Parece incrível mas a SIC já faz 30 anos, mas nas armadilhas nostálgicas da minha mente, eu ainda sou levado a pensar que não foi assim há tanto tempo que Portugal passou do binómio da RTP para o tetraedro audiovisual com a SIC e depois a TVI. Mas sim, já se passaram trinta anos desde o dia 6 de Outubro de 1992 em que a emissora então sediada em Carnaxide (onde ficaria até 2019) abriu as suas emissões com um boletim de informação com Alberta Marques Fernandes - mais do que aqueles que a RTP tinha quando eu nasci!
Eu tinha doze anos quando a SIC começou, pelo que foi um marco na minha vida e à medida que avançava na adolescência, a programação da SIC estava de certo modo associada à minha visão do mundo. Tenho muita pena que aqueles que não eram nascidos ou eram muito novos na altura não tenham vivenciado a grande era dourada da SIC que, surfando na inaudita onda de prosperidade do Portugal dos anos 90, trouxe toda uma revolução à forma de fazer e se ver televisão em Portugal, uma mudança que o país sem saber desejava. Infelizmente desde o início deste século que a SIC entrou em declínio e, salvo uma ou outra boa ideia, já me custa ver a SIC que tanto me marcou na SIC actual, memórias que só não parecem distantes mas quase irreais.
Mas para celebrar esta data querida, resolvi fazer um apanhado de trinta programas da SIC que mais me marcaram, se bem que nem sempre pelos melhores motivos. Tentei ser o mais diversificado no tempo, mas obviamente que a maioria dos programas desta lista será dos anos 90, e embora tenha optado por dar primazia à produção nacional, não pude deixar de incluir algumas excepções de além fronteiras. A lista é por ordem alfabética e caso tenham um artigo aqui no blogue eu deixarei o link no título:
Claro que a imagem que vem logo à cabeça do povo quando se fala neste programa é a imagem do concorrente João Muge em completa aflição ao ser-lhe posta uma iguana em cima da sua careca enquanto gritava a Jorge Gabriel: "Ponha, ponha, ponha!"
Mas o "Agora Ou Nunca" teve mais do que isso. Este programa em que os portugueses eram desafiados a enfrentar os seus medos em troco de uma quantia de dinheiro, vimos todo o tipo de fobias, das mais comuns (como medo de cobras ou de aranhas) a outros mais raros (como o de uma mulher com medo de cortar esferovite), alguns desafios como o recorrente alguém passar a duração do programa a andar numa passadeira rolante de uma forma específica (de triciclo, de andas, de saltos altos…) ou alguns no exterior como empurrar carrinhos de supermercados por cem quilómetros. E como era o tempo em que havia pilim a rodos, houve mesmo alguns segmentos filmados no estrangeiro como levarem uma concorrente com medo de montanhas-russas à maior montanha-russa do mundo em Inglaterra. Recordo também o Ferrari amarelo que Jorge Gabriel conduzia no segmentos filmados no exterior e que a música do genérico era o hit eurodance "Move On Baby" dos Cappella.
Para mim (e creio estar longe de ser o único), o surgimento de um canal de televisão apresentava-se como um admirável mundo novo audiovisual a descobrir e logo nas primeiras emissões momentos houve que eu, qual Dorothy recém-aterrada em Oz, ao ver a SIC sentia-me com vontade de dizer: "Toto, I've a feeling we're not in RTP anymore." Sobretudo com este programa italiano que abrilhantava as noites de sábado de título original "Il Colpo Grosso". Seios desnudados não eram exactamente algo inédito na televisão nacional, mas nunca os houvera naquela dose, onde a cada momento parecia que havia uma mulher disposta a mostrar tudo o que lhe ia no peito. Havia também o apresentador Umberto Smaila, que parecia um sucedâneo italiano de Benny Hill, a coapresentadora Amy envergando as suas copas DDDD, alguns jogos de casino e as raparigas Cin Cin, cada qual com a sua fruta qual deliciosa macedónia humana.
Adaptado de um original australiano, o "Ai, Os Homens" testavam as habilidades dos machos tugas para impressionar o sexo feminino. Aqueles que não tinham mais que garganta sofriam a sentença ditada pelas 150 mulheres presentes em estúdio que era um banho forçado na piscina. Alguns concorrentes viriam a ter notoriedade posterior como Jorge Kapinha (o vencedor da finalíssima da primeira temporada), Fernando Melão e Sérgio Vicente (Big Brother 2). Os telespectadores masculinos também podiam regalar as vistas nas assistentes do programa que iam da loiríssima britânica Joanne Iverson à portuguesíssima morena Raquel Loureiro. Mas claro, as três estrelas de cada episódio eram o trio-maravilha composto pelo José Figueiras como apresentador, Joaquim Guerreiro como o temível boydbuilder Ulisses e o saudoso António Feio como o hilariante Johnny Bigode.
Escreveu Camões que o amor é fogo que arde sem se ver, mas a SIC fez tudo para que esse fogo fosse visto em "All You Need Is Love". Lídia Franco conduziu a primeira temporada mas seria Fátima Lopes a cara mais associada a este programa, onde em nome do amor houve declarações de amor, speed dating, reconciliações amorosas e reencontros de amantes separados pela distância. Até havia momentos musicais que convidavam ao slow dancing, onde chilrearam nomes como Laura Pausini.
João Baião a elevar o termo hiperactividade a níveis estratosféricos, o macaco Haddriano (sim, com H e dois D), o escultural e multirracial corpo de baile, actuações de não apenas de todos os artistas revelados durante a perfect storm do fenómeno pimba mas de outros com mais gabarito, a "Escolinha de Professor Baião" (com o Mário Jorrrrrrrge!)… Todo um fever dream televisivo!
Bravo, Bravíssimo (1994-2001)
Num majestoso palco em Cremona, Itália, vários pequenos de todo o mundo mostravam os seus grandes talentos, do canto à dança, da música às artes circenses. Portugal também enviava o seu representante e organizava as suas finais nacionais, onde por exemplo passaram uns muitíssimo jovens Marisa Liz, FF e Salvador Sobral. Aquele que será o nosso Bravo, Bravíssimo mais recordado é João Pedro, o fadista que cantava "A Lenda Da Fonte", mas foi Ângelo Freire quem deu a Portugal a sua única vitória no Bravo, Bravíssimo internacional em 2000, com a sua interpretação de "Minha Guitarra Toca Baixinho".
Duas Anas conduziram este inesquecível espaço infanto-juvenil da SIC: primeiro Ana Marques e depois e mais famosamente Ana Malhoa que foi o mais próximo que tivemos de uma Xuxa portuguesa. E claro, havia também o Boi Ré-Ré, a Vaca Ré-Ré e muitas canções que a petizada da altura trauteava, se bem que o "Começar No A" foi de longe a mais mítica.
E depois havia o sem-fim de lendárias séries que passavam neste espaço, quer aos fins-de-semana quer nos espaços diários à tarde, mas há que destacar cinco: os "Power Rangers" nas diferentes encarnações, "Os Moto-Ratos de Marte", "A Navegante da Lua" e claro, "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z".
Ele há programas que são tão marcantes que até custa a crer que só tiveram uma temporada. No tempo dos meus pais houve "A Visita da Cornélia" que apesar da sua única temporada de Junho a Novembro de 1977 (ignorando a revamp dos anos 90), ainda hoje muitos recordam. E eu dou por mim a pensar que a "Caça Ao Tesouro" teve pelo menos duas temporadas, mas só teve uma durante o Verão de 1994. Na altura, Catarina Furtado era a incontestável namoradinha de Portugal e este programa levou-a literalmente às alturas, percorrendo Portugal de lés a lés em busca das moedas e do tesouro conforme indicações dos concorrentes presentes num estúdio com Henrique Mendes e Rita Blanco.
Portugal demorou um bocado a entrar na febre do karaoke (ou não fosse por excelência o país do tarda-mas-não-falta) mas assim que se massificou por cá, a tuga aderiu em força. E no Verão de 1996, o "Cantigas Da Rua" percorreu várias praças por esse país fora onde vários portugueses deram largas aos seus dotes vocais aos sons dos hits nacionais e internacionais do momento, com Miguel Ângelo na zénite dos Delfins na apresentação. Tal foi o sucesso que a SIC não quis deixar para o próximo Verão aquilo que podia fazer no Outono e prolongou a primeira temporada até uma finalíssima à chuva em Dezembro, para não falar em mais quatro temporadas, a última das quais conduzida por José Figueiras. Por lá passaram alguns ex-concorrentes do Chuva de Estrelas e nomes como Miguel "Duck dos Excesso" Moredo, Luciana Abreu e... Fernando Rocha?
Mas falar de programas de cantorias é falar de "Chuva de Estrelas", programa onde aspirantes a cantores vestiam as peles de grandes estrelas da música, esperando eles próprios alcançar o estrelato e foi o que aconteceu com vários concorrentes como Sara Tavares, João Pedro Pais, Jacinta Matos, Pedro Miguéis, Marta Plantier, João Portugal e Vanessa Silva. Há ainda que referir vencedores icónicos como Inês Santos como Sinead O'Connor e Carlos Bruno que imitando Michael Stipe dos R.E.M. venceria a final europeia de 1998. Foi também aqui que, malgrado o seu currículo anterior em televisão, Catarina Furtado e Bárbara Guimarães se tornaram namoradinhas de Portugal.
