segunda-feira, 25 de abril de 2022

Lou Bega "Mambo N.º 5 (A Little Bit Of...)" (1999)

Recuamos hoje ao Verão quente de 1999, o último Verão do milénio! (Sim, eu sei muito bem que na verdade o términus do século XX e do segundo milénio depois de Cristo foi em 2000, mas na altura a Humanidade decidiu que o Milénio acabava a 31 de Dezembro de 1999 e quis lá saber de exatidões matemáticas.) Nesse Verão de 1999, quando Portugal respirava prosperidade e esperança como nunca se atrevera a sentir, quando a Expo 98 deu alento à candidatura ao Euro 2004 e quando a luta de Timor Leste pela independência levou a uma mobilização e solidariedade no nosso país em níveis raramente vistos desde o 25 de Abril, entre os diversos sons que compuseram a banda sonora desse Verão, houve um destaque para os ritmos latinos. Ricky Martin e Enrique Iglesias, já bem consagrados nos mercados latino-americano, deram o salto para o sucesso global, Jennifer Lopez dava o salto dos filmes para a música, Carlos Santana lançou o seu álbum mais celebrado "Supernatural" e até foi então que se descobriu que "el único fruto del amor es la banana, es la banana!"
E foi também em 1999 que um jovem alemão deu ao mundo um hit tão esmagador que parecia ao mesmo tempo tão retro e tão a gritar "ESTAMOS EM 1999!", que tão rapidamente ficou datado como se tornou um evergreen, e que redefiniu o mambo para toda uma nova geração. Não que fosse um mambo genuíno, mas o certo é que a partir de então, quando se ouve a palavra "Mambo", aposto que para muito boa gente a primeira coisa que virá à cabeça será este tema. 



A teoria mais consensual sobre a origem do mambo é que terá derivado de dois estilos musicais cubanos: o danzón e o montuno. Nos anos 30, a orquestra Arcaño Y Sus Maravillas popularizou um novo estilo chamado de danzón de nuevo ritmo, mais tarde conhecido como danzón-mambo. Em 1949, o músico cubano Damaso Perez Prado mudou-se para o México onde reinventou a sonoridade do mambo, imprimindo-lhe influências do swing e do jazz americano. Essa nova sonoridade acabou por também ganhar popularidade nos Estados Unidos, dando origem a vários conjuntos de mambo made in USA e até alguns na Europa. O auge comercial do mambo durou até ao início dos anos 60.
A obra completa de Perez Prado continuou a ser reconhecida e redescoberta nas décadas seguintes, destacando-se temas como "Guaglione" (que chegou ao 2.º lugar do top britânico em 1995 devido a um anúncio da cerveja Guinness), "Patricia" e "Mambo N.º 5". (Ao que parece não existem os Mambos n.º 1, 2, 3 e 4, mas existe sim um "Mambo N.º 8"!) 

Entretanto, a 13 de Abril de 1975, nascia em Munique um filho de mãe siciliana e pai ugandês, a quem foi dado o nome de David Lubega. Inicialmente, o jovem David Lubega queria ser rapper, tendo feito parte alguns grupos de hip hop desde a adolescência e gravou o primeiro disco em 1990. Em 1997, integrou o grupo Balibu cujo single "Let's Come Together (Holiday Shout)" pretendia claramente ser o novo "Coco Jamboo".
Mas então como é que um alemão aspirante a rapper se reinventou como um ícone do mambo? Há duas versões da história: o próprio Lubega afirma que descobriu a música latina numa viagem a Miami e decidiu então reinventar-se como cantor latin-pop, enquanto o seu manager Goar Biesenkamp tem declarado que, após os Balibu, ele é que lhe sugeriu essa reinvenção.  


 

Seja como for, David Lubega lá se aperaltou com o fato às riscas, o chapéu Fedora e o bigodinho para se metamorfosear em Lou Bega e a persona do latin lover. E em Abril de 1999, o seu primeiro single "Mambo N.º 5 (A Little Bit Of...)" foi editado na Alemanha. A canção era trabalhada à volta de "Mambo N.º 5" de Perez Prado, com Bega a enumerar as suas conquistas amorosas na letra. No refrão havia a Monica, a Erica, a Rita, a Tina, a Sandra, a Mary e a Jessica, e na primeira estrofe ainda havia mais a Angela e a Pamela. Na altura, Bega afirmava que estas mulheres eram todas reais, mas acho que até então o consenso foi de que era apenas ele a viver a personagem.


Seja como for  "Mambo N.º 5 (A Little Bit Of...)" foi rapidamente um hit na Alemanha e à medida que o Verão de 1999 foi chegando, o tema foi sendo lançado internacionalmente e foi escalando os tops de todo o mundo, tendo sido n.º 1 em praticamente todos os países europeus, Austrália, Canadá e Nova Zelândia e chegado ao 3.º lugar nos Estados Unidos, com Lou Bega actuando alegremente pelo globo. O álbum "A Little Bit Of Mambo" foi então editado, sendo também um campeão de vendas.




