terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pisca-Pisca (Tudo Na Maior) (1989)


por Paulo Neto

A viragem dos anos 80 para os anos 90 foi particularmente fértil em termos de ficção nacional exibida pela RTP: entre 1989 e 1991, vimos séries tão variadas como "Alentejo Sem Lei", "Claxon", "Chuva De Maio", "Caixa Alta", "Nem O Pai Morre...", "A Tribo Dos Penas Brancas" e a primeira série de "Os Melhores Anos", só para mencionar aquelas de que já falámos aqui.



Outra série de que me recordo particularmente dessa altura é "Pisca-Pisca" (com o subtítulo "Tudo Na Maior"), exibida entre Setembro e Dezembro de 1989, aos sábados à noite. Tratava-se de uma curiosa mistura de sitcom com programa de variedades. O elenco fixo era composto por oito actores que vinham da telenovela "Passerelle": Armando Cortez, Luísa Barbosa, Florbela Queiróz, Júlio César, Rosa do Canto, Natalina José, Fernando Mendes e Paula Cruz. Os textos eram de Rosa Lobato Faria e Armando Cortez, a direcção de produção de Thilo Krassman, a direcção musical de Pedro Osório e a realização de Nuno Teixeira.

O ponto de partida para o programa eram as aventuras e desventuras da família Cabrita, composta por oito pessoas que partilham um apartamento T1 em Lisboa. Embora a família tenha dois negócios - um salão de cabeleireiro e um misto de central de táxis e oficina de automóveis - as dificuldades financeiras são sempre muitas, por isso muitas vezes recorrem à imaginação para viver situações ora bizarras ora divertidas para escaparem à frugalidade em que vivem.

Cabrita (Armando Cortez)
Berta (Luísa Barbosa)
Belarmina (Natalina José)
João (Florbela Queiroz)
Miló (Rosa do Canto)
Orlando (Júlio César)
Juvenal (Fernando Mendes)
Alicinha (Paula Cruz)


Cabrita (Armando Cortez) é o patriarca, desempregado profissional, que vai ditando as suas sentenças enquanto a sua esposa Berta divide-se entre a cozinha e os seus biscates como vidente. Os dois têm três filhas: a estóica Belarmina (Natalina José), taxista e mãe solteira que já viu todo o tipo de clientes a passar pelo seu táxi (como por exemplo, o flautista de Hamelin a caminho do Largo do Rato!); a ingénua João (Florbela Queiróz), mecânica cuja aparência de maria-rapaz, esconde uma alma romântica e sonhadora, sobretudo quando se recorda do seu amado Sebastião, desaparecido numa manhã de nevoeiro; e a espevitada Miló (Rosa do Canto), a intelectual da família (isto é, a única que fez o ciclo preparatório) que gere as contas da central de táxis e sonha em ser fadista.
Na casa vivem ainda Orlando (Júlio César), um primo afastado, Alicinha (Paula Cruz), filha de Belarmina, e Juvenal (Fernando Mendes), que ficou a viver com os Cabrita desde que a sua mãe o deixou lá em casa em bebé e esqueceu-se de o vir buscar.
Orlando ficou a viver com os Cabrita quando regressou a Portugal, depois de (segundo ele) ter combatido em África e andar emigrado no Brasil. Para que as clientes do seu salão não se intimidem com a sua virilidade, durante o serviço assume o alter-ego Landô com tiques efeminados e sotaque brasileiro. E nas horas vagas, vai namoriscando a prima Miló. Também Juvenal e Alicinha vão namorando entre as horas no salão e as tarefas em casa.


Falta ainda falar nos dois animais de estimação da família: o leitão Rosado, que vive alegremente na banheira, e o peixinho Peixoto, que no início de cada programa fazia o resumo do episódio anterior do seu ponto de vista e cujo único tormento é ter de passar para um copo quando Berta decide usar o seu aquário como bola de cristal.

Cada episódio tinha um tema (por exemplo: o circo, as histórias infantis, o Brasil ou os santos populares) a desencadear todo o tipo de situações quer da acção propriamente dita, quer das sequências imaginárias. Pelo meio havia vários números musicais e de bailado e actuações de artistas convidados.

Por exemplo:



- A cada episódio, o elenco reunia-se num cenário com roupas alusivas ao tema do episódio cantando duas variações do tema principal do programa que terminava sempre com a quadra: "Mas se tirarmos um ou outro pormenor, está tudo na maior, tudo na maior."
- Num episódio onde se recuou ao tempo dos gangsters dos anos 20, Florbela Queirós, Rosa do Canto e Natalina José formavam um grupo de irmãs cantoras que entoavam: "Fazemos marmelada, uh uh uh, muita marmelada, uh uh uh." No mesmo episódio, Natalina José e Luísa Barbosa encarnaram duas gangsters muito assustadoras que cantavam: "Somos maus, somos maus, a função é espalhar o caos!"
- Mas a canção de "Pisca-Pisca" que eu nunca esqueci foi a que encerrou o segundo episódio, o "Rock da Conjuntura", com todo o elenco vestido como punks e Júlio César a cantar: "A conjuntura, a conjuntura, a conjuntura tanto bate até que fura!"

Entre os convidados musicais do programa estiveram Lara Li, António Calvário, Rui Veloso, Eugénia Melo e Castro, Teresa Maiuko, Raúl Indwipo, Carlos Mendes, Marco Paulo, Dora, Ministars, Cândida Branca Flor e Paco Bandeira.

Apesar da história ser por vezes demasiado confusa e "nonsense" e de, segundo o site "Brinca, Brincando", os textos terem merecido críticas por parte de alguns actores do elenco, como Florbela Queiróz e Fernando Mendes, "Pisca-Pisca" primava pela qualidade da realização e da direcção artística. O programa foi reexibido pela RTP em 1990 e 1996 e já passou várias vezes na RTP Memória.

Apesar disso, existe muito pouco material do programa disponível na internet, como por exemplo o original e psicadélico genérico de abertura. No YouTube, apenas encontrei este excerto do episódio de Natal, onde os Cabrita vêem-se em palpos de aranha com tantas rabanadas que lhes são oferecidas, com o Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras a cantar o clássico "Olhei Para O Céu". De referir que apesar deste episódio natalício (transmitido em Novembro), na véspera de Natal de 1989 a RTP exibiu um especial de Natal com o melhor das actuações musicais do programa.  