Dragon Ball Z (1997-98)
Já mencionei no Buéréré mas sem dúvida que esta mítica série japonesa merece o seu aparte. Sucedendo à serie "Dragon Ball", também exibida no Buéréré, "Dragon Ball Z" trazia de novo as aventuras de Songoku e seus amigos enfrentando novos e perigosíssimos inimigos que pretendem destruir a Terra e não só. A febre "Dragon Ball Z" foi tal em Portugal que há relatos do país parar para ver cada novo episódio, sobretudo durante o verão de 1997. Nomes de personagens como Songohan, Trunks, Cell, Frisa, Videl, Hércules, C18 e Vegeta andavam na ponta da língua da miudagem (e não só), o merchandising vendeu-se que nem pãezinhos quentes (roupa, material escolar, cassetes de vídeo com filmes spin-off inéditos, e por aí fora) e a dobragem nacional, repleta de referências à cultura pop tuga do momento e de várias idiossincrasias dos actores, tornou-se lendária.
O que tornou ainda mais dolorosa a trollagem que a SIC fez quando, a poucos episódios do fim, num momento importante e sem praticamente nenhum aviso prévio, voltou a transmitir a série a partir do primeiro episódio.
Globos de Ouro (1996-actualmente)
Sim, já havia anteriormente galas anteriores como os Sete de Ouro e os Prémios Nova Gente, mas foi com os Globos de Ouro, criados pela SIC e pela revista Caras, que rapidamente se tornaram "A" grande gala anual de atribuição de prémios, onde as celebridades tugas mais faziam questão de exibir os seus trapinhos mais glamourosos. A primeira cerimónia aconteceu em Abril de 1996 no Coliseu dos Recreios celebrando nomes que se destacaram em cinema, televisão, música, teatro e desporto no ano anterior e apesar de alguns percalços (como uma falha técnica que levou a SIC a interromper a emissão e a tapar o buraco com os "Malucos do Riso") ditou o molde para as galas futuras e rapidamente os "Globos de Ouro" se tornaram um dos pontos altos de cada saison da SIC, algo que se mantém até hoje apesar de várias mudanças aos longos tempos.
Herman SIC (2000-2007)
O desejo da SIC de contratar Herman José era antigo, destacando-se até mesmo um momento em que Francisco Pinto Balsemão, enquanto convidado do programa "Parabéns", sacou de um contrato e de uma caneta e entregou-os a Herman. Este apareceria em breves momentos na SIC como numa emissão de "A Noite Da Má Língua" mas a transferência só se materializaria em 2000, com "Herman SIC", um talk show semelhante ao que conduziu nos seus dois últimos anos da RTP mas ampliado à escala SIC da altura. O programa deixou rábulas marcantes como "Nelo & Idália" e o "C.R.E.D.O" mas também alguns fails épicos como o do mago Alexandrino tentando em vão hipnotizar uma concorrente do Big Brother enquanto repetia "firme e hirta como uma barra de ferro" ou a falsa indignação de Lili Caneças a uma piada.
Hora Da Liberdade, A (1999)
Para assinalar os 25 anos do 25 de Abril, a SIC exibiu uma megaprodução que reconstituía passo a passo a Revolução dos Cravos, exibida em 13 blocos entre 24 e 25 de Abril de 1999 à mesma hora em que os acontecimentos se sucederam vinte e cinco anos antes.
Um impressionante especial épico (notava-se que era do tempo em que corriam rios de dinheiro na SIC!) que contou com a colaboração das Forças Armadas que forneceu vários recursos e que teve um impressionante elenco com nomes como Almeno Gonçalves, António Cordeiro, Diogo Morgado, Gonçalo Waddington, Henrique Feist, Ivo Canelas, José Jorge Duarte, Luís Esparteiro, Marcantónio Del Carlo, Pedro Lima, Rui Mendes e Vítor Norte mas onde há que destacar os desempenhos de António Capelo como Otelo Saraiva de Carvalho, José Manuel Mendes como Marcello Caetano e sobretudo Manuel Wiborg como Salgueiro Maia.
Ídolos (2003-2022)
Após o sucesso da edição original britânica (Pop Idol) e sobretudo a americana (American Idol), ambos em 2002, vários países não tardaram em adaptar o formato onde se pretendia encontrar o novo ídolo musical da nação, com duas partes bem distintas: a fase dos castings onde desde logo se evidenciavam os favoritos mas também revelava alguns concorrentes iludidos que não aceitavam a sua desafinação, e a das galas ao vivo onde a cada semana era eliminado um concorrente. Até ao momento, houve sete temporadas do "Ídolos" a primeira em 2003 e a mais recente já este ano, sendo que os vencedores mais conhecidos são Nuno Norte, Sérgio Lucas, Filipe Pinto e sobretudo Diogo Piçarra, mas por lá também passaram nomes como Luísa e Salvador Sobral, Luciana Abreu, Carolina Torres e Carlos Costa.
Jornal Da Noite (1992-actualmente)
Desde a sua génese que a SIC tinha numa das suas apostas mais fortes a informação e não é à toa que abriu as suas emissões com um bloco informativo conduzido por Alberta Marques Fernandes. Inicialmente o seu principal bloco noticiário, o "Jornal Da Noite", não batia de frente com o sempiterno "Telejornal" da RTP, indo para o ar após o fim deste às 20:45 mas não tardou a enfrentá-lo no horário das oito da noite. Rodrigo Guedes de Carvalho é o rosto de informação que se mantém desde o início mas também foi aqui que foram revelados pivots como a já referida Alberta Marques Fernandes, José Alberto Carvalho, Paulo Camacho, Paulo Nogueira, Maria João Ruela, Teresa Dimas, Fernanda Oliveira Ribeiro, Alexandra Abreu Loureiro e mais recentemente Clara de Sousa (após passagem pela TVI e RTP), Bento Rodrigues e João Carlos Moleira.
Juiz Decide, O (1994-2001)~
Um bastião das tardes da SIC durante anos, neste programa eram apresentados vários litígios cíveis encenados (embora muitos deles fossem baseados em processos reais), em que dois actores representavam as duas partes do litígio, expondo cada um a sua argumentação. Depois o público presente opinava sobre o caso e votava sobre qual a decisão. A apresentadora era Eduarda Maio, apoiada por dois assistentes, um masculino cujo nome não me recordo e uma feminina que era Liliana Campos, que evoluiria para outros programas da SIC. No fim, o juiz presente, conforme o que estava estabelecido na lei, ditava a sua sentença. O juiz que ficou mais tempo no programa foi o Dr. Ricardo Velha, mas antes dele houve o Dr. José Santos Pais que tinha o bordão "Os senhores façam o favor de sentar!" e que me lembro de ser mais reactivo com o público.
Alguns casos eram litígios comuns de partilhas e disputas pecuniárias, mas alguns eram algo rocambolescos como aquele em que um Nuno deu um anel a uma Laura e depois exigiu a devolução desse anel quando descobriu que essa Laura era afinal um Ricardo, que se apresentou no programa vestido como Laura.
Laços De Sangue (2010-11)
Com a TVI a partir de 2000 a apostar forte em telenovelas portuguesas, um filão que ainda não tinha sido amplamente desbravado, a SIC também foi apostando na teledramaturgia nacional até porque o domínio das telenovelas brasileiras da Rede Globo, até então um dos seus bastiões de audiência, foi diminuindo gradualmente. Ao passo que telenovelas de temática infanto-juvenil como "Floribella" e "Chiquititas" foram grandes sucessos, telenovelas mais adultas como "Ganância", "Fúria De Viver", "Podia Acabar O Mundo" e "Perfeito Coração" não passaram de resultados medianos quando não foram flops como "Jura", "O Olhar Da Serpente" e "O Jogo".
A primeira telenovela não infanto-juvenil da SIC que conseguiu quebrar o domínio da TVI foi "Laços De Sangue" em parceria com a Rede Globo, com o autor Pedro Lopes a ter a supervisão do célebre teledramaturgo Aguinaldo Silva. Diana Chaves, Joana Santos e Diogo Morgado protagonizaram esta história sobre Diana (Santos), uma jovem ambiciosa e inescrupulosa que ao descobrir que é a filha desaparecida de uma família rica, elabora um plano de vingança sob a sua irmã Inês (Chaves) a quem culpa de lhe ter negado a afluente vida que poderia ter vivido em vez das condições humildes em que cresceu e que sempre desprezou, apesar do amor que os seus pais adoptivos lhe deram. E parte dessa vingança passará por conquistar João (Morgado), o noivo de Inês. No final, Diana tem um final trágico pois o seu plano de simular a sua morte fracassa e acaba por morrer enterrada.
Mas no meio desse drama, existiam alívios cómicos como casal novo-rico Armando e Gi Coutinho (João Ricardo e Custódia Gallego) e as picardias entre Sheila (Débora Ghira) e Marisa (Dânia Neto) no Mercado da Ribeira.
"Laços De Sangue" foi também até ao momento a única telenovela da SIC que ganhou o Emmy Internacional e foi transmitida em vários países como Itália, França, Bulgária, Indonésia e Quénia.
Levanta-te E Ri (2003-2006; 2018-2020; 2022-actualmente)
Fiel à sua máxima de ser o país do "tarda mas não falta", só nos finais dos anos 90 e princípios dos anos 2000 é que o stand-up comedy enquanto espectáculo começou a ganhar alguns alicerces em Portugal e este programa terá sido incontornável para o seu estabelecimento. Sim, já havia antes programas de contar anedotas, como "Só Riso" na RTP e "Ri-te Ri-te" na TVI, mas "Levanta-te E Ri" foi o primeiro programa basilar do stand-up, que como é sabido, é mais complexo do que simplesmente contar anedotas. O programa foi primordialmente conduzido por Marco Horácio e inicialmente era gravado ao vivo num bar, mas depois estendeu-se a várias salas de espectáculo do país. Foi aqui que se revelaram nomes como Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Bruno Nogueira, Aldo Lima, Hugo Sousa, Francisco Menezes, Nilton, Salvador Martinha e Fernando Rocha.
Após um interregno, "Levanta-te E Ri" foi recuperado em 2018 por ocasião do 15.º aniversário da sua estreia.
