. Depois do sucesso dos Silence 4 em 1998, cantar em inglês deixou de ser um estigma para as bandas portuguesas e muitos outros projectos nacionais na língua de Shakespeare também alcançaram grande notoriedade. Um deles foram os Belle Chase Hotel, grupo de Coimbra liderado por JP Simões (sempre adorei esta designação, parece o nome de uma firma tipo "JP Simões - Reparações de electrodomésticos - fazemos orçamentos grátis") e que cativou com a sua sonoridade ao mesmo tempo retro e actual. O tema mais conhecido do primeiro álbum é "Sunset Boulevard" mas neste disco optou-se por incluir a faixa que deu nome ao álbum. 
18. "My Wonder Moon" Hands On Approach: E fechamos com chave de ouro com um dos hits nacionais do ano e uma canção que, dezassete anos depois, ainda ouço com bastante alegria. Beneficiando do efeito Silence 4, os Hands On Approach conquistaram tudo e todos com o seu primero single "My Wonder Moon", o que fez com que em 1999 a banda de Setúbal fosse uma das mais requisitadas para concertos pelo país fora. Ouvir "My Wonder Moon" faz-me sem dúvida recuar até ao ano de 1999, à minha primeira Queima das Fitas em Coimbra, ao logótipo humano de candidatura do Euro 2004 no Estádio do Jamor e a um Portugal e a um Paulo que agora parecem tão distantes que até dá para duvidar se existiram mesmo. (Mas eu sei que sim.) Os Hands On Approach também continuam até hoje, não muito prolíficos em termos de material editado, mas ainda somando uns êxitos ocasionais. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Space Jam (1996)

por Paulo Neto

Michael Jordan está para o basquetebol como Pelé para o futebol. Mesmo havendo um sem-fim de ilustres nomes que marcaram a história de ambos os desportos, quando acontece fazer o sempre ingrato exercício de escolher apenas um nome como o maior da respectiva modalidade, os nomes destes dois senhores costumam gerar um relativo consenso. Eu já não sou do tempo em que o senhor Edson Arantes do Nascimento maravilhou o mundo com a bola nos pés, mas felizmente sou do tempo em que o senhor Michael Jeffrey Jordan encantava tudo e todos com uma bola nas mãos.



Como a maioria das pessoas cá em Portugal, eu descobri todo o enorme talento de Michael Jordan durante o famoso mítico magazine "A Magia da NBA" que fazia parte da programação desportiva da RTP 2 nas tardes de sábado do início dos anos 90. Mesmo num período áureo da NBA (onde também pontificavam nomes como Magic Johnson, Larry Bird, Shaquille O'Neal, Charles Barkley, Scottie Pippen, Karl Malone e Pat Ewing), os pontos altos eram sem dúvida os jogos dos Chicago Bulls, com Michael Jordan frequentemente a encestar em altos voos com a camisola número 23. A sua popularidade era tal que até aqueles que não sabiam nada da NBA sabiam quem era Michael Jordan.



Em 1996, a popularidade de Jordan era tal que se justificou uma incursão no cinema, num projecto que o juntou ao universo do Looney Toons: o filme "Space Jam", realizado por Joe Pytka.
A história remonta a um acontecimento pessoal de Michael Jordan quando em 1993 chocou o mundo ao anunciar a sua retirada do basquetebol para se dedicar ao basebol, para seguir as pisadas do seu pai, praticante desse desporto. Mas cedo se verificou que de taco na mão, Jordan estava muito longe do talento que tinha como basquetebolista e em 1995, regressou à NBA e aos Chicago Bulls.




Num planeta distante, o parque de diversões Moron Mountain, gerido pelo terrível Swackhammer (voz de Danny DeVitto), está em maus lençóis financeiros e por isso, ele ordena aos seus cinco pequenos esbirros, os Nerdlucks - Pound, Bang, Bupkus, Blank e Nawt - que capturem os Looney Toons para serem as novas escravos atrações de Moron Mountain.



Apesar das suas pequenas dimensões, os Nerdlucks conseguem subjugar os Looney Toons graças às suas armas laser. No entanto, Bugs Bunny convence-os a darem uma oportunidade de eles se defenderem. Pensando que facilmente ganharão às diminutas criaturas, Bugs Bunny e os outros desafiam-no para um jogo de basquetebol.
Mas as coisas complicam-se quando os Nerdlucks roubam os talentos dos jogadores da NBA - Charles Barkley, Pat Ewing, Larry Johnson, Shawn Bradley e Muggsy Bogues - transformando-se nos Monstars, cinco terríveis monstros basquetebolistas.


Aflitos, os Looney Toons trazem Michael Jordan - que deixara o basquetebol e se encontra numa medíocre carreira no basebol - para o seu universo através de um buraco num campo de golfe onde este jogava com Larry Bird e o actor Bill Murray, para os ajudar a ganhar o jogo. Uma atlética coelhinha basquetebolista de nome Lola Bunny também surge para ajudar e desde logo deixa Bugs Bunny caidinho. Stan Podolak (Wayne Knight) o publicista de Jordan também vai parar ao universo Looney Toons para ajudar, apesar da sua falta de destreza.





No final, após muitas voltas e reviravoltas (e uma inesperada ajuda de última hora de Bill Murray), os Looney Toons vencem o jogo, os Monstars revoltam-se contra a opressão de Swackhammer e devolvem os seus talentos aos jogadores de quem os tinham roubado e Michael Jordan regressa ao basquetebol. (De referir ainda a actriz Theresa Randle no papel de Juanita, a então esposa de Michael Jordan e cameos dos actores Dan Castellanetta e Patricia Heaton.)