Lou Bega é ocasionalmente referido como um one-hit wonder mas o single seguinte "I Got A Girl" ainda foi um sucesso assinalável em vários países, nomeadamente na Finlândia onde chegou ao segundo lugar do top. Recordo-me que em 2000, ambos os temas foram usados no genérico do concurso da RTP "Só Números". 
Mas os single seguintes "Tricky Tricky" e "Mambo Mambo" passaram mais despercebidos bem como o segundo álbum de Lou Bega, "Ladies And Gentlemen", de 2001, onde há a destacar uma versão de "Just A Gigolo". 



Após um breve hiato, Lou Bega voltou ao activo em 2005 e desde então que tem editado discos e actuado com regularidade, agora sobretudo nos circuitos de nostalgia dos anos 90 (aliás o seu mais recente álbum é de versões de temas dos anos 90). Em 2010, teve um hit assinalável na Alemanha com "Sweet Like Cola". E em 2019, num verdadeiro recontro de hits titãs dos anos 90, saiu o single "Scatman vs. Hatman". 

A par de isso "Mambo N.º 5 (A Little Bit Of)" continuou o seu legado. Não só Lou Bega fez novas versões para certas ocasiões (como concerto de André Rieu) e anúncios publicitários (lembro-me de ter sido usado por exemplo num anúncios das Pringles), como regressou ao n.º 1 do top britânico numa versão de… Bob O Construtor em 2001 (aliás, era o single que estava em n.º 1 no Reino Unido aquando do 11 de Setembro) e a BBC usou o tema na sua cobertura de jogos de críquete. É caso para afirmar que um bocadinho de mambo chegou muito longe.  

Selecção de temas: 

"I Got A Girl"


"Just A Gigolo / I Ain't Got Nobody" 

 


"Mambo Mambo"


  "Sweet Like Cola"


"Scatman vs. Hatman"



segunda-feira, 18 de abril de 2022

Cuidado Com As Gémeas (1988)

E vamos a mais um capítulo da saga "Filmes que eu vi na Sessão Da Noite da RTP1", esse mítico espaço de cinema das sextas feiras à noite que durou de Setembro de 1990 a Abril de 1994 e que se tornou essencial na minha formação como cinéfilo. (Se alguém tiver conhecimento de uma lista de todos os filmes exibidos nesse espaço, por favor entre em contacto comigo.)


"Cuidado Com As Gémeas" (de título original, "Big Business"), comédia de 1988, era uma adaptação livre e modernizada de "A Comédia de Erros", com Bette Midler e Lily Tomlin no papel de dois pares de gémeas trocadas à nascença. A realização esteve a cargo de Jim Abrahams, no seu primeiro filme fora da tríplice aliança com os irmãos Zucker, com produção pela Touchstone, a chancela da Disney para filmes menos infantis.

Em 1948, dois casais dão entrada num hospital na pequena cidade de Jupiter Hollow na Virgínia Ocidental, com as esposas em trabalho de parto. Um deles são os Shelton, um casal rico de Nova Iorque que por lá estava de passagem, e os Ratliff, um casal local. As duas mulheres dão à luz duas meninas gémeas praticamente ao mesmo tempo. Os Shelton decidem chamar as suas filhas Rose e Sadie, e o Sr. Ratliff, que ouviu a conversa, sugere à esposa dar os mesmos nomes às suas filhas. Os Shelton partem no dia seguinte, mas o que ninguém sabe é que no meio da confusão com os dois partos, a idosa enfermeira do hospital trocou as bebés e na verdade, cada casal teve gémeas idênticas: as duas Sadies (Midler) são filhas dos Shelton e as duas Roses (Tomlin) dos Ratfliff.

Quarenta anos depois, as irmãs Shelton herdaram a Moramax, o império empresarial do pai. Sadie Shelton tornou-se uma implacável mulher de negócios, negligenciando o filho rebelde Jason (Seth Green), para frustração do seu ex-marido Michael (Barry Primus). Já Rose Shelton sempre sonhou com uma vida no campo e não tem muito jeito para a gestão, deixando todas as decisões nas mãos da irmã.
Sadie Shelton pretende vender a Hollowmade, uma fábrica de móveis em Jupiter Hollow, que o seu pai comprou aquando do seu nascimento e marca uma reunião para convencer os acionistas. O seu subalterno Graham Sherbourne (Edward Herrmann) avisa-a que R. Ratliff, o líder dos trabalhadores da fábrica, está a caminho de Nova Iorque para impedir a venda e Sadie encarrega-o de tentar descobri-lo para o impedir de interferir.

