O Outono de 1992 prometia ser dos mais quentes a nível televisivo, pois ditou o fim do monopólio da RTP, com o início de emissões das televisões privadas, primeiro a SIC logo em Outubro desse ano e a TVI uns meses depois, ambas prometendo formas de ver televisão diferentes a que Portugal estava habituado.
Por isso, para fazer parte a este inédito desafio de concorrência, a RTP puxou dos seus galões e levou a cabo uma das suas mais marcantes "rentrées" televisivas. Há alguns anos, já fizemos um artigo sobre os programas da RTP1 que marcaram essa grelha, alguns dos quais que se tornariam bastante icónicos.
Mas seria a RTP2 que então passaria por uma mudança mais profunda, a começar por uma nova nomenclatura, talvez inspirada pelo sucesso do branding da RTP1 como Canal 1 em 1990. Foi então que a 14 de Setembro de 1992, "nascia" uma nova TV, a TV2. E com ela, um novo logótipo, uma nova grelha, novos separadores, novo genérico de abertura e um novo fecho.
Apesar de pessoalmente, em termos de gráficos e logótipo, eu preferir a era da RTP2 que precedeu esta (a tal com os separadores com as frutas) e que vinha desde 1990, esta também foi uma forte era nesse aspecto. Foi também nesta era que eu por fim tive a RTP 2 em minha casa, quando, pouco antes do Natal desse ano, os senhores que foram instalar uma antena parabólica na minha casa antiga também sintonizaram a RTP2 e a SIC na nossa televisão, pondo fim a doze anos em que eu estive limitado à RTP1 e apenas podendo ver o segundo canal em casa alheia.
Pelo que pude apurar, o logótipo da TV2 foi escolhido através de um concurso destinado a publicitários, tendo a escolha recaído sobre a proposta da brasileira Mónika Cabral, da agência Young & Rubicam.
A campanha desta "nova TV" começou com alguma polémica, pois o primeiro anúncio de promoção era o de uma mulher grávida que à medida que a câmara vai avançando, vê-se a forma de uma televisão na sua barriga, seguido da frase "Dia 14, nasce uma nova TV". Ao que mais tarde se seguiu outro anúncio de um homem numa maternidade ansioso para ver o seu filho recém-nascido, que vai-se a ver a cabeça é uma televisão com logótipo da TV2 no ecrã e a voz-off que diz "Já nasceu, e é a sua cara!"
Neste vídeo podem ver-se esses dois anúncios, mais um terceiro, com várias silhuetas e mãos a fazer o sinal do número 2.
Com esta nova roupagem, o segundo canal procurava reforçar a sua imagem de uma alternativa ao mainstream do Canal 1, com alguns pilares que ainda hoje se mantêm: conteúdo cultural (cinema e artes de palco), desportivo (sobretudo em modalidades que não o futebol) e infanto-juvenil, com o espaço diário dedicado a esta faixa etária a ser renomeado "Um-Dó-Li-Tá".
Segundo as suas campanhas na imprensa da época eram estes os programas em destaque na grelha inicial da TV2.
Chá Das Cinco: Um talk-show das tardes dedicado ao público feminino com cinco apresentadoras, uma para cada dia da semana: Ana Bola, Ana Maria Lucas, Dina Aguiar, Rosa Lobato Faria e Teresa Guilherme.
Barriga De Aluguer: Telenovela brasileira de 1990 que abordava o sempre controverso tema de maternidade de substituição da autoria de Glória Perez. Ana (Cássia Kiss) é um famosa jogadora de voleibol, que não podendo ter filhos, decide contratar uma mãe de aluguer para gerar o seu filho, com o apoio do seu marido Zeca (Victor Fasano), através de inseminação artificial. A escolha recai sobre Clara (Cláudia Abreu), uma jovem à deriva que vê nesse acordo uma oportunidade para melhorar de vida. Mas à medida que a gravidez avança, os sentimentos de Clara vão se alterando... Do elenco fizeram ainda parte nomes como Humberto Martins, Beatriz Segall, Wolf Maya, Vera Holtz, Mário Lago e Tereza Seiblitz. O tema do genérico "Aguenta Coração" ficou no ouvido, tanto no original de José Augusto como na versão de João Marcelo, cantor brasileiro radicado em Portugal.
Frente A Frente: Programa de debate mediado por Adriano Cerqueira (então diretor do canal) onde duas pessoas com opiniões divergentes sobre um determinado assunto esgrimiam argumentos. Não me lembro deste programa, mas algo me diz que os debates não deviam ser assim tão acirrados como seriam hoje.
Em Português Nos Entendemos: Programa dedicado aos países lusófonos, realizado em direto e em simultâneo entre Lisboa e São Paulo, com apresentação de Carlos Pinto Coelho.
Vira O Vídeo: Duas das nossas maiores rockstars nacionais, Xana dos Rádio Macau e Zé Pedro dos Xutos & Pontapés, conduziam este programa onde eram exibidos videoclips pedidos pelos telespectadores, havendo um top semanal ao sábado.
Wrestling: Depois de nos anos anteriores terem animado as tardes de fim-de-semana do Canal 1, os combates de Wrestling da WWF passavam agora para as tardes de quinta-feira da TV2.
Milénio: Série documental que traçava as semelhanças e diferenças entre o mundo moderno e as sociedades tribais.
Em "Noite de Cinema", seriam exibidos filmes de qualidade firmada mas que também tiveram grande sucesso junto do público. Alguns desses títulos foram "Cyrano de Bregerac" com Gérard Depardieu, "Os Marginais" de Francis Ford Coppolla que revelou uma saraivada de futuras estrelas como Patrick Swayze, Tom Cruise, Emilio Estevez, Rob Lowe, Matt Dillion, Diane Lane e Ralph Macchio, e a obra-prima da ficção científica "2001 - Odisseia No Espaço" de Stanley Kubrick.