Malucos do Riso, Os (1995-2010)
O conceito era assaz simples: a encenação de vários tipos de anedotas em diversos cenários interiores e exteriores (alentejanos, manicómio, salas de aula, oficina, consultório médico, ginásio, prisão…) mas essa simplicidade acabaria por ser o trunfo do programa. A primeira encarnação começou em 1995, protagonizada por Guilherme Leite, Camacho Costa, Ildeberto Beirão e Carla Andrino e continuou por mais quinze anos, (quando estes quatro já há muito tinham saído), gerou várias spin-offs ("Os Malucos Nas Arábias", "Os Malucos Na Praia", "Mini Malucos Do Riso"...) e contando com dezenas de actores. E para a posterioridade ficaram bordões como "Cabecinha pensadora!", "Um produto químico, natural ou assim-assim?", "Vá lá vai! Até a barraca abana!" e "Servir bem e bem servir, dá saúde e faz sorrir!".
O consenso é que o princípio do declínio da supremacia da SIC aconteceu quando esta recusou a sugestão da Endemol de adquirir para Portugal o "Big Brother", que estava já a ser um estrondoso sucesso em vários países, e a TVI aproveitou a oportunidade e foi o que se viu.
A SIC não tardou a aperceber-se do erro e contra-atacou com reality shows como "Acorrentados" e "O Bar Da TV", mas sem fazer grande sombra à segunda edição do "Big Brother".
Mas aquele que viria a ser o mais controverso reality show da SIC chegaria no ano seguinte. "Masterplan - O Grande Mestre" tinha a particularidade de ser um formato de Endemol original em que Portugal era o primeiro país a concretizá-lo. Nele as câmaras seguiam um concorrente masculino e outro feminino na sua vida em que seguiam as ordens do Masterplan através de SMS de um telemóvel e interagiam com um respectivo desafiador que tentava convencer o público a ser ele/a o/a próximo/a concorrente. O programa ficou marcado pela concorrente Gisela Serrano e os seus barracos, o seu núcleo familiar composto pelo namorado e eventual marido Luís, a mãe Dilar e o padrasto Quinquinhas e sobretudo pelas picardias com a desafiadora Sandra Leão que culminou durante uma viagem de carro em que a violência verbal entre ambas escalou para a física. Com essas memórias já se esqueceu que foi uma outra Gisela, de apelido Ildefonso, igualmente polémica foi a eventual vencedora do programa. Aliás a vertente feminina do programa deu mais entretenimento já que outras concorrentes como Vera Alves e Sandra Leonardo e várias desafiadoras também tiveram a sua dose de momentos quentes. Na vertente masculina, as coisas foram mais calmas com mais trocas de ceptro entre concorrentes e desafiantes, destacando-se apenas o concorrente inicial Nelson Rodrigues e o finalista Gabriel Gonçalves. (Recordo também Bruno Lopes, filho do ex-jogador do Sporting Virgílio Lopes.)
Herman José conduzia as galas e Marisa Cruz, então recém-revelada no anúncio da revista Maxim, apresentava os blocos diários. Recordo ainda o tema "Sigo A Viagem" cantado pelas gémeas Mónica e Tânia Rodrigues.
Provavelmente o maior sucesso da SIC em termos ficção nacional, "Médico de Família" era uma adaptação de um seriado espanhol, que contava o dia-a-dia de Diogo Melo, interpretado por Fernando Luís, um médico viúvo que tentava equilibrar a carreira e a vida familiar, ao mesmo que dava os primeiros passos para reencontrar o amor. Havia também os filhos Mariana (Sara Norte), Pedro (Francisco Garcia) e Catarina (Karina Queiroz), o pai José (Henrique Mendes), o amigo Júlio (Ricardo Carriço), a empregada Lucinda (Maria João Abreu), o sobrinho João (Rodrigo Saraiva), os sogros (São José Lapa e Filipe Ferrer) e a cunhada Teresa (Rita Blanco). Após muitas reviravoltas, Diogo e Teresa casaram-se no final da segunda temporada e a terceira e última temporada focou-se na nova dinâmica familiar, com a chegada de mais dois elementos da família e no novo trabalho de Diogo como médico de urgências.
Uma trama cativante, um sagaz equilíbrio entre drama e comédia e um excelente desempenho de todo o elenco tornaram este série memorável.
Tinha muita gente jovem a assistir. Tinha o José Figueiras a conduzir emissão e a cantar o tirolês. Tinha a assistente Paulina e a banda residente. Tinha espaço de debate com famosos, especialistas e gente comum. Tinha convidados musicais das bandas rock nacionais da altura a artistas de muito… estilo como o artista anteriormente conhecido como Jorge Rocha (e actualmente por Jorge Martinez).
Nos seus livros de crónicas, Teresa Guilherme conta que havia muitas dúvidas por parte de muita gente da SIC à sua própria equipa de régie de que este programa, importado do Reino Unido, poderia vingar em Portugal. "Os portugueses são muito envergonhados e não vão alinhar nas brincadeiras mais ousadas", "Os portugueses não sabem guardar segredos e vão se descair a contar as surpresas visadas a alguns concorrentes", "Os portugueses não têm o mesmo sentido de humor dos britânicos e não vão achar graça a algumas piadas"... Mas no fim, viu-se que essas suposições sobre os tugas eram infundadas e que em certos aspectos os portugueses até foram piores...ou melhores! (Segundo a própria TG, uma hora de bar aberto para os concorrentes antes das filmagens ajudou a espantar muita inibição tuga.)
No "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", todos os concorrentes estavam em estúdio e com malas aviadas para poderem ganhar uma viagem a um apetecível destino turístico (ou a uma localidade tuga caso falhassem no questionário final), mas antes disso havia muitos outros jogos e surpresas, nomeadamente o jogo em que o convidado musical e um fã seu competiam para ver quem mais sabia sobre o próprio artista. E claro está, para a história ficou aquele jogo de um leilão em que os concorrentes tinham de apostar uma peça de roupa para ganhar uma mala cheia de dinheiro que acabou com dois homens completamente nus e uma mulher em topless.
Na Casa Do Toy (2002-03)
Quando Ozzy Osbourne e a sua família abriram as portas da sua casa para deixarem as câmaras da MTV seguirem as suas vidas, criou-se um novo conceito de reality show que depressa se estendeu a várias celebridades (e afins), um pouco por todo o mundo, sendo particularmente aperfeiçoado pelas Kardashians. Portugal não foi excepção e ainda em 2002, as câmaras de SIC estiveram a postos para seguir os passos de Ágata em "O Meu Nome É Ágata" e de Toy em "Na Casa Do Toy". E se o programa de Ágata rendeu os seus momentos, foi Toy quem percebeu o objectivo e deu para história momentos icônicos como conduzir com joelho ou fazer sopas de cavalo cansado. E até o tema do genérico acabou por se tornar tão mítico quanto os seus hits!
Uma pedrada no charco num Portugal que sempre se regeu pelo "respeitinho" e as elites não primam pelo sentido de humor, "A Noite Da Má Língua" era um programa de comentário à actualidade sociopolítica no país e no mundo num tom mordaz e ácido. Como seria de espera, o programa gerou algum mal-estar junto da classe política e só muito gradualmente é que foram entrando no espírito da coisa.
Após a uma atribulada primeira temporada com várias mudanças no painel de comentadores, a partir da segunda temporada encontrou-se finalmente um equilíbrio a cinco vozes com a apresentadora Júlia Pinheiro conduzindo os debates com Miguel Esteves Cardoso, Manuel Serrão, Rui Zink e Rita Blanco. Havia também a rubrica semanal "Sic Transit Mundi Gloria" de Victor Moura Pinto.
Cantemos: "Um abraço deste Ponto de Encontro, um abraço deste Ponto de Encontro!"
Numa altura em que não havia redes sociais, era bem mais fácil perder o contacto e o paradeiros dos nossos conhecidos. Daí que "Ponto De Encontro" fosse para alguns a última oportunidade dos portugueses reencontrarem um familiar ou amigo após vários anos ou até décadas de afastamento. Geralmente, esses reencontros eram bastante emotivos e regados a lágrimas. E a conduzir o programa estava Henrique Mendes, num estilo sério e sóbrio mas cheio de empatia.
Com sete temporadas e mais de 200 emissões, dava ideia que andava metade de Portugal à procura da outra metade. E pensar que hoje em dia muitas vezes basta uma breve pesquisa na internet...
Tido como um meio crucial para a divulgação dos desportos radicais no nosso país (surf, skateboard, BMX entre outros), "Portugal Radical" marcou a sua época pela sua linguagem e estética apelativa ao público mais jovem. E claro, o facto de ter apresentadoras como Rita Seguro, Raquel Prates, Maria Borges e Rita Mendes, que se despediam com um "Até lá, muah!" não prejudicava nada.
"Portugal Radical" passou por vários horários e chegou a ser diário, além de gerar um merchandising que incluiu uma revista, uma caderneta de cromos e duas compilações musicais.
Uma das jogadas da SIC rumo à ultrapassagem da RTP foi a obtenção do monopólio dos produtos de ficção da Rede Globo (um dos sócios fundadores da SIC, fornecendo 15% do capital inicial), sobretudo as suas telenovelas, que tinham sido um dos pilar do horário nobre da RTP nos anos anteriores e que passaram a sê-lo na SIC. As telenovelas da Globo ainda são transmitidas na SIC e têm o seu público, mas longe da primazia dos anos 90.
Podia ter escolhido muitas telenovelas exibidas no horário nobre da SIC que deixaram grande marca: "Mulheres De Areia", "Terra Nostra", "Irmãos Coragem", "A Indomada", "Explode Coração"...
