quarta-feira, 24 de abril de 2024

A Hora Da Liberdade (1999)

Após cerca de duas décadas com várias crises socioeconómicas, ao que nos últimos anos se acrescentou uma pandemia global e os efeitos colaterais do regresso da guerra na Europa, Portugal chega aos 50 anos do 25 de Abril com um desencantamento generalizado, que até tem alavancado alguns saudosismos dos tempos anteriores ao da Revolução.

Porém em 1999, quando se assinalou o primeiro quarto de século após a Revolução dos Cravos, viviam-se tempos indubitavelmente mais optimistas. A economia prosperava com um crescimento acima da média da União Europeia, a democracia estava consolidada e recomendava-se, havia uma estabilidade política como nunca antes nem depois se verificou, Lisboa tinha acolhido a Expo 98 e José Saramago tinha sido galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Além disso, dois acontecimentos mobilizariam a população precisamente nesse ano de 1999: as massivas manifestações de solidariedade para com Timor Leste, que fora alvo de violentos ataques da Indonésia após um referendo para a sua independência, e a candidatura bem-sucedida à organização do Euro 2004. Portugal preparava-se para entrar no ano 2000 com uma autoconfiança e um optimismo nunca vistos. 




Eram também os tempos em que a SIC, apesar de ter menos de sete anos de emissões, dominava o panorama televisivo sem discussão e o jubileu de prata do 25 de Abril foi a ocasião ideal para levar a cabo aquela que era uma das suas mais ambiciosas produções até então. 



"A Hora Da Liberdade" foi uma recriação ficcionada dos principais acontecimentos da Revolução. Originalmente, a sua emissão das mais de 160 minutos de filme foi feita em treze blocos que passaram na SIC entre 24 e 26 de Abril de 1999, sensivelmente à mesma hora em que teriam acontecido vinte e cinco anos antes. A produção foi idealizada por Emídio Rangel, então director da SIC, Rodrigo Sousa e Castro, um dos Capitães de Abril e a realizadora Joana Pontes. A narração dos blocos esteve a cargo de Alberto Ramos



A narrativa desta ficção documental começa recuando até ao dia 24 de Abril de 1974, nos preparativos dos quartéis para a revolução. Às 22 horas e 43 minutos, o radialista João Paulo Diniz, dos Emissores Associados de Lisboa, anuncia a canção "E Depois Do Adeus" interpretada por Paulo de Carvalho, que semanas antes tinha representado Portugal no Festival da Eurovisão, que serviu de senha para o arranque da operação. 
Veem-se então alguns dos principais militares que estiveram ao leme da Revolução: o Major Otelo Saraiva de Carvalho (António Capelo), o Comandante Vítor Crespo (Alexandre de Sousa), o Major Sanches Osório (Jorge Gonçalves), o Tenente-Coronel Lopes Pires (Francisco Pestana), o Tenente-Coronel Garcia dos Santos (Marcantónio Del Carlo), o Major Hugo dos Santos (Paulo Matos) e o Capitão Luís Macedo (João de Carvalho). 

Às 0:20 do dia 25, o locutor Leite de Vasconcelos da Rádio Renascença anuncia a canção "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, a senha para o início da saída das tropas. (Para a produção, foi utilizada a reprodução inicial desse momento na fita magnética original.) Um dos primeiros batalhões a sair é o da Escola Prática da Cavalaria de Santarém liderada pelo Capitão Salgueiro Maia (Manuel Wiborg). 


Nessa madrugada, as tropas revoltosas tomam sem resistência o Quartel-General de Lisboa e depois a Rádio Clube Português onde Joaquim Furtado (Eurico Lopes) anuncia o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas. Ao nascer do dia, as tropas comandadas por Salgueiro Maia ocupam o terreiro do paço enquanto as tropas da Escola Prática da Artilharia ocupam posições junto ao Cristo-Rei.
As forças do Governo, lideradas pelo General Andrade e Silva, Ministro do Exército (Rui Mendes) e com o aval do Ministro da Defesa, Dr. Silva Cunha (Luís Mascarenhas) reagem à revolta. Um navio da Marinha surge no Rio Tejo e algumas forças da GNR enfrentam as tropas revoltosas mas o momento de maior tensão surge quando uma força blindada da Cavalaria 7, liderada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis (Artur Ramos) chega à Praça do Comércio. Mas para estupefação deste, os militares dessa força recusam a abrir fogo sobre os revoltosos. 

