Tempo para voltar o hino da Eurovisão ("Te Deum - Marche En Ronde" de Marc-Antoine Charpentier) e recordar mais um Festival.
O 23.º Festival Eurovisão da Canção teve lugar a 22 de Abril de 1978 no Palácio de Congressos de Paris. Apesar de ter então cinco vitórias, esta era apenas a terceira edição em França, após as edições de 1959 e 1961 em Cannes. Pela primeira houve uma dupla de apresentadores: Denise Fabre (1942-) e León Zitrone (1914-1995), sendo que este era o primeiro apresentador masculino do Festival desde a edição inicial. Também pela primeira vez atingiu-se as duas dezenas de países participantes, pois aos dezoito países que competiram no ano anterior, assinalou-se o regresso da Dinamarca, que não participava desde 1966, e a da Turquia pela primeira vez desde a sua estreia em 1975. Esta foi também a primeira de onze edições em que Eládio Clímaco esteve a cargo dos comentários para a RTP. Isabel Wolmar foi a porta-voz dos votos de Portugal.
Esta edição é considerada uma das menos memoráveis da história do Festival da Eurovisão sobretudo devido a dois motivos: o nível muito mediano das canções concorrentes e a falta de empenho da televisão francesa (na altura a TF1) na organização. Segundo relatos da imprensa da época, várias delegações queixaram-se do escalonamento dos ensaios e com a ineficácia do staff da organizações, e alguns jornalistas tiveram dificuldade em encontrar o local do certame na zona noroeste de Paris. Durante a noite da exibição, foram notórios problemas de som, nos arranjos da orquestra e nos planos de câmara.
Mas também houve alguns aspectos positivos: o palco gigante com a orquestra numa plataforma rotativa era visualmente impressionante e, ao contrário dos três anos anteriores, as votações decorrerem sem problemas (e foi o único ano entre 1976 e 1979 em que as pontuações finais apresentadas após as votações estavam correctas). Como o quadro das pontuações não estava presente no local (provavelmente estaria noutro estúdio do complexo), foi mostrado amiúde um écran tripartido com o quadro, os apresentadores e a green room onde estavam os artistas ao mesmo tempo, uma inovação para a época. E embora muita gente não goste, eu até acho piada aos postcards desse ano que eram basicamente a câmara a seguir os artistas de cada país a caminho do palco, geralmente encontrando no caminho os artistas que tinham actuado imediatamente antes e que os saudavam.
Como é habitual, falaremos de cada canção pela ordem inversa de classificação.
Jahn Teigen (Noruega)
Pela primeira vez desde a introdução do novo sistema de votação, conhecido como o sistema dos "douze points", uma canção não conseguiu obter qualquer ponto. Essa canção foi a da Noruega, "Mil etter mil" ("milha após milha"), com a interpretação exuberante de Jahn Teigen (1949-2020) a não convencer os júris europeus. No entanto, esse falhanço acabou por tornar a canção ainda mais popular na Noruega, e Teigen acabaria por dar ao álbum subsequente o título de "This Year's Loser". Jahn Teigen voltaria a representar a Noruega na Eurovisão em 1982 e 1983 (com melhores resultados).
Seija Simola (Finlândia)
Com somente dois pontos cada, a Finlândia e a Turquia ficaram em 18.º lugar, Pelas cores finlandesas esteve Seija Simola (1944-2017) que cantou "Anna rakkaudele tilaisuus" ("deem uma chance ao amor"), que teve apenas dois pontos da Noruega. Com a sua carreira iniciada em 1970, Seija Simola foi uma das cantoras mais populares do seu país.
Nilüfer & Nazar (Turquia)
A Turquia tinha-se estreado no Festival em 1975 mas esteve ausente nos dois anos seguintes devido à participação da Grécia, com quem o país esteve em conflito devido à questão de Chipre. Só em 1978 as tensões amainaram ao ponto dos dois países poderem participar no Festival. Para a sua segunda participação, a Turquia levou o tema "Sevince" ("quando se ama"), interpretado por um quarteto composto por Nilüfer Yumlu, Daghan Baydur, Olcayto Tugsuz e Zeynep Tugsuz, actuando sob o nome de Nilüfer & Nazar. A canção turca obteve um ponto da Noruega e outro do Reino Unido.