Nightmare Cafe: Mini-série de seis episódios criada por Wes Craven ("Pesadelo Em Elm Street", "Scream") sobre um café muito especial onde tudo pode acontecer e quem lá entra pode encontrar a sua redenção...ou a sua punição. Entre os três atores do elenco fixo, o destaque vai para Robert Englund, o eterno Freddy Krueger, como Blackie, o misterioso dono do café.
Outro aspeto de marcante para mim da era TV2 foi era o espaço de desporto aos fins-de-semana onde era possível assistir a todo um leque de modalidades desportivos. Mas confesso que não deve ser o único para o qual o principal destaque era o magazine "A Magia da NBA" que recapitulava os principais jogos e novidades da mítica liga de basquetebol americano. "I love this game..."
Eram também imagens desportivas que ilustravam o videoclip do hino da TV2 que por vezes servia de enche-chouriços.
Olha à tua volta e vê
Tantos olhos sorrindo e porquê
Abre o teu olhar e vê
Tantos lábios dizendo sim à TV
A era TV2 durou até 29 de Abril de 1996 com um rebrand total da RTP, com novos logótipos, genéricos e o regresso dos dois canais às nomenclaturas RTP1 e RTP2. Curiosamente, um elemento da TV2 persistiu: o fecho de emissão, com o hino nacional a ser tocado com uma imagem da bandeira de Portugal a esvoaçar sobre um fundo preto, não só continuou a ser utilizado na RTP2 mas também na RTP1 após o rebrand de 1996 até que em 2000 a RTP passou emitir 24 horas por dia.
Alguns gráficos e genéricos da era TV2
Abertura TV2:
Jornada Na 2:
TV2 O Tempo:
Separador de 1994:
TV2 Informação (1992):
TV2 Informação (1993):
Que memórias têm da era TV2 da RTP2?
Agradecimentos ao canal de YouTube "Grafismos Portugueses" e ao ATVTQsV do fórum "A Televisão".
NOTA: Recuperação de um artigo originalmente publicado em 2017.
Regressamos hoje a uma das nossas favoritas rubricas aqui na "Enciclopédia de Cromos": analisar os blocos de publicidade que passaram nas nossas televisões nos anos 80 e 90. Neste caso, existe a particularidade de analisarmos pela primeira vez blocos da RTP 2, uma vez que se tratam dos espaços publicitários emitidos durante a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona. Jogos Olímpicos esses que, apesar de imensos grandes feitos desportivos e da excelência da organização por parte da capital da Catalunha, não deixaram nenhumas saudades a Portugal.
Como eu já referi algumas vezes, vivi a minha infância sem ter a RTP 2 sintonizada em minha casa até ao Natal de 1992, pelo que tudo aquilo que via do segundo canal até então fora em casa alheia, e as transmissões dos Jogos Olímpicos de Barcelona não foram excepção, pois eu lembro-me de ir ver o bloco das provas da tarde em casa de vizinhos. Recordo-me que foi aí, por exemplo, que vi uma japonesa (Kyoko Iwasaki) de 14 anos ter ganho os 200m bruços na natação e pensei: "Bolas! Ela é só dois anos mais velha que eu, algumas raparigas da idade dela ainda brincam com bonecas, e ela ganhou a medalha de ouro!"
Como já disse os blocos publicitários que se seguem foram emitidos pela RTP2 durante a cerimónia de encerramento dos Jogos de Barcelona a 9 de Agosto de 1992.
Um apresentador da programação desportiva da RTP cujo nome não me recordo. É ele que faz o preâmbulo antes do início da transmissão da cerimónia, referindo que mais de uma dezena de milhar de atletas "percorreram o caminho da glória", mas como é natural apenas uns quantos viram esse caminho terminar no pódio.
Com
o cair do pano dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992, o apresentador do
início do primeiro bloco faz o epílogo, referindo que para as cores
portuguesas, estes foram os "Jogos do nosso descontentamento", uma vez
que apesar de Portugal ter apresentado a sua maior delegação de sempre,
não conseguiu obter uma medalha. Nem mesmo no hóquei em patins, que foi
modalidade de demonstração nestes Jogos, onde Portugal era o campeão
europeu e mundial em título e quedou-se por um quarto lugar. O
inesperado sexto lugar de José Garcia na canoagem e o sétimo lugar de
Manuela Machado na maratona não disfarçaram uma prestação nacional algo
medíocre. O apresentador despediu-se com um "Até Atlanta 1996!" (onde as coisas correriam bem melhor para Portugal).
0:01 Vinheta RTC
0:03 Durante as transmissões dos Jogos Olímpicos de 1992, recordo-me que a RTP teve estes breves spots de perguntas e respostas sobre os Jogos, chamados de "Curiosidades Olímpicas" e ilustrados por sequências de animação de temática desportiva. Neste caso, com imagens de natação, devido à pergunta: "Quando foi a primeira vez que um nadador português participou nas Olimpíadas?"
(Aproveito a ocasião para elucidar que, ao contrário do que é referido nesse spot, Olimpíadas não é sinónimo de Jogos Olímpicos. Entende-se por Olimpíada o espaço de quatro anos entre Jogos Olímpicos, tal como sucedia na Grécia Antiga. Porém, cada edição dos Jogos Olímpicos é oficialmente designada consoante a Olimpíada previamente decorrida. Por exemplo, os Jogos Olímpicos de 1992 de Barcelona tiveram a designação oficial de Jogos da XXV (25.ª) Olimpíada.)
0:13 A Danone foi um dos patrocinadores dos Jogos de Barcelona, e como tal, os seus anúncios da altura tinham temática desportiva. É o caso deste em que duas mãos passam entre si uma colher, como que a reproduzir uma corrida de estafeta, completa com uma música muito semelhante à daquela do filme "Momentos de Glória". O David Martins já publicou aqui um anúncio sobre um concurso promovido pela Danone que encorajava os seus jovens consumidores a criar uma banda desenhada de temática olímpica, cujos prémios principais eram viagens à então recém-inaugurada Disneyland Paris e a Barcelona para ver os Jogos.
