quarta-feira, 17 de maio de 2017

O maravilhoso mundo dos achocolatados

por Paulo Neto

Eu acho que a maioria de nós passámos na infância por um período em que beber leite tal como ele vinha no pacote sem acrescentar mais nada é das coisas menos apetecíveis de ingerir. Pelo menos eu recordo-me de que entre os quatro e os nove anos, era-me inconcebível beber leite branco sem pelo menos deitar um pouco de açúcar. Ocasiões houve onde também os meus pais deitavam um pouco do café que faziam de manhã ao pequeno-almoço no meu leite. Mas claro que durante esse período, a minha forma preferencial de consumir leite era dissolvendo nele umas boas colheradas de um qualquer achocolatado solúvel. E felizmente, vivia-se então numa época onde a oferta de marcas de achocolatados era maior que nunca, se bem que fui praticamente fiel a duas marcas.

Entretanto, à medida que me aproximava dos dez anos, devo ter pensado para comigo que era altura de deixar de ser menino e passar a beber o leite tal como ele veio do pacote para o copo sem juntar nada, como qualquer garoto com idade de dois dígitos que se preze. E embora tenha continuado até hoje a apreciar muito beber ocasionalmente leite com chocolate, foi o fim do período da minha mais intensa relação com os achocolatados.  

Neste texto, pretendo recordar algumas das marcas mais populares de achocolatados solúveis dos anos 80. Qual destas era a vossa preferida?

Coqui: É curioso como praticamente todas as marcas de achocolatados da minha infância continuam disponíveis nas prateleiras dos supermercados, prontas a deliciar as novas gerações. É o caso do Coqui que se manteve firme no mercados apesar de há já várias décadas não se lhe conhecerem campanhas ou anúncios televisivos. O único anúncio que me recordo é ainda da primeira metade dos anos 80 que terminava em freeze frame com uma rapariga de cabelo encaracolado a erguer bem alto um copo de leite com Coqui enquanto se ouvia o jingle: "Leite só com Coqui!" 
Produzido pela empresa Disfala na Amadora, mesmo sem grandes campanhas, o Coqui pode não ter tantos adeptos quanto outras marcas, mas sem dúvida que os que tem são fidelíssimos. Aconselho uma visita ao site ofical da marca. Tal é a constância do Coqui que a embalagem de lata com losangos pouco mudou desde 1969. Não me lembro de ter provado alguma vez leite com Coqui, mas recordo-me de ver em casa de algumas pessoas. Há também quem recorde que por vezes traziam copos de vidro como oferta.



Ovomaltine: Esta marca de origem suíça continua bastante popular em todo o mundo. Eu só me recordo ter provado uma ou duas vezes em casa de familiares. O que mais me recordo era de um jingle radiofónico: "Ovomaltine é sabor, Ovomaltine é vigor!". Porque sim, era uma das marcas de achocolatados que eram publicitadas com os benefícios de dar energia em actividades específicas. E aparentemente a principal particularidade do Ovomaltine era conter extractos de ovo na sua composição. Embora a embalagem de Ovomaltine tenha passado por várias alterações desde a sua primeira produção em 1904, o fundo laranja tem sido uma constante.




Alsa Chocdrink: Já falámos aqui do momento em que a Alsa, por excelência a grande marca das mousses de chocolate, aventurou-se também no mercado dos achocolatados com o Chocdrink, durante uma análise a um bloco publicitário de 1991, que continha um anúncio onde um grupo de miúdos se reúne em casa de um deles para beber esse divino néctar achocolatado (um desse miúdos era um Kapinha pré-adolescente). Não sei se o Chocdrink continua à venda ou se Alsa voltou a dedicar-se somente às sobremesas instantâneas, mas recordo-me que o sabor era assaz delicioso e que tinha uns grãos semelhantes ao do Nescafé.


Milo: Creio que nunca provei Milo, mas lembro-me bastante bem de ver nas mercearias as embalagens de lata de cor verde com a imagem de um atleta. Como aliás se pode ver neste anúncio de 1983, era outra marca de achocolatados que promovia como uma fonte de energia para a actividade física, sublinhando que era um produto "vitaminado". (Embora hoje em dia seja algo discutível como um produto rico em açúcar ocupe um lugar de destaque numa alimentação saudável).
O Milo andou vários anos desaparecido das prateleiras dos supermercados nacionais, mas desde há alguns anos (creio que desde que a "Caderneta de Cromos" lamentou a sua ausência cá em Portugal), regressou aos nossos estabelecimentos comerciais.





