domingo, 12 de agosto de 2012

Parker Lewis Can't Lose (1990-1993)

por Paulo Neto

Quem leu o texto da Enciclopédia sobre a série "Já Tocou" estará recordado que esta era um vértice de uma Santíssima Trindade de séries adolescentes imperdíveis na primeira metade dos anos 90. As outras séries eram "Beverly Hill 90210" e "Parker Lewis Can't Lose", que abordamos agora.



Se "Já Tocou" já recorria por vezes ao humor nonsense para ilustrar os dramas e comédias da vida adolescente americana, "Parker Lewis" abordou-os com uma vissão surrealista, quase "cartoonesca", quer nas  personagens deliciosamente hiperbolizadas, quer em várias técnicas de filmagem, como a passagem de uma cena para a outra através de uma dissolução de pixeis. 
A série, criada por Clyde Philips e Lon Diamond, teve três temporadas exibidas nos Estados Unidos entre 1990 e 1993. Foi nesse último ano que a série chegou a Portugal, na então recém-inaugurada TVI, (ocupando o espaço de "Já tocou"), tendo sido também já exibida na SIC Radical em 2005.

A série relata as aventuras e desventuras da personagem-título, Parker Lewis (Corin Nemec), para alcançar e manter o estatuto do rapaz mais cool do Liceu de Santo Domingo, algures na Califórnia. Com uma mente astuta e uma obsessão por camisas garridas, Parker tem sempre um plano na manga, com o qual conta sempre com a ajuda dos seus melhores amigos, Mike Randall (Billy Jayne) e Jerry Steiner (Troy Slaten). Antes da execução dos planos, têm o hábito de juntarem os pulsos enquanto Parker diz "Synchronize Swatches!". Os três têm um esconderijo secreto debaixo do ginásio, artilhado com tecnologia de ponta.



Mike é um aspirante a roqueiro, fazendo várias referências a bandas e canções. Apesar da sua atitude despreocupada de rebelde sem causa, é um rapaz bastante sensível. Por vezes, é ele que põe Parker em sentido quando os esquemas deste vão longe demais e é bastante protector quanto a Jerry, defendendo-o dos ataques dos bullies.

Jerry é um típico nerd, possuidor de um sobretudo que traz sempre vestido e do qual retira todo o tipo de objectos. (Houve um episódio em que ele tem uma pretendente que é a versão feminina dele, carregando uma mochila com tudo e mais alguma coisa lá dentro). Trata toda a gente, incluindo os amigos, de forma formal ("Mr. Lewis", "Mr. Randall", "sirs"). Aliás o genérico final de cada episódio acabava sempre com uma imagem de um cacifo e a voz de Jerry a dizer: "Mr. Lewis? Mr. Randall? Mr. Philips? (alusão a Clyde Philips, co-criador da série) Hello?", uma reminiscência da cena final do primeiro episódio. 


A principal némesis de Parker Lewis é a directora da escola, Grace Musso (Melanie Chartoff), que faz questão em governar Santo Domingo com um punho de ferro. Alguém mete-se em sarilhos sempre que ela solenemente levanta o polegar e, devido ao seu carácter tempestuoso, o vidro da porta do seu gabinete está sempre a quebrar-se. Muitos dos planos do grupo de Parker passam por ridicularizar Musso, ao passo que esta sonha em expulsar Parker da escola, mas nunca consegue porque os três comparsas esforçam-se por não deixar indícios das suas artimanhas. Embora projecte uma imagem de mulher austera e impertubável, Musso tem algumas fragilidades, sobretudo no que diz respeito ao sexo masculino, das quais Parker se compraz em aproveitar. Em seu auxílio, Musso tem a figura de semi-tétrica de Frank Lemmer (Taj Johnson),  com quem tem uma ligação telepática e que por vezes até é capaz de se teleportar.


Outra grande rival de Parker é nada menos que a sua irmã mais nova, Shelly Lewis (Maia Brewton), que faz tudo para tramar o irmão. Para tal, tende a manipular os pais e os professores e costuma aliar-se a Musso para pôr Parker em sarilhos. Mas este consegue sempre levar a melhor sobre Shelly, que não raras vezes acaba a gritar pela mãe sempre que vê vencida por Parker. Além disso, Jerry é apaixonado por Shelly, que fica constantemente envergonhada pelas declarações dele. Mas na última série, ela decide aceitar a corte de Jerry.



Outra personagem inesquecível é o mastodôntico Larry Kubiac (Abraham Benrubi), que provoca tremores de terra quando anda. Com a dimensão de um dinossauro e o cérebro de uma minhoca, Kubiac adora enfiar nerds, como Jerry,  nos cacifos da escola e deixá-los por lá, mas as suas duas grandes paixões são futebol americana e comida. Quando Parker precisa de Kubiac, costuma oferecer-lhe comida para comprar a sua lealdade. Com o avançar da série, Kubiac demonstra um temperamento mais afável e vai deixando no ar a ideia que ele não é tão acéfalo como parece. 

Um ponto de viragem ocorre a meio da segunda série quando Parker se apaixona pela bela Annie Sloan (Jennifer Guthrie), vendo-se obrigado a corrigir muito do seu egocentrismo para a conquistar. A terceira série é particularmente focada na relação entre os dois, ao ponto do surrealismo e do nonsense que caracterizava a série terem sido bem mais atenuados, ao ponto de Lewis deixar de lado as suas famosas camisas ultra-coloridas. Tal rumo provou não ser muito eficaz com a diminuição das audiências e o eventual cancelamento da série.    

Outro dos aspectos interessantes da série era a sua referências a vários aspectos da cultura popular do início dos anos 90, nomeadamente filmes, política, celebridades e músicas. Recordo em particular um episódio em que Jerry filma um filme chamado "Boyz N The Park", uma clara alusão a filmes como "A Malta do Bairro" e "Não Dês Bronca", chegando para tal a usar um boné virado ao contrário como Spike Lee. 

A reposição da série em 2005 na SIC Radical veio demonstrar que a par do facto cápsula do tempo de nostalgia nineties, muito do seu humor manteve-se bem conservado e que várias séries posteriores como "Ally McBeal",  "A Vida é Injusta" e sobretudo "Médicos & Estagiários" foram buscar várias influências a "Parker Lewis Can't Lose".

E onde se encontra actualmente o elenco? Corin Nemec tem continuado a trabalhar activamente em várias séries de televisão, tendo tido um papel fixo em "Stargate".Troy Slaten e Maia Brewton trocaram a representação pela advocacia. Billy Jayne faz dobragens e tem feito música para artistas como Macy Gray. Melanie Chartoff também tem se dedicado sobretudo às dobragens, notabilizando-se como a voz de Didi Pickles, mãe de Tommy, o protagonista da excelente série animada "Rugrats". Abraham Benrubi é presença assídua em filmes ("Tornado", "Sem Remos nem Rumos", "Miss Detective 2") e em séries ("E.R.", "O Amor no Alaska").  

Trailer do DVD da 1.ª Temporada:






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