Ao princípio da tarde, as tropas comandadas por Salgueiro Maia conseguem chegar ao Carmo e cercar o Quartel onde se encontra Marcello Caetano (José Manuel Mendes). O Capitão encara o Presidente do Conselho de Ministros, que se rende incondicionalmente após a chegada do General António de Spínola (Júlio Cardoso) ao quartel.

Nessa noite, o General Spíniola chega ao posto de comando dos militares revoltosos onde serão feitas as negociações que levarão à formação da Junta de Salvação Nacional que governará o país até às primeiras eleições livres.

Após a exibição original e a sua exibição compactada na noite do dia 26 de Abril, "A Hora Da Liberdade" tem sido reposta pela SIC ou na SIC Notícias por alturas do 25 de Abril. Apesar de me lembrar de ver alguns blocos da emissão original de 1999, foi numa reposição em 2017 na SIC Notícias que vi mais atentamente. 

Além dos nomes já citados, entre os outros actores que participaram neste docudrama estiveram Almeno Gonçalves (Tenente-Coronel Almeida Bruno), André Gago (Brito e Cunha), António Cordeiro (Capitão Andrade e Sousa), Cristina Carvalhal (Clarisse Guerra, locutora do RCP), Diogo Morgado (Aspirante Teixeira), Gonçalo Waddington (Tentente Almas Imperial), Guilherme Filipe (Major Pato Anselmo), Heitor Lourenço (Alferes Sottomayor), Henrique Feist (Alferes David e Silva), Ivo Canelas (Tentente Santos e Silva), José Boavida (Capitão Bicho Beatriz), José Jorge Duarte (Pedro Feytor Pinto), Luís Esparteiro (Major Costa Neves), Marco Delgado (Capitão Luís Pimentel), Marques D'Arede (Coronel Álvaro Fontoura) Pedro Lima (Alferes Maia Loureiro), Rui Luís Brás (Tenente Ponces de Carvalho) e Vítor Norte (Major do Comando Jaime Neves).

Além das partes recriadas, foram utilizadas várias imagens de arquivos da RTP, nomeadamente aquelas da multidão que se junto no Largo do Carmo e a leitura do comunicado da Junta de Salvação Nacional na RTP, após Fialho Gouveia apresentar os seus componentes. 

Sem dúvida que se tratava de uma produção monumental e dispendiosa (notava-se que estávamos nos tempos em que a SIC nadava em dinheiro) mas mais de duas décadas depois, ainda não parece datada. As Forças Armadas contribuíram para o projecto cedendo vários meios, como um vaso de guerra e vários militares para a figuração, além de arquivos das instruções da campanha. Os militares da revolução que ainda estavam vivos assistiram das gravações e Otelo Saraiva de Carvalho fez um cameo na cena final, quando o actor António Capelo desliga um rádio após um close-up do interruptor, a câmara mostra o major em 1999. 


Todo o elenco esteve bastante bem mas para mim os destaques vão para Manuel Wiborg e José Manuel Mendes, que pelo seu desempenho e parecenças físicas, quase pareciam reencarnações de Salgueiro Maia e Marcello Caetano. E claro que para mim a cena mais marcante foi aquela em que dois ficam cara a cara, o Professor já amargando na derrota mas fazendo tudo para não perder a pose e o Capitão encarando-o com bravura (mas sem desrespeito), como que carregando consigo a vontade do povo.



O site "Brinca, Brincando" (para quem vai um trilionésimo agradecimento pela a informação fornecida) refere que houve uma polémica entre a SIC e a actriz Maria de Medeiros que no ano seguinte fez a sua estreia como realizadora com o filme "Capitães de Abril", e que numa entrevista à TV Guia, alegou que quando contactou a SIC para um parceiro televisivo para o filme, ficaram com o seu guião e que depois apareceram com "alguns dos aspectos completamente copiados" embora considerasse os produtos eram "bastante diferentes". A SIC repudiou as afirmações, declarando em comunicado que o trabalho em relação a "A Hora Da Liberdade" estava a ser preparado antes da actriz ter apresentado seu projecto.  




"A Hora da Liberdade" teve posteriormente edição em VHS e em 2012, foi editado um livro sobre o projecto que incluía o DVD do programa. Está também disponível na versão gratuita da Opto SIC e no YouTube. 


quarta-feira, 3 de abril de 2024

Festival da Eurovisão 1976

Recuemos aos anos 70 para relembrar mais uma edição do Festival da Eurovisão.




