Ao que parece, os primeiros registos da palavra bitch (o termo inglês para um canídeo do sexo feminino, vulgo cadela) como um termo vulgar e depreciativo datam do século XIV, resultante da comparação de uma mulher considerada sexualmente depravada a uma cadela com cio. Ao longo dos tempos, o termo insultuoso alargou-se a outros possíveis defeitos que uma mulher pudesse ter (sobretudo mulheres agressivas, controladoras e/ou maliciosas) e partir dos anos 60, o termo "bitch" também foi reclamado e subvertido pelas correntes feministas para designar mulheres fortes e insubmissas. No entanto, no mundo anglo-saxónico o termo ainda é considerado bastante ofensivo e só há uma mão-cheia de anos é que tem escapada a alguma censura no cinema, na televisão e na música.
Em 1997, o termo "bitch" ganhou outra dimensão ao ser o título de um hit global para Meredith Brooks, que assim alcançava o sucesso que perseguia desde inícios dos anos 80.
Meredith Ann Brooks nasceu 12 de Junho de 1958 (ela não parecia nada ter 39 anos em 1997, pois não?) no estado de Oregon e iniciou a sua actividade na música em 1976 primeiro numa banda de nome Sapphire, depois a solo e novamente numa banda feminina, The Graces, de que também fazia parte Charlotte Caffey das Go-Go's. A cada etapa da carreira, Brooks foi ganhando mais atenção e após o fim das The Graces em 1991, dedicou-se de novo a uma carreira a solo e conseguiu um contracto com a Capitol Records para um disco.
Esse disco acabou por "Blurring Down The Edges", o álbum que continha "Bitch", que tinha tudo para ser o grande hit que foi. No entanto, foi só à última que a editora aceitou em manter o título em vez da alternativa sugerida "Nothing In Between", e mesmo assim, algumas lojas de discos venderam o single com a palavra tapada e algumas estações de rádio abstiveram-se de pronunciar o título.
Mas se a polémica do título deu o seu contributo para o sucesso, a verdade é que o tema era uma pérola pop-rock, que falava sobre todas as faces que uma mulher pode ter e de como não se deve rotular ninguém, tal como reza no mítico refrão que muita gente cantou sem censura e sem reservas: "I'm a bitch, I'm a lover,/I'm a child, I'm a mother,/ I'm a sinner, I'm a saint,/ I do not feel ashamed/ I'm your hell, I'm your dream/I'm nothing in between/ You know you wouldn't want it any other way.".
"Bitch" foi um sucesso mundial, tendo sido n.º 2 nos tops dos Estados Unidos, Canadá e Austrália e disco de prata no Reino Unido. Brooks referiu certa vez que recusou propostas para gravar versões censuradas para certos países (por exemplo, na Tailândia, queriam que ela trocasse "Bitch" por "Witch"). "Bitch" integrou a lista da VH1 para as 100 melhores canções dos anos 90, no 79.º lugar.
"Bitch" foi ainda nomeado para dois Grammys e Meredith Brooks actuou pelo mundo inteiro, mas nem sempre foi recebida com entusiasmo. Em 1998, ao fazer a primeira parte de um concerto dos Rolling Stones na Argentina, Brooks viu vários objectos serem-lhe arremessados por um público demasiado ansioso para ver os Stones. Em 2000, "Bitch" foi incluído na banda sonora do filme "O Que As Mulheres Querem".
Os dois seguintes singles do álbum tiveram alguma notoriedade: "I Need" e "What Would Happen" (onde no respectivo videoclip, Meredith Brooks fazia o papel de uma mulher envolvida numa atracção mútua por um padre). Meredith Brooks editou desde então mais três álbuns, incluindo o disco infantil "If I Could Be" de 2007. O tema-título do seu álbum 2004 "Shine" foi utilizado como o tema do programa do Dr. Phil. Actualmente Meredith Brooks dedica-se a compôr e produzir para outros artistas.
Nos meados dos anos 90, houve uma vaga de várias cantoras rock que incluíam nomes como Brooks, Liz Phair, Sheryl Crow, Leah Andreone, Fiona Apple e Tracy Bonham, e com Alanis Morissette como o nome mais sonante. Daí que por vezes haja uma confusão de quem ache que "Bitch" era uma canção de Morissette. Ao ponto de, tal como há no YouTube vídeos em que Bob Marley é tido como o intérprete de "Bad Boys" dos Inner Circle e "Don't Worry Be Happy" de Bobby McFerrin (como se Marley tivesse gravado todas as canções de reggae à face da Terra), há quem tenha feito algo assim:
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