segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Hits do Eurodance - Parte 2

por Paulo Neto


Hoje consagramos um segundo artigo para recordar êxitos do eurodance. Depois de no primeiro artigo termos analisado quatro temas de 1994, hoje vamos viajar por diferentes anos para recordar mais quatro canções que dançámos nos anos 90, fosse na discoteca, em festas em casa de amigos ou nos nossos quartos.


"It's My Life" Dr. Alban (1992)



E começamos com aquele que é um dos meus temas de eurodance preferidos de sempre. Reza a lenda que o nigeriano Alban Uzoma Nwapa teve a oportunidade de estudar medicina dentária na Suécia (daí que ele seja de facto um doutor). Para financiar os estudos e depois a sua clínica, foi fazendo alguns trabalhos como DJ e pelo meio, ia fazendo alguns improvisos de rap. Em 1990, um encontro com o produtor Denniz Pop levou-o um contrato discográfico e nesse ano lançou o seu primeiro álbum "Hello Afrika", cuja faixa-título conheceu algum êxito nos tops Europeus.


O segundo álbum "One Love", editado em 1992 teve ainda mais sucesso devido a temas como "Sing Hallelujah" e sobretudo "It's My Life". Este acabou por se tornar a canção mais emblemática de Dr. Alban, com a sua atmosfera algo dark das partes do rap a darem largas ao triunfante refrão de sing-along, para além da letra dedicada a todos aqueles que metem sempre o bedelho onde não são chamados e que dão opiniões que ninguém pediu. O sucesso de "It's My Life" nos tops europeus prolongou-se até bem dentro de 1993 devido ao seu uso num anúncio ao Tampax.
Em 2014, Dr. Alban colaborou com o cantor marroquino Chawki para uma nova versão, produzida pelo conhecido produtor sueco RedOne.

"Another Night" (MC Sar &) The Real McCoy (1993)





Como em muitos projectos de eurodance, também neste caso o que parecia não era bem assim. The Real McCoy era inicialmente um projecto dos produtores alemães Frank Hassas e Juergen Wind que obteve algum sucesso na Alemanha com versões de temas dos Technotronic como "Pump Up The Jam" e "It's On You". Já o MC Sar era basicamente fictício. No início esse papel foi atribuído ao francês George Mario, que fazia playback das partes de rap interpretado por Olaf Jeglitza, com Patsy Petersen como vocalista feminina. Mas chegados a 1993 e o lançamento de "Another Night", os papéis inverteram-se: Jeglitza passou a dar a cara pelo projecto sob o nome de O-Jay enquanto Petersen passou a fazer playback, já que a vocalista recrutada para a gravação da faixa foi  Karin Kasar. Mas como esta alegadamente não tinha interesse em fazer promoções e contentava-se em ser cantora de estúdio, Patsy Petersen permaneceu no projecto para os videoclips e actuações ao vivo.

Versão europeia (1993)


Versão americana (1994)



A primeira edição "Another Night" de 1993 fez algum sucesso na Alemanha e quando o tema começou a alcançar alguma notoriedade no Canadá, chamou a atenção de Clive Davis, o célebre dono da editora Arista, que à semelhança do que fez com os Ace Of Base, ofereceu ao colectivo um contrato discográfico e grandes veículos para promover a música na América. Uma nova versão foi editada em 1994, conhecendo um êxito global, chegando mesmo ao n.º 1 do top na Austrália.
O projecto, que entretanto fez cair o MC Sar da sua denominação, somou mais alguns hit singles em 1995 com "Run Away", "Love & Devotion", "Come And Get Your Love" e "Automatic Lover", se bem que as coisas ficaram ainda mais confusas em termos das caras de projecto, pois embora Karin Kasar continuasse a ser a vocalista feminina desses temas, além de Olaf Jeglitza e Patsy Petersen, também Vanessa Mason surgiu como uma terceira cara do projecto, o que resultou na bizarria de de haver duas mulheres a fazer playback nos videoclips e actuações televisivas, quando era claro que só havia uma voz feminina...que não era de nenhuma delas. (Aparentemente Vanessa Mason foi recrutada por ter uma voz mais parecida com a de Karin Kasar para as actuações ao vivo.)
Depois do fracasso do segundo álbum e respectivos singles e de uma tentativa de reciclagem do projecto com novas caras, Olaf Jeglitza adquiriu os direitos ao nome de The Real McCoy e passou a actuar sob esse nome. Em 2006, colaborou com o grupo polaco Ich Troje para a canção que representou a Polónia no Festival da Eurovisão desse ano. E desde 2016 que Jeglitza e Karin Kasar têm actuado juntos como The Real McCoy e afirmaram que estiveram em estúdio para gravar mais material novo.