Gemini (Portugal)
Um lugar acima e com cinco pontos (quatro de Itália e um de Espanha) ficou Portugal. Mas apesar do parco resultado, a canção é sobejamente conhecida, mesmo 45 anos depois: o "Dai-Li-Dou" dos Gemini. O quarteto foi formado em 1976 por Tozé Brito, Mike Sergeant, Teresa Miguel e Isabel Ferrão e rapidamente obtiveram um hit com "Pensando Em Ti". Em 1977, interpretaram a outra versão de "Portugal No Coração" no Festival da Canção desse ano e mais tarde, Fátima Padinha substituiu Isabel Ferrão. Para o Festival da Canção de 1978, a RTP indigitou três intérpretes para cantaram cada um quatro canções a concurso: além de "Dai-Li-Dou", os Gemini interpretaram "Ano Novo, Vida Nova", "O Circo E A Cidade" e "Tudo Vale A Pena", enquanto José Cid cantou "O Meu Piano", "Porquê, Meu Amor, Porquê?", "O Largo Do Coreto" e "Aqui Fica Uma Canção" e Tonicha "Canção Da Amizade", "Pela Vida Fora", "Uma Dia, Uma Flor" e "Quem Te Quer Meu Bem". A canção vencedora foi escolhida através de um júri de doze personalidades que incluía Simone de Oliveira, Nicolau Breyner, Florbela Queiróz, Igrejas Caeiro, Fialho Gouveia e a lenda da música brasileira Elis Regina que também foi a atração convidada. "Dai-Li-Dou" tinha letra de Carlos Quintas, música de Vítor Mamede e orquestração de Thilo Krassmann e no coro estava uma tal de Helena Águas, que não tardaria a se tornar muito conhecida sob o nome de Lena D'Água. E claro, em 1982 Fátima Padinha e Teresa Miguel regressaram à Eurovisão com as Doce.
Mabel (Dinamarca)
Doze anos depois, a Dinamarca regressava ao Festival. Não foi um regresso auspicioso uma vez que ficou-se pelo 16.º lugar com 13 pontos. Mas levou uma canção bem-disposta, "Boom Boom", interpretada pela banda Mabel, e não é preciso saber dinamarquês para adivinhar que o título referia-se ao bater de um coração apaixonado, até porque um dos membros levava um bombo com um coração pintado. Um dos vocalistas, Michael Trempenau, então com 17 anos, tornar-se-ia uma voz de referência do hard rock sob o nome de Mike Tramp, ao ser vocalista das bandas White Lion e Freak Of Nature.
Springtime (Áustria)
Com mais um ponto, a Áustria ficou um lugar acima. Este país também levou uma banda, os Springtime, que interpretaram "Mrs. Caroline Robinson", que segundo a letra, se tratava de uma bruxa que voa de balão em vez de vassoura, em que a sua feitiçaria é o seu sex-appeal e o seu ponto fraco é a moda. Um dos membros da banda, Norbert Niedermeyer, tinha tido experiência eurovisiva seis anos noutra banda, os Milestones.
Björn Skifs (Suécia)
A Suécia foi o último país a actuar, na voz de Björn Skifs (1947-), Entre diversos projetos, a solo ou em grupos, Skifs alcançou êxito internacional com a banda Blue Swede que chegou ao n.º1 do top americano de 1974 com uma versão de "Hooked On A Feeling". Em Paris, interpretou a canção "Det blir alltid värre frame natten" ("é sempre pior ao anoitecer"), sendo que a atuação foi marcada por um momento caricato: ao princípio, Björn Skifs balbuciou algo que não era o primeiro verso da letra. Ao que parece, Skifs estava descontente por não poder cantar a canção em inglês e pretendia fazê-lo, mesmo tal sendo contra as regras, mas mudou de ideias assim que começou a cantar. Seja como for, a Suécia ficou 14.º lugar com 26 pontos. Björn Skifs voltaria a representar a Suécia em 1981, onde curiosamente voltaria a ser o último a actuar.
Harmony (Países Baixos)
Os Países Baixos foram representados pelo trio Harmony, composto por Donald Lieveld, Rosina Louwaars e Ab van Woudenberg. Um grupo multicultural já que Lieveld tinha raízes afro-americanas e Louwaars ascendência indonésia. Em Paris, defenderam o tema "t is OK", ficando em 13.º lugar com 37 pontos, com um doze de Israel.
