domingo, 6 de novembro de 2016

Earth 2 (1994-95)

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Os fãs de BD ou da recente série de TV "The Flash" podem reconhecer o nome "Earth 2" ("Terra 2") das histórias com universos paralelos, mas o tópico de hoje também é de ficção-cientifica: a série de televisão dos anos 90 "Earth 2", que estreou a 6 de Novembro de 1994. Curiosamente o IMDB indica que terá estreado em Portugal exactamente 4 anos depois, 6 de Novembro de 1998; creio que com o título nacional "Terra 2". Actualização: Entretanto confirmei a data de estreia, 6 de Novembro de 1998, o dia de exibição era às sextas à tarde, na TV2 às 15:30. Apesar de na programação TV a série estar indicada "A Terra", nos meus apontamentos da época refiro por "Terra 2".
Foto: "A Comarga de Arganil" Nº 10794
Ainda segundo a minha investigação, o ultimo episódio terá sido exibido na TV2 a 26 de Março de 1999.


Esta co-produção da Universal e da Amblin de Steven Spielberg durou apenas uma temporada de 22 episódios.
A frase de promoção era "Desta vez, NÓS somos os alienigenas" ("This time, WE are the aliens").


O ano 2192  - 700 anos depois da descoberta da América – é um futuro sombrio. O planeta Terra está a morrer, e a maioria dos terráqueos habitam em estações espaciais. Com o tempo, as crianças começam a nascer com uma estranha debilidade – “O Síndroma”, não reconhecida por médicos e governos - e morrem antes de completar 9 anos de idade.  Quando o jovem Ulysses (Joey Zimmerman) começa a revelar sintomas da doença, a mãe Devon Adair (Debrah Farentino) financia e lidera o “Projecto Eden”, uma missão para colonizar um planeta semelhante à Terra – G889, a 22 anos luz de distância - onde Ulysses e as outras crianças afectadas possam recuperar o contacto com a Natureza, que a Terra inabitável e as estações espaciais impossibilitam. O Conselho tenta sabotar a nave espacial, mas não consegue impedir a viagem de 22 anos até ao novo planeta. No entanto, à chegada a nave despenha-se longe do local programado e os “náufragos” – depois de um sono de mais de duas décadas - vão ter que lutar pela sobrevivência numa superfície de parcos resursos, onde rapidamente descobrem que não estão sozinhos.

Outro dos protagonistas era o engenheiro John Danziger (Clancy Brown, o Krugan de “Duelo Imortal” ou a voz de Lex Luthor em várias séries, filmes e jogos, entre muitos outros papéis) o trabalhador rude e forte mas de bom coração, e pai de True (a actriz J. Madison Wright Morris, que faleceu em 2006 aos 21 anos por complicações cardíacas). Apesar das desconfianças iniciais ao longo da série ambos ganham amizade por Devon e Ulysses. Ulysses, mesmo em estado debilitado vai ser instrumental em comunicar com uma das espécies indígenas, os Terrians.
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Além dessas criaturas telepáticas, existem no planeta os pouco-inteligentes Grendlers, os agressivos Kobas – uma espécie de “macacos” alienígenas – e … alguns humanos, sobreviventes de uma antiga colónia prisional.
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Outros personagens incluiam uma médica geneticamente alterada, Dr. Julia Heller (Jessica Steen, de “Captain Power”) uma agente infiltrada do Conselho; Yale (Sullivan Walker) um ciborgue e antigo criminoso a que a memória foi apagada; o casalinho arrogante e irritante: um funcionário governamental, Morgan Martin (John Gegenhuber) e sua esposa Bess (Rebecca Gayheart) que segundo a Wikipedia cresceu nas minas do planeta Terra.

Outro personagem de destaque foi Alonzo Solace (o modelo e actor Antonio Sabàto Jr.) um piloto de aspecto jovem mas de idade mais avançada, graças ao tempo que passa em animação suspensa durante as viagens. Tenta o suicidio mas os Terrians ajudam-o comunicando com ele através dos sonhos. Ao longo dos episódios foram tratados várias questões sociais – sob a capa sci-fi, obviamente -  como crimes, castigos, o relacionamento com povos indigenas, etc.

Ao longo dos episódios podemos ver algumas caras familiares como os actores Tim Curry (Gaal, um perigoso condenado que controlou e escravizou Terrians e Grendlers) ou Terry O’Quinn ( de “Rocketeer”, “Jovens Pistoleiros” ou “Perdidos”, aqui como Rilley, um membro do Conselho). E claro que uma série de sci-fi não estaria completa sem um robot: Zero, na tradição de robots como o Robby de “Perdidos no Espaço”.

