sábado, 15 de setembro de 2012

Isto Só Vídeo (1992-1998)

por Paulo Neto

Em 1992, a ideia de que as pessoas poderiam filmar coisas a partir dos telemóveis era para além de futurista. (Aliás a mera ideia de que qualquer um podia ter um telemóvel e comprá-lo como quem compra, sei lá, um relógio já seria estratosférica para essa altura).


Mas já em 1992, à boleia da massificação dos videogravadores nos lares portugueses, as câmaras de filmar também começavam a tornar-se também um objecto comum para as famílias portuguesas. No seu advento, eram bastante grandes e pesadas e uma pessoa filmava como quem carrega um tijolo ao ombro. Era o caso da câmara de filmar lá em minha casa, que o meu pai adquiriu no início dos anos 90 por motivos de trabalho, mas que depressa também serviu para documentar os acontecimentos familiares: o baptizado do meu irmão, os passeios em família e por aí fora.
E tal como nós, várias famílias portuguesas rendiam-se às delícias dos home videos para registar numa cassete de vídeo tudo e mais alguma coisa. Outros terão mesmo aderido secreta e entusiasticamente a um outro certo subgénero de vídeos caseiros de foro sexual. 
Enquanto as câmaras filmavam, era frequente que as mesmas captassem algum momento inesperado: a avó que cai da cadeira durante um serão de sardinhada, a noiva que tropeça à saída da igreja, a criança que puxa o rabo ao gato, o jovem que se espalha ao comprido ao fazer um cavalinho de bicicleta, o bolo de aniversário que aterra na cara do aniversariante, a bailarina do espectáculo da colectividade local que resvala para fora do palco, o cão que anda às voltas tentando apanhar a cauda...Enfim momentos que garantiam risota colectiva no momento do visionamento.



Foi então que em 1992, surgiu um programa que fez com que os portugueses tivessem sempre vontade de pôr a câmara a funcionar, na esperança de conseguir apanhar um desses momentos divertidos. Falo obviamente do "Isto Só Vídeo", apresentado por Virgílio Castelo e que dava na RTP nas noites de terça-feira. O formato do programa já existia há algum tempo no estrangeiro, começando no Japão em 1986, depois nos Estados Unidos com o "America's Funniest Home Videos" em 1989, alastrando-se rapidamente a vários outros países. Aqueles que apanhavam a TVE já conheciam o equivalente espanhol "Videos de Primera". Portugal não perdeu pela demora e o sucesso foi imediato também aqui.


O programa era gravado no extinto Teatro Vasco Santana, perante uma audiência (normalmente composta por comitivas de escola e de colectividades locais) que visionava os vídeos sob os comentários cómicos de Virgílio Castelo e efeitos sonoros bem ilustrativos. Entre as exibições dos vídeos, havia vários planos de membros da assistência a rirem-se a bandeiras despregadas. Além dos vídeos estrangeiros de um pouco por todo o mundo, sobretudo oriundo dos Estados Unidos, Alemanha e Japão, havia naturalmente blocos com vídeos portugueses. E a cada semana era eleito o melhor vídeo pela produção, que dava direito a um prémio. Entre os prémios que recordo serem atribuídos estavam câmaras de vídeo, vales das lojas Singer e um leitor de CD interactivo, uma espécie de esboço dos leitores de DVD. Outra das rubricas mais populares era um bloco de vídeos ao som de uma canção portuguesa. (Eis aqui um exemplo ao som de "O Postal dos Correios" dos Rio Grande) 
E a partir de então, era ver os portugueses de câmara ao ombro (felizmente que estas iam tornando-se cada vez mais pequenas e leves), em busca de captar um momento digno de enviar para o "Isto Só Vídeo" e quiçá ganhar o prémio semanal.



Virgílio Castelo apresentou o programa até 1996. Depois chegou a haver uma temporada do programa, exibida entre 1997 e 1998, apresentada por Rute Marques, sem assistência e com vozes-off a ilustrarem os vídeos. 
Já neste século, têm sido vários os programas do mesmo género que passaram na SIC e na TVI ("Olhó Vídeo", "Tá a Gravar", "K7 Pirata", "Gosto Disto", "Vídeo Pop") mas nenhum recuperou a mística do "Isto Só Vídeo". Até porque hoje, graças ao YouTube e quejandos, o mundo inteiro pode agora visionar aquele jantar de família em que a dentadura do avô caiu para dentro da terrina do cozido à portuguesa...

Genérico:





Excerto do programa em 1993 com Virgílio Castelo






Programa inteiro (1992): 





    

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