Ricchi E Poveri (Itália)
Pela Itália esteve o quarteto vocal Ricchi E Poveri. Formado em Génova em 1967 e composto por Angelo Sotgiu, Angela Brambati, Franco Gatti e Marina Occhiena, já gozava de grande popularidade dentro e fora das fronteiras transalpinas, nomeadamente com o hit de 1971 "Che sarà", com que ficaram em segundo lugar no Festival de San Remo desse ano. Em Paris, cantaram "Questo amore", ficando em 12.º lugar com 53 pontos. Em 1981, ano em que Marina Occhiena deixou o grupo para uma carreira a solo, obtiveram o seu maior sucesso internacional com "Sará Perché Ti Amo" que foi n.º 1 em França e cuja versão em espanhol fez grande sucesso na América Latina. Os Ricchi E Poveri continuam no activo sendo que desde de 2016 têm sido reduzidos a um duo, só com Brambati e Sotgiu. No entanto em 2020 e 2021, a formação original reuniu-se para umas quantas actuações. Em 2022, Franco Gatti faleceu aos 80 anos.
Co-Co (Reino Unido)
Choque! Pela primeira vez no Festival, o Reino Unido ficou fora dos dez primeiros! Com uns visuais a fazer lembrar vestes circenses, os Co-Co levaram o tema "Bad old days", mas não foram além do 11.º lugar com 61 pontos. O grupo tinha sido formado em 1974 sob o nome Mothers Pride, tendo em 1976 mudado o nome para Co-Co. Na altura da sua participação na Eurovisão o grupo era composto por Josie Andrews, Terry Bradford, Keith Hasler, Cheryl Baker, Paul Rogers e Charlie Brennan. Pessoalmente, eu acho estava longe de ser a pior canção que o Reino Unido tinha levado até então mas acabou por ser a primeira vez que o país ficou fora do top 10, aliás a única até 1987. (Se então se soubesse dos diversos fracos resultados que o Reino Unido obteria no século XXI!) Nesse ano, os Co-Co lançaram o seu único álbum mas a banda terminaria pouco depois. Em 1980, alguns membros ainda se reuniram para um novo projecto, The Main Event, e Terry Bradford e Keith Hasler continuam ainda a formar uma parceria musical até hoje. E em 1981, Cheryl Baker teria uma bem mais gloriosa segunda participação na Eurovisão, como membro dos Bucks Fizz que venceram nesse ano.
Carole Vinci (Suíça)
Com 65 pontos, Espanha e Suíça ficaram empatadas no nono lugar. Pela Suíça, esteve Carole Vinci (1950-), cantora natural de Genebra, que cantou "Vivre". Segundo a página alemã da Wikipedia sobre ela, outras profissões que Carole Vinci exerceu além da música foram professora de Educação Física e administradora de uma fábrica de queijos.
José Velez (Espanha)
A vizinha Espanha apostava forte na canção "Bailemos un vals", na voz de José Velez (1951-). Natural de Telde, nas Ilhas Canárias, Velez tinha-se mudado em 1967 para Madrid para seguir uma carreira na música até que em 1974 conseguiu um grande hit com "Vino Griego", uma versão em espanhol de "Griechisher Wein" de Udo Jurgens (que mais tarde Paulo Alexandre adaptaria com sucesso para português com "Verde Vinho") e a sua carreira descolou. "Bailemos un vals" tinha vários pontos em comum com "La La La", a canção com que Espanha ganhara o Festival dez anos antes, nomeadamente os mesmos autores e compositores (Ramón Arcusa e Manuel de la Calva) e o mesmo coro formado por Dolores Arenas, Mercedes Valimaña e Maria Jesus Aguirre, conhecido como o Trio La La La, e um refrão cheio de "la la las". Também havia alguns paralelos com "Gwendolyne", a canção com que Julio Iglesias tinha representado a Espanha em 1970, que também teve o Trio La La La no coro e uma letra sobre um romance vivido com uma francesa. Uma vez li algures, mas não sei se foi mesmo verdade, que a deslocação de Velez até Paris foi feita sob fortes medidas de segurança, porque pouco antes fora alvo de ameaças de sequestro por parte de grupos separatistas das Canárias. Posteriormente, José Velez baseou a sua carreira sobretudo na América Latina, chegando a viver vários anos na Argentina.