Como as audiências não estavam a ser tão boas como esperado, na segunda temporada seriam feitas mudanças anunciadas nesta promoção:


Posso jurar que algumas das sequências do inicio do video incluem imagens e efeitos visuais do Stargate. Alíás, o video socorre-se de imagens e música de outras produções para tentar transmitir as ideias planeadas para a segunda temporada: episódios com histórias mais contidas, enfâse na aventura e acção; a nível de arco geral: o estabelecimento da colónia no novo planeta, com milhares de pessoas recém acordadas do sono criogénico e a tentar construir a vida num planeta inóspito, e claro, com novos personagens e muitos problemas à vista nomeadamente extraterrestres hostis. Mas, esta segunda temporada não saiu do papel. O ultimo episódio foi emitido em 4 de Junho de 1995, para despero dos fãs – autoapleidados de Edanites - com uma comunidade online bastante activa já na época. O site Outside Comic Con relata que quando mais tarde os fãs e actores viram o vídeo acima, até ficaram aliviados que a segunda temporada – mais “estúpida” e irreconhecível – não tenha sido levada avante.

Pessoalmente, não recordo quantos episódios vi, ou foram exibidos na nossa televisão, mas era uma série de  ficção cientifica que via com bastante interesse, e confesso que tive um crush pela actriz Rebecca Gayheart (“Mitos Urbanos”,”Beverly Hill 90210”, “Scream 2”), que fazia de Bess.

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Enquanto não encontro o genérico inicial, vejam estes vídeos de promoção da época:









Um fã juntou cenas de vários episódios para criar um video de homenagem:



Outro utilizador apresentou uma review da série:





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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Big Brother Portugal 2 (2001)

por Paulo Neto 

Tal foi o impacto do primeiro Big Brother que a TVI percebeu que tinha de continuar a onda. Por isso, a segunda edição nacional do Big Brother estreou apenas três semanas após o final da primeira.
O "Big Brother 2" estreou a 21 de Janeiro de 2001 e terminou a 20 de Maio desse ano, sendo a única edição que não se realizou no último terço do ano. Aliás, à parte a "Academia de Estrelas" em 2002, creio que foi a única edição de um reality show da TVI do molde "pessoas fechadas numa casa" que não se realizou entre Setembro e Dezembro.







As inscrições para o Big Brother 2 começaram ainda durante o decorrer da primeira edição e o número de candidaturas quintuplicou para cerca de 20 mil inscritos. Apesar do curto espaço de tempo entre as duas edições, a casa da Venda do Pinheiro passou por remodelações significativas. Por exemplo, em vez das cores vivas da primeira edição, as paredes eram em tons claros e os designs e o mobiliário tinham inspiração no design tipicamente português. Foram treze os concorrentes que entraram no primeiro dia: Bruno, 22 anos, Barcelos, pasteleiro; Cristina, 35 anos, São Mamede de Infesta, desempregada; Elsa, 25 anos, Portalegre, secretária; Fernando, 23 anos, Olhão, estudante; Henrique, 21 anos, Peniche, estudante; Liliana, 24 anos, Aveiro, agente imobiliária; Maurício, 37 anos, Mogadouro, dentista; Patrícia, 22 anos, Vila Nova de Gaia, estudante; Pedro, 20 anos, Vila Nova de Gaia, estudante e músico; Sérgio, 29 anos, Corroios, empregado numa loja de desporto; Sofia, 22 anos, Odivelas, empregada numa loja de roupa; Verónica, 27 anos, Porto, professora de ginástica; e Vítor, 25 anos, Tavira, DJ e bailarino. Teresa Guilherme e Pedro Miguel Ramos regressaram às suas funções como apresentadores. 
Tal como no primeiro Big Brother, e ao contrário do que acontece actualmente com a "Casa dos Segredos", havia a preocupação para que os concorrentes fossem de certo modo uma amostra da população nacional entre os 20 e 40 anos. Porém, em relação à primeira edição, estes concorrentes já sabiam melhor ao que vinham e estavam mais cientes das regras do jogo, das câmaras e daquilo que podia ou não passar na televisão. Por exemplo, quando Patrícia deixou inadvertidamente cair uma pastilha da boca, exclamou quase instintivamente: "Não passem isto na televisão." (Claro que passou!)
Eis alguns dos destaques do Big Brother 2:
- Foi a única edição do Big Brother a ter uma revista semanal própria dedicada ao programa, onde se noticiavam os acontecimentos na casa e as actividades dos concorrentes das duas edições.
- O tema desta edição foi "Tudo Pode Acontecer", interpretado pelo ex-Excesso João Portugal, que chegou a entrar na casa na segunda semana precisamente para ensinar a canção aos concorrentes.






João Portugal acabaria por ser um habitué deste tipo de temas, tendo também cantado os temas da primeiro edição do Big Brother Famosos e a quarta edição de anónimos.



- A figura mais croma do BB2 foi sem dúvida Elsa. A loira alentejana ficou célebre pela sua voz estridente, vários momentos a condizer com os estereótipos da sua cor de cabelo (inevitavelmente parodiados por Herman José) e sobretudo os beijinhos que mandava sempre para uma quantidade de gente sempre que ia ao confessionário nas galas de terça-feira. Ficou também famoso o então seu namorado, conhecido como o "Xuxu", que era alegadamente um dos termos carinhosos que Elsa lhe chamava (não me recordo qual era o verdadeiro nome dele). Elsa foi porém criticada por não se referir muitas vezes ao seu filho, que estava então à guarda da família do seu ex-marido. (O seu ex-sogro viria a ser uma das vítimas do massacre engendrado por Luís Miguel Militão em Fortaleza no Brasil em Agosto desse ano). Elsa regressou à casa do Big Brother um ano depois como participante na segunda edição do Big Brother Famosos. Actualmente, segundo o blogue de Flávio Furtado, Elsa trabalha na área de formação, tendo tirado um mestrado em Psicologia Clínica.