"Max Don't Have Sex With Your Ex" E-Rotic (1995)



Também vindo da Alemanha, este projecto de euro-dance fez-se notar por um elemento muito particular: referências sexuais nos títulos e nas letras (daí o nome). Com o produtor David Brandes ao leme da produção, as caras iniciais do projecto eram a cantora Liane "Lyane Leigh" Hegmann e o rapper Richard "Raz-Ma-Taz" Smith. O primeiro single dos E-Rotic foi "Max Don't Have Sex With You Ex", com Smith a fazer o papel do titular Max que, apesar da fogosidade da companheira actual, sente-se muito tentado em fazer revisão de matéria dada com a ex, ao que Leigh responde, pedindo encarecidamente para que ele não ceda à tentação. Pelo meio existe ainda espaço para uns gemidos profundos de Leigh (o que leva a pensar que este diálogo está a ocorrer na cama).



O single seguinte "Fred Come To Bed" era uma sequela, em que a namorada do Max decide vingar-se do pulo de cerca do amante com o amigo dele Fred. Seguiu-se depois o álbum "Sex Affairs" e mais singles como "Sex On The Phone", "Billy Use A Willy" e "Fritz Love My Titz". Mais tarde veio-se a saber que a voz do rap de "Max..." não era de Richard Smith, mas sim Marcus "Deon Blue" Thomas.
Embora Lyane Leigh continuasse a ser a voz em estúdio, a partir do segundo álbum, esta e Smith foram substituídos por outros como as caras do projecto. Entre os discos subsequentes, destaque para um álbum com músicas dos ABBA de 1997. Em 2000, os E-Rotic participaram na pré-selecção da Alemanha para o Festival da Eurovisão desse ano com "Queen Of Light", ficando em sexto lugar.
Desde 2014, Lyane Leigh tem actuado sob o nome de E-Rotic acompanhada ora por Stephen Appleton ora por James Allan.


"Captain Jack" Captain Jack (1995)



Este projecto também era da Alemanha e tal como os E-Rotic se destacaram pela temática sexual, os Captain Jack iam pela vertente militar.
Um primeiro tema "Dam Dam Dam" passou despercebido, mas o single seguinte do projecto, a faixa homónima, gerou mais atenção pelos seus cantos militares combinadas com a batida dance e, vá-se lá saber porquê um solo de guitarra de flamenco. "Captain Jack" foi um hit europeu, chegando ao n.º 1 do top na Holanda e na Hungria. As caras do projecto (e desta vez, parece que também eram mesmo as vozes) eram Franky Gee (um cubano-americano nascido com o nome de Francisco Gutierrez) no papel da personagem Captain Jack e a vocalista feminina Liza Da Costa.




O primeiro álbum "The Mission" foi editado em 1996 e continha mais hits como "Soldier Soldier" e "Drill Instructor", e colaboraram no disco de tributo aos Queen por parte de vários grupos de eurodance com uma versão de "Another One Bites The Dust". Seguiram-se mais álbuns e singles, incluindo uma colaboração com os Gypsy Kings em 1997, que não repetiram o sucesso inicial, mas o projecto Captain Jack continua activo. Liza Da Costa deixou o colectivo em 1999 e Franky Gee continuou a assumir o papel de Captain Jack até à sua morte em 2005 em Espanha, vítima de uma hemorragia cerebral aos 43 anos. Desde 2012, que Bruce Lacy e Michelle Stanley dão a cara pelo projecto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

MacGyver: Conspiração Internacional (1994)

No primeiro texto ( e no segundo) sobre a clássica série "MacGyver" mencionei brevemente os dois telefilmes de 1994. Comentei que me recordava de vê-los na RTP, mas o que consegui confirmar ao certo é que "MacGyver: Conspiração Internacional" ("MacGyver: Trail To Doomsday") foi exibido na SIC no dia 14 de Fevereiro de 1998, na rubrica de cinema dos Sábados à tarde,"Sessão Aventura. E segundo a TV Mais, já tinha passado antes. Independentemente de ter passado no canal público ou no canal privado, praticamente a minha única lembrança sobre os telefilmes é que me decepcionaram. Este "Conspiração Internacional" foi o segundo a estrear nos States, em Novembro de 1994, mas curiosamente a capa VHS oferecida na revista "TV Mais" indica a data de estreia como 1993.


