O Paulo Neto já falou, e muito bem, sobre este disco na Enciclopédia de Cromos: "Joel Branco - "Uma Árvore, Um Amigo", mas não podia evitar de abordá-lo novamente, pelo seu estatuto na memória de uma geração, porque hoje é o Dia Mundial da Árvore e porque tive a sorte de conseguir um exemplar deste single numa feira de velharias alguns meses atrás. Quero partilhar então as capas que digitalizei, para poderem apreciar melhor a deliciosa ilustração da capa frontal, um grupo de crianças a dançar de mão dada e redor de uma árvore com uma cara feliz. Junto ás crianças a mascote do Nesquik, o Cangurik e um miúdo bizarro com a cabeça do adulto Joel Branco.
Ao lado da placa cravada na testa da amigável árvore com o nome do tema principal "Uma Árvore, Um Amigo!", a rapariga de vestido verde diz num balão de diálogo a outra canção: "Piquenique, Piquenique!")
A direcção de orquestra e coros esteve a cargo de Shegundo Galarza, com os coros de elementos do Grupo Infantil da TAP. As canções foram obra de inimitável Carlos Paião e cantadas por Joel Branco ("O Romance da Raposa").
E na capa traseira, as letras das duas faixas para cantar enquanto se escutava o vinil a tocar no gira-discos.Curiosamente, não correspondem 100% à letra da música:
Uma árvore, um amigo que devemos bem tratar Um amigo de verdade tão fiel como a amizade que podemos cultivar. Sabes que uma árvore é um pouco de beleza que protege a natureza e purifica o nosso ar Dá-nos a madeira e tanta coisa que fascina A cortiça ou a resina mais a fruta no pomar Oh! Vamos fazer uma floresta vem, plantar amigo uma festa tão rica e modesta vamos semear uma árvore, um amigo... (refrão) Sabes que uma árvore é um bem de toda a gente Não estragues o ambiente não lhe sujes o lugar Vamos, vamos, vamos defender a nossa vida que uma árvore esquecida pode ás vezes ajudar. Sim, vamos fazer uma floresta Vem, plantar amigo uma festa tão rica e modesta vamos semear
Piquenique, piquenique, piquenique, mais um piquenique
Piquenique, piquenique, piquenique, vamos passear
Piquenique, piquenique, piquenique, mais um piquenique
Piquenique, piquenique, piquenique, todos a cantar.
Talvez haja um pinheiro
que é bravo, altaneiro,
deixando a resina escorrer
ou um outro que é manso
mais sombra e descanso
com pinhas, pinhões p'ra comer
Eucaliptos a par
que nos deixam no ar
um cheirinho que só nos faz bem
Um sobreiro em repouso
de tronco rugoso
com cortiça e bolotas também
lá vamos
piquenique, piquenique... (refrão)
Castanheiros que dão
uns amigos que são
as castanhas que alguém assará
Um carvalho imponente
parece que é gente
Azinheiras, bolotas, sei lá!
E mais tarde, na hora
de irmos embora
apanhamos o lixo em redor
É bonito o asseio
sujar é tão feio
com tudo limpinho é melhor
lá vamos
piquenique, piquenique... (refrão)
Como podem confirmar ao ouvir a música, a "Piquenique, Piquenique!" está recheada de pequenos apartes com exclamações apropriadas á situação: "Manel, não te esqueças do farnel!", "Isabel estás toda suja de mel", "Oh João não te sentes no chão", "Oh Zé não faças banzé!", "Oh Luís, tens uma formiga no nariz!", entre outras.
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Na Enciclopédia já tinhamos visto publicidade à "Socidel" (Sociedade Comercial de Artigos de Desporto, Lda) de 1982 (aqui), mas neste "antepassado" de 1974, em vez de cartoon temos uma foto de um senhor com o obrigatório bigode a mergulhar de arpão na mão.