Apesar de algumas críticas, nomeadamente por parte de Chuck Jones, um dos maiores nomes ligados aos Looney Toons, "Space Jam" foi um sucesso de bilheteira, tornando-se um dos filmes de temática desportiva mais rentáveis de sempre, e sendo creditado por apresentar os Looney Toons a uma nova geração. Em Portugal, o lançamento do filme em vídeo teve a particularidade de ser o primeiro filme de sempre a conter a versão original e a versão dobrada em português na mesma cassete VHS (cá em casa houve uma cassete dessas). A dobragem portuguesa contou com nomes experientes nessa área como Paulo Oom, José Raposo, Carlos Freixo, André Maia, António Marques, Paulo B., Paula Fonseca e Helena Montez.

A banda sonora de "Space Jam" foi também um sucesso. Entre as músicas mais conhecidas da banda sonora estão "For You I Will" de Monica, "Fly Like An Eagle" de Seal, "Space Jam" dos Quad City DJ's e "Hit 'Em High (The Monstars Anthem)" num colaboração que juntou estrelas de rap B-Real, Busta Rhymes, Coolio, LL Cool J e Method Man. Porém o grande hit de "Space Jam" foi sem dúvida "I Believe I Can Fly", a esmagadora balada gospel de R. Kelly. O disco da banda sonora contava ainda com nomes como D'Angelo, Salt N Pepa, Barry White, Spin Doctors e Robin S.

Um segundo filme de "Space Jam" com Lebron James está previsto.

O David Martins chamou-me a atenção para este programa do "Templo dos Jogos" com uma crítica ao jogo do Space Jam para a Playstation

Trailer:


"I Believe I Can Fly" R. Kelly




sábado, 3 de dezembro de 2016

Sem Limites


Recentemente, enquanto escutava rádio (a M80), começou a tocar uma faixa que logo nos primeiros acordes me fez recordar um programa de TV dos anos cromos. Descobri o nome da música, "She Sells Sanctuary" dos britânicos The Cult, e fui pesquisar por ligações com o programa, que estava convencido ser o "Portugal Radical". Afinal, graças aos comentários desse programa da SIC, fui direccionado para o programa correcto: "Sem Limites", da RTP-1, na época Canal-1, aos Domingos de manhã. O concorrente na SIC, o "Portugal Radical", ocupava um horário semelhante na grelha, mas aos Sábados.
Cá está o genérico, com a música que não ouvia desde essa altura, até calhar a tocar na rádio:

Sou um zero à esquerda em desportos tradicionais, quanto mais estes radicais que explodiram nos anos 90. O mais perto que consegui chegar a ser radical foi colocar um pé em cima de um skate de um primo meu, e retirá-lo a tempo de evitar quedas desagradáveis. E falando em quedas, uma vez tentei fazer um cavalinho com a minha BMX vermelha. Não acabou bem... Mas voltando ao tópico, apesar de me recordar do tema de abertura, pouco mais ficou. Talvez tenha assistido alguns episódios, mas não era assunto do meu interesse e portanto pouca atenção lhe dediquei... Mas imagino que fosse o Santo Graal da malta que era ou sonhava ser radical. Ei, acho que tive um dossier com um desenho de um puto de skate! Radical enough?

O site oficial da RTP inclui uma sinopse sobre o programa:
"Um programa muito radical...

Produzido no início dos anos 90 pela RTP - Porto, o programa "Sem Limites" é dedicado aos chamados desportos radicais.
Apresentado por Clara Sousa, Duarte Miguel e Pedro Mendonça e realizado por Carlos Silva, o programa pretende ser muito jovem, muito fresco, muito radical.
Modalidades como skate, surf, body board, windsurf e snowboard são presença constante nesta série.
Para além de apresentar provas nacionais nestas modalidades, o "Sem Limites" mostra também provas internacionais, bem assim como reportagens sobre técnicas diversas, como por exemplo a feitura de uma prancha de surf".
E directo dos arquivos do Canal Enciclopédia TV, um anúncio ao programa:

"Jovem. Irreverente. Frenético. Sem Limites. Domingo, ao fim da manhã, agarra o Canal 1 ! Sem Limites." dizia a voz off, apropriadamente ao som do hit de 1993 "No Limit" (Sem Limite) dos 2 Unlimited.

Um artigo do MoveNotícias, refere que o jornalista Miguel Torrão se estreou na TV como pivot do "Sem Limites", em finais dos anos 90.

E falando em finais dos 90, do canal de Youtube do skysurfer José Veras, vídeos de 1997 e 1998, já na RTP-2:






E com um logotipo e música diferentes, um genérico com animação de Pat (o ilustrador Álvaro Patrício, cujo mítico trabalho nos separadores e genéricos da RTP já fora abordado pelo Paulo Neto no artigo "Genéricos de Álvaro Patrício (Pat)"):


Até ao momento não consegui confirmar a data de estreia e encerramento, mas é certo que esteve no ar entre 1994 e 1998, pelo menos.

Excerto da programação de 28 de Janeiro de 1996, "Sem Limites" depois do espaço "Infantil/Juvenil":


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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pisca-Pisca (Tudo Na Maior) (1989)


por Paulo Neto

A viragem dos anos 80 para os anos 90 foi particularmente fértil em termos de ficção nacional exibida pela RTP: entre 1989 e 1991, vimos séries tão variadas como "Alentejo Sem Lei", "Claxon", "Chuva De Maio", "Caixa Alta", "Nem O Pai Morre...", "A Tribo Dos Penas Brancas" e a primeira série de "Os Melhores Anos", só para mencionar aquelas de que já falámos aqui.



