sábado, 12 de outubro de 2013

Adão e Eva (1995)

por Paulo Neto

Além de revolucionar o panorama televisivo no Portugal dos anos 90, a SIC desempenhou um importante papel numa pequena revolução no cinema nacional ao reconciliá-lo com o público. Mais de dez anos após o sucesso inesperado de "O Lugar do Morto", nenhum outro filme português tinha ainda visto as suas exibições serem acompanhadas do tilintar consistente das moedas nas bilheteiras. Apesar da qualidade e do reconhecimento internacional de algumas obras, a ideia que o público tinha do cinema português era de cinema aborrecido, hermético, mais virado para os umbigos dos realizadores e os elogios das elites artísticas do que para as atenções das massas. Por exemplo, se perguntássemos a algum tuga que palavra associaria ao mestre Manoel de Oliveira, provavelmente a maioria diria "seca". 



Mas o panorama mudou com a estreia de "Adão & Eva" em 1995, um filme que provou conter todos os ingredientes certos: um elenco com vários nomes conhecidos encabeçado pelas duas nossas maiores estrelas internacionais de então, Maria de Medeiros e Joaquim de Almeida; uma realização experiente e atenta de Joaquim Leitão; a banda sonora de Pedro Abrunhosa, no auge da sua fama; uma trama que falava de novos conceitos de relações amorosas e paternidade e de intriga nos bastidores da televisão; e a co-produção e toda uma eficiente campanha de marketing da SIC que suscitou a curiosidade do público.

A história é a seguinte: Catarina (Maria de Medeiros) é uma jornalista da SIC que cede às urgências do seu relógio biológico e decide ser mãe. O problema é que não só ela desiludiu-se com os homens, como está envolvida numa relação lésbica com a temperamental Tê (Ana Bustorff), relação essa que Catarina mantém em segredo para evitar um circo mediático. Durante uma reportagem em Espanha, Catarina conhece Rafael (Karra Elejalde), um médico activista espanhol e, decidindo que ele pode ser uma fonte de bons genes para o seu filho, acaba por seduzi-lo e engravidar dele, para desgosto de Tê, que reage mal tanto à gravidez da companheira como à forma como ela engravidou, acabando com a relação e prometendo infernizar-lhe a vida. Mais tarde, Catarina envolve-se com Francisco (Joaquim de Almeida), seu colega na apresentação de um novo programa chamado "Adão e Eva" e o namoro depressa se torna sério. Mas Rafael surge em Portugal para esclarecer a sua situação face a Catarina e à criança por nascer e Tê continua inconformada... Para não falar que Helena (Cristina Carvalhal), um ex-colega de Catarina e sua arqui-rival, toma conhecimento de todos os seus segredos de Catarina e não olhará a meios para a destruir. O elenco contava ainda com Rogério Samora, Júlio César, Marcantónio Del Carlo, Filipe Crawford e participações especiais de Margarida Marante, Ana Bola e Eládio Clímaco.




Com hype raramente visto à volta de um filme português, "Adão e Eva" acabou por ser um êxito comercial e também foi o vencedor absoluto das categorias de cinema na primeira edição dos Globos de Ouro. Mas quem não viu o filme no cinema, teve a oportunidade de o ver na televisão uns meses mais tarde, quando a SIC exibiu o filme em formato de mini-série de três episódios, com algumas cenas que não foram incluídas no filme. E foi nesse formato que eu vi "Adão & Eva".
Pessoalmente, não sendo mau filme, acho que fica um pouco aquém das expectativas criadas. Sobretudo acho que o argumento acaba por ser algo superficial, tornado as personagens demasiado caricaturais, e os assuntos abordados como a bissexualidade e as novas formas de paternidade podiam ter sido mais explorados, além de um recurso algo excessivo ao factor choque. Se bem que a mim não me tenha chocado aquilo que a muita gente apontou como principal defeito do filme que foi o excesso de palavrões. Aliás, raramente a linguagem profana soou tão sedutora como quando Joaquim de Almeida e Maria de Medeiros proferem as frases mais famosas do filme, durante uma cena de sedução:



Como já referi, como se já não houvesse toda uma parada de estrelas no filme, a banda sonora esteve a cargo de Pedro Abrunhosa, que aproveitaria aliás parte dela para o seu hit "Se Eu Fosse Um Dia O Teu Olhar", que seria ouvido pela primeira vez durante o genérico da mini-série.