0:32 Anúncio à Gilette Sensor que possuía a então avançada tecnologia das lâminas gémeas sobremóveis para melhor se adaptarem às curvas do rosto daquele que as iria usar. E claro está, o mítico slogan "O melhor para o homem"!
1:02 Confesso que tenho um fraco por este tipo de anúncios de bebidas onde um grupo de malta jovem faz uma grande farra em clima de canícula, deixando-me com vontade de saltar também lá para dentro do anúncio. Há que louvar o facto de a Unicer não ter poupado esforços (e dinheiro) para produzir este anúncio que parece 100% americano (até o jingle cantava "In America"...) para a Snappy, aquela que é a eterna resposta nacional às gigantes marcas de bebidas gaseificadas de sabor a lima-limão como a Seven Up e a Sprite. Lembro-me também de ter visto na altura cartazes outdoors e calendários com o frame dos 2:10, onde uma moça faz um espectacular movimento capilar enquanto se encharca num jacto de água.
1:33 As Lojas Singer estavam em todo o lado nas nossas televisões, dos patrocínios a tudo o que era concurso aos anúncio criativos como este em que o protagonista de postura direita serve também para fazer o 1 de um gigante número 10. Isto para dizer que era possível comprar nas lojas Singer em dez prestações mensais sem juros. Gosto sobretudo do movimento de cabeça que o actor faz antes de repetir "Dez!".
1:48 Já falámos anteriormente deste anúncio da Dentagaard com um diálogo entre o castor animado e um campista em boxers.
2:09 Uma mulher misteriosa conduz habilmente o seu Citroen ZX e no fim ainda faz cheque aos seus perseguidores, cujo carro é apanhado por uma grua com um íman gigante.
2:39 Cenas de corridas de vela ilustram este anúncio da Omega, uma das mais míticas marcas da relojoaria suíça.
2:54 Anúncio ao iogurte líquido Yop da Yoplait som do clássico "I Got You (I Feel Good)" de James Brown. Se bem se lembram, o Yop foi o primeiro iogurte líquido a ser comercializado em Portugal numa embalagem em formato de garrafinha, algo que agora é lugar-comum no mercado dos iogurtes líquidos.
3:10 Um escritor redige uma cena do seu livro em que o protagonista encontra uma mulher no bar pela primeira vez. Ele não consegue decidir se ela era morena ou loura, ou vestida de vermelho ou de azul. Mas uma coisa é certa: o protagonista bebia cerveja Buckler sem álcool. (E agora reparo que o actor deste anúncio é o mesmo do célebre anúncio dos produtos Insignia).
3:40 Outro marca mítica da publicidade dos anos 80 e 90: os produtos Domplex ("É qualidade e utilidade"), Pélebre marca de produtos em plástico criada em 1967 pela empresa Plastidom.
3:55 Outra vez o anúncio da Omega.
4:11 Mais um divertido anúncio das Lojas Singer, em que dois lutadores de sumo se lançam num combate mas um deles fica mais interessado nas imagens de um televisor Sony. O outro é que não parece tão entusiasmado.
4:26 Anúncio da série discográfica "O Melhor De..." da EMI-Valentim de Carvalho dedicada à obra de nomes da história da música portuguesa como é o caso de Carlos Ramos (ouvindo-se a sua canção-assinatura "Não Venhas Tarde"), Max (com "Pomba Branca) e Carlos Paião (ao som de "Pó De Arroz"). Os meus pais tiveram este disco do Carlos Paião em cassete.
4:41 E a resposta à pergunta do spot animado do início do bloco: "Nas 8.ªs Olimpíadas em Paris em 1924". (Acrescento que esse primeiro nadador olímpico português chamava-se Mário Silva Marques e nadou os 200m bruços).
0:00 Imagens da cerimónia antes da vinheta RTC
0:05 Mais um anúncio da Danone de inspiração desportivo, com um lançamento da colher a fazer lembrar o lançamento do dardo.
0:25 E mais uma vez o anúncio da Gilette Sensor.
0:55 Também já falei sobre este vistoso anúncio ao Porto Ferreira Tawny, num texto anterior.
1:41 Além de ser marca líder na lingerie feminina, pelos vistos na altura a Triumph apostava também na roupa desportiva.
1:50 No Portugal de 1992, anúncios com animação 3D ainda eram raros pelo que este anúncio das Tintas Barbot deve ter sobressaído na altura.
1:58 Mais uma variação numa série dos anúncios aos desodorizantes Axe em que uma mulher fica inebriada com o cheiro a Axe do garboso desconhecido de quem inadvertidamente se aproxima e dá uma snifada. Neste caso, havia a particularidade de que agora já estava disponível a variedade de desodorizante em stick.
2:19 Anúncio à Renault ilustrado por dois carros de Fórmula 1.
2:49 E como não há duas sem três, eis de novo o anúncio à Omega.
3:03...e outra vez o anúncio do YOP
3:20 A Coca-Cola também é um patrocinador olímpico de longa data (desde 1928) e por alturas dos Jogos de Barcelona, emitiu este anúncio com imagens de várias crianças a praticarem desporto. Porque como diz a voz off, nem todas verão o interior de um estádio olímpico ou saberão o que é ser o melhor do mundo, mas todas as crianças podem descobrir o que têm de melhor.
3:51 Anúncio do champô Vidal Sassoon protagonizado pelo atleta olímpico Manuel Barroso onde este é visto a praticar quatro dos cinco desportos da sua modalidade, o pentatlo moderno (esgrima, tiro, natação, equitação e corrida). Manuel Barroso participou em quatro Jogos Olímpicos entre 1984 e 1996, e em Barcelona 1992 fez um brilharete ao vencer a prova de corrida, o que porém não fez com que conseguisse melhor que o 53.º lugar final.
