sexta-feira, 15 de julho de 2016

Missão: Impossível (1996)

por Paulo Neto

Antes do mais, devo dizer que a "minha" série "Missão: Impossível" não é a original dos anos 60 e 70 (1966-1973), embora também a tenha visto quando foi reposta por cá na RTP2 há uns anos, creio que em finais dos anos 90 ou inícios deste século, mas sim uma remake actualizada de duas temporadas de 1988 a 1990, que passou na RTP1 em horário nobre no início dos anos 90. Ao que parece, a cadeia americana ABC teve a ideia de fazer esse remake por causa de uma greve de argumentistas de 1988 que dificultou a recepção de novos guiões para a grelha da rentrée desse ano, e decidiu reabilitar a série, que contou de novo com Peter Graves no papel de Jim Phelps e que entre outros, tinha no elenco Jane Badler, a inesquecível Diana, a extraterrestre apreciadora de ratazanas, de "V - A Batalha Final", como um dos agentes da equipa. Como as despesas de produção desse modo assim o compensavam, essa remake actualizada de "Missão Impossível" foi toda filmada na Austrália.



Se hoje em dia, Hollywood parece não querer fazer outra coisa senão remakes e revisitações de tudo e de mais um par de botas, nos anos 90 as coisas não eram bem assim. Por exemplo, não era incomum que alguns filmes fossem convertidos em séries de televisão ("M.A.S.H." era então o caso mais célebre) mas o inverso era coisa rara, senão nunca vista. Por isso, havia muita expectativa quanto a uma adaptação cinematográfica da série "Missão:Impossível", sobretudo por ter Tom Cruise no papel principal e o consagrado Brian De Palma como realizador.



Cruise é Ethan Hunt, um dos agentes da IMF reunidos por Jim Phelps (Jon Voight) para uma missão, onde também participa Claire (Emmanuelle Béart), a esposa de Phelps. O que parecia ser uma missão relativamente simples - recuperar uma lista secreta de agentes da embaixada americana em Praga - acaba em desastre com todos os agentes mortos excepto Hunt. Este descobre que a missão era um embuste para apanhar um traidor dentro da IMF e que foi tramado para que se pensasse que fosse ele. Decidido a resolver o mistério e a limpar o seu nome, Hunt aposta no jogo duplo, aceitando a proposta de Max (Vanessa Redgrave), uma negociante de armas que esteve em contacto com o verdadeiro traidor sob o nome de código de Job, em entregar-lhe a lista dos agentes da IMF em troca de dinheiro e da verdadeira identidade de Job.



Com a ajuda de Claire, que afinal está viva, e de dois agentes dispensados da IMF, Luther Stickett (Ving Rhames) e Franz Krieger (Jean Reno), Hunt concretiza o seu plano e eventualmente, conclui que Phelps é o verdadeiro traidor e que Claire e Kriegel serão seus cúmplices, correndo contra o tempo para limpar o seu nome e denunciar aqueles que o atraiçoaram.
Do elenco fizeram também parte Kristin Scott Thomas, Emilio Estevez, Ingeborga Dapkunaité e Henry Czerny.

A adaptação cinematográfica de "Missão: Impossível" foi um grande sucesso de bilheteira, sendo o terceiro filme de maior sucesso de 1996. Tom Cruise, que andava até então mais interessado em papéis dramáticos com Óscar fisgado, reabilitou o seu estatuto como action hero. Desde então, já desempenhou o papel de Ethan Hunt em mais quatro sequelas. Porém também houve algumas críticas quanto às poucas ligações com a série original e a falta de densidade do argumento e vários dos actores da série original lamentaram o facto de Jim Phelps, o protagonista original, ser o vilão do filme. (Por esse mesmo motivo, Peter Graves declinou o convite para recuperar a personagem no filme).



A cena mais célebre do filme é aquele em que Ethan Hunt suspenso por cordas a aceder à lista dos agentes da IMF numa sala de segurança hipermáxima onde basta que uma gota de suor caia ao chão para accionar os alarmes. Cena essa que foi depois amplamente replicada e parodiada, por exemplo por Ben Stiller e Jeaneane Garofalo nos MTV Movie Awards desse ano.



Outro aspecto do sucesso do filme foi a banda sonora (ainda que apenas cinco das quinze músicas do álbum tivessem sido usadas no filme), nomeadamente a readaptação do tema original da série, da autoria de Lalo Schiffrin, por parte de Adam Clayton e Larry Mullen Jr. dos U2. Essa nova roupagem do tema foi um hit global e tem sido desde então usado em várias imitações e paródias da "Missão Impossível".









  

terça-feira, 12 de julho de 2016

"Bamos Lá Cambada" Herman José (1986)

por Paulo Neto

Enquanto o país vive a emoção de ver a Selecção Nacional de futebol ganhar o Euro 2016, nada como recordar aquele continua a ser o mais mítico hino de apoio à selecção. Creio que só a "Força" da Nelly Furtado está no mesmo patamar.

Em 1986, Herman José era já o indiscutível rei do humor televisivo nacional graças a programas tão míticos como "O Tal Canal" e "Hermanias". Em ambos os programas, surgia aquela que era uma das suas personagens mais lendárias, o José Estebes, o famoso comentador desportivo portuense, com o seu cerradíssimo sotaque do "Nuorte", as suas bochechas coradas e com um jarro de bom tinto sempre por perto para o que der e vier. Depois de Estebes, as palavras "substrato" e "pomada" ganharam novo significado. Segundo Herman José, a personagem foi inspirada por dois dos seus antigos managers, ambos nortenhos e cheios de pêlo na venta.





Nesse ano de 1986, Portugal disputaria pela segunda vez a fase final de um Mundial de Futebol, vinte anos após Eusébio e companhia terem brilhado no Mundial de 1966 de Inglaterra. As expectativas estavam altas, até porque dois anos antes no Europeu de 1984, a selecção teve uma prestação agradável, caindo apenas nas meias-finais contra uma França liderada por Michel Platini. A selecção nacional que iria marcar presença no Mundial do México contava com nomes como Bento, Carlos Manuel, Jaime Pacheco, Fernando Gomes, Paulo Futre, António Oliveira, Rui Águas e Augusto Inácio. Mas após um bom início com uma vitória sobre a Inglaterra, as coisas rapidamente rolaram para o descalabro não só dentro do campo com confrangedoras derrotas face à Polónia e a Marrocos (então apenas a segunda vitória de uma equipa africana sobre uma europeia num Mundial) como sobretudo fora devido ao infame Caso Saltillo. E Portugal foi-se embora do México pela porta pequena enquanto o torneio prosseguiu, terminando com o triunfo da Argentina liderada por um Diego Maradona tocado pela mão de Deus.



Mas se o Mundial de 1986 foi um descalabro para as cores nacionais, o hino de apoio à selecção era absolutamente vencedor. Bastava apenas o carisma de José Estebes e o génio criativo de Carlos Paião para tal, mas além disso havia todo um alinhamento all-star a acompanhar, com Luís Represas, Alexandra e Dany Silva a cantarem algumas partes e Vitorino, Marco Paulo, Jorge Fernando, Diana e Peter Peterson no coro. E o resultado só podia ser sensacional.



(Estebes - introdução)
Heróica e lusitana gente
Vamos em frente mas combictamente
(Estebes)
Bá lá cambada infantes desportistas
Homens de conquistas
Povo que és o meu
Bola redonda e onze jogadores em frente
Sem temores que as tácticas dou eu
Tragam as gaitas, as bandeiras e a pomada
Vamos dar-lhes uma abada,
Ensinar-lhes o que é bom
Vamos mostrar a esses carafunchosos
Por momentos gloriosos
Quem é a nossa selecçom

Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!

