sábado, 17 de dezembro de 2016

Publicidade RTP - Dezembro 1986

por Paulo Neto

Regressamos hoje a um dos nossos exercícios favoritos aqui no blogue que é analisar os blocos publicitários de outros tempos. E sem dúvida que existe um especial prazer em analisar a publicidade que a RTP exibia por alturas da época natalícia. Para este artigo, vamos rever três blocos publicitários da RTP de Dezembro de 1986, portanto há trinta anos, disponibilizados no YouTube pelo incansável canal Lusitania TV. Estes blocos foram exibidos no dia 17 de Dezembro de 1986, uma quarta-feira, por entre a exibição na RTP1 do filme "Da Terra Nascem Os Homens" na "Lotação Esgotada".


Como não podia deixar de ser, neles surgem anunciados produtos passíveis de serem ofertados dali a uma semana na Consoada, com especial destaques para perfumes e bebidas alcoólicas. Ao ver estes vídeos, relembrei vários anúncios que eu recordo desta época mas que há muitos anos que eu não via. 





0:00 Vinheta RTC
0:02 Trailer do filme "Howard e o Destino do Mundo", que adaptava uma banda desenhada da Marvel e contava com George Lucas como produtor executivo. Porém o filme tornou-se um dos maiores fracassos de bilheteira dos anos 80. Também ainda me recordo quando as trailers diziam as cidades onde os filmes estreavam em Portugal e este, além dos inevitáveis Lisboa e Porto, também ia estrear em Coimbra, Setúbal e Vilamoura.
0:25 Basta apenas uma voz-off no tom certo e uma bonita música para encher de sensualidade este anúncio ao Jovan Musk Oil.
0:57 Para aspirar as migalhas, os restos de papel de embrulho e as agulhas de pinheiro caídas no chão durante o Natal nada como os aspiradores Hoover.
1:05 Um anúncio da Nordmende, marca de televisores, vídeos e câmaras de filmar que grita por todos os poros: "ESTAMOS NOS ANOS 80!". Uma mulher loura de fato-de-banho vermelho à beira de uma piscina, um homem num fato de poliéster branco, vários planos estilosos e até um falcão!
1:21 Um bem sensual anúncio aos chocolates Cadbury, com uma mão feminina com unhas bem pintadas a acariciar a tablete e uma boca feminina, com batom a condizer com o verniz das unhas, a degustar com prazer um pedaço da dita tablete.
1:41 Outro anúncio muito estiloso à Dimensão Móveis.
2:11 Um clássico natalício que durou anos a fio: a edição da revista Eva de Natal. Infelizmente há muito pouca informação sobre essa publicação na internet, mas há vários exemplares (dos anos 30 aos anos 80) à venda em sites de compras como o Coisas, incluindo o de 1986 aqui anunciado. Esta edição tinha a aliciante de sortear prémios como uma casa no valor de 5 mil contos (25 mil euros) em qualquer ponto do país e um automóvel. Se não estou em erro, esta foi a última ou penúltima edição desta revista pois já não me lembro dela no final da década de 80.
2:20 Graças aos electrodomésticos Stowaway da Black & Decker, pequenos e facilmente transportáveis, como um ferro de engomar e um secador de cabelo, uma empregada de escritório aproveita o pós-expediente para sair para a noite completamente deslumbrante.
2:29 Para evitar as cáries dentárias depois de tantos doces natalícios, era preciso escovar os dentes e porque não com Colgate Anti-tártaro?
2:38 Um anúncio ao chocolate Belmusse Regina que recua no tempo onde três cozinheiras do século XIX preparam deliciosas sobremesas, em especial um bolo que uma delas cobre com uma generosa camada de chocolate derretido, sob o olhar de um criado com aspecto exótico que no fim do anúncio não hesita em tirar um bombom da mesa.
2:50 O senhor de óculos que janta num restaurante com uma elegante companhia demonstra que não é preciso de ser um garboso Adónis para exibir toda as classe das camisas Victor Emmanuel, "a camisa do homem". Ainda sou do tempo dessa luta de titãs pela marca líder da camisaria nacional entre Victor Emmanuel e Triple Marfel. Infelizmente a fábrica de São João da Madeira que produzia a Victor Emmanuel fechou em 2014 e o seu dono encontra-se preso por evasão fiscal.
3:07 Eis um anúncio natalício  de que mal o revi, lembrei-me logo: o dos Cartões de boas-festas dos Correios que não precisavam de selo, com um Pai Natal e uma rena numa alegre cantilena acompanhado por um grupo de casas antropomórficas (presume-se que desabitadas, seria um grande inconveniente viver numa casa que de repente começa a dançar).
3:23 Para afastar a azia e a indisposição durante a comezaina natalícia, convinha ter por perto os sais de frutas ENO.
3:39 Um dos primeiros anúncios aos desodorizantes Axe, famosos por enaltecer a virilidade e o poder de sedução de quem os utilizava. Neste caso, uma mulher deixa cair uns óculos de sol e um homem aproxima-se para ajudá-la. Quando ela se levanta para o encarar, vai sentindo o aroma do AXE que é tão inebriante que a senhora deixa cair de novos os óculos para dar mais uma snifada no atraente desconhecido.
4:00 Tchi, também me recordo deste anúncio. Dois miúdos que brincam às casinhas com roupas e sapatos de adultos comem um delicioso bolo de chocolate à mesa. A certa altura a miúda exclama: "Com fichas de cozinha do Correio da Manhã, cozinhar é o máximo!" E sim, lembro-me de quando o Correio da Manhã trazia essas fichas.
4:16 Mais um trailer cinematográfico, desta vez a "Aliens - O Recontro Final", o segundo filme da saga protagonizada por Sigourney Weaver (que por este seu desempenho tornou-se a primeira actriz nomeada para o Óscar num filme de ficção científica), com realização de James Cameron.
4:32 Na altura, as máquinas de barbear ainda eram algo recente, daí este anúncio vistoso e pseudo-futurista (que também grita "ANOS 80"!) à Philishave Electrónica, com um homem à janela do seu apartamento num arranha-céus ultra-moderno.
5:03 Vinheta RTP1: já falei aqui desta vinheta de inspiração geométrica estreada em Outubro desse ano a propósito da série animada da "Mafalda".
5:05 Vinheta Lotação Esgotada e curtíssimo excerto do filme "Da Terra Nascem Os Homens" ("The Big Country"), um western de 1958 realizado por William Wyler, com Gregory Peck, Charlton Heston, Jean Simmons e Burl Ives, que ganhou o Óscar para Melhor Actor Secundário com este filme.