A dita capa VHS faz uma boa descrição do argumento de "Conspiração Internacional":
"Mais uma aventura televisiva de MacGyver, conhecido "engenhocas", capaz de transformar instrumentos vulgares em armas que lhe permitem sair das situações mais perigosas.
Desta feita, o gerói envolve-se em mais uma aventura quando decide ir a Londres para reencontrar um amigo que, pouco tempo depois da sua visita, é assassinado.
Resolvido a descobrir os autores do crime, MacGyver alia-se a uma ex-agente do KGB e acaba por descobrir uma tenebrosa conspiração e desmatelar uma rede de espionagem internacional."
O IMDB acrescenta que em Londres MacGyver descobre uma fábrica secreta de armas nucleares. Portanto, ainda o cadáver da guerra fria não tinha esfriado e já havia saudades de uma boa velha ameaça nuclear.
O espectador actual pode encontrar no elenco uma jovem Lena Headey, a futura rainha Cersei do mega êxito "Game Of Thrones". A realização esteve a cargo de Charles Correll (que dirigiu 19 episódios de MacGyver, e mais tarde "Melrose Place", "Febre em Beverly Hills", etc )
 
No verso da capa da "TV Mais" mais algumas informações:


"Aventuras Engenhosas.
Quando, há alguns meses, a SIC passou #MacGyver - Conspiração Internacional", o telepúblico, saudoso da série de aventuras protagonizada pelo herói engenhoso interpretado por Richard Dean Anderson, colocou este telefilme na lista dos programas mais vistos.
Para os que não o viram na altura, ei-lo de novo. A história: desta vez, o intrépido norte-americano, que é capaz de transformar um cordel e uns quantos pauzinhos numa geringonça temível, vai até Londres e, fazendo concorrência desleal à Scotlnd Yard, alia-se a uma agente do KGB para desmascarar uma tenebrosa conspiração e desmantelar uma rede de espionagem. Recorde-se que o herói faz ponto de honra em nunca empunhar uma arma. A melhor defesa, pensa ele, é a inteligência.
 
O Trailer (feito por um fã) de  "MacGyver: Conspiração Internacional":


sábado, 22 de agosto de 2020

Feita Por Encomenda (1993)

por Paulo Neto

As questões raciais estão na ordem do dia, sobretudo na América mas um pouco por todo o mundo, incluindo Portugal, e devo dizer que me entristece que em 2020 ainda haja um enorme caminho a percorrer para que se entenda as reais dimensões e que sanem as consequências de séculos de racismo institucional.
Mas hoje não vamos falar de coisas tristes mas sim recordar um filme que aborda as questões raciais numa história que até podia ser dramática se não fosse contada com humor.



"Feita Por Encomenda" (no original "Made In America") é uma comédia de 1993 realizada por Richard Benjamin e protagonizada por Whoopi Goldberg e Ted Danson.



Zora Matthews (Nia Long) é uma adolescente que é o orgulho da sua mãe Sarah (Goldberg), uma especialista da cultura afro-americana, que a criou sozinha. No entanto, mãe e filha não estão numa fase de grande entendimento, já que a Sarah pretende que a filha estude na Universidade de Berkeley como ela mas Zora pretende estudar ciências no MIT na Costa Leste. Após uma discussão, Zora acaba por saber que o seu pai não é Charlie, o companheiro de Sarah que morreu antes de ela nascer, mas sim que resultou de uma inseminação artificial, em que a sua mãe pediu que o doador fosse um homem alto, inteligente e negro.