(Luís Represas)
É atacar agora e defender para fora
Uns são toscos e nem dão para aquecer
(Alexandra)
Suar a camisola e até jogar sem bola
E disfarçar para o árbitro não ver
(Estebes e Alexandra)
No intervalo, solteiros contra casados, 
Fandangos, chulas e fados
Para aprenderem como é
(Estebes e Dany Silva)
Durante o jogo qualquer caso lá surgido
Só pode ser resolvido à cabeçada e ao pontapé

(Carlos Paião)
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
(Estebes)
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!
(Todos)
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!

(Alexandra)
Os portugueses já provaram muitas vezes 
Saber ser uns bons fregueses das grandes ocasiões
(Luís Represas e Dany Silva)
Nesta jornada nem que seja à pantufada
Nós estaremos na bancada, muito mais que dez milhões
(Estebes)
Força Portugueses

(todos)
Viva Portugal, Portugal, Portugal!
Viva Portugal, Portugal, Portugal!

(Dany Silva)
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!
(Estebes)
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é efectibamente
Futebol total
Temos de ter coragem, muita força
Pensem nos vossos antepassados có nada
Muito orgulho, muita bivacidade
Vai lá... e um, dois, e um, dois
E vai lá...e cruza...e é golo, e é GOLO!

(todos)
Bamos lá cambada, todas à molhada, qu'isto é futebol total
Deixem-se de tretas, forças nas canetas, que o maior é Portugal!

O single foi campeão de vendas e recordo-me do refrão andar na boca de toda a gente. E recordo-me ainda, na ingenuidade dos meus seis anos, de achar estranho à expressão "força nas canetas", pois as únicas canetas que eu conhecia eram as de escrever e lá tiveram de me explicar que aquelas "canetas" que a canção falava eram na verdade as pernas. Gosto sobretudo da parte do solo de Dany Silva, que canta o refrão a dar uma no trovador africano e outra no soul singer

A partir do Europeu e 1996, e à parte o Mundial de 1998, a presença de Portugal em Europeus e Mundiais de futebol tornou-se constante e a cada ocasião, foi-se acalentando o sonho de que seria possível Portugal ganhar uma grande competição, algo que finalmente se cumpriu em 2016, não sem muitas frustrações pelo caminho, em especial em 2004, na final do "nosso" Euro. Pelo que ainda parece tão inacreditável que finalmente milhões de portugueses viram Portugal a levantar o caneco. 

Ao longo destes anos, houve algumas canções de apoio à Selecção a cada grande competição, mas nenhuma delas - à excepção da já referida "Força" que apesar das orgulhosamente exibidas raízes lusitanas de Nelly Furtado, não deixava de ser de origem importada - chegou perto da popularidade e genialidade do "Bamos Lá Cambada". Tal continua a ser sucesso que ainda hoje há miúdos que conhecem a canção, para não falar que faz parte da banda sonora da telenovela "Coração D'Ouro", actualmente em exibição na SIC. E como não podia deixar de ser, é essencial no repertório dos espectáculos com que, de há uns anos para cá, Herman José tem percorrido o país a actuar. 

Herman José a cantar com Alexandra no programa "Dá-me Música" (2009)


Com os Anjos na Gala Eusébio (2011)


No Natal dos Hospitais (1990):



 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Passatempo Sugus (1985)



Anúncio ao Passatempo Sugus de 1985. As explicações de participação e prémios do passatempo são relegados para o número seguinte da revista, que infelizmente não consegui encontrar.


Publicidade retirada da revista Heróis Disney Nº 17, de 1985. 
Uploader original desconhecido. Imagem Editada por Enciclopédia de Cromos.


Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

terça-feira, 5 de julho de 2016

As telenovelas latino-americanas dos anos 90

por Paulo Neto

Hoje em dia é corrente dizer que existem demasiadas telenovelas na programação dos canais nacionais generalistas. Mas já nos anos 90, havia uma abundância de telenovelas, se bem que a oferta então era um pouco mais variada, quanto mais não fosse no que dizia respeito aos países de proveniência.

As telenovelas brasileiras continuavam a reinar supremas, pois para além daquelas da imperiosa Rede Globo, várias telenovelas de outras estações brasileiras foram exibidas, algumas até com assinalável sucesso por cá como "Pantanal" e "Xica Da Silva" da extinta Rede Manchete. Além disso, depois de cinco telenovelas portuguesas exibidas na RTP nos anos 80,  a produção nacional entrou em expansão com a NBP (actual Plural) a produzir ininterruptamente telenovelas para a RTP, começando com "Cinzas" em 1992, seguindo-se outros títulos ao longo da década como "Desencontros", "Na Paz Dos Anjos", "Roseira Brava" ou "Terra Mãe".

E depois havia as telenovelas latino-americanas, made in México e Venezuela, dobradas em português do Brasil, que ao longo dos anos 90 foram presença habitual nos canais nacionais, sobretudo para o período da tarde. Mas ao contrário do que se possa pensar, este produto não era uma completa novidade em Portugal: sabiam que a primeira telenovela não brasileira exibida por cá foi o folhetim venezuelano "Doña Bárbara" nos idos de 1979?
Era habitual dizer-se mal destas telenovelas e apontar todos os seus factores risíveis: as tramas regadas de clichés (geralmente, a história girava à volta do amor proibido entre uma rapariga pobre e um rapaz rico), o overacting dos actores que ficava ainda mais extrapolado na dobragem, a falta de sincronia entre as vozes da dobragem e os movimentos das bocas dos actores, a pirosice dos figurinos e dos cenários e o excesso de dramatismo. Por algum motivo existe no Brasil a expressão "mais triste que novela mexicana." Ainda assim, estas telenovelas tiveram o seu público fiel e algumas delas alcançaram muito bons resultados de audiência e de share para os respectivos horários. Podia-se dizer que eram casos de algo tão mau que dava a volta e ficava interessante. Ou então havia aqueles que, como eu quando muito esporadicamente via alguns episódios, abordavam este produto com uma dose de humor.
A RTP, após a perda dos direitos de transmissão da Globo para a SIC, e a TVI pré-Big Brother foram as principais freguesas destas produções, com a primeira a optar sobretudo pela vertente mexicana e a segunda pela venezuelana. Mas até a SIC, apesar do seu bastião das telenovelas da Globo, também não resistiu ao apelo e chegou a transmitir duas telenovelas venezuelanas: "Mulher Proibida" e "Por Amar-te Tanto".

Já aqui falei da mítica telenovela infantil mexicana "Carrossel" e agora pretendo falar mais em pormenor de outras seis telenovelas latino-americanas que passaram por cá nos anos 90, três mexicanas e três venezuelanas. Não se trata de um top 6 pois só acompanhei com regularidade uma delas, mas creio serem estas as seis mais marcantes. Antes disso, importa mencionar outros títulos como "Prisioneira do Amor", uma das preferidas da minha avó, "Laços De Amor" (no original "Agujetas de Color de Rosa") com um deliciosamente açucarado tema pop no genérico e "Azul", que teve a particularidade de ser a única telenovela mexicana dobrada em português de Portugal, protagonizada por Kate Del Castillo, a actriz que recentemente fez notícia pelas suas aproximações ao barão da droga El Chapo.

"Morena Clara" (Venevisión, 1993)



É por demais sabido que, mais do que telenovelas, a Venezuela é especialista em produzir Misses. Já há várias décadas que este país se especializou em captar e "realçar" as beldades da nação para depois elas arrasarem nos concurso de beleza internacionais, sobretudo Miss Universo e Miss Mundo. Por isso, não é de estranhar que muitas dessas Misses se tenham tornado depois estrelas da teledramturgia venezuelana. Foi o caso de Astrid Carolina Herrera, coroada Miss Mundo em 1984 e protagonista de "Morena Clara", exibida na TVI em 1995.