- Durante a primeira prova colectiva, que consistia numa representação escrita e encenada pelos concorrentes, Fernando destacou-se na sua prestação de tal modo que o jovem algarvio, que após a sua saída, integrou o elenco da telenovela "Olhos de Água" no papel de Samuel, onde teve a oportunidade de contracenar com Ruy de Carvalho e Eunice Muñoz.



- Esta foi também a primeira edição internacional do Big Brother, com a participação de um concorrente brasileiro: Maurício, natural do estado do Rio de Janeiro, que trabalhava como dentista em Trás-Os-Montes. (Provavelmente terá sido mesmo o primeiro concorrente brasileiro de sempre num Big Brother, até porque na altura ainda não havia a edição brasileira). O seu ponto alto foi a sua não-tão-secreta admissão a dois concorrentes que se tinha masturbado. Após a sua saída, Maurício editou um livro dedicado à higiene oral com o título "Sorri Dente"e mais tarde abriu a sua própria rede de clínicas dentárias.



 - O primeiro terço do Big Brother 2 foi marcado pela rivalidade entre Liliana e Verónica, com várias picardias entre ambas e os aliados de cada uma, que culminou num "head-to-head" em que as duas foram nomeadas, tendo sido eliminada a aveirense.
Após a sua saída, Liliana fez parte de um dos momentos mais bizarramente divertidos do "Herman SIC" pois foi a ela que o bruxo Alexandrino tentou em vão hipnotizar enquanto proferia o célebre bordão: "Firme e hirta, como uma barra de ferro".



- Houve algumas questões quanto à sexualidade de Vítor, que trabalhava num bar "gay-friendly" em Tavira como DJ e bailarino, aparecendo com um fato exótico numa das fotos oficiais. Porém, Vítor nunca demonstrou evidências sobre uma possível homossexualidade e até referiu uma certa atracção por Verónica. (ACTUALIZAÇÃO: Vítor Matias faleceu em 2017, aos 41 anos, vítima de cancro.)




- Pedro e Sofia foram um dos casais desta edição. Ambos tinham namorados à entrada para a casa e decidiram terminar com eles no confessionário. Foram divertidos os seus momentos "on again, off again". Sofia foi particularmente criticada por ser a mais preguiçosa da casa e por estar sempre a comer, algo pouco condizente com as suas aspirações como modelo. A relação entre ambos terminou após o programa. Pedro chegou a apresentar uns programas na efémera NTV e a namorar com uma Isabel Figueira pós-Acorrentados e pré-anúncio do trampolim da Maxmen.



- Mas o principal casal do BB2 foi aquele formado por Sérgio e Verónica. Desde cedo notou-se uma química entre os dois, apesar do desconforto dela por ter namorado cá fora. No entanto, a paixão falou mais alto, ao ponto de que os dois estiveram prestes a tornar-se os primeiros concorrentes do Big Brother no mundo inteiro a casarem-se dentro da casa. Porém, o público furou-lhe os planos ao eliminar Verónica uma semana antes da data marcada e Sérgio desistiu imediatamente a seguir. Os dois acabaram mesmo por se casar no dia 24 de Abril, dia de aniversário de Sérgio, numa cerimónia civil junto à casa da Venda do Pinheiro. Eu conheci Sérgio e Verónica pessoalmente no ano seguinte quando os dois tinham uma loja de roupa na Avenida de Roma em Lisboa, onde comprei uma sweat shirt e eles foram exactamente tão porreiros como eu pensava que eles eram. A união entre ambos gerou uma filha e apesar de uma separação seis anos depois, mantêm uma boa relação. Sérgio entrou no reality show "Perdidos Na Tribo" em 2011. Trabalham ambos actualmente no ramo da imobiliária.

Sérgio e Verónica na actualidade com o filho de Sérgio,
que entrou na última temporada de "Morangos Com Açúcar".

Verónica e Sérgio também protagonizaram um momento divertido por alegadamente a sua primeira relação sexual na casa ter durando apenas 57 segundos.



- Houve algumas situações do Big Brother 2 que foram espelhadas da primeira edição. Tal como no BB1, a primeira concorrente eliminada foi Riquita, a única que era casada, também nesta edição, Cristina, a primeira concorrente eliminada, era a única que era casada.
E se no BB1 os concorrentes que substituíram Marco, após a expulsão deste, chamavam-se Carla e Paulo, os concorrentes que entraram após a desistência de Sérgio tinham precisamente os mesmos nomes: Carla (25 anos, Coimbra, estudante) e Paulo (24 anos, Póvoa do Varzim, estudante). Este último até acabou por fazer parte dos quatro finalistas, ao vencer inesperadamente a última ronda de eliminações contra Elsa.