Mas "O Rei Do Gado" é daqueles novelões épicos como já não se fazem e com um elenco luxuosíssimo encabeçado por António Fagundes, Raúl Cortez, Glória Pires e Patrícia Pillar. Na primeira fase, compreendida nos primeiros sete capítulos e que se passava nos anos 40, seguíamos as violentas disputas das famílias de imigrantes italianos no Brasil, os Berdinazzi e Mezenga e o amor proibido entre Enrico Mezenga (Leonardo Brício) e Giovanna Berdinazzi (Letícia Spiller). A segunda passava-se na actualidade onde a contenda entre as duas famílias continua agora com Bruno Mezenga (Fagundes), filho de Enrico e Giovanna, e o seu tio Geremias Berdinazzi (Cortez). Bruno Mezenga tornou-se um abastado fazendeiro e pecuarista, a quem chamam "o Rei do Gado" mas desiludido no seu casamento com Léia (Sílvia Pfeiffer) e distante dos seus filhos Marcos (Fábio Assunção) e Lia (Lavínia Vlasak), Bruno só encontra a felicidade quando se encanta pela bela e humilde Luana (Pillar), que acaba por ser a chave para muitos dos mistérios da trama. Enquanto isso, há também Rafaela (Pires), uma vigarista que pretende se imiscuir no seio das duas famílias.
SIC Filmes (2000-02)
A par do infame DOT, a grande novidade que a SIC trouxe no ano 2000 foi a exibição de vários telefilmes produzidos pelo canal, à razão de um por mês, abrangendo vários géneros e envolvendo vários actores conhecidos. O mais lendário foi precisamente o primeiro, "Amo-te, Teresa", a história de um amor proibido entre uma mulher de 35 anos e um rapaz de 15 anos, protagonizado por Ana Padrão e Diogo Morgado, bem como Maria João Abreu no papel da mãe do jovem que na famosa cena em que descobre a ligação, profere a famosa frase: "P**a, a desencaminhar o meu filho!".
Mas outros filmes da iniciativa SIC filmes foram "Monsanto" com Vítor Norte no papel de um homem assolado pelos traumas da guerra colonial ("Porque é que não disseram que isto ficava para sempre?"); "Facas E Anjos" sobre um jovem que foge ao autoridade despótica do pai e descobre uma nova família no circo; "O Lampião Da Estrela", uma readaptação de "O Leão Da Estrela" com Herman José; "A Noiva" protagonizado por Catarina Furtado; "Aniversário" com uma cena em que Adelaide de Sousa se extasia com a gratificação oral que recebe ou "Um Passeio No Parque" e "Alta Fidelidade", escritos respectivamente por Margarida Rebelo Pinto e Rodrigo Guedes de Carvalho. Cada telefilme era promovido com poupa e circunstância, com trailers de encher o olho e um destacável na revista TV Mais. A SIC Filmes continuou a produzir mais telefilmes em 2001 e 2002, mas com o célebre virar da página no audiovisual português em finais do ano anterior, passaram despercebidos.
Para os fanáticos dos videojogos dos anos 90, a SIC erigiu um local de culto na sua programação para as respectivas homilias: "O Templo Dos Jogos". Com a internet ainda por massificar por cá, era neste templo que se podia estar a par das mais recentes novidades do mundo dos videojogos, desde os grandes lançamentos de jogos aos avanços da tecnologia das consolas. Sem esquecer críticas aos jogos mais populares (para a história ficou a nota de 100% do Mario 64 para a Nintendo 64) e as dicas para aldrabar nos jogos. Conduzindo cada "cerimónia" do Templo dos Jogos estava um variado grupo de jovens apresentadores que incluiu João Maia Abreu, David Bernardo, Rita Mendes e Cristina Mohler.
E eis-nos chegados ao fim da lista. Existe algum programa que acham que devia ser mencionado? Que outros programas da SIC permanecem na vossa memória afectiva? Contem tudo nos comentários e no Facebook da "Enciclopédia de Cromos". E uma vez mais, parabéns à SIC pelos 30 anos!
Tal como há uns tempos atrás decidi não esperar pelo mês certo para analisar uns incríveis blocos publicitários da RTP de Julho de 1985, também não quis esperar até ao próximo mês de Fevereiro para esmiuçar três blocos publicitários da RTP1 do dia 23 de Fevereiro de 1983 (quarta-feira), emitidos durante a exibição do filme "O Voo Da Águia".
1983 é o ano de que tenho as minhas memórias mais remotas de televisão, mas eu não me lembro de nenhum destes anúncios (embora me recorde de outros anúncios de algumas destas marcas), até porque na altura eu nem sequer tinha ainda completado três anos de andar cá neste mundo. Mas é engraçado ver como até comparado com os blocos de publicidade mais à frente nos anos 80, já existem algumas diferenças notórias, nomeadamente os bumpers entre anúncios que creio que desapareceram com a génese da RTC ainda nesse ano. Uma vez mais, o meu agradecimento ao canal PT Vault e ao acervo de Afonso Gageiro por disponibilizarem estes vídeos no YouTube.
0:00 Breve excerto do filme e vinheta da RTP1 (uma das muitas ao longo dos anos 80).
0:08 Ao som de música dramática, um jovem executivo entra numa sala de reuniões e depara-se com uns homens mais velhos lá presentes, cada um com o seu drink. Mas ele não se deixa intimidar e afirma confiantemente: "Eu trabalho e bebo Sumol!". E diz que havia uma coleção de autocolantes.
0:29 Foi mais ou menos por esta altura que os empreendimentos turísticos no Algarve começavam a brotar que nem cogumelos. Este anúncio anunciava a construção dos Apartamentos TénisGolfMar em Vilamoura.
0:37 A revista TV Guia tinha então quatro anos de existência, e na altura tinham uma spin-off gastronómica, a TV Guia Culinária. Além das típicas imagens de uma típica dona de casa às voltas na cozinha, existe a aparição do saudoso Chef Michel a dizer que cada receita havia sempre um ou mais aproveitamentos. Havia ainda uma capa para guardar todas as fichas.
0:58 A Nacional sempre foi mais conhecida pelas suas massas e bolachas, mas também tem a sua própria farinha que ainda hoje é produzida: a Farinha Rainha, a qualidade que faz crescer.
1:06 Eis que começa a minha ronda de perguntar: "Esta marca/produto ainda existe?" Neste caso, o verniz Cibelle.
1:15 Um simpático anúncio animado à Metrópole Seguros, actualmente Zurich. Uma instituição que me é particularmente marcante pois o meu pai trabalhava nela como perito avaliador e foi lá que tive a minha primeira experiência laboral, estagiando nos escritórios da delegação de Torres Novas.
1:35 O Totobola já existia há mais de vinte anos e com o Totoloto ainda a dois anos de aparecer, ainda reinava como o bastião dos jogos de apostas. Nessa semana, e como era habitual em tempo de competições europeia, havia dois concursos. Logo no primeiro still do anúncio, a inconfundível figura de Diego Maradona.
1:44 Pode nunca ter sido tão popular como outras marcas, quer na vertente gaseificada, quer na lisa, mas a Água do Cruzeiro, capturada na Vacariça, concelho da Mealhada, ainda está aí. Neste anúncio, um senhor impede um faux pas no seu drink ao exigir Água do Cruzeiro, pois só ela "respeita a sua bebida".
2:06 Para a mulher activa dos eighties, como esta do anúncio, uma jornalista que dá um pulo entre Lisboa e Paris, o desodorizante-colónia Vida Activa!
2:20 Vim lembra aquele detergente em pó com cheiro a limão para limpar banheiras e outras cerâmicas, mas na altura também tinha o seu limpa-vidros. E venha de lá o eterno gag dos vidros tão limpos que alguém não dá por eles e bate de frente.
2:29 Ele há coisas que parecem que existe desde que o mundo é mundo, mas afinal só surgiram (pelo menos em Portugal), quando eu já era nascido. É o caso de sabonete líquido, que hoje em dia já quase obliterou os sabonetes em barra, mas que em 1983 era uma novidade do outro mundo. E a primeira marca de sabonete líquido que me lembro era a Soft Sense. É cremoso! É prático! É suave!
2:50 Estou em crer que eu fui um dos últimos portugueses que em bebé nunca soube o que era ter fraldas descartáveis no rabo, somente fraldas de pano - algumas das quais transitariam para o meu irmão, (se bem que agora alternadas com descartáveis). Não sei se em 1983 já havia as imbatíveis Dodot e Ausónia, mas havia as fraldas Johnson's. Neste anúncio, uma mãe com um choroso e húmido bebé aconselha-se que uma empregada da farmácia que lhe recomenda fraldas Johnson's, não faltando sequer um teste tipo "Estão a ver? Só as nossas é que são boas, o resto é porcaria!".
3:21 Esta marca ainda existe? #2: Recordo-me de ver anúncios e produtos no supermercado da Harpic para limpar sanitas, mas já faz largos anos que nunca mais ouvi falar. Já agora, bem engraçado o jingle deste anúncio ao Harpic Líquido.
3:36 Neste anúncio ao perfume Marlene, uma beldade azul atrai vários olhares masculinos, sobretudo o do Clark Kent que se apressa a abrir-lhe a porta de um carro.
3:58 Num supermercado, três senhoras (uma das quais nada menos que Marluce, a primeira mulher de Carlos Cruz e mãe de Marta Cruz) explicam porque preferem o leite em pó Nido da Nestlé. O Nido ainda se vê por aí nas lojas, embora não seja anunciado na TV desde 1980 e carqueja.
4:18 Quando ainda se estava a uns anos do desabrochar das caixas Multibanco, o Crédito Predial Português disponibilizava extractos semanais para os clientes manterem as contas em dia. Fundado em 1864, o CPP viria a ser adquirido em 1992 pelo Banco Totta & Açores, hoje parte do Grupo Santander.
4:34 O saudoso Artur Agostinho neste anúncio do concurso das bodas de prata da Verbo Postal com 10 mil contos em prémios, incluindo um andar no Algarve e outro em Queluz! (Já agora, sabiam que Queluz é a maior cidade europeia que começa com a letra Q?)