Mas o maior mérito de "Adão & Eva" foi reconciliar o cinema português com o público e desde então têm sido poucos os anos onde não há pelo menos um filme português a fazer sucesso comercial. Por exemplo, ainda na década de 90, títulos como "Adeus, Pai", "Mortinho Para Chegar a Casa", "Corte de Cabelo", "Tentação", "Inferno", "Pesadelo Cor de Rosa" e "Zona J" registaram grande afluência do público. 

Trailer: 

       





quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Big Show SIC (1995-2001)

por Paulo Neto

Em mês de aniversário da SIC, continuamos a relembrar programas que marcaram a primeira década da estação de Carnaxide, e como tal, o panorama televisivo nacional. E este é sem dúvida um dos programas mais marcantes, se bem que tenha suscitado tantos adeptos como ódios de estimação.


Ao longo de seis anos de emissões (que pareceram bem mais porque o programa mantinha-se na grelha ao longo de todo o ano), o "Big Show SIC" teve vários horários e formatos. Basicamente os únicos elementos comuns ao longo de todas as emissões foi a presença de um piramidal e multinacional corpo de baile, formado por bailarinas envergando trajes bem diminutos e claro está, a apresentação hiperactiva e saltitante de João Baião, que deixou a célebre frase proferida antes de cada intervalo: "Dona Rosa, vá fazer um xixi, que a gente já volta!".
Inicialmente, o programa era transmitido nas tardes de domingo mas acabou por ser transferido para os sábados à noite, em concorrência directa com o "Parabéns" do Herman José, um dos últimos bastiões de audiência da RTP. Depois de o ter conseguido ultrapassar, o programa manteve-se nesse horário até que em 1999 foi mudado para as tardes de sábado e passou a ser transmitido em directo. Ao longo das 3/4 horas de emissão, muita coisa podia acontecer no programa.


Com a ascensão do fenómeno da música pimba (o género de música popularucho que apesar de já existir desde os anos 80, teve um boom em meados dos anos 90 e que foi definido pelo tema homónimo de Emanuel), o "Big Show SIC" tornou-se essencialmente o programa onde todos os artistas do género por lá passavam a actuar, quer os mais consagrados como Emanuel, Ágata, Quim Barreiros, Tony Carreira, Toy, Chiquita, Marco Paulo, José e Ana Malhoa ou Ruth Marlene, quer até alguns da segunda divisão distrital. E com o boom das boybands e girlbands nacionais, rara era a semana em que não fossem lá os Excesso, os Milénio, os Anjos, os D'Arrasar ou as Tentações. Isto para além de revelar nomes como o pequeno Saúl.
Mas na verdade é que também por lá actuaram outro tipo de grupos que faziam sucesso na época como os Delfins, os Pólo Norte, os Além Mar e os Santos & Pecadores e até estrelas internacionais como Laura Pausini e Ricky Martin.


Mas também os desconhecidos aspirantes a cantor também tinham a sua oportunidade de aparecer no programa, até que uma das rubricas mais habituais era a descoberta de novos talentos (por exemplo, uma muito jovem Luciana Abreu). Aliás, uma das imagens mais recordadas do programa era a do Macaco Adriano a arredar para fora do palco os candidatos que cantavam mal. Por entre os nomes daqueles que julgavam essas competições de cantores, contavam-se sobretudo Mila Ferreira, Miguel Simões, Maria Vieira e Carlos Castro.


Também recordo que durante uma temporada, o programa tinha uma competição entre as várias cidades do país, cada uma enviando um concorrente em diversas categorias, como as de cantores e as das misses locais. A cidade vencedora acabaria por ser o Seixal, que se fez representar por exemplo pela fadista Ana Margarida (que anos antes tinha sido a primeira representante portuguesa no "Bravo Bravíssimo") e pela modelo Sara Aleixo.

Muitos também recordam a rábula "A Escolinha do Professor Baião", uma adaptação da famosa "Escolinha do Professor Raimundo" de Chico Anysio, com João Baião no papel de professor e actores como Joaquim Monchique, Delfina Cruz, José Raposo, Maria João Abreu e Carla Andrino a fazerem de alunos endiabrados, se bem que a personagem mais famosa era o gay Mário Jorrrrge, interpretado pelo desconhecido Old Soares, que também era assistente de realização do programa, dirigido pelo brasileiro Ediberto Lima que já tinha abordado um conceito semelhante em "Muita Lôco".


