por Paulo Neto
Se bem que já há muito tempo que muitas das nossas séries animadas preferidas eram feitas no Japão, foi nos anos 90 que o culto dos anime japoneses se estabeleceu em Portugal. Além de séries televisivas, o culto também estendia-se aos filmes que eram distribuídos no mercado do vídeo, dos quais se destacavam títulos como "Akira" e "Ghost in the Shell". Em termos televisivos, bastaria referir o fenómeno que foi saga "Dragon Ball", mas outra série quase tão mítica quanto foi "A Navegante da Lua" ("Sailor Moon" como título internacional e "Bishoji Shensi Sera Mun" no original).
A saga foi criada em 1992 por Naoko Takeuchi, a partir de um manga da sua autoria iniciada um ano antes, tendo sido criadas cinco séries que duraram até 1997. A autora tinha uma manga anterior, "Codename: Sailor V" que foi como um esboço da série, recuperando mesmo a protagonista que dá nome ao título para a personagem da Navegante de Vénus.
Embora o estilo e a premissa fizessem da série um produto destinado sobretudo ao público feminino, a verdade é que, tal como havia raparigas a seguirem avidamente o "Dragon Ball", não eram muitos os rapazes com vergonha de admitir que acompanhavam esta série. Por exemplo, eu e o meu irmão gostávamos de seguir a série, apreciando sobretudo os momentos de humor quando as personagens faziam alguma asneira e ficavam com umas caras exageradamente cómicas. Eis uns exemplos:
Aliás, além do equilíbrio entre momentos de humor burlesco e partes mais dramáticas, "Sailor Moon" e "Dragon Ball" tinham em comum o facto de terem um protagonista imperfeito. Enquanto a maioria da animação criada ou inspirada pelo mundo Ocidental apresentava-nos heróis perfeitos e imaculados, os protagonistas de séries intrinsecamente japonesas, apesar das qualidades de herói, têm as suas falhas de carácter. Por exemplo, heróis preguiçosos, indisciplinados, comilões e com uma dose considerável de imbecilidade, mas cuja bondade e coragem acabam por compensar largamente esses defeitos.
Era essa também o caso da protagonista de "Sailor Moon", Bunny (Usagi na versão original) Tsukino, uma rapariga de 14 anos sem aparentemente nada de extraordinário. Aliás é preguiçosa, má aluna, comilona e desastrada. Um dia, Bunny encontra um gato chamado Luna que revela que ela é a Navegante da Lua, a reencarnação de uma guerreira do Reino da Lua e que tem de combater os inimigos que ameaçam a Terra como outrora subjugaram a Lua.
Os diversos inimigos que ela encontra ao longo de toda a saga têm por hábito sugar as energias dos humanos para conseguirem progredir no seu objectivo final (o típico "destruir e/ou dominar a Terra") e de invocarem os demónios de aspectos mais bizarros.
Quando enfrentava um desses demónios, a Navegante da Lua dizia a lendária frase: "Em nome da Lua, vou castigar-te!". A sua arma inicial era uma tiara (que também levava à famosa frase: "Tiara, acção!"), mas ao longo da série, ela vai adquirindo novas armas. Paralelamente, Bunny vai descobrindo mais sobre a sua verdadeira identidade como reencarnação da Princesa da Lua e ganhando auto-confiança e maturidade (se bem que ainda vá fazendo alguns hilariantes desastres aqui e ali).
Na primeira série, surgem outras guerreiras navegantes para combaterem ao lado da Sailor Moon: Ami, a Navegante de Mercúrio, a mais madura e inteligente do grupo ("Espuma de sabão, espalha-te!"); Rita (Rei na versão original), a Navegante de Marte, desbocada e mandona, e quase sempre às turras com Bunny ("Alma de fogo, arde!"); Maria (Makoto na v.o.), a Navegante de Júpiter, excelente cozinheira e a pinga-amor do grupo ("Supremo trovão!"); e Joana (Minako na v.o.), a Navegante de Vénus, aspirante a estrela do voleibol e que tem uma gata mentora, Artemisa ("Raio crescente!"). Há também o Guerreiro Mascarado que ajuda sempre as Navegantes nos momentos de maior aperto, e que vem-se a saber que é Gonçalo (Mamoru na v.o.), o misterioso rapaz por quem Bunny se apaixona.