4:20 E como não há três sem quatro...
4:36 O cantor brasileiro radicado no nosso país (e dono de uma espectacular mullet encaracolada) João Marcelo editava o novo álbum "Quando Fala Um Coração". João Marcelo ficou sobretudo conhecido pela sua versão de "Aguenta Coração", tema da telenovela "Barriga de Aluguer" originalmente interpretado por José Augusto.
4:56 Em 1992, a Sega Mega Drive era a consola de topo com os seus "revolucionários" 16 bits!
0:00 Bandeiras de Espanhas e dos Estados Unidos antes da Vinheta RTC
0:05 Este anúncio também já foi mencionado num texto anterior. Uma elegante senhora chega a um aeroporto e fica rapidamente na mira de homens de várias nacionalidades. No entanto, um cavalheiro misterioso já a esperava no bar com um whiskey Ballantines.
0:34 Anúncio à revista "Basquetebol" dedicada ao mundo do basquetebol. (Obviamente!)
0:45 Vários rostos sorridentes ilustram o anúncio ao iogurte líquido da Mimosa, que então era designado por You. (Que pelo nome e pelo formato em garrafa, parecia um ataque de concorrência directa ao Yop).
1:15 Várias imagens desportivas ilustram o anúncio à bebida Isostar. Embora nunca tenha sido um grande praticante desportivo e adepto da exercício, lembro-me de beber algumas vezes esta bebida.
1:35 Novamente o anúncio à Triumph Sportswear
1:45 E novamente o anúncio das Tintas Barbot
1:59 Anúncio ao desodorizante Nivea, protagonizado por uma pena.
2:07 Mais um pot-pourri de imagens desportivas, desta vez para um anúncio ao relógios Seiko. Gostava de destacar aos 2:06 a imagem da corredora mexicana Enriqueta Basilio, que acendeu a pira olímpica nos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México, a primeira vez que uma mulher teve tal honra.
2:27 Se não estou em erro, este foi o primeiro anúncio ao gelado Magnum ( ainda antes do famoso anúncio do "é meu, é meu e só meu até ao fim") em que uma mulher que come um Magnum ajuda um empregado de uma joalharia a decidir qual o colar a pôr na montra, elegendo o colar mais simples.
2:57 De novo o anúncio infanto-olímpico da Coca-Cola
3:28 Foi no início dos anos 90 que o mercado nacional dos champôs recebeu a revolução dos champôs 2 em 1 com amaciador, com a Vidal Sassoon na proa dessa revolução. Recordo-me bem deste anúncio num ginásio, onde uma jovem desespera com o seu cacifo emperrado onde tem o seu champô e amaciador lá dentro. Mas basta um empréstimo do Vidal Sassoon da amiga para ela se converter aos 2 em 1.
3:58 E como não há quatro sem cinco...
4:14 Sapong, o jogo que fez sucesso nas praias nacionais no Verão de 1992! (Só que não.)
4:24 Já falei noutro tópico sobre o cantor brasileiro radicado em Portugal Jorge Luís, que nesse ano de 1992 conseguiu algum sucesso com o álbum "Paz Na Cama" em que versionava populares canções de terras de Vera Cruz, como o tema-título, "Pense Em Mim" e "É O Amor", para além de versão brasileira do megahit "Borbujas De Amor" ("Quem me dera ser um pei-chi!").
4:44 Breve excerto de um número coreográfico durante a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 1992.
Extras
Excerto da cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992
A par de um catálogo com um respeitável número de artistas que iam do fado à música ligeira portuguesa (que anos mais tarde seria absorvida pelo complexo fenómeno a que se convencionou chamar de música pimba), alguns bem conhecidos outros nem tanto, a editora Discossete editou algumas compilações, como por exemplo de medleys de músicas dos anos 60, que durante anos a fio podiam ser vistas nos escaparates das lojas de discos ou nos expositores de cassetes das tabacarias e bombas de gasolina.
Mas em 1990, a Discossete reuniu alguma da prata da sua casa para um projeto que tentava apelar tanto ao patriotismo tuga como a um pé de dança. A qualidade do resultado final era discutível, mas não foi por isso que deixou de ter sucesso nem de animar bailaricos por esse país fora.
Inspirado pelas medleys com batidas eurodisco como "Balla Balla" de Francesco Napoli ou os volumes "Max Mix" de Toni Peret e José Maria Castells, "Portugal Mix" reunia várias temas conhecidos do nosso cancioneiro popular com ritmos eurodisco e vários efeitos sonoros à mistura.
Ao leme do projeto estava Ricardo Landum, hoje um credenciado e prolífico compositor para um sem-fim de artistas nacionais, mas que na altura tanto na sua carreira a solo como na sua ligação aos Da Vinci (foi o compositor do incontornável "Conquistador") assinava apenas como Ricardo tout court. Além dele no primeiro volume de "Portugal Mix", colaboraram nomes conhecidos como José Malhoa, Ana e Manuela Bravo, bem como António Passão, Deolinda Maria, Alexandre Calisto e Lígia.
No segundo volume, também editado de 1990, juntaram-se também Toy, Anabela, Ilda de Castro e, com um lado A dedicado sobretudo ao fado, fadistas como António Severino, Fernanda Maria, Lena Silva e até a icónica Cidália Moreira.
Mas apesar de todas as manhosices incluídas no produto final, creio que a grande maioria dos artistas envolvidos conseguir dar dignidade à sua interpretação, sobretudo os mais veteranos. Até porque estou em crer que o projeto não recuperou gravações anteriores e os artistas fizeram novas gravações expressamente para o efeito. Pergunto-me qual foi, por exemplo, a reação de Cidália Moreira ao ouvir a sua rendição de "Quem Me Dera Ter Outra Vez Vinte Anos" ser acompanhada daqueles efeitos sonoros a fazer lembrar os Chipmunks.