Tania Tsanaklidou (Grécia)
Charles Chaplin tinha falecido no dia de Natal do ano anterior e o seu desaparecimento ainda estava então muito presente no mundo das artes, pelo que não era de espantar que houvesse uma canção em sua homenagem no Festival da Eurovisão de 1978. O que poucos adivinhariam é que o país que levaria essa canção fosse a Grécia, mas foi o que aconteceu, com Tania Tsanaklidou (1952-) a cantar "Charlie Chaplin". Tsanaklidou começava a afirmar-se como actriz no seu país (ou não fosse oriunda de uma cidade chamada Drama!) e como tal, a sua actuação teve bastante teatralidade, com ela vestida de forma semelhante ao do lendário Charlot, bengala e chapéu de coco incluídos, e fazendo as mesmas poses. Foi uma bonita homenagem que foi recompensada com 66 pontos e o oitavo lugar. Tania Tsanaklidou também interpretou a canção no Festival de Cinema de Cannes desse ano e desde então tem-se dividido entre a música e a representação.
Baccara (Luxemburgo)
O Luxemburgo era outro país que trazia grandes expectativas nesse ano, porque a representar o grão-ducado nesse ano estava o duo espanhol Baccara, que na altura gozada de um enorme sucesso internacional com hits como "Yes, Sir, I Can Boogie" e "Sorry I'm A Lady". Reza a lenda que as madrilenas Maria Mendiola (1952-2021) e Mayte Mateos (1951-) andavam a ganhar a vida actuando em várias estâncias turísticas nas Ilhas Canárias quando Leon Deane, o director da editora RCA na Alemanha, reparou nelas enquanto de férias em Fuerteventura e convidou-as para uma audição em Hamburgo. Aí Deane desenvolveu um conceito para o duo, mesclando disco, pop e música tradicional espanhola, dando-lhe o nome de Baccara (uma variante de rosa negra) e estabelecendo a sua imagem de marca, com Mateos vestida de preto e Mendiola de branco. O sucesso não se fez esperar com "Yes Sir I Can Boogie" a chegar ao primeiro lugar de vários tops europeus, incluindo o Reino Unido. Em Paris, as Baccara cantaram "Parlez-vous français?" (obviamente em francês), um tema com duas particularidades: começava com um diálogo falado entre as duas que se estendia para as estrofes da canção e tinha um dance break onde Mayte e Maria puderam exibir os seus talentos coreográficos. Com 73 pontos, incluindo dozes de Portugal, Itália, e claro!, Espanha, o Luxemburgo ficou no sétimo lugar, um pouco aquém das elevadas expectativas. As Baccara continuaram até 1981, com ambas pretendendo seguir carreiras a solo. Porém tanto Maria Mendiola e Mayte Mateos não tardariam a voltar a actuar sob o nome de Baccara, cada qual com outra parceira. A versão de Mayte Mateos chegou a participar na final nacional sueca para a Eurovisão de 2004 com o tema "Soy Tu Venus" (que foi depois incluída na banda sonora da telenovela portuguesa "Baía Das Mulheres) e a versão de Maria Mendiola regravou "Yes Sir I Can Boogie" como tema de apoio para a seleção escocesa de futebol no Euro 2020. Actualmente, as duas versões das Baccara ainda existem, uma com Mayte Mateos e Paloma Blanco, e outra com Cristina Sevilla, parceira da versão de Maria Mendiola aquando da morte desta em 2021, e Helen De Quiroga.
Ireen Sheer (Alemanha)
A final nacional alemã desse ano não foi televisionada, tendo decorrido apenas através da rádio e a canção vencedora seria determinada pela combinação da votação de júri de especialistas e outra dos ouvintes da rádio. Ora reza a história que as quinze canções concorrentes terá desagradado o júri especialista ao ponto deste se recusar a votar e de declarar que se aquilo era o melhor que a Alemanha tinha para oferecer, mais valia nem participar. Como tal, só contou a votação do público ouvinte. Mas pelo menos a avaliar pela eventual canção escolhida, creio que a atitude do júri foi deveras descabida, pois "Feuer" ("fogo"), interpretada por Ireen Sheer (1949-), é uma das minhas canções favoritas do Festival deste ano. Nascida em Romford em Inglaterra, Sheer estava radicada na Alemanha há alguns anos e já tinha estado na Eurovisão quatro anos antes representando o Luxemburgo. Durante a sua atuação, no momento do primeiro refrão, ela removeu o xaile branco que trazia vestido, podendo considerar este instante o primeiro outfit reveal da Eurovisão, um gesto que se viria tornar lugar-comum no certame. A Alemanha ficou em sexto lugar com 84 pontos, incluindo um 12 da Finlândia. Ireen Sheer regressaria ao Festival em 1985, novamente pelo Luxemburgo.