Rose e Sadie Ratliff
Rose e Sadie Shelton

R. Ratliff é na verdade Rose Ratliff, que ruma a Nova Iorque com a sua irmã Sadie, que sempre sonhou conhecer a cidade. Uma série de confusões faz com que as Shelton e as Ratliff se instalem no Hotel Plaza. Também lá se instala Fabio Alberici (Michele Placido), um magnata italiano e um dos potenciais compradores da fábrica, que arrasta a asa às duas Sadies, ignorando que são duas mulheres diferentes. Ao Plaza também vai parar Roone Dimmick (Fred Ward), o namorado de Rose Ratliff, que Graham e o seu assistente (e namorado) Chuck (Daniel Geroll) creem ser R. Ratliff. 
Roone pretende pedir Rose Ratliff em casamento mas é Rose Shelton que se encanta com ele. Já Sadie Ratliff conhece Jay num incidente que a levou a dominar Jason amarrando-o, e embora deduzindo logo que aquela não é a ex-mulher, Jay fica impressionado. As confusões e os desencontros entre as quatro mulheres e seus pretendentes sucedem-se até que as quatro se encontram na casa de banho. Ao descobrir que, ao contrário do que tinha dito, Sadie Shelton não pretende cancelar a venda da fábrica, Rose Ratliff fecha-a num armário, e Sadie Ratliff faz-se passar por ela, e com a ajuda de Rose Shelton, convence os acionistas a impedir a venda.  

No final, cada uma das quatro mulheres sai do hotel acompanhada: Rose Shelton com Roone, Sadie Shelton com Fabio, Sadie Ratliff com Michael e Rose Ratliff entende-se com o Dr. Jay Marshall (Michael Gross), um pretendente de Rose Shelton. Enquanto isso, um mendigo que costuma rondar o Plaza (e que a certa altura diz: "Há dois de toda gente lá dentro!") dá de caras com um executivo engravatado igualzinho a ele e o recepcionista do hotel, ainda mal refeito de todas as confusões, desmaia ao ver umas trigémeas que pretendem fazer o check-in!


Quando eu vi o filme já estava familiarizado com o trabalho de Bette Midler, tanto como actriz (este foi um dos seus cinco filmes na Touchstone entre 1986 e 1988, juntamente com "Por Favor Matem A Minha Mulher", "Um Vagabundo Na Alta Roda", "Que Sorte Danada!", que também passaram na "Sessão Da Noite" da RTP1, e "Beaches - Eternamente Amigas") como cantora (com os seus hits "Wind Beneath My Wings" e "From A Distance"), mas foi o primeiro filme de Lily Tomlin que eu vi. Curiosamente, os papéis foram inicialmente escritos para Barbra Streisand e Goldie Hawn, que seriam respectivamente Sadie e Rose. O actor brasileiro José Wilker foi equacionado para o papel de Roone. 

"Cuidado Com As Gémeas" foi um sucesso modesto de bilheteira mas teve melhor desempenho no mercado de vídeo. Apesar de algumas falhas no argumento (sobretudo quanto às relações das quatro protagonistas com os seus interesses românticos que são abordadas demasiado apressadamente) e algumas inconsistências no ritmo da trama, é um filme que entretém e arranca umas quantas gargalhadas. Uma das minhas cenas preferidas é quando as duas Sadies, que na altura estão a usar o mesmo vestido, sentam-se a tomar pequeno-almoço cada uma com a Rose que não é a sua irmã, e as quatro falam entre si sem saber que a outra não é aquela com quem julgam estar a falar.   

Além do desempenho de ambas (embora Midler e Tomlin sejam significativamente melhores como Sadie Shelton e Rose Ratliff) e dos imenso gags, um dos pontos fortes do filme são os efeitos especiais que para a época são bem conseguidos: em vez de se recorrer a duplas, as cenas com cada gémea em duplicado foram construídas em cinco meses de pós-produção. 

E como a realidade é muitas vezes mais estranha que a ficção, segundo o IMDB, no ano em que o filme foi lançado surgiu a notícia de dois pares de gémeos na Colômbia que tinham sido trocados à nascença num hospital de Bogotá e que cresceram em meios diferentes pensando que cada um a pensar que tinha um gémeo falso e que só descobriram da troca (e que tinham na verdade um gémeo idêntico) quando os quatro já tinham vinte e tal anos. 

Trailer








segunda-feira, 11 de abril de 2022

Recordando 1992

Se vocês são da minha idade, à primeira impressão 1992 não parece um ano assim tão distante. Mas a verdade é que já passaram trinta anos desde 1992. Sim, pessoas nascidas em 1992 já são trintonas! Em 2022, estamos mais longe de ano de 1992 do que por exemplo, estávamos em 1992 de 1969, o ano da chegada do Homem à Lua. 
Em 1992, eu completei uma dúzia de anos de vida e vivia a pré-adolescência em todos os altos e os baixos (sobretudo os baixos, já que foi nessa altura que mais sofri com o bullying na escola). Mas claro que tive momentos bons e, apesar de na altura eu ainda não ter desenvolvido os meus gostos e conhecimentos musicais e cinematográficos, foi um ano com os seus pontos marcantes na cultura pop. Por isso, hoje recuamos trinta anos e vamos recordar algumas coisas do ano de 1992.





Portugal presidiu pela primeira vez à União Europeia
Entre 1 de Janeiro e 30 de Junho, Portugal assumiu pela primeira vez a presidência rotativa da União Europeia, na altura ainda denominada Comunidade Económica Europeia. Até agora, Portugal assumiu esse papel semestral mais três vezes, de Janeiro a Junho de 2000 e 2021 e de Julho a Dezembro de 2007. Esta primeira presidência europeia de Portugal teve como sede o Centro Cultural de Belém.