Com a ajuda do seu namorado Tea Cake (Will Smith), Zora decide entrar na clínica de inseminação e procurar na base de dados a identidade do doador. A jovem fica estupefacta ao saber que o nome que surge é o de Hal Jackson (Danson), que não só é branco, como é um emproado dono de um stand de automóveis, famoso na região pelos seus anúncios com animais de circo, cheios de vergonha alheia. Homem mulherengo, algo bronco e o oposto do intelectualismo da mãe, a princípio parece impossível que Hal seja o pai de Zora, mas os dois vão descobrindo que tem algumas coisas em comum e Hal descobre em si instintos paternais que julgava não ter. Mais surpreendentemente ainda, Hal e Sarah acabam por se apaixonar. (Curiosamente, durante a rodagem do filme, Whoopi Goldberg e Ted Danson iniciaram um romance na vida real que durou até 1994.)



No entanto, quando Sarah tem um acidente e precisa de uma transfusão sanguínea, descobre-se que nem ela nem Hal têm um grupo sanguíneo compatíveis com Zora, o que significa que Hal não é o seu pai e que o registo da clínica resultou de um erro ao informatizar os ficheiros antigos. Mas os três concluem que tal não importa porque entretanto já se sentem como uma família.



Embora seja a típica comédia de domingo à tarde para ver sem procurar grandes feitos, "Feita Por Encomenda" vale pelo seu humor, por vezes bem burlesco, e por abordar o tema das relações interraciais, algo que Hollywood tem tido sempre alguma relutância em abordar. Pessoalmente, o melhor de filme é a personagem de Will Smith que rouba todas as cenas em que entra. Destaque ainda para Jennifer Tilly no papel da namorada de Hal, uma típica loura burra, porém bastante ágil!


Trailer:



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O drama dos piolhos e o Quitoso

por Paulo Neto




Desconheço quais são os actuais níveis de propagação de Phtiraptera, vulgo piolhos, junto da população infantil e os avanços científicos no seu combate. Mas como alguém que cresceu nos anos 80 e 90, era um flagelo bastante frequente entre o meu círculo de colegas e amigos de infância e acho que foram poucos os anos de entre os meus primeiros sete de escolaridade em que eu não fui afectado por um ataque dessas malditas criaturas. Era todo um suplício, e como se não bastasse a infernal comichão no couro cabeludo, devido às picadas dos bichinhos e suas respectivas incubações de lêndeas, havia a abordagem tipo Mortal Kombat da minha mãe ao tratar disso, não dando tréguas tanto aos piolhos como à minha cabeça. Assim que eu sabia que havia piolhos a habitar na minha cabeça, era certo e sabido que, durante pelo menos uma semana, ia levar todos os dias com a minha mãe lavar-me a cabeça com o champô da farmácia como quem lava roupa num tanque e depois a passar-me com um pente fino para apanhar os piolhos, pente esse que parecia uma garra super afiada a golpear-me a cabeça. Mas apesar do tormento, eu não me queixava por aí além pois antes isso do que continuar a ter uma civilização de piolhos na cabeça.
Mas que não se pense que eu era um garoto com falta de higiene. Apesar de só no final da adolescência é que passei a tomar banho todos os dias (assim obrigava o meu odor corporal), eu até era um miúdo relativamente asseado. E embora a falta de higiene capilar contribua para complicar infecções causada por piolhos, estes na verdade até preferem cabelos limpos. 



Além disso, eu estava longe de ser o único atingido por esse flagelo. Frequentemente, se um dos meus colegas apanhasse piolhos, era uma questão de tempo até que uma boa parte de turma também os pegasse. Aliás, lembro-me que no quinto ano, tive uma colega de turma que sofria algum bullying por ter fama de piolhosa. E eu não me orgulho nada disto, até porque eu era dos que mais se davam com ela, mas quando apanhei piolhos nesse ano lectivo, tomei logo essa minha colega como a principal suspeita, já que era minha colega de carteira nas aulas de Ciências Naturais.
A última vez que me lembro de ter piolhos foi para aí com doze ou treze anos e desde então, tanto quanto sei, esses bichinhos nunca mais me atormentaram.  