Bruno
- Bruno, o pasteleiro-motard de Barcelos, foi o terceiro classificado, apesar de uma participação bastante discreta, destacando-se apenas o envolvimento com Liliana. Mais atribulada foi a sua vida nos anos seguintes. Tal como Mário do Big Brother 1, também Bruno envolveu-se em problemas com a lei, tendo sido um dos detidos em 2007 numa operação policial num caso de uma alegada rede de assaltos, carjacking e tráfico de armas, do qual viria a ser condenado a pena suspensa.



- Patrícia, também conhecida como Tixa, foi a segunda classificada (e pessoalmente, acho que devia ter sido ela a ganhar). Apesar da sua pouca idade, destacou-se pela sua maturidade. Igualmente marcante foi a sua família, frequentemente presente em estúdio e que era bem internacional, já que ela era filha de pai uruguaio e mãe alemã. Foi também comovente o seu reencontro com a sua irmã Sílvia, portadora de deficiência, que lhe comunicou em primeira mão que o Boavista, o clube delas, tinha sido campeão nacional.


Henrique na altura do BB2 e actualmente



- O vencedor do Big Brother 2 foi Henrique, igualmente conhecido como o Icas. De certa forma, era o concorrente mais parecido com o Zé Maria, o vencedor da primeira edição, com várias momentos de "peixe fora de água", até porque o estudante de História era religioso e na altura ainda considerava tornar-se padre. Foram também divertidos os momentos de brincadeira com Elsa. (ACTUALIZAÇÃO: Henrique é actualmente casado com um cidadão alemão.)

O Big Brother 2 manteve as altas audiências vindas da primeira edição e, juntamente com a entretanto estreada telenovela "Olhos de Água", ajudou a cimentar a TVI como a estação líder do horário nobre nacional e a avançar na liderança total que a estação de Queluz alcançaria nos anos seguintes. Eu segui esta segunda edição tão fervorosamente quanto a primeira, mas já  a terceira edição, estreada ainda em 2001, não foi tão interessante tal como as outras que se seguiram.

Momentos do Big Brother 2


Promo com o Zé Maria:


Best of Sérgio e Verónica



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A Guerra dos Mundos em Portugal (1958)

Aqui na Enciclopédia de Cromos raramente trazemos a máquina do tempo antes dos anos 70, mas há alguns assuntos que merecem a viagem longínqua:
Recupero então um artigo de 2010 para o blog Prometheus31: "Os Marcianos chegaram a Portugal, em 1958".


Ao ler um artigo no blog Vintage69 apercebi-me de que, se é sobejamente conhecida a nível internacional a versão radiofónica de "A Guerra dos Mundos" ("War Of The Worlds" livro de H.G. Wells de 1898) narrada por Orson Welles em 30 de Outubro de 1938, actualmente poucos fora de Portugal se recordarão da versão portuguesa de 1958 da invasão dos marcianos (que não passou despercebida a nível mundial pela imprensa da época). A nível nacional, ocasionalmente ainda é recordada a enorme polémica causada pelo pânico e sugestão colectiva que a emissão interpretada por Álvaro de Lemos - na Rádio Renascença ( a Emissora Católica Portuguesa) e que até tinha sido aprovada pela censura e demais autoridades - causou cá na terrinha. Depois de imensas chamadas telefónicas na rádio, jornais, Polícia e Bombeiros, a Policia interrompeu a emissão, o responsável foi preso por 3 horas e mais tarde interrogado pela PIDE (a famigerada policia política do regime Salazarista). Só horas depois do fim da emissão, a calma retornou, mas entretanto populares e Bombeiros foram até alguns dos locais onde supostamente os extraterrestres estariam a atacar, e milhares de portugueses ficaram desassossegados, enganados pelo realismo das descrições dos repórteres que narravam a "invasão dos marcianos" ao vivo.
Nada melhor que ler um artigo narrado pelo criador da emissão portuguesa de 25 de Maio de 1958,  Matos Maia: Como nasceu "A invasão dos marcianos"


Alguns excertos:

"Em meados da década de 50 li (...) um artigo sobre a "Guerra dos mundos", de Herbert Wells e algumas linhas do guião escrito por Howard Koch, o argumentista do filme "Casablanca".
Achei curioso tentar fazer uma emissão similiar em Portugal, em locais conhecidos, com nomes portugueses.
Reli "A guerra dos mundos" e elaborei uma sinopse do que seria do programa.(...)
(...)A escolha caiu sobre um colega e amigo dos Emissores Associados de Lisboa, Álvaro de Lemos.
Seguiu-se o trabalho de pedir a colegas e a amigos se tinham parentes ou colegas de trabalho que pudessem colaborar. Vozes fortes para comandantes de exército; voz pausada, mas firme para membros do Governo, etc.
Seguiu-se um trabalho de imaginação: inventar ruídos para determinadas situações (...)
Criámos os nossos próprios sons e um dos mais curiosos é o do ruído de multidão assustada e aos gritos. Esse som assim parece no contexto em que foi inserido. No entanto trata-se de uma gravação que fizemos num baile de fim-de-ano na Casa do Algarve que era vizinha dos estúdios da R.R (...)
Desde que escrevi a sinopse até o programa ficar pronto para transmitir, o trabalho durou 11 meses e algumas semanas.
Durante a transmissão começaram a "chover" os telefonemas dos mais variados: angustiantes, curiosos, insultuosos, etc"(...)
(...)um senhor super irritado, dizendo ser o comandante de piquete da PSP no Governo Civil, me ordenava que parasse a transmissão, caso contrário... me mandaria prender (...)
(...)mandou um sub-chefe e três guardas devidamente armados prender-me aos estúdios. Aí a emissão foi interrompida e passaram a transmitir discos.
No Governo Civil compreendi a histeria do graduado: um PBX com 20 linhas estava totalmente bloqueado por pessoas a saber
o que se passava, porque tinham visto incêndios em-Carcavelos (?); qual era a guerra que havia em Vila Nova de Gaia (?), etc.(...)
(...)Para "saber que não se brinca com coisas sérias!" prendeu-me numa cela, durante cerca de 3 horas, como um vulgar meliante.
No dia seguinte todos os jornais tinham manchetes sobre o assunto, uns criticando, pouquíssimos aplaudindo.(...)
Pouco mais de uma semana após a emissão fui levado à PIDE por um agente, para interrogatório.(...)Tinha dois dias para entregar uma lista completa de todos os participantes na "parvoíce" (sic) com nomes, moradas, números de telefonemas, moradas de empregos, números dos B.I., idades, etc., etc.(...)" 
Leia o artigo completo: Como nasceu "A invasão dos marcianos"

