terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Trio Odemira "O Anel De Noivado" (1982) e "Ana Maria" (1985)

por Paulo Neto

Os Trio Odemira são um caso de extraordinária longevidade, até mesmo a nível mundial, pois em 2015 completaram 60 anos de carreira. Tudo começou em 1955 quando os irmãos Carlos e Júlio Costa venceram sob o nome de Odemira Dois um concurso de novos talentos promovido pelo lendário radialista Igrejas Caeiro. Passaram a ser os Trio Odemira com a entrada de José Ribeiro e desde então têm actuado por todo o país e por todo o mundo.
Há duas coisas que sempre me fascinaram no Trio Odemira: primeiro foi o estilo "old school" que sempre cultivaram e que resistiu intacto ao longo dos anos e a segunda era a sua entoação a cantar, que dava algo para o espanholado, a que não era estranho o facto de terem no repertório vários temas em castelhano e algumas adaptações de tema espanhóis.

Apesar de uma carreira tão longa e bem-sucedida, os anos 80 foram sem dúvida o ponto alto dos Trio Odemira. Foi nessa década que se compôs a formação actual com os irmãos Costa e Mingo Rangel e alcançaram os seus dois maiores hits que para sempre ficaram na jukebox mental dos portugueses.




Em 1982, editaram o seu mais celebrado opus "O Anel De Noivado", que é uma daquelas canções que toda a gente conhece mas não se sabe muito bem o título (tal como por exemplo "Planície" de Mafalda Veiga que ainda hoje muita gente julga que a canção se chama "Pássaros Do Sul"), pelo que talvez seja mais conhecido pelo primeiro verso "A igreja estava toda iluminada".
O tema começava com uma interpolação da marcha nupcial de Wagner (conhecida no mundo anglo-saxónico como "Here Comes The Bride"), anunciando que a letra iria abordar a temática matrimonial. "O Anel De Noivado" contava-se a história de um homem que assiste na tal igreja toda iluminada (presume-se que por velas) ao casamento da sua mulher amada, sem dúvida numa de masoquismo.

A igreja estava toda iluminada
Muita gente convidada
Eu também fui para ver 
Ninguém sabe a tristeza que eu sentia
Porque nesse mesmo dia
Casava a mulher amada

Porém na segunda estrofe, quando o homem vai ter com a noiva para desejar-lhe felicidades descobre-se que, ao contrário da "Joana" do Marco Paulo, não foi ela que o deixou por outro mas sim que o amor deles não conseguiu vingar e a noiva também sofre por não casar com o homem que ela queria. Ou como cantam os Trio Odemira, "e foi chorando sem notar que o seu pranto, seu vestido vai molhando ao chorar de amor por mim." Fica a ideia que o amor deles foi impossível, provavelmente por serem de diferentes classes sociais, mostrando que nem sempre a máxima do "love conquers all" é correcta.
O videoclip da canção que foi filmado durante um casamento a sério com direito a actuação dos Trio Odemira durante a boda, onde os noivos parecem mais preocupados em comer do que em ouvi-los. Um comentário no YouTube diz que o casamento foi na Igreja Matriz de São João de Loureiro, concelho de Oliveira de Azeméis.
      




"Ana Maria", editado em 1985, tornou-se outro grande hit dos Trio Odemira e é uma excepção às suas habituais sonoridades, abraçando um ritmo electro-pop. Porém essa inédita sonoridade acabou por encaixar bem na voz de Júlio Costa, secundado por um coro de vozes femininas. No entanto, tal como em "O Anel De Noivado", narra-se uma história triste, desta vez de adultério e traição.
No tema, Costa canta as infidelidades da Ana Maria do título com o melhor amigo. Gosto sobretudo do facto de ser uma das raras canções portuguesas que usa a palavra "estúpido" já que o amigo da onça é descrito na canção como "esse estúpido que sempre me jurava sua amizade." E a letra vai desfiando o rosário de sofrimento do marido traído em versos "que parvo fui, não entendo como não vi" ou "estou numa de palhaço de saber o que fazer" ou mesmo "ainda sinto nas entranhas esse choque que sofri" (sendo também uma das raras canções nacionais com a palavra "entranhas").  Também gosto como no refrão o nome da adúltera Ana Maria é dito com as vogais todas abertas: "Á-Ná-Má-Riá":

Maldita tu, Ana Maria
Tu só tu, Ana Maria
Sim, Ana Maria
Tu simplesmente desprezaste 
Tanto amor que eu te dei 
Maldita tu, Ana Maria
Tu só tu, Ana Maria
Sim, Ana Maria
E bem te rias e fingias
E dizias ser feliz comigo

Trocando o nome por "Addison" a letra quase que podia ser a história do Dr. Sheppard de "Anatomia de Grey" antes de conhecer a Meredith.
E claro está, na altura, muita Ana Maria deste país teve que ouvir essa canção a ser-lhe trauteada. Por exemplo a minha professora do 3.º ano da primária tinha esse nome e lembro-me de alguns colegas cantarem "Á-Ná-Má-Riá" à socapa. Será que também foi o caso da irmã do David Martins?

Não sei se a canção tem algum videoclip oficial, o mais parecido que encontrei foi esta actuação num programa da RTP. Gosto sobretudo do facto de nos quererem fazer acreditar que o solo de sintetizador vem da guitarra eléctrica e que a canção tem guitarra acústica.



Infelizmente não encontrei na internet o tema "Mar De Rosas", uma colaboração que em 1988 juntou os Trio Odemira a Carlos Paião, para aquele que seria o último disco deste, "Intervalo".




Os Trio Odemira nunca conseguiriam replicar o sucesso deste seus dois hits, mas ainda hoje continuam bem activos a actuar no país e no estrangeiro e não é difícil imaginá-los assim durante mais uns bons anos.

Extra:

"Tu E Eu/Guantanamera" (actuação na Praça de Alegria, 2011)





  

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3 comentários:

  1. Adorei saber tanto deste grupo. Grande longevidade de sucessos! Obrigada..

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  2. Obrigado pela Partilha, correção a Igreja São João Baptista, fica na Freguesia DE Loureiro, Vila neste momento, pertence ao Concelho de Oliveira de azeméis.

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