Outra rubrica que houve foi o "Olá Princesa", onde se realizavam os pequenos desejos de meninas, normalmente de baixos estratos sociais. Cada uma delas era entrevistada por Tiago Retré (revelado na Mini Chuva de Estrelas), sendo que uma dessas entrevistas acabou por se tornar um tesourinho nacional do YouTube, com a pequena Jéssica a revelar que as suas preferências musicais eram Romana... e Marylin Manson!




Antes de terminar, convém não esquecer o DJ residente, o DJ Pantaleão, e o regresso à televisão portuguesa do Topo Gigio, que aconteceu neste programa.

Apesar de não primar pelo bom gosto, a verdade é a "TV em movimento" do "Big Show SIC" marcou toda uma época, para melhor ou para o pior.  

Abertura do programa:


"Mãe Querida" (primeiro com os artistas originais, depois na versão parodiada)



Momento "Tumba!" dos Gato Fedorento (inclui uma Mariza pré-fama no coro de Luís Filipe Reis):


"Big Show SIC" no "Tudo Incluído"




quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ponto de Encontro (1995-2002)

por Paulo Neto

Por ocasião do 21.º aniversário da SIC, planeio durante este mês de Outubro recordar programas míticos dos primeiros anos da estação de Carnaxide. Depois de "Chuva de Estrelas", é a vez de "Ponto de Encontro".



Numa era em que as pessoas estão mais contactáveis do que nunca e onde é cada vez mais fácil localizar por onde é que anda alguém, já nos custa imaginar que outrora vivemos num tempo onde não havia telemóveis e internet e era bastante fácil perder o paradeiro dos nossos conhecidos devido às vicissitudes da vida, muitas vezes para sempre. 

Era essa a simples premissa do programa "Ponto de Encontro", estreado na SIC em 1995. Nele, familiares e amigos que levavam anos ou até décadas sem qualquer contacto reencontravam-se por fim. Por vezes sucedia que alguns dos procurados nem sonhasse com a existência daquele que os procurava. Foi o que aconteceu a uma senhora aqui da minha terra, conhecida da minha mãe, que ficou a saber que tinha um meio-irmão de quem ela nunca tinha ouvido falar, devido ao programa. 










"Ponto de Encontro" também marcou o regresso à televisão de Henrique Mendes, um dos rostos mais populares do primórdios da RTP, onde trabalhou de 1958 a 1974. Depois da Revolução, não conseguindo afastar a conotação ao antigo regime, Mendes emigrou para o Canadá onde ficou até 1979, tendo regressado para trabalhar na Rádio Renascença. O programa permitiu apresentá-lo a uma nova geração, que o encarou como uma espécie de um avô janota que entrava pela nossa casa, algo que foi reforçado quando Henrique Mendes entrou na série "Médico de Família".

Em cada programa, sucediam-se vários encontros emocionados entre ente-queridos, muitas vezes com lágrimas à mistura. Mas ao contrário de programas como "Perdoa-me" e "All You Need Is Love", não se verificava tanto uma exploração da lágrima fácil e do sentimentalismo, até porque a condução de Henrique Mendes primava por ser sóbria e séria, sem ser desprovida de empatia. Esses factores contribuíram para o prolongado êxito do programa.

A longevidade do programa (esteve no ar até 2002 e foram gravadas mais de 200 emissões) não só dava a ideia de que metade de Portugal parecia que andava à procura da outra metade, como reflectia o facto de que apesar de sermos um país pequeno, durante muito tempo houve grandes distâncias - não apenas quilométricas - a separar as nossas diferentes regiões e populações umas das outras. E pensar que hoje basta muitas vezes apenas procurar no Facebook por velhos conhecidos…

Henrique Mendes faleceu em 2004, apenas dois anos após o fim do programa.


