Já estou numa idade em que os meus guilty pleasures tornam-se apenas meus pleasures, independentemente do embaraço ou da vergonha alheia que possam causar, permitam-me esta confissão: no início dos anos 90, eu fui um grande fã de Michael Bolton, o rei da balada azeiteira americana da altura, famoso pela sua juba de caracóis dourados e pela sua voz rouca. Não só gostava da sua música como até chegava a ver em Bolton uma espécie de figura paterna musical: também eu em pré-adolescente almejava em ter um vozeirão daqueles para chilrear canções de amor aos objectos da minha futura afeição. (Por coincidência, Michael Bolton nasceu no mesmo ano que o meu pai). E de vez em quando, confesso que me apetece ir ao YouTube ou ao Spotify procurar algo do seu repertório para ouvir.
Michael nasceu com o apelido Bolotin (os seus quatro avós eram imigrantes russos) aos 26 dias de Fevereiro de 1953 em New Haven, no estado de Conectitcutt.
Por incrível que pareça, Michael Bolton deu os seus primeiros passos na música em meados dos anos 70 no hard rock e no heavy metal, primeiro com álbuns a solo onde ainda usava o seu apelido verdadeiro e depois como vocalista da banda Blackjack, que chegou a ir em digressão com Ozzy Osbourne. A partir dos anos 80, já com o apelido anglificado para Bolton, começou a compor para outros artistas como Laura Branigan, Cher e Kiss, embora não deixasse de gravar em nome próprio. O seu primeiro sucesso foi uma versão de 1987 de "Sittin' On The Dock Of The Bay" de Otis Redding que até mereceu rasgados elogios da viúva de Redding, que marcou definitivamente a mudança de rumo musical de Michael Bolton, iniciando assim um reinado como o rei das baladas que duraria até 1997. Desde então, e embora nunca tenha deixado de editar discos, Bolton foi notícia sobretudo pelo seu romance com a actriz Nicolette Sheridan quando esta estava em destaque em "Donas de Casas Desesperadas" e pelo seu álbum de 2009 conter uma canção escrita por Lady Gaga, (composta nos tempos em que ela ganhava a vida a escrever para outros).
Neste top 5, não contei com covers, pelo que não vão estar incluídas as suas famosas versões de "When A Man Loves A Woman" de Percy Sledge ou "To Love Somebody" dos Bee Gees. As menções honrosas são quatro: "Steel Bars", "A Love So Beautiful", "Time, Love And Tenderness" e "Completely", que esteve quase, quase a fazer parte deste top 5 até eu concluir que gosto mais do videoclip (com a bela Paula Barbieri, que era a namorada de OJ Simpson quando este foi acusado do assassinato da sua ex-mulher Nicole Brown) do que da canção em si.
#5 "How Am I Supposed To Live Without You" (1989)
Eu disse que não ia incluir covers neste top 5, mas abri uma excepção para este tema já que foi escrito pelo próprio Michael Bolton, Laura Branigan, a cantora de "Self Control", foi a primeira a gravar "How Am I Supposed To Live Without You" em 1983, chegando ao n.º 12 do top americano.
Mas seria a interpretação de Bolton da sua própria composição em 1989, para o álbum "Soul Provider" que seria a versão definitiva da canção. "How Am I Supposed To Live Without You" encaixa-se totalmente naquela categoria de baladas do desespero total, em que num último esforço final, pede-se à pessoa amada, já decidida a ir-se embora, para que não o deixe. E de facto, dá para sentir de tal forma o desespero na interpretação de Bolton neste tema, que quase que dá para imaginar que ele está a cantar isto de joelhos, agarrado à perna da amada, enquanto esta tenta dirigir-se para a porta com uma mala na mão. "How Am I Supposed To Live Without You" foi um hit mundial, tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos e na Bélgica, valeu a Bolton o Grammy para Melhor Interpretação Pop Masculina, e é tido como a canção com que alcançou o estatuto de estrela.
Recentemente, o tema voltou a estar em destaque quando um concorrente da versão americana de "The Voice" interpretou-o na sua prova cega, em homenagem ao seu pai recém-falecido.
#4 "A Time For Letting Go" (1993)
Numa categoria oposta à da canção anterior, temos esta balada que pertence à categoria "foi bom mas acabou-se e agora há que seguir em frente", na qual Bolton procura tranquilizar a sua futura ex-amada no fim da relação, assegurando-lhe que ela irá ultrapassar o fim do romance, por muito duro que seja esquecer o que foi viver uma paixão com ele, porque na vida há um tempo para amar e um tempo para deixar ir.
