É comum ver muitos textos ou expressões de nostalgia que por vezes são confundidos como saudosismo.
Mas, obviamente nem tudo "no antigamente" era bom, como hoje e sempre. E já algum tempo que me dediquei a compilar alguns desses incómodos, chatices, que originavam problemas maiores ou menores ou simples irritações momentâneas. Comecei por indicar as que senti na pele, depois anotei queixas recorrentes e conto com os nossos leitores para ampliar esta lista.
Apresento então em seguida uma lista de coisas quotidianas em outros tempos que já não afligem as gerações actuais ( ou pelo menos da forma que incomodava antes).
CHATICES TECNOLÓGICAS:
Falhas de energia; prolongadas e com reparações à hora dos desenhos animados!
Discos riscados, ou quando saltava a agulha. Pior, quando descobriam que o vosso disco favorito dos Baltimora foi partido pelo vosso irmão mais novo que andou a jogar frisbee.
O drama quando o leitor de vídeo ou o leitor de cassetes de música comiam ou partiam as fitas. Se não ficassem inutilizadas sempre podíamos usar um lápis ou uma caneta para as enrolar...
Quando o animador da radio falava por cima da musica que estávamos a gravar. Lembro-me de insultar a viva voz o locutor da Rádio Cidade depois de minutos em espera com o dedo no botão do "Rec" para gravar os singles do Godzilla de 98 e ver a gravação interrompida com conversa. Não era fácil ser pirata.
Ter que rebobinar cassetes para encontrar cena do filme ou musica especifica. Ou pior, trazer a cassete do clube de vídeo e não estar rebobinada!
Quando a cassete não dava para gravar o filme ou disco inteiro!!
Querer alugar "aquele" filme e não estar disponível nenhuma cópia.
Tirar fotografias. Além de caro era demorado, tanto as foto passe como as caseiras.
A ansiedade de esperar até acabar o rolo para as poder revelar.
Ir revelar as fotos (com rolos no máximo de 36!) e saírem fotos desfocadas, com um dedo na frente ou o jackpot de uma dupla exposição!
O Spectrum a carregar os jogos durante uma eternidade. Nunca tive Spectrum mas tive que esperar com ansiedade na casa de um amigo que o Comando carregasse... Pior ainda, se desse erro de carregamento!
Não poder salvar o progresso dos jogos. O Sonic ficava sem vidas quase no fim do nível? Começavas tudo de novo!
Deixar cair uma caixa de disquetes ao chão. E teres que voltar a repartir o conteúdo por mais 25 disquetes novas.
Telefone de disco. Não tinha sido mais fácil inventar logo com os botões?
E quando acabava a chamada nas cabines públicas por falta de moedas?
Já em finais dos 90, com a Internet em casa, com o modem a demorar séculos a estabelecer a ligação com aquele som de perfurar tímpanos.
Já em finais dos 90, com a Internet em casa, com o modem a demorar séculos a estabelecer a ligação com aquele som de perfurar tímpanos.
Receber uma conta enorme da Internet...Mãe, juro que não fui eu...
CHATICES TELEVISIVAS:
Levantar o rabo do sofá para mudar de canal. Apesar de existirem "lá fora" desde os anos 50, imagino que boa parte dos portugueses só lá para os anos 90 teve um comando remoto para a televisão.
Quando a programação não tinha 24 horas, que era chato para quem sofria de insónias ou acordava muito cedo.
"Problemas técnicos" que causavam os enchimento de chouriço com videoclips, ou desenhos animados ( que quando os problemas eram resolvidos eram impiedosamente interrompidos).
Esperar pelo fim da mira técnica (apito irritante, até começar música) e esperar pela abertura. Odiava Formula 1 aos Domingos ou programas especiais no lugar dos bonecos.
Esperar pelo fim da mira técnica (apito irritante, até começar música) e esperar pela abertura. Odiava Formula 1 aos Domingos ou programas especiais no lugar dos bonecos.