Publicidade retirada da revista Mundo de Aventuras Nº 40, de 1974. Uploader original desconhecido. Imagem Editada e Recuperada por Enciclopédia de Cromos.
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O filme de Walt Disney que retrata o conto de fadas "A Bela Adormecida" é de 1959, mas estreou em Portugal em 1961 e alguns anos depois esta colecção de cromos da Agência Portuguesa de Revistas chegou ás bancas, provavelmente na segunda edição.
Publicidade retirada da revista Mundo de Aventuras Nº 705, de 1963. Uploader original desconhecido. Imagem Editada e Recuperada por Enciclopédia de Cromos.
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"Os Abismos da Meia-Noite" podia ter o subtítulo "Aquele filme em que a Helena Isabel e o Rui Mendes aparecem em pelota". Mais coisas se passam no filme, mas pouco mais interessa ao público que ver duas estrelas nacionais nuas em cenários e situações surrealistas.
No século passado vi o filme - de título completo "Os Abismos da Meia-Noite ou as Fontes Mágicas de Gerénia" - na RTP 2, na altura em que foram emitidos outros do realizador como o "Emissários de Khalom" (que anseio por rever, pela temática de ficção cientifica, raríssima no cinema português). Vi o filme, mas pouco mais recordo que precisamente essa cena. Como mencionado acima, os protagonistas eram Helena Isabel e o Rui Mendes, este último ainda antes do sucesso "Duarte e Companhia", mas conhecido principalmente do teatro, da novela "Origens", "Retalhos da vida de um médico", por exemplo; e Helena Isabel também já era uma figura bem familiar no pequeno ecrã, em papéis em "Vila Faia", "O Tal Canal" e participações no Festival da Canção (1974 "Canção Solidao"; 1980 "Um Abraço, Mais Nada"; 1983 "E afinal, Quem és tu?" a melhor classificação e umas ombreiras épicas, e 1984 "(Já) Pode ser tarde" ).
O IMDB indica a estreia na data de 27 de Janeiro de 1984 (o primeiro filme português a estrear nesse ano, segundo o "Diário de Lisboa") na semana em que estrearam "Staying Alive" (a esquecida sequela de "Saturday Night Fever"), "48 Horas" ou "Feliz Natal Mr. Lawrence". O "Diário de Lisboa" desse dia adianta uma sinopse e um apelo à sua visualização:
"Realiza-o António Macedo sobre um argumento tecido em torno de uma história "fantástica": um casal que penetra através de uma porta mágica, que se abre uma vez por ano, nos confins de um castelo medieval. (...) uma produção cuidada e com algum fôlego comercial, Os abismos da meia-noite merece que se goste ou não mas não ser recebido com indiferença."
Logo no ínicio o espectador é confrontado com uma situação onírica, com elementos esotéricos e sexuais pouco subtis, para regressar ao mundo real e esses mesmo elementos voltarem a infiltrar-se as poucos na história. O "casal" da sinopse era Ricardo (Rui Mendes),um professor de história, conhecedor das lendas locais que auxilia Irene (Helena Isabel), uma agente de seguros a investigar a morte de um bibliotecário.
Olhando ao cartaz publicado no jornal, apesar da breve cena de nú frontal dos protagonistas, a película ganhou o selo "Maiores de 12 anos" ("A Lagoa Azul", em reposição na mesma época, era "não aconselhável a menores de 13 anos") e tentava os futuros espectadores com um sideboob de Helena Isabel:
Acho deliciosas as exclamações "Finalmente cinema na nossa língua", um reflexo do afastamento de décadas do público e das produções cinematográficas nacionais; e "Uma história fabulosa de amor e "suspense"!" E no rodapé, chama-se a atenção para o lançamento da banda sonora, algo raríssimo para filmes portugueses. Falando nisso, a "banda musical" esteve a cargo de António de Sousa Dias ("Os Emissários de Khalom", "Chá Forte com limão"), filho do realizador e que se estreava na área da música para cinema. A peculiar fotografia foi responsabilidade de Elso Roque ("O Anel Mágico", "Manhã Submersa"), com cenografia de António Casimiro.