Outra série de que me recordo particularmente dessa altura é "Pisca-Pisca" (com o subtítulo "Tudo Na Maior"), exibida entre Setembro e Dezembro de 1989, aos sábados à noite. Tratava-se de uma curiosa mistura de sitcom com programa de variedades. O elenco fixo era composto por oito actores que vinham da telenovela "Passerelle": Armando Cortez, Luísa Barbosa, Florbela Queiróz, Júlio César, Rosa do Canto, Natalina José, Fernando Mendes e Paula Cruz. Os textos eram de Rosa Lobato Faria e Armando Cortez, a direcção de produção de Thilo Krassman, a direcção musical de Pedro Osório e a realização de Nuno Teixeira.

O ponto de partida para o programa eram as aventuras e desventuras da família Cabrita, composta por oito pessoas que partilham um apartamento T1 em Lisboa. Embora a família tenha dois negócios - um salão de cabeleireiro e um misto de central de táxis e oficina de automóveis - as dificuldades financeiras são sempre muitas, por isso muitas vezes recorrem à imaginação para viver situações ora bizarras ora divertidas para escaparem à frugalidade em que vivem.

Cabrita (Armando Cortez)
Berta (Luísa Barbosa)
Belarmina (Natalina José)
João (Florbela Queiroz)
Miló (Rosa do Canto)
Orlando (Júlio César)
Juvenal (Fernando Mendes)
Alicinha (Paula Cruz)


Cabrita (Armando Cortez) é o patriarca, desempregado profissional, que vai ditando as suas sentenças enquanto a sua esposa Berta divide-se entre a cozinha e os seus biscates como vidente. Os dois têm três filhas: a estóica Belarmina (Natalina José), taxista e mãe solteira que já viu todo o tipo de clientes a passar pelo seu táxi (como por exemplo, o flautista de Hamelin a caminho do Largo do Rato!); a ingénua João (Florbela Queiróz), mecânica cuja aparência de maria-rapaz, esconde uma alma romântica e sonhadora, sobretudo quando se recorda do seu amado Sebastião, desaparecido numa manhã de nevoeiro; e a espevitada Miló (Rosa do Canto), a intelectual da família (isto é, a única que fez o ciclo preparatório) que gere as contas da central de táxis e sonha em ser fadista.
Na casa vivem ainda Orlando (Júlio César), um primo afastado, Alicinha (Paula Cruz), filha de Belarmina, e Juvenal (Fernando Mendes), que ficou a viver com os Cabrita desde que a sua mãe o deixou lá em casa em bebé e esqueceu-se de o vir buscar.
Orlando ficou a viver com os Cabrita quando regressou a Portugal, depois de (segundo ele) ter combatido em África e andar emigrado no Brasil. Para que as clientes do seu salão não se intimidem com a sua virilidade, durante o serviço assume o alter-ego Landô com tiques efeminados e sotaque brasileiro. E nas horas vagas, vai namoriscando a prima Miló. Também Juvenal e Alicinha vão namorando entre as horas no salão e as tarefas em casa.


Falta ainda falar nos dois animais de estimação da família: o leitão Rosado, que vive alegremente na banheira, e o peixinho Peixoto, que no início de cada programa fazia o resumo do episódio anterior do seu ponto de vista e cujo único tormento é ter de passar para um copo quando Berta decide usar o seu aquário como bola de cristal.

Cada episódio tinha um tema (por exemplo: o circo, as histórias infantis, o Brasil ou os santos populares) a desencadear todo o tipo de situações quer da acção propriamente dita, quer das sequências imaginárias. Pelo meio havia vários números musicais e de bailado e actuações de artistas convidados.

Por exemplo:



- A cada episódio, o elenco reunia-se num cenário com roupas alusivas ao tema do episódio cantando duas variações do tema principal do programa que terminava sempre com a quadra: "Mas se tirarmos um ou outro pormenor, está tudo na maior, tudo na maior."
- Num episódio onde se recuou ao tempo dos gangsters dos anos 20, Florbela Queirós, Rosa do Canto e Natalina José formavam um grupo de irmãs cantoras que entoavam: "Fazemos marmelada, uh uh uh, muita marmelada, uh uh uh." No mesmo episódio, Natalina José e Luísa Barbosa encarnaram duas gangsters muito assustadoras que cantavam: "Somos maus, somos maus, a função é espalhar o caos!"
- Mas a canção de "Pisca-Pisca" que eu nunca esqueci foi a que encerrou o segundo episódio, o "Rock da Conjuntura", com todo o elenco vestido como punks e Júlio César a cantar: "A conjuntura, a conjuntura, a conjuntura tanto bate até que fura!"

Entre os convidados musicais do programa estiveram Lara Li, António Calvário, Rui Veloso, Eugénia Melo e Castro, Teresa Maiuko, Raúl Indwipo, Carlos Mendes, Marco Paulo, Dora, Ministars, Cândida Branca Flor e Paco Bandeira.

Apesar da história ser por vezes demasiado confusa e "nonsense" e de, segundo o site "Brinca, Brincando", os textos terem merecido críticas por parte de alguns actores do elenco, como Florbela Queiróz e Fernando Mendes, "Pisca-Pisca" primava pela qualidade da realização e da direcção artística. O programa foi reexibido pela RTP em 1990 e 1996 e já passou várias vezes na RTP Memória.