E como é óbvio, falar de combate aos piolhos nos anos 80 e 90 é falar da marca líder desse ramo, o Quitoso. Acho que no máximo só usei champô Quitoso uma ou duas vezes, com a minha mãe preferir outra marca que entendia ser mais eficiente, mas sem dúvida que em termos de marketing Quitoso, com as suas duas variantes loção e champô, era imbatível. (Uma vez perguntei à minha mãe porque é que não punha apenas a loção em vez de lavar-me a cabeça e ela respondeu que a loção não resultava e tinha-se de andar todo o dia com o cheiro.)
E depois havia o famoso anúncio televisivo que foi emitido durante largos anos e é de uma concisão e secura admiráveis.  A câmara percorre uma sala de aula com muitas crianças de bibe entretidas a escrever nos cadernos quando de repente se detém sobre um rapazinho que coça a cabeça com um ar perturbado, enquanto uma voz-off vai declamando: "Piolhos? Lêndeas? Quitoso elimina-os totalmente! Quitoso, loção e champô. Quitoso!"




Na "Caderneta de Cromos", Nuno Markl comparou este anúncio ao prólogo de um filme de terror em que aparentemente ainda está tudo normal até que de repente foca-se na primeira vítima de uma ameaça terrível que não tardará a alastrar-se.  

Mas se em Portugal, o Quitoso não dourava pílulas quanto ao calvário dos piolhos, na América Latina, a abordagem do Quitoso era mais fofucha e, há que dizê-lo, deveras irrealista. Veja-se este anúncio do Uruguai com uma mãe toda sorridente a encarar os piolhos do filho como se fosse uma inconveniência menor e o rebento a dizer no fim "Te quiero mucho, mamá!". 



Imagino o terror de muitas crianças uruguaias ao descobrir a dura realidade de apanhar piolhos e a desilusão ao verem as mães delas a transformarem-se em impiedosos Rambos capilares, ao contrário da mãe do anúncio. Ou como está escrito num dos comentários deste vídeo no YouTube: 

Ninguna mamá dice esa frase....más bien dicen algo como: "¡Vení para acá que te voy a sacaar esos piojossssssssssssss!¡Que vengas!Quedate quieeeeeeeeto!!!"

Também há este anúncio em espanhol, de cujo exacto país de origem não pude apurar, de uma mãe a aconselhar-se com um simpático farmacêutico. Aqui existe uma preocupação materna mais credível, mas a musiquinha alegre e o sorriso da mãe a pentear o cabelo da filha ainda está num nível irreal.


Mas aparentemente com o tempo, as coisas ficaram um bocado mais realistas quanto ao drama dos piolhos na América do Sul, a julgar por este anúncio chileno de 2019, com quatro petizes a coçar a cabeça energicamente como que apanhados no meio de um surto piolhoso.


Artigos relacionados:
YSOL 206, outro piolhicida: http://enciclopediadecromos.blogspot.com/2014/03/ysol-206.html
Anúncio do Quitoso em imprensa (1987): http://enciclopediadecromos.blogspot.com/2014/02/quitoso-1987.html

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Vamp (1991-92)

por Paulo Neto




Confesso que não acompanhei esta telenovela quando foi exibida cá e que não me recordava de quase nada da trama a não ser que envolvia vampiros. Mas sei que na altura foi uma telenovela brasileira que agradou particularmente ao público jovem, não só pela sua principal temática mas também pela forte componente humorística. Da autoria de António Calmon, "Vamp" foi exibida no Brasil entre 1991 e 1992 e em Portugal na RTP 2 à tarde entre 1992 e 1993.



A protagonista era uma esplendorosa Cláudia Ohana no papel de Natasha, uma cantora rock de grande sucesso, que tem um terrível segredo: em troca da fama, ela vendeu a sua alma ao maléfico Conde Vlad Polansky (Ney Latorraca), o líder de um clã de vampiros. Para quebrar a maldição, Natasha ruma à pacata cidade costeira de Armação do Anjos, sob pretexto de filmar um videoclip, em busca da Cruz de São Sebastião, o único artefacto capaz de destruir Vlad e libertar a sua alma.

Em Armação dos Anjos, mandam duas forças vivas. O ex-capitão do exército Jonas Rocha (Reginaldo Faria), um homem rude mas generoso e admirado pela população, recentemente viúvo que vive com a sua sogra Virgínia (Cleide Yaconis) e os seus seis filhos: Lipinho (Fábio Assunção), Jade (Luciana Vendramini), Nando (Henrique Farias), Isa (Fernanda Rodrigues), Tico (José Paulo Júnior) e João (Pedro Vasconcelos). Quando a historiadora Carmem Maura Goés (Joana Fomm), também ela viúva e com seis filhos - Lena (Daniela Camargo), Scarleth (Bel Kuntner), Rubinho (Aleph del Moral), Dorothy (Carol Machado), León (Rodrigo Penna) e Sig (João Rebello) - chega à cidade, é amor à primeira vista entre ela e o Capitão, e após um romance-relâmpago, os dois casam-se para choque dos seus filhos. A convivência entre os Rocha e os Goés é tudo menos pacífica mas com o tempo lá vão formando uma insólita unidade familiar.