Nota: Aspecto geral do LP da "música do filme". Fotos encontradas num site de vendas:
O realizador António de Macedo, (que neste caso também escreveu e editou a longa metragem), parte do chamado "Novo Cinema Português", construiu uma carreira repleta de OVNIs cinematográficos, algumas polémicas e luta contra a censura, arriscando em géneros desprezados e evitados pelos colegas e crítica como se tivessem a peste. Segundo o que li em várias fontes online, "Os Abismos.." alcançou um assinalável sucesso comercial, considerando que é um filme nacional.
Investigando na imprensa da altura, uma entrevista na RTP-1 a António de Macedo no programa "Viva a Cultura", no dia da estreia:
"Na carreira de António de Macedo este filme é marcante. Pela primeira vez consegue harmonizar o pendor industrial que está subjacente a quase toda a sua obra e o seu universo filosófico pessoal, feito de referências orientalizantes mais ou menos esotéricas. Não sendo um excelente filme, é um trabalho tecnicamente muito cuidado onde todas as coisas funcionam sem nenhuma delas ser excepcional".
"Diário de Lisboa 03/02/1984"
Há algum tempo consegui uma cópia da película, mas não tive oportunidade de assistir. Entretanto, a recente disponibilização na íntegra no Youtube fez-me resgatar os velhos rascunhos e completar o cromo.
O filme completo no Youtube, cortesia do CinemaXunga:
Nuno Markl dedicou ao filme não um, mas dois cromos da "Cadeneta de Cromos", com criação da campanha "Vamos ajudar o Markl a ver o Abismos da Meia-Noite", com direito a jingle e tudo!
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De vez em quando, um acontecimento dramático da vida de cidadãos comuns acaba por ganhar uma dimensão global, devido à cobertura mediática. Na década de 80, um desses casos mais célebres foi o da pequena Jessica McClure.
No dia 14 de Outubro de 1987, na cidade de Midland no Texas, Jessica, de 18 meses, caiu num poço petróleo abandonado com 6,7m de profundidade e 20cm de largura, sendo resgatada ao fim de 58 horas. O poço ficava perto do quintal da sua tia, onde Jessica brincava com outras crianças sob a supervisão da sua mãe Cissy. A queda no poço terá acontecido quando Cissy deixou de vigiar as crianças para atender uma chamada telefónica.
À medida que se uniam esforços para retirar a criança, a cobertura mediática rapidamente alcançou dimensões nacionais e depois globais. Lembro-me que na altura, a RTP interrompia a programação habitual para dar novidades sobre a situação. Sendo então o único canal temático de informação nos Estados Unidos, a CNN beneficiou de fazer uma cobertura a tempo inteiro para alcançar as suas primeiras grandes audiências (antes de se notabilizar pela cobertura da Guerra do Golfo). Segundo a CNN, chegavam à redacção mensagens de todo o mundo com votos de apoio à família McClure e soluções para retirar a menina do poço.
Para o salvamento, foi aberto um buraco paralelo ao poço utilizando a então inovadora técnica de corte com jactos de água para depois escavar um pequeno túnel perto do local onde a bebé estaria, para lhe aplicarem as ligaduras e o equipamento pelo qual seria içada à superfície. Ao fim de mais de dois dias aprisionada no poço, Jessica finalmente regressou à superfície.
Foi submetida a quinze cirurgias para tratar os efeitos da queda e da subnutrição, incluindo a amputação de um dedo do pé gangrenado.