Atualização: Mais alguns excertos do programa no YouTube

Marco Paulo cantando "Joana" e outra canção


Uma cena do programa de Natal (cortesia do canal oficial de Fernando Mendes)




sábado, 26 de novembro de 2016

Soutien Allya - Triumph (1985)



Anúncio ao soutien "Allya" - da Triumph International - com o subtítulo "Mulher de sonho" (talvez uma referência ao filme "10 - Uma Mulher de Sonho", com Bo Derek? Apesar de esta última ser mais conhecida precisamente pela ausência de soutiens....) e o carimbo "Show Moda 85". A acompanhar uma foto de uma modelo anónima que exibe os seios devidamente aconchegados num soutien e ornamentada por pérolas e um véu de renda.
"Allya. Sedução da forma recriada, conforto e leveza que envolvem, liberdade descoberta momento a momento, na suavidade do toque, no sonho de ser mulher!"

Publicidade retirada da revista Maria, de Abril de 1985 (por confirmar). 
Imagem Digitalizada e Editada por Enciclopédia de Cromos.


Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Survivor Portugal (2001)

por Paulo Neto

Os reality shows já existiam antes mas na viragem do século, esses produtos televisivos atingiram outro nível ao quebrar de vez com a barreira mitológica que existia entre as pessoas do mundo da televisão e os cidadãos comuns. Tornou-se cada vez mais fácil para um cidadão anónimo tornar-se um nome e um rosto reconhecido por toda a população pelo simples facto de aparecer num programa de televisão e onde nem sequer precisava necessariamente de ter um determinado talento.



Em muitos países, como Portugal, essa barreira foi quebrada com a sua respectiva edição nacional do "Big Brother" ou afins (como "Loft Story" em França). Porém nos Estados Unidos, o programa que é considerado como a primeira grande referência dos reality shows no século XXI foi "Survivor", quando no ano 2000 o seu sucesso ofuscou a primeira edição americana do "Big Brother", estreada na mesma altura.

O conceito do "Survivor" foi criado em 1992 pelo britânico Charlie Parsons para tentativamente ser vendido a um canal britânico. Porém, a primeira edição da franchise que se realizou foi na Suécia em 1997 com o título "Expedition Robinson". Isto pois se o "Big Brother" remetia para a obra "1984" de George Orwell, "Survivor" fazia lembrar "Robinson Crusoe" de Daniel DeFoe já que a premissa do programa era a de ver desconhecidos a sobreviver num lugar selvagem e inóspito algures no mundo, como Robinson Crusoe.
Embora a estrutura do programa tenha tido várias variantes conforme o local, o país que produzia e a temporada, a principal estrutura é esta: os concorrentes são divididos em duas ou três tribos e em locais separados (como por exemplo ilhas diferentes) onde têm de construir um abrigo com os poucos recursos que dispõem e alimentar-se daquilo que possa haver de comestível no local. Além dos parcos meios fornecidos pela produção, cada concorrente tem direito a levar um objecto "de luxo", para de certo modo facilitar a sua estadia no local.  A cada semana há um desafio onde as tribos lutam por uma recompensa (como comida, ferramentas ou produtos de higiene) e outro desafio em que lutam pela imunidade. Os elementos da tribo que perder este desafio terão de votar um deles para ser expulso do jogo. Quando restarem um determinado número de concorrentes (geralmente dez), estes formarão uma única tribo e a partir daí os desafios de recompensa e de imunidade serão a nível individual. No final, o vencedor é escolhido pelos concorrentes eliminados.
A franchise, quer como "Survivor" quer como "Expedition Robinson", já foi vendida para mais de 40 países desde 1997. Em alguns países, como Espanha e Itália, houve edições com celebridades. A franchise continua em exibição em vários países como Dinamarca, França, Holanda, Roménia, Eslovénia e Estados Unidos, onde já vai na 33.ª (!) edição.

logótipo da edição portuguesa


Em Portugal, houve apenas uma edição do "Survivor", filmada no Panamá durante 39 dias no Verão de 2001, tendo estreado na TVI a 6 de Outubro, com o último episódio a ser transmitido a 30 de Dezembro. O programa teve apresentação de Paulo Salvador, com cada episódio a ser transmitido aos sábados à noite, além de pequenos blocos conduzidos por Teresa Guilherme ao longo da semana.



No entanto, apesar de não ter tido fracas audiências (ou não estivéssemos em pleno boom do primetime da TVI), a única edição portuguesa do "Survivor" passou algo despercebida e parece caída no esquecimento geral. Para tal, haverá sobretudo quatro explicações: a estreia na mesma altura do Big Brother 3 e de várias telenovelas na TVI que eclipsaram a estreia do "Survivor", a falta de interactividade com o público já que o programa estava previamente gravado e as expulsões dependiam somente dos concorrentes, não ter havido nenhum momento icónico que tivesse ficado para a posterioridade (como o pontapé do Marco no "Big Brother", o calvário parental de Margarida em "O Bar Da TV" ou a pancadaria sobre rodas entre Gisela e Sandra no "Masterplan") e talvez até ao facto de os nossos Survivors nacionais terem optado por jogar limpo em detrimento de intrigas, alianças ou manipulações (que fizeram parte do sucesso da primeira versão americana, que foi ganha pelo concorrente considerado como o vilão).

Foi muito difícil conseguir informação na internet sobre o "Survivor" português, pelo que os principais recursos que usei para este texto são a minha memória e o já inevitável livro "Isso Agora Não Interessa Nada" de Teresa Guilherme.
 