A segunda série (a série R) introduz Chibiusa, a miúda precoce e pespineta que se faz passar por irmã mais nova de Bunny, mas que na verdade é a reencarnação da filha da Princesa da Lua, e marca a breve aparição da Navegante de Plutão, Susana (Setsuna na v.o., "Grito da morte").
A Navegante de Plutão terá mais destaque na terceira série (Série S) onde também aparecem as restantes navegantes. Duas delas formam um casal lésbico: a arrapazada Haruka, a Navegante de Urano ("Abalo do Mundo!") e a feminina Mariana, a Navegante de Neptuno ("Mergulho profundo!"). E por fim, a Navegante de Saturno, Octávia ("Hotaru na v.o."), que, à mercê das mãos erradas, poderá ser uma ameaça letal para as outras Navegantes.
Houve ainda mais duas séries (Super S e Stars). Na última delas, as Navegantes têm três aliados andróginos, os Navegantes das Estrelas, rapazes na forma civil e raparigas na forma guerreira (com seios incluídos!), usando roupas de combate que mais pareciam lingeries de dominatrixes. Um deles (ou delas?), Seiya, terá uma ligação próxima com Bunny.
Com vários ingredientes predestinados a cativar ao público jovem (fantasia, mistério, humor, romance, e apenas uma leve pitada de violência) "Sailor Moon - A Navegante da Lua" tornou-se uma das míticas séries anime dos anos 90 em todo o mundo. Estreou na SIC em 1994, no espaço de animação das tardes de segunda a sexta-feira, espaço esse que mais tarde seria ocupado pelo "Dragon Ball". Outra característica comum a estas duas séries é o facto de a dobragem portuguesa ter sido feita pela empresa Novaga e alguns dos seus actores, em especial António Semedo, Fernanda Figueiredo e Cristina Cavalinhos, terem feito vozes em ambas as séries.
Quem também emprestou a voz a esta série foi a antiga apresentadora televisiva Isabel Wolmar, que além do papel regular da Navegante de Mercúrio, também fazia a voz da maioria das vilãs. Para quem recordava Isabel Wolmar dos seus tempos de apresentadora, era com graça que se imaginava aquela senhora que o país conhecia pela sua postura respeitável a dizer coisas: "Aparece, Demónio!" ou "Entrega-me a tua energia!". E foi somente em Portugal que, por qualquer motivo obscuro, optou-se por trocar o sexo dos gatos. Sim, no resto do mundo o Luna era fêmea e a Artemisa era macho!
A série foi também exibida na TVI em 2000 e actualmente no Canal Panda. O tema do genérico em Português era cantado por Mafalda Sacchetti. (Sei de mais de um caso de quem tivesse sido afectado por um mondegreen que fazia parecer ouvir "por essas calças esquecidas"!)
Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"
Se gostou, Partilhe: »»
|
Tweet | Save on Delicious |
"por essas calças esquecidas" LOL agora vou sempre ouvir isso :D
ResponderEliminarE as Sailor Pitas vale mesmo a pena ver, hilariante.
E devo ter deixado de ver episódios, não me lembro de gajos transformarem-me em míudas :D
Também pensei isso. Devo ter visto só a primeira e segunda série...
EliminarVale a pena poderem colocar agora a música francesa do genérico. Parece uma música pimba!
ResponderEliminarO Cartoon Network faz hoje 20 ANOS NOS EUA!
ResponderEliminarFoi nesse canal que foi emitido lá.
Estou-me a fartar-me de rir da série "Sailor Pitas"! LOL
Não sabia que o CN já tinha tanto tempo! Ah sim, Sailor Pitas é muito bom!
Eliminar