por Paulo Neto
Já algum tempo tinha a expectativa que o portal de arquivos da RTP disponibilizasse esta série e não era para menos: um dos episódios tinha sido filmado numa aldeia do meu concelho natal. Lembro-me de por acaso apanhar esse episódio durante a reposição da série na RTP Memória precisamente no plano em que aparecia uma tabuleta a indicar o nome da aldeia, Lapas, e fiquei surpreendido porque não me lembrava da série quando foi originalmente exibida e ainda por cima com filmagens numa aldeia que eu visitava frequentemente pois é lá que morava (e ainda mora) a madrinha do meu irmão. No Portugal dos anos 80, um programa de televisão a filmar num concelho tão singelo como o de Torres Novas devia ter sido um acontecimento!
Mas vamos por partes: "Os Amigos Do Tejo" foi uma série de quinze episódios, exibidos na RTP1 entre 11 de Abril e 18 de Julho de 1987 aos sábados de manhã, e seguia um grupo de jovens mais um cão que desciam o rio Tejo da fronteira com Espanha até Lisboa e visitavam as localidades por onde passavam. Mas ao contrário do programa "Conheces A Tua Terra", exibido no ano anterior e com uma premissa semelhante, em "Os Amigos Do Tejo" havia uma narrativa ficcionada a fazer lembrar as histórias de Enid Blyton ou da saga "Uma Aventura", com uma trama policial. A autoria e realização eram de Carlos Diogo.
Desafiado pela sua amiga espanhola Carmen que pretende fazer uma empreitada semelhante na parte espanhola do curso do Tejo, João (João Vaz Ribeiro) escreve um relatório sobre a descida do Tejo que fez de canoa no Verão anterior com os seus amigos Miguel (Rui Renda da Costa), Susana (Patrícia Costa Alves), António (Miguel Costa Alves) e Inês (Joana Roque Lino), assim como a sua irmã Rita (Nádia Sousa Lopes) e o seu cão Tejo (Dick). É portanto pela voz e pelo olhar observador de João que nós somos guiados ao longo da série. Miguel é o culto do grupo, com grande conhecimento da História de Portugal; Susana é uma ecologista que recolhe amostras das águas do Tejo ao longo da viagem; António, irmão de Susana, é o tipo cool, que gosta de dormir e ouvir música (anda sempre com uma T-shirt dos U2); e Inês, irmã de Miguel, parece ser uma rapariga mais dada a vaidades do que aventuras na natureza mas acabará por mostrar o seu valor (e de permeio, deixa-se antever que João tem um fraquinho por ela). Chateada porque o irmão não a quis levar por ser muito pequena, Rita decide ir na viagem clandestinamente escondida numa das canoas com o Tejo.
E eis-nos chegados ao nono episódio passado nas Lapas, concelho de Torres Novas. Ao saberem do desaparecimento de Gonçalo, o grupo decide procurá-lo. António encontra-o amarrado no carro do chefe da quadrilha e acaba por se esconder com ele no porta-bagagens, enquanto o bandido conduz o carro até às Lapas. Aí chegados, António sai para avisar a polícia mas quando chegam, Gonçalo foi levado para as grutas. No entanto, chegam a tempo de salvar o rapaz e de apanhar os bandidos, vindo-se a descobrir que eles usavam as várias galerias e catacumbas da aldeia das Lapas para transportarem as mercadorias roubadas sem dar nas vistas. Na sua narração, João alerta para a extrema poluição dos rios Almonda e Alviela, afluentes ao Tejo. De regresso à Chamusca, o grupo é recebido por uma equipa de televisão e Rita quer logo dominar as atenções, declarando-se a principal responsável pela captura da quadrilha.
Os restantes episódios percorrem Santarém, Almeirim, Muge, Escaroupim, Salvaterra de Magos, Azambuja, Vila Franca de Xira, Alhandra, Alcochete, Seixal e Almada. Após mais uma diabrura, Rita é levada de volta para Lisboa, mas inconformada, resolve fugir de casa e convencer o seu amigo Pedro (Carlos Miguel Chende Dias), exímio velejador, a subirem o Tejo no barco para ela se reencontrar com os outros, mas o plano por pouco que não dá para o torto. Pedro e Rita reúnem-se com os outros no Mochão do Lombo do Tejo, mas ainda cruzam-se com outro grupo de contrabandistas. E para espanto de todos, é Inês que tem um papel importante na sua captura. Na cena final, vemos João a contemplar o Tejo da janela do seu quarto antes de ir buscar Carmen a Santa Apolónia.
No seu artigo sobre a série, o site Brinca Brincando (a quem tenho de agradecer pela enésima vez pela informação e imagens) conseguiu contactar Joana Roque Lino, a Inês da série, para lhe colocar algumas perguntas sobre a série. Aí, ela revela que foi escolhida para a série através da Associação Naval de Lisboa, onde ela praticava remo e canoagem; que filmaram ao longo de todo o Verão de 1986 de forma faseada mas que ainda gravaram algumas cenas depois disso; que o sítio por onde passaram que mais gostou de visitar foi a Casa-Estúdio Carlos Relvas na Golegã; e que os actores que faziam de António e Susana (que também eram irmãos na vida real) "eram um bocado difíceis de suportar".
Ao rever a série, achei que estava muito bem conseguida, equilibrando bem a parte documental com a parte ficcionada, digna das aventuras de "Os Cinco" ou "Os Sete". Os jovens actores mesmo sem experiência (presumo que, tal como Joana Roque Lino, fossem todos praticantes de canoagem e tivessem sido selecionados através de diferentes associações desportivas), não se saíram mal, sobretudo a pequena Nádia Sousa Lopes. E até o cão Dick foi muito convincente nas cenas em que ele tinha de fazer de doente! Foi pena que só tenha sido reposta pela primeira vez em 2017, trinta anos depois da exibição original, na RTP Memória. Como referi ao princípio, a série encontra-se disponível no Portal de Arquivos da RTP, embora os episódios 4 e 5 estejam trocados.
Genérico:
Excerto do 7.º episódio:
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