Emissões do programa: 








terça-feira, 1 de outubro de 2013

Chuva de Estrelas (1993-2000)

por Paulo Neto

Após um ano no ar, a SIC ainda voava baixinho mas aos poucos um Portugal sedento de mudança passava de estranhar a entranhar uma nova forma de fazer televisão, tão diferente a que estava habituado. Com a TVI nos seus primórdios (quando se designava por a 4) a ser orientada pela Igreja e sem ainda sem dar muita prioridade às audiências, coube à SIC fazer frente à RTP e transformar o panorama televisivo nacional, aproveitando o zeitgeist favorável: uma maior abertura de mentalidades na sociedade, a prosperidade económica proporcionada pela União Europeia e um país que se tornava cada vez mais cosmopolita menos fechado sobre si. Por isso, bastaram mais dois anos para que a estação de Carnaxide fosse líder de audiências durante o resto da década de 90. 


Estreado a 1 de Outubro de 1993, o "Chuva de Estrelas" é tido como um dos programas cruciais para a ascensão da SIC. Ainda hoje, são poucos os que não o referem como um dos programas mais marcantes do canal de Pinto Balsemão. Misturando puro entretenimento, uma excelente produção, diverso talento musical e uma apresentadora por quem Portugal inteiro se apaixonou, o sucesso não se fez esperar.

O programa era uma adaptação de um formato originário da Holanda, "The Sound Mix Show", estreado naquele país em 1985. Em cada sessão, um punhado de concorrentes tinha a oportunidade de se transformar numa estrela da música e cantar como ela. Após as eliminatórias, tinham lugar as semifinais e a grande final onde se coroava o vencedor absoluto. 

Em Portugal, "Chuva de Estrelas" teve sete edições, exibidas entre 1993 e 2000. As duas primeiras foram apresentadas por Catarina Furtado, a terceira por José Nuno Martins e as restantes quatro por Bárbara Guimarães.


1993/1994 Ainda hoje muitos apontam como a primeira como melhor edição do programa embora tivesse o cenário mais pequeno e tivesse sido toda emitida em diferido, incluindo a final. Em cada emissão, o público da assistência escolhia um concorrente apurado para a fase seguinte e o júri de convidados outro. Pelas cadeiras do júri passaram Simone de Oliveira, Paco Bandeira e Lena D'Água na fase das eliminatória e Sérgio Godinho, Rita Guerra e Adelaide Ferreira nas semifinais. A vencedora foi Sara Tavares que imitou Whitney Houston e ainda em 1994 venceria o Festival da Canção com "Chamar a Música". Outros concorrentes notórios foram Paula Morais de Sá (4 Non Blondes), Jacinta Matos (Ella Fitzgerald), Pedro Miguéis (Righteous Brothers) e Ana Ritta (Mariah Carey, que cantaria a versão alternativa do tema dos "Olhos de Água").

Essa primeira edição também foi especial para mim porque nela concorreu um professor da minha escola...que morava no apartamento ao lado do meu. José Lucas Lemos, o "stôr Lucas", era professor de Educação Física mas tinha uma carreira paralela como cantor. Ele imitou Freddy Mercury cantando "We Are The Champions", mas apesar dos elogios não passou à semifinal.
Agora outra revelação: ainda nesse ano houve na minha escola um "Chuva de Estrelas" onde eu concorri! Como a canção que eu queria inicialmente cantar era demasiado complexa para ser adaptada ("I'd Do Anything For Love" dos Meat Loaf), foi o próprio stôr Lucas que sugeriu que eu cantasse a mesma música que ele tinha levado ao "Chuva..." e foi assim que subi ao palco como Freddy Mercury, com T-shirt de alças branca, calças verdes e bigodes e pêlos do peito pintados (pois eu ainda não era prolífico em pilosidades como agora). Apesar dos elogios que recebi, a vitória sorriu à minha colega que tinha encarnado outra estrela defunta, Janis Joplin.

1994/1995 Várias mudanças ocorreram nesta série: um cenário maior (reciclado do "Mini Chuva de Estrelas"), um tema de genérico cantado por Nucha, um corpo de baile e uma final em directo do Coliseu dos Recreios, com o vencedor escolhido pelos telespectadores. Ramón Galarza e Pilar Homem de Mello (depois substituída por Rita Guerra) eram o júri residente ao qual se juntava um convidado em cada sessão. A partir desta edição, o número de concorrentes apurados em cada sessão podia ir de um a três.  
Rapando a sua cabeça para encarnar Sinead O'Connor, Inês Santos foi a vencedora desta edição. Mas esta também foi a edição de João Pedro Pais, que ficou em segundo lugar imitando os Delfins. Outros concorrentes a destacar são André Letra (dos Miguel e André, como Eros Ramazotti), Marta Plantier (Aretha Franklin), Carlos Coincas (Luís Represas) e João Portugal (Roupa Nova). Também recordo um concorrente cujo nome não me lembro que cantou "Forever Young" dos Alphaville, uma canção que até então lembrava-me muito pouco e passou a ser uma das minhas favoritas de sempre. Nesta edição, participou outro concorrente da minha cidade, Luís Filipe Lourenço, a cantar "One" dos U2, tendo chegado a uma semifinal.  



