por Paulo Neto
Nos anos 90, os concursos de misses ainda atraíam algum público em Portugal mas, quiçá pelo facto das nossas candidatas nunca se destacarem nos certames internacionais como Miss Universo, Miss Mundo ou Miss Europa, o interesse era cada vez mais escasso. Isto apesar de algumas das nossas representantes chamarem-se Carla Caldeira e Marisa Cruz. Mas a mais célebre eleição da Miss Portugal da década foi em 1997, devido a uma gaffe de Humberto Bernardo que anunciou erradamente a eventual vencedora, Icília Berenguel, como 2.ª Dama de Honor. (Momento imortalizado neste tesourinho deprimente do Gato Fedorento).
Em compensação, nos concursos internacionais de modelos, Portugal ia dando cartas, como provam o top 10 de Bárbara Elias em 1992 no Elite Model Look, e sobretudo a vitória de Diana Pereira no Supermodel Of The World de 1997, com apenas 14 anos!
Ainda assim, Miss Universo continuou a ser o concurso de beleza mais popular em todo o mundo. Em 1996, o famoso multimilionário Donald Trump adquiriu o concurso. Diz-se que Trump o fizera como presente para a sua esposa na altura, Marla Maples, mas depressa ele percebeu o potencial do certame e contratou uma nova equipa de profissionais que conseguiu revitalizar a imagem do concurso quando já se notavam sinais de declínio.
Durante a década de 90, a eleição processava-se com a eleição de dez semifinalistas, as quais desfilariam em fato de banho (os biquínis foram introduzidos nesta década) e em vestido de noite e passariam por uma entrevista dos apresentadores. Depois, seis candidatas eram escolhidas para a fase seguinte onde respondiam a perguntas do júri. Por fim, três finalistas eram eleitas e de entre eles, anunciava-se a vencedora e as duas damas de honor. Este formato durou, com uma ou outra alteração, até 2000.
Posto isto, quais foram as eleitas as mulheres mais belas do mundo de 1990 a 1999?
Vitória para a Noruega em 1990, graças a Mona Grudt, oriunda da cidade de Hell (que quer dizer "sorte" em noruegês). Durante o seu reinado, Mona entrou num episódio de "Star Trek - The Next Generation". Actualmente, é editora de uma revista de casamentos e vai fazendo algumas aparições regulares na televisão. Por exemplo, foi segunda na versão norueguesa do "Dança Comigo" e apresentou uma temporada de "Norway's Next Top Model".
A mexicana Lupita Jones seria a vencedora em 1991, tendo dominado facilmente a competição. Desde 1994, é ela a directora da organização de Nuestra Belleza Mexico, o certame que elege as representantes mexicanas para os principais concursos internacionais. O seu esforço deu finalmente frutos em 2010 quando outra mexicana, Ximena Navarrete, foi coroada Miss Universo.
Vitória bastante inesperada em 1992 para a Miss Namíbia Michelle McLean, pois todos previam que a vitória fosse disputada entre Índia, Colômbia e Venezuela. Michelle tornou-se a segunda africana a ser coroada Miss Universo, catorze anos depois da sul-africana Margaret Gardiner. Em 2009, apresentou o concurso de Miss Mundo desse ano na África do Sul.
Porto Rico alcançou a sua terceira coroa em 1993, graças a Dayanara Torres. O certame, que teve lugar no México, foi marcado por muitas vaias do público que não se conformou com a exclusão da candidata da casa do top 10. Viveu os cinco anos seguintes ao seu reinado nas Filipinas, onde coroou a sua sucessora e entrou em vários filmes, programas de televisão e anúncios publicitários. Dayanara foi casada com o cantor Marc Anthony, de quem teve dois filhos, e ela própria teve uma breve carreira musical.
1994 confirmou a Índia como a nova potência dos concursos de misses, com o triunfo de Sushmita Sen. E se foi difícil para Sushmita alcançar a coroa de Miss Universo, não foi nada menos fácil conquistar o título do seu país, pois ficou empatada com outra candidata no primeiro lugar e só venceu com uma pergunta de desempate. E quem era a outra candidata? Apenas Aishwarya Ray, que viria a vencer a Miss Mundo no mesmo ano e que tornar-se-ia uma das maiores estrelas de cinema de Bollywood de sempre. Sushmita também alcançou grande sucesso como actriz. Entre 2009 e 2012, foi a directora do concurso que elegia a representante indiana para a Miss Universo. De referir ainda que a primeira dama de honor, a colombiana Carolina Gomez, esteve em Portugal nesse mesmo ano para coroar a Miss Praia Nova Gente de 1994.
Em 1995, a americana Chelsi Smith tornou-se a segunda Miss Universo negra (a primeira tinha sido a tobaguenha Janelle Comissiong em 1977). Desde então, Chelsi tem tido uma carreira activa na televisão como actriz e apresentadora. Também deu uma perninha como cantora, ao gravar uma canção para a banda sonora do filme "A Coisa Mais Doce". De referir ainda a primeira dama de honor, a indiana Manpreet Brar, que ficou para a história como a miss que mais impressionou pelo seu cérebro do que pela sua beleza.
A mega-potência Venezuela viria a produzir mais uma Miss Universo em 1996 com Alicia Machado, que viria a ser a vencedora mais controversa da década. Não pela vitória em si, que foi indiscutível em toda a linha, mas porque logo a seguir engordou demasiado, ao ponto de a organização ter considerado retirar-lhe o título e houve até rumores de que estaria grávida. Alicia submeteu-se a uma dieta rigorosa e manteve o título. Foi protagonista de algumas telenovelas no seu país, como "Samantha", que passou na RTP. Actualmente, Alicia vive e faz carreira no México e em 2006 pousou para a Playboy local. Em 2005, participou na versão espanhola da "Quinta das Celebridades".
A coroa voltaria aos Estados Unidos em 1997, graças à havaiana Brook Lee. Então com 26 anos, Brook detém o recorde da mais velha Miss Universo a ser coroada (a idade limite máxima é de 27). Essencial para o seu triunfo foi a pergunta final. Quiçá em solidariedade com a sua antecessora Alicia Machado, quando questionada sobre o que ela faria se durante um dia ela pudesse fazer o que quisesse sem limitações nem consequências, Brook respondeu: "Comia de tudo a dobrar!".
Segunda vitória para Trinidad & Tobago em 1998, o país que gerou a primeira Miss Universo negra. Wendy Fitzwilliam seguiu os passos da sua compatriota Janelle Comissiong e voltou a trazer a coroa para a nação caribenha. Após o seu reino, Wendy continuou envolvida em várias acções humanitárias, tendo sido nomeada Embaixadora da Cruz Vermelha para a juventude. Tem um programa de rádio com o seu nome e escreveu um livro onde relatou a sua experiência como mãe.
1999 foi um ano de várias surpresas. Pelo segundo ano consecutivo, foi coroada uma Miss Universo negra. O Botswana participava pela primeira vez e não é que acabaria logo por ganhar com a sua candidata Mpule Kwelagobe? O que significava que pela primeira vez, ganhava uma candidata africana negra (as outras duas Miss Universo africanas eram caucasianas). Mpule tem desde então sido uma proeminente activista de causas humanitárias e foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade pela ONU. De referir ainda que apenas pela segunda vez na história do certame, a Miss Estados Unidos ficou fora das semifinalistas e que pela primeira vez, Portugal não saiu de mãos a abanar pois Marisa Ferreira foi eleita Miss Simpatia.
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