Seja como for, os dois volumes de Portugal Mix tiveram um sucesso considerável. Não sei se foram editados mais volumes, creio que em vez disso, a Discossete aproveitou as medleys de canções portuguesas para uma nova série, Popular Mix.
Além de outras utilidades dos dois discos, como por exemplo para encher chouriços nas emissões das rádios locais, lembro-me de ter lido certa vez nos comentários da página de Facebook da "Caderneta De Cromos" o relato de uma pessoa cujo trabalho incluía acompanhar grupos de idosos em excursões, e que descobriu em "Portugal Mix" a solução ideal para animar as viagens no autocarro, com os idosos a cantar e bater palmas alegremente ao som da medley.
Eis uma série animada dos anos 80 que nunca esqueci. "A Princesa Insensível" é uma série animada francesa de treze episódios de quatro minutos cada, criada por Michel Ocelot, tendo estreado na televisão francesa em 1983.
Em Portugal, foi exibida duas vezes: em Fevereiro de 1987 diariamente no "Brinca Brincando" e depois em 1990, no espaço "A Hora Do Lecas" às segundas-feiras.
A história é bastante simples: a titular princesa insensível parece ser totalmente indiferente a tudo, apresentando sempre a mesma cara impávida. Como tal, foi lançado o repto de que o príncipe que lhe conseguir impressionar de alguma forma casará com ela. Treze pretendentes aceitam o desafio, mostrando os seus talentos, esperando assim alcançar a admiração e a mão da princesa.
Nos doze primeiros episódios, a narrativa era sempre a mesma: a princesa chegava ao teatro para assistir à apresentação do episódio, um arauto (voz de Eládio Clímaco) anuncia: "O príncipe X, que tentará agradar à nossa amada princesa!". Cada príncipe fazia o seu número, que invariavelmente falhava em obter qualquer reação da princesa. E um após um, cada príncipe saía de palco frustrado. Por fim, o arauto advertia: "Mas outro príncipe se seguirá, para agradar à nossa amada princesa!" (No final do penúltimo episódio, ouve-se o arauto a acrescentar: "Talvez...") Essas falas do arauto eram as únicas falas dos doze primeiros episódios, que não tinham mais nenhum diálogo.
Por ordem de episódios, os príncipes que se apresentaram foram: o Príncipe Domador, o Príncipe Jardineiro, o Príncipe Metamorfoseador, o Príncipe Vedor, o Príncipe Mimo, o Príncipe Meteorologista, o Príncipe Submarino, o Príncipe Voador, o Príncipe Decorador, o Príncipe Mágico, o Príncipe Pinto e o Príncipe Pirotécnico.
Lembro-me que no episódio do Príncipe Pintor, este desenhou um retrato gigante da Princesa. Mas perante a apatia deste, ele, furioso, desmanchou o retrato, começando por lhe pintar um bigode na cara.
Por fim, no último episódio, o Príncipe Estudante resolve o mistério: aproximando-se da Princesa, verifica que afinal ela via mal (provavelmente sofria de astigmatismo) e por isso não podia admirar as maravilhas à sua volta. Ele oferece-lhe então um par de óculos e a Princesa pode por fim se maravilhar com as atuações dos outros príncipes. A Princesa outrora Insensível e o Príncipe Estudante ficam então noivos.
Segundo o site "Brinca Brincando" (mais um agradecimento), o aspeto bem particular da animação devia-se ao facto do autor Michel Ocelet ter usado um misto de celuloide e papel recortado. Em 2008, a série foi incluída num DVD que reunia os melhores trabalhos de Ocelet.
A série está disponível na íntegra no YouTube, mas creio que com uma nova dobragem de Eládio Clímaco.
Um clássico obrigatório dos filmes de acção dos anos 80s, mais concretamente 1987, o ano que nos deu a conhecer outras pérolas como Robocop, Evil Dead 2, Spaceballs, Dirty Dancing, Full Metal Jacket, Bad Taste, Prince Of Darkness, etc.
A sinopse é simples, mas o que com outros realizadores, ou actores poderia ser apenas um banal "Rambo vs Alien": Um esquadrão de soldados de elite em missão nas profundezas da floresta tropical da América Central torna-se a presa de um implacável caçador alienígena.
Os líderes do grupo de perseguidos é Arnold Schwarzenegger (Dutch) no seu auge, e Carl Weathers ("Dillon, your son of a bitch") como o seu contraponto. Mas a estrela principal nem sequer está presente na maioria da metragem, visto que o nosso extraterrestre (Kevin Peter Hall) possui armamento e equipamento tecnologicamente avançado, incluindo a habilidade de se tornar invisível e assim camuflar-se no inferno verde enquanto caça um a um, seguindo um duvidoso código de moral.
O realizador que aceitou ir filmar para o meio da selva foi John McTiernan, à época um nome quase desconhecido, depois de serem feitas propostas a cineastas conceituados como James Cameron, Ridley Scott ou Brian De Palma. McTiernan estreou um ano depois o lendário "Die Hard" (Assalto ao Arranha-Céus).
O Trailer de "PREDATOR":
Estreou nos EUA no dia 12 de Junho de 1987, chegou a Portugal a 11 de Setembro do mesmo ano com o título nacional de "O Predador" e a classificação "Para Maiores de 16 Anos".
A primeira vez que o vi foi nalguma sessão de cinema na RTP ou uma das privadas. O meu palpite é que foi na TV, devo tê-los gravados nalguma cassete de video VHS. Fiquei fã desde logo, e papei o Predator 2 (1990), que na época me desiludiu uma pouco, mas após um recente binge da franquia Alien e Predator, fiquei sinceramente agradado com dois primeiros Predator, envelheceram muito bem. O original ainda tem muitos fãs, e gerou uma série de one-liners que perduram em memes e na cultura pop: quem nunca viu uma paródia ao "GET TO THE CHOPPA!"?