1995/1996 Com Catarina Furtado a colocar um hiato na sua carreira televisiva para estudar representação em Londres, José Nuno Martins apresentou a terceira edição e o programa passou a ser emitido ao Domingo. Rita Ribeiro e Miguel Ângelo eram os júris residentes. Outra novidade era que bandas também podiam concorrer. 
O vencedor foi  Rui Faria como Elton John, que foi o representante português na primeira final europeia dos Chuva de Estrelas onde ficou em segundo lugar. Outra concorrente notória foi Célia Lawson (Oleta Adams) que ganhou o Festival da Canção em 1997. Sofia Lisboa (Céline Dion) não passou da sua eliminatória (ao contrário da sua irmã Sónia que tinha chegado à final na edição transacta como Mireille Mathieu)  mas conheceria grande sucesso como a parcela feminina dos Silence 4. 


1997 Já com Bárbara Guimarães a conduzir a apresentação e Fernando Martins como júri residente, esta foi a edição mais curta com doze eliminatórias onde o apurado seguia directamente para a final. Jessi Leal imitando Kate Bush foi a vencedora, mas a interpretação de Pedro Bragado como Prince também ficou na memória. O actor Manuel Marques também passou  por esta edição cantando um tema de "Miss Saigon".



1997/1998 Encarnando Michael Stipe dos REM, Carlos Bruno foi o indiscutível vencedor da quinta edição e ainda por cima, também venceu a final europeia. Mas quem teve quase tão protagonismo foi a mãe do próprio Carlos, que desatava num choro semi-histérico sempre que o filho cantava, algo que foi amplamente explorado na realização do programa, até na final europeia. Lembro-me que a senhora foi muito criticada por fazer aquela figura.
Em segundo lugar ficou Paula Teixeira (Gloria Estefan) um rosto que ainda hoje reconhecemos por fazer linguagem gestual em vários programas. Sofia Barbosa (Oleta Adams), vencedora da primeira Operação Triunfo e Vanessa Silva (Amanda Marshall) também foram finalistas desta edição.


1998/1999 Ricardo Sousa e Sandra Godinho conheceram-se no casting para o programa e decidiram concorrer em dueto como Meat Loaf e Ellen Foley, e em dueto venceram. Miguel Belo, dos Lulla Bye (The Verve) e Teresa Radamanto (Barbra Streisand) também concorreram nesta edição.


1999/2000 Na última edição, vitória para Nádia Sousa, vocalista dos Spelling Nadja,  num papel químico de Edith Piaf.


Mas sem retirar nenhum mérito a José Nuno Martins e muito menos a Bárbara Guimarães, sem dúvida que eu e a maioria dos portugueses recordam sobretudo as edições do "Chuva de Estrelas" apresentadas por Catarina Furtado. Já a conhecíamos do Top + na RTP e dos blocos da MTV exibidos nos primórdios da SIC mas foi aqui que ela encantou Portugal tão ou mais que os concorrentes que cantavam (lembram-se do slogan: "Cante ou encante com o Chuva de Estrelas!"). Aliando a descontracção e irreverência próprias da sua idade (tinha 21 anos aquando da primeira edição) e uma maturidade profissional, Catarina tornou-se a estrela do programa e a namoradinha de Portugal de então, conquistando miúdos e graúdos, homens e mulheres. Juntando-se uma produção de qualidade e vários talentos descobertos por esse Portugal fora, o programa conquistou Portugal e foi peça importante na incrível ascensão da SIC a líder de audiências. 
Recordo-me de quanto os fins de tarde de sexta-feira nessa altura eram tão deliciosos para mim, com o início do fim-de-semana e um serão televisivo em cheio em perspectiva, primeiro com Catarina Furtado e o "Chuva de Estrelas" e depois Alexandra Lencastre "Na Cama Com..." quem quer fosse. E quem ainda não se recorda do tema de encerramento, adaptado do "Thank You For The Music" dos ABBA?