- Foram dezasseis os concorrentes, oito homens (António, Fred, Luís, Miguel, Paulo, Pedro, Ricardo e Roberto) e oito mulheres (Aida, Ana Luísa, Ana Marta, Andreia, Carla, Catarina, Miriam e Sofia).
Não soube as idades, profissões e localidades de todos, mas lembro-me que Andreia era a concorrente mais nova com 19 anos e Miguel e Roberto já estavam na casa dos quarenta. Eram de vários pontos do país e havia um concorrente açoreano, mas não sei qual.
- Numa primeira fase, os concorrentes foram divididos em duas tribos: Ana Marta, António, Carla, Catarina, Fred, Miguel, Paulo e Sofia formaram a tribo Sikui (que quer dizer "pássaro" no idioma indígena local), simbolizada pela cor laranja e Aida, Ana Luísa, Andreia, Luís, Miriam, Pedro, Ricardo e Roberto a tribo Ua ("peixe"), simbolizada pela cor amarela.
- Catarina foi a primeira concorrente a ser expulsa da ilha, sendo notória a sua falta de adaptação à ilha. Andreia foi a primeiro expulsa da tribo Ua. Ana Marta, Roberto, Sofia e Luís foram os outros concorrentes expulsos antes da fusão das tribos.
- Nos últimos desafios antes da fusão, cada tribo elegeu um membro para jogar com a outra tribo (não podendo ser eliminado). Ana Luísa foi escolhida para competir com os Sikui e Carla com os Ua.
- Com a fusão tribal, os dez concorrentes restantes passaram a formar tribo Baluti ("onda"), com a cor verde. Mesmo antes da reunião, Fred adoeceu e foi impedido pelos médicos de continuar no concurso. Em seu lugar, Sofia, que tinha sido a última concorrente Sikui eliminada, regressou ao jogo, mas ela não pareceu muito satisfeita com isso e foi eliminada por unanimidade na primeira votação da tribo Baluti. Sofia viria a participar no "Fear Factor", no mesmo episódio onde participaram uns então pouco conhecidos Cifrão e Gustavo Santos.
- Recordo-me que uma prova de recompensa, quando só restavam seis ou sete concorrentes, que consistia em eles se verem ao espelho pela primeira vez e calcular quanto peso tinham perdido desde que tinham chegado à ilha, ganhando aquele que se aproximasse mais da diferença perdida. No entanto, essa prova foi ganha por Aida que calculou correctamente que tinha...engordado um quilo!
- Mas foi Carla que ganhou aquela que sem dúvida foi a melhor recompensa do concurso que foi uma noite numa espécie de spa a céu aberto com um buffet de saladas e frutas. Para acompanhá-la ela escolheu Pedro.
- Aliás, tais eram as privações no local, que também me recordo dos membros da tribo Sikui quase a chorar de alegria ao descobrirem que por entre as recompensas que tinham ganho após um desafio, além de um cesto carregado de frutas que não existiam na ilha, estavam vários pacotes de sumo Compal!



Segundo Teresa Guilherme, não foram só os concorrentes que passaram por muitas privações e dificuldades no Panamá. Também a equipa de produção e de filmagem sofreu bem na pele os tormentos das intempéries e dos mosquitos.
"Estávamos separados por um mar de correntes furiosas, ondas de três andares e tudo envolto num assustador tom a atirar para um cinza muito escuro. E isto porquê? Porque durante os dois meses que estivemos no Panamá, todos os dias chovia muito, muitíssimo, a potes. (...)
Mas esta molha diária era uma gota de água comparada com os ataques das hordas de mosquitos. (...)
Claro que (...) usámos um repelente contra a tal bicharada, como se estivéssemos a acampar civilizadamente no parque de campismo de uma albufeirita qualquer. 
E ao cair da tarde, eles atacaram. Em menos de três minutos, e por mais que os enxotássemos freneticamente, fomos devorados. E lá passámos a ter mais uma ocupação diária: coçar as centenas de mordidelas que se transformavam em babas gigantescas, (...).
Não fosse o médico da equipa que nos encharcou de anti-histamínicos, todos teríamos hoje as pernas e o resto do corpo ainda mais marcada do que temos."  
Além disso, o regresso a Portugal foi complicado para todos. Basta dizer que foi durante o mês de Setembro de 2001.

No último episódio, restaram apenas quatro concorrentes: Pedro, Miriam, Paulo e Ana Luísa. Estes dois últimos foram eliminados após uma última série de desafios, com Pedro e Miriam a tornarem-se os dois finalistas. Os sete últimos concorrentes eliminados regressaram para elegerem o vencedor entre eles os dois e apenas Ana Luísa votou em Miriam, pelo que Pedro Besugo foi o vencedor do (até agora) único "Survivor" português. O artista plástico ganhou o prémio final de 10 mil contos (50 mil euros).
Pelo que me recordo a vitória de Pedro Besugo foi merecida pois tinha sido quase sempre dos melhores nas diversas provas e reunia a simpatia e o consenso dos colegas.



Outro concorrente marcante do Survivor foi António Gamito que anos mais tarde, voltou a ser notícia, desta vez pela sua relação de dois anos com Alexandra Lencastre. Com o seu aspecto neo-hippie de cabelo à surfista, tatuagens, fita na cabeça e atitude zen, o fotógrafo parecia mesmo o concorrente ideal para este tipo de desafio. E portou-se bem, sendo um dos últimos a serem eliminados, se não me engano, foi o último antes do episódio final.
No seu livro "Isso Agora Não Interessa Nada", Teresa Guilherme dedicou-lhe um texto, recordando um episódio do "Survivor". Enquanto outros concorrentes escolheram coisas práticas como o seu objecto de luxo, António escolheu levar a sua prancha de surf. Mas esse objecto de luxo acabou por deixá-lo meio lixado.
Primeiro, porque durante a maior parte do tempo chovia bastante e o mar estava demasiado revolto e havia maiores preocupações para ele e os outros concorrentes como arranjar abrigo e comida, pelo que a prancha ficou arredada durante muito tempo.

"Mas houve um dia em que apareceu uma nesguinha de sol e o Gamito decidiu arrefecer as ideias para dentro de água, e fazer umas habilidades com a sua prancha que deixassem os companheiros de queixo caído. E deixou. O dos companheiros e o dele.
Mal entrou na água atirou-se para cima da prancha mas em vez de deslizar, afundou-se. Bateu violentamente contra a prancha e abriu uma valente lanho no queixo. (…) Em teoria, era um craque do surf de Portugal e arredores e afinal quando chegou aos arredores: crack! Deixou-se bater por uma onda que não tinha mais de 20 centímetros. (…)
E lá tivemos de chamar o pachorrento Dr. Nestor. Chegou de barco com a sua caixa de primeiros socorros e, ali mesmo na praia, sem qualquer tipo de anestesia deu uns valentes pontos no queixo caído do António Gamito - que não deu nem um pio, portando-se como um verdadeiro sobrevivente. 
As companheiras da ilha, que suspiravam por eles às escondidas, é que aproveitaram a oportunidade para o encher de mimos. Ele com o queixo à banda e elas pelo beicinho."