Apesar disso, existe muito pouco material do programa disponível na internet, como por exemplo o original e psicadélico genérico de abertura. No YouTube, apenas encontrei este excerto do episódio de Natal, onde os Cabrita vêem-se em palpos de aranha com tantas rabanadas que lhes são oferecidas, com o Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras a cantar o clássico "Olhei Para O Céu". De referir que apesar deste episódio natalício (transmitido em Novembro), na véspera de Natal de 1989 a RTP exibiu um especial de Natal com o melhor das actuações musicais do programa.  


Atualização: Mais alguns excertos do programa no YouTube

Marco Paulo cantando "Joana" e outra canção


Uma cena do programa de Natal (cortesia do canal oficial de Fernando Mendes)




sábado, 26 de novembro de 2016

Soutien Allya - Triumph (1985)



Anúncio ao soutien "Allya" - da Triumph International - com o subtítulo "Mulher de sonho" (talvez uma referência ao filme "10 - Uma Mulher de Sonho", com Bo Derek? Apesar de esta última ser mais conhecida precisamente pela ausência de soutiens....) e o carimbo "Show Moda 85". A acompanhar uma foto de uma modelo anónima que exibe os seios devidamente aconchegados num soutien e ornamentada por pérolas e um véu de renda.
"Allya. Sedução da forma recriada, conforto e leveza que envolvem, liberdade descoberta momento a momento, na suavidade do toque, no sonho de ser mulher!"

Publicidade retirada da revista Maria, de Abril de 1985 (por confirmar). 
Imagem Digitalizada e Editada por Enciclopédia de Cromos.


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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Survivor Portugal (2001)

por Paulo Neto

Os reality shows já existiam antes mas na viragem do século, esses produtos televisivos atingiram outro nível ao quebrar de vez com a barreira mitológica que existia entre as pessoas do mundo da televisão e os cidadãos comuns. Tornou-se cada vez mais fácil para um cidadão anónimo tornar-se um nome e um rosto reconhecido por toda a população pelo simples facto de aparecer num programa de televisão e onde nem sequer precisava necessariamente de ter um determinado talento.



Em muitos países, como Portugal, essa barreira foi quebrada com a sua respectiva edição nacional do "Big Brother" ou afins (como "Loft Story" em França). Porém nos Estados Unidos, o programa que é considerado como a primeira grande referência dos reality shows no século XXI foi "Survivor", quando no ano 2000 o seu sucesso ofuscou a primeira edição americana do "Big Brother", estreada na mesma altura.

O conceito do "Survivor" foi criado em 1992 pelo britânico Charlie Parsons para tentativamente ser vendido a um canal britânico. Porém, a primeira edição da franchise que se realizou foi na Suécia em 1997 com o título "Expedition Robinson". Isto pois se o "Big Brother" remetia para a obra "1984" de George Orwell, "Survivor" fazia lembrar "Robinson Crusoe" de Daniel DeFoe já que a premissa do programa era a de ver desconhecidos a sobreviver num lugar selvagem e inóspito algures no mundo, como Robinson Crusoe.
Embora a estrutura do programa tenha tido várias variantes conforme o local, o país que produzia e a temporada, a principal estrutura é esta: os concorrentes são divididos em duas ou três tribos e em locais separados (como por exemplo ilhas diferentes) onde têm de construir um abrigo com os poucos recursos que dispõem e alimentar-se daquilo que possa haver de comestível no local. Além dos parcos meios fornecidos pela produção, cada concorrente tem direito a levar um objecto "de luxo", para de certo modo facilitar a sua estadia no local.  A cada semana há um desafio onde as tribos lutam por uma recompensa (como comida, ferramentas ou produtos de higiene) e outro desafio em que lutam pela imunidade. Os elementos da tribo que perder este desafio terão de votar um deles para ser expulso do jogo. Quando restarem um determinado número de concorrentes (geralmente dez), estes formarão uma única tribo e a partir daí os desafios de recompensa e de imunidade serão a nível individual. No final, o vencedor é escolhido pelos concorrentes eliminados.
A franchise, quer como "Survivor" quer como "Expedition Robinson", já foi vendida para mais de 40 países desde 1997. Em alguns países, como Espanha e Itália, houve edições com celebridades. A franchise continua em exibição em vários países como Dinamarca, França, Holanda, Roménia, Eslovénia e Estados Unidos, onde já vai na 33.ª (!) edição.

logótipo da edição portuguesa


Em Portugal, houve apenas uma edição do "Survivor", filmada no Panamá durante 39 dias no Verão de 2001, tendo estreado na TVI a 6 de Outubro, com o último episódio a ser transmitido a 30 de Dezembro. O programa teve apresentação de Paulo Salvador, com cada episódio a ser transmitido aos sábados à noite, além de pequenos blocos conduzidos por Teresa Guilherme ao longo da semana.



No entanto, apesar de não ter tido fracas audiências (ou não estivéssemos em pleno boom do primetime da TVI), a única edição portuguesa do "Survivor" passou algo despercebida e parece caída no esquecimento geral. Para tal, haverá sobretudo quatro explicações: a estreia na mesma altura do Big Brother 3 e de várias telenovelas na TVI que eclipsaram a estreia do "Survivor", a falta de interactividade com o público já que o programa estava previamente gravado e as expulsões dependiam somente dos concorrentes, não ter havido nenhum momento icónico que tivesse ficado para a posterioridade (como o pontapé do Marco no "Big Brother", o calvário parental de Margarida em "O Bar Da TV" ou a pancadaria sobre rodas entre Gisela e Sandra no "Masterplan") e talvez até ao facto de os nossos Survivors nacionais terem optado por jogar limpo em detrimento de intrigas, alianças ou manipulações (que fizeram parte do sucesso da primeira versão americana, que foi ganha pelo concorrente considerado como o vilão).