Jessica e os pais com o Presidente George H.W. Bush
Jessica McClure-Morales em 2017 com o marido e os filhos
No próximo dia 26 de Março, Jessica McClure completa 29 anos. É casada desde 2006 com Daniel Morales, de quem tem dois filhos. Jessica não tem quaisquer memórias em primeira mão do acidente que a tornou famosa. Além do dedo do pé amputado, tem ainda como marcas uma cicatriz na testa e uma artrite reumatóide crónica. Em 2011, teve acesso ao fundo de donativos que lhe foi criado com o qual comprou a casa onde vive com a família (e que fica apenas a três quilómetros do poço onde caiu).
A história do salvamento de Jessica foi transposta para um telefilme em 1990, "Everybody's Baby: The Rescue of Jessica McClure", com Beau Bridges e Patty Duke. Inspirou também o episódio dos Simpsons "Radio Bart", onde Bart inventa uma história de um miúdo chamado Timmy O'Toole caído num poço que gera uma onda de solidariedade em Springfield. Mas quando Bart cai mesmo no poço e confessa a sua tramóia, só terá a ajuda da família e de Sting.
Imagens do salvamento foram utilizadas no videoclip "Man In The Mirror" de Michael Jackson e no filme "V de Vendetta".
"Chogurte", além de soar a uma pessoa com a boca cheia de comida a dizer "Sr. Iogurte", é um daqueles produtos - a julgar pela reacção dos fãs da "Caderneta de Cromos" em 2010 e pela quase inexistente informação online - que algumas pessoas julgam nunca ter existido, como os unicórnios. Encontrei uma versão desta publicidade, aqui. Mas, a publicidade do "Chogurte" que trago hoje é em live action:
"Eu???.... Eu como chogurte!"
Close-up da embalagem deste chocolate da marca Aliança, "chocolate com yoghurt":
Este chocolate com recheio de yoghurt tem o aspecto de qualquer coisa que eu iria adorar...
A versão desenhada, com menos pontos de interrogação:
O Google informa-me que existe "Ghogurt", iogurte de...chouriço. No, gracias....
Publicidade retirada da revista Spirou Nº 2, de 1979. Uploader original desconhecido. Imagem Editada e Recuperada por Enciclopédia de Cromos.
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Ele há ideias que são tão absurdas que só podem mesmo dar certo. Foi o que aconteceu em 1999 quando um hino à cor azul tornou-se um êxito internacional. E não, não falo de "A Cor Azul" dos Delfins, embora seja corrente a obsessão que Miguel Ângelo tem por essa cor (que aliás também é a minha preferida, sobretudo o tom turquesa).
A introdução da canção fala por si mesmo:
Yo, listen up this is a story
About a little guy that lives in a blue world,
And all day and all night everything he sees
Is just blue like him, inside and outside
Blue his house and a blue little window
And a blue Corvette
And everything is blue for him
And himself and everybody around
'Cause he ain't got nobody to listen to...
Sim, adivinharam. Trata-se de "Blue (Da Ba Dee)" do trio italiano Eiffel 65, uma daqueles tesourinhos do euro-pop dos anos 90 que tinha tanto de irritante como de viciante.
Jeffrey Jey, Gabry Ponte, Maury Lobina
Os Eiffel 65 eram compostos por Gianfranco "Jeffrey Jey" Randone (nascido a 5 de Janeiro de 1970 em Lentini na Sicília), Gabriele "Gabry" Ponte (nascido a 20 de Abril de 1973 em Turim) e Maurizio "Maury" Lobina (nascido a 30 de Outubro de 1973 em Asti). Os três já tinham vasta experiência na música quando se reuniram para um projecto em comum. Segundo eles, não se conseguiam decidir sobre o nome a dar ao grupo pelo que deixaram que fosse um programa de computador a escolher. Eiffel foi o nome escolhido, mas como alguém tinha escrito a lápis por lapso o número 65 no papel enviado para ao designer gráfico, a primeira impressão da capa do single "Blue (Da Ba Dee)" acabou por vir com o nome e o número juntos. O trio ficou surpreendido mas decidiu adoptar então o nome Eiffel 65.