O único vídeo do "Survivor" português que encontrei no YouTube foi  esta promo da TVI, muito apropriadamente ao som de "Survivor" das Destiny's Child. (Na altura, o grupo passava por tantas mudanças na sua formação que corria a piada nos media que estar no grupo era como estar no "Survivor", nunca se sabia quem iria sair, o que inspirou o tema).




Actualização: Este texto passou no programa "Maluco Beleza" em que a convidada foi Teresa Guilherme (aos 1:00:11)




Encontrei também esta promo no Vimeo a anunciar a fase da fusão entre as duas tribos.


Survivor Reality Show - Portugal - 2001 from Paulo Rosa on Vimeo.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Filadélfia (1993)

por Paulo Neto

Em 1993, havia ainda muito estigma e ideias erradas quanto à SIDA e a sua forma de contágio, nomeadamente que se podia apanhar o vírus por tocar numa pessoa com a doença ou que era uma doença exclusivamente restrita à comunidade homossexual e a grupos marginais da sociedade como toxicodependentes e prostitutas.


Mas foi nesse ano que estreou o primeiro filme de Hollywood a abordar de forma aberta e sem juízos de valor a SIDA e outros temas relacionados como a homofobia. "Filadélfia" foi o primeiro filme de Jonathan Demme após a sua consagração com "O Silêncio Dos Inocentes" em 1991, com Tom Hanks e Denzel Washington nos principais papéis.



Andrew Beckett (Hanks) é um advogado que trabalha para uma das mais prestigiadas firmas legais de Filadélfia que devido ao conservadorismo dos seus chefes esconde a sua homossexualidade, a sua relação com Miguel Alvarez (Antonio Banderas), um imigrante latino-americano, e sobretudo que tem SIDA, tendo sido contagiado num encontro sexual fortuito no passado. 
Quando Beckett é despedido devido a uma complicação durante um caso importante que só foi resolvida no último momento, ele desconfia que foi vítima de uma cilada montada pelos seus chefes para terem uma desculpa de justa causa para o despedirem por causa da sua doença, porque um dos sócios, Bob Seidman (Ron Vawter) reconheceu uma lesão na testa dele como um sintoma de um sarcoma causado pela SIDA.  
Beckett decide processar a firma com a ajuda do advogado laboral Joe Miller (Washington), que inicialmente recusou representá-lo, tendo mesmo pensado que poderia estar contagiado ao apertar-lhe a mão. Mas após assistir a um acto de discriminação contra Beckett na biblioteca, Miller decide ajudá-lo.  Enquanto os dois levam o processo a tribunal, Beckett acaba por se tornar amigo de Miller e da sua esposa Lisa (Lisa Summerour) e Miller acaba por abandonar as suas fortes ideias homofóbicas ao conviver com Beckett, Miguel e seus amigos, percebendo que pessoas homossexuais são pessoas normais e que muitas vezes não correspondem às ideias pré-concebidas da sociedade quanto a essa comunidade. 


Em tribunal, a defesa põe Beckett em causa, não só a sua competência mas como também a sua vida privada, sugerindo que a sua doença é resultado de uma vida sexual depravada e desregrada. Mas Beckett e Miller acabam por ganhar o processo, sendo a firma condenada a indemnizá-lo por danos morais. Beckett acaba por falecer pouco tempo depois, e o filme termina com o seu funeral, onde familiares e amigos, incluindo Miller, estão presentes. 

O elenco de "Filadélfia" incluiu também nomes como Mary Steenburgen, Jason RobardsJoanne Woodward, Ann Dowd e Charles Napier. Foi também um dos primeiros filmes da actriz Chandra Wilson, no papel de uma maquilhadora a quem Beckett recorre para cobrir as suas lesões e que já viu um familiar seu morrer de SIDA.

A história do filme é semelhante à de dois casos reais de dois advogados, Geoffrey Bowers e Clarence Cain, que processaram os seus superiores por terem sido despedidos por terem SIDA. A família de Bowers chegou a processar os produtores do filme por usar a sua história real sem o devido crédito, tendo sido estabelecido um acordo entre as partes.





"Filadélfia" foi um sucesso junto do público e da crítica. A realização de Jonathan Demme é sóbria e segura, evitando que a história caísse no excesso de drama e na lágrima fácil, mas o grande trunfo foi sem dúvida a interpretação de Tom Hanks, que lhe valeu o Óscar de Melhor Actor e outras distinções. Até então associado sobretudo com comédias, Hanks demonstrou também a sua grande habilidade para os desempenho dramáticos. 
O filme também é referido como tendo sido importante para mudar as percepções sobre SIDA e homossexualidade junto do grande público, não só na América mas além fronteiras, e promover retratos mais realistas de personagens homossexuais no cinema de Hollywood.
No entanto, foi preciso esperar até 2013 para que outro filme de Hollywood em que a SIDA fosse o tema principal, "O Clube de Dallas", alcançasse semelhante notoriedade.  

"Filadélfia" foi um dos filmes que eu vi em 1994, o ano em que passei a ir regularmente ao cinema e também vi mais tarde na escola, creio que no 11.º ano, por ocasião do Dia Mundial da SIDA que se celebra a 1 de Dezembro. 

Por fim, não dá para falar do filme "Filadélfia" sem falar da hipnótica canção da sequência inicial, "Streets Of Philadelphia" de Bruce Springsteen, que venceu o Óscar de Melhor Canção e tornou-se um dos maiores hits da carreira do "Boss". A banda sonora incluiu também canções de Neil Young, Sade, Peter Gabriel, Spin Doctors e um ária de ópera de Maria Callas, que é tocada durante uma das cenas mais marcantes do filme.

Trailer:


Cena com a ária de Maria Callas:


"Streets Of Philadelphia" Bruce Springsteen




terça-feira, 8 de novembro de 2016

Top 5 Canções de Michael Bolton (Paulo Neto)

Já estou numa idade em que os meus guilty pleasures tornam-se apenas meus pleasures, independentemente do embaraço ou da vergonha alheia que possam causar, permitam-me esta confissão: no início dos anos 90, eu fui um grande fã de Michael Bolton, o rei da balada azeiteira americana da altura, famoso pela sua juba de caracóis dourados e pela sua voz rouca. Não só gostava da sua música como até chegava a ver em Bolton uma espécie de figura paterna musical: também eu em pré-adolescente almejava em ter um vozeirão daqueles para chilrear canções de amor aos objectos da minha futura afeição. (Por coincidência, Michael Bolton nasceu no mesmo ano que o meu pai). E de vez em quando, confesso que me apetece ir ao YouTube ou ao Spotify procurar algo do seu repertório para ouvir.