Toddy: Criado em 1930 pelo porto-riquenho Pedro Santiago, Toddy permanece como o mais popular achocolatado da América Latina, tendo o seu sucesso chegado também à Península  Ibérica. Embora também houvesse a vertente de leite em chocolate numa garrafa (tipo UCAL), o achocolatado em pó teve mais sucesso em Portugal, sobretudo quando oferecia o famoso Toddy-cóptero, uma traquitana colorida que entreteve muito petiz nos anos 80. Eu lembro-me de ter tido pelo menos dois Toddy-cópteros.




Recordo-me também de um anúncio televisivo sobre um miúdo que está à baliza num jogo de futebol e não consegue defender os remates da equipa adversária. Perante a frustração do garoto, o treinador aproxima-se dele e canta-lhe em playback o jingle brasileiro: "Já tomou o seu Toddy hoje?". Outra coisa que recordo do Toddy é que foi o único a também ter um pó solúvel com sabor a morango.


Nesquik: Revelação chocante: nunca gostei de Nesquik! Gostava muito das mascotes; primeiro o Cangurik e depois o coelho Quicky, mas das vezes que bebi achei o sabor algo sofrível. Mas não há como negar que foi sempre talvez a marca líder, ou não viesse do gigante Nestlé.


No entanto, sempre fui muito fã dos Cereais Nesquik com aquelas deliciosas bolas de chocolate.
Em mais um caso de um anúncio que não está no YouTube mas de que me recordo, havia aquele em que um adulto em voz-off perguntava a um miúdo: "Gostas de leite?" ao que o garoto fazia uma cara feia. De novo o adulto "E com Nesquik?", e então o miúdo exclamava: "Haha!". O que confirmava que eu estava longe de ser o único a torcer o nariz ao leite branco não adoçado.



Cola Cao: E chegámos às minhas marcas de eleição. O Cola Cao foi sem dúvida um dos meus achocolatados preferidos de sempre. Não só por ser dos mais icónicos, com a sua eterna embalagem de plástico amarela e tampa vermelha mas também porque era dos que tinham um sabor a chocolate mais apurado. 

Tal como outras marcas também o Cola Cao, a mais popular criação do grupo alimentar espanhol Nutrexpa, apostava forte numa ligação às actividades de desporto. Por exemplo, lembro-me de uma campanha de anúncios anos 80 em que vários petizes viam os seus treinadores e/ou ídolos desportivos em acção até que estes se dirigiam para eles e diziam "agora tu, campeão" se fosse um rapaz ou "vamos, agora tu" se fosse uma rapariga ao que os garotos, após emborcarem um copo de leite com Cola Cao, se lançavam com afinco na ginástica, nos remates de futebol ou qualquer que fosse o desporto, terminando com o mítico jingle: "Cola Cao, ajuda com força, Cola Cao". Também encontrei este anúncio de 1986 com vários petizes em actividade física.




Como se essa ligação com o desporto não fosse suficiente, a Cola Cao também associou-se aos Jogos Olímpicos. Muitos recordam que por altura dos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles, vinham também com as embalagens uns bonecos semelhantes aos da Playmobil que seriam os atletas que entrariam a acção num estádio olímpico feito de cartão que acho que era preciso encomendar, enviando os rótulos das embalagens e nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988, ofereciam t-shirts e sweatshirts oficiais do evento.





Suchard Express: Não obstante, o meu achocolatado de eleição era o Suchard Express (ou como dizia a minha mãe, o Chuchar Express). Primeiro, era o que na minha opinião tinha o melhor sabor. Segundo, era o que era mais delicioso nessa outra instituição de infância que é comer achocolatados em pó à colherada, até ter os dentes e os lábios todos castanhos. Terceiro, era o que se dissolvia melhor no leite. E quarto, tinha o mais mítico anúncio a achocolatados de sempre, do começo em estilo banda desenhada, ao cão São Bernardo com a embalagem de Suchard Express na coleira, passando pelo inevitável torcer de nariz do rapaz ao ver um copo de leite ("Leite? Salvo!") aos pais a entrarem sorrateiramente no quarto, culminando com o pai a beber o copo de leite e Suchard Express, copo esse onde parece que o São Bernardo andou previamente a meter as fuças. 