Ouça ou faça download da emissão, em 3 ficheiros de MP3:

Reacções na Imprensa da época (Clique sobre as fotos para as ver maiores):















Mais informação:


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sábado, 29 de outubro de 2016

O Nome da Rosa (1986)



"O Nome da Rosa" (lançado em 1986, 16 de Outubro), realizado por Jean-Jacques Annaud (A Guerra do Fogo) é a adaptação do romance homónimo (Il nome della rosa) de Humberto Eco. Foi concebido como uma co-produção da Alemanha Ocidental (pois é crianças, o Muro de Berlim ainda estava de pé), França e Itália. E era na Itália do século XIV que decorria a acção deste filme de assassinato e mistério. A liderar o elenco Sean Connery, como o frade franciscano William de Baskerville, e um jovem Christian Slater como o seu aprendiz Adso.



William de Baskerville é quase um Sherlock Holmes da Idade Média, e parte com Adso para investigar um estranho suicídio numa abadia. E à medida que os corpos se começam a acumular, surgem segredos, personagens duvidosos, uma rapariga selvagem, uma torre proibida. E tudo só se complica com a chegada do inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham). Ron Perlman encarna mais uma figura da sua galeria de monstros, um corcunda louco.



Trailer no Youtube: 



É um filme que vi várias vezes na TV durante a adolescência ( e revi há uns anos) e como tal lembrava-me mais dele por causas de algumas cenas, digamos assim, mais atrevidas entre Adzo e a rapariga....



No entanto, nos visionamentos mais recentes, além do fascínio do mistério entre as paredes da abadia, e da ambientação na retrógrada Idade Média (os historiadores que descansem que não vou apelidar de Idade das Trevas), destaco a crítica à hipocrisia e autoritarismo da Igreja e dos seus representantes, e temos ainda direito a mortes bizarras, autópsias, e claro, o bom trabalho do elenco.

"O Nome da Rosa" ganhou o César de Melhor filme estrangeiro, e dois BAFTAs.



No longínquo ano de 2011, antes da Enciclopédia, publiquei o texto acima no CINE31 , como a primeira parte de um artigo dividido entre mim e a minha eterna sócia Sofia Santos, que nos seus parágrafos define a sociedade da época retratada no filme.
Aconselho portanto a lerem o texto na sua totalidade no blog CINE31 para lerem a parte melhor escrita e mais interessante: "O Nome da Rosa - Mistérios e Assassinatos na Idade Média".


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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"You Spin Me Round (Like A Record)" Dead Or Alive (1984)

por Paulo Neto

O ano de 2016 continua a reclamar mortes no mundo da música e no domingo passado foi a vez de Pete Burns, o vocalista dos Dead Or Alive, vítima de ataque cardíaco aos 57 anos de idade.
Não podendo ser considerados one hit wonders, já que tiveram quatro singles no top 20 britânico e dois no americano, a discografia dos Dead Or Alive fica indelevelmente marcada pelo seu grande sucesso "You Spin Me Round (Like A Record)", uma daquelas canções indispensáveis em festas temáticas e/ou em compilações de música dos anos 80. 



Os Dead Or Alive formaram-se em Liverpool em 1980, após um efémero projecto punk gótico denominado Nightmares In Wax. Apesar desde logo terem-se destacado na cena independente, a notoriedade só começou a surgir em 1984 com o lançamento do primeiro álbum "Sophisticated Boom Boom", que continha uma versão do clássico disco-sound "That's The Way I Like It" de K.C. & The Sunshine Band chegou ao n.º 21 do top britânico. Por esta altura, e após diversas mudanças na formação da banda, os Dead Or Alive eram compostos por Pete Burns, Stephen Coy (bateria), Mike Percy (baixo) e Tim Lever (teclas). Um quinto elemento, Wayne Hussey, deixou a banda pouco antes do lançamento do primeiro álbum. Hussey seria mais tarde guitarrista dos Sisters Of Mercy e vocalista dos The Mission.