Michael nasceu com o apelido Bolotin (os seus quatro avós eram imigrantes russos) aos 26 dias de Fevereiro de 1953 em New Haven, no estado de Conectitcutt.
Por incrível que pareça, Michael Bolton deu os seus primeiros passos na música em meados dos anos 70 no hard rock e no heavy metal, primeiro com álbuns a solo onde ainda usava o seu apelido verdadeiro e depois como vocalista da banda Blackjack, que chegou a ir em digressão com Ozzy Osbourne. A partir dos anos 80, já com o apelido anglificado para Bolton, começou a compor para outros artistas como Laura Branigan, Cher e Kiss, embora não deixasse de gravar em nome próprio. O seu primeiro sucesso foi uma versão de 1987 de "Sittin' On The Dock Of The Bay" de Otis Redding que até mereceu rasgados elogios da viúva de Redding, que marcou definitivamente a mudança de rumo musical de Michael Bolton, iniciando assim um reinado como o rei das baladas que duraria até 1997. Desde então, e embora nunca tenha deixado de editar discos, Bolton foi notícia sobretudo pelo seu romance com a actriz Nicolette Sheridan quando esta estava em destaque em "Donas de Casas Desesperadas" e pelo seu álbum de 2009 conter uma canção escrita por Lady Gaga, (composta nos tempos em que ela ganhava a vida a escrever para outros).

Neste top 5, não contei com covers, pelo que não vão estar incluídas as suas famosas versões de "When A Man Loves A Woman" de Percy Sledge ou "To Love Somebody" dos Bee Gees. As menções honrosas são quatro: "Steel Bars", "A Love So Beautiful", "Time, Love And Tenderness" e "Completely", que esteve quase, quase a fazer parte deste top 5 até eu concluir que gosto mais do videoclip (com a bela Paula Barbieri, que era a namorada de OJ Simpson quando este foi acusado do assassinato da sua ex-mulher Nicole Brown) do que da canção em si.  

#5 "How Am I Supposed To Live Without You" (1989)
Eu disse que não ia incluir covers neste top 5, mas abri uma excepção para este tema já que foi escrito pelo próprio Michael Bolton, Laura Branigan, a cantora de "Self Control", foi a primeira a gravar "How Am I Supposed To Live Without You" em 1983, chegando ao n.º 12 do top americano.
Mas seria a interpretação de Bolton da sua própria composição em 1989, para o álbum "Soul Provider" que seria a versão definitiva da canção. "How Am I Supposed To Live Without You" encaixa-se totalmente naquela categoria de baladas do desespero total, em que num último esforço final, pede-se à pessoa amada, já decidida a ir-se embora, para que não o deixe. E de facto, dá para sentir de tal forma o desespero na interpretação de Bolton neste tema, que quase que dá para imaginar que ele está a cantar isto de joelhos, agarrado à perna da amada, enquanto esta tenta dirigir-se para a porta com uma mala na mão. "How Am I Supposed To Live Without You" foi um hit mundial, tendo sido n.º 1 nos Estados Unidos e na Bélgica, valeu a Bolton o Grammy para Melhor Interpretação Pop Masculina, e é tido como a canção com que alcançou o estatuto de estrela.
Recentemente, o tema voltou a estar em destaque quando um concorrente da versão americana de "The Voice" interpretou-o na sua prova cega, em homenagem ao seu pai recém-falecido.



#4 "A Time For Letting Go" (1993)
Numa categoria oposta à da canção anterior, temos esta balada que pertence à categoria "foi bom mas acabou-se e agora há que seguir em frente", na qual Bolton procura tranquilizar a sua futura ex-amada no fim da relação, assegurando-lhe que ela irá ultrapassar o fim do romance, por muito duro que seja esquecer o que foi viver uma paixão com ele, porque na vida há um tempo para amar e um tempo para deixar ir.
Descobri esta canção relativamente há pouco tempo, durante uma das minhas deambulações pelo YouTube. Como o vídeo em que descobri esta canção é feito com cenas do filme de 1991 "Dormindo Com O Inimigo", pensei que fizesse parte da banda sonora desse filme, mas afinal é uma faixa do álbum de 1993 "The One Thing", o álbum mais vendido de Michael Bolton em Portugal, tendo sido dupla platina e n.º 1 do "Top+".



#3 "Said I Love You... But I Lied" (1993)
E já que falamos no álbum "The One Thing", o n.º 3 é o principal single desse LP. Pelo título, parece que é uma canção em que Michael Bolton andou a mentir e a brincar com os sentimentos da amada, mas bem pelo contrário, é uma canção que leva o romantismo a níveis ridiculamente inatingíveis. Pois no refrão, Bolton declara: "Said I love you but I lied, 'cause this is more than love I feel inside." Ou seja, o que ele sente pela amada é mais que amor. No entanto, sou de concordar com o Nuno Markl Dr. Paixão quando na sua análise a esta canção na rubrica da Rádio Comercial, ele diz que se Michael Bolton anda com tanto elogios à pessoa amada, é porque ele fez alguma asneira. O respectivo videoclip é também um dos mais icónicas da sua carreira, com Bolton de melena ao vento por entre os rochedos do Arizona.   



#2 "How Can We Be Lovers" (1990)
Mas nem só de baladas vive o repertório de Michael Bolton, e dentro da sua facção uptempo, este single do álbum "Soul Provider", que ele escreveu em parceria com dois famosos compositores que são autênticas máquinas de fazer hits: Diane Warren e Desmond Child. Por isso, o resultado só podia ser bombástico.
Eu tenho uma teoria de que "How Can We Be Lovers" é a resposta a um dos hits de Cher, "If I Could Turn Back Time" (também escrito por Diane Warren). Se bem se recordam, nessa canção Cher canta o seu arrependimento por ela, no meio de uma discussão, ter dito algumas injúrias que atingiram o amado bem no âmago e como tal, fizeram a relação ir pelo cano abaixo. Em "How Can We Be Lovers", Michael Bolton responde que assim como assim os dois já brigavam constantemente e que não se admirava de terem chegado a esse ponto, embora à medida que a canção avança, vai revelando que está disposto a dar uma tentativa final.  