O 21.º Festival da Eurovisão teve lugar a 3 de Abril de 1976 no Centro de Congressos de Haia nos Países Baixos. Em virtude da sua vitória no ano anterior, era a terceira vez que os Países Baixos sediaram o certame após 1958 em Hilversum e 1970 em Amesterdão. Participaram 18 países destacando-se os regressos da Áustria, ausente de 1972, e da Grécia que após a estreia em 1974 dispensou a presença em 1975 (por motivos que mais adiante se explicarão), ao passo que a Suécia, o país organizador do Festival anterior, ficou de fora bem como Malta e Turquia. Corry Brokken, vencedora da segunda edição do Festival em 1957, foi a apresentadora, tratando-se da primeira vez que um ex-intérprete concorrente apresentava o evento.

Corry Brokken, vencedora em 1957, foi a apresentadora



Devo dizer que não é musicalmente das minhas edições preferidas da década mas a organização introduziu alguns toques interessantes como o cenário que mudava a cada actuação. Foi também a primeira vez que houve uma ligação à green room onde estavam presentes os artistas dos diferentes países, com um apresentador, Hans van Willigenburg, a falar alguns deles. E como estávamos numa nação sobejamente conhecida pela sua indústria de floricultura, no final de cada actuação, era entregue a todos os cantores um bouquet de flores.  

Os 18 cenários para cada uma das canções



Este foi o segundo ano em que o método de pontuação conhecido como "douze points" foi estabelecido, mas conforme se procedeu até 1979 e ao contrário da ordem crescente que depois viria a ser norma, os votos de cada país foram revelados conforme a ordem de actuação, o que dava azo a alguns lapsos na hora das votações, como aquele que decorreu durante os votos do júri de França, que mais adiante se explicará. 

Como é hábito iremos analisar cada uma das canções concorrentes por ordem inversa à classificação final:

Anne-Karine Strom (Noruega)


Pela terceira vez, Anne-Karine Strom (1951-) representou as cores da Noruega, mas tal como na sua participação em 1974, ficou em último lugar. Um resultado a meu ver algo injusto pois a sua canção "Mata Hari" era um tema disco bem divertido e Strom deu nas vistas com o seu macacão de lantejoulas douradas. Os sete pontos para a canção norueguesa vieram de Portugal e dos Países Baixos (o país de origem da verdadeira Mata-Hari). 

Ambasadori (Jugoslávia)


No final do Festival, o quadro das pontuações dava a Jugoslávia em último lugar com seis pontos, mas na verdade o porta-voz do júri francês esqueceu de anunciar os seus 4 pontos que eram para esse país, um lapso que na altura ninguém reparou. Só mais tarde tal lapso foi corrigido, e como tal a Jugoslávia ficou em 17.º lugar com 10 pontos. O país foi representado pelo grupo Ambasadori com a canção "Ne mogu skriti svoju bol" ("não posso esconder a minha dor"). O grupo originário de Sarajevo fora formado em 1968 com uma enorme rotatividade na formação, que incluiu o representante jugoslavo de 1973 Zdravko Colic. Na altura a vocalista principal era Ismeta Dervoz, sendo que ainda nesse ano foi substituída por outra cantora que ficaria até ao final da banda em 1980.
Esta foi a última participação da Jugoslávia na Eurovisão até 1981, já depois da morte de Josip Broz Tito.    

Braulio (Espanha)


A Espanha ficou em 16.º lugar com 11 pontos. Foi a única vez entre 1972 e 1999 que a Espanha organizou uma final nacional televisionada onde catorze intérpretes competiram com duas canções cada, com a vitória a ir para "Sobral Las Palabras" na voz de Bráulio. Natural das Ilhas Canárias, Braulio Garcia (1945-) iniciara a sua carreira em 1973, e além da Eurovisão, participou em outros festivais como o de Viña Del Mar no Chile (onde venceu em 1979). Desde os anos 80 que Braulio vive nos Estados Unidos, dedicando-se ao mercado latino-americano.

Les Humphries Singers (Alemanha)


Inicialmente a Alemanha esteve para ser representada por Tony Marshall com a canção "Der Star". Mas essa canção foi entretanto desqualificada por ter havido uma actuação pública prévia dela, pelo que foi a segunda classificada, "Sing Sang Song" pelos Les Humphries Singers, quem acabou por representar o país em Haia. Tratava-se de um grupo vocal multinacional fundado em 1969 pelo britânico Les Humphries (1940-2007) que teve vários membros durante a sua actividade até 1980, como por exemplo Liz Mitchell dos Boney M. Os membros que actuaram em Haia foram Jurgen Drews, John Lawton, Judy Archer, Peggy Evers, Jimmy Bilsbury e David O'Brien, com Les Humphries na função de orquestrador. A Alemanha ficaria em 15.º lugar com 12 pontos.