5:03 Um anúncio animado da EDP alertando para os diversos perigos que podem ocorrer ao lidar com os postes e cabos de alta tensão.
5:33 Com tudo o que umas mãos fazem e por onde passam, convém tratar delas, de preferência com o creme Atrix!
0:00 Excerto do filme e vinheta RTP 1
0:12 Nesse eterno confronto de cervejas nacionais que é Sagres vs. Super Bock, é fácil esquecer que também havia e há a cerveja Cristale que também ela era digna de alguns anúncios épicos como este com uma gaivota a pairar sobre o mar e uns pescadores de barba rija.
0:33 Uma das múltiplas variações dos desodorizantes Impulsecom o lendário bordão "E se de repente um desconhecido lhe oferecer flores, isso é Impulse!" (Porém à luz dos tempos actuais, dir-se-ia antes que isso é stalking!)
0:54 Um curtinho mas assertivo anúncio ao vinho verde Grinalda.
1:02 Se em 1983, ter uma máquina de lavar roupa ainda podia ser considerado um luxo para uma extensa parte da população portuguesa, uma máquina de lavar loiça era um completo luxo. (Em minha casa, só tivemos uma para aí em meados/finais dos anos 90.) Mas já na altura, em pó ou líquido, Sunera a marca líder nos detergentes para máquinas de lavar loiça.
1:24 O lendário Fernando Pessa a dar voz a um anúncio aos relógios Pulsar Quartz. E esta, hein?
1:35 E de repente, um zapping para a RTP2 no programa "Hoje Convidamos" para ver o Duo Ouro Negroa cantar o seu incontornável hit "Vou Levar-te Comigo". Infelizmente Milo MacMahon estaria apenas mais dois anos neste mundo antes de falecer em 1985 com somente 46 anos.
2:01 Depois deste zapping, voltamos aos anúncios desta vez a uma colecção de livros da História de Portugal, dirigida por - who else? - José Hermano Saraiva.
2:23 Há pouco falávamos em stalking, e eis mais algum desta vez por parte de um repórter de farfalhudo bigode que surpreende uma senhora num supermercado a pegar numa caixa de Omo. Uma semana depois, eis o repórter no quintal da senhora onde, como não podia deixar de ser, ela elogia a brancura do Omo.
2:44 E eis agora uma sugestão culinária da Maggi, um lombo fingido feito com as sobras de carne!
3:14 Nunca ouvi falar desta marca de pasta de dentes. E com um nome como Binaca, é fácil de perceber porque é que não vingou, pelo menos por cá.
3:24 Um anúncio animado às carrinhas Nissan Ebro, cujo baixo consumo de gasóleo leva uma bomba às lágrimas!
3:43 Uma modelo de longos cabelos com ar de que saiu de um filme de ficção científica dos anos 70 protagoniza este anúncio ao Glassex Multiusos, que manobra como se de uma pistola laser se tratasse.
3:59 Zenite, a zénite das torneiras! E que dizer do magnífico bigode do canalizador?
4:08 Uma barba tão bem feita que a cara-metade fica louca para encostar o rosto? Provavelmente usou Schick Pivot.
4:39 Coisas que que parecem que existe desde que o mundo é mundo, mas afinal só surgiram quando eu já era nascido #2: a garrafa de litro e meio da água do Luso! Pelos vistos, nos idos de 1983, isto foi uma grande novidade.
4:54 E eis aqui a principal razão pela qual quis analistas estes blocos publicitários. A McDonald's só chegaria a Portugal em 1991, mas já nos anos 80 havia algumas hamburguerias no país. O que eu não sabia é que em 1983 havia uma cadeia de fast food portuguesa ao estilo daquelas que se conhecem hoje em dia, como se vê aqui neste anúncio do Max Burger, que anunciava "um novo estilo de vida e de alimentação: rápida, económica e de qualidade" e que tinha restaurantes em Lisboa, Porto e Cascais e que tencionava abrir em breve mais. O que terá acontecido ao Max Burger? Este tópico no fórum "A Televisão" dá algumas pistas, como por exemplo um autocolante que indica que um dos restaurantes em Lisboa era na Avenida Guerra Junqueiro, mas sem chegar a grandes conclusões. Outro vídeo do PT Vault, de um bloco publicitário de 14 de Março de 1983 contém outro anúncio do Max Burger mais curto.
5:10 Um anúncio fofucho dos produtos Mustela, especializados nos cuidados com bebés.
5:30 Novamente o anúncio da EDP sobre os perigos dos cabos e postes de alta tensão.
0:00 Imagem da actriz Jean Marsh em apuros no filme "O Voo Da Águia" e vinheta RTP1.
0:09 Royal Label Black, o whiskey que prolonga os bons momentos!
0:23 Os anos 80 foram um auge para os achocolatados e entre eles estava Milo, que se tentava vender como um alimento para os grandes atletas. O Milo andou um pouco desparecido mas para aí para os finais dos anos 2000, já recomecei a ver nos supermercados.
0:44 Em termos de produtos de higiene íntima feminina, Dystron (em casa líquido, fora de casa e no trabalho em toalhetes) é a marca mais célebre. Mas havia outras como Aseptal. No entanto este aparentemente inocente e singelo anúncio em que uma mulher vai à porta da casa de uma adolescente para lhe entregar uma embalagem de Aseptal deixou-me cheio de interrogações. Uma vez que neste país, e ainda para mais em 1983, assuntos desta natureza sempre foram abordados com algum secretismo, imaginei que esta entrega foi feita pela calada. ("Estou, Dona Idalina? É a Carla Patrícia do terceiro esquerdo. A minha mãe foi às compras e estou agora sozinha, podia vir aqui entregar-me o Aseptal que lhe pedi sem dar nas vistas?) E depois o que quereriam dizer com o slogan "para a mulher desinibida"? Não sei porquê acho que na altura "desinibida" podia ser dita como insulto. ("Carla Patrícia, que conversas andas a ter com a desinibida da Idalina?")
0:53 O brilho luminoso do Ajax Amónia é tal que esta dona de casa até tem de usar óculos de sol!
1:24 Um anúncio apenas feito com stills para a bagaceira Aveleda.
1:47 Imagine que havia na sua casa uma mão habilidosa como a Thing da Família Addams, mas que a sua única função é colar, um pouco por todo o lar, ambientadores Stick Up da Airwick.
2:16 Citizen Quartz bracelete, "o relógio certa para a mulher certa".
2:24 Diz uma jovem mulher numa pastelaria: "Com Magos, hmmm, o lanche sabe melhor!". Mas desconfio que um vinho espumoso e um pastel de nata não seja a combinação ideal para um lanche.
2:32 Um bastante dramático anúncio do dentífrico Dentagard sobre o que pode acontecer às gengivas sem a devida higiene oral. Curiosamente, na altura a marca não apostava no seu célebre leitmotiv de ser feito à base de extractos de plantas como nos seus anúncios posteriores.
3:03 Neste anúncio, vários automóveis levantam o seu capot para receber Castrol GTX.
3:34 Ao que parece, a figura-mascote dos vinhos do Porto Sandeman, um vulto masculino de chapéu de aba larga e grande capa, terá causado pesadelos a alguns petizes. Mas por acaso nunca me intimidou, e eu até efabulava que seria uma espécie de Zorro vinícola. Em 2017, numa excursão à Invicta, visitei as caves Sandeman e a guia usava o mesmo traje.
3:44 Uma versão mais curta do anúncio do Soft Sense.
3:51 As edições Europa-América apresentam uma coleção de livros subordinada ao tema Guerra E Espionagem.
4:07 Ainda existe esta marca #3? Desodorizantes Limara. "Mulher em ritmo novo!"
4:27 A sua encarnação em farinha láctea será mais célebre, mas a Pensal também sempre existiu em paralelo em bebida de cevada solúvel e ainda hoje, a minha mãe aprecia a sua xícara.
4:43 E eis outra preciosidade? O trailer da estreia cinematográfica em Portugal de "Blade Runner - Perigo Iminente", com a inconfundível voz de João David Nunes! (Mais o inevitável "Sexta-feira estreia em Lisboa!") O lendário filme de ficção científica de Ridley Scott protagonizado por Harrison Ford não tardaria a ser uma das maiores referências do género e rapidamente tornou-se um filme muito cultuado por várias gerações de cinéfilos. (Confesso que nunca vi!) E que estranho pensar que em 1983, o ano de 2019 estava tão longínquo que podia muito bem ser como a visão imaginada no filme e agora 2019 já começa a ser uma memória meio distante!
4:58 Com Novycera, "chão encerado, chão lavado!"
5:07"Malhas Jagar, malhas para homem e senhora, um produto Costex." Engraçado o logótipo ser uma estilização daquelas bicicletas antigas com uma roda bem maior que a outra.
5:19 Promo para o programa "1.ª Página" com uma entrevista a Francisco Lucas Pires (1944-1998), então Ministro da Cultura e da Coordenação Científica do governo liderado por Francisco Pinto Balsemão. Lucas Pires seria posteriormente líder do CDS e deputado no Parlamento Europeu.
5:59 Por fim, um momento de locução de continuidade, onde Margarida Andrade (mais tarde Mercês de Melo) anuncia que no dia seguinte seria exibida a terceira parte de um concerto de James Last e referia a morte da personagem de Larry Hagman (obviamente referenciado como o JR do "Dallas") no filme que estava a ser exibido.
Há uns tempos, relembraram-me deste filme no grupo de Facebook Saudade Nostálgica (que recomendamos que passem por lá e digam que vêm da nossa parte - não sem antes seguir também a Enciclopédia de Cromos no Facebook, claro está!) e a opinião generalizada foi a de que é um filme algo subvalorizado, em parte devido às circunstância em que saiu.