Astrid Herrera na sua coroação como Miss Mundo em 1984



Astrid era Clara Rosa Guzmán, uma jovem renegada pelo pai, Emiliano Andara, um rico fazendeiro e abandonada pela mãe à nascença. Clara foi criada pela sua tia e cresceu numa favela de Caracas, ganhando a vida como vendedora ambulante. Durante uma revolta nas ruas da capital venezuelana, Clara conhece Valentín (Luis José Santander), um jovem advogado com aspirações políticas, e os dois apaixonam-se. O problema é que Valentín está casado com a pérfida Linda Prado (Gabriela Spanic), filha de Lisandro Prado (Henry Galue), o principal opositor político de Emiliano e os dois prometem fazer vida negra ao parzinho. Clara Rosa terá de lutar tanto pela felicidade junto de Valentín como para que Emiliano a reconheça como filha. Pelo meio, há uma sub-trama de corrupção política e lavagem de dinheiro. 

"O Avô E Eu" ("El Abuelo Y Yo", Televisa, 1992)



"O Avô E Eu" foi uma telenovela infantil mexicana que se centrava na amizade entre Alejandra, uma menina rica e sonhadora, e Daniel, um menino de rua que tem por única companhia o seu cão Anselmo. Alejandra era a actriz polaco-mexicana Ludwika Paleta, a inesquecível Maria Joaquina de "Carrossel", Daniel era um muito jovem Gael Garcia Bernal, longe de se imaginar uma estrela de Hollywood. O outro protagonista da telenovela é Joaquín Rivera (Jorge Martinez de Hoyos), um velhote solitário e rezingão mas que se deixa afeiçoar por Daniel, a quem este chama de Avô. E de facto, vem-se a descobrir depois que eles são mesmo avô e neto.





Do elenco fazia parte ainda num papel secundário o actor Diego Luna com quem Bernal dividiu o protagonismo no filme "E A Tua Mãe Também", o filme que os revelou internacionalmente.


"Estrela" ("Cara Sucia", Venevisión, 1992)



Mais uma variação da história da rapariga pobre (que afinal vai-se a ver é filha de um homem rico) que se apaixona por um rapaz rico. Estrella (Sonya Smith) é uma jovem que vive na pobreza, vendendo jornais para sobreviver. Por causa disso, tem a alcunha de "Cara Suja". Estrella conhece e apaixona-se por Miguel Angel (Guillermo Davila), sem saber que este é filho de Horácio Almada (Humberto Garcia), o homem que matou a mãe de Estrela e incriminou o seu pai, usurpando a sua fortuna e os seus negócios. Como não podia deixar de ser, até que Estrella e Miguel Angel fiquem juntos no final vão ter que passar por imensos martírios, não só por causa de Horacio mas também de Santa (Gigi Zanchetta), a obcecada ex-namorada  de Miguel Angel.



Exibida na TVI em 1994, "Estrela" chegou a ser na altura o programa mais visto da estação de Queluz de Baixo, ao ponto de não só ser exibida de segunda a sexta-feira como ter ao sábado um compacto dos cinco episódios da semana. A actriz americano-venezuelana Sonya Smith, que tinha aqui o seu primeiro papel de protagonista, foi tão carismática, que após o fim de "Estrela", a TVI exibiu outra telenovela protagonizada por Smith, "O Preço Da Paixão" ("Maria Celeste", 1994). Actualmente Smith entra em telenovelas produzidas nos Estados Unidos para o mercado latino-americano, como uma adaptação da telenovela brasileira "Fina Estampa". "Estrela" foi também a primeira telenovela latina a passar na Mongólia.


"Coração Selvagem" ("Corazón Selvaje", Televisa, 1993)



Foram muito poucas as telenovelas mexicanas de época que passaram em Portugal, nomeadamente este "Coração Selvagem". O protagonista era Juan Del Diablo (Eduardo Palomo), o filho ilegítimo de um rico fazendeiro que se torna pirata e envolve-se num quadrado amoroso em que os outros vértices são o seu meio-irmão Andrés (Ariel Lopez Padilla) e duas belas irmãs condessas, a doce e angelical Mónica (Edith Gonzalez) e a sensual e perversa Aimée (Ana Colchero). Além das intrigas entre a nobreza e o mundo dos piratas, a trama vivia sobretudo dos amores cruzados entre os quatro.

RIP Edith Gonzalez (1964-2019) e Eduardo Palomo (1962-2003)

Tida no México como uma das mais populares telenovelas de sempre, "Coração Selvagem" também conquistou algum público em Portugal, em grande parte devido ao carisma e ar de bad boy do protagonista Eduardo Palomo, infelizmente falecido em 2003 por ataque cardíaco. (Não sei se o Jack Sparrow ganharia a Juan Del Diablo numa luta mano-a-mano.) Salma Hayek foi uma das actrizes equacionadas para o papel de Mónica, tendo chegado a fazer testes de guarda-roupa antes da escolha final de Edith Gonzalez.

"Kassandra" (RCTV, 1992)



Esta é a telenovela venezuelana mais vendida de sempre, tendo sido exibida em 186 países. No YouTube é possível, por exemplo, encontrar excertos da telenovela com legendas em croata e dobragens em árabe.
Conforme o título indica, a protagonista é Kassandra (Coraima Torres), uma jovem que cresceu num circo cigano. Mas na verdade, ela não é realmente cigana e é neta de Alfonso Aroncha (Raúl Xiques), um rico fazendeiro, trocada à nascença por Herminia (Nury Flores), a segunda mulher deste.
Anos mais tarde, o circo volta à região, e Kassandra, apesar de prometida em casamento desde criança a Randu (Henry Soto), o líder da tribo cigana, tem um encontro romântico com Luís David (Osvaldo Rios), um dos filhos gémeos de Herminia. Algum tempo depois, Ignacio, o outro gémeo, descobre que Kassandra é a herdeira da fortuna do padrasto, e como tal afirma à jovem que foi com ele que ela teve o romance e convence-a casar-se com ele.

"Kassandra" foi protaginzada pela venezuelana Coraima Torres e pelo porto-riquenho Osvaldo Rios

Pouco após o casamento, Ignacio é assassinado. Ao saber disso, Luís David faz-se passar pelo irmão para descobrir quem o matou e embora suspeite fortemente de Kassandra, as memórias do romance entre ambos persistem. A verdadeira assassina é Rosaura (Loly Sanchez), a criada dos Aroncha, com quem Ignacio teve uma relação secreta.
"Kassandra" passou duas vezes na TVI. Eu vi alguns episódios da reposição no Verão de 1997, quando passava férias na Praia de Vieira, e algumas cenas eram tão hilariantes de tão absurdas, como aquela em que Kassandra descobre a arma que matou Ignacio e faz tudo o que qualquer pessoa inteligente faria que é passar as mãos por toda a pistola e deixar lá as impressões digitais. O facto da actriz Coraima Torres, apesar de muito bonita, ter o carisma de uma ostra não ajudava.
Mas giro, giro era o tema do genérico onde alguém troava o nome da personagem-título num canto cigano bem trinado: "Kassaaaaaaaaaandra!"

"Marimar" (Televisa, 1994)




Admito, eu vi esta telenovela mexicana, que deu na RTP em 1996, na qual Portugal conheceu pela primeira vez a cantora e actriz Thalía, hoje uma das maiores estrelas da música latino-americana (é daquelas estrelas que nem precisam de apelido). A história era mais uma vez a do amor entre uma rapariga pobre e um rapaz rico. Marimar vive com as avós numa cabana de uma pequena vila costeira mexicana e apaixona-se por Sergio Santibañez (Eduardo Capetillo), filho do homem mais rico da vila que sonha em ser futebolista. Os dois casam-se mas Angélica (Chantal Andere), madrasta do rapaz, não se conforma em ter uma nora pobretanas e congemina uma série de planos para acabar com a união. Acusa Marimar do roubo de uma pulseira (não sem antes obrigá-la a retirar a pulseira de uma poça de lama com os dentes), manda incendiar a cabana onde os avós da jovem acabam por morrer e forja a letra do enteado para escrever uma carta onde diz que Sergio nunca a amou. 
Transtornada por todos estes acontecimentos, Marimar muda-se para a Cidade do México, onde é acolhida por Gustavo Aldama (Miguel Palmer), um homem rico que vem-se a saber é o seu pai biológico. Transformada numa mulher chique e elegante sob o nome de Bella Aldama, a rapariga planeia a sua vingança contra os Santibañez, embora no fundo continue apaixonada por Sergio.