0:00 Vinheta RTC
0:02 Um senhor embrulha num elegante papel uma embalagem com o whisky Chivas Regal para oferecer a uma visita que chega em breve, mas não resiste à tentação de ser ele a emborcar o precioso néctar. Até que a campainha toca...
0:36 Novamente o trailer de "Aliens - O Recontro Final". Durante muito tempo, eu pensava que era "O Reencontro Final", mas é mesmo "recontro", que segundo o dicionário, quer dizer "embate, encontro de duas forças combatentes".
0:51 Outro anúncio de que me lembro bem, o dos aparelhos audiovisuais da Sanyo ao som de uma versão em português de "Video Killed The Radio Star" dos Buggles, repleto de cenas bem anos 80 como por exemplo uma aula de dança jazz cheia de lycras coloridas. Entretanto descobri uma versão mais longa deste anúncio em espanhol
1:23 Um fila de cálices tocam com vinho do Porto Cockburn's toca "Parabéns A Você"
1:30 Quiçá já a pensar no réveillon das entradas em 1987, existem três anúncios a espumantes neste bloco. Primeiro com um senhor vestido à marinheiro que sai de uma banheira para promover o espumante Danúbio
1:52 Outro clássico desta quadra é Lotaria do Natal, que nesse ano tinha uma taluda de 250 mil contos (1250 mil euros). Se hoje tal quantia é uma montanha de massa, imagine-se em 1986. 
2:12 Mais um anúncio bem ao estilo dos anos 80. Quatro jovens mulheres passeiam vestidas com roupas da época passeiam alegremente numa praia e cruzam olhares com um homem que brinca com o seu cão. No fim descobre-se que as quatro amigas estão vestidas a condizer com as embalagens das quatro variedades da Eau de Toilette Bien-Être
2:42 Os anos 80 foram os anos dos móveis de pinho e  as lojas Edêpinho em Carcavelos, Campo de Ourique e Linda-A-Velha vendiam vário mobiliário de pinho e não só.
2:51 Solta-se um rolha para se anunciar o espumante Codorniu, produzido em Espanha, que ao que parece era então o espumante mais bebido em todo mundo. 
3:00 Hoje não haveria tanta coragem em anunciar um chocolate como um alimento saudável mas nos anos 80 popularizou-se o slogan "um Mars por dia, ajuda-o a trabalhar, a descansar e a divertir-se". Neste anúncio, vemos um homem a supervisionar uma obra de construção civil e a dar uns toques na bola num jogo de solteiros e casados, tudo graças à energia de Mars. Seja como for e obviamente de forma ocasional e moderada, ainda hoje sabe bem um Mars, não sabe?
3:32 O que também ocasional e moderadamente sabe bem é uma caipirinha. Como por exemplo a "finíssima" caipirinha Bagaceira Velha.
3:40 Duas simpáticas catatuas ilustram este anúncio aos relógios Pulsar Quartz
4:00 Solta-se mais uma rolha para anunciar outro espumante, Fita Azul, este de produção nacional.
4:09 A única sugestão musical presente é a da colectânea Polystar 1986, ilustrada por um algo sinistro urso. Na voz de Canto e Castro, o urso anunciava que a compra do disco habilitava ao sorteio de um automóvel. Tudo isto ao som de "Um Dia de Domingo" de Gal Costa e Tim Maya, um dos grandes sucessos do verão de 1986 (já se falou aqui) e que presume-se que estaria incluído nessa compilação, que seria a última da série dando lugar no ano seguinte ao Hit Parade. 
4:20 Agora uma sugestão mais literária: as Obras Completas de Eça de Queiroz. Recordo-me dessas capas com as grandes iniciais EQ e a efígie deste nome maior das nossas letras. Ainda hoje, podem-se encontrar estas edições e não apenas em alfarrabistas. Gosto sobretudo do ênfase à palavra "claro", quando a voz off diz que é uma edição da Livros do Brasil.
4:27 Em 1986, os micro-ondas ainda eram uma novidade em termos de eletrodomésticos em Portugal. Daí que pudesse ser uma prenda desejada por muitas donas de casa no nosso país. Mas neste anúncio aos micro-ondas Teka, não há como não desconfiar das intenções do senhor que se veste de gala para oferecer à esposa um micro-ondas e depois senta-se à mesa quando ela lhe serve um apetitoso lombo saído do aparelho. 
4:36 Mais um trailer cinematográfico, agora à hilariante comédia "Por Favor Matem A Minha Mulher" ("Ruthless People") com Bette Midler, Danny DeVito e Judge Reinhold, realizado pela mesma equipa de "Aeroplano!" e "Ases Pelos Ares". Além disso, convém notar que o filme tinha honras de estreia nacional em localidades como Aveiro, Faro, Mem Martins e Santo Tirso. 
4:52 Outro anúncio bem estilo anos 80, com um grupo de yuppies a celebrar a concretização de um grande negócio com o whisky The Glenlivet.  
5:22 Vinheta RTP1
5:26 A Fundação Calouste Gulbenkian organizava três concertos onde era tocada a versão de Mozart de "O Messias" de Handel, composição oratória famosa pelo trecho coral de "Hallelujah", que ficou tão presente na sociedade que todos nós já o entoamos quando algo muito esperado acontece: "Aleluia!"
6:11 Vinheta Lotação Esgotada




0:00 Vinheta RTC
0:05 Outro anúncio - um pouco mais longo que o anterior - ao espumante Codorniu.
0:27 Anúncio aos diversos salões de Isabel Queiroz do Vale, um dos grandes nomes da arte capilar nacional, que na altura existiam em Lisboa, Porto, Aveiro, Cascais e Montechoro (Albufeira). 
0:33 Um paraquedista lança-se de uma avião para aterrar numa plataforma com a forma de uma imagem aumentada de uma garrafa de whisky Passport Scotch. Mas depois vem-se a saber que se trata de uma bonita paraquedista que se junta ao homem que a espera com dois copos de whisky. Lembro-me de ver anúncios com o freeze-frame final (eram muitos os anúncios de então que acabavam em freeze-frame, não eram?) na imprensa escrita da altura.  
0:53 Votos de boas-festas do Totobola, com o desejo de mais milionários devido ao palpite certeiro nas treze cruzinhas em 1987.
1:08 Eis um conjunto de palavras que se ouvia muito na altura: "ITT Ideal Color"!
1:17 Um simpático anúncio natalício em animação stop motion para a cerveja Carlsberg.
1:33 Um anúncio de lendário: o dos electrodomésticos Philips com o actor Miguel Guilherme a emular os sons dos aparelhos. Miguel Guilherme diz que ainda hoje as pessoas falam-lhe desse anúncio. 
2:04 Agora a orquestra de cálices com vinho do Porto Cockburn's toca o "Jingle Bells".  
2:12 Eis outro anúncio que me recordo desta altura: o da Rent-a-car AVIS (que se diz "ei-viz" mas que eu pensava que se pronunciava como a localidade alentejana de Avis). Um helicóptero segue no encalço de um Opel vermelho conduzido por uma jovem mulher num elegante tailleur vermelho. Quando o helicóptero aterra, sai de lá um senhor engravatado e de pasta na mão que é afinal o cliente vai alugar o carro à senhora de vermelho. O freeze-frame final do anúncio tornou-se um poster da empresa durante anos a fio, ao ponto de eu ainda ter visto o tal poster em stands da AVIS por volta dos idos de 2002. 
2:45 O whisky duplamente envelhecido Whyte & McKay, engarrafado na Escócia. Ao que parece um whisky que cumpre as suas promessas. 
3:05 Outro clássico da publicidade nacional dos anos 80 eram os anúncios aos champôs Sunsilk com a presença de Dusty Fleming, o alegado cabeleireiro das estrelas. Tal era a popularidade que Dusty Fleming também começou a fazer anúncios em Portugal com algumas das nossas beldades locais, como é o caso da manequim Yolanda, neste anúncio ao Condicionador Sunsilk com amêndoas e mel. No Brasil, a marca tem a denominação de Seda.  
3:35 Lotação Esgotada


Alguns dos anúncios

Sanyo



Totobola





quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Missão Impossível (1988-90)


Em 23 de Outubro de 1988 - entre a série original dos anos 60 e o começo da franquia cinematográfica encabeçada por Tom Cruise nos anos 90 - o agente reformado Jim Phelps aceitou regressar à acção e criar uma nova equipa da IMF (Impossible Missions Force).

Em finais dos 80 as tecnologias empregues pela equipa da “Missão Impossível” eram bastante avançadas (e algumas até irrealistas) mas permaneceram partes essenciais do mito da série original, como Jim Phelps (Peter Graves) a receber os detalhes da missão proposta, mas num pequeno disco óptico com vídeo incluído, em vez das tradicionais fitas e pastas com fotos, mas mantendo a mecânica de frases icónicas como “A sua missão, caso a aceite…”, o aviso de que se forem mortos ou capturados serão repudiados, e “este disco vai-se auto-destruir em 5 segundos”. E falando em mortos - segundo a Wikipédia, nesta nova série pela primeira vez um agente no activo é assassinado e renegado pelos superiores.

Além de Graves, apenas outro elemento do primeiro elenco regressou de forma regular: a voz da cassete, neste caso, do disco; o actor Bob Johnson. Curiosamente, uma greve dos roteiristas obrigou a mudar os planos originais para a série, que supostamente seria o que chamamos hoje de reboot, re-imaginar tudo de novo. Mas a greve obrigou a que para avançar com a produção os primeiros episódios e as personagens principais fossem remakes de episódios e arquétipos já vistos, com Peter Graves a desempenhar o mesmo papel e Phil Morris a ocupar a vaga de "génio da mecânica e electrónica" que na série de 1966 estava a cargo de Greg Morris, o seu pai na vida real e na ficção; por exemplo.

A missão destes agentes durou 2 temporadas, totalizando 35 episódios antes de se auto-destruir.