O Centro Cultural de Belém sediou a primeira
presidência de Portugal da UE em 1992


Aliás foi esse o ano em que a CEE deu grandes passos a tornar-se cada vez mais uma federação europeia, com uma unidade monetária comum e maior mobilidade de pessoas e mercadorias entre os países-membros com o famigerado Tratado de Maastricht. 

Profundas transformações na Europa
Mais a Leste, a Europa passava por profundas transformações. A União Soviética colapsara no final de 1991 e doze das suas quinze ex-repúblicas (Estónia, Letónia e Lituânia já tinham obtido a independência anteriormente) tornaram-se estados independentes. Enquanto estes tentavam alicerçar a sua autonomia, foi criada a Comunidade de Estados Independentes para um auxílio mútuo, designação essa que também foi utilizada para fins desportivos, como por exemplo no Europeu de Futebol e nos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno, enquanto alguns desses novos países não tinham as suas próprias federações desportivas. 

Conflitos sangrentos na ex-Jugoslávia


Também a República Socialista Federal da Jugoslávia se desmembrara nos anos anteriores com Eslovénia, Croácia, Macedónia e Bósnia-Herzegovina a declararem independência, enquanto o território composto por Sérvia e Montenegro manteve a denominação de Jugoslávia até 2003. Mas se a Macedónia conquistou a independência sem sangue derramado e os conflitos na Eslovénia foram breves, na Croácia e sobretudo na Bósnia-Herzegovina travou-se uma guerra violenta que se arrastaria pelos três anos seguintes. Devido às agressões do governo de Belgrado no conflito, a 30 de Maio de 1992 a ONU instaurou um embargo banindo todas as transições económicas, científicas, culturais e desportivas com a República Federal da Jugoslávia que duraria até 1995, com novas sanções instauradas em 1998 durante o conflito no Kosovo.   

O assassinato de Daniella Perez chocou o Brasil
A 28 de Dezembro de 1992, a actriz brasileira Daniella Perez foi brutalmente apunhalada até à morte. A actriz fazia então parte da telenovela "De Corpo E Alma", que estava a ser exibida na Rede Globo e na SIC. Depois de "Barriga de Aluguer" e "O Dono Do Mundo", Perez, de 22 anos e casada com o actor Raúl Gazzola, entrava agora numa telenovela da autoria da sua mãe, Glória Perez, no papel de Yasmin, irmã da protagonista Paloma (Cristiana Oliveira). Mas ao choque da sua morte sucedeu-se o da descoberta que o autor do crime era o actor Guilherme de Pádua, que fazia para romântico com Perez na telenovela, com a cumplicidade da esposa deste, Paula Thomaz. O assassinato de Daniella Perez chocou de tal forma o país irmão que ofuscou o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Uma vez que a telenovela estava a ser exibida e sendo a Rede Globo um dos seu accionistas, a SIC também fez uma cobertura do caso. A Rede Globo nunca mais repôs a telenovela "De Corpo E Alma" mas a SIC reexibiu-a em 1997. Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados a 19 anos de prisão mas só cumpriram seis anos da pena em regime fechado. Pádua é agora pastor evangélico.    

Daniella Perez (1970-1992)

Também foi em 1992 que nos despedimos do Capitão Salgueiro Maia, um dos principais rostos da Revolução do 25 de Abril, do autor Isaac Azimov, dos actores Dick York ("Casei Com Uma Feiticeira") e Anthony Perkins ("Psico"), do comediante Benny Hill, da lenda do cinema Marlene Dietrich, da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva e de Branca Santos, a famigerada Dona Branca

Nasceram várias estrelas
Mas foi neste ano que nasceram várias estrelas. No futebol, o astro brasileiro Neymar e o dinamarquês Christian Eriksen. Os actores Freddie Highmore (de "Charlie E A Fábrica de Chocolate" e da série "The Good Doctor"), Taylor Lautner (o Jacob da saga "Crepúsculo"), Logan Lerman ("Percy Jackson" e "As Vantagens De Ser Invisível"), Ezra Miller ("Temos de Falar Sobre Kevin" e também de "As Vantagens De Ser Invisível") e dos novos tomos de "A Guerra Das Estrelas", Daisy Ridley e John Boyega. Na música, Sam Smith, Nick Jonas, a rapper Cardi B e as ex-estrelas da Disney Miley Cyrus, Demi Lovato e Selena Gomez. E ainda no desporto, a jamaicana Elaine Thompson, pluricampeã olímpica do atletismo.

Made in 1992: Demi Lovato, Selena Gomez e Miley Cyrus

 

A tragédia do voo 495 Martinair no Aeroporto de Faro
A nível nacional, a maior tragédia de 1992 aconteceu a 21 de Dezembro quando um avião da companhia holandesa Martinair, partindo de Amesterdão, se despenhou na pista 11 do Aeroporto de Faro. Apanhado nas más condições atmosféricas, com uma tempestade e túneis de vento, e com visibilidade quase nula, o avião DC-10 aterrou violentamente na pista. O impacto fez o avião partir em dois e causou uma explosão no tanque de combustível da asa direita.