De vez em quando acontece que Hollywood produz dois filmes de temas semelhantes num curto espaço de tempo, algumas vezes intencionalmente (como os dois filmes sobre Cristóvão Colombo que saíram em 1992), outras vezes nem por isso (por exemplo, "AntZ" e "Vida de Insecto" ou "Impacto Profundo" e "Armageddon"). E foi o caso de dois filmes sobre um homem cuja vida é seguida 24 horas por dia através da televisão: "The Truman Show - A Vida Em Directo" em 1998 e "EDtv" em 1999.
Apesar do sucesso de "The Truman Show", que provou que Jim Carrey tinha mais talento do que se lhe dava crédito (que crime não ter sido sequer nomeado para um Óscar), "EDtv" também tinha os seus argumentos, como um realizador consagrado e experiente em Ron Howard, um bom elenco com nomes como Matthew McConaughey, Woody Harrelson, Ellen DeGeneres, Jenna Elfman, Sally Kirkland, Martin Landau, Dennis Hopper, Rob Reiner e Elizabeth Hurley, e uma premissa que se veio a provar bastante realista. Na verdade tratava-se de um remake do filme franco-canadiano "Louis 19, Le Roi Des Ondes" de 1994.
Cynthia Reed (DeGeneres), uma produtora de uma estação de televisão sediada em São Francisco apresenta à direcção um projecto inovador: "TrueTV" em que se vai seguir a vida de um cidadão comum 24 horas por dia. Entre os candidatos entrevistados para o programa estão os irmãos Ray (Harrelson) e Ed Pekurny (McConaughey). Ray é o que está mais desejoso de ser famoso mas Cynthia intui que Ed tem mais potencial e é ele o escolhido.
O programa vem virar do avesso a vida estagnada de Ed, que aos 31 anos trabalha num clube de vídeo e não tem mais actividades além de sair com o irmão ou estar com a mãe Jeanette (Kirkland) e o padrasto Al (Landau), que ele vê como uma figura paterna depois do seu pai os ter deixado e que está numa cadeira de rodas num estado de saúde periclitante. Ed também é secretamente apaixonado por Shari (Elfman), a namorada de Ray que trabalha como entregadora da UPS.
A princípio, o programa, agora renomeado EDtv, começa timidamente com alguns percalços, como Ed a acordar e quase perto de uma… satisfação matinal até que ele dá por conta das câmaras. As coisas começam a aquecer quando Ed descobre que Ray traiu Shari, que acaba com ele a revelar que gosta dela e os dois passam a namorar. O programa vai tendo cada vez mais sucesso, tornando-se mais nacional e com maiores receitas publicitárias e Ed torna-se uma celebridade, sendo mesmo convidado para vários eventos, nomeadamente para o programa de Jay Leno onde ele conhece Jill (Hurley), uma atraente modelo e actriz que demonstra interesse nele. No entanto, tudo isto acaba por condenar o namoro de Ed e Shari, a quem o público rejeita por achá-la desinteressante, e que acaba por sair da cidade. Também a relação entre os irmãos Pekurny fica deteriorada, com Ray ressentido da fama de Ed e por ele ter ficado com Shari.
Para animar as audiências, a produção decide chamar Jill para convidar Ed para um jantar. Nessa noite, o clima entre ambos aquece e as audiências disparam na expectativa de poder haver sexo em directo. Mas um tórrido beijo entre ambos em cima da mesa acaba em desastre com dolorosas consequências, sobretudo para o gato de Jill.
Outro drama acontece quando Hank (Hooper), o pai de Ed que abandonou a família quando ele era adolescente, aparece aliciado pela estação e revela que a principal razão pela qual se foi embora foi por ter descoberto que Jeanette estava a ter um caso com Al. Ed fica decepcionado com a mãe, mas o maior choque chega quando ele recebe a notícia de que o seu pai morreu durante o sexo com a sua mãe. A princípio ele julga-se tratar de Al, mas acaba por descobrir que se trata do pai biológico.
A produção do programa torna-se cada vez mais intrusiva e inescrupulosa, ao ponto de Cynthia deixar o projecto, por se desviar da sua ideia original. Também Ed revolta-se contra a produção, sobretudo quando descobre a nova ideia da estação: devido aos contratos que assinaram, Ray, Shari, Jeanette e Al são também agora seguidos pelas câmaras dos programa.
Farto do programa e com saudades de Shari, Ed quer acabar com tudo mas está impossibilitado devido às exigências do contrato que assinou. É então que Ed tem uma ideia: oferecer 10 mil dólares ao telespectador que lhe comunicar o segredo mais escabroso de um dos membros da produção ou da direcção da estação. Anonimamente, Cynthia revela-lhe que Whittaker (Reiner), o director da estação, tem um problema de disfunção eréctil que só é resolvido com uma bomba de líquido. E tal como Ed previa, Whittaker ordena o encerramento do programa antes do seu nome ser divulgado. Assim que as câmaras saem, Ed reconcilia-se com Shari e a família. O filme acaba com uns comentadores televisivos a afirmar que a EDtv e programas similares vão rapidamente cair no esquecimento.
Além de Jay Leno, o filme tinha cameos de outros apresentadores, em especial de Michael Moore e RuPaul que na altura tinha o seu próprio talk show, e que após o acidente em casa de Jill, comenta: "All that boy did was hurt that girl's pussy. I mean the cat!".
Apesar de alegadamente os produtores não estarem preocupados com as comparações com "The Truman Show", sobretudo por este ser sobretudo um drama e "EDtv" uma comédia satírica, mas foi tal o sucesso do primeiro junto do público e da crítica que as comparações acabaram mesmo por prejudicar o segundo, resultando num fracasso de bilheteira. Mas eu lembro-me de ter visto os dois filmes no cinema e de achar que eram suficientemente distintos para que argumentos de que um era o decalque do outro não fazerem sentido.
E apesar do argumento de "EDtv" não ser o mais sólido, o filme tem os seus méritos e merece uma reavaliação mais atenta. O elenco não deslumbra mas cumpre plenamente, nomeadamente com Ellen DeGeneres e Elizabeth Hurley a se destacarem nos seus papéis mais periféricos. E claro está, mais do que "The Truman Show", "EDtv" previa uma realidade que não tardaria a se materializar. Basta lembrar que foi nesse mesmo ano de 1999 que foi para o ar nos Países Baixos o primeiro tomo do colosso "Big Brother" e que nos anos seguintes, a barreira mitológica que separava o mundo da televisão e das celebridades do cidadão comum desabaria para sempre.
Destaque ainda para o tema principal do filme, "Real Life" dos Bon Jovi.
"Ovide E Os Amigos" é uma série animada de coprodução belga e canadiana (título original francês "La Bande À Ovide"), com 67 episódios de cerca de 13 minutos, originalmente exibidos no Canadá entre 1987 e 1988. Se não estou em erro, a série estreou em Portugal em 1990 no "Brinca, Brincando" na versão francesa com legendas em português, sendo mais tarde reexibida na RTP2 com uma dobragem em português, sob o título "Ovide E Companhia". (Para este texto vou utilizar os nomes da personagens na versão em francês.)
A série conta as aventuras de um grupo de animas de uma pequena ilha-atol algures no Oceano Pacífico, não muito longe da Austrália. O titular Ovide é um ornitorrinco azul e o líder não-oficial da ilha. Geralmente é ele que tem a solução para os problemas que surgem em cada episódio e costuma trazer consigo uma mala com uma televisão incorporada onde ele e o grupo de amigos assistem à programação. Os amigos mais próximos de Ovide são Ventribous, um ornitorrinco amarelo e hábil cozinheiro, Polo, um lagarto vermelho responsável pela limpeza da ilha e sempre em conflito com um bicho-da-madeira que faz buracos em tudo o que é sítio, e Wouaoua, um tucano branco sempre pronto pregar alguma partida. A única habitante feminina na ilha é Mira, uma canguru fêmea, que chegou à ilha e demorou a simpatizar com os outros animais, mas que depressa foi integrada. Mira é especialista em medicina herbal e em lançar o boomerang e, pelo que se vê no episódio sobre o Dia dos Namorados, todo os outros habitantes da ilha tem um crush secreto por ela.
O antagonista é Py, uma cobra piton, que como não podia deixar de ser, é mau como as cobras e que tem bastante inveja de Ovide, pelo que passa a vida a elaborar planos para tomar o poder da ilha, que inevitavelmente saem sempre furados. Até porque o seu cúmplice Zozo, um tucano cinzento, não prima pela inteligência. Mas apesar disso, Zozo até nem é mau tipo, alinhando com Py mais por amizade a este do que por maldade, e por isso não costuma sofrer grandes consequências. Lembro-me de um episódio em que Py aparentemente consegue que Ovide e os outros saiam da ilha e uma ornitorrinco-fêmea jornalista vem fazer-lhe entrevista à qual ele conta versões muito adulteradas e auto-enaltecidas de acontecimentos em episódios anteriores, mas no final tudo não passou de um sonho dele.
Outros habitantes da ilha são três coalas, Ko (com headphones), Ah (com óculos de sol) e La (muito atreito a soluços) quase sempre vistos sentados lado a lado num ramo de um árvore e Aie, uma preguiça que não faz mais do que ficar pendurada numa árvore e exclamar "Ai, ai, ai!".
Não exactamente uma residente da ilha mas uma presença constante é a ornitorrinco fêmea de cabelo cor-de-rosa, uma espécie de locutora de continuidade de uma televisão que anda pela ilha e que surge em determinados pontos em frente a uma personagem (sobretudo Ovide, mas também às vezes Py), geralmente dando-lhe informações úteis para a situação em que se encontram. Num dos episódios, ela avisa o ilhéus que aquele dia é sexta-feira dia 13, o que causa alguns percalços, mas no fim surge a advertir que se enganou ao ver o calendário do ano anterior e afinal era sexta-feira 14.
"Ovide E Os Amigos" era uma série despretensiosa e agradável de ver. Uma das minhas coisas favoritas era o tema do genérico com sonoridades tropicais e ao qual a adaptação da dobragem portuguesa conseguiu ser fiel.