"You Spin Me Round (Like A Record)" foi o single de apresentação do segundo álbum "Youthquake". Editado em Novembro de 1984, enveredou numa lenta mas segura escalada pelo top britânico até atingir o primeiro lugar em Março de 1985. Nada mau para uma canção que, segundo Pete Burns, a editora da banda tinha odiado, ao ponto de ter sido a própria banda a financiar a gravação e a produção do vídeo. Foi também o primeiro single n.º1 produzido pelos Stock, Aitken & Waterman que nos anos seguintes seriam a equipa de produtores de maior sucesso. 
Além do Reino Unido, "You Spin Me Round (Like A Record)" foi n.º 1 no Canadá, na Irlanda e na Suíça. Pela sua imagem excêntrica e andrógina, Pete Burns foi comparado a outros cantores da época com o mesmo estilo como Boy George e Marilyn.   
Embora algo longe do sucesso desse tema, os Dead Or Alive continuaram a ter mais algum sucesso com os singles e álbuns seguintes, com destaque para "Lover Come Back To Me", "In Too Deep" , "Brand New Lover" e "Something In My House".   

A partir de finais dos anos 80, o sucesso dos tops desvaneceu mas os Dead Or Alive continuaram sempre no activo, com várias mudanças na formação, da qual Pete Burns e Stephen Coy foram os únicos que resistiram até ao fim, editando mais três álbuns entre 1991 e 2000. Entretanto, "You Spin Me Round" continuou a girar e voltou a fazer sucesso em mais ocasiões: em 1998 pela sua inclusão no filme "The Wedding Singer - Um Casamento Quase Perfeito", em 2003 numa nova versão para promover um álbum best of e em 2006, após a participação Pete Burns numa edição do Big Brother Famosos britânico.





No entanto, nos últimos anos Pete Burns fazia notícia por motivos que nada a tinham a ver com a sua música. Nomeadamente, o seu vício por cirurgias plásticas que o deixaram completamente desfigurado, incluindo uma que rebentou os seus lábios. A sua participação no Big Brother Famosos britânico, onde ficou em quinto lugar, também gerou controvérsia por trazer para a casa um casaco alegadamente feito de pele de gorila. Mais tarde veio-se a descobrir que era na verdade feito de pêlo de outro tipo de macaco e que tinha sido importado antes de artigos com pele deste macaco ter sido considerada ilegal, pelo que não foram apresentadas queixas. 
Curiosamente apesar da sua aparência, Pete Burns esteve casado durante 26 anos com uma mulher, Lynne Corlett, que conheceu quando trabalhavam ambos num salão de cabeleireiro. Sobre a sua sexualidade, afirmou uma vez: "Querem sempre saber: sou gay, bi, trans ou o quê? Eu digo, esqueçam tudo isso. [Para mim] terá de haver uma terminologia completamente diferente e não acho que ainda a inventaram. Sou apenas o Pete."

Pete Burns pode ter morrido mas a sua música continuará viva, nomeadamente uma certa canção que continua a girar nas rádios e nas discotecas um pouco por todo o mundo. Além da versão original e regravações dos Dead Or Alive, "You Spin Me Round (Like A Record)" já foi gravado por outros artistas, como Jessica Simpson, o cantor belga Danzel e a banda de nu metal Dope. Em 2009, o hit internacional "Right Round" de Flo-Rida com a participação de uma então pouco conhecida Kesha, tinha elementos de "You Spin Me Round (Like A Record)". O tema foi também eleito em 2015 como o 17.º mais popular single n.º 1 do top britânico dos anos 80 numa sondagem nacional no Reino Unido.

"Lover Come Back To Me" (1985)



"In Too Deep" (1985)


"Brand New Lover" (1986)


"Something In My House" (1987)

 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Cantigas da Rua (1996-1999) - Parte 2

por Paulo Neto

Há três anos, escrevi sobre o "Cantigas da Rua" (ler aqui), um dos programas que marcaram fortemente a programação da SIC nos anos 90, graças a um concurso de karaoke ao vivo em praças um pouco por todo o país (mas que imperdoavelmente nunca veio à minha cidade, e até penso eu que nem sequer ao distrito de Santarém, creio que a cidade mais perto da minha onde houve um programa foi Óbidos).



Miguel Ângelo e depois José Figueiras apresentavam o programa onde em cada semana cerca de trinta tugas revezavam-se à razão de três concorrentes por canção num palco montado num sítio chave da cidade para cantar os hits do momento ou clássicos do karaoke. Mas sem dúvida que um dos ingredientes do sucesso do programa era a participação do público em cada cidade, fosse para apoiar um concorrente em particular, fosse pela chance de aparecer na televisão ou simplesmente para viver algo diferente na sua cidade, acolhia em massa a assistir às gravações de cada programa, alguns mesmo colocando-se em cima de candeeiros de rua e outros sítios impensáveis.



E é precisamente sobre a participação do público no "Cantigas de Rua" que Teresa Guilherme escreveu duas crónicas sobre dois episódios do programa no seu livro de 2005 "Isso Agora Não Interessa Nada", que reúne crónicas sobre as suas experiências como produtora de programas de televisão, que será interessante compartilhar. 

