Pela primeira vez na Enciclopédia, vou falar de um filme que nunca vi e que do qual só ouvi falar há dois anos, quando adquiri o livro "A Bíblia dos Anos 80" da autoria de João Pedro Bandeira. E achei muito estranho nunca ter ouvido falar neste filme antes porque não só Sónia Braga é uma actriz muito acarinhada cá em Portugal desde que revolucionou os hábitos televisivos nacionais na telenovela "Gabriela" e como tal, a sua carreira, quer no Brasil quer na América, tem sido bem acompanhada e recordada pela nossa comunicação social como o simples conceito de "Sónia Braga nua num filme erótico" devia ser algo que devia ficar bem gravado na memória nacional, quase tanto como a célebre imagem de Gabriela a subir ao telhado.
No entanto, a verdade é que na altura o filme causou sensação em Portugal, quando estreou cá a 15 de Novembro de 1981. Segundo o livro supramencionado, 170 mil espectadores acorreram para ver "Eu Te Amo", realizado pelo controverso cineasta Arnaldo Jabor, para ver a estrela de "Gabriela", "Dancin' Days" e do filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" num filme de forte carga erótica e alguma nudez explícita. O furor era tal que houve quem chamasse ao filme "O Último Tango no Rio de Janeiro", numa clara comparação ao filme de Bernardo Bertolucci que fez sensação no Portugal pós-25 de Abril.
Pelo que pude apurar, a história é bastante simples. Paulo (Paulo César Pereio) é um industrial falido, obrigado a vender a sua outrora próspera fábrica de roupa interior aos americanos, e recém-abandonado pela sua esposa. Mónica (Sónia Braga) é uma mulher que sofre com um amor não correspondido por Ulisses (Tarcísio Meira), um homem casado. Os dois conhecem-se num bar, onde ela faz-se passar por prostituta e diz-se chamar Maria.
Paulo convida-a para o seu sumptuoso e futurista apartamento onde os dois se entregam a uma relação que ambos tencionam manter como puramente sexual, até que percebem que estão se a apaixonar um pelo outro.
Os diálogos são bastante surrealistas mas ao mesmo tempo intensos, como prova esta cena onde Sónia Braga demonstra o seu talento (que lhe valeu o troféu Charles Chaplin no Festival de Cannes).
E perguntam vocês: "Então e aquelas cenas mais puxadas?". Vejam aqui um exemplo.
Além de Braga, Pereio e Meira, o elenco conta também com nomes conhecidos como Vera Fischer e Regina Casé. E a banda sonora não podia ser mais bem entregue: Tom Jobim e Chico Buarque. Eis o tema principal, na voz de Buarque e Telma Costa:
Mantendo o tom surreal do filme, este termina com os dois protagonistas num número musical ao estilo de Ginger Rogers e Fred Astaire.
Como se vê, é um filme com muitos pontos de interesse a descobrir e que supostamente devia ter permanecido no imaginário português, mas que hoje em dia está esquecido, tal como acontece com "Os Abismos da Meia-Noite". RTP 2, faça favor de exibir em breve este filme... Ou mesmo a SIC, que agora capitaliza com a exibição da nova versão de "Gabriela".
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