"Blue (Da Ba Dee)" foi portanto o primeiro tema que os Eiffel 65 compuseram juntos, baseado numa melodia de piano escrita alguns anos antes por Maury Lobina. Segundo Jeffrey Jey, que foi o autor da letra, o tema da cor azul surgiu ao acaso. E como não faziam intenção de ter uma letra muito elaborada para a canção, foi só martelar a palavra "blue" várias vezes.
O grupo com Zorotl, o extra-terrestre protaginista dos videoclips
Igualmente célebre é o respectivo videoclip em animação 3D, onde Jeffrey Jey é raptado por um grupo de extraterrestres azuis. Ponte e Lobina viajam ao planeta deles para salvá-lo mas no final descobrem que os alienígenas são na verdade fãs do grupo e da canção, por razões óbvias.
Num dos muitos casos de algo tão mau que dá a volta e fica bom, "Blue (Da Ba Dee)" tornou-se imediatamente um sucesso à escala mundial, atingido o n.º 1 dos tops da Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e Reino Unido (onde vendeu mais de um milhão de cópias). Chegou ao n.º 6 do top americano e foi nomeado em 2001 para o Grammy para Melhor Tema Dance.
No início de 2000, os Eiffel 65 lançaram o single seguinte "Move Your Body" que também conheceu algum sucesso, tendo sido n.º 1 na Áustria e em França.
Porém nem o álbum de estreia "Europop" nem os singles subsequentes como "Too Much Of Heaven" conseguiram prolongar o êxito internacional. No entanto os Eiffel 65 gravaram mais dois álbuns cujo sucesso ficou restringido a Itália (o terceiro álbum, com o nome do grupo, tinha só canções em italiano). Também fizeram remisturas para temas de artistas como Toni Braxton, Bloodhound Gang e S Club 7.
O trio separou-se em 2005 com os três membros a quererem seguir projectos a solo mas desde 2010 que voltaram a actuar em conjunto ocasionalmente e parece que um novo álbum está na calha.
Entretanto, o legado de "Blue (Da Ba Dee)" continua. Em 2009, foi samplado para o tema "Sugar" de Flo-Rida e em 2013, foi incluído na banda sonora do filme "O Homem de Ferro 3", o que levou o tema a reentrar no top 40 britânico. Só me espanta que o tema nunca se tenha tornado um must das claques do FC Porto ou do Belenenses…
Os anos 90 foram porventura a década mais marcante da televisão em Portugal. Primeiro porque as recém-chegadas televisões privadas souberam corresponder ao desejo dos portugueses por algo novo no panorama audiovisual. O que justifica que em apenas três anos a SIC tenha conseguido assegurar a liderança das audiências e até mesmo a TVI, apesar de longe do domínio que alcançaria no dealbar do século XXI, foi também deixando o seu contributo para essa mudança.
Mas até a RTP no início dos anos 90, antes de se embrenhar na guerra das audiências, fazia por cultivar uma imagem de modernidade, a condizer com as mudanças em Portugal após a sua integração na CEE e, como se vai ver, conseguia juntar uma oferta de programação bem variada e de qualidade.
Foi também nos anos 90 que a RTP começou a ter as suas primeiras campanhas de autopromoção. Em 1990, promoveu o slogan "Gostamos de estar consigo" mas sem dúvida que o mais marcante produto de autopromoção da RTP foi este jingle dos idos de 1991 e 1992 da RTP1 (na altura denominada Canal 1) com o slogan "Somos o Primeiro", interpretado por Tó Leal e que vinha acompanhado deste videoclip com várias imagens de transeuntes em Lisboa a levantarem entusiasticamente o dedo indicador (e cenas de filmes conhecidos que foram exibidos nessa altura).