O primeiro decorreu no ano de estreia do programa em 1996. Conta Teresa Guilherme que os doze programas da primeira série foram filmados em doze dias consecutivos, aqueles que Miguel Ângelo conseguiu disponibilizar da sua preenchidíssima agenda dos Delfins, que estavam então no auge do seu sucesso. Um processo cansativo mas pelo qual todos os envolvidos correram por gosto, como escreve a TG:

"Mal acabávamos de gravar, o palco, as luzes, o carro de exteriores e os trezentos e vinte e cinco mil apetrechos necessários para fazer um programa de televisão eram carregados em camiões, faziam-se à estrada e mudavam de terra.
No dia seguinte, às duas da tarde, lá estava tudo montado noutra praça histórica perto de si, pronto para os ensaios.
Para a nossa equipa foram horas e horas dentro de uma carrinha. Um convívio obrigatório, mas esfuziante e inesquecível. O Miguel Ângelo, habituado às tournées da sua banda, divertia-se a ver o entusiasmo destes «ratinhos» de televisão, habituados à gaiola de estúdio, a curtirem esta saborosa liberdade."  

Apenas a final da primeira série foi gravada mais perto do dia da sua exibição em Setembro de 1996.
No entanto, tal foi o sucesso do "Cantigas da Rua", que Emídio Rangel, o célebre director de programas da SIC de então, achou que não se devia deixar para o próximo Verão o que se podia fazer naquele Outono e Inverno e quis uma segunda série do programa imediatamente a seguir à primeira. E foi assim que todos aqueles envolvidos no programa voltaram à estrada, mesmo sob os frios dos últimos meses do ano. Mas mesmo não abençoado pelo sol estival, o esforço continuou a dar os seus frutos, quer em audiências quer na afluência do público às gravações do programa. Como constatou TG:

"O Emídio Rangel tinha razão. Não é só no Verão que os portugueses estão prontos para uma festa ao ar livre. Estivesse o tempo que estivesse, as praças continuavam a rebentar de público. Enregelado mas com o mesmo calor humano."

A final da segunda série de "Cantigas da Rua" iria ter lugar em Dezembro em Lisboa, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, onde tinha sido gravado o primeiro programa. Para tornar a grande final ainda mais grandiosa, vários cantores conhecidos foram convidados a entrar em dueto com os finalistas amadores que cantavam as respectivas canções, que tanto foram cantadas ao longo de todos aqueles programas pelo país fora, como por exemplo Paulo Gonzo, Olavo Bilac, Sara Tavares, Anabela, Dina e Lara Li. Mas a "estrela" nesse dia foi alguém que não tinha sido convidado mas que se fez notar por todos: o São Pedro.




"Estávamos em Dezembro e o Cantigas Da Rua ainda é do tempo em que chovia no Inverno. E choveu!!! Toda a tarde e toda a noite. Mas não pensem que foi um pinguito aqui, outro ali. A água caiu com a mesma força com que os cantores, amadores e profissionais, brilharam naquele palco.
E o público, onde é que estava? No sítio do costume, à volta do palco, aos milhares, só que com alguma dificuldade em bater palmas por causa dos chapéus-de-chuva."



Pode-se dizer que essa finalíssima foi uma autêntica serenata à chuva digna do filme com Gene Kelly.

O outro episódio do "Cantigas de Rua" que Teresa Guilherme recorda em outra crónica, passou-se em Guimarães, onde o impensável aconteceu e por pouco que um dos programa teria sido gravado sem espectadores ao vivo. Um dos programas foi gravado na encosta do castelo de Guimarães e Teresa Guilherme ficou tão fascinada por aquele local, não só pela sua beleza como também pelo facto da sua vastidão proporcionar a formação de uma enchente humana ainda maior do que era costume, que ficou assente que no ano seguinte a grande final do programa seria lá. E mais uma vez, as coisas correram tão bem que ela decidiu que a cidade-berço da nação seria de novo o palco da final no ano seguinte.  

Eis aqui um  excerto de um dos programas filmados em Guimarães:


 
Mas dessa vez as coisas foram diferentes. Chegada a Guimarães, Teresa reparou que as pessoas que a cumprimentavam também lhe perguntavam o que ela andava a fazer por lá. Ela telefonou então à SIC para saber se o sistema de promoções ao programa durante as emissões do canal estava a funcionar, ao que lhe foi dito que sim. Mas algo estava errado, pois não tardou a ser evidente que os vimaranenses não sabiam que o programa iria ser gravado naquela noite. Deixemos que Teresa Guilherme conte o final da história:

"Ás 20 horas, ninguém na praça. E eu ansiosa.
Às 20h30. Eu ainda mais ansiosa, e ninguém na praça.
Voltei a telefonar para a SIC. Foram investigar.
Às 21h00, eu quase histérica e na praça...ninguém.
E foi aí que a SIC confirmou os meus piores receios. Não tinha ido nenhuma promoção para o ar, avisando os bravos de Guimarães que queríamos o seu apoio. A partir daí, encharcaram a emissão com rodapés informativos que acabavam com um lancinate «Vá já!!!» (e onde podiam muito bem ter acrescentado: «Antes que a Teresa morra!!!»). E, finalmente, as pessoas começaram a chegar. Devagarinho, lá iam subindo a encosta e já passava das dez da noite, quando começámos a gravação com aquilo que, em gíria de espectáculo, poderíamos chamar de uma encosta composta.
Claro que a televisão tem os seus truques. Nunca se mostrou que, daquela vez, a nossa enchente habitual tinha um caudal fraquinho."  