Assim de repente, parece a típica trama dramática de telenovela mexicana, mas "Marimar" valia pelo desempenho de Thalía que enchia o ecrã com a sua frescura e carisma, tanto na fase pobre como na fase chique, além de ter muita química com Eduardo Capetillo, um galã da escola Tony Ramos, ostentando o seu peito super-peludo.
Mas o que eu adorava nesta telenovela era o facto de ter um cão falante. Ou melhor, Pulguento, o cão de Marimar, que falava em voz-off, como dá para ver no início desta cena.


A RTP exibiu posteriormente outras duas telenovelas protagonizadas por Thalía: "Maria do Bairro" (em que uma cena trágico-histérico-dramática tornou-se um vídeo viral nos Estados Unidos há uns anos) e "Rosalinda". Porém desde 2000, ano em que casou com Tommy Motolla, patrão da Sony Music e ex-marido de Mariah Carey, que Thalía dedica-se quase exclusivamente à música. 


sábado, 2 de julho de 2016

Camilo & Filho Lda. (1995-1996)

 A Enciclopédia de Cromos tem o prazer de apresentar um novo convidado especial - Pedro Marta - que quis partilhar com os leitores as suas memórias da série da SIC encabeçada por Camilo de Oliveira e Nuno Melo: "Camilo & Filho Lda." exibida entre 1995 e 1996. Vou então passar a palavra ao Pedro Marta:

No ano em que a SIC ultrapassou a RTP nas audiências, o popular ator Camilo de Oliveira foi uma das grandes 'contratações' do canal para a área do humor, juntando-se a Guilherme Leite que assinava o estrondoso sucesso "Os Malucos do Riso". A primeira série de Camilo na SIC chamava-se "Camilo & Filho Lda." e consistia nas peripécias entre um pai (Camilo Chumbinho) e um filho (Alberto Chumbinho, interpretado por Nuno Melo), que viviam numa casa com poucas condições e que geriam um negócio de sucata.


Adaptada do original inglês "Steptoe and Son" e considerada uma das séries de maior audiência, "Camilo & Filho Lda." estreou a 10 de outubro de 1995 e teve apenas uma temporada de vinte e seis episódios. Para além dos dois protagonistas, que segundo os rumores se detestavam, contou com a participação especial de artistas consagrados como Alberto Villar, Alina Vaz, Manuela Cassola, Rui Mendes, Henrique Viana, Carlos César ou Artur Agostinho. Para além destes, Camilo de Oliveira trabalhou com a sua atual companheira, Paula Marcelo, que no segundo episódio ("A Cama"), dava vida a uma das 'namoradas' de Alberto Chumbinho.
A série terminou a 3 de maio de 1996, quase um mês depois de ter sido eleito o melhor programa de ficção e comédia na primeira edição dos "Globos de Ouro", apresentada por Catarina Furtado, João Baião e Ana Malhoa. Em 2003, o formato foi reposto em horário nobre, conquistando audiências semelhantes às de 1995 (cerca de 26% de rating), o que deixou Camilo bastante satisfeito: "Tudo isto se deve ao profissionalismo de uma equipa – liderada pelo produtor e realizador Jorge Marecos, que considero um irmão – que servia o programa e não o contrário", disse, na altura, ao Correio da Manhã.

Com uma grande dose de disposição e gargalhadas, "Camilo & Filho Lda." é intemporal: "A vida está difícil!", dizia Camilo, no final de cada episódio, sendo um dos seus célebres bordões.

Acrescento ao texto do Pedro Marta o vídeo do primeiro episódio, disponível no Youtube, tal como o resto da série:



Podem ler todos os posts dos nossos "Convidados Especiais".


Caro leitor, pode falar connosco nos comentários do artigo, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite-nos também no "Tumblr - Enciclopédia de Cromos". Se desejar ser um convidado especial e ver o seu texto publicado na Enciclopédia, pode contactar-nos pelas mensagens da Página do Facebook ou pelo email cine31@gmail.com. O texto proposto será analisado, e se seleccionado, publicado.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Abbacadabra (1984)

por Paulo Neto

Já tiveram aquela sensação de algo que aconteceu quando eram mesmo muito pequenos e que quando cresceram, ficam na dúvida se aquilo ocorreu mesmo? Foi o caso deste programa que passou na RTP em 1984 e que me recordo de ter sido um grande acontecimento, quanto mais não fosse por ter tanta gente conhecida, mas que nos anos seguintes, pareceu cair no esquecimento e pouco ou nada se falou dele desde então. Foi preciso a Caderneta de Cromos (what else?) do Nuno Markl falar de "Abbacadabra" para eu confirmar que esse programa não foi fruto da minha imaginação. Eu tinha quatro anos na altura, e apesar de não recordar de grande coisa nem ainda reconhecer a música dos ABBA, nunca tinha esquecido do programa pelo simples facto de juntar duas coisas que eu já sabia identificar: gente que aparecia na televisão e personagens dos contos infantis.



Mas vamos a factos. "Mamma Mia" não foi o primeiro musical construído a partir da música dos ABBA. Em 1983, quando o lendário quarteto sueco tinha acabado de terminar, os irmãos franceses Alain e Daniel Boublil conceberam um espectáculo musical para televisão que adaptava algumas das músicas dos ABBA a uma história que envolvia várias personagens dos contos de fadas. Vários nomes da música francófona participaram como Daniel Balavoine (tragicamente falecido num acidente durante o Rally Paris-Dakar de 1986) e o belga Plastic Bertrand, o cantor de "Ça Plane Pour Moi", isto para além de uma participação especial da própria Anni-Frid Lyngstad dos ABBA. Tanto o programa de televisão como o disco fizeram tal sucesso em França que outros países não tardaram a fazer a sua própria adaptação. A versão britânica foi feita no teatro londrino ainda em 1983 e contava com a participação da diva do West End, Elaine Page. Além de Portugal, a Holanda também teve a sua própria versão em 1985. 

A versão portuguesa esteve a cargo de Nuno Gomes dos Santos que também acumulou o papel de Pinóquio e das vozes de um dos Irmãos Metralha. A história era semelhante à da versão francesa, com apenas ligeiras alterações e utilizava as mesmas doze canções dos ABBA que o original francês.


Quatro crianças - João (João Cabeleira), Pedro (Pedro Cabeleira) e as gémeas (Ana e Joana) - são mandadas para o quarto de castigo, aparentemente por algo sem motivo (daí que a primeira canção se chame "Que Mal Fizemos Nós"). Uma dessas crianças, o João, sonha que as personagens dos contos infantis - Branca De Neve, Cinderela, Alice do País das Maravilhas, Pinóquio, Aladino, o Soldadinho de Chumbo e o Príncipe - vêm ter com eles para ajudar-lhes numa grande missão: derrotar a Rainha Má e os Irmãos Metralha. Mas não vai ser nada fácil, já que a Rainha Má tem um terrível computador, o PBX, que os vai capturando dentro de videocassetes. Mas claro que tudo acaba em bem.