Das mais de trezentas pessoas a bordo, 56 faleceram (incluindo dois tripulantes) e 106 ficaram gravemente feridas. A rápida intervenção dos serviços de emergência ajudou a minorar o número de vítimas.
A tragédia do voo Martinair 495 foi tema de conversa e notícia para muitos dias, não só em Portugal como nos Países Baixos, de onde era proveniente o avião, e que meses antes fora palco de outro acidente de aviação. E para muitos algarvios, foi a primeira vez que viriam um desastre de tamanhas dimensões ali tão perto, como foi o caso do David Martins, que morava a poucos quilómetros e se lembrava de ver ao longe dos destroços.

O início do futebol moderno
1992 é visto como o primeiro ano do futebol moderno. Entre os vários motivos para tal, destacam-se dois.


Na época 1992/93, a Taça dos Campeões Europeus deu lugar à Liga do Campeões. Contratado pela UEFA, o empresário alemão Klaus Hempel reinventou a competição, concentrando todos os direitos de transmissão de jogos e os patrocinadores sob a sua alçada e fixando os horários das partidas. Como tal, as receitas subiram vertiginosamente: se em 1992, as receitas das transmissões televisivas foram de 85 mil francos suíços, em 2002, já ascendiam a mil milhões! Já na época 1991-92, a Taça dos Campeões Europeus tinha sofrido uma grande mudança, introduzindo uma fase de grupos em que as oito equipas que chegavam aos quartos de final foram divididas em dois grupos de quatro, cujos vencedores se apurariam para a grande final. Como tal, as principais equipas europeias disputavam agora mais jogos. O Benfica foi uma das oito equipas dessa primeira era com dois grupos, ficando em terceiro lugar no grupo que apurou o Barcelona para a final no Estádio de Wembley em que bateu a Sampdoria. Já a final da Taça das Taças foi disputada no Estádio da Luz com o Werder Bremen a vencer o Mónaco enquanto o Ajax conquistou a Taça UEFA.
Desde então a Liga dos Campeões passou por várias transformações, mas o inconfundível tema composto por Tony Britton (inspirado na ária utilizada na coroação dos monarcas britânicos) mantém-se o mesmo.


Pela mesma altura, após mais de uma década marcada por hooliganismo, infraestruturas em ruínas e parcos dividendos, a liga inglesa sofreu uma profunda transformação. Os principais clubes ingleses chegaram a um lucrativo acordo de transmissões televisivas com a Sky Sports, que ao jeito americano, transformou os jogos muito além das partidas disputadas, com debates e análises de jogo. Para a promoção da nova Premiere League, a Sky Sports levou a cargo uma campanha utilizando o hit dos Simple Minds "Alive And Kicking". Nos anos seguintes, o futebol inglês tornou-se uma marca importante, melhorando os estádios e atraindo jogadores de outros países e outros países europeus não tardaram a seguir o exemplo. O Manchester United seria o campeão da época inaugural da Premier League (1992-93).  

Em Portugal, o FC Porto ganhou o Campeonato e o Boavista a Taça de Portugal.

O milagre dinamarquês no Euro 1992



1992 foi também ano de Europeu de Futebol, que resultaria numa das maiores surpresas da história do torneio. Além da Suécia, o país anfitrião, apuraram-se a então campeã mundial Alemanha, os Países Baixos detentores do título (e que mediram forças com Portugal na qualificação), a Inglaterra, a Escócia, a França (o único grande torneio de selecções em que Eric Cantona jogou), a recém-dissolvida União Soviética sob o nome de Comunidade Estados Independentes e a Dinamarca, em substituição da Jugoslávia, impedida de disputar a prova devido ao embargo das Nações Unidas. 
E não é que foi a Dinamarca a levantar o caneco? Após uma fase de grupos morna, com um empate face à Inglaterra, uma derrota com a Suécia e assegurando as meias-finais após vitória contra a França, os dinamarqueses empataram com holandeses na semifinal, onde uma defesa de Peter Schmeichel ao remate de Marco Van Basten nos penáltis os colocou na final de Gotemburgo, onde bateram a Alemanha por 2-0 para espanto global.

De eliminados a campeões europeus


Rezou a lenda que quando se soube que a Dinamarca iria disputar o Europeu em vez da Jugoslávia, muitos dos jogadores já estavam a gozar as férias, mas consta que afinal não foi bem assim e que a federação dinamarquesa estava preparada para essa eventualidade.      

Santos da Península não fizeram milagres nos Jogos Olímpicos
1992 foi ano de Jogos Olímpicos, o último a ter em simultâneo Jogos de Inverno e de Verão. 