Foi muito difícil conseguir informação na internet sobre o "Survivor" português, pelo que os principais recursos que usei para este texto são a minha memória e o já inevitável livro "Isso Agora Não Interessa Nada" de Teresa Guilherme.
 
- Foram dezasseis os concorrentes, oito homens (António, Fred, Luís, Miguel, Paulo, Pedro, Ricardo e Roberto) e oito mulheres (Aida, Ana Luísa, Ana Marta, Andreia, Carla, Catarina, Miriam e Sofia).
Não soube as idades, profissões e localidades de todos, mas lembro-me que Andreia era a concorrente mais nova com 19 anos e Miguel e Roberto já estavam na casa dos quarenta. Eram de vários pontos do país e havia um concorrente açoreano, mas não sei qual.
- Numa primeira fase, os concorrentes foram divididos em duas tribos: Ana Marta, António, Carla, Catarina, Fred, Miguel, Paulo e Sofia formaram a tribo Sikui (que quer dizer "pássaro" no idioma indígena local), simbolizada pela cor laranja e Aida, Ana Luísa, Andreia, Luís, Miriam, Pedro, Ricardo e Roberto a tribo Ua ("peixe"), simbolizada pela cor amarela.
- Catarina foi a primeira concorrente a ser expulsa da ilha, sendo notória a sua falta de adaptação à ilha. Andreia foi a primeiro expulsa da tribo Ua. Ana Marta, Roberto, Sofia e Luís foram os outros concorrentes expulsos antes da fusão das tribos.
- Nos últimos desafios antes da fusão, cada tribo elegeu um membro para jogar com a outra tribo (não podendo ser eliminado). Ana Luísa foi escolhida para competir com os Sikui e Carla com os Ua.
- Com a fusão tribal, os dez concorrentes restantes passaram a formar tribo Baluti ("onda"), com a cor verde. Mesmo antes da reunião, Fred adoeceu e foi impedido pelos médicos de continuar no concurso. Em seu lugar, Sofia, que tinha sido a última concorrente Sikui eliminada, regressou ao jogo, mas ela não pareceu muito satisfeita com isso e foi eliminada por unanimidade na primeira votação da tribo Baluti. Sofia viria a participar no "Fear Factor", no mesmo episódio onde participaram uns então pouco conhecidos Cifrão e Gustavo Santos.
- Recordo-me que uma prova de recompensa, quando só restavam seis ou sete concorrentes, que consistia em eles se verem ao espelho pela primeira vez e calcular quanto peso tinham perdido desde que tinham chegado à ilha, ganhando aquele que se aproximasse mais da diferença perdida. No entanto, essa prova foi ganha por Aida que calculou correctamente que tinha...engordado um quilo!
- Mas foi Carla que ganhou aquela que sem dúvida foi a melhor recompensa do concurso que foi uma noite numa espécie de spa a céu aberto com um buffet de saladas e frutas. Para acompanhá-la ela escolheu Pedro.
- Aliás, tais eram as privações no local, que também me recordo dos membros da tribo Sikui quase a chorar de alegria ao descobrirem que por entre as recompensas que tinham ganho após um desafio, além de um cesto carregado de frutas que não existiam na ilha, estavam vários pacotes de sumo Compal!



Segundo Teresa Guilherme, não foram só os concorrentes que passaram por muitas privações e dificuldades no Panamá. Também a equipa de produção e de filmagem sofreu bem na pele os tormentos das intempéries e dos mosquitos.
"Estávamos separados por um mar de correntes furiosas, ondas de três andares e tudo envolto num assustador tom a atirar para um cinza muito escuro. E isto porquê? Porque durante os dois meses que estivemos no Panamá, todos os dias chovia muito, muitíssimo, a potes. (...)
Mas esta molha diária era uma gota de água comparada com os ataques das hordas de mosquitos. (...)
Claro que (...) usámos um repelente contra a tal bicharada, como se estivéssemos a acampar civilizadamente no parque de campismo de uma albufeirita qualquer. 
E ao cair da tarde, eles atacaram. Em menos de três minutos, e por mais que os enxotássemos freneticamente, fomos devorados. E lá passámos a ter mais uma ocupação diária: coçar as centenas de mordidelas que se transformavam em babas gigantescas, (...).
Não fosse o médico da equipa que nos encharcou de anti-histamínicos, todos teríamos hoje as pernas e o resto do corpo ainda mais marcada do que temos."  
Além disso, o regresso a Portugal foi complicado para todos. Basta dizer que foi durante o mês de Setembro de 2001.

No último episódio, restaram apenas quatro concorrentes: Pedro, Miriam, Paulo e Ana Luísa. Estes dois últimos foram eliminados após uma última série de desafios, com Pedro e Miriam a tornarem-se os dois finalistas. Os sete últimos concorrentes eliminados regressaram para elegerem o vencedor entre eles os dois e apenas Ana Luísa votou em Miriam, pelo que Pedro Besugo foi o vencedor do (até agora) único "Survivor" português. O artista plástico ganhou o prémio final de 10 mil contos (50 mil euros).
Pelo que me recordo a vitória de Pedro Besugo foi merecida pois tinha sido quase sempre dos melhores nas diversas provas e reunia a simpatia e o consenso dos colegas.