Eis aqueles que participaram no disco, que então faziam parte da editora Orfeu: Fernando Correia Marques, na altura conhecido apenas como Fernando, vindo do hit pouco politicamente correcto "Carlitos", fez de Aladino (quiçá por ter ameaçar o tal Carlitos com uma "lamparina"); Suzy Paula, como o ídolo infantil que era na altura, não podia faltar num projecto assim e fez de Alice; Maria João - sim, a cantora de jazz - foi a voz da Branca de Neve; a locutora da RTP Helena Ramos, que nunca foi moça para recusar uma ocasional incursão na representação ou nas cantigas, era a Cinderela; o ex-cantor de intervenção Samuel era o Soldadinho; o papel da Rainha Má foi para a fadista Lenita Gentil; e António Manuel Ribeiro dos UHF era o Príncipe. José Nuno Martins fazia voz do locutor. Além de Nuno Gomes dos Santos, Zé da Ponte e Luís de Freitas eram as vozes dos Irmãos Metralhas e o coro dos Cravos na canção da Cinderela e do Soldadinho, sendo que na dita cuja, havia também o coro das Rosas constituído por Isabel Campelo, Inês Martins, Teresa Marta, Vanda e Ana Carvalho. Na última canção, Samuel e Lenita Gentil faziam também de dois professores.

Fernando Correia Marques como Aladino

Suzy Paula como Alice

Helena Ramos como Cinderela

António Manuel Ribeiro como o Príncipezinho

Lenita Gentil como a Rainha Má

Samuel como o Soldadinho




"Abbacadabra" foi filmado em Sintra, no Palácio da Pena, no Parque da Pena e no Colégio de São José. Na versão televisiva, a actriz Rosa Pelicano foi a Branca de Neve, fazendo playback da voz de Maria João e dava para ver bem que quem estava a fazer de Irmãos Metralha não eram os donos das vozes mas sim três bailarinos não identificados (aliás, um deles era seguramente uma Irmã Metralha). A realização esteve a cargo de João Serradas Duarte. O programa foi exibido pela RTP no dia de Natal de 1984. 

Este era o alinhamento:

Que Mal Fizemos Nós (When I Kissed The Teacher)
O Sonho do João (The Visitors)
Abbacadabra (Take A Chance On Me)
O Nariz do Pinóquio (Money Money Money)
Aladino Fanfarrão (Supertrooper)
Branca De Neve e o Espelho (I Wonder Departure)
Rainha Má Superstar (Dancing Queen)
Cinderela e o Soldadinho (I Let The Music Speak)
Os Amigos (Fernando)
Larguem A Cassete (I'm A Marionette)
Branca De Neve e o Principezinho (Arrival)
Não Basta Ralhar (Thank You For The Music)

A Caderneta de Cromos desenterrou "Abbacadabra" dos recantos das memórias de gente como eu, que nunca se tinha esquecido disso mas ainda faltava uma prova material em imagens do que tinha sido esse especial de televisão. E em pouco tempo, consegui duas recolhas. Primeiro, na rubrica "Retroescavadora" de Fernando Alvim na RTP Memória e a seguir, uma versão completa de "Abbacadabra" no YouTube, cortesia de um utilizador francês. (Merci beaucoup, Philippe Benabes!) Vejam só:


Não admira que eu tenha pensado durante anos a fio que eu tinha pensado que isto tinha sido fruto da minha imaginação, já que o conteúdo é tão alucinante e bizarro, mas também muito divertido. Desde António Manuel Ribeiro vestido de príncipe medieval com collants e boina com penacho a cantar o "Fernando" e Maria João e Suzy Paula a atirarem-se a "Take A Chance On Me", até Samuel e Helena Ramos num dueto romântico e Fernando Correia Marques numa versão de "Supertrooper" com pretensos arranjos medio-orientais, para já não falar do ponto alto que é ver e ouvir Lenita Gentil no papel de Rainha Má num versão de "Dancing Queen". Ou então a cena do confronto final, com a Rainha Má e os Irmãos Metralha (como é que a Disney nunca pensou numa história crossover de universos assim?) a cantarem "Larguem a cassete, temos um cacete". E o grande final ao som de uma versão de "Thank You For The Music" com imagens de crianças a brincar. (Mas não haveria um título melhor do que "Não Basta Ralhar".
O programa especial com cerca de 50 minutos, hoje parece muito rudimentar, mas para o Portugal de 1984, onde tudo andava a dez à hora, "Abbacadabra" teve sem dúvida as honras de uma superprodução da RTP. Digam lá que o disco não merecia uma reedição ou até um remake com artistas portugueses da actualidade?

O blogue "Fruta e Verdura" também disponibilizou as folhas com as letras das canções e os diálogos que também estão no disco.  


Episódio da Retroescavadora (RTP Memória): 
Caderneta de Cromos - Abbacadabra 1.ª Parte (16/3/2011):
http://podcastmcr.iol.pt/rcomercial/cdc02_160311.mp3
Caderneta de Cromos - Abbacadabra 2.ª Parte (21/3/2011):
http://podcastmcr.iol.pt/rcomercial/cdc01_210311.mp3


Obrigado mais uma vez ao site Brinca, Brincando pelas fotos das personagens. 

Atualização: "Abbacadabra" está agora também disponível para visualização na RTP Arquivos: Parte 1 Parte 2

terça-feira, 28 de junho de 2016

Os Patinhos (1999-2005)

por Paulo Neto

Ao longo das décadas, houve várias cantigas em que a televisão mandava as crianças irem fazer óó. Dos Meninos Rabinos e o Topo Gigio nos anos 60 e 70 até ao inevitável Vitinho nos anos 80 e 90 (recordo-me também de "Quando o Sono Espreita" com personagens dos desenhos animados de "O Ouriço" e cantada por Eugénia Melo e Castro nos idos de 1990), foram diversas as cantilenas com que a RTP convencia as crianças a irem para a caminha. Mas no final do século XX, parecia que essa era uma tradição passada e a haver uma nova canção com bonecos animados, dificilmente seria capaz de se tornar tão mítica como os opus do Vitinho.





Mas em 1999, essas suposições foram simplesmente deitadas por terra, quando nesse ano, um pequeno filme de minuto e meio que conquistou miúdos e graúdos.
Numa grande sala de espectáculos, um simpático patinho cantava de olhos fechados e em bicos de pés uma variante da célebre canção infantil "Todos os patinhos sabem bem nadar", mas com a letra adaptada à hora de dormir.




Todos os patinhos acabam de brincar
Acabam de brincar
Os pijamas vão vestir e os dentes vão levar
Os pijamas vão vestir e os dentes vão levar

É que esta hora é hora de ir dormir
É hora de ir dormir
Mas ainda há tempo para uma história ouvir  
Mas ainda há tempo para uma história ouvir

Pais, mães ou avós, à cama lhes vão dar
À cama lhes vão dar
Um beijo de boa noite e a luz apagar
Um beijo de boa noite e a luz apagar

Enquanto o patinho cantava, três patas bailarinas dançavam ballet trajadas com toda a toilette de dormir e um pato verde tocava xilofone até ser levado de palco com uma bengala. (A provar que isto do politicamente correcto não é só de hoje, recordo-me da altura haver quem se queixasse da violência dessa parte.)

Produzido pela produtora Animanostra, o filme foi realizado por Rui Cardoso, que também criou as personagens. A voz do Patinho era de Teresa Sobral, actriz conhecida pelos seus trabalhos em programas infantis da RTP como por exemplo, "Juventude E Família" onde foi Maria Bliskova, a amiga eslava do Lecas. A curta-metragem foi originalmente concebida para o programa "O Jardim Da Celeste", onde se cantava a música original, (chegou mesmo a ser exibida uma versão onde as patas bailarinas apareciam de fato de banho em vez de camisa de dormir), mas Teresa Paixão, então directora da programação infantil da RTP, propôs que fosse adaptada como uma nova canção para dar as boas-noites aos telespectadores mais pequeninos.








Embora eu esteja em crer que não seriam muitas as crianças, pelo menos com mais de cinco anos, que iam-se deitar após a exibição diária dos Patinhos, até porque costumava dar bastante cedo (por vezes até antes do Telejornal), a qualidade da animação e dos bonecos conquistou tudo e todos. Em 2000, saiu o primeiro disco que continha não só a canção do Patinho como versões de outras imortais cantigas infantis, que vendeu que nem pãezinhos quentes e que gerou a edição mais discos. Aliás, tem sido apontado como o disco que ressuscitou o interesse do mercado discográfico nacional no público infantil.