Os Jogos Olímpicos de Inverno decorreram de 8 a 23 de Fevereiro na localidade francesa de Albertville, com a participação de 1801 atletas de 64 países (Portugal não participou). Pela primeira vez, houve provas de patinagem de velocidade em pista curta, de esqui freestyle (moguls) e biatlo feminino. Também houve provas de demonstração de curling, ballet em esqui e esqui de velocidade, ficando estas infelizmente manchadas pela morte do atleta suíço Nicolas Bochatay ao colidir com um veículo gerador de neve durante um treino. Pela primeira vez, a China, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia ganharam medalhas em Jogos Olímpicos de Inverno e a esquiadora Blanca Fernandez Ochoa foi a primeira mulher espanhola a conquistar uma medalha olímpica (Verão ou Inverno).




Barcelona acolheu os primeiros Jogos Olímpicos disputados na Península Ibérica, que tiveram lugar de 25 Julho a 9 e Agosto. Mais de 9300 atletas de 169 países competiram em 25 desportos, incluindo pela primeira vez o basebol, o badmington e o judo feminino. A África do Sul participou pela primeira vez desde 1960, após décadas de exclusão devido ao regime de apartheid, a Alemanha competiu unificada pela primeira vez desde 1964, as antigas repúblicas da União Soviética competiram como uma única equipa sob a bandeira olímpica (excepto Estónia, Letónia e Lituânia que competiram novamente como países independentes). Croácia, Eslovénia e Bósnia-Herzegovina participaram como países independentes enquanto os atletas das restantes repúblicas ex-jugoslavas (Sérvia, Montenegro e Macedónia) competiram como atletas neutros. 



Entre os principais feitos, destaque para a Dream Team americana de basquetebol, composta por estrelas da NBA como Michael Jordan e Magic Johnson, que dominaram como quiseram; para o ginasta bielorrusso Vitaly Scherbo que obteve seis medalhas de ouro e para as as vitórias do britânico Linford Christie nos 100m, do americano Kevin Young nos 400m barreiras,  da argelina Hassiba Boulmerka nos 1500m e do russo Alexander Popov nos 50 e 100m livres da natação.
Entre os momentos mais dramáticos, houve a determinação do britânico Derek Redmond em querer acabar a sua corrida apesar da lesão, apoiado pelo seu pai que desceu da bancada até à pista, e o infortúnio da nadadora sincronizada canadiana Sylvie Fréchette, prejudicada por um acidental erro de pontuação de uma juíza brasileira. 
Galvanizada pelo factor casa, Espanha alcançou 22 medalhas, incluindo 13 de ouro, de longe o melhor medalheiro olímpico de nuestros hermanos.
Já Portugal, apesar de levar a maior delegação de sempre com mais de 100 atletas, saiu de Barcelona sem medalhas. Nem sequer a equipa do hóquei em patins, que era modalidade de demonstração, foi além do quarto lugar. Os melhores resultados portugueses foram o sexto lugar do canoísta José Garcia e o sétimo de Manuela Machado na maratona (lesionada, Rosa Mota não pôde defender o título olímpico e ficou em Portugal).  

Ano dourado do rock em Portugal


Em Portugal, dois discos dominam as atenções. "Palavras Ao Vento", lançado mesmo no final de 1991, marcou a estreia dos Resistência, um verdadeiro projecto all-star com nomes como Miguel Ângelo, Tim, Olavo Bilac, Pedro Ayres Magalhães ou Fernando Cunha, e rapidamente foi campeão de vendas graças aos seus dois hits, dando uma nova roupagem a "Nasce Selvagem" dos Delfins e "Não Sou O Único" dos Xutos & Pontapés. Aproveitando o momento, ainda em 1992 sairia o segundo álbum "Mano A Mano", destacando-se a versão de "A Noite" dos Sitiados.



Mas o disco nacional do ano é "Rock In Rio Douro" dos GNR. O Grupo Novo Rock de Rui Reininho e companhia já vinha somando vários hits e álbuns memoráveis, mas foi este álbum elevou-os a um novo nível de sucesso, sendo então um dos raros discos a atingir quatro vezes platina. Temas como "Sangue Oculto", em colaboração com Javier Andreu da banda espanhola La Frontera, "Pronúncia Do Norte" com Reininho em dueto com Isabel Silvestre, "Sub-16" e "Ana Lee" rapidamente andaram na boca de toda a gente e a 10 de Outubro, os GNR tocaram no Estádio de Alvalade para 40 mil pessoas, na altura a maior audiência de sempre num concerto de uma banda portuguesa. 
Mas 1992 foi também o ano de outros grandes hits nacionais como "Vida De Marinheiro" dos Sitiados, "Easy Come & Go" dos Joker, "Tudo Ou Nada" dos Zero (um projecto spin-off dos Ban) e "Chuva Dissolvente" dos Xutos & Pontapés.  

Mais grande música


1992 viu também surgir álbuns marcantes como aquele que é o meu álbum preferido de sempre: "Automatic For The People" dos R.E.M. Mas também saíram discos seminais como "Fear Of The Dark" dos Iron Maiden, "Keep The Faith" dos Bon Jovi, "Adrenalize" dos Deff Leppard, "Diva" de Annie Lennox, "Seven" dos James, "Hormonally Yours" das Shakespear's Sister, "Funky Divas" das En Vogue, "Kerplunk" de Green Day, "Dirty" dos Sonic Youth, "Bigger! Better! Faster! More!" dos 4 Non Blondes e "Love Deluxe" de Sade. 
E nas pistas de dança bombaram forte "It's My Life" de Dr. Alban, "Rhythm Is A Dancer" dos Snap!, "Please Don't Go" dos Double You e "I Love Your Smile" de Shanice, e os grandes êxitos dos ABBA foram reavivados graças ao EP "Abba-Esque" dos Erasure e à compilação "ABBA Gold".  