Em suma, uma película minimalista, dinâmica e directa ao ponto, repleto de personagens carismáticos e falas icónicas, efeitos especiais incríveis, e a batalha de um grupo unido de homens contra uma besta desconhecida – que a cena de abertura já revela ser um alienígena.
O espiritismo é sempre um tema complicado de abordar na teledramaturgia, mas em 1994, uma telenovela brasileira abordou a temática de forma bastante frontal mas sem perder os ingredientes habituais de qualquer novela que se preze.
"A Viagem" foi uma telenovela brasileira da autoria da Ivani Ribeiro, auxiliada por Solange Castro Neves devido aos seus problemas de saúde, exibida na Rede Globo em 1994 na faixa das 19 horas. Na verdade, tratava-se de um remake de uma telenovela de 1975 da Rede Tupi escrita pela mesma autora. Este remake foi aliás a última telenovela assinada por Ivani Ribeiro que faleceu em 1995. Em Portugal, "A Viagem" passou na SIC entre 1994 e 1995, substituindo "Mulheres De Areia" no horário nobre.
Segundo a autora, a principal inspiração foram os livros psicografados do médium Chico Xavier que abordavam o tema da vida após a morte como "E A Vida Continua…" e "O Nosso Lar".
Diná e Alexandre
Diná Toledo Dias (Christiane Torloni) é uma mulher bonita e elegante, proprietária de um clube de vídeo. É casada com Téo (Maurício Mattar), um arquiteto doze anos mais novo, de quem tem uma filha, Paty (Viviane Pinheiro). A sua mãe, Dona Maroca (Yara Cortes), também vive com eles.
Diná, Paty e Téo
Embora tenha bom fundo, Diná tem dois grandes defeitos. Um é o ciúme doentio que sente pelo marido, ao ponto de perder as estribeiras sempre que o vê perto de outras mulheres, se bem que Téo nada faz para refrear a situação e esteja sempre meter-se com outras mulheres, o que leva a frequentes discussões entre o casal. O outro é a sua incapacidade de ver que o seu adorado irmão mais novo, Alexandre (Guilherme Fontes), é um homem imoral e violento, constantemente envolvido no banditismo, mesmo diante das evidências mais evidentes.
Otávio Jordão
Durante uma tentativa de assalto, Alexandre acaba por matar um homem. Denunciado pelo seu cunhado Téo e seu irmão Raul (Miguel Falabella), Alexandre é preso e acusado de homicídio. Desesperada, Diná procura o advogado criminal Otávio Jordão (António Fagundes) para que este defenda Alexandre em tribunal, mas Otávio recusa, sobretudo porque a vítima era um amigo seu. Mas apesar da animosidade entre Diná e Otávio, ambos começam a sentir uma ligação inexplicável um por outro, como se conhecessem numa vida anterior. Otávio é viúvo e tem dois filhos: Tato (Felipe Martins), que pretende seguir Direito como o pai, e Dudu (Daniel Ávila).
Estela e Bia
Além de Alexandre e Raul, Diná também é irmã de Estela (Lucinha Lins), com quem sempre teve uma ligação telepática. Estela tem uma filha adolescente, Bia (Fernanda Rodrigues), que criou sozinha desde que o seu marido Ismael (Jonas Bloch) a abandonou. Ignorando que ele é um homem de péssimo caráter, Bia sonha em reencontrar o pai.
Lisa
Alexandre tem uma namorada, Lisa (Andréa Beltrão), uma jovem humilde e sofrida que trabalha como cabeleireira. É ela o principal rendimento da família, uma vez que o seu pai Agenor (John Herbert) não se aguenta em nenhum emprego e o seu irmão Zeca (Irving São Paulo) só quero saber da sua música. Lisa vê em Alexandre um escape à sua vida triste e maçadora, mas quando se vê comprometida pelos atos criminosos do rapaz, decepciona-se e afasta-se dele.
A melhor amiga de Lisa é Carmen (Suzy Rêgo), que trabalha no clube de vídeo de Diná onde se apresenta com uma aparência mais feia para não suscitar a animosidade da patroa.
Andrezza e Raul
Alexandre acaba por ser condenado pelo crime e suicida-se na prisão. Num recanto do Além denominado o "Vale dos Suicidas", Alexandre planeia a sua vingança contra aqueles que culpabiliza pela sua desgraça. Para começar, decide destruir a relação de Raul com a sua esposa Andrezza (Thaís de Campos), manipulando a mente da mãe desta, Guiomar (Laura Cardoso) e de repente, a antes simpática senhora que tratava o genro como um filho, começa agir de forma raivosa e cruel.
Entretanto, Diná separa-se do marido quando ela e Otávio assumem que estão apaixonados, enquanto Téo apaixona-se por Lisa. Isso aumenta a fúria de Alexandre que passa a atormentar o ex-cunhado, controlando também Tato, que deixa os estudos e resvala para a delinquência.
Alberto e Estela
Quando a família Toledo se apercebe que o espírito de Alexandre pode estar por detrás deste acontecimentos inexplicáveis, recorrem ao auxílio do Dr. Alberto (Cláudio Cavalcanti), um médico amigo da família e que se interessa pelo espiritismo. Alberto e Estela acabam por se apaixonar, mas a relação vai passar por muitas dificuldade, até que Ismael regressa disposto a prejudicar a ex-mulher e a manipular Bia.
O mascarado Adonay e Carmen
Outro grande mistério da telenovela é o mascarado Adonay (Breno Moroni), uma estranha figura que surge no bairro onde mora a família de Lisa. Mais tarde é revelado que se trata do antigo noivo de Carmen, que ficou com o rosto desfigurado após um acidente e que fugiu dela com medo que ela o rejeitasse. Já numa onda mais divertida existe um divertido triângulo amoroso na terceira idade, com Agenor e o tímido Tibério (Ary Fontoura) a disputarem o coração de Cininha (Nair Bello), a dona da pensão do bairro.