Para além dos discos, os Patinhos tiveram um vastíssimo merchandising: bonecos de PVC, peluches, roupas, cortinados, lençóis, mochilas, DVDs, material escolar, livros de colorir e um suplemento destacável na revista de domingo do Correio da Manhã. 

Além do filme original, também passaram na RTP outros filmes com as mesmas personagens, nomeadamente um que se passava numa feira e onde era cantada uma versão da "Minha Machadinha" e outro de temática natalícia. Com os diversos filmes, os Patinhos marcaram presença no pequeno ecrã até 2005.





Mas não se pense que os Patinhos foram um sucesso somente junto da criançada. Por exemplo, na altura era uma das canções obrigatórias no repertório dos caloiros durante as praxes académicas e há relatos de discotecas onde a música era tocada quando era hora de encerrar o estaminé.  


terça-feira, 21 de junho de 2016

Colectânea N.º 1 (1993)

por Paulo Neto

No ano passado, analisámos aqui todo o alinhamento da colectânea N.º 1, editada no Verão de 1995, que tinha na capa o simpático Fido Dido, a mascote da Seven Up. Aliás embora nem todos os volumes tivessem o boneco na capa, havia quem se referisse aos discos da série como "as colectâneas do Fido Dido". Era minha intenção, por alturas do Natal passado, fazer uma semelhante análise a este volume da série, até porque foi uma das primeiras cassetes que eu tive, mas não consegui encontrá-la na arrecadação. 
Porém, descobri recentemente na internet imagens da capa e do alinhamento do disco pelo que agora já é possível recordar através dele 27 das músicas que marcaram o ano de 1993. Esse foi o ano em que comecei realmente a interessar-me por música e por alargar os meus gostos a diversos géneros, em boa parte por ter sido nesse ano que descobri a MTV graças ao breve período em que a minha família foi proprietária de uma antena parabólica. Foi também a partir daí que comecei a prestar mais atenções às tabelas de vendas mundiais, nomeadamente a britânica, e a elaborar os meus primeiros tops pessoais em cada semana.
De tal forma, que quando no Natal desse ano saiu esta compilação que continha tantas das canções que eu ouvi e vi os respectivos videoclips, tornou-se logo o presente que eu mais desejava receber na minha quadra natalícia. Aliás, nem tive que esperar até ao Natal, já que o meu tio ofereceu-me a dupla cassete logo no início de Dezembro. 

Este era o quinto volume da série de colectâneas N.º 1, cujo primeiro volume foi editado dois anos antes. Até 1996, eram editados dois volumes da série por ano, um no início do Verão e outro por alturas do Natal, todos eles campeões de vendas e vários discos de platina. Estas colectâneas tinham a colaboração de várias editoras nacionais (Warner Music, Sony Music, BMG, EMI-Valentim de Carvalho). No caso deste volume, a edição esteve a cargo da Sony Music com a cooperação das restantes editoras.     




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CD 1
1. "What's Up?" 4 Non Blondes: E começamos com uma das canções que marcaram o ano de 1993, com o refrão "And I say hey, hey, hey! I say hey, what's goin' on?" a andar na boca de toda a gente. Os 4 Non Blondes formaram-se em 1989 em San Francisco e editaram apenas um único álbum "Bigger! Better! Faster! More!" em 1992. De acordo com a líder da banda Linda Perry (filha de pai português e mãe brasileira), o título "What's Up" foi usado para evitar confusões com o "What's Goin' On" de Marvin Gaye. A balada rock acabou por ser um sucesso mundial tendo chegado ao n.º 1 do top em vários países e o álbum foi n.º 1 em Portugal. Recordo-me também que até saber o nome dela, fiquei na dúvida sobre se a baixista Christa Millhouse era homem ou mulher. No auge da fama do grupo, correu o boato de que Linda Perry tinha morrido de overdose e até a cantora que a imitou nos "Chuva de Estrelas" mencionou isso, o que levou a SIC a passar uma nota de rodapé a desmentir essa declaração e afirmar que Perry estava viva. Após a dissolução dos 4 Non Blondes em 1994, Linda Perry editou um álbum a solo e notabilizou-se a compor hits para outros artistas, nomeadamente Pink e Christina Aguilera.   
2. "Cose Della Vita" Eros Ramazzotti: Já falámos aqui do período em que Eros Ramazzotti reinou nos tops e nas rádios portuguesas tal como o fazia na sua Itália natal (o mesmo sucedendo com a sua compatriota Laura Pausini), com o álbum "Tutte Storie" a somar milhares de cópias vendidas em Portugal. "Cose Della Vita" foi o mais famoso single do álbum, com o videoclip realizado por Spike Lee. Em 1998, Ramazzotti regravou o tema em dueto com Tina Turner. E por falar nela...
3. "I Don't Wanna Fight" Tina Turner: Também já falámos aqui do filme biográfico de Tina Turner de 1993, que tinha o mesmo título do seu mais conhecido hit "What's Love Got To Do With It". A banda sonora continha alguns dos conhecidos temas da Miss Hot Legs, mas também alguns temas inéditos, como este "I Don't Wanna Fight", escrito pela cantora Lulu e inicialmente oferecido a Sade Adu. Mas sem dúvida que a canção assentava a Tina Turner como uma luva, bem como ao final do filme. 
4. "Pray" Take That: Outra canção já aqui mencionada no blogue, por ter feito parte do meu top 5 de canções de boybands dos anos 90. O primeiro single do segundo álbum do quinteto de Manchester, "Pray" era um tema pop bem fresquinho, perfeito para os calores do Verão de 1993 e continua a ser a minha preferida dos Take That, o grupo que estabeleceu o molde para as boybands vindouras. Também gosto muito do videoclip, filmado no México e onde quatro membros representavam os elementos: terra (Robbie Williams), ar (Mark Owen), fogo (Jason Orange) e água (Howard Donald), com Gary Barlow a representar o ser humano.  
5. "Can't Help Falling In Love" UB40: a banda de "Red, Red Wine" obteve um inesperado êxito mundial nesse ano com esta versão pop-reggae de um dos mais emblemáticos temas de Elvis Presley, apresentando-o a toda uma nova geração. A versão dos UB40 também fez parte da banda sonora do filme "Sliver - Violação de Privacidade", com Sharon Stone e William Baldwin. 