Madonna mais "Erotica" que nunca
Quem também tem teve álbum novo em 1992 foi Madonna. A rainha da pop nunca se fez rogada em imprimir boas doses de sensualidade e sexualidade nos seus opus, mas o lançamento simultâneo do álbum "Erotica" e do livro "Sex" demonstravam Madonna no seu mais explícito até então. Até mesmo hoje, alguns dos ensaios de "Sex", como a famosa fotografia de Madonna nua a pedir boleia na estrada, seriam considerados demasiados ousados para uma estrela de topo. (Isto para não falar em várias outras imagens onde ela podia ser vista em cenas sadomasoquistas e em poses sensuais com várias pessoas, incluindo celebridades como Naomi Campbell, Isabella Rossellini e Vanilla Ice.) 



Mas apesar das boas vendas de "Erotica" e de "Sex" ter esgotado rapidamente o milhão e meio de exemplares da sua única edição, este período foi marcado por uma enorme animosidade da opinião pública por Madonna, recebendo duras críticas de vários quadrantes desde os habituais grupos ultrahipócritasconservadores a líderes feministas como Camille Paglia.
Será que Madonna tinha mesmo ido longe demais e agora não passava uma estrela desvairada que só queria chocar? O tempo viria mostrar que não era bem assim, e que este marco de Madonna contribuiria não só para que outras artistas de vários ramos explorassem mais livremente a sua sensualidade na sua obra como para abrir mentalidades. 

Regressos de Batman, do Alien e de Kevin McAllister ao cinema



No cinema, filmes para todos os gostos. Michael Keaton voltou a ser o Homem-Morcego às voltas com uma Michelle Pfeiffer Catwoman e um Danny DeVito Pinguin em "Batman Regressa"; Macaulay Culkin voltou a enfrentar os Wet Bandits em "Sozinho Em Casa 2: Perdido em Nova Iorque"; as sagas "Alien" e "Arma Mortífera" chegaram ao terceiro tomo; Jack Nicholson achou que não aguentaríamos a verdade em "Uma Questão De Honra"; Francis Ford Coppola ressuscitou "Drácula"; Richard Gere e Kim Basinger cederam aos "Desejos Finais"; Whoopi Goldberg mudou-se "Do Cabaret Para O Convento"; Geena Davis e Madonna jogaram na "Liga De Mulheres", "Beethoven" deu um recital de gargalhadas e amaremos sempre Whitney Houston e Kevin Costner em "O Guarda-Costas". Para não falar que também em 1992 saíram "Aladino", "Imperdoável", "Horizonte Longínquo", "A Morte Fica-vos Tão Bem", "A Mão Que Embala O Berço", "Regresso A Howard's End", "Perfume De Mulher", "Chaplin", "Jovem Procura Companheira", "Querida, Ampliei O Miúdo" e, em Portugal, "Aqui D'El Rei", "O Dia Do Desespero", "Vertigem" e "Retrato de Família". 

A viagem do Lusitânia Expresso para alertar o mundo contra a luta do povo timorense
As imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz em Dili em Novembro de 1991 chocaram Portugal e gerou uma onda de revolta contra a opressão do governo da Indonésia, que desde 1975 ocupara a ex-colónia portuguesa. Porém, esse acontecimento não teve grande repercussão no resto do mundo.


No início de 1992, a equipa da revista Fórum Estudante teve a ideia de viajar até Timor no ferryboat Lusitânia Expresso para depositar uma coroa de flores no cemitério de Santa Cruz e alertar os media internacionais sobre a luta do povo timorense pela liberdade e contra o jugo da Indonésia.
Com o apoio do governo e donativos de várias empresas e cidadãos anónimos, o projecto ganhou forma e no dia 6 de Março, após várias conferências na Austrália, mais de 120 pessoas de 23 países embarcaram no Lusitânia Expresso a partir de Darwin. Eram na grande maioria estudantes, mas também jornalistas como José Rodrigues dos Santos para a RTP e o ex-Presidente Ramalho Eanes. 
Mas ao entrar nas águas territoriais de Timor, o barco foi cercado por quatro navios de guerra indonésios e vários aviões militares, sendo impedido de continuar a viagem. Como tal, a homenagem das vítimas de Santa Cruz foi feita no barco e a coroa de flores foi lançada ao mar. 