Somos o primeiro, somos o primeiro
Somos o primeiro, somos o primeiro a chegar
No teu olhar, um mundo inteiro
Sempre a mudar
Vamos onde queres chegar
Somos o primeiro
No mundo inteiro, no mundo inteiro,
somos o primeiro a chegar
No mundo inteiro, no mundo inteiro,
somos o primeiro a chegar
Há uns dias deparei-me no YouTube (obrigado ao canal Helderhugo*) com o programa de apresentação da grelha da RTP1, emitido a 15 de Setembro de 1991, para os últimos meses de 1991 e primeiro semestre de 1992, um período onde a RTP comemorava os 35 anos das primeiras emissões na Feira Popular e das emissões regulares. Foi impossível não sentir uma boa dose de nostalgia ao recordar as imagens históricas e alguns destes programas que foram exibidos nessa altura, alguns dos quais já referimos aqui no blog.
* o vídeo original tinha sido retirado do YouTube, mas foi recuperado pelo canal O Tal Antiquado.
Eis alguns destaques do vídeo:
"Quem Tramou Roger Rabbit" foi um dos filmes exibidos na RTP em 1991
- Os filmes a serem exibidos nesses meses: "Bom Dia Vietname", "Jardins de Pedra", "Amadeus", "La Bamba", "Peggy Sue Casou-se", "A Fúria do Herói", "Rambo 3", "A Mosca", "Quem Tramou Roger Rabbit", "Crocodilo Dundee 2", "Wall Street", "Cinema Paraíso", "Mulheres À Beira de um Ataque de Nervos", "Nove Semanas e Meia" e "Sexo, Mentiras e Vídeo".
Entre a programação infantil, destacava-se a segunda série da "Rua Sésamo" com a gata Tita
- Sílvia Alves e Pedro Mourinho, na altura as duas caras principais do "Caderno Diário" o lendário programa de informação para os mais jovens apresentavam as novidades da programação infanto-juvenil: "Tu Cá, Tu Lá" programa de debate para os mais jovens moderado por Paulo Salvador (hoje um rosto da TVI), "O Castelo da Aventura", "As Aventuras no Lago do Arco-Íris" uma série animada que eu me lembro de ser muito deprimente pois o tal "sapo pobre" não só sofria o bullying de outros sapos como tinha que evitar ser comido por outros animais, "No Reino da Aventura", "No Tempo dos Afonsinhos" série de marionetas sobre a vida numa aldeia em Portugal nos tempos antes de Cristo do mesmo autor de "Os Amigos do Gaspar", a produção neozelandesa "Os Caçadores de Ouro", a nova série da "Rua Sésamo" onde surgiu a gata Tita, "Winjin Pom" e "Vitaminas", um dos mais psicadélicos programas infantis nacionais.
- Herman José e Nicolau Breyner recuperam o seu lendário número do "Senhor Contente e Senhor Feliz" para louvarem as novidades do Canal 1.
- Quanto a programas musicais destaque para concertos de Carlos do Carmo, Fernando Pereira, Gipsy Kings, Peter Gabriel e Paul McCartney, além do evento "Um Dia No Alentejo" que contou com artistas como Mafalda Veiga e a estreia do "Top +", o programa que divulgava a lista dos álbuns mais vendidos em Portugal.
- Júlio Isidro num sketch sem palavras para a divulgação do seu novo programa "E.T. - Entretenimento Total" para as tardes de domingo.
- No bloco dedicado à publicidade, foi apresentada uma suposta nova vinheta da RTC com um close-up de um olho azul a piscar. Porém essa vinheta acabou por não ser utilizada, tendo-se optado por esta aqui em cima.
- Entre os programas de documentários, anunciava-se a estreia em 1992 da série nacional "Gente Remota", "Desafios da Vida" com Richard Attenborough, "National Geographic", "Time Line", "Sob Um Sol Escaldante", "A Década da Destruição" que denunciava os crimes contra o meio-ambiente dos anos 80 e "Paragem No Tempo" que olhava os acontecimentos dos últimos cinquenta anos.