O genérico:




Segundo a minha investigação pela imprensa da época, em Portugal começou a sua emissão a 22 de Setembro de 1989, com o título "Nova Missão Impossível" para diferenciar das aventuras clássicas.
Em 2 de Fevereiro de 1990 terminou a primeira temporada, mas foi terá sido logo substituída pela...segunda temporada, que terminou no nosso país a 25 de Maio de 1990 - segundo o Diário de Lisboa - ou a 1 de Junho de 1990 - segundo o jornal ABC.
Uma foto que acompanhava a programação de 20 de Abril de 1990, correspondia a uma imagem da série antiga!
Foto: "Diário de Lisboa" 20/04/1990
Tal como o Paulo Neto já havia referido no cromo do filme de 1996, esta foi também a "minha" "Missão Impossível"; apesar do sucesso desta ter sido inferior em relação à série original, que também vi em reposições. Dava um gozo enorme ver os agentes montarem todo um espectáculo de ilusão, que invariavelmente requeria improviso (segundo a Wikipédia, ao contrário do habitual na série dos anos 60) para chegar ao objectivo final. E como ansiava o momento em que o actor retirava a máscara!


Vídeo do jogo para Nintendo (1990):


Texto publicado originalmente no Tumblr da Enciclopédia de Cromos: "Missão Impossível! [1988-1990] . 



Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

Voltron (1984-85)


“Voltron, Defender of the Universe
A migthy robot, loved by Good, feared by Evil”

Era com essas palavras que Optimus Prime, isto é, Peter Cullen, iniciava o espectador na mitologia da série.

"De dias de há muito, de regiões inexploradas do universo, vem uma lenda. A lenda de Voltron: Defensor do Universo. 
Um poderoso robot, amado pelo Bem, temido pelo Mal. 
À medida que a lenda de Voltron crescia, a paz se instalava em toda a galáxia. No Planeta Terra, uma Aliança Galáctica foi formada, e juntamente com os bons planetas do Sistema Solar eles mantiveram a paz em todo o universo. 
Até que uma nova horrível ameaça colocou a galáxia em perigo. Voltron era necessitado mais uma vez. 
Esta é a história da super-força dos exploradores espaciais, confiada pela Aliança com o antigo segredo de como reunir Voltron: Defensor do Universo "

O poderoso Voltron era um robot gigante, formado por robots-leão menores e pilotado por cinco exploradores espaciais que protegiam o planeta. 
A primeira equipa Voltron:
Acima (da esquerda para a direita): a Princesa Allura, o líder Keith Kogane e o homem-forte do grupo HunkAbaixo (da esquerda para a direita): o membro mirim Pidge e Lance, o segundo em comando.

Pelo menos no inicio, porque “Voltron” foi remendado a partir de vários animes (como "Gatchaman" deu origem a várias séries ocidentais, ou os "Power Rangers" a partir dos supersentai japoneses). A primeira temporada foi  editada e adaptada de “Beast King GoLion” (1981-82); na segunda temporada a partir da série não relacionada “Armored Fleet Dairugger XV” (1982-83)por consequência um robot diferenteA terceira e última temporada ("Voltron: The Third Dimension" de 1998) foi constituída apenas por episódios inéditos, vendo regressar o robot e a equipa “original”, tudo em animação por computador [num estilo muito semelhante ao de "ReBoot" (1994-2001) e "Beast Wars: Transformers" (1996-99)]. São estes episódios que recordo ver na nossa TV no inicio dos anos 2000. Mais tarde deu origem a duas novas animações: "Voltron Force" (2011) uma continuação, e "Voltron: Legendary Defender" um remake. Desta última, a primeira temporada é muito boa. O projecto para fazer o filme em imagem real continua em standby devido a uma novela legal sobre os direitos de autor...






Além da série, os brinquedos e outro merchandising foram um sucesso. Pelo menos lá fora, porque no nosso burgo não recordo de ver.



O vídeo do genérico:









Nesta fase clássica, ainda existe o telefilme “Voltron: Fleet Of Doom” (foto acima), que apesar de cronologicamente se passar antes da segunda temporada, e explicar essa transição; apenas foi exibido em 1986, depois do cancelamento da série.


Texto publicado originalmente no Tumblr da Enciclopédia de Cromos: "Voltron" [1984-85]. 



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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O Urso Teddy (1975-87)

por Paulo Neto

Decerto que os criadores de animação dos países pertencentes ao então Bloco de Leste nunca imaginaram que algumas das suas séries também fariam parte do imaginário infantil de muitos cidadãos de um país, bem do outro lado da Cortina de Ferro, chamado Portugal. Mas o certo é que nos anos 70 e 80, a RTP exibiu diversas série animadas produzidas em países mais a leste da Europa. Já falámos aqui da série polaca "O Pequeno Inventor" e  hoje recordamos outra série vinda do mesmo país.



"Mis Uszatek" começou em 1957 como uma colecção de livros infantis, escritos por Czeslaw Janczarski e ilustrados por Zbigniew Rychlicki. Em 1975, os estúdios da Se-Ma-For criaram uma série de animação stop motion com as personagens dos livros. Tanto os livros como a série eram protagonizados por um simpático ursinho com uma das suas orelhas caídas (aliás o nome da série quer dizer literalmente "o urso da orelha caída"), que em Portugal teve o título de "O Urso Teddy". Até 1987, foram produzidos um total de 104 episódios.



A série era composta por episódios de cerca de cinco minutos, que começavam sempre com o protagonista, Teddy, no seu quarto a contar o que lhe tinha acontecido nesse dia, aventuras vividas com os seus amigos: o Coelho, o Porquinho, os Coelhinhos, o cão Blacky (que tanto surgiu como um cão normal apoiado em quatro patas, como num cão antropomórfico apoiado verticalmente em duas) e as Bonecas. Também ocasionalmente presentes estavam a Mãe dos Coelhinhos, a Tia Crum-Crum que vivia o Porquinho e a gata Professora. Os episódios acabavam sempre com Teddy deitado na cama a dizer "Boa noite!".

A série estreou em Portugal em 1986, sendo exibida de segunda a sexta no "Brinca, Brincando" e eu recordo-me muito bem não perder nenhum episódio. A narração era do actor António Montez, que fazia também as vozes de todas as personagens. No entanto, as músicas de abertura e dos créditos finais do episódio foram mantidas no original polaco com a voz era de Mieczyslaw Chiecowicz, música de Piotr Hertel e letra Janusz Galewicz. (Se é difícil escrever estes nomes, nem imagino como será pronunciá-los!) Mas ao fim de algum tempo, os episódios passaram a ser exibidos com António Montez a cantar a música da abertura e a música final em versão instrumental. Mesmo assim, muita gente não se esqueceu do original polaco, como por exemplo Ana Markl.

Eis a letra da música final e a tradução:

Pora na dobranoc, 
bo już księżyc świeci. 
Dzieci lubią misie, 
misie lubią dzieci.

(É hora de ir para a cama
Enquanto a lua brilha
Crianças gostam de ursinhos
Ursinhos gostam de crianças) 

Segundo o site Brinca Brincando, após a primeira exibição na RTP entre 1986 e 1987, a série foi reposta mais três vezes: entre 1988 e 1989 de novo no "Brinca, Brincando", em 1994 na RTP 2 antes do Vitinho e em 1995 de manhã. Durante estas duas últimas reposições, passaram episódios inéditos desta vez com a voz de Jorge Sequerra.

Além de Portugal, "O Urso Teddy" foi exibido em mais de vinte países em todo o mundo, sendo um dos programas polacos mais exportados de sempre. Por exemplo, a série também passou no Canadá, no Irão e no Japão. Segundo a Wikipedia, na Finlândia, onde a série tinha o título de "Nalle Luppakorva", os bonecos das personagens foram roubados de uma exposição.





Em 2007, por altura do seu 50.º aniversário, uma estátua do Urso Teddy foi erguida numa das principais ruas da cidade polaca de Lodz. Em 2010, a personagem apareceu numa colecção de moedas dedicadas a clássicos de animação cunhadas por uma empresa polaca para a Ilha de Niue.

Episódio em polaco:



Episódio em português:



Episódio em eslovaco:


Episódio em húngaro:


Episódios em finlandês:



domingo, 11 de dezembro de 2016

Capas Crónica Feminina - Parte 1


Depois de um longo hiato, voltamos a analisar as capas das revistas de tempos idos. Depois das "TV Guia", a não menos mítica "Crónica Feminina", que quando a minha geração a conheceu - nos anos 80 - já não estava no seu auge de popularidade e impacto, que segundo artigos interessantes dos blogs “Santa Nostalgia” e “Coisas de Outros Tempos", foi nos anos 60.
O nº 1 da revista foi lançado em 29 de Novembro de 1956, e até ao momento tenho em minha posse bastantes exemplares dos anos 80, e alguns poucos dos anos 60 e 70 que ainda não fotografei.