6. "Runaway Train" Soul Asylum: Os Soul Asylum era outra banda que na altura vivia os seus 15 minutos de fama, graças ao tema "Runaway Train" que falava sobre jovens fugitivos e sobretudo o respectivo videoclip que tinha fotos de crianças e adolescentes desaparecidos, com o respectivo nome e data de desaparecimento. Várias versões do videoclip foram feitas em diversos países, incluído Portugal, com fotos de jovens desaparecidos no respectivo país (a versão portuguesa incluiu uma foto da jovem Ana Cristina, desaparecida nesse ano na Costa da Caparica e cujo corpo seria encontrado em 1995, tendo sido a única vítima mortal do Gangue do Multibanco). Segundo o realizador Tony Kaye, pelo menos 26 dos jovens desaparecidos que apareceram nas três versões americanas do videoclip foram encontrados. 
7. "Condemnation" Depeche Mode: os Depeche Mode foram provavelmente a banda dos anos 80 que teve a transição mais confortável para os anos 90, com a sua popularidade e qualidade de repertório ainda em alta. Pelo menos nesse aspecto, já que em meados da década, o vocalista Dave Gahan quase perdia a batalha contra os seus demónios e as tensões foram constantes no seio da banda. O álbum de 1993 "Songs Of Faith And Devotion", o último da banda enquanto quarteto com saída de Alan Wilder, mostrava uma sonoridade mais dark, com claras influências da cena alternativa e do grunge. Porém este "Condemnation" era como que uma excepção, já que era um tema quase acapella, onde predominava a voz de Gahan sobre um coro gospel. 
8. "Life" Haddaway: foi em 1993 que Nestor Alexander Haddaway, um tobaguenho radicado na Alemanha tornou-se o príncipe do euro-dance graças ao clássico do género "What Is Love" (de que já falámos) e a expectativa era alta para o single seguinte, que foi este "Life" que felizmente tinha todos os elementos do sucesso do seu predecessor
9. "Go West" Pet Shop Boys: sem dúvida o ponto alto dos Pet Shop Boys nos anos 90, a banda de "West End Girls" e "Domino Dancing" pegou no semi-obscuro hit dos Village People e transformou-o num esmagador hino electro-pop, que se ouviu em todo o lado das pistas de dança aos estádios de futebol. Confesso que ainda hoje me arrepio ao ouvir os coros no refrão final.  
10. "Otro Dia Mas Sin Verte" Jon Secada: depois de vários anos a fazer coro para Gloria Estefan, o cubano Jon Secada teve a oportunidade de brilhar como cantor principal, com o seu primeiro álbum em 1992, do qual gravou uma versão em inglês e outra em castelhano. Em Portugal, foi a versão em castelhano que teve mais sucesso, por isso é esta a versão do tema principal do álbum que foi incluído nesta compilação, ao passo que a versão em inglês, "Just Another Day", fez sucesso nos países fora da Península Ibérica e América Latina. Jon Secada viria a somar mais algum sucesso ao longo da década, tendo cantado na cerimónia de abertura do Mundial de Futebol de 1994, na banda sonora do filme "Pocahontas" e em 1997, actuou em Portugal nos Globos de Ouro.
11. "Mr. Vain" Culture Beat: Outro dos grandes sucessos euro-dance do ano de 1993. Os Culture Beat era um colectivo de produtores e compositores alemães mas cujas faces eram as da cantora britânica Tania Evans e do rapper americano Jeffrey "Jay Supreme" Carmichael. "Mr. Vain" foi o maior hit do grupo, atingido o primeiro lugar do top em 13 países e deixando no ouvido de todos o refrão: "Calling Mr. Raider, calling Mr. Wrong, calling Mr. Vain". Também nunca esqueci o videoclip que passava insistentemente na MTV, cuja minha parte preferida é aquela em que os figurantes desatam a comer fruta com a maior javardice possível. Infelizmente, ainda em Novembro de 1993, os Culture Club perderiam o seu membro fundador Thorsten Fenslau num acidente de viação, mas o grupo continuou por mais uns anos. O videoclip do single seguinte "Got To Get It" foi parcialmente filmado em Portugal e por cá, o tema de 1996 "Inside Out" teve algum sucesso. Em 2003, uma regravação de "Mr. Vain" intitulada "Mr. Vain Recall" teve algum êxito na Alemanha. Os Culture Club ainda editam música e actuam ao vivo ocasionalmente, desta vez com Jacky Sangster como vocalista residente.  
12. "Right Here" SWV: As SWV (Sister With Voices) formavam a santíssima trindade de grupos r&b femininos americanos do inícios dos anos 90, juntamente com as En Vogue e as TLC. O trio formado por Cheryl Gamble, Tamara Johnson e Leanne Lyons desde logo conheceu sucesso com o seu primeiro álbum, "It's About Time", que incluía este "Right Here", que continua a ser o hit mais famoso do grupo. Esta compilação continha a versão original, porém a versão mais famosa do tema é o "Human Nature Remix", que continha um sample de "Human Nature" de Michael Jackson e um breve solo de rap de um então muito jovem Pharrell Williams. As SWV continuam no activo, apesar de um interregno entre 1998 e 2005.   
13. "Forever In Love" Kenny G.: Kenneth Gorelick, mais conhecido como Kenny G., já era bem conhecido pelos seus temas instrumentais de saxofone multi-usos, que tanto serviam para bandas sonoras de filmes como para tocar em elevadores ou servir de música ambiente em salas de espera. Por exemplo na China, ainda é costume as lojas e até empresas tocarem o tema "Going Home" na hora de encerrar o expediente. Mas foi apenas com o seu álbum de "Breathless" de 1993 que Kenny G. tornou-se um campeão de vendas, com 12 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos. Portugal também deixou-se convencer, chegando a disco de ouro. O tema principal do álbum era este "Forever In Love", que tornou-se outro tema emblemático do repertório de Kenny G., que no passado dia 5 de Junho completou 60 anos (já?) e que foi um dos investidores iniciais da empresa Starbucks.