Existem canções que logo à primeira audição dá para ver que são tão intemporais que parece que tanto podiam ter sido recentes como antigas. É o caso desta canção que é de 1988, mas que eu na altura julgava que era dos anos 60, ou pelo menos, uma cover actualizada. Mas não, é mesmo dos anos 80 e foi um enorme hit, chegando ao n.º 1 de vários tops, incluindo Estados Unidos, Austrália e Alemanha e utilizado em vários meios, desde o filme "Cocktail" com Tom Cruise aos anúncios dos pensos higiénicos Evax.
Reza a lenda que foi o guru indiano Meher Baba (1894-1969) que criou o slogan "Don't Worry Be Happy" de forma a angariar seguidores ocidentais. Ao longo dos anos 60, foram surgindo vários posters e cartões com essa frase e foi precisamente um desses posters que viu em casa de uns amigos em São Francisco que Bobby McFerrin teve a ideia para compor a canção que seria o seu único grande momento de sucesso mainstream. Canção essa que não utilizava mais do que a voz e alguns estalidos de dedos e percussões corporais do próprio McFerrin.
Robert Keith McFerrin Jr. nasceu a 11 de Março de 1950 em Manhattan. O seu pai, Robert McFerrin sénior, foi um dos primeiros cantores líricos negros a cantar em grandes palcos nos Estados Unidos. Já o McFerrin filho herdou os talentos vocais, sendo capaz de cantar em registo multifónico (ou seja em diversos tons, tipo uns Tetvocal de um homem só), fazendo carreira no jazz. O seu segundo álbum, "The Voice" (1984) fez história por ser o primeiro álbum jazz gravado sem qualquer acompanhamento instrumental (uma das faixas desse álbum chama-se "I'm My Own Walkman"!) mas seria o seu quarto álbum, "Simple Pleasures", que conteria o seu grande hit "Don't Worry Be Happy".
Assim de repente, dizer a alguém para simplesmente deixar de se preocupar e ser feliz parece positividade tóxica. (Por exemplo, ouvir esta canção durante o confinamento da pandemia não deve ter sido muito recomendável.) Tal como eu, como a pessoa ansiosa que eu sou, detesto que me digam repetidamente para ter calma, como se a calma me surgisse só por a enunciarem. Contudo, creio que a verdadeira mensagem da canção está no verso "in every life we have some trouble, but when you worry you make it double", ou seja, os problemas são inevitáveis na vida mas frequentemente a preocupação excessiva só prejudica mais a situação.
Além disso, além de toda a mestria acapella com que foi construída, "Don't Worry Be Happy" tinha uma aura de cantilena popular que lhe conferia uma aura intemporal, que até custava a crer que era então uma canção do presente e não um eco do passado. E depois havia o videoclip com Bobby McFerrin em divertida interação com os comediantes Robin Williams e Billy Irwin. (Consta que Williams dissera que só estava disponível para 20 minutos de filmagem mas acabou por ficar o dia inteiro!)
Bobby McFerrin em 2021
Embora "Don't Worry Be Happy" tenha ajudado ao sucesso do álbum "Simple Pleasures", os singles seguintes passaram despercebidos e McFerrin calmamente saiu dos holofotes do mainstream e prosseguiu os projectos que bem entendeu. Além de continuar a editar discos de jazz (o mais recente em 2013), foi professor universitário, investigador de musicologia, maestro da Orquestra de São Francisco e maestro convidado em várias orquestras em todo o mundo. Quanto à sua relação com o hit que o tornou num nome conhecido, ela tem variado ao longo dos anos: em 2002, num programa da VH1 sobre one hit wonders, Bobby McFerrin disse que chegara um nível de tal saturação que já nem mais a conseguia cantar, mas desde então têm havido alguns registos de McFerrin a cantar "Don't Worry Be Happy" ao vivo. Não sei se a cantou quando ele veio cá em 2018 ao Festival EDP Cool Jazz, mas adivinhem qual foi a canção usada nas promos?
Voltamos a analisar blocos publicitários, desta vez uns do dia 27 de Junho de 1990 na RTP1, antes e durante a exibição do filme "Filhos De Um Deus Menor". Estávamos pois no início do Verão de 1990 e eu deveria estar pulgas por mais um Verão em cheio, com a colónia de férias da Zona Alta em Julho, as férias no Algarve em Setembro e sobretudo, muita televisão para eu ver à vontade. As preocupações sobre a minha transição da escola primária para o ciclo preparatório podiam esperar.
Uma vez mais, um enorme agradecimento ao canal PT Vaults, por disponibilizar estes vídeos no YouTube, e a Afonso Gageiro pelo acervo de onde eles provêm.
- Vinheta RTC
- Hoje em dia há muita concorrência, mas na altura as Chiclets eram líderes no reino das pastilhas, ao ponto de até serem usadas como sinónimos. E uma vez mais é Gustavo Sequeira, o rei dos jingles publicitários, que dá a voz.
- Era tempo de trabalhar para o bronze, e a Piz Buin tinha este anúncio bem vistoso com um homem e uma mulher bem bronzeados sob um belíssimo céu azul cobalto (suponho que algures na Grécia). Ele deixa cair uma embalagem na água e ela mergulha com uma graciosidade de uma atleta olímpica para a ir buscar.
- Apetitosas imagens de frutas (laranjas, ananases e morangos) ilustram este anúncio às gelatinas Royal.
- A nossa eterna resposta às internacionais bebidas gaseificadas de lima-limão Sprite e SevenUp, a Snappy apostava num anúncio com motas e automóveis em manobras radicais.
- É verdade, nem sempre as embalagens de iogurtes líquidos tiveram a forma cilíndrica ou de garrafa como agora. Algumas tinham uma forma de cálice e uma abertura larga como então tinha o iogurte líquido da Mimosa, com que os jovens deste anúncio se deleitam à beira-mar.
- Um vistoso anúncio em tons negros para anunciar o sistema Mega Bass da Sony que quando activado nos seus diversos produtos (rádios, walkmans e discmans) realçava os sons mais graves/baixos. Os dois Walkman da Sony que tive tinham esse botão, que escusado será dizer, estava sempre activado.
- Um senhor perdido no meio do deserto chama a Assistência Renault.
- Sabonete líquido Johnson - com uma sideboob!
- Tchi que memória esta! O gelado Happy da Camy (Nestlé) que prometia mudar de sabor e de cor, com um miúdo na praia com uma toalha a fazer de capa a mudar as cores em tudo à volta. Escusado será dizer que quis experimentar, mas o problema é que havia poucos sítios onde se podiam comprar gelados da Camy nas redondezas. Finalmente experimentei quando eu e os outros miúdos da colónia de férias fomos ao parque de campismo da Golegã e quatro de nós reparámos que o bar vendia gelados da Camy e cada um comprou o seu Happy. Tal como o miúdo do anúncio provámos com toda a solenidade, cada um com a sua toalha a fazer de capa. Mas lembro-me que o(s) sabor(es) não eram nada por aí além e a mudança de cor era devida às várias camadas.
- Anúncio em preto e branco ao Perfume Limara com uma voz feminina a falar em inglês.
- Hoje é uma presença incontestável nas secções de detergente de cada supermercado tuga mas foi só em 1990 que o detergente Persil chegou a Portugal, ou não fôssemos o país do "tarda mas não falta" por excelência. Na altura, queria destacar-se como sendo o detergente mais ecológico sem os fosfatos poluentes dos outros e o anúncio queria transmitir que no resto da Europa, isso já era um hábito, com testemunhos vindos alegadamente dos Países Baixos, Áustria e Suíça.
- Por falar em tarda mas não falta, ainda estávamos a um ano da McDonald's chegar a Portugal e as hamburguerias que cá havia ainda eram muito poucas, por isso a opção então mais viável seria os hamburgers congelados, como os da Iglo (que até vinham com a variedade cheeseburger!). Lembro-me bem deste anúncio ao som de um jingle adaptado de "Happy Together" dos The Turtles em que uma típica cozinha transformava-se numa hamburgueria vistosa e uma senhora idosa até fica a andar à roda depois de provar!
- Para combater o calor do Verão, nada como um ar condicionado Pinguin Delonghi transportável!
- Na altura, se alguém que jogasse no Totoloto quisesse manter o anonimato em caso de prémio tinha de colocar uma cruzinha no quadrado do boletim destinado a esse efeito. Foi o caso de um emigrante na Suíça que assinou essa cruzinha e arrecadou 186 mil contos (cerca de 930 mil euros) sem ter o seu nome divulgado. Recordo-me que houve outra versão deste anúncio mas com um apostador de Guimarães.
- Promoção ao filme "Um Espião No Purgatório" e ao documentário "Os Soviéticos", a serem exibidos na noite seguinte.
- Vinheta da "Lotação Esgotada"
- Isabel Bahia faz o prelúdio do filme "Filhos De Um Deus Menor" com William Hurt e Marlee Matlin, com esta a ganhar o Óscar de Melhor Actriz. (E é verdade, antes da "Lotação Esgotada" havia desenhos animados dos Looney Toons, nomeadamente os do Coiote e do Papa-Léguas.)
- William Hurt numa cena do filme, antes deste curtíssimo bloco com apenas um anúncio.
- Ainda não reparei, mas ainda existem desodorizantes Impulse à venda? Este bem vistoso anunciava uma nova variedade, "Très L.A.", e claro não faltava um desconhecido de repente a oferecer flores a uma beldade que passeia alegremente pela cidade.
- De novo, William Hurt algo admirado, antes de uma nova pausa comercial.
- Mais um anúncio a bronzeadores, desta vez da marca Delial, em tons de amarelo.
- Uma esfregona Vileda a limpar facilmente uma poça de tinta no chão.
- Uma das sempiternas maçadas de Verão são os mosquitos. Para os combater havia o repelente Tabard. "E resulta!"