Vamos então ver o primeiro lote de capas da “Crónica Feminina”, do período entre 1983 e 1986:
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Crónica Feminina 1405 [27 Outubro 1983]

Destaque na capa para a cantora Fátima Ferreira, radicada no Canadá, mas que conseguiu um disco de ouro em Portugal com o seu maior êxito: "Adeus à Vida" [vídeo].
Também listada na capa, como "não é só uma cara bonita", Clara Pinto Correia ("Adeus, princesa") - a cientista, apresentadora de TV e escritora - que lançava aos 23 anos o seu primeiro livro, "Anda uma mãe a criar filhas para isto":

Ainda uma chamada de atenção para José Niza (compositor, produtor e político, conhecido por ser o autor da letra de "E Depois do Adeus", vencedor de 4 Festivais da Canção, etc) que em 1983 voltou à RTP, como administrador ligado à produção, onde exerceu até 1984, quando regressou ao Parlamento.

O Paulo Neto indicou-me que foi nesse período em que Niza esteve na RTP que aprovou "O Tal Canal" do Herman José, que - tendo estreado alguns dias antes da entrevista de Niza - previamente tinha sido rejeitado por anteriores administrações. Os fãs do Herman agradecem.

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Crónica Feminina 1411 [8 Dezembro 1983]

E falando no Herman José, não é ele que adorna a capa vestido de noiva, mas nesta revista de alguns meses depois é referido por "O Tal Actor", referência precisamente ao "O Tal Canal".
A frase que promove a entrevista a Luís Pereira de Sousa ("Jogos de Verão", "Coleccionando", "Magazine 7", "Zig-Zag", etc) na capa recorda os tempos pré-RTP: "comecei a trabalhar na Fazenda Pública de Cascais".
A nível de fofocas, uma "amiga do casal", contava como viviam o Beatle Paul McCartney ("We All Stand Together") e a mulher Linda.


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Crónica Feminina 1434 [17 Maio 1984]

Este número de 1984 já apresentava um preço de capa superior ao do ano anterior: 30$00. Nesta época, 5 escudos ainda davam para muita coisa! Quer dizer… pastilhas, ou assim… A reflectir a fase que o país atravessava, o título "Reforma, Sinónimo de Miséria". Miséria é coisa que não existe em Portugal, mais de três décadas depois....
Imagino que a "Maria Afonso e a dieta dos manequins" seja a modelo e jornalista de moda Maria Afonso Sancho, que manteve um blog pessoal: "Paz, Felicidade e Amor" em que um artigo recorda o inicio dos anos 80, na época que "Então, eu e a Marluce, éramos os manequins mais bem pagos".
Destaque também para o guitarrista Jorge Fontes (1934 - 2010): "Sempre a guitarra", uma boa definição do músico que colaborou com artistas como Amália Rodrigues, Zeca Afonso, António Variações, Lenita Gentil, Quim Barreiros, etc.
Chamada de atenção para os resumos dos episódios das novelas brasileiras da altura: "O Bem Amado" (1973) [vídeo]. "O Bem Amado" foi uma novela de 1973, inspirada numa peça de teatro de 1962 "Odorico, o Bem-Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte". A novela - a primeira brasileira produzida a cores - deu origem a uma série "O Bem Amado" de 1980; bem mais tarde, em 2010 estreia o filme "O Bem Amado" , que dá origem a uma mini-série "O Bem Amado" em 2011. Ufa!
A outra novela em exibição: "Guerra dos Sexos" (1983), com uma 'orelhuda' canção dos The Fevers na abertura desta "novela das 7": [vídeo].



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Crónica Feminina 1482 [16 Abril 1985]

Eis-nos chegados a 1985, com uma capa dedicada ao actor Nuno Melo (1960-2015; "Casino Royal", "Alentejo Sem Lei", "Camilo e Filho Lda") como forma de ilustrar "O Drama de Caniço...", o trágico personagem de Nuno Melo em "Chuva na Areia", que abalou não só a novela, como os espectadores, da forma que o Paulo Neto já narrou na Enciclopédia: "Chuva na Areia".
Também neste número "Lídia Franco e a sua capacidade de luta"; e "A Nova Lei do Planeamento Familiar".
Enquanto não digitalizar a revista por completo não vou saber o que era exactamente a Eleição da "Mulher a 100%".
Anúncio aos resumos dos episódios das novelas em exibição na tv nacional: "Chuva na Areia" na RTP-1 e "A Sucessora" [vídeo da abertura](novela de 1978-79 ambientada nos anos 20 com Susana Vieira e Rubens de Falco, inspirada do livro homónimo de Carolina Nabuco. Este romance de 1934 terá sido plagiado no livro de 1938  "Rebecca", que deu origem ao famoso filme homónimo de Alfred Hitchcock.) na RTP2


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Crónica Feminina 1487 [Maio 1985]

Obviamente a revista do mês seguinte chama para a capa os episódios da telenovela "A Sucessora" que no inicio de Maio migrou para a RTP-1, em substituição de "Chuva na Areia".
Falando em novelas, a foto da capa pertence ao actor brasileiro Mário Gomes, o "Nando" de "Guerra dos Sexos" que já antes tinha passado pelos pequenos ecrãs portugueses em "Gabriela" e mais tarde com "Vereda Tropical", "O Sexo dos Anjos", "Rainha da Sucata", "Quatro por Quatro", etc. A Crónica afirma que o actor (ou o personagem?) é "neto de portuguesa", e a Wikipedia revela incerteza sobre a filiação de Mário Gomes.
Os outros títulos da capa são também curiosos: "Os gordos praticam halterofilia""A Voz do Além roubou uma vida".



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Crónica Feminina 1536 [1 Maio 1986]

Chegamos a 1986.
Na capa, a brasileira Joana Fomm, no seu visual da malvada Yolanda de "Dancin' Days" (1978-79), que tinha sido exibida na RTP meia dúzia de anos antes. Sobreposta à imagem da actriz, "Vereda Tropical" (novela de 1984-85; tema de abertura cantado por Ney Matogrosso). No entanto, Joana Fomm não participou em "Vereda Tropical" mas sim no outro destaque da capa: "Corpo A Corpo. O homem misterioso protege Osmar". Em "Corpo A Corpo" (1984-85) a actriz contracenou com Glória Menezes, António Fagundes, Lauro Corona, Malu Mader, entre outros. 
"Armando Marques Ferreira 50 anos passados" terá sido decerto uma retrospectiva da carreira do homem da rádio.
Referência ainda aos prémios a atribuir à "Mulher a 100%".


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Crónica Feminina 1545 [3 Julho 1986]

Na capa, Cristina Pereira (Gaby em "Vereda Tropical") com Marcos Frota (Téo, sobrinho de Gaby na novela): "Oliva [Nota: Walmor Chagas] fala a Gaby do seu casamento...".
Sobreposta, uma faixa vermelha com os dizeres: "Tenha sempre à mão a sua Crónica Feminina. Prémios aliciantes podem bater-lhe á porta.". Em letras mais discretas: "S.O.S. Crónica ajuda as leitoras". Mal posso esperar para ver esta rubrica.
Também em destaque, na novela "Corpo A Corpo" (1984-85) o falecimento da personagem "Vânia Fonseca" num acidente, interpretada por Íris Bruzzi ("Guerra dos Sexos", "Vale Tudo"). A revista incluía ainda "Um conto romântico".