 E agora, caros leitores da Enciclopédia de Cromos, digam qual era o vosso achocolatado preferido? Será um destes, ou outro que porventura foi esquecido neste texto?


sábado, 13 de maio de 2017

TOP 16 Festival Eurovisão da Canção (David Martins)


A Enciclopédia tem já uma quantidade apreciável de artigos sobre os Festivais da Canção e da Eurovisão [com direito a página dedicada e tudo] e o Paulo Neto é o nosso especialista no assunto, mas visto que há uns anos escrevinhei um Top do Festival da Canção - custou muito escolher as "finalistas"! - mais tarde ou mais cedo tinha que vir o meu Top do Festival da Eurovisão.
Obviamente, não vi ao vivo todos os escolhidos, no ano de alguns deles eu ainda estava "espalmado", mas conheci-os de retrospectivas do Festival ou por terem entrado para a cultura pop.
Nota: Enquanto estava a terminar este artigo estava a ouvir na televisão a votação do Festival da Eurovisão de 2017 e o impensável sucedeu: Portugal ganhou, com a canção "Amar pelos dois" interpretado pelo peculiar Salvador Sobral. Em 49 participações, desde 1964, algum dia tinha que ser!
Vamos então ver a minha lista pessoal, por nenhuma ordem especial, o meu TOP 16 do Festival da Eurovisão:


"Waterloo" ABBA (1974)

Semanas antes da Revolução dos Cravos, os suecos ABBA desencadeavam uma revolução musical do palco da Eurovisão para o Mundo.


"Dschinghis Khan" (Gengis Khan) - Dschinghis_Khan (1979)


Como a Alemanha Ocidental não podia levar uma canção sobre o Führer levaram esta extravagancia dançável baseada no sex symbol (!), herói, líder, genocida mongol Gengis Khan, pela banda homónima. Ficou em 4º lugar.



"Puppet on a String" Sandie Shaw (1967)


A entrada britânica que se tornou um êxito internacional, com direito até um cover da grande Simone de Oliveira: "Marionette".



"Yo soy aquel" Raphael (1966)


A sexta participação da Espanha no Festival saldou-se com o 7º lugar. Os nossos leitores menos velhos poderão reconhecê-la como a canção do genérico da novela portuguesa "Vingança". Essa mesmo, cantada pelos Anjos. Os jovens do antigamente decerto recordam a versão "Eu sou aquele" de Tony de Matos (obrigado ao Paulo Neto que mo recordou).


"Après Toi" Vicky Leandros (1972)


Tenho impressão que tenho este vinil algures cá por casa, que "emigrou" de França para Portugal no final dos anos 70.



"L'Oiseau Et L'Enfant" Marie Myriam (1977)


A representar a França, a cantora luso-francesa Marie Myriam (Myriam Lopes Elmosnino) que conquistou o primeiro lugar no certame desse ano em Londres.



"Hallelujah" Gali Atari e Milk and Honey (1979)


Contagiante tema, até para os ateus! Cá no burgo, António Sala versão bigodaça e o grupo Maranata fizeram a versão em português: "Aleluia".


"Un banc, un arbre, une rue" Séverine (1971)


Mais um que me parece bem familiar, talvez tenha ouvido muito pequeno.



"L'amour Est Bleu" Vicky Leandros (1967)


A primeira participação da grega Vicky Leandros na Eurovisão, aqui a representar o Luxemburgo, ficou em 4º lugar, mas continua a ser uma das músicas de mais sucesso dos anos 60 e com muitas versões.


"Nocturne" Secret Garden (1995)


Quase totalmente instrumental, o tema do duo irlando-norueguês (Fionnuala Sherry e Rolf Løvland) hipnotizou a plateia. E quando a voz da convidada Gunnhild Tvinnereim se ouve, arrepia...



"J'aime La Vie" Sandra Kim (1986)


Clássico dos anos 80. O Paulo Neto já lhe dedicou um cromo aqui na Enciclopédia.




"A-Ba-Ni-Bi" Izhar Cohen e Alphabeta (1978)


O ritmo parece um pouco tolo, mas é divertida. Não faço ideia sobre o que é a letra.

"La La La" Massiel (1968)


Nuestros hermanos levaram provavelmente a canção mais repetitiva de sempre, mas fica no ouvido.



"Poupée de cire, poupée de son" France Gall (1965)


Cantada por uma jovem "bonequinha" a letra da canção - de Serge Gainsbourg  - é cheia de duplos sentidos irónicos e cínicos.