CD 2
1. "Creep" Radiohead: Hoje visto como uma das canções mais marcantes da geração nineties, "Creep" foi o primeiro single dos Radiohead, ainda em 1992. A primeira edição passou despercebida no Reino Unido mas aos poucos o tema foi ganhando atenção noutros países, a começar em Israel até que se tornou um hit global e um hino de toda a teenage angst dos anos 90, catapultando os Radiohead para o estatuto de uma das maiores bandas do mundo. Nada mau para uma canção que, dizem eles, os membros da banda não gostavam por aí além. Aquele riff de guitarra antes do refrão continua a causar arrepios. 
2. "To Love Somebody" Michael Bolton: Admito, em meados dos anos 90, fui um grande fã de Michael Bolton. Não só por ser dono de um grande vozeirão como por razões indecifráveis, transmitia-me o seu quê de figura paternal. Tendo iniciado a sua carreira no heavy metal nos anos 70, Bolton alcançou o sucesso nos anos 90 quando trocou as guitarradas pela baladaria e pelas versões de temas dos anos 60 como "When A Man Loves A Woman" e "Sittin' In The Dock Of The Bay", o que sem dúvida inspirou o seu álbum de covers de 1992 "Timeless", do qual o tema de maior sucesso foi esta versão de "To Love Somebody", um original dos Bee Gees, que apresentou o tema à minha geração. No final de 1993, Bolton editaria o álbum "The One Thing" que teria particular sucesso em Portugal. 
3. "Tribal Dance" 2 Unlimited: No início de 1993, os 2 Unlimited, encabeçados pelos holandeses Anita Dels e Ray Slijngaard, somaram o seu maior hit até então como "No Limit" iniciando uma fase de enorme sucesso para o grupo com os temas do álbum "No Limits". "Tribal Dance" foi  segundo single e foi outro hit por toda a Europa. No Reino Unido, este foi o primeiro single dos 2 Unlimited onde o rap do Slijngaard não foi cortado na edição britânica, algo que tinha acontecido com os singles anteriores, já que a editora britânica do grupo não era fã dos seus raps. O videoclip também é um dos mais famosos ds 2 Unlimited com o seu cenário de selva e reproduzindo alguma da estética dos jogos de vídeo. Para mim, "Tribal Dance" ficou para sempre associado à escola de condução Santa Maria de Óbidos, já que o tema foi utilizado no anúncio da respectiva escola que passava nas rádios locais do Norte do Ribatejo.  
4. "O Baile" Sitiados: o principal defeito deste volume da série N.º 1 é a escassez de temas nacionais do seu alinhamento, apenas dois, quando até tinha três em espanhol. Para a banda que anos antes conquistou tudo e todos com o grande hit "Vida de Marinheiro", era tempo de segundo disco. Este "O Baile", que pegava emprestado em vários elementos do célebre "Bailinho da Madeira", esteve quase para ser também o título desse álbum, que acabou por se chamar "E Agora?", quiçá reflectindo as dúvidas dos Sitiados sobre o que fazer a seguir ao estrondoso sucesso do primeiro álbum. Dúvidas essas foram dissipadas com outro grande hit, "O Circo".  
5. "A Un Minuto De Ti" Mikel Erentxun: Em 1992, o espanhol nascido em Caracas Mikel Erentxun dava o seu primeiro passo numa carreira a solo, após o sucesso como parte dos Duncan Dhu no país vizinho ao longo dos anos 80. O seu primeiro álbum a solo, "Naufragios" acabou por ser um caso raro de sucesso também neste lado da Península, muito por culpa deste "A Un Minuto De Ti" (não deixa de ser bastante estranho como tão pouca música espanhola consegue passar para cá e muito menos música portuguesa atravessa o lado de lá da fronteira). Erentxun continua no activo (o seu último álbum é de 2010) mas nunca mais conseguiu repetir o sucesso de "A Un Minuto De Ti" por cá. 
6. "Cherish The Day" Sade: Em exactidão, Sade foi sempre na sua essência mais uns "eles" do que propriamente uma "ela", embora seja fácil confundir e pensar que o repertório do grupo liderado pela anglo-nigeriana Helen Folasade Adu é o de uma artista a solo, tal o seu domínio e o pouquíssimo destaque dado aos restantes membros da banda, alguns deles presentes desde o início do projecto. Este "Cherish The Day" era o single final do álbum de 1992 "Love Deluxe" e também marcaria o fim do período mais prolífico de Sade Adu e companhia, uma vez que desde então só editaram mais dois álbuns originais em 2000 e 2010.  
7. "Nuestros Nombres" Heroes Del Silencio: Mesmo cantando exclusivamente em castelhano, o grupo rock espanhol alcançou um inusitado sucesso em vários países europeus como Alemanha, Bélgica, Suíça e Jugoslávia, em grande parte devido ao hit de 1990 "Entre Dos Tierras". Por isso, o lançamento do álbum de 1993 "El Espiritu Del Vino" teve honras de lançamento à escala mundial, com o videoclip de "Nuestros Nombres" a passar frequentemente na MTV. O grupo lançou mais um álbum até à sua dissolução em 1996, com o carismático vocalista Enrique Bunbury a enveredar por uma carreira a solo. Os Heroes Del Silencio tiveram uma breve reunião em 2007 para um série de onze concertos em Espanha e alguns países da América Latina. 
8. "Everybody Hurts" R.E.M.: Se eu tivesse de escolher qual é o disco da minha vida, eu diria "Automatic For The People" dos R.E.M. Cada uma das suas faixas parece que toca profundamente em mim e apesar da morte ser um dos temas recorrentes do disco, ao mesmo tempo sinto tanta vida nessas canções. Vindos do sucesso do álbum "Out Of Time" que lhe transformou de ídolos da cena alternativa em campeões de vendas em todo o mundo, "Automatic For The People" conseguiu prolongar esse ponto alto da banda de Michael Stipe. Muito por culpa daquela que é a mais famosa e menos complexa faixa do álbum, "Everybody Hurts". Segundo o guitarrista Peter Buck, ao contrário das letras enigmáticas e metafóricas que são o apanágio da banda, a letra desta canção é atipicamente clara e directa para que a mensagem da canção chegasse facilmente a adolescentes. Tão inesquecível quanto a própria canção é o videoclip em que uma multidão de pessoas presas num engarrafamento começam a sair dos carros e a caminhar pela estrada sem mais.   
9. "Love Scenes" Beverley Craven: Depois do seu sucesso do seu álbum homónimo de estreia, que incluía o hit "Promise Me" que por cá foi muito cantado nos anos seguintes em programas como "Chuva De Estrelas" e "Cantigas Da Rua", a britânica Beverley Craven regressava aos discos após uma pausa para maternidade com o álbum "Love Scenes", do qual a faixa-título foi o primeiro single. O disco continha também uma versão de "The Winner Takes It All" dos ABBA. Beverley Craven continua no activo, ainda que só tenha editado mais três álbuns de originais desde então (o mais recente é de 2014), até porque em 2006 fez uma pausa na carreira para tratar um cancro da mama. Craven foi uma das convidadas musicais da primeira cerimónia dos Globos de Ouro da SIC em 1996. 
10. "Fora De Tempo" Luís Represas: Depois de quase década e meia com os Trovante, Luís Represas editava em 1993 o seu primeiro álbum a solo, originalmente intitulado "Represas", do qual este "Fora Do Tempo" foi o primeiro single. Do mesmo disco, saíram os hits "Neva Sobre A Marginal" e "Feiticeira". 
11. "Shock To The System" Billy Idol: O mais célebre punk oxigenado dos anos 80, Billy Idol tinha novas aspirações no dealbar dos anos 90: pretendia ser um "Cypberpunk", conforme o título do seu álbum de 1993. Como tal, foi um dos primeiros álbuns de um artista de topo a ser promovido amplamente na internet e nele, Idol abraçava sonoridades mais electrónicas e/ou alternativas, e nem faltou um piscar de olhos ao grunge. Este "Shock To The System" foi o primeiro single e pretendia dar uma no cravo e outro na ferradura: tanto fazia lembrar os seus temas dos anos 80 como mostrava as suas novas influências. 
12. "Housecall" Shabba Ranks featuring Maxi Priest: Esta era a única canção da colectânea que eu nunca tinha ouvido antes de ter a cassete e tive de ouvir de novo no YouTube para recordar como era. Isto apesar de reunir dois dos nomes mais consagrados da música jamaicana. Com a música dancehall a ganhar então grande popularidade na Europa, Rexton Gordon, mais conhecido como Shabba Ranks, viu alguns dos seus singles de 1991 re-editados com renovado sucesso, sobretudo "Mr. Loverman", cuja nova versão continha curiosamente um sample deste "Housecall", quando Maxi Priest diz "Shabba!".  
13. "Delicate" Terence Trent D'Arby featuring Des'Ree: O artista agora conhecido como Sananda Maitreya e a quem o meu tio Jorge chamava de "o Terence da Arábia" continuava em alta no início dos anos 90, com o álbum de 1993 "Terence Trent D'Arby's Symphony Or Damn" a ser bem recebido pelo público e pela crítica. O tema mais famoso do álbum era esta balada, em dueto com a então desconhecida cantora Des'Ree que viria fazer grande sucesso durante o resto da década de 90 com temas como "U Gotta B", "I'm Kissing You" e "Life". 
14. "I'd Do Anything For Love (But I Won't Do That)" Meat Loaf: E terminamos com chave de ouro com o hit mais gloriosamente épico do ano de 1993. 15 anos após o mega-clássico álbum "Bat Out Of Hell", Marvin Lee Aday, mais conhecido como Meat Loaf, e Jim Steinman voltavam a reunir forças para o segundo tomo, "Bat Out Of Hell 2: Back Into Hell". A grande canção do disco foi sem dúvida "I'd Do Anything For Love (But I Won't Do That)", a primeira faixa do álbum que na versão LP tem doze minutos. Aqui nesta compilação foi utilizada a versão do single de 7 minutos e 50 segundos. Todo um épico vagneriano cheio de drama, Meat Loaf canta que fará tudo por amor menos uma coisa, o "that" que a canção nunca explica claramente. (A minha teoria é a da parte da voz feminina quando ela prediz que "You'll see that it's time move on" e "You'll be screwing around", ao que Meat responde "I won't do that", que eu interpreto como ele a afirmar que não a vai deixar mesmo se achar que vai haver uma altura para seguir em frente e partir para outras). A misteriosa voz feminina simplesmente creditada como "Ms. Loud" foi identificada como sendo de Lorraine Crosby. Igualmente épico é o videoclip realizado por Michael Bay, um recontar de "A Bela E O Monstro" com Meat no papel de monstro e a modelo e actriz Dana Patrick como a Bela. Uma das razões pela qual Dana Patrick foi escolhida para o papel foi por ter experiência a fazer playback, como ela o fez no vídeo das partes cantadas por Crosby. Mas muita gente pensou que era mesmo ela a cantar e depois até recebeu várias propostas para um contrato discográfico. "I'd Do Anything For Love (But I Won't Do That)" foi n.º 1 em 28 países, foi o single mais vendido de 1993 no Reino Unido e ganhou o Grammy para Melhor Interpretação Rock Individual. 

Playlist com as 27 canções:




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