Outro concorrente marcante do Survivor foi António Gamito que anos mais tarde, voltou a ser notícia, desta vez pela sua relação de dois anos com Alexandra Lencastre. Com o seu aspecto neo-hippie de cabelo à surfista, tatuagens, fita na cabeça e atitude zen, o fotógrafo parecia mesmo o concorrente ideal para este tipo de desafio. E portou-se bem, sendo um dos últimos a serem eliminados, se não me engano, foi o último antes do episódio final.
No seu livro "Isso Agora Não Interessa Nada", Teresa Guilherme dedicou-lhe um texto, recordando um episódio do "Survivor". Enquanto outros concorrentes escolheram coisas práticas como o seu objecto de luxo, António escolheu levar a sua prancha de surf. Mas esse objecto de luxo acabou por deixá-lo meio lixado.
Primeiro, porque durante a maior parte do tempo chovia bastante e o mar estava demasiado revolto e havia maiores preocupações para ele e os outros concorrentes como arranjar abrigo e comida, pelo que a prancha ficou arredada durante muito tempo.

"Mas houve um dia em que apareceu uma nesguinha de sol e o Gamito decidiu arrefecer as ideias para dentro de água, e fazer umas habilidades com a sua prancha que deixassem os companheiros de queixo caído. E deixou. O dos companheiros e o dele.
Mal entrou na água atirou-se para cima da prancha mas em vez de deslizar, afundou-se. Bateu violentamente contra a prancha e abriu uma valente lanho no queixo. (…) Em teoria, era um craque do surf de Portugal e arredores e afinal quando chegou aos arredores: crack! Deixou-se bater por uma onda que não tinha mais de 20 centímetros. (…)
E lá tivemos de chamar o pachorrento Dr. Nestor. Chegou de barco com a sua caixa de primeiros socorros e, ali mesmo na praia, sem qualquer tipo de anestesia deu uns valentes pontos no queixo caído do António Gamito - que não deu nem um pio, portando-se como um verdadeiro sobrevivente. 
As companheiras da ilha, que suspiravam por eles às escondidas, é que aproveitaram a oportunidade para o encher de mimos. Ele com o queixo à banda e elas pelo beicinho."



O único vídeo do "Survivor" português que encontrei no YouTube foi  esta promo da TVI, muito apropriadamente ao som de "Survivor" das Destiny's Child. (Na altura, o grupo passava por tantas mudanças na sua formação que corria a piada nos media que estar no grupo era como estar no "Survivor", nunca se sabia quem iria sair, o que inspirou o tema).




Actualização: Este texto passou no programa "Maluco Beleza" em que a convidada foi Teresa Guilherme (aos 1:00:11)




Encontrei também esta promo no Vimeo a anunciar a fase da fusão entre as duas tribos.


Survivor Reality Show - Portugal - 2001 from Paulo Rosa on Vimeo.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Filadélfia (1993)

por Paulo Neto

Em 1993, havia ainda muito estigma e ideias erradas quanto à SIDA e a sua forma de contágio, nomeadamente que se podia apanhar o vírus por tocar numa pessoa com a doença ou que era uma doença exclusivamente restrita à comunidade homossexual e a grupos marginais da sociedade como toxicodependentes e prostitutas.


Mas foi nesse ano que estreou o primeiro filme de Hollywood a abordar de forma aberta e sem juízos de valor a SIDA e outros temas relacionados como a homofobia. "Filadélfia" foi o primeiro filme de Jonathan Demme após a sua consagração com "O Silêncio Dos Inocentes" em 1991, com Tom Hanks e Denzel Washington nos principais papéis.



Andrew Beckett (Hanks) é um advogado que trabalha para uma das mais prestigiadas firmas legais de Filadélfia que devido ao conservadorismo dos seus chefes esconde a sua homossexualidade, a sua relação com Miguel Alvarez (Antonio Banderas), um imigrante latino-americano, e sobretudo que tem SIDA, tendo sido contagiado num encontro sexual fortuito no passado. 
Quando Beckett é despedido devido a uma complicação durante um caso importante que só foi resolvida no último momento, ele desconfia que foi vítima de uma cilada montada pelos seus chefes para terem uma desculpa de justa causa para o despedirem por causa da sua doença, porque um dos sócios, Bob Seidman (Ron Vawter) reconheceu uma lesão na testa dele como um sintoma de um sarcoma causado pela SIDA.  
Beckett decide processar a firma com a ajuda do advogado laboral Joe Miller (Washington), que inicialmente recusou representá-lo, tendo mesmo pensado que poderia estar contagiado ao apertar-lhe a mão. Mas após assistir a um acto de discriminação contra Beckett na biblioteca, Miller decide ajudá-lo.  Enquanto os dois levam o processo a tribunal, Beckett acaba por se tornar amigo de Miller e da sua esposa Lisa (Lisa Summerour) e Miller acaba por abandonar as suas fortes ideias homofóbicas ao conviver com Beckett, Miguel e seus amigos, percebendo que pessoas homossexuais são pessoas normais e que muitas vezes não correspondem às ideias pré-concebidas da sociedade quanto a essa comunidade. 


Em tribunal, a defesa põe Beckett em causa, não só a sua competência mas como também a sua vida privada, sugerindo que a sua doença é resultado de uma vida sexual depravada e desregrada. Mas Beckett e Miller acabam por ganhar o processo, sendo a firma condenada a indemnizá-lo por danos morais. Beckett acaba por falecer pouco tempo depois, e o filme termina com o seu funeral, onde familiares e amigos, incluindo Miller, estão presentes. 

O elenco de "Filadélfia" incluiu também nomes como Mary Steenburgen, Jason RobardsJoanne Woodward, Ann Dowd e Charles Napier. Foi também um dos primeiros filmes da actriz Chandra Wilson, no papel de uma maquilhadora a quem Beckett recorre para cobrir as suas lesões e que já viu um familiar seu morrer de SIDA.