Colm C.T. Wilkinson (Irlanda)
Tal como no ano anterior, a Irlanda foi o primeiro país a actuar, representada por Colm C.T. Wilkinson (1944-) que cantou o tema "Born to sing". E de facto pode-se dizer que Wilkinson nasceu para cantar, tendo feito carreira nos musicais, nomeadamente tendo sido o primeiro Jean Valjean de "Les Misérables" tanto na Broadway como no West End e a voz de Che no álbum da banda sonora original de "Evita". A Irlanda recebeu 86 pontos (12 da Noruega), garantindo o quinto lugar.
Olivier Toussaint & Caline (Mónaco)
O principado do Mónaco obteve o quarto lugar com a canção "Les jardins de Mónaco", interpretado em dueto pelos franceses Olivier Toussaint e Corinne Sauvage a.k.a. Caline. Este foi o momento mais notório de Toussaint como cantor já que ele era mais conhecido como compositor, produtor e director da editora Délphine, que descobriu Richard Clayderman. A canção monegasca arrecadou 86 pontos (doze da Suécia).
Jöel Prévost (França)
Representando o país anfitrião, a França, esteve Jöel Prévost (1950-), cantor natural de Narbonne, com o tema "Il y aura toujours des violons" ("haverá sempre violinos") e que aqui teve o momento mais notório da sua carreira. Apesar de, ainda que bem defendida, ser uma canção que soava já algo datada para a época, a França ficou em terceiro lugar com 119 pontos (12 da Áustria).
Jean Vallée (Bélgica)
Oito anos após ter representado a Bélgica pela primeira vez, Jean Vallée (1941-2014) regressava à Eurovisão, alcançando aquele que era na altura o melhor resultado do país com a canção "L'amour ça fait chanter la vie". Nascido Paul Goeders na província de Liége, Vallée tinha iniciado a sua carreira musical em 1966 que durou até ao final da sua vida, tendo sido coroado cavaleiro da Ordem da Coroa pelo rei Alberto II da Bélgica. A Bélgica começou por liderar e a meio das votações, estava taco a taco com Israel, mas após o júri belga ter dado doze pontos a Israel, este país destacou-se na liderança e a Bélgica teria de esperar mais oito anos para por fim vencer o Festival pela primeira vez, ficando em segundo lugar com 125 pontos (com douze points de França, Grécia, Irlanda, Mónaco e Reino Unido).
Izhar Cohen & Alpha Beta (Israel)
No ano em que se assinalava o 30.º aniversário da fundação do estado, Israel alcançava então a sua primeira vitória com 157 pontos na voz de Izhar Cohen (1951-) acompanhado pelo grupo Alpha Beta. "A-Ba-Ni-Bi" era a palavra "ani" ("eu") em código beta, semelhante à nossa língua do P (portanto podia-se traduzir o título como "eu-peu"). Aliás o refrão "a-ba-ni-bi o-bo-he-bev o-bo-ta-bach" era "eu amo-te" nesse código, com a letra a referir que na infância só se podia exprimir assim o amor. A vitória israelita foi uma grande surpresa para praticamente toda a gente pois não figurava entre os principais favoritos e segundo se diz, até a chefe da delegação de Israel não estava muito confiante e esperava no máximo um lugar nos dez primeiros. Mas o maior choque foi para os países árabes que transmitiram o Festival em directo, que assim que ficou claro que Israel iria ganhar, cortaram logo a emissão; na Jordânia, substituíram a transmissão por imagens de flores e depois anunciaram que a vencedora foi a Bélgica. Mas a verdade é que "A-Ba-Ni-Bi", com os seus ritmos disco sound, era das canções mais ao estilo da época e desde então se tornou mais um grande clássico da Eurovisão. Também foi a única canção vencedora do Festival da Eurovisão cuja orquestração foi dirigida por uma mulher, Nurit Hirsh. Izhar Cohen regressaria a Eurovisão por Israel em 1985, ficando em quinto lugar e esteve presente nos três festivais organizados em Israel: em 1979, entregando o troféu aos vencedores, em 1999, foi visto na audiência e em 2019, anunciou os pontos do júri israelita. Aliás uma nova versão de "A-Ba-Ni-Bi" foi usada para ilustrar uma montagem dos belíssimos postcards do festival de 2019.
Festival da Eurovisão 1978 (comentários em inglês da BBC)
Sem comentários:
Enviar um comentário