É divertido saber destes episódios por detrás das câmaras e que por detrás do que parece ser uma transmissão irrepreensível de um programa está por vezes uma data de sobressaltos nos bastidores para que chegue aos ecrãs nas melhores condições, não é verdade?

Vídeos bónus:

Excerto de um programa de 1996 gravado no Porto na Avenida dos Aliados


Excerto de um programa em Beja:


Num programa de 1999 em Faro, ouviu-se cantar o fado:


A prestação de Maria da Piedade em Viseu e Guimarães (1999)










quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cenas De Um Casamento (1994-1995)

por Paulo Neto

Até ao início anos 90 em Portugal, parecia que o mundo da televisão era um mundo à parte daquele em que se movimentava o português comum, como se as pessoas da televisão fossem uns chosen ones a quem lhes fora conferido a oportunidade de viver num universo paralelo e quase mitológico, qual Monte Olimpo audiovisual, e só muito ocasionalmente é que o resto da população tinha a oportunidade de ter uma amostra desse universo, sobretudo em reportagens para noticiários e nos concursos. 



Porém a partir dos anos 90, sobretudo com o aparecimento da SIC, a pequena brecha que havia entre o mundo da televisão e o dos portugueses comuns foi gradualmente aumentando, até ser completamente escancarada no início do século XXI. Isto porque a SIC (e a espaços também a RTP e a TVI) levou aos ecrãs nacionais vários programas onde os protagonistas eram os portugueses comuns: aqueles que se queixavam dos problemas da sua localidade no "Praça Pública", aqueles que vestiam literalmente outra pele em busca de um sonho musical no "Chuva de Estrelas", aqueles que tentavam resolver desaguisados da vida no "Perdoa-me", aqueles que procuravam o amor no "All You Need Is Love" ou um ente-querido de quem perderam o contacto no "Ponto de Encontro", aqueles que alinhavam nas loucuras de "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", e por aí fora. 
Outro programa onde portugueses comuns podiam ser os protagonistas foi "Cenas De Um Casamento", que como o nome indicava todos os momentos antes e durante as cerimónias de matrimónio de vários casais tuga um pouco por todo o país e até no estrangeiro. Todo o país ficava assim convidado para assistir a esses casamentos.



Guilherme Leite era o apresentador do programa, exibido na SIC em duas temporadas entre 1994 e 1995, adaptado de um original italiano. A estrutura do programa era mais ou menos a mesma: Guilherme Leite encontrava-se com o noivo e a noiva nas respectivas casas, os noivos contavam a história do namoro e o pedido em casamento, havia uma sequência com o parzinho em cenas românticas e fofinhas ao som de uma canção que eles consideravam marcante para a sua relação e uma visita até à casa onde os dois iriam morar após o casamento. Era nessa altura que Guilherme Leite entregava aos nubentes um cheque com uma quantia em dinheiro (acho que era 200 contos, cerca de 1000 euros) para as ajudas no começo de vida a dois. Por fim, assistia-se à cerimónia do casamento, quase sempre na igreja, e o copo-de-água. (Muito bem deve Guilherme Leite ter comido à pala do programa!) Também me recordo que o momento da chegada da noiva à igreja fazia-se ao som de "A Noiva", interpretado por Max. 





Mas se a estrutura do programa era sempre a mesma, os casamentos assim variavam a cada programa. Casais jovens ou não tão jovens como isso, primeiras ou segundas núpcias, ainda sem ou já com filhos gerados dessa ou de outras uniões, cerimónia na igreja ou no registo civil, celebrações modestas ou faustosas, houve de tudo. Por exemplo, um casamento onde o noivo tocava numa banda de heavy metal!
A cerimónia mais abastada que eu me recordo de ter visto no programa incluiu os noivos a chegarem de helicóptero ao recinto do copo-de-água e uma actuação da cantora Anabela, que obviamente cantou "A Cidade (Até Ser Dia)". 
Se não me falha a memória, o programa dava nas noites de terça-feira e mais tarde passou para as tardes de sábado.


Infelizmente os excertos de episódios deste programa no YouTube foram retirados.


Manteiga Mimosa

Uma singela publicidade a um produto singelo: manteiga. Neste caso a Manteiga Mimosa. A portuguesa Mimosa está no mercado desde 1973, começando com leite e já nos anos 80 com productos lácteos (1) como o deste reclame.

Detalhe do pacote da manteiga Mimosa da época:
Comparemos com uma embalagem actual:
A identidade base permanece identificável, mesmo com três décadas de diferença.
(1) Mimosa: Missão, Valores e História.

Publicidade retirada da revista Maria, dos anos 80. 
Imagem Digitalizada e Editada por Enciclopédia de Cromos.


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