Vivo para a música
Canções que canto
Com a alegria e o encanto

P'ra viver sem ela
Como é que eu vou fazer
Como vai ser

Sem uma canção, uma ilusão
Por isso vivo para a música
Pelo tanto que me dá.

Genérico do programa:



Final da 1.ª temporada:


Final da 7.ª temporada





segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Marujinho - Chocolate


Uma reportagem do iOnline informa que o Marujinho "nasceu" em 1985 e descreve-o do seguinte modo: "A felicidade tinha um preço: 20 escudos. O Marujinho era um chocolate pequeno, recheado de mentol – tipo After Eight – numa embalagem branca com marujos desenhados."
Um chocolate que descobri tardiamente, mas do qual que fiquei fã, comprando grande quantidade numa mini-mercado perto de casa. Adorava comer as barrinhas de Marujinho com pacotes de batas fritas, para fazer um contraste gastronómico explosivo. Foi daquelas coisas que desapareceram das prateleiras discretamente, mas que depois recordamos com saudade.E por ser barato dava para comprar vários de uma vez! Não me importava nada que voltasse!

Este cromo ficou nos rascunhos durante cerca de oito meses, visto que enviei um e-mail a pedir mais informações à Imperial, e até ao momento não recebi resposta. Entretanto encontrei uma imagem por acaso na Internet: "Distrobidos".

Se conseguirem encomendar uma caixa de Marujinhos, avisem a malta!

Cromo sugerido pelo leitor João Craveiro.

Caro leitor, pode falar connosco nos comentários do artigo, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite-nos também no "Tumblr - Enciclopédia de Cromos".

sábado, 28 de setembro de 2013

Caixa Alta (1989/1990)

por Paulo Neto

A RTP Memória proporcionou-me a oportunidade de rever uma série, da qual pouco me lembrava mas que por alguma razão nunca me tinha esquecido. Essa série é "Caixa Alta", exibida na RTP entre 18 de Novembro 1989 e 7 de Janeiro de 1990.



A série foi o primeiro papel como actriz de Helena Laureano, que em 1988 foi 1.ª Dama de Honor, Miss Fotogenia e Miss Simpatia no concurso Miss Portugal, tendo sido a nossa representante no concurso Miss Mundo desse ano onde ganhou o prémio de Miss Personalidade. 




Helena Laureano encarnava Francisca, uma bonita e astuta jornalista do jornal "A Cidade" que um dia tem a oportunidade de entrevistar Franz Shteller (Brian Bowyer), um industrial alemão que é um dos homens mais ricos do mundo e que se acaba de mudar para Sintra. Porém, a entrevista é apenas um pretexto para que Francisca investigue o paradeiro dos irmãos de Shteller, que acredita que fugiram da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e passaram por Portugal. Francisca começa a investigar com a ajuda do fotógrafo Xavier (Jorge Gonçalves) mas depressa se apercebem que não só há quem esteja disposto a tudo para os impedir de descobrir o quer que seja como desvendam importantes ligações entre a extracção de volfrâmio em Portugal e as relações entre Hitler e Salazar durante a Segunda Grande Guerra. 
A investigação leva-os a lugares como São Tomé & Príncipe, Marrocos e Moncorvo, onde Alda (Adelaide João), uma idosa meio senil, vive num asilo será a chave do mistério. Ao longo da trama, nota-se alguma atracção mútua entre Francisca e Xavier mas ambos preferem manter a relação no campo da amizade.



A série teve sete episódios e foi realizada por Tozé Martinho (e aliás reunia a mesma equipa de autoria e produção de "Os Homens da Segurança") e foi filmada em locais como Sintra, Trás-Os-Montes, São Tomé & Príncipe e Marrocos. Do elenco também faziam parte Morais e Castro, Luís Mata, Maria das Graças, Cristina Homem de Mello, Mila Ferreira, Linda Silva e um então pouco conhecido João Baião, no papel de Pisco, o jornalista responsável pela secção de Cultura do jornal onde trabalha Francisca. Pelo que pude rever, a trama até nem era má e tinha momentos interessantes, sobretudo devido à química entre os dois protagonistas. Porém a execução deixou muito a desejar, com performances amadoras e muitas falhas técnicas. Elementos esses que não escaparam ao olhar atento dos Gato Fedorento para a sua rubrica de "Tesourinhos Deprimentes".