#1 "Go The Distance" (1997)
Para terminar, aquele que é o mais épico tema de Michael Bolton, ou não fosse uma canção da Disney. "Hércules" pode não ser o melhor filme da período renascentista da Disney (1989-1999) mas pessoalmente, terá talvez uma das melhores bandas sonoras e "Go The Distance" continua a ser uma das minhas canções preferidas da Disney. Roger Bart cantou a versão do filme mas só mesmo um vozeirão como o de Michael Bolton para dar à versão pop do tempo toda a grandiosidade hercúlea do tema. Até me espanta "Go The Distance" nunca ter sido usada nuns Jogos Olímpicos ou algo assim. 
Além disso, a canção teve um significado especial para mim quando a ouvia no Verão de 1998, quando estava prestes a começar uma nova fase da minha vida ao ir para a Universidade. 
"Go The Distance" foi nomeada para o Óscar de Melhor Canção e foi o último grande hit de Michael Bolton e o respectivo videoclip é o último em que ele aparece de cabelo comprido. Curiosamente, em alguns países como o Reino Unido, "Go The Distance" foi editado como um duplo single em conjunto com "The Best Of Love", o tema de apresentação do álbum "All That Matters", e no videoclip, Bolton surgia pela primeira vez de cabelo curto, que mantém até hoje. Foi quase como que, com essa edição, se quisesse marcar claramente o fim e o início de um novo capítulo.



Quase que se pode comparar Michael Bolton ao herói bíblico Sansão, pois tal como este perdeu a sua força depois de ter o seu cabelo cortado pela traidora da Dalila, Bolton deixou de ser o hitmaker que era depois de cortar a sua longa melena dourada. Embora Michael Bolton continue bem activo, a gravar discos e a cantar por todo o mundo, só voltou a entrar no top 100 americano em 2011 numa colaboração com os The Lonely Island no tema "Jack Sparrow" com um vídeo simplesmente hilariante.




domingo, 6 de novembro de 2016

Earth 2 (1994-95)

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Os fãs de BD ou da recente série de TV "The Flash" podem reconhecer o nome "Earth 2" ("Terra 2") das histórias com universos paralelos, mas o tópico de hoje também é de ficção-cientifica: a série de televisão dos anos 90 "Earth 2", que estreou a 6 de Novembro de 1994. Curiosamente o IMDB indica que terá estreado em Portugal exactamente 4 anos depois, 6 de Novembro de 1998; creio que com o título nacional "Terra 2". Actualização: Entretanto confirmei a data de estreia, 6 de Novembro de 1998, o dia de exibição era às sextas à tarde, na TV2 às 15:30. Apesar de na programação TV a série estar indicada "A Terra", nos meus apontamentos da época refiro por "Terra 2".
Foto: "A Comarga de Arganil" Nº 10794
Ainda segundo a minha investigação, o ultimo episódio terá sido exibido na TV2 a 26 de Março de 1999.


Esta co-produção da Universal e da Amblin de Steven Spielberg durou apenas uma temporada de 22 episódios.
A frase de promoção era "Desta vez, NÓS somos os alienigenas" ("This time, WE are the aliens").


O ano 2192  - 700 anos depois da descoberta da América – é um futuro sombrio. O planeta Terra está a morrer, e a maioria dos terráqueos habitam em estações espaciais. Com o tempo, as crianças começam a nascer com uma estranha debilidade – “O Síndroma”, não reconhecida por médicos e governos - e morrem antes de completar 9 anos de idade.  Quando o jovem Ulysses (Joey Zimmerman) começa a revelar sintomas da doença, a mãe Devon Adair (Debrah Farentino) financia e lidera o “Projecto Eden”, uma missão para colonizar um planeta semelhante à Terra – G889, a 22 anos luz de distância - onde Ulysses e as outras crianças afectadas possam recuperar o contacto com a Natureza, que a Terra inabitável e as estações espaciais impossibilitam. O Conselho tenta sabotar a nave espacial, mas não consegue impedir a viagem de 22 anos até ao novo planeta. No entanto, à chegada a nave despenha-se longe do local programado e os “náufragos” – depois de um sono de mais de duas décadas - vão ter que lutar pela sobrevivência numa superfície de parcos resursos, onde rapidamente descobrem que não estão sozinhos.

Outro dos protagonistas era o engenheiro John Danziger (Clancy Brown, o Krugan de “Duelo Imortal” ou a voz de Lex Luthor em várias séries, filmes e jogos, entre muitos outros papéis) o trabalhador rude e forte mas de bom coração, e pai de True (a actriz J. Madison Wright Morris, que faleceu em 2006 aos 21 anos por complicações cardíacas). Apesar das desconfianças iniciais ao longo da série ambos ganham amizade por Devon e Ulysses. Ulysses, mesmo em estado debilitado vai ser instrumental em comunicar com uma das espécies indígenas, os Terrians.
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Além dessas criaturas telepáticas, existem no planeta os pouco-inteligentes Grendlers, os agressivos Kobas – uma espécie de “macacos” alienígenas – e … alguns humanos, sobreviventes de uma antiga colónia prisional.
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Outros personagens incluiam uma médica geneticamente alterada, Dr. Julia Heller (Jessica Steen, de “Captain Power”) uma agente infiltrada do Conselho; Yale (Sullivan Walker) um ciborgue e antigo criminoso a que a memória foi apagada; o casalinho arrogante e irritante: um funcionário governamental, Morgan Martin (John Gegenhuber) e sua esposa Bess (Rebecca Gayheart) que segundo a Wikipedia cresceu nas minas do planeta Terra.

Outro personagem de destaque foi Alonzo Solace (o modelo e actor Antonio Sabàto Jr.) um piloto de aspecto jovem mas de idade mais avançada, graças ao tempo que passa em animação suspensa durante as viagens. Tenta o suicidio mas os Terrians ajudam-o comunicando com ele através dos sonhos. Ao longo dos episódios foram tratados várias questões sociais – sob a capa sci-fi, obviamente -  como crimes, castigos, o relacionamento com povos indigenas, etc.

Ao longo dos episódios podemos ver algumas caras familiares como os actores Tim Curry (Gaal, um perigoso condenado que controlou e escravizou Terrians e Grendlers) ou Terry O’Quinn ( de “Rocketeer”, “Jovens Pistoleiros” ou “Perdidos”, aqui como Rilley, um membro do Conselho). E claro que uma série de sci-fi não estaria completa sem um robot: Zero, na tradição de robots como o Robby de “Perdidos no Espaço”.