Capitão Jonas, Carmem Maura e Padre Eusébio


Os 12 filhos do Capitão Jonas e de Carmem Maura


O outro homem influente de Armação dos Anjos é Osvaldo Matoso (Otávio Augusto), dono dos negócios e terrenos mais importantes que é casado com a fogosa Mary (Patrícia Travassos), cunhada de Jonas e ex-actriz erótica, com quem teve dois filhos: os intratáveis Matosão (Flávio Silvino) e Matosinho (André Gonçalves) que se divertem atormentar tudo e todos na vila, sobretudo os primos.

Outra figura de Armação dos Anjos é Jurandir Figueira (Nuno Leal Maia), o pároco local cuja afinidade com a juventude local lhe vale a alcunha de Padre Garotão. Mas na verdade, Jurandir não é padre de verdade, mas sim um pequeno meliante que por engano assaltou uma quadrilha de bandidos, para fúria do seu líder Arlindo Cachorrão (Paulo Gracindo), usando desde então as vestes sacerdotais como disfarce. Mas as coisas complicam-se quando Marina (Vera Zimmermann), uma protegida de Cachorrão, se interessa pelo falso padre.

Marina e Jurandir


Matoso, Mary, Vlad, Gerald, Matosão


Eventualmente, o terrível Conde Vlad chega a Armação Dos Anjos com o seu séquito para capturar Natasha. A sua obsessão pela cantora deve-se a ela ser a reencarnação de Eugénia, uma antiga amada sua, que o trocou por um antepassado do Capitão Rocha. Gradualmente, vários habitantes da cidade tornam-se vampiros, em especial toda a família Matoso. Para maior confusão, surgem também dois desastrados caçadores de vampiros: Augusto Sérgio (Marcos Frota) e a inglesa Mrs. Penn Taylor-Smith (Vera Holtz).

Mrs. Penn-Taylor Smith e Augusto Sérgio


Entretanto, Natasha descobre que a Cruz de São Sebastião só pode ser manuseada por um homem de nome Rocha, e como tal aproxima-se do Capitão para que a ajude a destruir Vlad. Mas é por Lipinho que Natasha acaba por se encantar, atrapalhando o romance que tinha surgido entre ele e Lena. Na recta final, Natasha dá à luz um filho de Lipinho, que é sequestrado por Vlad, encarnado em Gerald (Guilherme Leme), o agente de Natasha entretanto vampirizado, mas antes de morder a criança, Jonas mata o malvado conde com uma estaca no peito e Miss Penn Taylor salva o bebé deitando-lhe água benta. No final, Natasha decide voltar ao Rio de Janeiro e continuar a sua carreira, deixando o seu filho a cargo de Lipinho e Lena.

Lipe e Natasha


Do elenco, fizeram ainda parte nomes como Inês Galvão (Joana), Paulo José (Ivan), Jonas Torres (Daniel Rocha), Juliana Martins (Esmeralda), Marcelo Picchi (Moreira), Zézé Polessa (Sílvia) e Osvaldo Louzada (Padre Eusébio) além de aparições especiais de Giulia Gam, Cláudia Raia, Maria Zilda e Rita Lee.

Cartaz do musical inspirado pela telenovela
com Cláudia Ohana e Ney Latorraca


Com grandes doses de humor, terror e música, "Vamp" foi uma telenovela que conquistou o público infanto-juvenil no Brasil e em outros países em que foi exibida. Na banda sonora, há que destacar o tema do genérico "Noite Preta" interpretado por Vange Leonel e uma versão de "Sympathy For The Devil" cantada pela própria Cláudia Ohana. Em 2017, foi levado a cena no Rio de Janeiro um musical inspirado pela telenovela, com Cláudia Ohana e Ney Latorraca a recuperarem as respectivas personagens.

Genérico de abertura:






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