"Save Your Kisses for Me" Brotherhood of Man (1976)


O Reino Unido sagrou-se campeão com esta música simpática e  que fica no ouvido.

Menções Honrosas:








segunda-feira, 8 de maio de 2017

Festival da Eurovisão 1987

por Paulo Neto

Na semana em que tem lugar o Festival da Canção deste ano na Ucrânia (boa sorte para o nosso Salvador Sobral!), voltamos a revisitar mais uma edição antiga deste certame, nomeadamente aquela que se realizou há trinta anos atrás na Bélgica.



O 32.º Festival da Eurovisão teve lugar a 9 de Maio de 1987 no Palais du Centenaire em Bruxelas, na virtude da vitória alcançada pela muito jovem Sandra Kim no ano anterior (que continua a ser a única vitória da Bélgica até ao momento). A apresentação esteva a cargo de Sonia Dronier, uma cantora e actriz franco-belga que respondia pelo nome artístico de Viktor Lazlo (sim, como a personagem de "Casablanca") e que durante o intervalo cantou o seu tema "Breathless".



Foi a maior edição até então em termos de países participantes, com o regresso da Itália e Grécia, ausentes no ano transacto, num total de 22 países. Como a Bélgica é uma das pátrias da banda desenhada, os postais ilustrados incluíam uma interacção entre os cantores de cada país e uma personagem de BD, como Tintin, Spirou ou (no caso de Portugal) Gaston. Maria Margarida Gaspar fez os comentários para a RTP e Ana Zanatti foi a portadora dos votos de Portugal.



Seyyal Tayer & Lokomotif (Turquia)
Plastic Bertrand (Luxemburgo)

Como sempre, iremos recordar as canções por ordem inversa à classificação. Infelizmente há sempre alguém que tem de ficar em último e neste ano, a palma calhou à Turquia que não teve um pontito sequer. O que é pena pois a canção turca, "Sarkim Sevgi Ustune", ("a minha canção é sobre amor") era bastante animada e Seyyal Taner, uma consagrada cantora e actriz turca, teve uma performance cheia de energia em palco, acompanhada pelo grupo Lokomotif. 
O Luxemburgo meio que tentou jogar em casa em Bruxelas, pois foi representado pelo cantor belga Plastic Bertrand, que em 1978 teve um hit internacional com "Ça Plane Pour Moi". Na Bélgica, o cantor de seu verdadeiro nome Roger Jouret percorreu energicamente por todo o palco no seu vistos casaco fuschia com o tema "Amour Amour", mas não convenceu a Europa que só lhe deu quatro pontos (dois dos quais de Portugal).

Gary Lux (Áustria)
Patricia Kraus

Gary Lux, o representante da Áustria, já era um veterano nestas andanças, contando já a sua quarta participação no Festival da Eurovisão, a segunda como solista. Infelizmente e ao contrário do respeitável oitavo lugar que conseguiu dois anos antes, desta vez quedou-se no antepenúltimo lugar com oito pontos, cantando "Nur Noch Gefühl" ("apenas emoção").
A vizinha Espanha ficou na posição seguinte, 19.º com dez pontos (todos dados pela Grécia!). A sua representante foi Patricia Kraus que cantou "No Estás Solo". Filha do famoso tenor Alfredo Kraus, Patricia apresentou-se em palco com um look completamente eighties, da maquilhagem carregada à écharpe verde-lima, passando por um corpete preto.

Nevada (Portugal)
Carol Rich (Suíça)

Portugal não conseguiu muito melhor que nuestros hermanos, já que não fomos além do 18.º lugar com 15 pontos (8 de Espanha, 5 da Grécia e 2 da Alemanha). "Neste Barco À Vela" do grupo Nevada, duo composto por Alfredo Azinheira e Jorge Mendes, não é das nossas canções eurovisivas mais recordadas, mas devo admitir que até acho um tema bem interessada por misturar sonoridades eighties com acordes de fado. Após o Festival, Jorge Mendes deixou o projecto para uma carreira a solo e Alfredo Azinheira ainda continuou a actuar sob o nome Nevada, com as cantoras que fizeram o coro. 
A Suíça foi o último país a actuar, e para não variar, foi uma actuação bem enérgica e com roupas bem anos 80. Carol Rich e os seus acompanhantes não pararam quietos em palco a interpretar "Moitié Moitié" ("metade-metade"), obtendo o 17.º lugar com 26 pontos. Após o Festival, Carol Rich chegou a vir a Portugal, actuando no "Clube Amigos Disney". Embora este seja o momento mais notado da sua carreira, ela continua activa na música.