Jürgen Marcus (Luxemburgo)


Da Alemanha vinha também o representante do Luxemburgo, Jürgen Marcus (1948-2018). Numa das raras vezes que o grão-ducado organizou uma final nacional televisionada, que Jürgen venceu com "Chansons pour ceux qui s'aiment" ("canções para aqueles que se amam"). Em Haia, ficou em 14.º lugar com 17 pontos. Jürgen Marcus fora um cantor muito popular na Alemanha nos anos 70, e um dos seus hits "Ein Festival der Liebe" teve uma versão portuguesa do cantor madeirense Gabriel Cardoso. 

Mariza Koch (Grécia)


Dois anos antes, a Grécia tinha-se estreado no Festival mas foi também nesse ano que a ilha de Chipre foi efectivamente dividida em duas partes, no culminar de décadas de conflitos entre cipriotas gregos e turcos, com a invasão da Turquia da parte norte da ilha (que em 1983 declararia unilateralmente a independência). Com as relações cortadas entre Grécia e Turquia, a estreia deste país no Festival em 1975 terá sido a principal causa da ausência da Grécia e no ano seguinte, foi a Grécia a participar e a Turquia a ficar de fora. E a canção grega, "Panaghia mou, panaghia mou" ("minha santa Mãe, minha santa Mãe"), não escondia que era sobre os efeitos devastadores do conflito (é a única canção da Eurovisão a ter na letra a palavra "napalm"), com a voz de Mariza Koch num sentido pedido à Virgem Maria por piedade. Nascida em Atenas e filha de pai alemão (daí o apelido germânico), Mariza Koch (1944-) lançara o seu primeiro álbum em 1971, "Arabas", cuja mistura de música tradicional grega com arranjos electrónicos, alcançou um grande sucesso no seu país. Desde então, Koch continuou bastante activa, com o seu último disco a sair em 2009, mas esta participação no Festival continua a ser o seu mais notório momento internacional. A Grécia ficou em 13.º lugar com 20 pontos. 

Carlos do Carmo (Portugal)


Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, Portugal decidiu tentar outros métodos para seleccionar a sua canção para a Eurovisão. Em 1976, o método escolhido foi escolher directamente um intérprete para cantar todas as canções concorrentes: a escolha acabou por recair sobre Carlos do Carmo, que já então era uma das grandes vozes do fado. Oito canções foram apresentadas pela RTP com a vencedora a ser escolhido pelo público por via postal. No dia 7 de Março, foram revelados os resultados num especial chamado "Uma Canção Para A Europa" apresentado por Eládio Clímaco e Ana Zanatti com comentários de António Vitorino D'Almeida, onde Carlos do Carmo interpretou novamente as oito canções com a participação do autor e/ou compositor da cada canção (entre essas presenças contaram-se Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, José Luís Tinoco, Ary dos Santos, Tozé Brito e Manuel Alegre). A canção escolhida foi "Uma Flor de Verde Pinho" com letra de Manuel Alegre e música de José Niza, mas duas outras canções concorrentes viriam a ser mais popularizadas: "No Teu Poema" e "Estrela Da Tarde". Em Haia, a canção portuguesa ficou em 12.º lugar com 24 pontos (incluindo 12 pontos da França - só em 1993 é que se ouviria dizer novamente "Portugal, 12 points"). No ano seguinte, Carlos do Carmo editaria o disco que é considerado o seu magnum opus, "Um Homem Na Cidade", e a sua carreira continuou a granjear grandes glórias como o Globo de Ouro de Mérito e Excelência de 1998. e em 2014, tornou-se o primeiro artista português a receber o prémio carreira dos Grammys Latinos. Carlos do Carmo faleceu no primeiro dia de 2021 aos 81 anos. 

Fredi & The Friends (Finlândia)


A Finlândia ficou em 11.º lugar com 44 pontos. Matti Siitonen (1942-2021), mais conhecido no seu país pelo seu nome artístico Fredi, já tinha representado a Finlândia em 1967, mas nove anos depois regressou ao Festival com um novo visual e acompanhado por um conjunto de cinco vocalistas, os Ystävät (ou como foram creditados no Festival, The Friends), cantando em inglês "Pump Pump", um tema muito bem disposto. Além da música, Fredi também fez carreira como actor e apresentador. 