A história do filme é semelhante à de dois casos reais de dois advogados, Geoffrey Bowers e Clarence Cain, que processaram os seus superiores por terem sido despedidos por terem SIDA. A família de Bowers chegou a processar os produtores do filme por usar a sua história real sem o devido crédito, tendo sido estabelecido um acordo entre as partes.





"Filadélfia" foi um sucesso junto do público e da crítica. A realização de Jonathan Demme é sóbria e segura, evitando que a história caísse no excesso de drama e na lágrima fácil, mas o grande trunfo foi sem dúvida a interpretação de Tom Hanks, que lhe valeu o Óscar de Melhor Actor e outras distinções. Até então associado sobretudo com comédias, Hanks demonstrou também a sua grande habilidade para os desempenho dramáticos. 
O filme também é referido como tendo sido importante para mudar as percepções sobre SIDA e homossexualidade junto do grande público, não só na América mas além fronteiras, e promover retratos mais realistas de personagens homossexuais no cinema de Hollywood.
No entanto, foi preciso esperar até 2013 para que outro filme de Hollywood em que a SIDA fosse o tema principal, "O Clube de Dallas", alcançasse semelhante notoriedade.  

"Filadélfia" foi um dos filmes que eu vi em 1994, o ano em que passei a ir regularmente ao cinema e também vi mais tarde na escola, creio que no 11.º ano, por ocasião do Dia Mundial da SIDA que se celebra a 1 de Dezembro. 

Por fim, não dá para falar do filme "Filadélfia" sem falar da hipnótica canção da sequência inicial, "Streets Of Philadelphia" de Bruce Springsteen, que venceu o Óscar de Melhor Canção e tornou-se um dos maiores hits da carreira do "Boss". A banda sonora incluiu também canções de Neil Young, Sade, Peter Gabriel, Spin Doctors e um ária de ópera de Maria Callas, que é tocada durante uma das cenas mais marcantes do filme.

Trailer:


Cena com a ária de Maria Callas:


"Streets Of Philadelphia" Bruce Springsteen




terça-feira, 8 de novembro de 2016

Top 5 Canções de Michael Bolton (Paulo Neto)

Já estou numa idade em que os meus guilty pleasures tornam-se apenas meus pleasures, independentemente do embaraço ou da vergonha alheia que possam causar, permitam-me esta confissão: no início dos anos 90, eu fui um grande fã de Michael Bolton, o rei da balada azeiteira americana da altura, famoso pela sua juba de caracóis dourados e pela sua voz rouca. Não só gostava da sua música como até chegava a ver em Bolton uma espécie de figura paterna musical: também eu em pré-adolescente almejava em ter um vozeirão daqueles para chilrear canções de amor aos objectos da minha futura afeição. (Por coincidência, Michael Bolton nasceu no mesmo ano que o meu pai). E de vez em quando, confesso que me apetece ir ao YouTube ou ao Spotify procurar algo do seu repertório para ouvir.



Michael nasceu com o apelido Bolotin (os seus quatro avós eram imigrantes russos) aos 26 dias de Fevereiro de 1953 em New Haven, no estado de Conectitcutt.
Por incrível que pareça, Michael Bolton deu os seus primeiros passos na música em meados dos anos 70 no hard rock e no heavy metal, primeiro com álbuns a solo onde ainda usava o seu apelido verdadeiro e depois como vocalista da banda Blackjack, que chegou a ir em digressão com Ozzy Osbourne. A partir dos anos 80, já com o apelido anglificado para Bolton, começou a compor para outros artistas como Laura Branigan, Cher e Kiss, embora não deixasse de gravar em nome próprio. O seu primeiro sucesso foi uma versão de 1987 de "Sittin' On The Dock Of The Bay" de Otis Redding que até mereceu rasgados elogios da viúva de Redding, que marcou definitivamente a mudança de rumo musical de Michael Bolton, iniciando assim um reinado como o rei das baladas que duraria até 1997. Desde então, e embora nunca tenha deixado de editar discos, Bolton foi notícia sobretudo pelo seu romance com a actriz Nicolette Sheridan quando esta estava em destaque em "Donas de Casas Desesperadas" e pelo seu álbum de 2009 conter uma canção escrita por Lady Gaga, (composta nos tempos em que ela ganhava a vida a escrever para outros).

Neste top 5, não contei com covers, pelo que não vão estar incluídas as suas famosas versões de "When A Man Loves A Woman" de Percy Sledge ou "To Love Somebody" dos Bee Gees. As menções honrosas são quatro: "Steel Bars", "A Love So Beautiful", "Time, Love And Tenderness" e "Completely", que esteve quase, quase a fazer parte deste top 5 até eu concluir que gosto mais do videoclip (com a bela Paula Barbieri, que era a namorada de OJ Simpson quando este foi acusado do assassinato da sua ex-mulher Nicole Brown) do que da canção em si.  