- Um sensual anúncio ao gelado Rolda Olá, com uma boca feminina e a voz de Helena Ramos num tom bem sensual. (Bem que a Olá podia relançar o Rol!)
- Lembram-se de um anúncio em que um rapaz pedia dois TriNaranjus e dizia que era um para ele e outro para o amigo e mais tarde pede três, alegando que o amigo trouxe a namorada (sendo que o amigo e a namorada era fictícios e era o rapaz que emborcava todo aquele sumo)? Eis então aqui uma sequela em meta-referência com o mesmo actor a fazer de empregado de mesa em que uma jovem pede também dois TriNaranjus mas que adverte logo: "Eu não sou como o outro, eu gosto mesmo de beber dois!" A jovem do anúncio é Mafalda Amorim, mais tarde conhecida como Mafalda Bessa, casada com Nicolau Breyner aquando o falecimento deste.
- As lâminas de barbear Schick Advantage eram equiparadas a um automóvel neste anúncio
- Limpando o chão com Vim Líquido, a limpeza é tal que uma família até come assentada no chão, embora reclame o petiz: "Porque não comemos à mesa como toda a gente?"
- Uma beldade loura chega a casa exausta do trabalho mas logo recupera a energia graças a um belo duche com o gel duche Badedas.
- Para combater as unhas falhadas ou partidas, o endurecedor Durcilong Gemey que até faz o verniz Gemey durar duas vezes mais.
- Um divertido anúncio da Pepsi com o actor Michael J. Fox, que vai à ópera e após uma série de peripécias em busca de uma Pepsi se vê no papel principal do libreto.
- Em mais um episódio de "Portugal tarda mas não falta": um anúncio teaser que dizia Portugal esperou mais de 70 anos por este momento e que por detrás da porta do frigorífico será diferente. Esse mistério era nada menos da chegada da Danone ao nosso país! Fundada em Espanha em 1919, só em 1990 é que este gigante dos lacticínios chegou para cá da fronteira!
- Alcatel Portugal, "a primeira figura no cenário da alta tecnologia".
- Um dos carros da nossa família foi um Volkswagen Golf, por isso é um automóvel pelo qual sempre tive um carinho especial. Neste anúncio, o Golf é representado por uma bola de...golfe e a voz off refere que a cada passo de inovação do Golf, outros quiseram logo seguir as pisadas, mas o dito é inimitável.
- Maria Lurdes Modesto, um dos maiores ícones da culinária nacional, dá o seu aval ao tempero para saladas da Calvé!
- Promo à série "Miller & Mueller", com a americana Suzanne Savoy e a luxemburguesa Desirée Nosbuch (a apresentadora do Festival da Eurovisão de 1984) encarando as personagens titulares. Durante uma estadia na Alemanha, o detective David Miller casa com a sua colega novata germano-americana Kim Mueller, mas quando esta vai com ele para os States, descobre que não só o divórcio de David não está concluído, pelo que continua casado com a suposta ex-mulher Bonnie, como esta é a sua chefe no seu novo trabalho numa esquadra. Para piorar as coisas, David morre misteriosamente antes da situação se resolver, pelo que as duas são obrigadas a trabalhar juntas não só nos casos da esquadra mas para investigar que aconteceu ao marido de ambas. Esta série substituiu o reboot anos 80 de "Missão: Impossível" nas noites de sexta-feira da RTP1.
Bónus: o programa "Vamos Jogar No Totobola" sobre a Base Aérea dos Açores.
Recordamos hoje mais um daqueles filmes que só podiam ter existido nos anos 80. "Manequim" é uma comédia romântica de 1987 realizada por Michael Gottlieb e protagonizado por Andrew McCarthy e Kim Cattrall, sobre um jovem que se apaixona por um manequim, ou melhor, pelo espírito da jovem mulher aprisionada nesse manequim. (Dito assim, até parece que é um filme sobre essa vertente da objectofilia mais fielmente abordada no filme "Lars e o Verdadeiro Amor".)
Jonathan Switcher (McCarthy) é um jovem escultor de Filadélfia cuja sensibilidade artística leva-o a ser constantemente despedido dos seus empregos, já que isso o torna demasiado lento para o trabalho, e é deixado pela sua namorada Roxie (Carole Davis), que não compreende a sua veia artística.
Numa noite chuvosa, Jonathan para diante da montra dos armazéns Prince & Company e repara que está lá um dos manequins que ele criou. No dia seguinte, Jonathan salva Claire Timkin (Estelle Getty), a dona da Prince & Company, de ser atingida pela queda do letreiro da loja e como agradecimento, ordena ao seu gestor Daryl Richards (James Spader) que lhe dê emprego. É então que Jonathan passa a colaborar com Hollywood Montrose (Meshach Taylor), o exuberante e divertido vitrinista dos armazéns.
Certa noite, enquanto Jonathan vai compondo uma montra, fica estupefacto ao ver o manequim que admirara na noite chuvosa ganhar vida, falando e andando como uma mulher a sério (Cattrall). Ela explica que se chama Ema Hesire, ou Emmy, e nasceu no Antigo Egipto, onde um dia, na iminência de ser forçada a um casamento arranjado, refugiou-se numa pirâmide e rogou aos deuses que lhe ajudassem a encontrar o verdadeiro amor. Desde então o seu espírito tem contactado com vários artistas a quem serviu de musa, mas embora tenha conhecido grandes artistas e feito bons amigos, ainda não encontrou o verdadeiro amor que lhe fará novamente ser uma mulher de carne e osso. Emmy previne também que os deuses só a permitem estar na forma humana enquanto ela e Jonathan estiverem sozinhos.
Com a ajuda de Emmy, as montras criadas por Jonathan dão um renovado sucesso à Prince & Company, para mal de Richards (que na verdade é pago pelos armazéns rivais Illustra para arruinar e depois comprar a Prince & Company) e do Capitão Felix Maxwell (G.W. Bailey, num decalque do Tenente Harris de "Academia De Polícia), que sempre antipatizou com Jonathan. Já Hollywood por vezes apanha Jonathan com Emmy (em manequim) e conclui que o amigo tem um relação especial com o manequim, mas não o julga.
BJ Wert (Steve Vinovich), o dono da Illustra, pede a Roxie que convença o ex-namorado a vir trabalhar para eles, mas Jonathan, cada vez mais apaixonado por Emmy e feliz por trabalhar num local onde é valorizado, recusa. Enquanto isso, descontente com as suas atitudes, Claire despede Richards e Maxwell e promove Jonathan a vice-presidente da loja. Certa noite, Jonathan leva Emmy a passear pela cidade na sua mota, indiferente ao facto de ela se transformar em manequim assim que alguém os vir. Só que sucede que Richards e Maxwell os observam e descobrem a fixação de Jonathan pelo manequim. Como tal decidem roubar todos os manequins da Prince & Company.
Ao saber do roubo, Jonathan dirige-se à Illustra com a ajuda de Hollywood para salvar Emmy. Esta está prestes a cair dentro de uma máquina trituradora quando no instante final, Jonathan salva-a e ela torna-se definitivamente humana, sinal de que ele é o seu verdadeiro amor. Wert e Richards ordenam à polícia que prendam Jonathan mas Claire intervém com provas de filmagens de videovigilância do roubo dos manequins. (Quando Jonathan lhe pergunta sobre se ela viu imagens dele com Emmy, Claire diz-lhe para não se preocupar com isso.) No final, Jonathan e Emmy casam-se na montra da Prince & Company, com Hollywood e Claire como padrinhos.
Segundo consta, foi o próprio realizador Michael Gottlieb que teve a ideia para o filme quando um dia viu na montra um manequim, que devido a uma ilusão com luzes, parecia que se mexia. Foram utilizados no filme seis manequins com diferentes expressões, criados por um escultor para o qual Kim Cattrall pousou durante seis semanas. O papel de Jonathan foi inicialmente pensado como sendo o de um homem mais velho, para tentativamente ser interpretado por Dudley Moore, até que se optou por ser reescrita como uma personagem mais jovem. (Aliás na altura Andrew McCarthy tinha 24 anos e Kim Cattrall tinha 30.)
Apesar de ter sido arrasado pela crítica, "Manequim" foi um sucesso de bilheteira, e mais tarde, de aluguer de vídeo. Outro factor importante para o sucesso foi o tema principal, "Nothing's Gonna Stop Us Now" da banda rock Starship, que se tornou um hit global e foi nomeado para o Óscar de Melhor Canção Original. Kim Cattrall teve aqui o seu primeiro grande papel de protagonista (e ainda estávamos a onze anos daquele que seria o seu papel mais célebre em "O Sexo e A Cidade").
Mas o grande destaque é Meshach Taylor, um scene stealer no papel de Hollywood Montrose, que à primeira vista parece ser todo um estereótipo do gay extravagante e colorido (até a cobertura do seu carro é azul com bolinhas vermelhas!) mas numa altura em que a homossexualidade era mostrada em Hollywood ora em meias-tintas ora de forma trágica, um filme onde uma personagem gay confortável na sua pele, que não é julgada (excepto pelos vilões), que tem vida amorosa (ele refere várias vezes o seu namorado Albert) e amigos que o defendem, e que não vira a cara à luta ("As duas coisas que eu mais gosto de fazer é lutar e beijar rapazes!") era algo inovador.
Em 1991, surgiu a sequela, "Manequim de Carne e Osso", que apesar da trama se passar na mesma loja em Filadélfia, entraram apenas dois actores do primeiro filme: Meshach Taylor de novo como Hollywood Montrose e Andrew Hill Newman, que no primeiro filme era o empregado de limpeza que, ao ver Emmy ganhar vida quando Jonathan a salva da máquina trituradora, começa a beijar os outros manequins para ver se alguma deles também se transforma em mulher, e que no segundo é um segurança da loja.