Halla Margaret (Islândia)
Vicky Rosti (Finlândia)

Após a estreia na Eurovisão no ano anterior, a Islândia elegeu para a sua segunda participante a angelical Halla Margaret que cantou a balada "Haegt Og Hljott" ("lenta e silenciosamente"), que repetiu a mesma posição da Islândia no ano anterior, o 16.º lugar, mas desta vez com mais pontos, num total de 28. Hoje em dia, a canção é recordada sobretudo pela parte em que parece que Halla diz "anus, anus in the air". Actualmente, Halla Margaret é cantora de ópera.
A participação da Finlândia marcava o regresso à vida artística, Vicky Rosti, uma das principais estrelas do rock finlandês dos anos 70, após uma longa pausa para maternidade. Acompanhada pelo grupo Boulevard, Rosti cantou "Sata Salamaa" ("cem relâmpagos"), obtendo o 15.º lugar com 32 pontos. Na minha opinião, merecia bem mais.  

Christine Minier (França)
Rikki (Reino Unido)

Foi um pouco por acaso que Christine Minier acabou a representar a França nesse ano, já que na altura trabalhava como cabeleireira e as cantigas eram pouco mais que um hobby. Ainda assim, foi escolhida como a representante gaulesa, cantando "Les Mots D'Amour N'Ont Pas De Dimanche" ("as palavras de amor não têm domingos", ficando em 14.º lugar com 44 pontos. 
Por incrível que pareça, o 13.º lugar do Reino Unido foi o pior resultado deste país até então, que aliás ainda só tinha ficado fora do top 10 em 1978, malgrado o esforço do intérprete, o escocês Rikki Pebbles, e da coreografia dos coristas.

Lotta Engberg (Suécia)
Liliane Saint-Pierre (Bélgica)

Originalmente, a canção da Suécia chamava-se "Fyra Buga & En Coca-Cola" ("quatro pastilhas e uma Coca-Cola"), mas por devido às normas da publicidade internacional, foi alterada para "Boogaloo". Apesar de ser sueco, o tema remetia para sonoridades tropicais. A cantora Lotta Engberg fizera coro na canção sueca que venceu em 1984 e desde então tem tido uma bem-sucedida carreira no seu país. Em Bruxelas, a Suécia ficou em 12.º lugar com 50 pontos.
Em 11.º lugar  com 56 pontos ficou a canção do país da casa. A representante da Bélgica era Liliana Saint-Pierre, na altura já uma veterana, e uma das mais famosas cantoras da Bélgica flamenga. Como o título indica, "Soldiers Of Love" era cantado em flamengo mas tinha alguns versos em inglês. Em palco, os dois guitarristas que a acompanhavam fizeram alguns movimentos coreográficos em que as guitarras eram como armas.

Bang (Grécia)
Kate Gulbrandsen (Noruega)

Ausente no ano anterior, a Grécia teve um bom regresso ao Festival, abrindo o top 10 com 64 pontos. O duo Bang era composto por Thanos Kaliris e Vassilis Dertilis. Embora o grupo produzisse sobretudo temas electro-pop, "Stop", o tema que levaram à Eurovisão, remetia a sonoridades dos anos 50 e 60 e à banda sonora de "Grease". Uma das cantoras do coro, Marianna Efstathiou, seria a representante da Grécia em 1989 e 1996. Entre finais dos anos 80 e inícios dos anos 90, os Bang foram o grupo grego com maior notoriedade internacional, até ao seu fim em 1992 quando Thanos Kalliris enveredou por uma carreira a solo.
A Noruega foi o país que abriu o desfile de canções, terminado depois em nono lugar com 56 pontos. Apesar do seu visual de roqueira que culminava num penteado absolutamente estratosférico, Kate Gulbrandsen cantou uma bonita e emotiva balada "Mitt Liv" (minha vida").  