Red Hurley (Irlanda)


A Irlanda ficou em 10.º lugar com 54 pontos com Vincent Hurley (1949-) a defender a balada "When". Devido à sua frondosa melena ruiva, o cantor também era conhecido como Red Hurley. Depois de ter passado por várias bandas, Hurley tinha iniciado a sua carreira a solo em 1974 e vinha de dois singles que chegaram ao n.º1 no top irlandês. Red Hurley continua activo dividindo a carreira entre a Irlanda e os Estados Unidos. 

Sandra Reemer (Países Baixos)


A representar o país anfitrião, os Países Baixos, esteve Barbara Alexandra Reemer (1950-2017), mais conhecida como Sandra Reemer. Em 1972, a cantora natural da Indonésia já representara o país das tulipas em dueto com Dries Holten como Sandra & Andres, ficando em quarto lugar. Desta vez, Reemer ficou em nono lugar com 56 pontos com "The Party Is Over Now" e em 1979, regressou para uma terceira participação, agora sob o nome de Xandra. 

Pierre Rapsat (Bélgica)


A Bélgica ficou em oitavo lugar com 56 pontos. Pierre Rapsat (1948-2002) defendeu o tema "Judy et Cie.", um tema melancólico em que a titular Judy se debate com problemas de imagem, chegando até a rezar a Santa Marilyn Monroe. Apesar da letra algo inaudita, a sonoridade da canção faz-me lembrar a música dos filmes da Emmanuelle. Falecido prematuramente em 2002 com 53 anos, em 2005, Pierre Rapsat foi votado como o 51.º maior belga de todos os tempos!

Romina Power & Al Bano (Itália)


A célebre dupla Al Bano & Romina Power representou a Itália. Albano Carrisi (1943-) e Romina Power (1951-), filha do actor de Hollywood Tyrone Power, conhecerem-se em 1967 durante a rodagem de um filme e viriam a casar três anos mais tarde. Em 1975, começaram também a actuar como dupla musical e no ano seguinte, apresentavam-se então em Haia. Aproveitando as raízes americanas dela e as regras que na altura permitiam liberdade de idiomas, ela cantou em inglês e ele em italiano "We'll Live It All Again". Apesar de um engano de Al Bano ao início da actuação, obtiveram 69 pontos e ficaram em sétimo lugar. Albano e Romina continuaram a somar mais sucessos nos anos seguintes, tendo vencido o Festival de San Remo de 1985 com "Ci Sará" e regressando à Eurovisão no ano seguinte com "Magic Oh Magic". Em 1994, a sua filha mais velha desapareceu em Nova Orleães (foi declarada como morta em 2014), um enorme desgosto que ditaria o fim da relação e da parceria musical de ambos em 1999. Porém os dois têm voltado a actuar ocasionalmente desde 2013. Al Bano estaria presente pela terceira vez na Eurovisão em 2000, no coro da canção da Suíça. 

Chocolate Menta Mastik (Israel)



Israel foi representado pelo trio feminino Chocolate Menta Mastik composto por Yardena Arazi (a morena), Leah Lupatin (a loura) e Ruth Holzman (a ruiva). Quais Anjos de Charlie, as duas cantaram e dançaram em harmonia para defender o tema "Emor shalom" ("dizer olá"), ficando em sexto lugar com 80 pontos. Após o fim do grupo em 1978, Yardena Arazi apresentou o Festival da Eurovisão de 1979 em Jerusalém e voltaria a representar o país em 1988. Leah Lupatin substituiu Galit Atari como a vocalista feminina do grupo Milk & Honey, vencedores do Festival da Eurovisão de 1979 com "Hallelujah", tendo inclusivamente sido ela a marcar presença durante a gala especial dos 25 anos do Festival da Eurovisão em 1981. 

Waterloo & Robinson (Áustria)

Ausente desde 1972, a Áustria regressava ao Festival, representada pelo duo Waterloo & Robinson. Johann "Waterloo" Kreuzmayer (1945-) e Josef "Robinson" Krassnitzer (1947-) actuavam juntos desde 1971 e a Haia levaram a canção "My Little World". Com 80 pontos, repetiram o quinto lugar da última participação austríaca em 1972. Waterloo & Robinson continuam no activo, quer juntos, quer em projectos a solo e em 2004, quase que regressavam à Eurovisão, ficando em segundo lugar na final nacional austríaca desse ano. 