Seja como for, "Caixa Alta" fica para a história como o primeiro trabalho na representação de Helena Laureano que viria a tornar-se uma das actrizes mais famosas da nossa praça. Eu não fazia ideia quem era o protagonista masculino, Jorge Gonçalves, mas o IMDB indica que ele tem feito várias participações em telenovelas como "Dei-te Quase Tudo" e "Doce Fugitiva" e séries como "Inspector Max" e "Conta-me Como Foi".      

Genérico:



Obrigado ao site Brinca, Brincando pelas fotografias e informação adicional.

Link: Caixa Alta - Retroescavadora, RTP Memoria - Canais TV - RTP

A série está disponível no portal de arquivos da RTP.

Estamos Nessa (1983-84)

 
Regra geral, evito abordar aqui no blog assuntos em que a informação disponível (na Internet, revistas, etc) é escassa ou pouco diversificada. Mas não pude resistir a falar de "Estamos Nessa", um programa de televisão, do qual não tenho memória, mas encontrei uma singela menção na página de programação de uma revista de 1983. Ao colocar essa página online no Facebook, em busca de algum leitor com melhor memória que eu, fui pesquisando no Google. Assim que, da paupérrima informação disponivel online, reparei que uma das suas apresentadoras definiu o programa como "execrável" (sic). Ora, o meu "alarme" soou, e  fiquei curioso para saber como seria algo que a agora famosa Júlia Pinheiro - apresentadora de pérolas requintadas como "Peso Pesado" ou "Quinta das Celebridades" - chamava de execrável. No entanto, nem um miserável vídeo está online, sobre este programa de estreia de Júlia Pinheiro na televisão, na RTP em 1981 (segundo a própria), onde esteve quatro meses.

Mas então o que era o "Estamos Nessa"?

Citando Júlia Pinheiro:
"...há 30 anos, num programa execrável chamado Estamos Nessa. Foi resultado de um megacasting feito pelo país todo pelo jornal Se7e, que alinhou com a RTP para arranjar novos apresentadores de televisão para um novo programa de divulgação musical, hoje uma espécie de Top+. Era para substituir o ViváMúsica...".
in Público - Life & Style

"Apesar da convicção de que tudo iria correr bem, a verdade é que Estamos Nessa acabou "por ser mau que doía"..."
in SicGold

Ou o site da Infopédia:
"Estamos Nessa" - programa dedicado aos jovens que passava telediscos, notícias relacionadas com música pop e apresentava atuações de grupos ao vivo em estúdio. Contudo, o programa não conheceu grande sucesso e acabou por ser retirado da programação ao fim de algumas semanas de emissão.

Até agora não consegui apurar quem seriam os outros apresentadores, nem uma imagem do programa emitido aos Sábados, ás 15:30. Mas o mais interessante, veio por acaso quando ao pesquisar por vídeos no Youtube, deparei-me com um sketch do "O Tal Canal" chamado "Estamos Nesta" (já mencionado pelo Paulo Neto no cromo do "O Tal Canal". Ler aqui.). O dito sketch era uma paródia a um "magazine musical para novos valores musicais como Tozé, o líder da banda rock Creolina". "O Tal Canal" estreou em 1983 - bastante tempo depois do cancelamento de "Estamos Nessa" - mas parece-me evidente qual foi a inspiração. Ou então a data de 1981 está errada e os dois programas eram contemporâneos...(1)

O vídeo merece ser visto e revisto. "O Tal Canal - Estamos Nesta":

Uma hilariante compilação dos irritantes tiques da malta "moderna". E pensar que passados 30 anos ainda vemos tanto disto por ai...
Vamos lá caros leitores, lembram-se deste programa? Era uma aberração assim tão grande? Contem tudo!


(1) Actualização: Entretanto confirmei as minhas suspeitas, e "Estamos Nessa" foi contemporâneo de "O Tal Canal", aliás estrearam no mesmo dia, 22 de Outubro de 1983, e ainda segundo o "Diário de Lisboa", as emissões prolongaram-se até ao dia 3 de Março de 1984. As opiniões do responsável dos comentários televisivos do jornal sobre programa não são das mais abonatórias:

Recortes do "Diário de Lisboa" entre 21 Outubro de 1983 e 3 de Março de 1984.