#5 "How Am I Supposed To Live Without You" (1989)
Eu disse que não ia incluir covers neste top 5, mas abri uma excepção para este tema já que foi escrito pelo próprio Michael Bolton, Laura Branigan, a cantora de "Self Control", foi a primeira a gravar "How Am I Supposed To Live Without You" em 1983, chegando ao n.º 12 do top americano.
Mas seria a interpretação de Bolton da sua própria composição em 1989, para o álbum "Soul Provider" que seria a versão definitiva da canção. "How Am I Supposed To Live Without You" encaixa-se totalmente naquela categoria de baladas do desespero total, em que num último esforço final, pede-se à pessoa amada, já decidida a ir-se embora, para que não o deixe. E de facto, dá para sentir de tal forma o desespero na interpretação de Bolton neste tema, que quase que dá para imaginar que ele está a cantar isto de joelhos, agarrado à perna da amada, enquanto esta tenta dirigir-se para a porta com uma mala na mão. "How Am I Supposed To Live Without You" foi um hit mundial, tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos e na Bélgica, valeu a Bolton o Grammy para Melhor Interpretação Pop Masculina, e é tido como a canção com que alcançou o estatuto de estrela.
Recentemente, o tema voltou a estar em destaque quando um concorrente da versão americana de "The Voice" interpretou-o na sua prova cega, em homenagem ao seu pai recém-falecido.



#4 "A Time For Letting Go" (1993)
Numa categoria oposta à da canção anterior, temos esta balada que pertence à categoria "foi bom mas acabou-se e agora há que seguir em frente", na qual Bolton procura tranquilizar a sua futura ex-amada no fim da relação, assegurando-lhe que ela irá ultrapassar o fim do romance, por muito duro que seja esquecer o que foi viver uma paixão com ele, porque na vida há um tempo para amar e um tempo para deixar ir.
Descobri esta canção relativamente há pouco tempo, durante uma das minhas deambulações pelo YouTube. Como o vídeo em que descobri esta canção é feito com cenas do filme de 1991 "Dormindo Com O Inimigo", pensei que fizesse parte da banda sonora desse filme, mas afinal é uma faixa do álbum de 1993 "The One Thing", o álbum mais vendido de Michael Bolton em Portugal, tendo sido dupla platina e n.º 1 do "Top+".



#3 "Said I Love You... But I Lied" (1993)
E já que falamos no álbum "The One Thing", o n.º 3 é o principal single desse LP. Pelo título, parece que é uma canção em que Michael Bolton andou a mentir e a brincar com os sentimentos da amada, mas bem pelo contrário, é uma canção que leva o romantismo a níveis ridiculamente inatingíveis. Pois no refrão, Bolton declara: "Said I love you but I lied, 'cause this is more than love I feel inside." Ou seja, o que ele sente pela amada é mais que amor. No entanto, sou de concordar com o Nuno Markl Dr. Paixão quando na sua análise a esta canção na rubrica da Rádio Comercial, ele diz que se Michael Bolton anda com tanto elogios à pessoa amada, é porque ele fez alguma asneira. O respectivo videoclip é também um dos mais icónicas da sua carreira, com Bolton de melena ao vento por entre os rochedos do Arizona.   



#2 "How Can We Be Lovers" (1990)
Mas nem só de baladas vive o repertório de Michael Bolton, e dentro da sua facção uptempo, este single do álbum "Soul Provider", que ele escreveu em parceria com dois famosos compositores que são autênticas máquinas de fazer hits: Diane Warren e Desmond Child. Por isso, o resultado só podia ser bombástico.
Eu tenho uma teoria de que "How Can We Be Lovers" é a resposta a um dos hits de Cher, "If I Could Turn Back Time" (também escrito por Diane Warren). Se bem se recordam, nessa canção Cher canta o seu arrependimento por ela, no meio de uma discussão, ter dito algumas injúrias que atingiram o amado bem no âmago e como tal, fizeram a relação ir pelo cano abaixo. Em "How Can We Be Lovers", Michael Bolton responde que assim como assim os dois já brigavam constantemente e que não se admirava de terem chegado a esse ponto, embora à medida que a canção avança, vai revelando que está disposto a dar uma tentativa final.  



#1 "Go The Distance" (1997)
Para terminar, aquele que é o mais épico tema de Michael Bolton, ou não fosse uma canção da Disney. "Hércules" pode não ser o melhor filme da período renascentista da Disney (1989-1999) mas pessoalmente, terá talvez uma das melhores bandas sonoras e "Go The Distance" continua a ser uma das minhas canções preferidas da Disney. Roger Bart cantou a versão do filme mas só mesmo um vozeirão como o de Michael Bolton para dar à versão pop do tempo toda a grandiosidade hercúlea do tema. Até me espanta "Go The Distance" nunca ter sido usada nuns Jogos Olímpicos ou algo assim. 
Além disso, a canção teve um significado especial para mim quando a ouvia no Verão de 1998, quando estava prestes a começar uma nova fase da minha vida ao ir para a Universidade. 
"Go The Distance" foi nomeada para o Óscar de Melhor Canção e foi o último grande hit de Michael Bolton e o respectivo videoclip é o último em que ele aparece de cabelo comprido. Curiosamente, em alguns países como o Reino Unido, "Go The Distance" foi editado como um duplo single em conjunto com "The Best Of Love", o tema de apresentação do álbum "All That Matters", e no videoclip, Bolton surgia pela primeira vez de cabelo curto, que mantém até hoje. Foi quase como que, com essa edição, se quisesse marcar claramente o fim e o início de um novo capítulo.



Quase que se pode comparar Michael Bolton ao herói bíblico Sansão, pois tal como este perdeu a sua força depois de ter o seu cabelo cortado pela traidora da Dalila, Bolton deixou de ser o hitmaker que era depois de cortar a sua longa melena dourada. Embora Michael Bolton continue bem activo, a gravar discos e a cantar por todo o mundo, só voltou a entrar no top 100 americano em 2011 numa colaboração com os The Lonely Island no tema "Jack Sparrow" com um vídeo simplesmente hilariante.




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