Como as audiências não estavam a ser tão boas como esperado, na segunda temporada seriam feitas mudanças anunciadas nesta promoção:


Posso jurar que algumas das sequências do inicio do video incluem imagens e efeitos visuais do Stargate. Alíás, o video socorre-se de imagens e música de outras produções para tentar transmitir as ideias planeadas para a segunda temporada: episódios com histórias mais contidas, enfâse na aventura e acção; a nível de arco geral: o estabelecimento da colónia no novo planeta, com milhares de pessoas recém acordadas do sono criogénico e a tentar construir a vida num planeta inóspito, e claro, com novos personagens e muitos problemas à vista nomeadamente extraterrestres hostis. Mas, esta segunda temporada não saiu do papel. O ultimo episódio foi emitido em 4 de Junho de 1995, para despero dos fãs – autoapleidados de Edanites - com uma comunidade online bastante activa já na época. O site Outside Comic Con relata que quando mais tarde os fãs e actores viram o vídeo acima, até ficaram aliviados que a segunda temporada – mais “estúpida” e irreconhecível – não tenha sido levada avante.

Pessoalmente, não recordo quantos episódios vi, ou foram exibidos na nossa televisão, mas era uma série de  ficção cientifica que via com bastante interesse, e confesso que tive um crush pela actriz Rebecca Gayheart (“Mitos Urbanos”,”Beverly Hill 90210”, “Scream 2”), que fazia de Bess.

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Enquanto não encontro o genérico inicial, vejam estes vídeos de promoção da época:









Um fã juntou cenas de vários episódios para criar um video de homenagem:



Outro utilizador apresentou uma review da série:





Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Big Brother Portugal 2 (2001)

por Paulo Neto 

Tal foi o impacto do primeiro Big Brother que a TVI percebeu que tinha de continuar a onda. Por isso, a segunda edição nacional do Big Brother estreou apenas três semanas após o final da primeira.
O "Big Brother 2" estreou a 21 de Janeiro de 2001 e terminou a 20 de Maio desse ano, sendo a única edição que não se realizou no último terço do ano. Aliás, à parte a "Academia de Estrelas" em 2002, creio que foi a única edição de um reality show da TVI do molde "pessoas fechadas numa casa" que não se realizou entre Setembro e Dezembro.







As inscrições para o Big Brother 2 começaram ainda durante o decorrer da primeira edição e o número de candidaturas quintuplicou para cerca de 20 mil inscritos. Apesar do curto espaço de tempo entre as duas edições, a casa da Venda do Pinheiro passou por remodelações significativas. Por exemplo, em vez das cores vivas da primeira edição, as paredes eram em tons claros e os designs e o mobiliário tinham inspiração no design tipicamente português. Foram treze os concorrentes que entraram no primeiro dia: Bruno, 22 anos, Barcelos, pasteleiro; Cristina, 35 anos, São Mamede de Infesta, desempregada; Elsa, 25 anos, Portalegre, secretária; Fernando, 23 anos, Olhão, estudante; Henrique, 21 anos, Peniche, estudante; Liliana, 24 anos, Aveiro, agente imobiliária; Maurício, 37 anos, Mogadouro, dentista; Patrícia, 22 anos, Vila Nova de Gaia, estudante; Pedro, 20 anos, Vila Nova de Gaia, estudante e músico; Sérgio, 29 anos, Corroios, empregado numa loja de desporto; Sofia, 22 anos, Odivelas, empregada numa loja de roupa; Verónica, 27 anos, Porto, professora de ginástica; e Vítor, 25 anos, Tavira, DJ e bailarino. Teresa Guilherme e Pedro Miguel Ramos regressaram às suas funções como apresentadores. 
Tal como no primeiro Big Brother, e ao contrário do que acontece actualmente com a "Casa dos Segredos", havia a preocupação para que os concorrentes fossem de certo modo uma amostra da população nacional entre os 20 e 40 anos. Porém, em relação à primeira edição, estes concorrentes já sabiam melhor ao que vinham e estavam mais cientes das regras do jogo, das câmaras e daquilo que podia ou não passar na televisão. Por exemplo, quando Patrícia deixou inadvertidamente cair uma pastilha da boca, exclamou quase instintivamente: "Não passem isto na televisão." (Claro que passou!)
Eis alguns dos destaques do Big Brother 2:
- Foi a única edição do Big Brother a ter uma revista semanal própria dedicada ao programa, onde se noticiavam os acontecimentos na casa e as actividades dos concorrentes das duas edições.
- O tema desta edição foi "Tudo Pode Acontecer", interpretado pelo ex-Excesso João Portugal, que chegou a entrar na casa na segunda semana precisamente para ensinar a canção aos concorrentes.






João Portugal acabaria por ser um habitué deste tipo de temas, tendo também cantado os temas da primeiro edição do Big Brother Famosos e a quarta edição de anónimos.



- A figura mais croma do BB2 foi sem dúvida Elsa. A loira alentejana ficou célebre pela sua voz estridente, vários momentos a condizer com os estereótipos da sua cor de cabelo (inevitavelmente parodiados por Herman José) e sobretudo os beijinhos que mandava sempre para uma quantidade de gente sempre que ia ao confessionário nas galas de terça-feira. Ficou também famoso o então seu namorado, conhecido como o "Xuxu", que era alegadamente um dos termos carinhosos que Elsa lhe chamava (não me recordo qual era o verdadeiro nome dele). Elsa foi porém criticada por não se referir muitas vezes ao seu filho, que estava então à guarda da família do seu ex-marido. (O seu ex-sogro viria a ser uma das vítimas do massacre engendrado por Luís Miguel Militão em Fortaleza no Brasil em Agosto desse ano). Elsa regressou à casa do Big Brother um ano depois como participante na segunda edição do Big Brother Famosos. Actualmente, segundo o blogue de Flávio Furtado, Elsa trabalha na área de formação, tendo tirado um mestrado em Psicologia Clínica.





- Durante a primeira prova colectiva, que consistia numa representação escrita e encenada pelos concorrentes, Fernando destacou-se na sua prestação de tal modo que o jovem algarvio, que após a sua saída, integrou o elenco da telenovela "Olhos de Água" no papel de Samuel, onde teve a oportunidade de contracenar com Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz.