Diná no "Nosso Lar"
Na reta final, Otávio acaba por morrer num acidente provocado por Alexandre. Diná mergulha em depressão e só a sua vontade de encontrar a sobrinha Bia, entretanto desaparecida, a mantém viva. Quando a encontra, Diná tem um ataque fulminante e morre. Ela vai parar a um local semelhante ao Céu conhecido como o Nosso Lar, que a princípio crê ser um retiro espiritual, apenas percebendo que está no Além quando reencontra Otávio. Novamente juntos, os dois lutam para restabelecer a paz aos seus entes queridos e neutralizar os poderes malignos de Alexandre.
Por fim, Alexandre arrepende-se do mal que causou e ganha uma oportunidade de redenção ao reencarnar como o filho de Téo e Lisa. Raul e Andrezza reconciliam-se, assim como Bia e Estela, que pode finalmente ser feliz ao lado de Alberto. Ismael acaba tetraplégico e desprezado por todos. Dona Maroca morre feliz e reencontra a filha no Nosso Lar, e os espíritos de Diná e Otávio renovam-se para se poderem encontrar novamente numa próxima vida.
Do elenco fizeram ainda parte nomes como Eduardo Galvão (Mauro), Denise Del Vecchio (Glória), Ricardo Petraglia (Queiroz), Lolita Rodrigues (Fátima), Danton Mello (Johnny Bala) e Solange Couto (Zulmira). Cláudio Correa Castro, que na versão original fez de Daniel, o mentor de Diná no Nosso Lar, fez um cameo como o advogado de Alexandra.
No Brasil, "A Viagem" foi uma das telenovelas de Globo da faixa das 19 horas de maior sucesso nos anos 90. Em Portugal, apesar das queixas de alguns espetadores quanto às temáticas espiritistas e às cenas mais chocantes (lembro que a minha mãe não quis acompanhar a novela porque as cenas mais impressionáveis deixavam-na muito perturbada), "A Viagem" também acabou por consolidar a liderança no horário nobre da SIC, onde as telenovelas brasileiras seriam o bastião do canal durante largos anos, fazendo face às duas telenovelas concorrentes da RTP, "Mandala" e "Fera Ferida".
Para os portugueses, que tinham acabado de ver o ator Guilherme Fontes como o protagonista romântico Marcos Assunção em "Mulheres de Areia" foi algo chocante vê-lo depois encarnando um vilão tão maligno como o Alexandre.
O papel de Diná fora inicialmente pensado para Regina Duarte, mas após a recusa desta, acabou para por ir parar a Christiane Torloni, que assim regressava às telenovelas brasileiras, após uns anos em que se refugiou em Portugal após a morte do seu filho Guilherme. (Nesse período, ela fez alguns trabalhos pontuais de apresentação para a SIC.) Reza a lenda que Torloni aceitou o papel por ter ficado com a ideia de que se tratava de uma personagem cómica.
Dona Cininha
Outro papel marcante foi o de Andréa Beltrão como Lisa. Apesar de já ter então 31 anos e vir de um papel mais maduro em "Mulheres de Areia", a atriz foi bastante convincente no papel da jovem heroína romântica, e o guarda-roupa da personagem fez bastante sucesso por incluir várias tendências da moda de meados dos anos 90: colares choker, saias curtas com meias altas, tops conjugados com camisas.
Por outro lado, um Felipe Martins de 34 anos não convenceu praticamente como um jovem Tato de vinte e poucos anos, ainda para mais fazendo par com uma Fernanda Rodrigues de apenas 15.
Outro elemento bem curioso que assinalava que estávamos nos loucos anos 90 era o facto da personagem de Nair Bello, a Dona Cininha, ser frequentemente vista envergando uma T-shirt com uma imagem de Madonna a chupar o dedo do meio!
A banda sonora da telenovela também fez sucesso, nomeadamente com o tema de abertura da novela, também intitulado "A Viagem", interpretado pelos Roupa Nova e hits internacionais como "Linger" dos The Cranberries, "I Miss You" de Haddaway e "I'll Stand By You" dos Pretenders.
O Portugal da primeira metade dos anos 80, já recuperado da ressaca da Revolução mas ainda a braços com diversos tormentos (a começar por uma severa crise económica) antes da entrada da CEE abrir rumo a tempos mais prósperos, exerce um fascínio sobre mim. Primeiro porque foi nesse Portugal que eu vim a este mundo e depois porque, apesar dos diversos espinhos, foi um tempo em que, uma vez assimilada a liberdade, havia um desejo de ousadia e diferença, sobretudo nas artes. Ou não fosse essa a época, por exemplo, do boom do rock português.
É também nesse Portugal que nasce a "Crónica dos Bons Malandros", primeiro o livro, escrito por Mário Zambujal, originalmente editado em 1980. E quatro anos mais tarde, a adaptação cinematográfica, realizada por Fernando Lopes e com um elenco de primeira apanha, que incluía João Perry, Lia Gama, Nicolau Breyner, Maria do Céu Guerra e Paulo de Carvalho. E tendo eu visto recentemente pela primeira vez o filme de fio a pavio durante uma transmissão na RTP2 e também lido o filme, impunha-se este artigo.
Edição de 2011
A história fala sobre a desventura da quadrilha de Renato, O Pacífico (Perry) que se reúne regularmente no Bar do Japonês e se dedica a pequenos golpes no Bairro Alto. Renato é conhecido pela alcunha de Pacífico pela sua aversão a armas, pelo que os assaltos da sua quadrilha são efetuados sem armas, sejam elas de fogo ou brancas, e acontecem quando não está ninguém nos sítios que vão roubar. A quadrilha é também composta por Marlene (Gama), a inseparável companheira de Renato; Pedro, o Justiceiro (Breyner), hábil arrombador de portas e fechaduras; Flávio, o Doutor (Pedro Bandeira-Freire), o cérebro das operações; a melancólica Adelaide Magrinha (Guerra); o irascível Arnaldo Figurante (Carvalho); e Silvino Bitoque (Duarte Nuno), ardiloso cleptómano.