"A música jovem num programa que é já considerado uma das apostas goradas do novo mapa-tipo."
"... deste programa que se quer juvenil e está velhíssimo"
Destaco a emissão do dia 4 de Fevereiro em que foi apresentado o histórico videoclip do single "Thriller", de Michael Jackson.

----


Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Manuela Moura Guedes "Foram Cardos, Foram Prosas / Flor Sonhada" (1981)

por Paulo Neto

Com Manuela Moura Guedes de regresso à televisão, nada como recordar os tempos em que usava a voz para dizer algo mais do que "Boa noite, eu sou a Manuela Moura Guedes!" e não parecia uma sósia da Maga Patalójika. Aliás, por um breve espaço de tempo, MMG foi mesmo a leading lady do pop-rock nacional. Tudo graças a um single campeão de vendas em 1981. 

Nascida no Cadaval a 23 de Dezembro de 1956, estava no último ano do curso de Direito quando em 1978, é uma das seleccionadas para ser locutora de continuidade na RTP, numa fornada que também providenciaria outros rostos lendários da televisão como Ana Maria Cordeiro, Fátima Medina, Helena Ramos, Isabel Bahia e Margarida Andrade (futuramente Mercês de Melo). Sob o nome de Manuela Matos, além da locução, apresentou o Festival da Canção de 1979. Com o virar da década adoptou o nome Manuela Moura Guedes, e por entre os trabalhos na RTP, teve tempo para dar uma perninha como cantora, sendo o seu momento de glória um single de 1981 com duas excelentes faixas: "Foram Cardos, Foram Prosas" e "Flor Sonhada". Ambas tinham letra de Miguel Esteves Cardoso e música de Ricardo Camacho. Era o seu terceiro single, pois Manuela já tinha editado anteriormente "Conversa fiada" (1979) e "Sonho Mau" (1980).



"Foram Cardos, Foram Prosas" é o tema mais conhecido, onde se notam algumas influências de Joy Division (a que não era estranho o facto de Miguel Esteves Cardoso residir então em Inglaterra e de estar a par da cena indie-rock britânica). Desde logo o refrão "Será sempre a subir, ao cimo de ti, só para te sentir" ficou gravado na jukebox mental dos portugueses. 


A outra faixa do single é "Flor Sonhada", que inicialmente até estava prevista ser o lado A. Mas dado o experimentalismo do tema e como "Foram Cardos..." parecia ser mais radio-friendly, optou-se por dar mais destaque a este. Em "Flor Sonhada", a voz de Manuela parece ficar em segundo plano, diante do fabuloso conteúdo instrumental, começando numa longa introdução em sintetizador que dá lugar a uma batida dançável e terminando num solo de guitarra a la Pink Floyd.



Com 35 mil exemplares vendidos, foi o single nacional mais vendido de 1981. Em 1982, surge o seu único álbum, "Alibi", cuja parte musical esteve a cargo dos recém-formados GNR, mas que não alcançou o sucesso do single anterior. O disco foi reeditado em CD em 2007, incluindo "Foram Cardos, Foram Prosas" e "Flor Sonhada", que não faziam parte do alinhamento em vinil.



Deixando a música de lado, Manuela Moura Guedes acaba por se dedicar exclusivamente à televisão, primeiro no entretenimento com, por exemplo, "Berros e Bocas" (1983, com Luís Filipe Barros) e o Festival da Canção de 1984 e depois na informação. 



Em 1991, quando se torna a pivô principal do Telejornal da RTP, deixa para a história o seu lendário bordão "Boa noite, eu sou a Manuela Moura Guedes!". Também em 1991, "Foram Cardos, Foram Prosas" voltou de novo a ser um hit, na versão dos Ritual Tejo. Aliás, foi esta a primeira versão do tema que eu conheci e lembro-me de ficar espantadíssimo quando uns anos mais tardes, ao ver o single por entre os discos de vinil em casa de um amigo, descobri que tinha sido MMG a intérprete do original. Entre outras versões do tema, destaque para a dos Amor Electro de 2011.

Versão dos Ritual Tejo:




Versão dos Amor Electro:


Bónus: MMG a cantar "Summertime" na série "Zé Gato" (1979):




   
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...