Actividades ou imprevistos à hora dos desenhos animados (Sábados e Domingos principalmente) ou alguma coisa especial. Porque nem toda a gente tinha gravador VHS - ao contrário da popular belief - e perder um programa podia significar ficar sem saber como acabava uma série adorada, que podia nunca mais repetir na TV. Não podíamos correr para o Youtube ou voltar com a TV atrás. Como eu odiava as minhas aulas de ginástica ao sábado de manhã!
Sintonizar os diferentes canais. Passava horas a tentar sintonizar o melhor possível os canais espanhóis, cheguei a apanhar 11 no total.
Quando o guia TV estava errado. O drama, a tragédia, o horror!
Quando o teu favorito perdia no "Agora Escolha"... Em compensação sempre tinhas visto uma bonecada enquanto esperavas.
O suspense do final do "1,2,3" era insuportável. O carro? A casa? Um contentor de 1000 martelinhos de S. João?
Esperar cerca de dois anos para rever um filme na TV, só tive VHS no final dos anos 90, portanto na maioria da juventude restava-me esperar..
MODAS IRRITANTES. OU PARVAS:
Calças de flanela e outros tecidos que picavam a pele.
Casacos de penas. No gélido Algarve também foram moda...
Fatos de treino berrantes. Porquê?
Enchumaços no ombros. Porquê senhoras, porquê?
Cabelos armados, permanentes e guedelhas. Por todo o lado se viam clones da Margaret Tatcher, das senhoras do Dallas ou do guedelhudo MacGyver!
CHATICES ESCOLARES:
Comprar toneladas de material para trabalhos manuais que nunca usavas. Gostava de usar o picotador, mas quase nunca acontecia. E no ano seguinte, toca a comprar tudo outra vez! (Actualmente, desconheço se continua a acontecer).
Castigos corporais na escola. Felizmente só apanhei com uma cana ao de leve na cabeça, por estar distraído. Mas fui testemunha de uma professora partir uma grossa régua de madeira escura na mão de um colega.
Fazer trabalhos escolares à mão. Ou escrito à máquina. Tudo a correr bem, e no último parágrafo da página enganavas-te e começava tudo de novo. Abençoados computadores com corrector ortográfico!
CHATICES AVULSAS:
A praga da Macarena. Do Samba. E do....enfim, já perceberam....
Não conseguir completar a colecção de cromos. Só saia repetidos e não tinhas dinheiro ou não ias a
tempo de encomendar os que faltavam...
tempo de encomendar os que faltavam...
Resistir as borrachinhas e coisas com cheirinhos e aspecto apetitoso que davam vontade de comer, mas que se tinhas mais de 3 anos e não eras idiota sabias que não devias ingerir...
A chatice de passar a fronteira. Nas viagens a Ayamonte ao regressar ao barco primeiro tinha que se passar a revista em busca de tabaco, e outros contrabandos...
Não conseguir completar o Cubo de Rubbik ( e deprimentemente descolar os autocolantes para parecer que sim. Não fui eu. contaram-me.)
O buraco do ozono. Ele queria destruir-nos mas parece que conseguimos fechá-lo. Valeu a pena deitar fora o frigorífico velho e as latas de laca da mãe...
Consumia-se tabaco em todo o lado. Ninguém, crianças e adultos, estava livre das baforadas carregadas de tóxicos.
Abrir conservas com uma chave antes das latas de abertura fácil. Para mim nunca muito fácil porque até hoje tenho um pavor de cortar os dedos na lateral da tampa...
Caros leitores, gostaram de recordar estas coisas irritantes dos anos 70, 80 e 90? Se tiverem lembranças ou exemplos que queiram partilhar com a Enciclopédia contactem pelas mensagens da nossa página de Facebook ou por correio electrónico: cine31@gmail.com.
Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".
Se gostou, Partilhe: »»
|
Tweet | Save on Delicious |
"Não poder salvar o progresso dos jogos. O Sonic ficava sem vidas quase no fim do nível? Começavas tudo de novo!"