Certo dia, a quadrilha é contratada por um italiano para um golpe monumental: roubar as joias da coleção Lalique expostas no Museu da Gulbenkian.
Tanto no livro, como no filme, enquanto o plano vai sendo elaborado, dá-se a conhecer o background de cada um dos elementos da quadrilha. Renato e Marlene conheceram-se no Circo Internacional ainda crianças e tornaram-se inseparáveis para a vida. Após um brutal ato de vingança após as crueldades da sua professora da quarta classe, Pedro fugiu e viu o seu destino traçado para o banditismo. A um ano de completar o seu curso de Direito, Flávio perdeu-se de amores por Zinita (Ariana), com quem foi obrigado a casar e armar desvios na empresa onde trabalhava para satisfazer os seus caprichos. Adelaide apaixonou-se por Carlos (Virgílio Castelo) num baile mas quando ele foi preso pela polícia e ela se viu sem nada, tentou a prostituição pela mão de Lina, a Despachada (Zita Duarte), mas uma enrascada com dois clientes que meteu a polícia ao barulho levou-a até à quadrilha. Arnaldo sonhou com a fama e a glória, primeiro no boxe e depois no cinema, quando foi figurante numa prestigiada produção luso-francesa. Silvino desde muito cedo deitava a mão a tudo que podia, desde a chupeta do irmão gémeo a um rádio em forma de lata de Coca-Cola, e até ludibriou o FBI na América.
Surge um contratempo quando Adelaide desaparece, deixando um carta onde explica que decidiu fugir para fora do país com Carlos, recém-saído da prisão. Ainda assim, o plano segue em marcha, com uma ideia astuciosa: para afugentar os visitantes e os seguranças da Gulbenkian e ludibriar as vigilâncias, lançarão um enxame de abelhas escondido debaixo do assento de uma cadeira de rodas.
Chega o dia do assalto e o plano parece resultar em cheio até que se descobre que Silvino traiu a quadrilha, apoderando-se das joias roubadas e preparando-se para escapar disfarçado de polícia. Dá-se então uma desenfreada perseguição de Renato e do resto do grupo atrás do traidor e da polícia atrás deles, com um desfecho trágico em plena Baixa Pombalina.
"Crónica dos Bons Malandros" foi um grande sucesso editorial, com inúmeras reedições até aos dias de hoje. Mário Zambujal era conhecido do grande público como jornalista da RTP, apresentando o "Domingo Desportivo", além do seu marco na rádio com o programa "Pão Com Manteiga" na Rádio Comercial, co-apresentado com Carlos Cruz. Desde então, Mário Zambujal continuou a escrever mais livros como "À Noite, Logo Se Vê", "Histórias Do Fim Da Rua", "Já Não Se Escrevem Cartas De Amor" e "Cafuné". Também escreveu guiões para séries como "Lá Em Casa Tudo Bem" e "Nós, Os Ricos".
Quanto à adaptação cinematográfica, dá para descrever numa só palavra: castiça. Não sendo muito bom, sobretudo devido à falta de meios mas também por algumas escolhas menos acertadas, o filme ilustra bem o espírito do Portugal da época, com o desejo de fazer mais e diferente, apesar das várias restrições, sobretudo económicas.
Famosamente, não foi obtida autorização para filmar dentro da Gulbenkian, pelo que em seu lugar, houve uma bizarra sequência animada onde se misturavam stills das obras expostas no museu, gráficos a fazer lembrar o jogo do Pacman, desenhos das personagens e até um plano de pés a correr.
Mas pessoalmente, eu achei que o principal problema do filme é o ritmo, que é quebrado de algumas vezes. Claro que fazia sentido, tal como no livro, haver sequências sobre os backgrounds dos sete protagonistas, mas a forma como foi feita foi meio desigual: algumas foram feitas de forma interessante (como o recurso de fantoches para a história de Pedro e as referências cinematográficas para Arnaldo) mas por outro lado a sequência musical na história de Adelaide é desnecessariamente longa e a de Renato e Marlene meio aborrecida. Além disso, com tanto tempo do filme destinado a essas histórias, não dá tempo para o espetador se conectar com as personagens e as suas relações intercaladas no primeiro acto, e não há quase nenhum buildup rumo ao momento do assalto. Até as cenas das perseguições parecem mais focadas nas acrobacias dos carros da polícia no Rossio do que em dar fio à meada. Ainda assim, o filme foi um assinalável sucesso de bilheteira.
Por outro lado, o elenco faz o melhor que pôde com o pouco que lhe foi dado e existem vários momentos engraçados: a Lina Despachada de Zita Duarte rouba toda a cena na esquadra da polícia, a folha picotada em forma de Rato Mickey quando o FBI procura por Silvino e o piscar de olho da imagem do General Ramalho Eanes num mural. Existem também vários cameos como António Assunção, Artur Semedo, o próprio Mário Zambujal (que quebra o fourth wall para se identificar como narrador) e, sobretudo, um jovem Manuel Luís Goucha como um dos clientes caloteiros de Lina e Adelaide.
A música do filme, além de um proeminente uso da 5.ª Sinfonia de Beethoven, teve a contribuição de Rui Veloso e Jony Galvão, para além do tema "O Malandro" de Paulo de Carvalho, que vinha do seu álbum de 1981 "Cabra Cega".
A "Crónica dos Bons Malandros" também já foi adaptada como peça musical em 2011, e como série da RTP em 2020. Marco Delgado, Maria João Bastos, José Raposo, Adriano Carvalho, Rui Unas, Manuel Marques e Joana Pais de Brito foram respetivamente Renato, Marlene, Pedro, Flávio, Silvino, Arnaldo e Adelaide.