Pot-pourri de outros acontecimentos de 1992

- Bill Clinton foi eleito presidente dos Estados Unidos impedindo a reeleição de George W.H. Bush.
- A Disneyland Paris é aberta ao público a 29 de Abril.
- A Rainha Isabel II completou 40 anos de reinado mas uma sucessão de  acontecimentos embaraçosos para a coroa britânica (o divórcio da Princesa Ana, a separação do Príncipe André e de Sarah Ferguson, fotos desta em topless com outro homem, o lançamento do livro sobre a Princesa Diana que revelava os problemas do seu casamento com o Príncipe Carlos e detalhes do relacionamento deste com Camilla Parker-Bowles, um incêndio no Castelo de Windsor) fez com que a monarca definisse 1992 como um "annus horribilis".
- A Irlanda venceu o Festival da Eurovisão em Malmö na Suécia com tema "Why Me" interpretado por Linda Martin e escrito por Johnny Logan, vencedor do certame em 1980 e 1987. Portugal ficou em 17.º com o "Amor de Água Fresca" de Dina. 


- Aos 18 anos, Marisa Cruz é eleita Miss Portugal. A namibiana Michelle McLean é coroada Miss Universo e a russa Yulia Kurotchkina é eleita Miss Mundo. 
- A cidade de Los Angeles foi palco de seis dias de motins após a absolvição dos quatro polícias que agrediram Rodney King, causando 63 mortos e mais de mil milhões de dólares em prejuízos. 
- Apanhado num escândalo de corrupção, o Presidente do Brasil Fernando Collor de Mello abdicou do cargo a 29 de Dezembro.
- A Super Nintendo chega finalmente à Europa e são lançados jogos de antologia como "Sonic 2", "Super Mario Kart" e "Ecco The Dolphin".
- Estrearam séries como "Picket Fences", "Doido Por Ti", "Melrose Place", "Absolutamente Fabulosas" e "California Dreams". A MTV estreou "The Real World", considerado o percursor do "Big Brother", e na animação, surgiu a "Sailor Moon". É também lançado o Cartoon Network. 

RTP preparando ventos de mudança



Muito provavelmente já a pensar em se precaver face ao início das televisões privadas, foi em 1992 que a RTP estreou programas marcantes como "Isto Só Video", "Parabéns", "Marina Marina", "Apanhados", "Olha Que Dois!!" e "Sons De Sol". Estrearam também as telenovelas "Meu Bem, Meu Mal", "Pedra Sobre Pedra", "Barriga De Aluguer" e a portuguesa "Cinzas".



A 14 de Setembro, a RTP2 foi renomeada TV2, apresentando uma programação especialmente focada na cultura e no desporto.


E a 10 de Junho, foi lançada a RTP Internacional via satélite para chegar às comunidades portuguesas em todo o mundo. 

"A sua televisão independente SIC, SIC, SIC..."
Mas 1992 em Portugal é marcado pelo fim do monopólio televisivo da RTP. Projectos para estações de televisão privada em Portugal remontam ao final dos anos 70, mas só com a alteração em 1989 a uma lei da Constituição que limitava as licenças de televisão ao sector público é que esses projectos podiam ser viabilizados. A 6 de Fevereiro, o Governo de Cavaco Silva atribuiu as duas licenças para emissão de televisão privada à Sociedade Independente de Comunicação (SIC) e à Televisão Independente (TVI). De fora ficou o projecto TV1 liderado por Daniel Proença de Carvalho.


Liderada por Francisco Pinto Balsemão, ex-Primeiro Ministro de Portugal entre 1981 e 1983, a SIC tinha como principais accionistas a TV Globo, Expresso, Lusomundo, Grupo Impala, Costa do Castelo Filmes, Interpress e a seguradora Império e instalou o seu centro de emissões em Carnaxide, onde ficaria até à mudança em 2019 para Paço D'Arcos. 


Com as emissões da TVI previstas para se iniciarem em 1993, coube à SIC a honra de quebrar o monopólio televisivo de 35 anos da RTP. No dia 6 de Outubro às 16:30, a SIC arrancou as suas emissões com um bloco informativo conduzido por Alberta Marques Fernandes, que ficaria para a posterioridade como a primeira cara da televisão privada portuguesa. 



De entre a programação dos primeiro três meses da SIC, destacam-se programas informativos como "Praça Pública", o magazine desportivo "Portugal Radical", o concurso "Encontros Imediatos", a já referida telenovela "De Corpo E Alma", emissões da MTV, a série nacional "A Viúva Do Enforcado", séries internacionais como "Cuidado Com As Aparências", "Justiça Negra", "Cosby Show" e "Raven" e sobretudo o célebre concurso italiano "Il Colpo Grosso", que teve o título português de "Água Na Boca". 

Durante os seus primórdios, a SIC voou baixinho sem levantar muitas ondas para o domínio da RTP. Mas gradualmente, a SIC soube corresponder aos desejos de mudança que o país não sabia que queria e os portugueses foram se deixando conquistar por esse admirável mundo novo audiovisual e em menos de três anos atingiria a liderança. Uma ascensão que seria caso de estudo em toda a Europa. Guardo muitas boas memórias destes primeiros anos da SIC e tenho muito pena na dificuldade de rever na SIC actual o espírito inovador da sua génese.

Que outras memórias e acontecimentos de 1992 que não foram mencionados neste texto é que se recordam? Contem nos comentários!


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