por Paulo Neto
Quando "O Guarda-Costas" ("The Bodyguard") estreou em 1992, não foi difícil prever que o sucesso estava mais que garantido. De um lado havia Kevin Costner, que estava no auge da sua carreira depois da glória alcançada nos Óscares com "Danças com Lobos" e continuada em "Robin Hood - Príncipe dos Ladrões". De outro lado, havia Whitney Houston, uma das maiores estrelas da música, no seu primeiro papel no cinema. Juntou-se a isto uma história de amor, aventura, mistério e brilho de Hollywood, mais uma banda sonora explosiva, e a receita não falhou. O que pouca gente sabe é que este era um projecto que vinha a ser concebido desde os anos 70 e que sofrera muitos avanços e recuos até a sua realização definitiva, sobre direcção de Mick Jackson.
Mas primeiro a história: Frank Farmer (Costner) é um antigo agente dos Serviços Secretos americanos que fez parte da escolta de antigos presidentes dos Estados Unidos e que agora é um reputado guarda-costas privado. A sua próxima missão é proteger Rachel Marron (Houston), uma super-estrela da música e do cinema que tem recebido ameaças de morte.
Ao início, Frank e Rachel não se entendem. Frank pensa que ela é uma diva fútil e convencida e Rachel, desconhecendo a gravidade das ameaças, acha-o paranóico e intrusivo nas suas técnicas de protecção. Porém, quando Frank salva Rachel de um motim num dos seus concertos, os dois descobrem uma atracção mútua e vivem momentos românticos até que Frank, receoso que o romance prejudique a protecção dela, decide terminar a relação. Magoada, Rachel faz tudo para irritar Frank e ignora as regras e recomendações dele, até perceber finalmente que a sua vida corre bastante perigo.
Durante um retiro no chalé da montanha do pai de Frank, Herb (Ralph Waite), o perigo torna-se mais real do que nunca quando Fletcher (DeVaughan Nixon), o filho de Rachel, quase morre devido a uma bomba num barco onde ele estava. Nikki (Michelle Lamar Richards), a irmã de Rachel, após tentar seduzir Frank, acaba por lhe confessar que foi ela que contratou o assassino que os perseguem (cuja identidade ela desconhece), devido à inveja que sempre teve da irmã. O atirador invade o chalé e acaba por matar Nikki.
Frank suspeita que o assassino voltará a atacar na cerimónia dos Óscares, onde Rachel está nomeada para Melhor Actriz. Quando todos já começam a acreditar que não passa de uma suspeita infundada, Frank descobre a identidade do atirador no último instante e salva Rachel. Na altercação que se sucede, Tony (Mike Starr) o presunçoso guarda-costas residente de Rachel acaba por se revelar bastante eficiente. No final, Frank e Rachel percebem que têm de seguir rumos diferentes, mas que nunca esquecerão o que sentiram um pelo outro.
Apesar das críticas negativas e de várias nomeações para os Razzies, "O Guarda-Costas" conquistou o público e foi um dos sucessos cinematográficos de 1992, prolongando o momento de glória de Kevin Costner e catapultando a carreira de Whitney Houston de estratosférica a sideral. Pessoalmente, é um filme que cumpre mas não deslumbra: não sendo mau, poderia ter sido muito melhor. Por exemplo, a química entre os protagonistas não é a que se esperaria num filme destes, apenas a suficiente..
Lawrence Kasdan escrevera a primeira versão do filme em 1976, destinado a ser protagonizado por Steve McQueen e Diana Ross, mas foi abandonado quando as negociações falharam, aparentemente porque McQueen não queria que o seu nome aparecesse depois do de Ross. Kevin Costner referiu que pretendia homenagear McQueen no seu desempenho, ao ponto de usar um corte de cabelo semelhante.
Já nos anos 80, houve uma segunda tentativa, com Ryan O'Neil e de novo Diana Ross como protagonistas, já que os dois namoravam na altura, mas a relação terminou e o projecto foi novamente abortado. Ao longo de toda a saga, nomes como Emilio Estevez, Val Kilmer, Alec Baldwin, Robert Downey Jr. e Charlie Sheen foram considerados para o papel de Frank e nomes como Cher, Madonna, Kim Carnes, Olivia Newton-John, Janet Jackson e Deborah Harry para o papel de Rachel. Como curiosidade, a mansão de Rachel no filme é a mesma que foi usada no filme "O Padrinho" para a famosa cena da cabeça de cavalo.
O sucesso de "O Guarda Costas" porém acabou por causar um revés aos dois protagonistas. Desde então que a carreira de Kevin Costner tem pautado mais por flops ("Waterworld", "O Mensageiro", "Por Amor ao Jogo", "Dragonfly") do que por sucessos ("As Palavras que Nunca te Direi", "O Guardião") e Whitney Houston admitiu que o prolongado êxito do filme e da banda sonora intensificou o seu consumo de drogas, até então apenas esporádico.
Mas falar de "O Guarda-Costas" é também falar da sua banda sonora, que com 45 milhões de cópias vendidas, é a mais vendida álbum de um banda sonora de um filme e ainda um dos discos mais vendidos de sempre em formato CD. O disco contém temas de Kenny G, Joe Cocker, Aaron Neville, Lisa Stansfield, Soul System, Curtis Stigers e claro está, seis temas interpretados por Whitney Houston.
O tema mais célebre foi, obviamente, a versão de "I Will Always Love You", escrito e originalmente gravado por Dolly Parton. Segundo consta, os directores musicais do filme queriam uma cover de uma canção antiga para a cena final e Kevin Costner sugeriu esse tema, trazendo um disco da versão de Linda Rondstadt. O tema viria a ser o maior sucesso da carreira de Houston (então já repleta de êxitos), tendo sido n.º1 em tudo o que era top. E ainda hoje, a parte climática do refrão final continua a arrepiar.
As outras canções de Whitney Houston são uma versão de "I'm Every Woman" (curiosamente Houston cantou nos coros do original de Chaka Khan), "Run To You", "I Have Nothing" (estas duas nomeadas para o Óscar de Melhor Canção), "Queen of the Night" e o tema gospel "Jesus Loves Me". Se a Whitney-actriz cumpriu somente os serviços mínimos, a Whitney-cantora arrasou!
Tal como várias vezes o projecto do filme foi abortado ou recusado (67 ao todo!), também os vários planos para uma sequela ou remake de "O Guarda-Costas" têm vindo a cair em saco roto. Ainda nos anos 90, chegou-se a falar de Kevin Costner retomar o seu papel e desta vez contracenar com a top model Elle McPherson. No rescaldo da morte da Princesa Diana, correu o rumor de que ela teria aceitado fazer dela própria numa sequela também com Costner. Mais recentemente, falou-se de uma remake com Channing Tatum e Rihanna, mas esta afastou qualquer hipótese de participar.
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