ResponderEliminarO quê?! Isto é uma coisa irritante? É para começar de novo, sim senhor. Irritantes são a treta deste joguecos modernos que fazem autosaves e vidas infinitas e fazem destes putos uns "coitadinhos" e atrofiam-lhes a capacidade de sofrimento, perseverança e qualidade. Haviam de experimentar jogos de dificuldade insana como o Rick Dangerous... com 6 vidas para o jogo todo!!!
Além disso, Sonic é demasiado fácil para se perder. Além de dar "continues" nos níveis de bónus, o jogo acaba-se bem com mais de 10 vidas extra.
Ah, e as latas de sardinhas (e atum) abriam na boa.
De resto concordo com a maioria do que apresentas, particularmente com macarenas e afins. Isso era uma praga.
Um abraço. :D
Nunca tive pachorra para repetir níveis e níveis :D :D
EliminarMuito comando de Masters System e Mega Drive atirei ao chão em fúria! :D
Tuuuuuuuuuu Tchic Tuuuuuuuuuu treereeree... Daqui a 5 minutos começava a jogar no ZX Spectrum 48K.
ResponderEliminarBoas memórias.
:) Estamos cá para isso!
EliminarEu tinha guardado esta publicação já há meses pois adorei-a mas só hoje comento-a. Gosto mesmo de tudo o que escreveste, faz-me lembrar belos tempos, e não concordo com nada do que disseste!! Sim eu aprecio muitas coisas mesmo discordando delas.
ResponderEliminarEm primeiro não acho que nada que tenhas dito que fosse mau seja mau, tudo bem deu chatices mas chatices fazem parte, até porque são boas chatices: de saber esperar, aceitar, progredir, não são facilitismos porque estes facilitismos de hoje dão ainda mais chatices e bem piores, mas não vou por aqui pois isto é uma grande discussão.
Como já devo ter escrito, eu vivo numa aldeia mas neste momento estudo em Lisboa, e temos na nossa aldeia muitas falhas de energia, a última em 2013 durou mais de uma semana, e até tivemos sorte pois a aldeia vizinha além de ter ficado sem luz também ficou sem água!
Eu sou membro do único(?) clube de vídeo de Portugal aqui em Lisboa e é raro ver coisas copiadas ou assim, gosto de ir às bibliotecas requisitar ou comprar, tenho mais de 300CDs tudo comprado (95% vá!), não sou rico, tudo bem gastei muito dinheiro nestas coisas mas por exemplo a maior parte dos meus colegas gasta imenso em roupa, eu um casaco dá para toda a vida, uso sempre a mesma roupa! E quando se estraga vai à costureira, qual comprar de novo!!?
A fotografia que supostamente pode ser um bom instrumento de nostalgia mas banalizou-se de uma maneira..as pessoas tiram como quem respira, não irão ter nostalgia nenhuma pois não sentiram nada, porque querem as fotos? Para mim a fotografia, exceto quando tenho que a tirar para B.I., ainda é um ato muito especial!! Não é nada descartável, e até fica giro se ficarem desfocadas ou com fantasmas!
Os telefones com rodinhas são tão giiiiiiiiiiiiros, queria tanto um!
Raramente uso o telemóvel, a minha comunicação é toda ela via postal, deveria usar menos a internet e o computador, uso para escrever no meu blogue e de resto por obrigação (universidade), e claro e para ver a enciclopédia dos cromos.
Bem a televisão, então eu com uma antena doméstica em que só apanhava a RTP2 e a SIC, que mimados vós!!
Hoje é a mesma coisa, muita coisa para comprar para EVT e assim e depois não se usa nada, e comprar também o livro de Educação física para criar pó apenas. Todos os trabalhos que faço para a universidade são todos à mão, eu na minha primeira licenciatura desisti e uma das razões é a exigência de fazer tudo no computador, que pachorra!
Ai saudades de fronteiras, de mundos criativos....o meu pai diz que no tempo dele até os aeroportos entre Lisboa e Madrid eram diferentes, hoje estares em Londres ou em Pequim sem ser no aeroporto é "igual"..
Como vês não me vejo com muita coisa que escreveste mas que tem isso desde que goste do conteúdo? Saber valorizar é também importante, peço desculpa ando moralista porque muitos desabafos implícitos no meu comentário!