por Paulo Neto
Já há anos a fio que o OMO é uma das marcas de eleição em Portugal em detergentes em pó para a roupa. Produzido pela multinacional Unilever, a marca é na verdade um acrónimo de Old Mother Owl ("velha mãe coruja") inicialmente produzida em Inglaterra em 1908. Foram muitos os anúncios do OMO que passaram pela televisão nacional, geralmente sob o slogan "OMO lava mais branco!", mas para mim, o anúncio mais marcante, foi este de 1991 (embora este vídeo que serve de exemplo, cortesia do LusitaniaTV disponibilizado no Archive, seja do dia 3 de Janeiro de 1992).
A narrativa do anúncio é bem simples: a dona de um restaurante algures no Portugal rural (eu arriscaria que no Alentejo) recebe um casal de clientes, fazendo as honras da casa e convidando-os a almoçar no exterior. Igualmente presentes estão o marido e a mãe da patroa e uma jovem empregada, de seu nome Rosalina, que é a heroína secreta do anúncio. E claro, a certa altura a conversa da patroa vai dar à brancura das toalhas, impecavelmente lavadas com OMO.
Eis o discurso completo da patroa:
(para Rosalina): Acaba isto que acabam de chegar clientes. Traz toalhas de mesa!
(para os clientes): Bom dia, podem ficar cá para fora, está um dia lindo. As favas hoje estão uma maravilha. Estão branquinhas, não estão? Sou eu que as tiro e ponho no OMO. Ó Mãe, veja aí.
(para Rosalina): Depois estendes a outra roupa que lavei.
(para os clientes): O Sol está para a roupa branca, fica mesmo como eu gosto. Bom proveito!
E no fim, não se a patroa ou a mãe dela exclamam: "Rosalina, a roupa está boa!"
Um anúncio solarengo e linear mas com vários momentos marcantes: o ladrar de um cão que se ouve ao início mas que nunca aparece na imagem, o marido da patroa (que é quem terá cozinhado as favas servidas aos clientes) a esfregar um facão no outro, a mãe da patroa encostada à ombreira da porta a verificar pelo olfacto se a roupa está bem lavada, a cliente sentada à mesa que acaricia a cara com um guardanapo, um momento de ternura entre a patroa e o marido, abraçando-o e compondo a gola da camisa branca dele (seguramente lavada com OMO). E sobretudo a jovem Rosalina que é presença constante ao longo do anúncio, primeiro a amassar um pão, depois a seguir as várias ordens da patroa às quais ela anui sem parecer muito incomodada com tanta ordem em tão pouco tempo e por fim, a sorrir por entre a brancura das roupas estendidas.
Já na altura, sempre que este anúncio passava na televisão, a minha atenção acabava sempre por ir para à Rosalina. E ainda hoje tenho a teoria que, apesar das hospitalidades da patroa e dos cozinhados do patrão, era Rosalina, executando diligente e silenciosamente as várias tarefas, a verdadeira razão da prosperidade daquele restaurante, percursor da chiqueza que o conceito de turismo rural viria a ter anos mais tarde.
E escusado será dizer que enquanto este anúncio do OMO esteve no ar, as Rosalinas deste país tiveram que ouvir dezenas de vezes por dia o bordão: "Rosalina, a roupa está boa!". Como por exemplo, uma rapariga que andava na minha escola (na altura ela estava do 5.º ano e eu no 6.º), a qual eu me lembro que sempre que um engraçadinho lhe dizia "Rosalina, a roupa está boa!", ela respondia invariavelmente "Então vai apanhá-la!"
Bónus: um anúncio do OMO dos anos 60
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