Lazy Bums (Israel)
Alexia (Chipre)

A canção de Israel gerou muito controvérsia no seu país, ao ponto do ministro da Cultura local ter ameaçado sair do cargo caso se confirmasse "Shir Habatlanim" ("a canção dos preguiçosos") como o tema representante israelita em Bruxelas, mas tal não aconteceu. A actuação dos comediantes Avi Kushner e Natan Datner, sob o nome Lazy Bums, foi absolutamente hilariante, fazendo lembrar os Blues Brothers e esse humor convenceu, dando a Israel 73 pontos e o oitavo lugar.
Depois do último lugar no ano anterior, as coisas correram melhor a Chipre em 1987, conseguindo o sétimo lugar com 80 pontos. Alexia Vassilou fez parte do grupo Island, que em 1981, foram os primeiros representantes cipriotas na Eurovisão, e seis anos depois, voltava a solo, interpretando o tema "Aspro Mavro" ("branco-preto"). A sua actuação foi uma espécie de passagem de testemunho já que a acompanhá-la em palco estavam três futuros representantes de Chipre no Festival: o bailarino Anastasio (1990) e as cantoras do coro Elena Patroclou (1991) e Evridiki (1992, 1994 e 2007).  

Marcha (Holanda)
Anne-Cathrine Erdorff & Banjo (Dinamarca)

Holanda e Dinamarca repartiram o quinto lugar com 83 pontos. A Holanda fez-se representar pela cantora Marga Bult, que para a sua participação eurovisiva actuou sob o nome de Marcha, para cantar "Rechtop In De Wind" ("direita contra o vento"). Desde 2000, Marcha tem actuado nos Países Baixos e além fronteiras com outras duas representantes eurovisivas holandesas sob o nome de Dutch Divas. 
Anne-Catherine Erdorf foi a representante dinamarquesa. Acompanhada pelo grupo Banjo, cantou "En Lille Melodie" ("uma pequena melodia"). Esta participação foi o ponto de partida carreira de Erdorf que desde então tem-se repartido entre o canto e a representação.

Novi Fosili (Jugoslávia)
Raf & Umberto Tozzi (Itália)
Wind (Alemanha)

Representando a Jugoslávia esteve o grupo croata Novi Fosili que levou a Bruxelas o tema "Ja Sa Zam Ples" ("quero uma dança"). Com uma divertida actuação em palco, onde se destacou a simpatia da vocalista Sanja Dolezal, a Jugoslávia obteve o quarto lugar com 92 pontos, o melhor resultado até então do país. 
A Itália apostou forte num dueto entre dois dos seus cantores mais famosos da altura, Umberto Tozzi e Raffaele "Raf" Riafolli. Curiosamente, ambos tiveram um dos seus maiores hits versionados pela cantora americana Laura Brannigan ("Gloria" e "Self Control"). Em Bruxelas, Tozzi e Raf uniram forças e vozes num belíssimo tema "Gente Di Mare", que lhes valeu o 3.º lugar com 103 pontos, incluindo 12 de Portugal. 
O grupo Wind tinham conseguido o segundo lugar para a Alemanha na Eurovisão em 1985, e não é que dois anos mais tarde ficaram em segundo outra vez? No entanto, apenas três elementos da formação de 1985 continuavam em 1987, a vocalista Petra Scheeser, o teclista Alexander Heiler e o baterista Sami Kalifa. A acompanhá-los em palco, nos coros e na guitarra, estava Rob Pilatus que anos mais tarde seria parte do infame duo Milli Vanilli. O tema "Lass Die Sonne In Dein Hertz" ("deixa entrar o sol no teu coração" foi composto pela dupla Ralph Siegel e Bernd Meinunger, autores da canção que dera a vitória a Alemanha em 1982. Desta feita, a participação germânica ficou com o segundo lugar com 141 pontos. Os Wind voltariam para uma terceira participação em 1992.

Johnny Logan (Irlanda)



Mas o Festival da Eurovisão em 1987 seria marcado pela vitória da Irlanda, a terceira do país...e a segunda do intérprete, Em 1980, o irlandês de origem australiana Johnny Logan alcançara a vitória com "What's Another Year" e sete anos depois, voltou a ganhar o certame em 1987 com a esmagadora balada "Hold Me Now", que reuniu 172 pontos. Foi a primeira vez e até agora única que o mesmo cantor ganhava duas vezes o Festival da Eurovisão. Esse feito tornou Johnny Logan num dos mais lendários ícones da Eurovisão, ganhando o epíteto de "Senhor Eurovisão". Como se não bastasse, Logan obteria uma terceira vitória em 1992, como autor da canção vencedora "Why Me", interpretada por Linda Martin.

Festival da Eurovisão 1987 na íntegra (comentários em holandês)


Excertos da transmissão para a RTP (comentários de Maria Margarida Gaspar):















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