sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Terra Mãe (1998)

por Paulo Neto

Foi no início deste século que as telenovelas nacionais, transmitidas pela TVI, terminaram com o longo domínio no primetime nacional das telenovelas brasileiras da Rede Globo, que vinha desde os anos 70 e 80 e que continuou em alta nos anos 90, em que transitaram da RTP para a SIC.
Entre os diversos factores para tal acontecimento, como a forte aposta da estação de Queluz neste produto ou o aproveitamento da conquista do primetime pela TVI herdada do primeiro Big Brother, destaca-se sobretudo o know how da NBP Produções (que em 2009 entrou em fusão com a Plural, nome pela qual a produtora é hoje designada) que soube como desenvolver este produto televisivo.


Foto promocional com os jovens actores da telenovela


Antes de atingir esse feito na TVI, a NBP, criada em 1990 por Nicolau Breyner (daí a sigla), foi desenvolvendo esse know-how ao longo dos anos 90 na RTP, produzindo de forma sucessiva várias telenovelas portuguesas que foram exibidas pela estação pública, começando em 1992 com "Cinzas" e terminando em 2000 com "Ajuste de Contas". Entre os títulos mais conhecidos deste conjunto de telenovelas, contam-se "Desencontros", "Na Paz dos Anjos", "Roseira Brava" e "A Grande Aposta".

Mas pessoalmente, a minha telenovela nacional preferida desse período foi "Terra Mãe" que se distinguiu das demais por três aspectos: primeiro, um elenco maioritariamente jovem e apoiado por alguns nomes consagrados; segundo, por ser a primeira telenovela da autoria de Rui Vilhena, que consagrar-se-ia nos anos seguintes como um dos nossos maiores teledramaturgos, nomeadamente através do sucesso da telenovela "Ninguém Como Tu"; terceiro, porque soube capturar a Lisboa fulgurante, moderna e cosmopolita da altura, ou não tivesse sido gravada e exibida no ano da Expo 98. A telenovela teve 146 episódios exibidos originalmente entre Março e Setembro de 1998.

Outro tema importante da "Terra Mãe" era a lusofonia já que um dos principais núcleos da telenovela era aquele protagonizado por Milú Mendes (Manuela Maria), uma antiga actriz de teatro que aluga quartos na sua casa a três jovens oriundos de países de língua portuguesa: Hugo (Miguel Hurst), um jornalista moçambicano, Kim (Sandra Cóias) uma jovem macaense que estuda estilismo e Filipe (Cláudio Lins), um jovem brasileiro licenciado em comunicação que traz consigo um segredo.


Hugo (Miguel Hurst), Filipe (Cláudio Lins),
Milú (Manuela Maria) e Kim (Sandra Cóias)


Milú tem uma irmã, Maria do Carmo (Glória de Matos) com quem sempre se deu mal. Ao contrário da irmã, Maria do Carmo é uma mulher fria, autoritária e preconceituosa. Viúva de um abastado empresário, é a matriarca da família Castro composta pela sua filha Beatriz (Maria Emília Correia), o seu genro Paulo (Alexandre Melo) e os seus netos Diogo (Pedro Lima), Ana (Lúcia Moniz) e Gonçalo (Gonçalo Waddington). Na adolescência, Diogo viveu uma paixão com Carla (Anabela Teixeira), neta de Milú, que terminou devido à pressão da avó do rapaz, mas sem que nenhum dos dois tenha conseguido esquecer.


Carla (Anabela Teixeira) e Diogo (Pedro Lima) 

Maria do Carmo (Glória de Matos)

Ana conhece Filipe no dia do funeral do seu avô, que é também o dia em que o rapaz chega a Portugal, e após algumas situações aparatosas, surge uma forte atracção entre ambos, tornando-se o principal par romântico. Mas não só Ana está prestes a ficar noiva de Henrique (Carlos Sampaio), com quem namora há vários anos, como Fernanda (Anna Ludmila), a ex-namorada de Filipe, também ela imigrada em Lisboa, fará de tudo para reatar o namoro ao saber que ele está em Portugal.