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Crónica Feminina 1546 [10 Julho 1986]

Destaque na capa para uma das metades de um polémico romance inter-racial no pequeno ecrã, que foi mal aceite pelo público, entre os personagens de Zézé Motta (Sónia) e Marcos Paulo (Cláudio) na telenovela "Corpo A Corpo" (1984-85).
Segundo o site "Tele Dramaturgia":
""Corpo a Corpo causou polêmica com o romance entre Sônia (Zezé Motta), uma negra de classe média, e Cláudio (Marcos Paulo), filho do rico empresário Alfredo Fraga Dantas (Hugo Carvana). Sônia é vítima do racismo da família Fraga Dantas, levando ao rompimento do romance. Mais tarde ela doa sangue para Alfredo, salvando sua vida.
O amor inter-racial não foi aceito pelo público. "Um jornal ouviu telespectadores sobre o casal. Ficamos espantados com as respostas", disse Zezé Motta. Segundo ela, uma das pessoas dizia que seu par romântico deveria estar sem dinheiro para aceitar beijar uma negra na trama. Zezé contou, ainda, que Marcos Paulo chegou a receber recados mal-educados de fãs em sua secretária eletrônica. "As reações foram fortíssimas", confirmou o galã da época.""
Na capa, indicação sobre o enredo de "Vereda Tropical": aparentemente "Zeca" (Jonas Torres) quer casar com "Silvana" (Lucélia Santos), a sua mãe na história! Incesto e pedofilia??? Alguém que se lembre da novela esclareça isto! Aconteceu ou foi gralha da revista?
No número anterior já se falava em "prémios aliciantes podem bater-lhe à porta". E parece que essa expressão era literal: "Tenha a última Crónica em casa. Pode  ganhar: Um televisor a cores, um vídeo, um forno micro-ondas, uma máquina de lavar louça da marca Singer". A sorte bateu assim à porta de algum dos nossos leitores?


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Crónica Feminina 1554 [4 Setembro 1986]

Até quem repudia touradas reconhece o nome da figura em questão, com direito a capa inteira: "Joaquim Bastinhas - na arena e na vida".
Novidades sobre as novelas, com o logotipo oficial de ambas, em vez de uma fonte de texto genérica:
"Vereda Tropical" - "Luca (Mário Gomes. Ver acima, a capa 1487) rapta Zeca (Jonas Torres) do colégio." Afinal a moda dos raptos não começou nas novelas da TVI.
"Corpo A Corpo" - "Teresa (Glória Menezes) conta a Bia (Malu Mader) que Alfredo (Hugo Carvana) se entendeu com Rafael (Lauro Corona)."
Nova referência "S.O.S. - Uma ajuda a tempo e horas" e outra promoção ao concurso Singer.

Para terminar o artigo em beleza, a edição dedicada ao Natal, "Boas Festas":


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Crónica Feminina 1570 [25 Dezembro 1986]

Nesta edição natalícia da "Crónica Feminina" foi finalmente desvendado o mistério "Donde vem o Pai Natal". Quando ler a revista logo conto. Também só nessa altura vou descobrir quem é a "Miss Maravilha" que posou para a Crónica, e que se for a mesma da capa me parece familiar... Peço ajuda a leitores com melhor memória para caras do que eu!
Nuno da Câmara Pereira "e o seu amor pelo Fado".


O blog “Ilustração Portugueza” também reúne nas suas páginas várias capas e imagens da revista: “Ilustração Portugueza” - Crónica Feminina. Vale a pena a visita!



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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

NOW 99 (1999)

por Paulo Neto

Depois dos Jackpots e dos Polystars dos anos 80 e das colectâneas N.º 1 (com e sem Fido Dido), editadas entre 1991 e 1996, uma nova série de compilações de êxitos surgiu em 1999 e tem continuado até hoje. A série britânica de colectâneas "Now That's What I Call Music!" começou em 1983 e desde então três volumes da série são editados a cada ano (vai actualmente no volume 95, fora as edições especiais). Outros países acabaram por criar a sua versão nacional da série, começando com a África do Sul em 1984, e Portugal iniciou a sua em 1999, com o simples título "NOW", numa colaborações entre as editoras EMI, Universal e Sony Music, com os responsáveis certamente cientes de que os volumes importados da série britânica estavam a vender-se bem no nosso país.



O primeiro volume da série portuguesa NOW foi editado em Dezembro de 1999, com a denominação de "NOW 99", reunindo vários sucessos do ano de 1999 (e alguns ainda de 1998), e rapidamente tornou-se um sucesso de vendas, até porque havia uma lacuna neste tipo de compilações desde a descontinuação da série "N.º 1". Desde então, fora as edições especiais como a comemorativa dos 10 anos em 2009, têm sido editado 31 volumes da série portuguesa. Inicialmente eram editados dois volumes por ano, um por altura do Verão, outra pelo Natal, mas desde 2011 que só é editado um volume anualmente, regra geral entre Novembro e Dezembro.


Eu não comprei este primeiro volume da série pois na altura eu preferia adquirir os volumes importados da série britânica, que até ficavam mais ou menos pelo mesmo preço. No entanto, uma cópia de "NOW 99" foi uma peça importante para mim na noite da passagem de ano de 1999 para 2000, que a minha família passou numa quinta de um amigo do meu pai e onde acabei por ser o DJ da festa, já que pus a tocar várias das 37 músicas aqui incluídas.
Assim sendo, vamos analisar cada uma das canções:


CD1

1. "...Baby One More Time" Britney Spears: E começamos logo com aquele que foi sem dúvida o grande hit do ano de 1999. Pois foi neste ano que Britney Spears afirmou-se como a grande popstar dos primórdios do século XXI. Na altura com apenas 17 anos, Spears fez sucesso com este clássico pop que ficou para sempre gravado na jukebox mental de toda a gente e o single vendeu dez milhões de cópias em todo o mundo. O respectivo álbum com o mesmo nome vendeu também aos milhões e single seguintes "Sometimes" e "(You Drive Me) Crazy" cimentaram a ascensão fulgurante de Britney Spears. E isto era só o começo de um percurso cheio de altos e baixos mas sempre cheio de notoriedade para Spears. Igualmente lendário era o videoclip, onde Britney Spears aparecia vestida de colegial, dando azo a várias fantasias libidionas na mente de muitos jovens (e até menos jovens).
"...Baby One More Time" marcou também a ascensão do sueco Martin Sandberg, mais conhecido como Max Martin, como o grande guru da produção e composição de música pop que é hoje. Martin tinha composto o tema para as TLC que o rejeitaram, acabando por ser Britney a gravar a versão definitiva. E o resto foi história.
2. "Livin' La Vida Loca" Ricky Martin: A cena musical de 1999 foi também marcada pela revolução latina, onde a música pop latino-americana acabou por fazer sucesso em mercados onde ainda não tinha chegado. Os dois cantores tidos como os líderes da revolução eram dois nomes já conhecidos de Portugal há algum tempo mas até então relativamente desconhecidos fora dos países latinos. Um deles era o porto-riquenho Ricky Martin que já tinha tido sucessos internacionais como "1, 2, 3, Maria" e "La Copa De La Vida". Mas foi com o seu primeiro álbum a solo em inglês (que continha um dueto com Madonna) que Ricky Martin conquistou o mundo, sobretudo com um single tão irresistível como "Livin' La Vida Loca", que chegou ao 1.º lugar de tudo o que era top. Agora até dá para rir por razões óbvias, mas na altura um Ricky Martin em frenéticos movimentos de ancas estava para as fantasias femininas como uma Britney Spears colegial estava para as masculinas.
3. "Boom, Boom, Boom, Boom!" Vengaboys: Os Vengaboys eram daquelas ideias tão pirosas e kitsch que só podiam mesmo dar certo. Na sua essência tratava-se basicamente de um projecto eurodance criados por dois produtores holandeses, mas quem dava a cara pelo grupo eram quatro vocalistas que formavam uma espécie de Village People mistos, cada um assumindo uma personagem com roupa a condizer: a tropa (Kim Sasabone, de origem brasileira), o cowboy (Roy den Burger), a disco-girl (Denise Post-van Rijswijk) e o marinheiro (Robin Pors). Com esta formação, o grupo obteve vários hits internacionais entre 1998 e 2000, como "Up & Down" ou "We Like To Party", mas este "Boom, Boom, Boom, Boom!" foi o maior deles, uma super-básica mas apelativa malha eurodance perfeita para animar tudo o que era festa de verão nos idos de 1999. Recordo-me que o meu irmão contou-me que cantava-se então na escola dele uma versão alternativa e gastronómica que era assim: "Boom, boom, boom, boom,/ Batatas com atum/ Ketchup e maionese/ É o que me apetece." Embora sem o sucesso de outrora e com alguns hiatos e mudanças na formação, os Vengaboys continuam no activo editando novo material e actuando ao vivo um pouco por todo o mundo.   
4. "That Don't Impress Me Much" Shania Twain: Era uma vez uma cantora country, com dois álbuns bem recebidos por público e crítica do género, casada com um famoso produtor de bandas rock, quer alcançar o sucesso noutros mercados, mas sem alienar os fãs de country. Seria possível agradar a gregos e troianos? Sim, porque a cantora chamava-se Shania Twain e o marido Robert "Mutt" Lange. Para o seu terceiro álbum, "Come On Over" Twain e Lange pretendiam quebrar as barreiras do country convencional. Mas após a edição original de 1997, em 1998 foi editada a versão internacional do álbum onde a maioria das canções foram re-gravadas numa sonoridade mais pop, o que permitiu a Shania Twain entrar noutros mercados, nomeadamente na Europa. A canadiana já tinha tido alguns sucessos internacionais com as baladas "You're Still The One" e "From This Moment One", mas foi com a nova versão de "That Don't Impress Me Much" em 1999 que Shania Twain afirmou-se como uma estrela global. O tema era um perfeito exemplo da aposta de Twain em dar uma na cravo e outra na ferradura, havendo uma versão country e uma versão dançável que foi a que fez sucesso na Europa e é a que foi incluída neste CD. Ficou para a história da letra em que Shania Twain recusa pretendentes sabichões, vaidosos ("OK, so you're Brad Pitt!") ou obcecados pelo seu carro e ainda mais inesquecível foi o vídeo com Twain no deserto num sensual fato com estampado de leopardo a rejeitar a boleia dos garbosos viajantes que ela encontra pelo caminho. O sucesso foi tal que o álbum vendeu 40 milhões de cópias em todo o mundo e é o sexto álbum mais vendido de sempre nos Estados Unidos. Shania Twain e Robert Lange pareciam então ser a parceria perfeita quer a nível matrimonial, quer profissional até que o casamento de ambos acabou em cenas dignas de telenovela em 2008.
5. "I Want It That Way" Backstreet Boys: Os Backstreet Boys já faziam sucesso há algum tempo e eram então indiscutivelmente a maior boy band do mundo (os NSync só vieram fazer-lhes sombra no ano seguinte) mas em 1999 atingiram outro patamar com o terceiro álbum "Millenium", cujo primeiro single "I Want It That Way" a escalar ao topo de tudo o que era top de vendas (é o único single a ser n.º 1 no Reino Unido) e tornando-se rapidamente o seu maior sucesso comercial. Mais uma daquelas canções do ano de 1999 que ficaram gravadas na mente de todos, mesmo se a letra não fazia muito sentido, nomeadamente no que respeito ao título. Kevin Richardson, um dos membros da banda, justificou-se com o facto do inglês não ser a língua materna do autor da canção, o já referido sueco Max Martin.
6. "When You Say Nothing At All" Ronan Keating: Originalmente gravada pelo cantor country Keith Whitley em 1988, depois versionada por Allison Krauss em 1995, a versão mais popular de "When You Say Nothing At All" surgiu em 1999 na voz do irlandês Ronan Keating, naquele que foi o seu primeiro single a solo. O tema fez parte da banda sonora de um dos maiores filmes do ano "Notting Hill" e ajudou a lançar a carreira a solo de Keating após o fim dos Boyzone. Gosto sobretudo do solo com instrumentos irlandeses (não sei dizer quais) a meio da canção. Agora uma confidência: foi esta música que eu cantei em 2009 no casting para o concurso "Atreve-te A Cantar", apresentado por Bábara Guimarães. (Não, não fui seleccionado.)
7. "How Will I Know (Who You Are)" Jessica: Depois de fazer coros para os Ace Of Base e Dr. Alban, a sueca Jessica Folcker iniciou em 1998 uma carreira em nome próprio que mantém até hoje, do qual a balada "How Will I Know (Who You Are)" continua a ser o seu tema mais conhecido fora da Suécia. Jessica foi mais uma artista que na altura estava sob a alçada das criações do já referido Max Martin. Aliás, o seu primeiro single "Tell Me What You Like" soa como um rascunho de "...Baby One More Time". (Pesquisem para confirmar.)
8. "Lullaby" Shawn Mullins: Embora esta compilação pretendesse reunir os hits do ano de 1999, algumas canções do ano anterior também acabaram por ir cá parar. Em 1998, o cantor e compositor de folk-rock Shawn Mullins teve o seu hit mainstream com "Lullaby" do seu álbum "Soul's Core", cujo vídeo tinha a participação da actriz Dominique Swain que protagonizou a remake de 1997 de "Lolita". Mais preocupado em fazer a música que quer do que em perseguir o sucesso de "Lullaby", Shawn Mullins continua na sua discreta mas bem activa carreira musical.