"A Rainha da Sucata" uma telenovela de sucesso com Regina Duarte e Tony Ramos
- Quanto a telenovelas, aguardava-se a estreia em Portugal "A Rainha da Sucata" a célebre telenovela protagonizada por Regina Duarte e Tony Ramos, na calha para substituir "Sassá Mutema" e de "Riviera" uma telenovela co-produzida por várias estações europeias pensada um pouco como as "soap-operas" americanas e cuja acção passava no ultra-glamouroso cenário da Riviera francesa.
"Os Simpsons" estrearam em Portugal em 1991
- Um dos programas mais aguardados da rentrée era sem dúvida a estreia em Portugal de "Os Simpsons", que rapidamente conquistaram portugueses de todos as idades e se fizeram acompanhar por uma parafernália de merchandising. Outra série que estreava na altura era "Carol e Companhia", o programa de sketches da famosa comediante Carol Burnett.
- Para o réveillon, havia a garantia de risos com Herman José de novo a conduzir as entradas no novo ano, depois de "Crime Na Pensão Estrelinha" na passagem de 1990 para 1991. Neste vídeo, Herman José dizia que o programa iria chamar-se "O Tal Canal - Especial" mas acabou-se por ser denominada "Hermanias - Especial de Fim de Ano", que já teve cromo aqui na Enciclopédia. Foi neste programa, por exemplo, que surgiu o famoso sketch do "Eu é mais bolos".
- Ainda na produção nacional, destaque para as mini-séries "Aquela Cativa" que revisitava a vida e obra de Camões, "O Mandarim" adaptação da obra de Eça de Queirós e "O Café do Ambriz", o porto por onde se enviava o café produzido em Angola cuja direcção ousou desafiar o Regime do Estado Novo. Em 1992, haveria também a estreia da adaptação de um das principais obras nacionais do século XX "Mau Tempo No Canal" de Vitorino Nemésio.
Lynn Whitfield como Josephine Baker
- Quanto a séries internacionais: "A História de Josephine Baker" mini-série sobre a artista-ícone dos anos 20, "A - Série de Ouro" que adaptava obras da literatura americana, "Traffik" uma série britânica que em 1999 viria a ser adaptada para o filme "Traffic- Ninguém Sai Ileso", "Viagem de Terror - O Caso Achille Lauro" sobre o ataque terrorista de 1985 ao paquete desse nome, "Chimera" sob a investigação médica, "A Lei de Murphy" e a quinta parte de "O Polvo", a primeira após a morte do protagonista inicial o Comissário Corrado Cattani.
- Foi em 1991 que Manuel Luís Goucha começou a afirmar-se como o rei das manhãs televisivas em Portugal, ao conduzir o programa matinal "Bom Dia" em parceria com Júlio Magalhães (curiosamente agora ambos na TVI). O programa marcava também uma mudança na emissão da RTP que passava a iniciar as suas emissões a partir das 7:30 da manhã. Destaque ainda para o regresso do concurso "Jogo de Cartas", agora apresentado por Serenella Andrade.
- Outra grande aposta da nova grelha nesta temporada foram os talk-shows, com duas estreias: "Os Olhos da Lua" com Raul Solnado e "Conversa Afiada" com Joaquim Letria.
- Quanto ao desporto, anunciava-se o alargamento do "Remate", espaço da informação desportiva e a cobertura dos dois grandes eventos desportivos de 1992: os Jogos Olímpicos de Barcelona e o Europeu de Futebol na Suécia.
- Por fim e após as palavras de honra de José Eduardo Moniz, então director do Canal 1, o final apoteótico com mais outro hino do "primeiro" nas vozes de João Braga, Trio Odemira, Herman José, Fernando Pereira, Isabel Capelo, Tó Leal e Dulce Pontes, terminando com quase todas as caras da estação a formarem um enorme 1 no Campo Grande (acho eu).
Numa altura em que são correntes as críticas quanto à falta de qualidade e originalidade na programação das estações generalistas (em particular da RTP), não há como sentir nostalgia ao ver este vídeo.