Descobri esta canção relativamente há pouco tempo, durante uma das minhas deambulações pelo YouTube. Como o vídeo em que descobri esta canção é feito com cenas do filme de 1991 "Dormindo Com O Inimigo", pensei que fizesse parte da banda sonora desse filme, mas afinal é uma faixa do álbum de 1993 "The One Thing", o álbum mais vendido de Michael Bolton em Portugal, tendo sido dupla platina e n.º 1 do "Top+".
#3 "Said I Love You... But I Lied" (1993)
E já que falamos no álbum "The One Thing", o n.º 3 é o principal single desse LP. Pelo título, parece que é uma canção em que Michael Bolton andou a mentir e a brincar com os sentimentos da amada, mas bem pelo contrário, é uma canção que leva o romantismo a níveis ridiculamente inatingíveis. Pois no refrão, Bolton declara: "Said I love you but I lied, 'cause this is more than love I feel inside." Ou seja, o que ele sente pela amada é mais que amor. No entanto, sou de concordar com o Nuno Markl Dr. Paixão quando na sua análise a esta canção na rubrica da Rádio Comercial, ele diz que se Michael Bolton anda com tanto elogios à pessoa amada, é porque ele fez alguma asneira. O respectivo videoclip é também um dos mais icónicas da sua carreira, com Bolton de melena ao vento por entre os rochedos do Arizona.
#2 "How Can We Be Lovers" (1990)
Mas nem só de baladas vive o repertório de Michael Bolton, e dentro da sua facção uptempo, este single do álbum "Soul Provider", que ele escreveu em parceria com dois famosos compositores que são autênticas máquinas de fazer hits: Diane Warren e Desmond Child. Por isso, o resultado só podia ser bombástico.
Eu tenho uma teoria de que "How Can We Be Lovers" é a resposta a um dos hits de Cher, "If I Could Turn Back Time" (também escrito por Diane Warren). Se bem se recordam, nessa canção Cher canta o seu arrependimento por ela, no meio de uma discussão, ter dito algumas injúrias que atingiram o amado bem no âmago e como tal, fizeram a relação ir pelo cano abaixo. Em "How Can We Be Lovers", Michael Bolton responde que assim como assim os dois já brigavam constantemente e que não se admirava de terem chegado a esse ponto, embora à medida que a canção avança, vai revelando que está disposto a dar uma tentativa final.
#1 "Go The Distance" (1997)
Para terminar, aquele que é o mais épico tema de Michael Bolton, ou não fosse uma canção da Disney. "Hércules" pode não ser o melhor filme da período renascentista da Disney (1989-1999) mas pessoalmente, terá talvez uma das melhores bandas sonoras e "Go The Distance" continua a ser uma das minhas canções preferidas da Disney. Roger Bart cantou a versão do filme mas só mesmo um vozeirão como o de Michael Bolton para dar à versão pop do tempo toda a grandiosidade hercúlea do tema. Até me espanta "Go The Distance" nunca ter sido usada nuns Jogos Olímpicos ou algo assim.
Além disso, a canção teve um significado especial para mim quando a ouvia no Verão de 1998, quando estava prestes a começar uma nova fase da minha vida ao ir para a Universidade.
"Go The Distance" foi nomeada para o Óscar de Melhor Canção e foi o último grande hit de Michael Bolton e o respectivo videoclip é o último em que ele aparece de cabelo comprido. Curiosamente, em alguns países como o Reino Unido, "Go The Distance" foi editado como um duplo single em conjunto com "The Best Of Love", o tema de apresentação do álbum "All That Matters", e no videoclip, Bolton surgia pela primeira vez de cabelo curto, que mantém até hoje. Foi quase como que, com essa edição, se quisesse marcar claramente o fim e o início de um novo capítulo.
Quase que se pode comparar Michael Bolton ao herói bíblico Sansão, pois tal como este perdeu a sua força depois de ter o seu cabelo cortado pela traidora da Dalila, Bolton deixou de ser o hitmaker que era depois de cortar a sua longa melena dourada. Embora Michael Bolton continue bem activo, a gravar discos e a cantar por todo o mundo, só voltou a entrar no top 100 americano em 2011 numa colaboração com os The Lonely Island no tema "Jack Sparrow" com um vídeo simplesmente hilariante.
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