9. "Sing It Back (Boris Dlugosch remix)" Moloko: Há canções que ganham toda uma nova vida graças a uma remistura de dança, e as três canções seguintes são o exemplo disso. Reza a lenda que durante uma festa em Sheffield, a irlandesa Roisin (pronuncia-se "rosheen") Murphy chegou ao pé de Mark Brydon e perguntou-lhe se ele gostava da camisola justa que ela trazia vestida. Foi o início de uma relação amorosa e musical em que os dois formaram o duo de pop alternativo Moloko (o nome da bebida alucinogénea referida no livro "A Laranja Mecânica"). Originalmente, "Sing It Back" era uma faixa drum & bass perdida por entre o segundo álbum da dupla até que o DJ alemão Boris Dlugosch pegou nela e transformou-a num sucesso que arrasou nas pistas de dança e projectou os Moloko para notoriedade. A dupla continuou até 2003, quando Brydon e Murphy terminaram a relação. Roisin Murphy prosseguiu depois numa bem-recebida carreira a solo.
10. "Sun Is Shining" Bob Marley vs. Funkstar Deluxe: De vez em quando, há quem pegue no repertório de uma defunta glória musical para um remix para girar nas discotecas (enquanto a dita glória provavelmente também gira no túmulo). Em 1999, o DJ dinamarquês Martin Ottesen aka Funkstar Deluxe pegou em "Sun Is Shining", originalmente gravado por Bob Marley & The Wailers em 1971, tema relativamente desconhecido enquanto Marley era vivo, para um remistura de dança que não tardou a arrasar nas pistas de dança. Foi a primeira vez que os herdeiros de Marley autorizaram um remix de uma das suas músicas. Em 2000, Funkstar Deluxe fez outro remix de outro tema de Bob Marley, "Rainbow Country", bem como de outros artistas como Barry White e Grace Jones.  
11. "September 99 (Phats & Small remix)" Earth, Wind & Fire: Continuamos com remisturas e outra vez de uma música dos anos 70. "September" foi originalmente gravada em 1978 pelo lendário e numeroso agrupamento Earth, Wind & Fire. Em 1999, para promover uma colectânea de êxitos para o mercado europeu, "Ultimate Collection", além de reunir no disco os grandos sucessos da banda, foi lançada uma versão de "September" remisturada pela dupla britânica Phats & Small, que nessa altura fazia sucesso nas pistas de dança com temas como "Turn Around" e "Feel Good", apresentando o tema a uma nova geração. Aliás eu não conhecia na altura o original e do repertório dos EW&F só conhecia o incontornável "Boogie Wonderland" e pouco mais. Por incrível que pareça, os Earth Wind & Fire ainda estão no activo ao fim de quase cinco décadas, gravando discos e actuando ao vivo. O último disco de originais data de 2014.  
12. "Miami" Will Smith: Na altura Will Smith estava no pico da sua carreira tanto como artista musical como actor de cinema. O seu primeiro álbum a solo "Big Willie Style" foi um enorme sucesso com hits como "Gettin' Jiggy Wit It", "Just The Two Of Us" e este "Miami", enquanto no grande ecrã estrelava em blockbusters como "O Dia da Independência", "Men In Black" e "Inimigo do Estado". Mas nesse ano de 1999, Smith protagonizou um dos maiores flops do ano "Wild Wild West" e se calhar é por isso que o tema desse filme, que foi mais um hit internacional apesar do fracasso do filme, não está incluído neste disco, tendo-se optado por "Miami", um single de 1998, onde Smith presta homenagem à famosérrima cidade do estado da Flórida. "Miami" continha um sample do tema de 1980 "The Beat Goes On" dos The Whispers, e o vídeo tinha a participação da actriz Eva Mendes, que viria a contracenar com Will Smith em "Hitch - A Cura Para O Homem Comum".
13. "Outside" George Michael: Em Abril de 1998, George Michael foi preso em Beverly Hills por ter-se insinuado a um polícia à paisana numa casa de banho pública, tendo sido condenado a uma multa e 80 horas de serviço comunitário e levado o cantor a confirmar a sua homossexualidade. O escândalo podia significar o fim da carreira do ex-Wham mas George Michael deu a volta por cima. Meses mais tarde para promover o álbum de best of da sua carreira a solo, decidiu usar o vídeo de "Outside", um dos temas inéditos do disco, para parodiar o incidente, criando uma Los Angeles distópica em que pessoas apanhadas em vários actos afectivos e/ou sexuais em público são detectadas por helicópteros e videovigilância e detidas por polícias.
14. "Bailamos" Enrique Iglesias: O terceiro filho de Julio Iglesias já era um ídolo desde 1995 em Espanha, Portugal, Itália e América Latina, quando iniciou a sua carreira, mas tal como Ricky Martin, foi promovido a estrela global em 1999 graças à vaga de artistas latinos que conquistaram novos públicos a cantar em inglês. Outro tema da banda sonora de "Wild Wild West", "Bailamos", escrito e produzido pela mesma equipa que criou o megahit "Believe" para Cher, foi n.º 1 nos Estados Unidos e Espanha.
15. "Mi Chico Latino" Geri Halliwell: A ex Ginger Spice Geri Halliwell lançou em 1999 o seu primeiro álbum a solo, do qual o segundo single foi "Mi Chico Latino" que incluía algumas passagens em castelhano, em homenagem à sua mãe que era de origem espanhola. O tema bem solarengo e alegre encaixou perfeitamente na vaga latina do verão de 1999 e deu a Halliwell o seu primeiro n.º 1 a solo no top britânico. Embora aparecesse bastante sensual no videoclip com um biquini preto, Geri Halliwell revelou mais tarde que na altura lutava contra episódios de bulimia.
16. "Doo Dah" Cartoons: Se os Vengaboys já eram uma ideia bem kitsch, os Cartoons era uma ideia super louca: era um colectivo dinamarquês que fazia versões euro-dance de antigos êxitos de rockabilly, em que os seis membros da banda actuavam como se fossem desenhos animados de carne e osso, com roupas e cabeleiras extravagantes. Os Cartoons tiveram dois hits internacionais em 1999: "Witchdoctor" um original de 1958 de Ross Bagdasarian e este "Doo Dah", uma adaptação de uma cantilena do cancioneiro americano do século XIX "Camptown Races", que foi usada numa campanha da McDonald's. O projecto Cartoons durou até 2001, com um breve ressurgimento em 2005, tendo vendido dois milhões de discos em todo o mundo. Segundo a Wikipedia, um dos elemento femininos do grupo, Karina "Boop" Jensen, faleceu a 16 de Julho deste ano, vítima de cancro da mama.
17. "You Needed Me" Boyzone: Já falamos dele a solo, agora temos de novo Ronan Keating com os Boyzone. Um dos temas inéditos do álbum best of "By Request" do quinteto irlandês, "You Needed Me" foi originalmente gravado pela cantora canadiana Anne Murray em 1978 tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos. A versão dos Boyzone foi por sua vez n.º 1 no Reino Unido e Irlanda. Os Boyzone terminariam no ano 2000, para os membros se dedicarem aos respectivos projectos a solo, tendo-se reunido em 2008 para uma digressão e gravação de novos temas, até que a morte de Stephen Gately em 2009 interrompeu os planos de uma segunda vida do grupo.
18. "The Ex Factor" Lauryn Hill: Em 1998, a parcela feminina dos Fugees não podia estar mais em alta. O seu primeiro álbum a solo "The Miseducation of Lauryn Hill" foi um sucesso de vendas, granjeou os maiores elogios da crítica e recebeu uma saraivada de prémios. Parecia o início de uma carreira a solo que elevaria Hill como uma das grandes cantoras e compositoras da sua geração. Porém pouco tempo depois, Lauryn Hill decidiu retirar-se da vida pública, desiludida com a fama e a indústria musical, e desde então só editou um álbum MTV Unplugged. Ela ainda hoje vai actuando e compondo (e tendo filhos, num total de seis) mas nunca mais quis regressar aos discos e à ribalta. Inclusivamente em 2013 cumpriu três meses de prisão por evasão fiscal.
Este "Ex-Factor" foi o segundo single do seu único álbum a solo e diz-se que é sobre a sua relação com Wyclef Jean dos Fugees, com quem teve um caso secreto.
19. "Strange Foreign Beauty" Michael Learns To Rock: A banda dinamarquesa Michael Learns To Rock foi formada em 1988 e desde então vendeu mais de 11 milhões de discos, a maioria deles na Ásia. Em 1995, uma das suas canções "That's Why You Go Away" obteve alguma rotação nas rádios portuguesas. Talvez por causa disso, em 1999 vieram cá a Portugal promover extensivamente o seu álbum best of "MLTR", dando alguns concertos e aparecido em vários programas como "A Roda dos Milhões", "Big Show SIC" e "Top+". Como tal, este "Strange Foreign Beauty" passou bastante nas rádios nacionais e chegou até esta colectânea. Mesmo reduzidos de quarteto para trio desde 2000, os Michael Learns To Rock continuam no activo e são ainda muito populares no seu país e na Ásia. Por exemplo, foram a primeira banda estrangeira a tocar no Cambodja em 2005.