Sue Schell dos Peter, Sue & Marc (Suíça)
com o palhaço do realejo


Pela segunda de que seriam quatro vezes, o trio Peter, Sue & Marc representou a Suíça. Depois de em 1971 terem cantado em francês, agora levaram um tema em inglês, "Djambo Djambo", sobre um palhaço no ocaso da carreira. A acompanhá-los estava um palhaço a tocar realejo cujo aspecto não fazia muito para acalmar aqueles que sofressem de coulrofobia. Pessoalmente, acho a mais fraca da tetralogia de canções dos Peter, Sue & Marc, mas foi das que obteve melhor resultado, o 4.º lugar com 91 pontos. O trio voltaria a participar no Festival em 1979 (em alemão) e em 1981 (em italiano). 

Mary Christy (Mónaco)


O Luxemburgo era conhecido por importar cantores de outros países para representar o grão-ducado no Festival e, como já se viu, em 1976 não foi excepção. No entanto, nesse ano também deu-se o caso inverso, pois houve uma cantora luxemburguesa a representar outro país, mais precisamente o Mónaco. Maria Christina Ruggeri (1952-) nascera no sul do grão-ducado mas tinha-se mudado para Paris no início dos anos 70 quando passou a actuar sob o nome de Mary Christy. Pelo principado do Mónaco cantou "Toi, la musique et moi" ficando em terceiro lugar com 93 pontos, recebendo (obviamente) doze pontos do Luxemburgo.       

Catherine Ferry (França)



Em segundo lugar ficou a França, com Catherine Ferry (1953-) e "Un, deux, trois". Este foi o primeiro grande momento de notoriedade na carreira de Ferry mas ela esteve bem à altura, somando 147 pontos. No coro estava Daniel Balavoine, que viria tornar-se nos anos seguintes um dos mais aclamados cantores e compositores franceses (destacando-se o hit de 1985 "L'Aziza") até que faleceu tragicamente aos 33 anos num acidente de helicóptero durante o Rali Paris-Dacar de 1986. Catherine Ferry continuou activa na sua carreira, destacando-se a sua participação na versão francesa do musical "Abbacadabra" no papel de Alice (que na versão portuguesa foi desempenhado por Suzy Paula). Em 1990, Ferry abandonou a carreira para se dedicar à vida familiar, tendo voltado a actuar ocasionalmente desde 2008. Em 2010, "Un, deux, trois" foi incluído no filme francês "Potiche" com Catherine Deneuve e Gérard Dépardieu. 

Brotherhood Of Man (Reino Unido)


Tal como no ano anterior, a canção vencedora foi a primeira a actuar (algo que só voltou a acontecer em 1984). E esta terceira vitória do Reino Unido foi absolutamente arrasadora obtendo 164 pontos em 204 possíveis, com sete países (incluindo Portugal) a atribuir 12 pontos e desde então que "Save Your Kisses For Me" dos Brotherhood Of Man se tornou um dos grandes clássicos eurovisivos. O grupo tinha sido formado em 1969 pelo produtor Tony Hiller e na sua fase inicial teve uma formação rotativa de vários vocalistas. Em 1970, os Brotherhood Of Men obtiveram um hit internacional com "United We Stand" em que uma das vozes era de Tony Burrows que nesse ano também fez sucesso como vocalista dos Edison Lighthouse, a banda one-hit wonder de "Love Grows (Where Rosemary Goes)". Em 1973, os Brotherhood Of Men passaram a ter quatro membros fixos: Martin Lee, Lee Sheriden, Nicky Stevens e Sandra Stevens (sem parentesco). Com esta formação, tiveram alguns hits na Bélgica, mas foi só mesmo com "Save Your Kisses For Me" que os Brotherhood Of Men voltaram à ribalta no seu país natal. "Save Your Kisses For Me" continua aliás a ser a canção do Festival da Eurovisão comercialmente mais bem-sucedida no Reino Unido, onde vendeu um milhão de cópias e foi o single mais vendido de 1976. Os Brotherhood Of Man obtiveram mais dois singles no primeiro lugar no top britânico: "Angelo" (um decalque do "Fernando" dos ABBA) em 1977 e "Figaro" em 1978. Mas apesar do sucesso comercial ter desvanecido no início dos anos 80, os Brotherhood Of Man continuaram no activo com a mesma formação até 2022. Nicky Stevens continua a ser até ao momento a única cantora natural do País de Gales a vencer a Eurovisão. 






Festival da Eurovisão 1976: 





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