Ana (Lúcia Moniz), Filipe (Cláudio Lins) e Fernanda (Anna Ludmila)

Henrique (Carlos Sampaio)


Fernanda partilha um apartamento com o sedutor Luís (Eurico Lopes) e o divertido homossexual Marcelo (Gabriel Leite). Junto destes três amigos costuma estar Patrícia (Vera Alves), uma jovem que planeia casar e viver às custas de um homem rico mas cujos planos saem sempre furados. Já Luís vive uma tórrida relação casual com Marina (Sandra B.), uma mulher independente que trabalha na agência de publicidade Zenith, dirigida por Paulo e onde também trabalham Diogo e Henrique.


Marcelo (Gabriel Leite)
Luís (Eurico Lopes)
Marina (Sandra B.)

Patrícia (Vera Alves)



Como se já não tivessem suficientes, Milú e Maria do Carmo têm ainda outro motivo de conflito: ambas interessam-se por Augusto (Armando Cortez), um simpático viúvo, dono de uma cadeia de boutiques. Augusto é pai de Isabel (Lídia Franco), uma mulher fútil, extravagante e cómica, casada com o ambicioso Zé Maria (Marques D'Arede) de quem teve um filho, o endiabrado Ricardo (Márcio Ferreira). Em casa de Isabel e Zé Maria, ainda há espaço para as desventuras de três dos seus empregados: Aparecida (Paula Pedregal), Jorge (Joaquim Guerreiro) e Olívia (Margarida Cardeal).


Zé Maria (Marques D'Arede) e Isabel (Lídia Franco)

Ricardo (Márcio Ferreira), Isabel (Lídia Franco) e
Augusto (Armando Cortez)
Aparecida (Paula Pedregal)
Jorge (Joaquim Guerreiro)


Isabel é bastante ciumenta quanto ao marido mas nem imagina que ele tem uma família secreta, já que teve uma filha da humilde Fátima (Teresa Madruga), Lena (Patrícia Tavares), que não sabe que aquele que chama de padrinho é o seu verdadeiro pai. Lena vive um terno primeiro amor com Miguel (Diogo Morgado), o outro neto de Augusto, criado pelo avô após a morte dos seus pais.

A melhor amiga de Lena é Inês (Patrícia Bull), filha de Joana (Yolanda), uma antiga modelo, e Mário (Antonino Solmer), um biólogo marinho actualmente a trabalhar no Oceanário da Expo 98. Mário suspeita que alguém planeia sabotar o projecto mas não imagina que o responsável seja o seu colega Álvaro (Paulo Pires). Na verdade, Álvaro pertence a uma rede de crime organizado e juntamente com Tito (João Lagarto) procuram um valioso chip informático e uma chave Laika, que se encontra na posse de Filipe. Também metida nestas e noutras tramoia está Cristina (Carla Lupi), a colega de apartamento de Carla.

Mário (Antonino Solmer) e Joana (Yolanda)


Carla (Anabela Teixeira) e Álvaro (Paulo Pires)

Cristina (Carla Lupi)


Gonçalo (Gonçalo Waddington), Inês (Patrícia Bull),
Lena (Patrícia Tavares) e Miguel (Diogo Morgado)

  
Outro dos mistérios é o assassinato de Marina, que vem-se a descobrir ter sido Henrique, que a matou por esta saber dos seus negócios sujos através da agência. Curiosamente, no final Álvaro e Henrique acabam na prisão, mas cada um condenado pelo crime que o outro cometeu.

O elenco de "Terra Mãe" teve ainda participações especiais de Carlos Santos, Carmen Santos, Luís Vicente, Licínio França, Manuel Cavaco e Octávio de Matos e de aparições como eles próprios de António Pedro Cerdeira, Fernanda Serrano e dos Excesso. Aliás a imprensa nacional especulou sobre um romance de Fernanda Serrano com Cláudio Lins, durante a estadia deste em Portugal para a gravação da telenovela. "Terra Mãe" contou ainda com a participação de Nayma no genérico. 



Com uma dose equilibrada de humor, drama e mistério e capturando bem a atmosfera vibrante da Lisboa de então, que conjugava a modernidade da Expo 98 e do então recém-inaugurado Centro Comercial Colombo com as suas zonas mais típicas e que se tornava um melting pot de várias culturas, sobretudo as dos países lusófonos, e bons desempenhos de todo o elenco, "Terra Mãe" foi uma das melhores telenovelas portuguesas dos anos 90, sabendo capturar o espírito positivo de uma Lisboa e de um Portugal dos anos 90, um espírito que hoje em dia quase parece irreal.

Artigo sobre a telenovela no site "Brinca, Brincando" (de onde provieram estas imagens).


Promos e Excertos:















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