- Esta foi também a primeira edição internacional do Big Brother, com a participação de um concorrente brasileiro: Maurício, natural do estado do Rio de Janeiro, que trabalhava como dentista em Trás-Os-Montes. (Provavelmente terá sido mesmo o primeiro concorrente brasileiro de sempre num Big Brother, até porque na altura ainda não havia a edição brasileira). O seu ponto alto foi a sua não-tão-secreta admissão a dois concorrentes que se tinha masturbado. Após a sua saída, Maurício editou um livro dedicado à higiene oral com o título "Sorri Dente"e mais tarde abriu a sua própria rede de clínicas dentárias.



 - O primeiro terço do Big Brother 2 foi marcado pela rivalidade entre Liliana e Verónica, com várias picardias entre ambas e os aliados de cada uma, que culminou num "head-to-head" em que as duas foram nomeadas, tendo sido eliminada a aveirense.
Após a sua saída, Liliana fez parte de um dos momentos mais bizarramente divertidos do "Herman SIC" pois foi a ela que o bruxo Alexandrino tentou em vão hipnotizar enquanto proferia o célebre bordão: "Firme e hirta, como uma barra de ferro".



- Houve algumas questões quanto à sexualidade de Vítor, que trabalhava num bar "gay-friendly" em Tavira como DJ e bailarino, aparecendo com um fato exótico numa das fotos oficiais. Porém, Vítor nunca demonstrou evidências sobre uma possível homossexualidade e até referiu uma certa atracção por Verónica. (ACTUALIZAÇÃO: Vítor Matias faleceu em 2017, aos 41 anos, vítima de cancro.)




- Pedro e Sofia foram um dos casais desta edição. Ambos tinham namorados à entrada para a casa e decidiram terminar com eles no confessionário. Foram divertidos os seus momentos "on again, off again". Sofia foi particularmente criticada por ser a mais preguiçosa da casa e por estar sempre a comer, algo pouco condizente com as suas aspirações como modelo. A relação entre ambos terminou após o programa. Pedro chegou a apresentar uns programas na efémera NTV e a namorar com uma Isabel Figueira pós-Acorrentados e pré-anúncio do trampolim da Maxmen.



- Mas o principal casal do BB2 foi aquele formado por Sérgio e Verónica. Desde cedo notou-se uma química entre os dois, apesar do desconforto dela por ter namorado cá fora. No entanto, a paixão falou mais alto, ao ponto de que os dois estiveram prestes a tornar-se os primeiros concorrentes do Big Brother no mundo inteiro a casarem-se dentro da casa. Porém, o público furou-lhe os planos ao eliminar Verónica uma semana antes da data marcada e Sérgio desistiu imediatamente a seguir. Os dois acabaram mesmo por se casar no dia 24 de Abril, dia de aniversário de Sérgio, numa cerimónia civil junto à casa da Venda do Pinheiro. Eu conheci Sérgio e Verónica pessoalmente no ano seguinte quando os dois tinham uma loja de roupa na Avenida de Roma em Lisboa, onde comprei uma sweat shirt e eles foram exactamente tão porreiros como eu pensava que eles eram. A união entre ambos gerou uma filha e apesar de uma separação seis anos depois, mantêm uma boa relação. Sérgio entrou no reality show "Perdidos Na Tribo" em 2011. Trabalham ambos actualmente no ramo da imobiliária.

Sérgio e Verónica na actualidade com o filho de Sérgio,
que entrou na última temporada de "Morangos Com Açúcar".

Verónica e Sérgio também protagonizaram um momento divertido por alegadamente a sua primeira relação sexual na casa ter durando apenas 57 segundos.



- Houve algumas situações do Big Brother 2 que foram espelhadas da primeira edição. Tal como no BB1, a primeira concorrente eliminada foi Riquita, a única que era casada, também nesta edição, Cristina, a primeira concorrente eliminada, era a única que era casada.
E se no BB1 os concorrentes que substituíram Marco, após a expulsão deste, chamavam-se Carla e Paulo, os concorrentes que entraram após a desistência de Sérgio tinham precisamente os mesmos nomes: Carla (25 anos, Coimbra, estudante) e Paulo (24 anos, Póvoa do Varzim, estudante). Este último até acabou por fazer parte dos quatro finalistas, ao vencer inesperadamente a última ronda de eliminações contra Elsa.

Bruno
- Bruno, o pasteleiro-motard de Barcelos, foi o terceiro classificado, apesar de uma participação bastante discreta, destacando-se apenas o envolvimento com Liliana. Mais atribulada foi a sua vida nos anos seguintes. Tal como Mário do Big Brother 1, também Bruno envolveu-se em problemas com a lei, tendo sido um dos detidos em 2007 numa operação policial num caso de uma alegada rede de assaltos, carjacking e tráfico de armas, do qual viria a ser condenado a pena suspensa.



- Patrícia, também conhecida como Tixa, foi a segunda classificada (e pessoalmente, acho que devia ter sido ela a ganhar). Apesar da sua pouca idade, destacou-se pela sua maturidade. Igualmente marcante foi a sua família, frequentemente presente em estúdio e que era bem internacional, já que ela era filha de pai uruguaio e mãe alemã. Foi também comovente o seu reencontro com a sua irmã Sílvia, portadora de deficiência, que lhe comunicou em primeira mão que o Boavista, o clube delas, tinha sido campeão nacional.


Henrique na altura do BB2 e actualmente



- O vencedor do Big Brother 2 foi Henrique, igualmente conhecido como o Icas. De certa forma, era o concorrente mais parecido com o Zé Maria, o vencedor da primeira edição, com várias momentos de "peixe fora de água", até porque o estudante de História era religioso e na altura ainda considerava tornar-se padre. Foram também divertidos os momentos de brincadeira com Elsa. (ACTUALIZAÇÃO: Henrique é actualmente casado com um cidadão alemão.)

O Big Brother 2 manteve as altas audiências vindas da primeira edição e, juntamente com a entretanto estreada telenovela "Olhos de Água", ajudou a cimentar a TVI como a estação líder do horário nobre nacional e a avançar na liderança total que a estação de Queluz alcançaria nos anos seguintes. Eu segui esta segunda edição tão fervorosamente quanto a primeira, mas já  a terceira edição, estreada ainda em 2001, não foi tão interessante tal como as outras que se seguiram.

Momentos do Big Brother 2


Promo com o Zé Maria:


Best of Sérgio e Verónica



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