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1. "If You Had My Love" Jennifer Lopez: Hoje por hoje ela é mais uma cantora que vai fazendo alguns filmes mas em 1999, Jennifer Lopez era "outra actriz que queria ser cantora". Convém não esquecer que Lopez na altura até tinha uma respeitável carreira na representação, tendo sido nomeada para um Globo de Ouro pelo seu papel em "Selena", tinha filmado com Oliver Stone ("U-Turn") e Francis Ford Coppola ("Jack") e foi muito elogiada no seu desempenho em "Romance Perigoso" ao lado de George Clooney. Mas tendo começado no teatro musical, Lopez também sempre aspirou a uma carreira musical e nesse ano, editou o seu primeiro álbum "On The 6", e o primeiro single "If You Had My Love" foi um sucesso imediato. O respectivo videoclip continua a ser um dos mais recordados, num mundo onde era possível vigiar J.Lo em sua casa através da internet.
2. "Summer Son" Texas: A banda escocesa Texas (que retirou o seu nome do filme "Paris, Texas") teve o seu auge em 1997 com a edição do seu quarto álbum "White On Blonde" que foi campeão de vendas e produziu hits como "Say What You Want" e "Black Eyed Boy". Em 1999, a banda liderada por Sharleen Spiteri cumpria a ingrata tarefa de continuar o êxito com o álbum "The Hush". "In Our Lifetime" foi o primeiro single e fez parte da banda sonora de "Notting Hill", mas o grande sucesso desse álbum foi "Summer Son", que com a sua batida frenética e atmosfera solarenga, foi perfeita para o verão quente de 1999. O respectivo e bizarro videoclip, com Sharleen a rebolar na cama com um homem que esporadicamente se transforma num sol é um dos mais famosos do grupo. Os Texas continuaram no activo em 2008. Desde esse hiato, Sharleen Spitteri tem enveredado por uma carreira a solo.
3. "All Star" Smash Mouth: A banda californiana Smash Mouth tinha alcançado a notoriedade em 1997 graças a hits como "Walkin' On The Sun", mas foi em 1999 que editaram aquela que se tornaria a sua canção mais famosa, "All Star". Inicialmente, o tema foi escrito para o filme "Mystery Men", uma paródia aos filmes de super-heróis com Ben Stiller, Greg Kinnear, William H. Macy e Jeaneane Garofalo, mas que foi um fracasso de bilheteira. Contudo seria a inclusão de "All Star" noutro filme que transformou o tema num clássico: o primeiro filme do "Shrek" (2001).
4. "Canned Heat" Jamiroquai: Tal como os Texas, os Jamiroquai vinham de um álbum de grande sucesso, "Travelling Without Moving" de 1996, que continha os hits "Virtual Insanity" e "Cosmic Girl" e pretendiam continuar a maré alta com álbum "Synchronized" em 1999. O primeiro single, "Canned Heat", com influências do funk e do disco, rapidamente tornou-se outro dos temas mais populares da banda.
5. "Erase/Rewind" Cardigans: Os suecos Cardigans tinham-nos habituado a canções melancólicas e fofinhas como "Carnival" e o megahit "Lovefool". Por isso foi um choque quando o álbum de 1998 "Gran Turismo" marcou uma mudança de rumo para sonoridades e temas mais obscuros e até a voz angelical de Nina Persson parecia soar mais tétrica. Daí que este "Erase / Rewind", sobre o direito de uma pessoa a mudar de opinião, fosse um dos temas menos pesados do álbum, tendo também sido incluído no filme "Nunca Fui Beijada" com Drew Barrymore.
6. "You Get What You Give" New Radicals: Depois de vários anos a tentar singrar na música, Gregg Alexander finalmente alcançou o sucesso com os New Radicals, que na verdade era mais um projecto individual com a ajuda de amigos e alguns músicos recrutados para as gravações do que uma banda, com mais uma das canções mais marcantes de 1999, "You Get What You Give". Desde Alexander a fazer tudo para soar igual a Mick Jagger (quando ouvi a canção pela primeira vez, pensava que era dos Rolling Stones), à letra onde ele ameaçava dar um chuto no rabo de gente como Beck, Courtney Love e Marilyn Manson ao videoclip onde jovens se revoltavam num centro comercial e aprisionavam adultos engravatados, tudo no tema era épico. Por cá ainda se ouviu o single seguinte "Someday We'll Know" mas quiçá satisfeito por ter conquistado o sucesso, Gregg Alexander arrumou o projecto New Radicals na gaveta e tem desde então trabalhado como compositor, tendo escrito canções para nomes como Ronan Keating, Enrique Iglesias, as Spice Girls Melanie C e Geri Halliwell, Rod Stewart e Carlos Santana. Em 2014, foi nomeado para o Óscar de Melhor Canção como autor do tema "Lost Stars" do filme "Num Outro Tom".  
7. "Thursday's Child" David Bowie: Despedimo-nos do grande David Bowie no início deste ano, mas em 1999, ele ainda era um cinquentão que estava aí para as curvas. Nesse ano, Bowie editava o álbum "The Hours", cujo primeiro single foi este "Thursday's Child", um tema bastante introspectivo e sem dúvida dos mais acessíveis de entre a fase final da sua carreira, marcada por sonoridades mais experimentalistas.
8. "Sweetest Thing" U2: Reza a história que Bono Vox escreveu "The Sweetest Thing" como pedido de desculpa à sua esposa Ali Hewson por não estar presente no aniversário dela, quando a banda estava a gravar o mítico álbum "The Joshua Tree". A canção foi gravada em 1987 e foi o lado B de "Where The Streets Have No Name". Em 1998, por ocasião do lançamento de uma compilação com os êxitos dos U2 de 1980 a 1990, o tema foi regravado para promover o disco. 
9. "You'll Follow Me Down" Skunk Anansie: Portugal foi um dos países onde a banda rock britânica Skunk Anansie obteve mais sucesso e estes também há muito que retribuem a paixão pelo nosso país, e cada novo disco implica sempre uma passagem obrigatória por cá. A banda liderada pela carismática Deborah Ann Dyer, mais conhecida como Skin, teve um período particularmente áureo em 1999 com o terceiro álbum "Post Orgasmic Chill" que foi dupla platina em Portugal (até o meu pai comprou um exemplar!) que continha temas esmagadores como "Charlie Big Potato", "Secretly", "Lately" e a fechar o ciclo, a balada sing-along "You'll Follow Me Down". 
10. "Promises" Cranberries: Os Cranberries são outra banda dos anos 90 que ainda hoje é bem recebida por cá. Os tempos do megasucesso de meados da década com hits como "Linger" e "Zombie" já estava para trás, mas a banda irlandesa continuava em força em 1999 com o quarto álbum "Bury The Hatchett", do qual "Promises" foi o primeiro single.
11. "She's In Fashion" Suede: Os Suede eram outra banda que vinham de um álbum de enorme sucesso, "Coming Up" de 1996, e que agora tinham a dura tarefa de continuar na onda com o álbum seguinte. "Head Music" não teve tanto êxito como o predecessor mas tinha os seus momentos agradáveis como "She's In Fashion", o tema mais conhecido deste álbum.
12. "The Rockefeller Skank" Fatboy Slim: Depois de ter integrado os Housemartins nos anos 80, Norman Cook desdobrou-se em vários projectos e avatares na primeira metade dos anos 90 (Beats International, Freak Power, Pizzaman, Mighty Dub Catz) até se afirmar como produtor topo de música de dança sob o pseudónimo Fatboy Slim. "The Rockefeller Skank" de 1998 foi o seu primeiro single sobre este alias e cedo os versos "right about now, the funk soul brotha, check it out now, the funk soul brotha" bem como aquele acelerar a meio, quase como num arrancar de mota, tornaram-se inesquecível. No entanto, e apesar de "The Rockefeller Skank" ter sido utilizado como o tema principal do jogo FIFA 1999, creio que faria mais sentido incluir outros temas de Fatboy Slim que saíram em 1999 como "Praise You" e "Right Here Right Now". 
13. "Hey Boy, Hey Girl" Chemical Brothers: Não sendo irmãos de sangue,Tom Rowlands e Ed Simons já tinham mostrado o resultado da química da sua irmandade profissional para a música electrónica com hits como "Block Rockin' Beats". 1999 foi o ano do seu terceiro álbum "Surrender" do qual o primeiro single "Hey Boy Hey Girl" tornou-se rapidamente um dos temas mais populares da dupla.
14. "Coffee And TV" Blur: 1999 viu também um novo álbum dos Blur, simplesmente intitulado "13", o número de faixas contidas no disco. Para o segundo single "Coffee & TV", Damon Albarn cedeu o microfone ao baixista Graham Coxon, até porque a letra era bastante pessoal para este. O videoclip foi um dos mais divertidos da banda, com a história de pacote de leite animado com uma foto com uma foto de Coxon, dado como desparecido, à procura dele pelas ruas de Londres. 
15. "All About The Money" Meja: Outro tema de 1998 que veio parar ao "NOW 99". A sueca Meja Beckman começou a sua carreira no grupo The Legacy Of Sound até enveredar por uma carreira a solo em 1996. Em 1998, obteve um inesperado hit internacional com "All About The Money", uma canção sobre os efeitos nefastos do materialismo. O outro êxito internacional de Meja foi um dueto com Ricky Martin em 2000, "Private Emotion". Meja continua no activo, sendo ainda popular na Escadinávia e no Japão.  
16. "A Good Sign" Emilia: Filha de pai etíope e mãe sueca, Emilia Mitiku teve um hit mundial no início de 1999 com "Big Big World". Quem não se recorda do refrão "I'm a big, big girl,/ In a big, big world,/ It's not a big, big thing/ If you leave me"? Este "A Good Sign" foi o single seguinte. Embora nunca mais tivesse sequer aproximado do sucesso do seu single de estreia, Emilia continua sempre activa na sua carreira. Em 2009, tentou representar a Suécia no Festival da Eurovisão, ficando em nono lugar na pré-selecção nacional. 
17. "Fossanova" Belle Chase Hotel: E chegámos às duas faixas nacionais do disco. Depois do sucesso dos Silence 4 em 1998, cantar em inglês deixou de ser um estigma para as bandas portuguesas e muitos outros projectos nacionais na língua de Shakespeare também alcançaram grande notoriedade. Um deles foram os Belle Chase Hotel, grupo de Coimbra liderado por JP Simões (sempre adorei esta designação, parece o nome de uma firma tipo "JP Simões - Reparações de electrodomésticos - fazemos orçamentos grátis") e que cativou com a sua sonoridade ao mesmo tempo retro e actual. O tema mais conhecido do primeiro álbum é "Sunset Boulevard" mas neste disco optou-se por incluir a faixa que deu nome ao álbum. 
18. "My Wonder Moon" Hands On Approach: E fechamos com chave de ouro com um dos hits nacionais do ano e uma canção que, dezassete anos depois, ainda ouço com bastante alegria. Beneficiando do efeito Silence 4, os Hands On Approach conquistaram tudo e todos com o seu primero single "My Wonder Moon", o que fez com que em 1999 a banda de Setúbal fosse uma das mais requisitadas para concertos pelo país fora. Ouvir "My Wonder Moon" faz-me sem dúvida recuar até ao ano de 1999, à minha primeira Queima das Fitas em Coimbra, ao logótipo humano de candidatura do Euro 2004 no Estádio do Jamor e a um Portugal e a um Paulo que agora parecem tão distantes que até dá para duvidar se existiram mesmo. (Mas eu sei que sim.) Os Hands On Approach também continuam até hoje, não muito prolíficos em termos de material editado, mas ainda somando uns êxitos ocasionais. 
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